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Laboratório de Direito Privado QUESTÃO: Caio ingressa com ação de cobrança em face de Rafaela pois alega que a mesma não cumpriu sua parte em contrato de compra e venda de um veículo ao deixar de pagar as 3 ultimas parcelas, restando dívida no valor de cinco mil reais. Alega ainda que a mesma não responde aos seus contatos e que foge da cobrança. Rafaela não é formalmente citada mas toma conhecimento da ação e comparece com advogado na audiência de conciliação designada. A audiência é infrutífera. Após dez dias, o advogado de Rafaela peticiona nos autos requerendo sejam os atos praticados até aquele momento julgados nulos e que se expeça novo mandado de citação. Verificando que realmente Rafaela não havia sido citada, o juiz defere o pedido e expede novo mandado de citação. Uma semana se passa e nenhum oficial de justiça consegue localizar Rafaela. Na condição de advogado (a) de Caio, o que você faria? Na condição de advogados de Caio, a medida judicial cabível seria a possibilidade da interposição de Agravo de Instrumento, com destaque ao seguinte: Sabe-se que o artigo 1.015 do Código de Processo Civil estabelece o rol de hipóteses de cabimento do recurso de Agravo de Instrumento, dos incisos I a XIII do referido artigo. O presente caso não se insere em nenhuma das hipóteses elencadas pelo artigo 1.015, todavia, a possibilidade de cabimento do Agravo de Instrumento no caso em tela encontra-se amparada pela chancela do Superior Tribunal de Justiça que decidiu pela mitigação do rol de hipóteses previstas neste dispositivo processual. A menciona chancela é decorrente dos julgamentos do REsp 1.696.396 e REsp 1.704.520, submetidos ao regime de repetitivos pelo tema 998, que a Ministra Nanci Andrigui fixou a tese de que o rol do artigo 1.015 do CPC se enquadra na teoria da taxatividade mitigada, uma vez que, em caso de urgência, aguardar o momento para interposição de recurso de apelação pode inutilizar o próprio recurso, cabendo, portanto, a resolução do fato antes da sentença de mérito. Em outras palavras, estabeleceu-se o entendimento de que a interpretação do artigo 1015, e seus incisos, deve ser avaliada sob a ótica da utilidade e urgência no enfrentamento imediato da matéria versada. Como bem salientou a Ministra: O que se quer dizer é que sob a óptica da utilidade do julgamento revela-se inconcebível que apenas algumas poucas hipóteses taxativamente arroladas pelo legislador serão objeto de imediato enfrentamento. É evidente a urgência no caso estudado, isto porque, a Requerida age com má-fé, pois mesmo tomando conhecimento da ação que lhe é movida, se esvairia das tentativas de citação pelo Oficial de Justiça e dessa forma, atravancando o poder judiciário e causando prejuízos para a parte autora. Diante disto, no presente caso, a medida judicial cabível é a interposição de Agravo de Instrumento em face da decisão do magistrado, fundamentando o pleito recursal na teoria da taxatividade mitigada chancelada pelo STJ, bem como arguindo o artigo 239 §1º do Código de Processo Civil – no qual dispõe que o comparecimento espontâneo do réu ao processo supre a falta ou a nulidade de citação. Não obstante, cumpre salientar que se não houvesse a chancela do Superior Tribunal de Justiça pela mitigação da taxatividade do rol do artigo 1.015 do CPC, estaríamos diante de uma decisão judicial proferida sem a previsão legal para recurso, na qual o presente caso se tornaria uma questão enigmática a ser solucionada, em virtude da urgência do autor em prosseguir com o processo. Conforme o jurista Marcellus Polastri Lima, para o Supremo Tribunal Federal é pacífico o entendimento de que o Mandado de Segurança pode ser manejado contra decisão jurisdicional irrecorrível, desde que passível de gerar dano irreparável. Nas palavras do autor, o rol do art. 1.015 não é exaustivo, pois pode haver outras hipóteses no próprio código ou em outras leis. Todavia, deixa claro que só se poderá interpor esse agravo em hipóteses expressamente descritas. Dessa forma, nas hipóteses em que há decisões sem que haja previsão legal para cabimento de recursos, a medida judicial cabível é a impetração de mandado de segurança. O cabimento de mandado de segurança no caso em tela se fundamenta nos termos do artigo 5º, inciso II da lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009 (Lei do Mandado de Segurança), pois o referido artigo dispõe que não conceder-se-á mandado de segurança quando for couber recurso com efeito suspensivo. A interpretação do inciso II do artigo 5º da lei do mandado de segurança deve ser exercida de forma inversa ao disposto, na medida em que, se ignorar a taxatividade mitigada para o Agravo de Instrumento, não seria possível a interposição de nenhum recurso contra a decisão proferida nos autos, sendo cabível, portanto, o mandado de segurança.
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