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1 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Insuficiência Venosa Crônica INTRODUÇÃO • Características: o Condição clínica frequente, porém, muito mal identificada (assim como todas doenças venosas), porque as pessoas desconhecem os fatores básicos (os conceitos e os fatores predisponentes) o Quando instalada é um importante fator de limitação ao espaço vital do paciente (limita a atividade social, o trabalho, o ânimo do paciente etc.) o Como é muito frequente, possui custo social muito elevado (é uma causa frequente de afastamento da atividade corporativa) o Não está completamente estabelecida em aspectos fisiopatológicos globais • Conceito: o Insuficiência venosa crônica (IVC) é uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) que pode ser determinada por vários tipos de doenças que têm como característica determinar alteração no retorno venoso o Qualquer coisa que determine alteração no retorno venoso pode determinar o aparecimento da síndrome de insuficiência venosa crônica o É uma síndrome edemigênica o Resulta no comprometimento da função do retorno venoso o Reconhecer o conceito amplo permite um diagnóstico mais precoce de IVC FISIOLOGIA DO RETORNO VENOSO • Premissas: o O sistema venosos superficial só cuida de 15 a 10% do retorno venoso (não tem tanta importa funcional) o O sistema venoso profundo cuida de 85 a 90% do retorno venoso (pessoa parada e em pé) ▪ Quando o paciente anda, o sistema profundo passa a cuidar de 100% do retorno venoso o O papel do sistema de veias comunicantes no determinismo da IVC não está bem entendido ainda → Mas, sabemos que algumas comunicantes podem determinar sim problemas do tipo que acontecem na IVC o A pressão venosa tende a diminuir com a deambulação (alguns mecanismos são acionados incrementando o retorno venoso e aumentando sua velocidade, diminuindo a pressão do fluido sobre a veia) o A pressão do sistema de safena é igual para qualquer paciente em pé e parado o A diminuição da pressão venosa da safena com a deambulação ocorre porque o sistema venoso profundo está ligado com o sistema venoso superficial em paralelo e como a velocidade no profundo aumenta significativamente com a deambulação, a pressão parietal cai e ele “aspira” o sistema superficial • Mecanismos básicos de retorno venoso: o Vis-a-tergo → “Empurra por trás” PROF. ANTÔNIO AUGUSTO 2 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Contração ventricular esquerda → Contração do ventrículo, fechamento de válvula aórtica e contração da parede arterial (grande parte do débito da periferia é dado pela aorta e os grandes vasos retornando ao seu diâmetro normal logo após a sístole) ❖ Esse mecanismo se perde, por exemplo, na síndrome de rigidez arterial ▪ Capacidade de reserva arterial (capacidade que as grandes artérias têm de armazenar volume e consequentemente pressão) ▪ Resistencia arteriolar → Ex.: Resistência arteriolar grande = Pequena energia atravessando a microcirculação (consequentemente pouca coisa empurrando o sangue de pré-vênula para vênula e de vênula para veia o Vis-a-fronte → “Puxa pela frente” ▪ Plexo venoso plantar de Lejars → O primeiro impulso para o retorno venoso, que é muito importante, é a compressão desse plexo venoso ❖ Existe uma região em Portugal em que as pessoas têm pés pequenos e se apoiam com a parte da frente e com o calcanhar, mas não com o meio do pé (essas pessoas não dão o 1º impulso do sangue) ▪ “Coração periférico” de Barrow → Representado pela contração da massa muscular de panturrilha sobre o território venoso daquela região (quando espreme gera um jato para cima e quando relaxa permite que encha de sangue novamente, mas não sangue de refluxo por conta das válvulas) ▪ Fole diafragmático → Quando o diafragma desce, ele aumenta a pressão abdominal e retarda o retorno venoso dos MMII e incrementa o dos MMSS, quando o diafragma sobe incrementa o retorno venoso dos MMII e retarda dos MMSS ▪ Pressão negativa estática pleural ▪ Pressão negativa dinâmica torácica ▪ Capacidade de enchimento do átrio direito ▪ Capacidade de enchimento do ventrículo direito (e de esvaziar) ▪ Pulsação arterial troncular contíguo → Artéria ao lado fica pulsando e transmite essa energia para a veia FISIOPATOGENIA • Etiologia: o Falhas nos mecanismos básicos do retorno venoso o Fístulas arteriovenosas → Comunicação de sistema de alta pressão com sistema de baixa pressão (o jato de sangue que bate na veia impede que o sangue da veia que estava subindo suba, já o sangue da artéria sobe) o Alterações congênitas de válvulas → Pessoas sem válvulas venosas (problemas de retorno venoso) o Agenesia venosa profunda → Pessoas sem sistema venoso profundo (problemas de retorno venoso) o Compressões extrínsecas o Ortostatismo prolongado o Defeitos posturais ortopédicos o Neuroplegias o Varizes 3 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Tvp → Pode evoluir com oclusão permanente e mesmo com recanalização (total ou parcial), na maioria das vezes, há comprometimento definitivo das válvulas e isso gera problema de retorno venoso • Fisiopatologia: o Distúrbio do retorno venoso → Leva à hipertensão venocapilar crônica (HVCC) e à estase hemodinâmica microcirculatória hipertensiva (o sangue circulando lento com pressão elevada) o A HVCC vai fazer alterações de permeabilidade e extravasamento de líquidos, gerando edema ▪ O edema aumenta o risco de infecção, sobrecarrega a drenagem linfática e cria hipóxia tecidual (porque oxigênio não se difunde bem no líquido) ▪ A hipóxia tecidual leva a uma reação inflamatória ▪ A reação inflamatória contribui para surgimento de celulite ▪ A celulite evolui com fibrose subcutânea o A estase hemodinâmica (sangue circulando lento) gera o acúmulo de leucócitos ▪ O acúmulo de leucócitos favorece adesão, ativação e sequestro leucocitário ▪ A adesão, ativação e sequestro leucocitário criam a reação de liberação leucocitária (degranulação) ▪ Essa degranulação determina lesão endotelial ▪ A lesão endotelial cria alterações de permeabilidade, que permite migração de leucócitos para o interstício, que aumenta a reação inflamatória ▪ A lesão endotelial também cria microhemorragia, que faz com que haja degeneração da hemácia e liberação de hemossiderina, que é o que pigmenta de ocre a pele (pigmentação parda) ▪ A alteração de permeabilidade também gera extravasamento de proteínas, que gera migração e diferenciação fibroblástica, que vai influenciar a fibrose subcutânea o Pela hemoconcentração (gerada pelo extravasamento de líquidos pela HVCC e pela estase hemodinâmica), há trombose microcirculatória (fluxo + viscoso trombosa + fácil), além da lesão endotelial que ↓ prostaciclina (que é um antitrombótico) 4 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ A trombose microcirculatória afeta a função arteriolar, não tem nutrição e gera isquemia regional ▪ A hipóxia regional aumenta o risco de infecção, bloqueia o linfático e gera linfedema o Tudo isso (fibrose subcutânea, isquemia tecidual etc.) podem levar à celulite endurativa e à úlcera ▪ O subcutâneo aumentado pela presença de edema ▪ O edema gerando distúrbios de nutrição e hipóxia fazem uma reação inflamatória da gordura, que vai aumentando de volume e faz uma placa de celulite com fibrose em volta ▪ Como isso está inflamado/necrosado, os vasos que passam na região trombosam, a pele ulcera/abre/necrosa e esse conteúdo é evacuado, o que sobra é a úlcera com as características da úlcera de IVC (úlcera de borda elevada) ▪ Se não tiver borda elevada, a ferida não passou por esse mecanismo fisiopatológico todo ❖ Pode ocorrer uma ferida de causa traumática numa perna com IVC, mas não será diretamente umaferida de IVC, então não se apresentará com as bordas elevadas CLÍNICA • Anamnese: o Sintomas → Peso, cansaço, dor surda e câimbras o Os sintomas pioram com ortostatismo prolongado o Claudicação intermitente venosa (casos graves) → Pessoa está em pé e começa uma sensação de peso, se ela anda piora o desconforto (só melhora ao colocar as pernas para cima) ▪ Lembrando que existem 4 tipos de claudicação intermitente (arterial, venosa, ortopédica e neurológica) o Sinais → Edema e escurecimento da pele o Infecções de repetição → Toda perna que incha tem chance de fazer uma erisipela o Coceira na perna (dermatite de estase) → Em função do edema crônico, tem mais facilidade de ter manifestação de infecção com bactérias de baixa patogenicidade, mas com potencial alergênico o Endurecimento com queimação→ Determinado pela celulite, com queimação em função da isquemia o Ferida na perna • Exame físico: o Edema ▪ Se é em 1 perna só, o problema é na perna (venoso, linfático ou inflamatório) ▪ Se é nas 2 pernas, provavelmente é de causa sistêmica (cardiológico, endócrino, pulmonar etc.) o Sinal de Duque o Sinal de Neuhoff o Hiperpigmentação parda → Não é precoce na IVC o Varizes → Secundárias à síndrome pós-trombótica (também não são precoces) o Corona fleblectásica → Também é algo tardio o Celulite endurativa o Alteração de pilosidade 5 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Alteração de sudorese o Eczema de estase o Infecção ativa (erisipela / micose interdigital) o Linfedema o Úlcera • Exames de outros sistemas: o Devemos pesquisar patologias cardíacas e arteriais, problemas ortopédicos, neurais, respiratórios e de peso • Avaliação instrumental para diagnóstico etiológico: o Ferramentas destinadas a definir a causa da IVC → USG Doppler, ecocolordoppler, pletismografia, medidas de pressão venosa, flebografia (convencional ou radioisotópica), TC, RMN e histopatologia o Pode ser que precisemos usar mais de um desses instrumentos para definir o diagnóstico TRATAMENTO • Tratamento profilático: o Da instalação da síndrome de IVC → Se já tem trombose, faz a profilaxia para não inchar as pernas e para não ter as alterações tróficas da pele (que acontecem a partir do momento em que a perna incha) ▪ Controlar outras causas de edema (Ex.: Peso, hepatopatia, DRC etc.) o Da instalação dos distúrbios tróficos na IVC → Se já inchou a perna, controlar os outros fatores TRATAMENTO SINDROMÁTICO • Tratamento do edema: o Tratamento postural → Perna para cima (problema venoso) o Compressão extrínseca → Uso de meia elástica (aumenta a pressão tecidual) o Sono de repouso → Fazer um sono com perna para cima no meio do dia o Flebotônicos (têm ação muito contestada, mas podem ter propriedade linfocinética) o Linfocinéticos → Ajuda a retirara proteínas e líquido do interstício, diminuindo pressão oncótica e fazendo com que não haja um fator que puxe tanto líquido para esse meio o Controle de outros edemas o OBS.: Não se deve fazer uso de diuréticos para tratar IVC, pois são edemas de causa local! • Tratamento da hiperpigmentação parda: o Pomadas despigmentantes o Só é possível na fase em que o pigmento não está envolvido por fibrose • Tratamento da úlcera o Controlar / tratar HVCC (estase venosa) o Eliminar tecido necrótico → Desbridamento cirúrgico/químico, maceração, limpeza da úlcera, antissépticos (raramente usados), curativos com pós, bota de unna, curativos biológicos e enxertia de pele • Tratamento das varizes 6 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Varizes primárias o Varizes secundárias • Tratamento das complicações: o Infecções bacterianas e fúngicas → Combater umidade, antimicóticos, exposição ao sol, cuidados com o vestuário e manutenção pós-cura o Celulite endurativa → Repouso, aplicação de espuma de borracha, calor local, massoterapia, pomadas (raramente funcionam) e medicamentos orais (corticoide) o Eczema bacteriano → Corticoide oral e tópico o Linfedema → Controlar o linfedema se o paciente estiver desenvolvendo o Malignização da úlcera → Observar com o tempo (+-10 anos) se ela não cicatrizou e malignizou TRATAMENTO CIRÚRGICO • Possibilidades para tratamento cirúrgico: o Cirurgia de Linton o Cirurgia de Cocket o Cirurgia de Felder o Cirurgia de Hushini o Cirurgia de Palma o Cirurgia de Raju o Implante de segmento venosos valvulado o Angioplastias o Implante endovascular de prótese valvulada PROGNÓSTICO • Fatores que influenciam o prognóstico: o Grau da IVC o Presença de complicações → Tentar impedir que as complicações apareçam pois pioram o prognóstico o Condição social do paciente → Evolui muito mal em pessoas com condição social primária, principalmente por menor cuidado da perna (muitas vezes por falta de tempo) ▪ Por essa razão, existem muitos pedidos de afastamento no INSS por IVC
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