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Conflitos humanos-vida selvagem

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Conflitos humanos-vida selvagem e biodiversidade
Dentre as inúmeras causas da perda atual de biodiversidade, um fator relevante tem pouco destaque junto ao público em geral: os conflitos humanos-vida selvagem; tão importante que, em um relatório, o WWF pede que ele seja explicitamente incluído na Convenção sobre Diversidade Biológica e como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável1.
Conflitos humanos-vida selvagem são dificuldades que ocorrem quando a presença ou o comportamento dos animais selvagens acarreta riscos, reais ou imaginários, aos interesses humanos. Podem acontecer em ambientes terrestres ou marinhos e levar a perdas econômicas, estresses em homens e animais, ferimentos ou mortes humanas, e, mais frequentemente, à matança e extinção de animais silvestres, numa tentativa de prevenção ou mesmo como forma de retaliação. A coexistência em si mesma pode não levar a conflitos, ela pode ser neutra (interação) ou mesmo benéfica, a depender da percepção das comunidades envolvidas e do gerenciamento deste contato. Em muitas culturas, as espécies selvagens continuam a desempenhar um papel importante nos costumes, tradições, identidades, valores e religiões; em outras, houve uma mudança na mentalidade e na tolerância aos animais. Atitudes e percepções variam consideravelmente de comunidade para comunidade e, muitas vezes, custos intangíveis, como o estresse resultante da hipervigilância, são mais importantes que as perdas reais.
Nem todas as comunidades humanas são afetadas diretamente por estes encontros, e, como seria de se imaginar, os povos rurais e aqueles que vivem às margens de unidades de conservação são os mais impactados. Globalmente, cerca de 56% das terras são compartilhadas entre pessoas e animais selvagens, e nos oceanos há um aumento de relatos de conflitos, embora a necessidade de estudos e avaliações seja crucial para sua resolução/mitigação.
Os fatores que aumentaram o número de contatos/conflitos são diversos, se sobrepõem e se retroalimentam, e as consequências podem ser reconhecidas:
· O exponencial aumento da densidade populacional desde meados do século XX.
· Mudanças no uso da terra (urbanização desregulamentada, desmatamento, expansão agrícola e/ou pecuária, mineração, fragmentação ou degradação de habitats que forçam os animais a se deslocarem para as proximidades de aglomerados humanos).
· Mudanças climáticas (eventos extremos forçam pessoas e animais a procurarem abrigo e alimentos, aumentando o número de contatos. Ex1: entre 2015 e 2016 houve um aumento dramático de baleias emaranhadas em redes de pesca na costa oeste dos EUA, causado pela sobreposição de dois fatores: elas estavam perseguindo suas presas, que haviam se movido durante onda atípica de calor, e pela mudança no calendário de pesca de um tipo de caranguejo. Ex2: La Niña cria condições de seca para os ursos negros no Novo México (EUA), o que os leva a explorar áreas habitadas em busca de alimentos).
· Caça (Ex: a população de babuínos na África cresceu dramaticamente após seus predadores serem exterminados pelas pessoas e passou se alimentar de cultivares, fonte de renda desta mesma população).
· Tráfico e consumo de animais silvestres, que, além da proximidade entre humanos e animais, causam disrupção na cadeia trófica, resultando na extinção de algumas espécies e na superpopulação de outras. 
· Desenvolvimento de infraestruturas sem o devido cuidado com os ecossistemas afetados.
· Esforços de conservação mal planejados.
· Aumento da população de espécies invasoras.
· Interferência no comportamento próprio de animais silvestres e sua dinâmica (Ex: infraestruturas que bloqueiam corredores naturais de determinadas espécies).
Ademais, os custos destes conflitos são distribuídos desigualmente, recaindo majoritariamente sobre os que convivem com animais silvestres, enquanto os benefícios da sobrevivência de uma espécie têm partilha mais ampla. Os conflitos podem, também, colocar comunidades umas contra as outras e minar a credibilidade de governos. Eles têm efeitos negativos na produção de alimentos e outras commodities, contribuindo para a insegurança alimentar em muitas regiões, e são extremamente relevantes para que a humanidade alcance as metas de desenvolvimento sustentável. 
Não podemos deixar de mencionar o aumento do risco de eclosão de doenças zoonóticas sempre que humanos e animais domésticos entram em contato com espécies hospedeiras de microrganismos desconhecidos ao nosso sistema imunológico.
Em 2004, a IUCN – União Internacional para Conservação da Natureza (International Union for the Conservation of Nature) abordou este problema a nível global. Em 2016, uma força-tarefa foi estabelecida por esta mesma instituição para oferecer orientação interdisciplinar, recursos e capacitar agentes, reunindo governos, cientistas, educadores e comunidades. É consenso que, para que se alcance uma solução, ela deve ser holística, isto é, deve compreender todos os fatores que atuam no conflito em estudo, e para isto é fundamental a participação de todos os envolvidos: as populações que coabitam com os animais, os governos locais e nacionais, as organizações conservacionistas e de defesa animal, empresas que fazem uso de recursos locais, etc. Embora nem sempre seja possível eliminar conflitos, uma abordagem bem planejada e integrada pode reduzi-los e levar à coexistência: entre o conflito e a coexistência há um continuum, no qual nem o conflito, nem a coexistência são pontos fixos na escala.
Em geral, seis elementos devem ser ponderados para um gerenciamento bem-sucedido:
· Compreensão do conflito – pesquisa científica de todos os aspectos para melhor compreensão do contexto: mapeamento de hotspots e das características espaciais e temporais, compreensão das atitudes da comunidade, avaliação de risco, coleta de dados sobre a frequência e a magnitude dos danos, etc...
· Mitigação – compensação, seguros, busca de meios de sustento alternativos, como o turismo ecológico, implementação de mecanismos financeiros, etc...
· Resposta – implementação de equipe profissional de resposta rápida, treinamento e fornecimento de recursos e equipamentos para as comunidades, relatoria dos mecanismos atuantes, procedimentos padrão, etc...
· Prevenção – construção de cercas elétricas, muros, currais especiais para pernoite, captura e realocação dos animais que estão causando conflitos, uso de tecnologia para projetar zoneamento territorial e determinação de pontos críticos para contatos, detecção precoce da presença de animais, instalação de sistemas de alarme, criação de ambientes de trabalho seguros, treinamento e fornecimento de equipamentos para as comunidades, uso de cães de guarda, utilização de rojões para afugentar animais, troca de lixeiras por containers que não sejam fáceis de abrir ou derrubar, etc...
· Diretiva – concepção de protocolos, princípios, provisões, medidas legais e planos de manejo, a nível local, nacional e internacional, planejamento espacial/zoneamento, certificações de produtos ambientalmente amigáveis, educação ambiental, treinamento de comunidades, etc...
Foto 1 Edi Susanto
· Monitoramento – mensuração da performance dos programas efetivados e da eficácia do manejo e das intervenções ao longo do tempo, coleta de dados, troca de informações com parceiros e outras comunidades que possam estar enfrentando os mesmos problemas, adaptação do gerenciamento, etc...
Regulamentações legais são parte importante na definição de como a vida selvagem é percebida, e agem não apenas coercitivamente, mas também legitimando a ideia de coexistência. Atualmente só há regras a nível nacional e regional, os conflitos humanos-vida selvagem ainda não foram abordados nas convenções internacionais, como acontece com o tráfico de animais, a perda de habitat e o problema da poluição ambiental.
Animais carnívoros e os grandes herbívoros são as espécies mais afetadas pelos conflitos com os homens, mas desempenham papel-chave na manutenção dos ecossistemas, garantindo a sobrevivência de outras espécies,inclusive a da comunidade humana. Os predadores mantêm o equilíbrio da população de vários outros animais, impedindo que os herbívoros consumam toda a vegetação, o que permite que as plantas se regenerem e, por sua vez, sejam habitat para muitas outras espécies. Herbívoros, como os elefantes, podam árvores, abrem caminhos dentre a vegetação densa, cavam poços de água e mantêm a diversidade vegetal.
Diante de cenário tão complexo, é importante reconhecer que as atividades humanas levaram muitas espécies à beira da extinção. Num mundo superpovoado onde a probabilidade de conflitos está crescendo e fazendo com que as pessoas se posicionem contra a vida selvagem, precisamos encontrar caminhos de coexistência. É chegada a hora de dar um passo atrás e repensar como podemos trabalhar juntos para reduzir e gerenciar estes conflitos, e criar modos de coexistência benéficos para todos.
Referências: 
1. Gross E., Jayasinghe N., Brooks A., Polet G., Wadhwa R. e Hilderink-Koopmans F. (2021) A Future for All: The Need for Human-Wildlife Coexistence. (WWF, Gland, Suécia).
2. http://www.temasbio.ufscar.br/?q=artigos/afinal-quem-%C3%A9-o-culpado
3. https://olhardigital.com.br/2021/07/29/ciencia-e-espaco/mudancas-climaticas-geram-conflitos-entre-humanos-e-animais-selvagens/
4. https://stringfixer.com/pt/Human-wildlife_conflict

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