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Desenvolvimentismo e Neoliberalismo no processo de formação do MERCOSUL

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1 
Universidade Federal Fluminense 
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desenvolvimentismo e Neoliberalismo no processo de formação do 
MERCOSUL: As relações Brasil e Argentina, a crise do modelo 
desenvolvimentista e a adoção do neoliberalismo no processo de 
integração econômica do cone-sul. 
 
 
 
Renan Moreira da Silva de Mello 
 
Orientador: Prof. Dr. Bernardo Kocher 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói, julho de 2011 
 2 
Universidade Federal Fluminense 
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desenvolvimentismo e Neoliberalismo no processo de formação do 
MERCOSUL: As relações Brasil e Argentina, a crise do modelo 
desenvolvimentista e a adoção do neoliberalismo no processo de 
integração econômica do cone-sul. 
 
 
 
Renan Moreira da Silva de Mello 
 
Monografia apresentada como requisito parcial para a 
obtenção dos títulos de Bacharel e Licenciado em História. 
Área de concentração: História Econômica e Social. 
Subárea: História das Relações Internacionais. Orientador: 
Prof. Dr. Bernardo Kocher 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói, julho de 2011 
 3 
Agradecimentos 
Expresso aqui meus agradecimentos: 
 Ao professor Dr. Bernardo Kocher por toda a confiança depositada em mim, por 
todas as oportunidades acadêmicas concedidas, por todo o conhecimento cedido em 
diversos períodos e em diversas disciplinas, por todos os aconselhamentos, 
principalmente por ter sido responsável pela luz que foi para minha vida começar a 
estudar História das Relações Internacionais. 
 À Universidade Federal Fluminense, por todas as experiências acadêmicas 
produtivas proporcionadas pela instituição e pela qualidade dos serviços burocráticos e 
do corpo docente sustentado pela mesma, em especial aos componentes do Instituto de 
Ciências Humanas e Filosofia. 
 À secretária Juceli por toda a ajuda em momentos complicados em períodos de 
ajustes, em questões burocráticas, em erros de histórico, e em tudo o mais que poderia 
ter acontecido dentro de um sistema de gestão de uma instituição pública de ensino 
superior que zela pela qualidade. 
 Aos amigos do curso de graduação em História, com quem dividi todos esses 
anos, em especial Guilherme Barreto, Daniel Borges e Walter Passos que caminharam 
comigo toda essa jornada, me apoiando nos momentos mais difíceis e Amanda Cardoso 
que foi a amiga do curso que mais entendia minhas aflições ao querer estudar Relações 
Internacionais em uma graduação em História, pois passou pelo mesmo dilema. 
 Agradeço à Pâmella Barroso Franco por ter sido compreensiva e ter ficado ao 
meu lado me dando força nos últimos meses da minha graduação, suportando os 
momentos de privações e dificuldades causados pelos prazos para a conclusão desta 
monografia. 
 Agradeço especialmente a toda a minha família e aos meus amigos, em especial 
Yuri Mendes da Silva e Vinícius Rodrigues, que estiveram ao meu lado durante todos 
esses anos me dando suporte emocional para que eu concluísse essa etapa. 
 Agradeço ao meu avô Osvaldo Januário do Nascimento e minha avó Sânia 
Moreira da Costa por toda a dedicação dada ao longo da minha vida. Graças a eles estou 
aqui agora, completando esta etapa e galgando lugares maiores. 
 Agradeço a minha mãe Márcia Regina Moreira Mello e ao meu pai Paulo César 
da Silva de Mello por todo o apoio, carinho e dedicação que me deu forças para nunca 
desistir. 
 Agradeço a Marcelo Ferreira de Menezes e Cleide de Oliveira França por 
complementarem o carinho e o apoio que vem da minha família. 
 4 
Resumo 
 
 O presente trabalho busca compreender o processo, que teve seu início político-
diplomático/simbólico no Acordo Tripartite Corpus-Itaipu (1979), e que culminou na 
assinatura do Tratado de Assunção, em 1991, responsável pela criação do Mercado 
Comum do Sul. Esta análise se baseia nos estudos da política interna e externa dos 
principais países do bloco, Argentina e Brasil. O foco do trabalho se baseia, em vários 
momentos, nas características econômicas destes países, pois a proposta da pesquisa é 
demonstrar a relação entre a mudança do caráter desenvolvimentista para uma postura 
neoliberal, durante os processos de redemocratização argentina e brasileira, e como essa 
mudança interfere na evolução do processo de integração econômica da região. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 5 
Sumário 
 
 
Introdução........................................................................................................................6 
 
Capítulo 1: O desenvolvimentismo no pragmatismo responsável de Geisel..............8 
1.1 Início da transição para o regime democrático..........................................................10 
1.2 A aproximação diplomática com a Argentina...........................................................12 
 
Capítulo 2: Redemocratização e crise do modelo desenvolvimentista no governo 
Figueiredo.......................................................................................................................15 
2.1 A política universalista de Figueiredo.......................................................................18 
2.2 As relações com a América latina e os países do Prata.............................................20 
 
Capítulo 3: Neoliberalismo e as relações Brasil x Argentina (Sarney – Alfonsín e 
Collor - Menem).............................................................................................................25 
3.1 Collor e Menem: às portas do MERCOSUL.......................................................28 
 
Conclusão.......................................................................................................................31 
 
Bibliografia.....................................................................................................................33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 6 
Introdução 
 
 Os processos de integração regional vêm se desenvolvendo ao longo do século 
XX nos principais continentes do cenário econômico internacional. Na Europa, a União 
Européia já é uma realidade, como o Nafta na América do Norte e a APEC, composta 
por países da Ásia e que são banhados pelo oceano pacífico. Na América do Sul não é 
diferente. Hoje vemos o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) como uma realidade, 
mas nem sempre foi assim, havendo momentos em que a idéia de uma integração entre 
os países da bacia do prata não passava de uma aspiração quase utópica, graças a 
contenciosos diplomáticos de resoluções extremamente difíceis. 
 O presente trabalho se propõe a analisar – especialmente a partir da ótica 
brasileira, passando pontualmente pela história argentina, sem esquecer Paraguai e 
Uruguai – o processo histórico que levou à assinatura do Tratado de Assunção, em 
1991, criando assim o MERCOSUL. Todo o trabalho se baseia em análises que vão do 
contexto político/econômico interno do país até a esfera do Ministério das Relações 
Exteriores (MRE) e a diplomacia praticada pelos países envolvidos. 
 Todo esse ideal de cooperação que, posteriormente viria a ser um projeto de 
integração regional, não surgiu imediatamente na década de 1980. Desde os tempos de 
colônia e de império, passando pela definição das fronteiras nacionais proporcionada 
pelo Barão do Rio Branco, as relações com nossos vizinhos tem sido pauta relevante, e 
por vezes principal, da política externa brasileira. 
 Não só o Brasil possuía esse interesse na diplomacia com os países de 
fronteiriços ou possuidores de fronteiras próximas. Outros países que compreendem a 
América Latina também o tinham. Sendo assim, em certo momento, a cooperação entreos vizinhos se mostrou a melhor alternativa diplomática para uma relação política e 
econômica produtiva e eficiente entre tais países. Com isso, esforços foram sendo 
desenvolvidos com esse intuito até que, na década de 1960, surge a Associação Latino 
Americana de Livre Comércio, a ALALC, tendo como membros iniciais Argentina, 
Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. A ALALC era um reflexo de ambições 
diplomáticas para um projeto de integração comercial na região e propunha a criação de 
uma área de livre comércio na América latina. Não obteve sucesso. 
 Na década de 1980, através do Tratado de Montevidéu 1980, a ALALC foi 
substituída pela ALADI (Associação Latino Americana de Integração), um organismo 
intergovernamental, sediado em Buenos Aires, que anseia uma integração ao nível da 
criação de um mercado comum latino-americano. Sendo assim, a ALADI busca a 
 7 
redução e a conseqüente eliminação das barreiras ao comércio entre os países-membros, 
além de renovar o processo de integração regional e promover um desenvolvimento 
econômico e social da região de forma harmônica. 
 Além desses organismos, vemos ainda na América latina a existência da União 
das Nações Sul Americanas (UNASUL), da Aliança Bolivariana para os Povos de 
Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP), o Fórum sobre a 
Iniciativa da Bacia do Pacífico Latino-Americano (Arco do Pacífico) e a Comunidade 
de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Todos esses organismos 
simbolizam os esforços diplomáticos e os anseios dos países estabelecidos na América 
Latina em busca de um aumento de cooperação beirando a integração, que várias vezes 
chega a ser desejada. Assim, o objeto de estudo central desta pesquisa se mostra 
extremamente relevante para o estudo do contexto da política internacional da esfera 
latina do continente americano. 
 A análise percorrerá os períodos dos dois últimos governos militares do período 
da ditadura brasileira, tendo pontos de análise comparativa com o regime político 
argentino, incluindo a política externa de ambos os países, principalmente na questão 
que aborda a resolução contencioso de Itaipu e a aproximação entre Brasil e Argentina 
após este episódio. Tratará também o período de reabertura política, tanto no Brasil 
quanto na Argentina, durante a década de 1980. A influência desse processo de 
redemocratização no âmbito da política externa e nas posições de Brasília, Buenos 
Aires, Assunção e Montevidéu acerca do projeto de integração regional. 
 No viés economicista, a pesquisa abordará a crise do sistema desenvolvimentisa 
presente no Cone Sul até o início dos anos 1980. O cenário internacional que dificultou 
extremamente a feitura de uma diplomacia voltada para o desenvolvimento nacional, 
levando à necessidade da implementação de um regime de caráter neoliberal, baseado 
nas ambições da potência que viria ser a vencedora da Guerra Fria, através do Consenso 
de Washington. A pesquisa procurou também abordar o impacto desta mudança de 
mentalidade político/econômica da região no andamento do processo de integração, que 
havia sido pensado na lógica desenvolvimentista, mas implementado em uma lógica 
neoliberal, concluindo-se o trabalho então na assinatura do Tratado de Assunção e no 
conseqüente nascimento do que viria a ser conhecido como Mercado Comum do Sul, ou 
simplesmente MERCOSUL. 
 
 
 
 8 
1. O desenvolvimentismo no pragmatismo responsável de Geisel 
 
O governo do presidente militar Ernesto Beckmann Geisel ficou marcado como 
sendo o período em que o Brasil viveu o auge e o declínio do modelo 
desenvolvimentista. O milagre econômico brasileiro já começava a demonstrar alguns 
sinais de esgotamento em 1973. Ao entrar no poder, em março de 1974, o general 
Geisel se deparou com os efeitos negativos que a crise do petróleo estava causando na 
economia global e, consequentemente, na economia brasileira. Na tentativa de dar 
continuidade ao crescimento expressivo e também diminuir os efeitos da crise do 
petróleo na economia brasileira, Geisel adotou medidas técnicas e econômicas no plano 
interno que teriam como agente principal o Estado. 
O funcionamento da economia brasileira estava baseado em grande parte em um 
modelo que necessitava do afluxo de investimentos de capitais estrangeiros, da 
importação de energia barata e de tecnologias também importadas. Com a crise do 
petróleo não só as importações e o combustível se tornaram mais caros, a recessão nos 
países desenvolvidos também diminuiu os investimentos na economia brasileira e 
causou uma queda no volume de importações dos produtos brasileiros por parte desses 
países. Para lidar com esse contexto, a nova equipe econômica, formada por Mário 
Henrique Simonsen no Ministério da Fazenda e João Paulo dos Reis Velloso no 
Ministério do Planejamento, desenvolveu o II PND (Plano Nacional de 
Desenvolvimento), lançado por Geisel em setembro de 1974. O objetivo deste programa 
não era adotar medidas defensivas para a economia, mas sim promover um 
aprofundamento do projeto de industrialização por substituição de importações, com o 
intuito de tornar a economia brasileira auto-suficiente em insumos básicos e, se 
possível, em energia. Nesse momento, o governo lançou um grande programa buscando 
diversificar as fontes energéticas do país. Foram lançadas construções de hidrelétricas, 
usinas nucleares, incremento da extração de petróleo e o programa para a produção de 
álcool como combustível automobilístico (Proálcool). O esforço estatal também se 
voltou para a capacitação tecnológica do país, investindo na nascente área de 
informática e também na área de petroquímica. Esse papel do Estado, tornando-se o 
maior agente produtivo da economia brasileira, possibilitou a reação econômica que o 
governo ansiava frente à crise vigente. 
A crise econômica obrigou o governo a cortar gastos, mas mesmo assim o Brasil 
sustentou um crescimento econômico que oscilou entre 5% e 10% ao ano, criou milhões 
de empregos e aumentou consideravelmente as exportações. Porém a balança comercial 
 9 
não era favorável, já que as importações continuavam elevadas. Para contornar isso o 
governo aumentou as tributações, agravando tensões sociais, e recorreu a empréstimos 
externos que, com a exorbitante elevação dos juros da dívida nos anos 1980, levariam a 
economia brasileira a uma situação calamitosa. 
 Ao mesmo tempo em que o governo brasileiro buscava maneiras de enfrentar a 
crise econômica provocada pela questão do petróleo, Geisel via o crescimento de uma 
“crise interna”, caracterizada por questões político-econômicas. A crise financeira 
atingiu principalmente o empresariado brasileiro que passou então à posição de 
contestador do regime. Neste momento grupos que desejavam a democratização foram 
legitimados e o processo de abertura lenta e gradual, defendido pelo general Golbery do 
Couto e Silva, passou a sofrer oposição de setores da direita. Atentados à bomba, 
assassinatos, sequestros e espancamentos de personalidades e militantes políticos 
antigovernamentais, comandados por bolsões repressivos autônomos, passaram a 
ilustrar os noticiários e pressionar cada vez mais a figura do presidente Geisel que agiu 
de maneira firme no tratar destes episódios. A postura “linha-dura” do general-
presidente não recaiu somente sobre a direita. Os excessos dos órgãos de segurança 
também se refletiam na oposição, criando assim um papel de equilíbrio na figura de 
Geisel, indispensável ao processo de abertura que estava se iniciando e, com isso, 
propiciando-lhe ainda certa legitimação. Nesse contexto, de acordo com Paulo 
Vizentini, “a “abertura lenta e gradual” convivia com o conceito presidencial de 
“democracia relativa ou ilimitada”.”¹ Essa instabilidade política na qual se encontrava o 
país teve reflexos tanto nas políticas econômicas internas, quanto no desenvolvimento 
da diplomaciadenominada Pragmatismo Responsável e Ecumênico, especialmente nos 
acordos da bacia do prata. 
 A necessidade de cooperação técnica e econômica com os países do prata, em 
especial com a Argentina, fizeram com que a diplomacia brasileira reitera-se suas 
repulsas por hegemonias, demonstrando que o Brasil não pretendia ser hegemonia e 
nem toleraria posições semelhantes. Nesse ritmo ditado pelo pragmatismo responsável e 
pela posição não-hegemônica da diplomacia brasileira, inúmeros acordos foram selados 
com Uruguai, Paraguai, Bolívia e Argentina. Essas relações bilaterais tinham como 
objetivo uma cooperação que trouxesse resultados para a postura desenvolvimentista 
adotada por Geisel. 
¹ Paulo Fagundes Vizentini, A política externa do regime militar brasileiro: multilateralização, 
desenvolvimento e construção de uma potência média (1964-1985), 2ª Ed. (Rio Grande do Sul, Ed.: 
UFRGS, 2004). Pg: 200. 
 10 
1.1 Início da transição para o regime democrático 
 
O pensador militar Golbery do Couto e Silva, cérebro da ESG (Escola Superior 
de Guerra), era adepto da tese de que períodos políticos de grande repressão deveriam 
ser sucedidos por períodos de maior abertura e liberdade. Durante o governo Geisel, 
Golbery percebeu que era chegado o momento de iniciar uma transição lenta e gradual 
para um regime democrático, evitando assim que a instituição das forças armadas 
tivesse sua identidade severamente abalada e também possibilitando uma transição 
“segura”, sob o controle do poder militar até então instituído. Esse lento processo de 
liberalização que Maria Helena M. Alves chama de “um programa de medidas de 
liberalização cuidadosamente controlada (...), que pretendia constituir um passo adiante 
na liberalização progressiva, para um retorno à democracia”², se refletiu também nas 
ações diplomáticas do governo Geisel e é esse viés que importa nesta análise. 
O período Geisel possuiu alguns marcos diplomáticos que demonstram a 
mudança no viés com o qual a diplomacia brasileira passaria a trabalhar então. O 
pragmatismo responsável se fez perceber na superação do alinhamento ideológico em 
prol de medidas favoráveis ao Brasil como, por exemplo, a aproximação à República 
Popular da China, o reconhecimento da independência de Angola em janeiro de 1975, a 
defesa da criação do Estado-Nacional palestino e a assinatura do acordo de cooperação 
nuclear com a República Federal da Alemanha, em novembro de 1975, tendo este 
último evento confrontado os interesses norte-americanos para a América latina, pois os 
Estados Unidos faziam a leitura de que essa busca por conhecimento e poder nuclear 
afetaria os planos de hegemonia norte-americana para o cone-sul. 
Por mais que Golbery do Couto e Silva defendesse o início de uma transição 
lenta e gradual para uma maior liberalização e uma consequente redemocratização, essa 
possível mudança de atitude ainda não era sentida pela população e foi nessa questão 
que os Estados Unidos encontraram o ponto eficaz para atacar o governo Geisel na 
tentativa de pressionar o governo brasileiro sobre a questão energética nuclear. Durante 
o mandato presidencial de Jimmy Carter, houve pressões políticas sob o pretexto de ser 
uma “política dos direitos humanos”. No cenário internacional, essa política criou um 
clima favorável aos oposicionistas do governo Geisel que puderam então reivindicar, 
com mais peso, uma aceleração no programa de retorno do estado de direito. 
 
 
 
 
2 Apud Maria Helena Moreira Alves, Estado e oposição rio Brasil (1964-1984) (Petrópolis, Vozes, 1984), 
p.186. 
 11 
A postura norte-americana sempre possuiu um peso relevante na conjuntura 
política da latino-américa. Sendo assim, o estudo das relações entre Brasília e 
Washington são fundamentais para a compreensão de toda a relação política que 
envolvia os países da bacia do prata. A partir disso é vital para esta análise ressaltar que 
a intromissão dos EUA nos assuntos internos brasileiros pôde ser vista como um 
“sensor” do pragmatismo responsável de Geisel e do grau de ruptura com a política de 
fronteiras ideológicas. 
 No episódio já citado, referente à pressão do presidente Carter sobre o governo 
Geisel, apoiando-se nas questões humanitárias, o auge do mal-estar diplomático ocorreu 
quando Jimmy Carter adiou sua visita ao Brasil, enviando em seu lugar sua esposa 
Rosalynn e quando o senado norte-americano decidiu condicionar a ajuda militar dada 
ao Brasil à relatórios sobre a situação dos direitos humanos no país. A decisão do 
governo brasileiro, no intuito de mostrar o seu desagrado com a postura do senado 
norte-americano, foi a de denunciar os acordos militares entre os dois países, em 
setembro de 1977. Apesar da decisão não possuir efeitos práticos, já que a indústria 
nacional era capaz de suprir a maior parte das encomendas das forças armadas, o peso 
simbólico era inegável: o Brasil superava ainda mais as questões acerca do alinhamento 
ideológico na sua política externa.³ 
 O afastamento entre Brasília e Washington também foi econômico, 
principalmente quando produtos manufaturados brasileiros começaram a entrar no 
mercado interno norte-americano. Apesar desses contenciosos, o Brasil não saiu 
prejudicado, pelo contrário, intensificou suas relações com outros países ocidentais e 
com o Japão, sendo reconhecido como vanguardista dos países em desenvolvimento. 
 No âmbito da América latina, a busca pela eficiência e pelos resultados positivos 
por parte da diplomacia brasileira encontrou algumas dificuldades relevantes. As 
questões históricas envolvendo os países do cone-sul e a proximidade das fronteiras, 
além do temor por uma ambição de hegemon por parte do Brasil, dificultavam os 
acordos diplomáticos entre o Brasil e demais países latino-americanos. 
 Voltando a análise para a realidade interna brasileira nesse início de processo de 
reabertura política é possível perceber que houve mais impactos nesse contexto 
causados por esse processo de liberalização do que causados pela política externa. 
Mesmo com a revogação de instrumentos de repressão política, como o AI-5 em 1978, 
 
3 Williams da Silva Gonçalves e Shiguenoli Miyamoto, Os Militares na política externa brasileira: 1964-
1984 (Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 6, n. 12, 1993) p. 25 
 12 
o governo utilizou alguns atos liberais com o intuito de afrontar alguns divergentes 
políticos, como foi o caso envolvendo a igreja católica que, ao se tornar opositora do 
regime autoritário viu o governo aprovar uma Emenda Constitucional que liberava o 
divórcio no Brasil, em 1977. Ao passo que isso ocorria, alguns setores da direita 
demonstravam serem contrários ao processo de abertura política enquanto que setores 
da sociedade se manifestavam contrariamente ao governo. Como já citado 
anteriormente, “A “abertura lenta e gradual” convivia com o conceito presidencial de 
“democracia relativa ou limitada”.” 
Nesse período, o presidente Geisel precisou lidar com uma série de atentados a 
bomba, sequestros, espancamentos e assassinatos de militantes políticos antigovernistas 
e personalidades. Assim, Geisel precisou e agiu com firmeza contra os órgãos de 
elevada autonomia, pois alguns destes estavam vinculados aos episódios citados. Sua 
postura foi a de exonerar altos oficiais de seus postos no intuito de fazer valer sua 
autoridade, amenizar a situação política e poder dar continuidade ao processo de 
abertura lenta e gradual. Suas decisões foram acertadas a tal ponto que Ernesto Geisel 
conseguiu fazer um sucessor empenhado em concluir o processo de transição 
democrática, o general João Batista de Oliveira Figueiredo, que assumiria um mandato 
de seis anos. 
 
1.2 A aproximação diplomática com a Argentina 
 
As relações entre Brasil e Argentina sempre foram marcadas historicamente por 
divergências políticas e diplomáticas, seja pela proximidade de fronteiras,seja pela 
ambição do controle político-econômico-militar do cone-sul do continente americano. 
Um exemplo que retrata bem a relação que os países mantinham um com o outro eram 
os treinamentos estratégicos das academias militares brasileiras. Normalmente nas 
simulações de estratégia e combate o inimigo figurativo possuía características militares 
e geográficas muito semelhantes às apresentadas pelas forças armadas argentinas e às 
fronteiras com tal país. Isso demonstrava claramente que o inimigo em potencial para o 
qual as forças armadas brasileiras sempre se prepararam era muito provavelmente a 
Argentina, explicitando que as relações políticas e diplomáticas com este país não eram 
sólidas ou muito amistosas. 
Apesar de inicialmente se ter a impressão de que Brasil e Argentina possuíam laços 
ideológicos próximos, já que ambos viveram regimes ditatoriais em períodos semelhan- 
 
 13 
tes (no Brasil um regime de 20 anos e na Argentina um regime de 14 anos) e durante a 
mesma época. Entretanto, a análise mais detalhada dessas duas realidades demonstra 
pontos divergentes fundamentais e que servem para expressar a relativa ausência de 
prováveis laços ideológicos entre ambos os regimes. Enquanto no Brasil o período da 
ditadura militar possuiu cinco presidentes militares e não passou por grandes crises 
internas, na Argentina treze governantes passaram pelo poder, sendo sete militares, 
cinco civis e um ex-militar. Além disso, a ditadura argentina, diferente do Brasil, não 
foi contínua, tendo havido dois regimes militares distintos. Essas características 
políticas do período portenho analisado demonstram a diferença política entre Brasil e 
Argentina à época e, por isso, a dificuldade em elaborar acordos bilaterais entre Brasília 
e Buenos Aires. 
Um dos pontos fundamentais das relações bilaterais entre Brasil e Argentina era a 
questão envolvendo a utilização do potencial hidroelétrico de Itaipu. A posição 
brasileira sobre o projeto era a de não ceder às pressões por alterações que visavam os 
interesses argentinos, ao mesmo tempo em que o Itamaraty possuía a cautela de não 
levar a discussão desse assunto com Buenos Aires ao ponto máximo de estresse e 
possível ruptura. 
No ano de 1976 teve início na Argentina um período que se autodenominou 
“Processo de Reorganização Nacional” e instalou no poder uma junta militar, dando 
início a um período de ditadura. Os militares que assumiram o poder viam no projeto 
Itaipu mais uma tentativa de instaurar ao velho programa geopolítico brasileiro de 
hegemonia sobre a região da bacia do prata e as boas relações entre Brasil e Bolívia e 
Brasil e Paraguai, isolando geopoliticamente a Argentina, eram um agravante às 
preocupações em Buenos Aires. Porém, a estabilidade política que marcou o governo do 
presidente Jorge Rafael Videla (1976-1981) foi um ponto chave para a mudança de 
postura nas relações bilaterais entre Brasil e Argentina. 
O contencioso sobre o projeto de Itaipu e a inicial e ferrenha oposição argentina às 
propostas brasileiras possui um ator chave e fundamental nas relações diplomáticas na 
região do prata e, principalmente, no que tange à questão da utilização do potencial 
hidroelétrico ali presente, o Paraguai. O projeto de Itaipu envolvia inicialmente Brasil e 
Paraguai, ao mesmo tempo em que o primeiro não possuía intenções de realizar 
alterações em prol dos interesses argentinos. Assim, como já citado anteriormente, 
Buenos Aires se viu isolada geopoliticamente em uma questão de extrema relevância 
para os interesses argentinos na região. Com isso, a Argentina se viu na necessidade de 
 14 
elaborar uma resposta aos movimentos diplomáticos de Brasília e essa resposta veio na 
forma de um outro projeto para a mesma região, envolvendo Argentina e também 
Paraguai, o projeto hidroelétrico de Corpus. De acordo com Shiguenoli Miyamoto e 
Williams Gonçalves, “ao mesmo tempo em que forçava o Brasil a um diálogo nazis 
franco, devido aos problemas técnicos levantados pela coordenação dos dois projetos, 
impedia a considerada total satelitização do Paraguai pelo Brasil.” 5 Com essa medida e 
ainda sobre o contencioso de Itaipu a Argentina, na ótica realista das relações 
internacionais e sob a análise do general argentino Juan Enrique Guglialmelli, restavam 
aos portenhos três alternativas: a) aceitar a situação; b) enfrentar o Brasil; c) negociar 
com o Brasil. O próprio general Guglialmelli era a favor da última opção. 
A questão que envolve Itaipu representa para a Argentina um problema geopolítico 
e militar ao ponto em que o Brasil teria o controle dos rios que atravessam a região mais 
rica do país, ao mesmo tempo em que o potencial energético do Brasil teria um aumento 
exorbitante, dando o suporte necessário para a expansão econômica e industrial do país 
que mais representa uma ameaça estratégica à nação argentina. 
Seguindo a terceira alternativa citada por Guglialmelli, durante todo o período do 
governo de Geisel, no Brasil, e Jorge Videla, na Argentina, negociações envolvendo os 
dois projetos (Itaipu e Corpus) e os três países (Brasil, Argentina e Paraguai) foram 
sendo desenvolvidas, até que no dia 19 de outubro de 1979, já durante o mandato do 
presidente Figueiredo, no Brasil, chegou-se a um acordo comum e então pôde ser 
elaborado o Acordo Tripartite Itaipu-Corpus, um acordo multilateral, envolvendo 
Brasil, Argentina e Paraguai 6. 
A assinatura deste acordo traz à região a estabilidade política, sensação de paz e a 
tranquilidade que o ex chanceler Celso Lafer considerou como sendo fundamental para 
“o desenvolvimento do espaço nacional, o vetor predominante da política externa do 
Brasil pós-Rio Branco.”7. Além disso, é de extrema importância ressaltar que a 
estrutura, os atores envolvidos e a proposta deste acordo podem caracterizá-lo como 
tendo sido o embrião do que futuramente seria conhecido como Mercado Comum do 
Sul (MERCOSUL). 
 
5 Shiguenoli Miyamoto e Williams Gonçalves, op. cit., p.26. 
6 No momento da assinatura do Acordo Tripartite Itaipu-Corpus, a presidência dos três países envolvidos 
era ocupada por militares: no Brasil o General João Batista Figueiredo; na Argentina o Ten. General Jorge 
Rafael Videla; no Paraguai o General Alfredo Stroessner. 
7 Apud Celso Lafer, O Brasil e o Mundo. In: Ignacy Sachs, Jorge Wilheim e Paulo Sérgio Pinheiro (org.) 
Brasil: um século de transformações. São Paulo, Companhia das Letras, 2001. Pg. 165. 
 15 
2. Redemocratização e crise do modelo desenvolvimentista no governo 
Figueiredo 
 
O governo do presidente João Baptista Figueiredo, iniciado em 15 de março de 
1979, estava fadado a ser o último governo com as características políticas do período 
da ditadura militar no Brasil. O então “presidente da abertura”8 contou com o apoio do 
General Gobery do Couto e Silva, que chefiou a casa civil até o ano de 1981 e foi o 
principal estrategista do processo de abertura política que Figueiredo daria continuidade 
e concluiria no final do seu mandato. 
O último governo da ditadura militar foi marcado inicialmente por um crescimento 
das manifestações de oposição ao regime, uma intensa mobilização social, uma reação 
da direita à distensão e o agravamento da crise econômica e da situação internacional. O 
“milagre econômico”, que era um dos principais sustentáculos práticos e um importante 
amenizador das tensões características de regimes ditatoriais militares, nem de longe era 
o mesmo, ou melhor, estava em uma profunda crise. A realidade econômica brasileira 
caminhava aparentemente para um colapso, vítima em partes da situação econômica 
internacional, abalada por duas crises do petróleo em menos de uma década. Mas, 
apesar de todas as complicações apresentadas no início do mandato, o general 
Figueiredo procurou cumprir o seu juramento realizado durante o discurso de posse que 
prometia “fazer deste país umademocracia”. Assim, apesar das divergências surgidas 
durante o processo, o objetivo da redemocratização sempre esteve em pauta. 
No âmbito das relações internacionais, o Brasil precisou lidar com uma situação 
política/econômica crítica logo no primeiro ano de governo do presidente Figueiredo: a 
Revolução Iraniana, o Segundo Choque do Petróleo e, no ano seguinte, a guerra Irã-
Iraque. Além disso, no mesmo período assistimos o fim da détente, marcada por uma 
enérgica reação norte americana que se intensificaria durante a Era Reagan e também os 
efeitos da rearticulação das formas de produção pela qual a economia mundial passou 
durante a década de 1970, fruto de uma nova divisão internacional da produção e do 
desencadeamento de uma Revolução Técnico-científica, responsável por ampliar 
novamente a distância entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Todos esses 
pontos ditavam o cenário no qual o Itamaraty precisaria lidar e levantavam as questões 
que o Brasil precisaria solucionar para tentar recuperar o vigor econômico dos anos 
dourados do “milagre” e concluir o processo de redemocratização sem maiores 
turbulências. 
8 Paulo Fagundes Vizentini, op. cit., p. 62. 
 16 
 
No contexto interno, as relações entre a sociedade e o governo e, consequentemente, 
o apoio dado pelos diversos setores sociais às medidas adotadas pelo país nas relações 
internacionais estavam em transformação. Não só se iniciava o período de transição 
política interna, mas também se iniciava uma mudança no paradigma da política externa 
brasileira. O modelo econômico brasileiro, baseado no nacional desenvolvimentismo e 
presente desde a Equidistância Pragmática do primeiro governo de Getúlio Vargas ou na 
Barganha Nacionalista9 do seu segundo mandato, estando presente também na Operação 
Pan americana de Juscelino Kubitschek, passando pela Política Externa Independente de 
Jânio Quadros e João Goulart e chegando ao Pragmatismo Responsável de Ernesto 
Geisel, não cabia mais. Tal modelo foi duramente afetado pelas duas crises do petróleo 
da década de 1970 (1973 – guerra do Yom Kipur / 1979 – Revolução Iraniana) e pelo 
choque dos juros, promovido pelo FED (Federal Reserve System – Banco Central dos 
EUA) no final da década de 1970 e início dos anos 80. Como consequência desses 
episódios, o “milagre econômico” brasileiro havia se tornado somente uma lembrança 
nostálgica, a década de 1980 viria a ser conhecida como a década perdida quando o 
assunto é a economia da América latina e a economia brasileira passou a fazer esforços 
para conseguir somente saldar os compromissos com as dívidas externas, ou seja, todo o 
poder de investimento necessário para a manutenção de um modelo desenvolvimentista 
não mais existia na economia do Brasil. Sendo assim, como cita Geisa Cunha Franco, “a 
década de 1980 caracteriza-se como um momento de transição não apenas política, mas 
também do modelo econômico adotado no Brasil e de sua forma de inserção 
internacional.” (FRANCO, 2008, Pg. 40). Seria aberto então o espaço necessário para a 
implementação de modelos de Estado na América latina influenciados pelo 
neoliberalismo, os quais Amado Cervo chama de “Estado normal e Estado logístico” 
(CERVO, 2008, Pg. 457). Essa influência neoliberal na economia de países do cone sul 
será trabalhada mais adiante. 
A política externa brasileira sentiu também os ares do processo de 
redemocratização. A demanda popular e também por parte da imprensa pela 
participação da sociedade civil na formulação da política externa era evidente. Isso não 
se dava por existir um descontentamento ou uma desaprovação por parte da sociedade 
 
9 Expressão elaborada por Gerson Moura para designar a postura de Vargas durante a segunda guerra 
mundial que oscilou entre o apoio à Alemanha e aos EUA para aumentar o poder de negociação. (Apud 
PINHEIRO, 2004, pg. 23-27). 
 17 
em relação à política externa do governo anterior ou das medidas tomadas pelo 
Itamaraty durante o governo vigente do general Figueiredo. Essas manifestações 
ocorriam sendo fruto de uma nova realidade que vinha sendo construída. O novo 
cenário econômico, a posição de oitava maior economia do mundo ocupada pelo Brasil 
e a entrada no cenário político de novos atores*, traziam a necessidade de uma maior 
participação da sociedade civil no que tangia as decisões daquele que havia mantido um 
maior grau de autonomia** dentre todos os ministérios durante o regime militar e que 
era reconhecido pela opinião pública como detentor de grande competência e 
qualificação, o Ministério das Relações Exteriores. 
Foi possível perceber o peso que a opinião pública passou a exercer nas decisões do 
Itamaraty a partir da análise de alguns episódios pontuais como, por exemplo, quando 
foi divulgada a possibilidade de uma visita de Figueiredo ao Chile, que vivia uma 
rigorosa ditadura sob os mandos de Augusto Pinochet. Nesse episódio o jornal O Estado 
de São Paulo citou que essa viagem poderia, junto à opinião pública, “prejudicar a 
imagem da abertura política”10. Outro episódio relevante para este assunto foi quando se 
cogitou o envio de tropas brasileiras para uma Força Internacional de Paz no Líbano, o 
então Ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Matos, considerou que se tratava de 
uma missão muito cara e disse a um repórter: “Além disso, se morrer um soldado, a 
imprensa e a opinião pública começarão a criticar a decisão”11. 
Outro ponto relevante a ser citado, apesar de não fazer parte do ponto central desta 
obra, eram as relações Brasil x Estados Unidos, que estavam muito abaladas graças a 
eventos pontuais ocorridos no governo anterior ao de Figueiredo. Durante o mandato do 
general Geisel, a política dos direitos humanos, lançada pelo presidente americano 
Jimmy Carter e que censurou o regime militar brasileiro, somada à aliança nuclear entre 
Brasil e Alemanha, resultaram em um abalo nas relações bilaterais entre Brasília e 
Washington. Durante o governo Figueiredo, a política externa brasileira assumirá um 
caráter considerado universalista, adaptando-se à crescente “mundialização do sistema 
 
10 Apud Jornal O Estado de São Paulo, 11/11/1979, Pg. 14. 
11
 Apud Jornal O Globo, 06/12/1982, Pg. 05. 
* Vitória do MDB nas eleições legislativas de 1974 e o processo de abertura política sendo tocado adiante 
durante o governo Geisel e Figueiredo, trazendo possibilidades de ambições democráticas para a o 
cenário da discussão política do período. 
** Um maior grau de autonomia relativo não significava uma total ou grande autonomia. Muitas das 
decisões do MRE estavam atreladas às opiniões das áreas militares ou dos ministérios econômicos. 
 18 
internacional” (GONÇALVES, 1993, Pg. 28), e isso influenciaria a postura do MRE 
tanto nas relações com os Estados Unidos como em outras bilaterais ou multilaterais. 
 
 
2.1 A política universalista de Figueiredo 
 
Saindo do rótulo do Pragmatismo Responsável do governo Geisel e chegando ao 
que ficou conhecido como Universalismo durante o governo do general Figueiredo, não 
se vê de fato uma mudança de curso na política externa. De acordo Sônia de Camargo, 
“o que houve, talvez, foi uma mudança de estilo – uma diplomacia menos secreta e com 
um diálogo mais aberto com o Congresso Nacional”12. Na realidade, a nova postura da 
política externa brasileira era um “amadurecimento” do que antes fora apresentado 
como pragmatismo. A estratégia aplicada nas relações internacionais, voltada para o 
interesse nacional, se apresentava agora em medidas coerentes e bem articuladas. 
Sob a chancela do diplomata Ramiro Elísio Saraiva Guerreiro, o Ministério das 
Relações Exteriores assumiria então uma postura na política externa baseada na 
dignidade e na boa convivência, adaptando-se assim à crescente mundialização do 
sistema internacional e desenvolvendo uma política internacional adequada às 
característicasdo Estado brasileiro que, ao mesmo tempo, integra o Terceiro Mundo e 
compartilha valores e ambições com o ocidente desenvolvido. Por essa característica 
peculiar brasileira, foi necessária uma política externa não excludente a nenhum dos 
grupos presentes no palco internacional. Com isso, a proposta do universalismo foi bem 
adequada à realidade do Brasil no contexto trabalhado. Um trecho de uma conferência 
de Saraiva Guerreiro expõe claramente a proposta da política universalista: 
"O universalismo é componente interno aos objetivos de paz, que orientam a 
política externa brasileira. Um perfil universalista, para não ser um artificio, 
deve partir da aceitação da diversidade. Deve admitir a diferença de tendências, 
e entender que os laços sólidos entre países são construídos na plena percepção 
dessa diferença e, em certos casos, até com base nelas."13 
 
O universalismo do Itamaraty durante o mandato de Figueiredo tinha como primeira 
prioridade as relações com a América latina, em especial com a Argentina. Esse ponto é 
 
12
 Apud Sônia de Camargo e J. M. Vasquez Ocampo, Autoritarismo e democracia na Argentina e Brasil 
(uma década de política. exterior, 1973-1984) (São Paulo, Convívio, 1988), p.125. 
 
13
 Apud Conferência do ministro de Estado das Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, na Escola 
Superior de Guerra do Rio de Janeiro, em 13 de julho de 1979. 
 19 
central para a proposta do trabalho e possui tal relevância que será tratado em separado 
no tópico seguinte. 
Outro ponto bastante relevante no período do universalismo foram as relações entre 
o Brasil e os países africanos. Durante o governo Figueiredo é possível perceber um 
aprofundamento da política brasileira para a África. Em 1984, o Brasil possuía quase o 
dobro de embaixadas no continente africano do que os números apresentados no início 
do governo Geisel, em 1974. O número saltou de 12 para 21 embaixadas14. Com esse 
aumento na quantidade de instalações diplomáticas, o MRE passou a cobrir 45 países. O 
Brasil, consequentemente, passou a se envolver mais diretamente com os problemas do 
continente africano, tanto que o presidente Figueiredo foi o primeiro estadista sul-
americano a fazer uma viagem oficial à África. Nesse contexto, o Brasil propôs uma 
maior aproximação com a África lusófona e, em especial, se identificou com a causa 
angolana, país no qual se passava um período de guerra civil. O governo brasileiro 
apoiava a causa do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), partido líder 
do poder no período pós independência angolana, em 1975, e que havia adotado alguns 
pontos do discurso marxista-lininista nas suas diretrizes políticas. O MPLA sofria 
constantes ataques da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), 
apoiada por forças sul-africanas, país que vivia sob o regime do apartheid. Nessas 
circunstâncias, o Brasil cogitou até a hipótese do envio de envio de tropas para defender 
Angola da África do Sul, em 1981, mas a idéia não chegou a ser aplicada. Essa postura 
brasileira reflete a proposta do universalismo e a ausência de qualquer tendência a um 
alinhamento ideológico automático, pois, ainda dentre de um contexto de guerra fria, o 
Brasil, pertencente ao bloco capitalista ocidental, declarou apoio a um partido político 
com tendências comunistas. 
No que diz respeito às relações Brasil e África do Sul, o general Figueiredo sofreu 
pressões políticas tanto da esquerda, quanto da direita. Enquanto a primeira criticava o 
governo por não ter rompido relações com aquele país, a segunda pressionava pela 
manutenção dos laços comerciais e de segurança. A diplomacia brasileira não atendia 
plenamente nenhuma das reivindicações e ainda recusava os pedidos que os líderes 
africanos faziam, para que o Brasil pressionasse formalmente a África do Sul. A relação 
com a África do Sul envolvia também uma outra questão delicada: a militarização do 
atlântico sul. Os Estados Unidos fizeram grande pressão para a criação da OTAS 
 
14 Apud José Maria Nunes Pereira, “Brasil-África no governo Figueiredo: um balanço”, Contexto 
Internacional, IRI/PUC-RJ, n° 2, julho-dezembro 1985, p.86. 
 20 
(Organização do Tratado do Atlântico Sul), a qual seria composta por Brasil, Argentina 
e África do Sul. O governo brasileiro reagiu negativamente à proposta e um dos pontos 
fundamentais para essa posição brasileira foi o episódio da Guerra das Malvinas, que 
será tratado no próximo tópico. 
A política brasileira para a África neste contexto trabalhado, não pode ser analisada 
a partir de fatores exclusivamente econômicos e/ou quantitativos, embora houvessem 
possibilidades de relações econômicas significativas em países como Nigéria, 
Moçambique, Angola, entre outros. Mas é necessário interpretar a ação do Brasil no 
continente africano como sendo uma aproximação diplomática para uma presença 
qualitativa do Brasil na África. 
No âmbito das relações com o oriente médio é possível perceber que o Brasil 
fortaleceu suas relações comerciais e diplomáticas com os países produtores de petróleo 
e consumidores de produtos oriundos da indústria bélica nacional. 
Nas relações com o continente asiático é possível perceber, como afirmam 
Shiguenoli Myamoto e Williams Gonçalves, que o “universalismo adquiriu sua melhor 
expressão”15. Ao passo que o Brasil expandia suas relações comerciais e diplomáticas 
com a República Popular da China, eram reafirmadas também as boas relações com o 
Japão, demonstrando assim, na prática, o pragmatismo da política universalista do 
período Figueiredo, ausente de alinhamentos automáticos de cunhos ideológicos. 
Essa postura do Itamaraty na condução das relações internacionais tanto no 
tratamento dos países pertencentes ao bloco terceiro mundista quanto referente aos 
países da linha de frente da política e da economia internacional, demonstra, na prática, 
a proposta brasileira no âmbito da política externa e reafirma que, para as características 
peculiares do Brasil, neste momento, ser parte do bloco ocidental não significava anular 
qualquer relação com países não alinhados, ou até mesmo do bloco capitalista. Para 
Figueiredo os interesses do Brasil estavam acima de qualquer alinhamento ideológico e 
isso se fez valer na condução política pragmática do MRE nesse período. 
 
2.2 As relações com a América latina e os países do Prata 
 
A América latina, principalmente a América do sul, era ponto prioritário na política 
universalista do período Figueiredo. Isso ocorreu graças ao abalo nas relações entre 
Brasil e EUA, além das adversidades presentes no cenário internacional, fruto da Guerra 
 
15
 Shiguenoli Miyamoto e Williams Gonçalves, op. cit., p.32. 
 21 
Fria e da crise econômica proporcionada pelas recentes crises do petróleo e pelo choque 
dos juros, implementado pelos EUA gerando uma crise da dívida externa que provocou 
sérios danos às economias terceiro mundista, em especial à economia brasileira. 
O Brasil possuía então relações privilegiadas com a Argentina, graças à 
aproximação ideológica dos governos militares e ao incessante trabalho do Itamaraty 
para rechaçar qualquer tipo de imagem de aspirante à hegemon que o Brasil pudesse vir 
a passar. Entretanto, as relações exteriores do Brasil no Cone sul não se restringiram ao 
bilateralismo Brasília x Buenos Aires. A postura multilateralista desenvolvida pelo 
MRE para o continente americano proporcionou ao Brasil uma posição de protagonista 
nas relações com os países da América central e também no âmbito hemisférico, 
principalmente quando o assunto eram os esforços para o desenvolvimento de uma 
integração regional. 
Neste período vemos o desenvolvimento de vários organismos de cooperação 
técnica e/ou econômica surgindo na América latina, sempre tendo o Brasil posição de 
destaque. Em agosto de 1980, através do Tratado de Montevidéu1980, foi constituída a 
ALADI (Associação Latino-Americana de Integração) em substituição da ALALC 
(Associação Latino-Americana de Livre Comércio), tendo como países participantes, na 
sua formação, Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, 
Peru, Uruguai e Venezuela. Soma-se a esse episódio a entrada em vigor do Tratado de 
Cooperação Amazônica (TCA), assinado em 1978, e os esboços de uma cooperação na 
área energética a partir da Organização Latino-Americana para o desenvolvimento 
(OLADE). A atividade dessas instituições demonstra a tendência da América latina em 
rumar para uma aproximação entre as nações que poderia rumar para uma integração 
mais concreta, como foi de fato o MERCOSUL. 
O Brasil demonstrou sua influência não só fazendo parte como país membro das 
organizações citadas, mas também foi atuante em ações multilaterais, como no Grupo 
de Contadora, onde buscava negociar uma solução para o conflito na América central 
que tinham o apoio político-militar dos Estados Unidos. O Brasil também se fez 
presente no Grupo de Cartagena, criado para tratar da questão da dívida externa de uma 
forma mais política e coletiva, mas sem o intuito de criar um cartel de países devedores. 
Focando a análise na região do Prata, onde a principal relação bilateral do Brasil se 
dá com a Argentina, dentre as várias questões a serem trabalhadas pelo Itamaraty, a 
mais relevante no momento era o contencioso do acordo Corpus-Itaipu. Essa questão já 
vinha sendo trabalhada desde o governo Geisel, período em que o MRE estava sob a 
 22 
gestão do chanceler Antonio Francisco Azeredo da Silveira, mas no início do período 
Figueiredo essa questão ainda representava um impasse. O grande empecilho era a 
necessidade de compatibilidade técnica nos projetos de construção da Usina de Itaipu, 
do lado brasileiro, e de Corpus, do lado Argentino, ambas no Rio Paraná. Além disso, a 
Argentina exigia consultas prévias para cada etapa da implementação do projeto, algo 
que o governo brasileiro julgava ser desnecessário já que o princípio de 
responsabilidade por danos causados seria uma garantia suficiente. É relevante lembrar 
que, apesar do contencioso envolver mais diretamente Brasil e Argentina, outro ator 
estava presente e era um grande interessado nessa questão, o Paraguai. 
Para o andamento do acordo tripartite, foram empenhados esforços diplomáticos e 
até mesmo um esforço pessoal do presidente Figueiredo, que possuía certo laço afetivo 
com a Argentina pelo fato de ter residido lá anteriormente. Inicialmente foram 
estabelecidos contatos com o Paraguai e, posteriormente, com a Argentina. É 
extremamente relevante nesse contexto o fato de que os três países possuírem como 
sistema político uma ditadura. No Paraguai, o governo do general Alfredo Stroessner já 
possuía mais de duas décadas, enquanto que na Argentina o governo de Jorge Videla se 
desenhava como sendo um período de constantes violações dos direitos humanos e, no 
Brasil, o presidente da abertura não deixava de ser um general e de fazer parte do 
período ditatorial da história brasileira. Após a assinatura do tratado as relações 
bilaterais Brasil x Argentina se desenvolveram positivamente, chegando ao ponto de 
ambos os países buscarem soluções de maneira conjunta para os problemas econômicos 
enfrentados por ambos. A aproximação política, econômica e ideológica possibilitou 
eventos e posturas comuns acerca de determinados temas globais ou regionais que 
traduzem o grau que as relações entre Brasília e Buenos Aires atingiram neste período: 
1) o presidente Figueiredo realizou uma visita presidencial à Argentina em maio de 
1980, fato que não ocorria desde 1935; 2) Brasil e Argentina repudiaram o apartheid 
expressaram satisfação com a conclusão do processo de independência do Zimbábue; 3) 
manifestaram o desejo de uma rápida resolução da questão da Namíbia, além de 
expressarem o compartilhamento do ideal de eliminação de todo o resquício de 
dominação colonial no mundo; 4) Brasil expressa apoio à Argentina na questão das 
Malvinas; 5) ambos demonstram preocupações com a corrida armamentista entre as 
duas superpotências e suas consequências para a paz global; 6) alertam para a 
necessidade de diminuição das diferenças entre norte e sul, principalmente abordando as 
diversas formas de cooperação para o desenvolvimento; 7) ressaltam a importância de 
 23 
se trabalhar o ponto da questão energética, problema que deve ser pensado pelos 
produtores e pelos consumidores; 8) defendem o estreitamento das relações entre todos 
os países em desenvolvimento, buscando formas de auxílio mútuo com o intuito de 
desenvolver formas de cooperação entre tais países; 9) no âmbito regional, possuem 
idéias convergentes sobre assuntos como a OEA, o Sistema econômico latino-
americano (SELA) e, principalmente, concordam que a cooperação econômica regional 
evidenciou a insuficiência dos mecanismos da ALALC. 
Ao concentrarmos o foco da análise nos benefícios políticos, militares e 
econômicos, fruto dessa aproximação entre Brasil e Argentina, vemos os presidentes 
Figueiredo e Videla demonstrarem uma particular satisfação com os acordos de 
cooperação entre ambos os países no campo de energia nuclear, acordos na exploração 
do potencial hidroenergético do prata e também os acordos para uma cooperação 
tecnológica e militar entre órgãos dos dois países. No campo do petróleo foi lavrado um 
acordo entre a Petrobras e a YPF, no intuito de complementar as necessidades de ambos 
os países no que diz respeito à exploração petrolífera e produtos oriundos do petróleo. 
Outro item que se expandiu rapidamente foi o incentivo às iniciativas privadas, com o 
intuito de que esse setor desse andamento aos seus projetos e assim pudessem interferir 
positivamente na economia e na corrente comercial de ambos os países. 
Mas nem tudo nas relações bilaterais entre Brasil e Argentina manteve esse grau de 
sucesso diplomático. Apesar de a posição brasileira ter sido favorável à Argentina na 
votação promovida pela OEA sobre supostas transgressões dos direitos humanos pelo 
regime ditatorial argentino, Videla não evitou críticas quando tratou do protecionismo 
econômico promovido pelo Brasil e do incentivo do mesmo às exportações. De acordo 
com várias empresas argentinas concorrentes brasileiras estariam praticando dumping, 
uma prática que visa, através do estabelecimento de um preço para um determinado 
produto abaixo do seu valor “justo”, desestabilizar a concorrência dos produtores 
nacionais do país de destino do produto e que é reprimida pelos governos quando 
comprovada. 
Na questão referente às Malvinas, nenhum país latino-americano, incluindo o Brasil, 
questionou os direitos argentinos sobre as ilhas (também conhecidas como Falklands). 
Sob o governo do general Leopoldo Fortunato Galtieri Castelli, a Argentina tomou a 
decisão de tentar retomar o controle das ilhas, que estão sob o domínio britânico desde 
as primeiras décadas do século XIX. A partir de uma análise equivocada acerca de um 
possível apoio norte-americano somada a uma necessidade do regime ditatorial de criar 
 24 
algo que recuperasse um sentimento de coesão interno como, por exemplo, um inimigo 
estrangeiro comum ao povo argentino, o presidente Galtieri lançou uma ofensiva contra 
o território britânico das Malvinas e deu início a uma breve guerra. O Brasil manteve 
sua posição de neutralidade favorável ao país vizinho e buscou servir de interlocutor 
entre ambos os países conflitantes. A posição brasileira foi denominada pelo próprio 
Itamaraty de “neutralidade amiga”. 
Durante o conflito, a Argentina não recebeu o apoio dos Estados Unidos, que 
julgaram não ser possível a ativação do Tratado Interamericano de Assistência 
Recíproca (TIAR) pelo fato de ter sido a Argentina o país agressor, quando o TIAR 
determinava a defesa contra “agressõesexternas”. Na realidade este episódio evidenciou 
que para Washington a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) possuía um 
peso muito maior politicamente que o TIAR, quase anulando assim o simbolismo 
estratégico que este tratado possuía. O resultado disso foi que a Argentina saiu 
derrotada, com seus militares humilhados e o regime quase sem sustentação política, o 
que acelerou bastante o processo de redemocratização argentina. 
A Guerra das Malvinas demonstrou que a OEA havia se tornado impotente para 
solucionar quaisquer conflitos e que, como dito anteriormente, a relevância do TIAR 
estava subjugada pela relevância da OTAN, no que diz respeito às posições de 
Washington. Apesar desses pontos, o Brasil nunca deixou de participar dos órgãos 
multilaterais e muito menos abandonou sua estratégia de cooperação global, 
característica do universalismo. 
O período do mandato do presidente João Figueiredo foi fundamental para a 
guinada de parte do cone sul do continente americano rumo à integração, tendo sido a 
resolução do contencioso de Corpus-Itaipu ponto chave e divisor de águas nesse 
processo. Como afirma Amado Cervo, “desde o início do governo Figueiredo, as 
relações com a Argentina encaminharam-se em direção à fase integracionista, que os 
presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney iriam desencadear”16. 
 
 
 
 
 
16
 Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, História da política exterior do Brasil, 3ª Ed. (Brasília, Editora 
UnB, 2008) p. 453. 
 
 25 
3. Neoliberalismo e as relações Brasil x Argentina (Sarney – Alfonsín e Collor 
- Menem) 
 
 
Na Argentina, desde o final do ano de 1983, o presidente Raúl Alfonsín se dispôs a 
contribuir para o restabelecimento do funcionamento de instituições republicanas e 
garantir o cumprimento dos direitos constitucionais. No Brasil, a população esperou de 
1979 a 1985 para que, pela primeira vez desde o golpe militar de 1964, um presidente 
militar fosse sucedido por um civil, tendo fim assim o período de 21 anos de ditadura 
militar que assolou o país. Mas o primeiro presidente civil do Brasil pós-ditadura, que 
foi tão aguardado por mais de duas décadas, jamais chegaria a tomar posse. Tancredo 
Neves faleceu no dia 21 de abril de 1985, feriado nacional de Tiradentes, em 
decorrência de complicações no tratamento de uma diverticulite. Boatos sobre um 
suposto atentado que teria ocasionado a morte de Neves nunca foram comprovados. 
Após este incidente o maranhense José Sarney, que há menos de um ano era líder 
parlamentar do regime militar, assumiu a cadeira da presidência da república. O novo 
presidente do Brasil se comprometeu a colocar em prática todo o projeto traçado por 
Tancredo Neves. Mas, apesar dos avanços políticos, as dificuldades econômicas que o 
país enfrentava eram o que se destacavam para a população. Com isso, nem a memória 
do falecido Tancredo Neves e nem as promessas da “Nova República” foram suficientes 
para manter a popularidade de José Sarney. 
No intuito de recuperar a esperança popular, o novo presidente civil do Brasil 
lançou, em fevereiro de 1986, um projeto que atingia diretamente os problemas da 
economia brasileira: o Plano Cruzado. Congelamento de preços e salários somados a 
um controle cambial, essa era a formula do novo plano. A população foi convocada a 
fiscalizar, junto ao governo, o impedimento de remarcações de preços (ficaram 
conhecidos como os “fiscais do Sarney”). A partir de então a popularidade do presidente 
subiu às alturas rapidamente e, em novembro, o resultado dessa popularidade foi uma 
votação maciça para os candidatos do governo. Com o poder na Assembléia 
Constituinte e nos governos estaduais, o presidente anunciou o fim do Plano Cruzado, 
fazendo explodir toda a inflação controlada artificialmente durante o período do plano, 
tendo como principal conseqüência a diminuição drástica do consumo. O Fundo 
Monetário Internacional (FMI), sempre crítico dessa política de controle inflacionário 
artificial, não se pronunciou contrariamente ao plano de Sarney. O Brasil apresentava 
então fortes indícios de ter entrado de vez na arena neoliberal global. 
 26 
Essa mudança de postura política também é evidenciada no contexto da política 
externa. O chanceler Olavo Setúbal apresentou-se disposto a romper com a linha 
diplomática desenvolvimentista, abandonando assim toda a sequencia de ideologia 
presente no pragmatismo responsável e no universalismo. Para Setúbal o Brasil, como 
sendo um país ocidental, deveria cooperar mais com os Estados Unidos, maximizando 
suas possibilidades de desenvolvimento, rumo ao Primeiro Mundo. Assim o chanceler 
buscava se distanciar do Terceiro Mundo em um momento em que o diálogo Norte-Sul 
é abandonado17 e Mikhail Gorbachev apresenta a Glasnost e a Perestroika em um 
congresso do Partido Comunista Soviético, evidenciando um desgaste do regime da 
União Soviética e um prenúncio do fim do conflito Leste x Oeste. Todavia o Itamaraty 
resistiu ao posicionamento de Setúbal, que teve um curto período na chancelaria sendo 
substituído no início de 1986 por Abreu Sodré. O novo chancelar demonstrou uma 
postura oposta a de Olavo Setúbal ao ter como uma de suas primeiras medidas a 
reaproximação com Cuba, que havia sido obstaculizada por Setúbal e pelo Conselho de 
Segurança Nacional. 
Enquanto isso, na Argentina, o presidente Raúl Alfonsín enfrentava os mesmo 
problemas econômicos que o Brasil e também buscou medidas semelhantes. Em junho 
de 1985 o presidente Alfonsín lançou o chamado Plano Austral, um projeto econômico 
que visava, através da substituição da moeda corrente - o Peso argentino - pelo Austral, 
na tentativa de frear a inflação argentina que chegava a mais de 40% ao mês atacado18. 
Para isso o Plano Austral previa o controle de preços, salários e do câmbio, além de 
redução dos gastos do Estado e frenagem da emissão monetária. Em seguida vieram o 
Plano Austral II e o Plano Primavera que previam o congelamento de preços, tarifas, 
salários e câmbios. Os esforços não surtiram os efeitos desejados e o fracasso, como o 
do Plano Cruzado, trouxe conseqüências tais como: hiperinflação, recessão, 
desemprego, escalada do dólar e, consequentemente, o desgaste político do presidente 
Raúl Alfonsín. 
No âmbito das relações internacionais sob a chancela de Dante Caputo, a Argentina 
desenvolveu uma política de alto perfil no contexto latino americano e no movimento de 
países não alinhados, buscando sempre prestígio e um distanciamento do governo 
Reagan. 
 
17
 Fato ocorrido durante a Reunião de Cúpula do G-7 em Cancun, em 1985. 
18 Raul Cuello. As dificuldades do Plano Austral: a inflação retorna. Revista de Economia Política, Vol. 
6. nº 4., outubro-dezembro/1986. 
 
 27 
Nas relações bilaterais com o Brasil posteriores a redemocratização, desenvolveu-se 
um processo de aproximação política, econômica e cultural irreversível. Os presidentes 
Sarney e Alfonsín realizaram encontro em Foz do Iguaçu, inauguraram a Ponte 
Internacional da Fraternidade (Ponte Tancredo Neves) que liga Foz do Iguaçu/Brasil a 
Puerto Iguazú/Argentina, além de assinarem documentos importantes como a 
Declaração de Iguaçu e a Declaração Conjunta sobre Política Nuclear. A partir de então 
vemos a relação Brasil x Argentina caminhar de um processo de cooperação para um 
processo de integração. 
Em 1986 os presidentes Alfonsín e Sarney realizam a assinatura da Ata para a 
Integração Brasileiro-Argentina, criando também a Comissão de Execução do Programa 
de Integração binacional. Entretanto, a partir de uma posição flexível e gradualista, 
Brasil e Argentina procuram estender esse processo de integração a outros países da 
América do Sul, começando pelo Cone Sul. Esse projeto de integração visava preparar 
os países membros para um futuro independente, acelerando o crescimento auto-
sustentado, promovendo a modernização econômica,unificando os mercados, 
promovendo as boas relações e buscando cada vez mais agregar a América Latina. O 
presidente uruguaio Julio María Sanguinetti acompanhou de perto o início do processo, 
vinculando seu país ao programa de integração a partir de atos bilaterais com Brasil e 
Argentina. 
O processo de integração caminha com evoluções positivas, tendo reflexos inclusive 
no âmbito do desenvolvimento da tecnologia atômica, pois quando o Brasil obtém o 
domínio da tecnologia de enriquecimento de urânio, em 1987, o Itamaraty trata de 
conceder conhecimento prévio ao presidente Alfonsín, expressando um sinal de 
cooperação técnica e de amizade com a Argentina. 
No contexto argentino o processo de integração apresenta um crescimento 
inversamente proporcional à popularidade de Raúl Alfonsín. Enquanto o início 
burocrático do processo de integração com o Brasil coincide com o aumento de 
popularidade do presidente argentino, fruto do Plano Austral, o desenvolvimento deste 
processo se dá no decorrer da crise de popularidade de Alfonsín e sublevações militares 
– rejeitadas pela sociedade civil -, em meio ao descontentamento da população com o 
fracasso do plano monetário e as conseqüências negativas desse fracasso para a 
economia argentina. Essa característica do andamento do processo de integração, não 
dependente da popularidade de Alfonsín, explicita a autonomia da posição brasileira 
dentro da diplomacia argentina. 
 
 28 
3.1 Collor e Menem: às portas do MERCOSUL 
 
No ano de 1989, Carlos Saúl Menem foi eleito presidente da Argentina pelo Partido 
Justicialista (Partido Peronista), depois de uma campanha prometendo um salariazo. 
Entretanto, ao assumir o poder, Menem adotou uma postura neoliberal, assumindo uma 
posição econômica ortodoxa e mudando as alianças sociais e econômicas que 
historicamente caracterizam o peronismo. O presidente argentino se afastou do 
sindicalismo e se aproximou da elite liberal do país e do establishment financeiro 
internacional. Evidentemente, essas mudanças ideológicas, passando das características 
mais “populares” de Alfonsín para o viés neoliberal da política do presidente Menem, 
influenciaram a política econômica e a política externa da Argentina. Soma-se a essas 
questões internas o cenário internacional no qual Carlos Menem assumiu o poder (fim 
da Guerra Fria e hegemonia estadounidense). Sendo assim, no intuito de alçar a 
Argentina ao posto de primeiro mundo, o presidente Menem adotou as recomendações 
do Consenso de Washington e se aliou à superpotência vencedora da Guerra Fria, 
consolidando assim o caráter neoliberal dentro das políticas argentinas. 
Fruto de todas as mudanças ideológicas já citadas, o Estado argentino passou por 
reformas estruturais para se adequar às práticas neoliberais como, por exemplo, a 
redução do Estado, liberalização comercial e financeira, privatizações e 
desnacionalizações, reforma fiscal, desregulamentação e, em 1991 através do ministro 
Domingo Cavallo, o estabelecimento da paridade peso-dólar. 
No âmbito da política externa, o presidente Carlos Menem buscou desconstruir a 
imagem de imprevisibilidade das relações exteriores argentinas. Sendo assim, foi 
abandonado o posicionamento de confronto com os Estados Unidos e a posição terceiro 
mundista adotada por vezes por outros governos argentino. As “alianças tradicionais 
com o ocidente” foram retomadas, sendo os maiores expoentes desta postura as relações 
entre Buenos Aires e Washington, as quais o chanceler Guido di Tella19 chamou de 
“relações carnais”, e as relações entre Buenos Aires e Brasília, onde o principal foco do 
esforço diplomático de ambos os países foi a continuidade do processo de integração 
regional (uma das poucas manutenções políticas do período Alfonsín). Sendo assim a 
política externa argentina deste período se caracterizou como sendo “bifrontal”, ou seja, 
possuidora de duas principais frentes de atuação, Estados Unidos e Brasil. 
 
19
 Guido di Tella também foi um dos principais responsáveis pela retomada das relações diplomáticas 
entre Argentina e Grã-Bretanha após a Guerra das Malvinas, em 1982. 
 
 29 
Apesar da manutenção da política de integração ao lado do Brasil, o presidente 
Menem estabeleceu uma mudança na motivação do andamento deste processo: o 
processo de integração deixaria de ser em busca da construção de poder em bloco e da 
valorização do regionalismo, passando a caracterizar uma lógica de equilíbrio de poder. 
Com isso, a priorização simultânea das relações com os Estados Unidos e com o Brasil 
ganha um caráter estratégico para a política externa argentina: as relações com 
Washington representam uma garantia contra possíveis “excessos” da política externa 
brasileira – sempre um ponto de desconfiança dos governos argentinos por possíveis 
anseios hegemônicos –, enquanto as relações com Brasília serviriam tanto para projetos 
de crescimento e desenvolvimento econômico quanto para melhorar a posição de 
negociação para com os Estados Unidos. 
Ao focarmos a análise no Brasil durante o mesmo período, vemos a ascensão ao 
poder de Fernando Collor de Mello, eleito aos 41 anos de idade e representante do 
nascimento de uma “nova política”. Apoiado pela grande mídia e visto como um 
homem íntegro, anticorrupção e antipolítica, Fernando Collor ganhou, durante a 
campanha presidencial, o rótulo de “Caçador de Marajás” por seu combate a 
funcionários públicos com salários altos e desproporcionais durante o período em que 
governou o estado de Alagoas. Graças ao apoio midiático Collor foi eleito pelo Partido 
da Reconstrução Nacional (PRN) e assumiu a presidência em março de 1990. 
O período de Fernando Collor na presidência da república foi marcado por um plano 
econômico antiinflacionário, baseado em medidas como o bloqueio (confisco) da 
poupança e de outros investimentos. Além disso, Collor promoveu uma abertura 
unilateral do mercado interno, sem barganhar compensações e causando uma inundação 
de importações desnecessárias. Essas medidas resultaram no controle inflacionário, mas 
também causaram uma recessão sem precedentes e diversas falências. Soma-se a isso o 
início de um processo de privatizações – que assolou a economia brasileira na década de 
1990 – das empresas estatais mais lucrativas, geralmente por valores abaixo do seu 
preço de mercado. Como conseqüência destas privatizações ocorria, como na Argentina, 
um processo de desnacionalização de tais empresas. Essas privatizações eram 
justificadas ao passo que era necessária uma redução do déficit do Estado e promover o 
ingresso de capitais, mas esse ingresso de capitais não representou ampliação da 
capacidade produtiva, transformando assim as privatizações do período em mera 
aquisição do patrimônio nacional. Assim o Estado brasileiro entrava de vez na lógica 
neoliberal e aliava sua economia mais ainda à lógica de funcionamento do establishment 
financeiro internacional. 
 30 
No âmbito do Itamaraty, sob a chancelaria de Francisco Rezek, percebeu-se uma 
perda de muitas das atribuições do Ministério das Relações exteriores, pois nele se 
encontrava um núcleo de resistência que fazia oposição ao projeto governamental. 
Sendo assim o Brasil mudou sua postura internacional, tendo sua política externa se 
afastado do caráter multilateral, passando a se focar nas relações bilaterais com 
Washington e nas relações com as Américas. Além disso, o Brasil, como a Argentina, 
adotou as vitoriosas teses pós Guerra Fria e, consequentemente o Consenso de 
Washington, sem barganhar, não fazendo uso da margem de manobra característica da 
importância do país e não fazendo jus à sua tradição diplomática. 
O período do governo Collor foi marcado, como antes demonstrado, por um 
processo de liberalização da economia brasileira, além da adoção de uma posição de 
subordinação em relação aos Estados Unidos e de um alinhamento às diretrizese 
determinações do Fundo Monetário Internacional (FMI). Diferente da postura primeiro 
mundista, que buscava proteger seus mercados, o Brasil abriu seu mercado interno 
unilateralmente, atitude justificada pelo presidente Fernando Collor como sendo 
necessária para que o Brasil obtivesse acesso às novas tecnologias. Vale lembrar que 
essa abertura aos produtos externos sem a salvaguarda de produtos nacionais, serviu 
também para aliviar a imagem de Collor perante a comunidade financeira internacional, 
que havia sido abalada graças à política econômica no plano interno, desenvolvida para 
combater a inflação e melhorar a imagem do país diante dos credores internacionais, 
que não foi bem vista pelo establishment da macroeconomia internacional. De acordo 
com o embaixador Paulo Nogueira Batista, Fernando Collor de Mello confundia o poder 
militar norte americano com o poder econômico. Sendo assim, a presidência aceitou as 
regras impostas pelos Estados Unidos como se fosse o único pólo mundial de poder. 
A relação de cooperação entre Brasil e Argentina sofreu forte influência do 
Ministério da Economia, ocupado por Zélia Cardoso de Mello. A relação de cooperação 
ganhou fortes ares de integração e recebeu Uruguai e Paraguai, países com tarifas 
externas muito abaixo das praticadas no Brasil. Com isso havia a expectativa de 
aceleração do processo de redução das taxas nacionais. Para Vizentini, “o eixo Brasília 
– Buenos Aires dos anos 80, de viés relativamente autonomista e desenvolvimentista, 
ganhou colorações neoliberais” (VIZENTINI, 2008, Pg. 83). A participação do 
Ministério da Economia talvez tenha sido mais influente na política externa do governo 
Collor do que o próprio Ministério das Relações Exteriores, que não teve participação 
decisiva durante o período. 
 31 
Fernando Collor também procurou desconstruir as idéias ligadas à imagem de Brasil 
potência. Para isso desmontou iniciativas como o projeto nuclear e a indústria da 
informática. Adotou também o discurso da globalização como sendo algo “inevitável” e 
até mesmo desejável, deixando de lado assim a noção de soberania. O presidente 
também abandonou, ou deixou de lado, algumas parcerias internacionais de longa data, 
obtendo como resultado um encolhimento da diplomacia brasileira e uma dilapidação 
do patrimônio que fora acumulado pelo Itamaraty ao longo de décadas. 
Mesmo deixando de lado em várias vezes a qualidade técnica do Itamaraty e o poder 
da diplomacia brasileira, foi sob a presidência de Fernando Collor de Mello e tendo 
ainda Francisco Rezek no cargo de chanceler, que um dos principais tratados da história 
do Cone Sul e um dos focos dessa pesquisa, foi assinado – o Tratado de Assunção. 
 
 
 
Conclusão 
 
Ao longo do desenvolvimento da pesquisa ficou evidente a posição de destaque do 
Brasil no contexto latino americano, mas mais relevante do que isso foram as inúmeras 
vezes que o Itamaraty precisou anular qualquer imagem de aspirações hegemônicas que 
o Brasil pudesse vir a ter, principalmente a partir do final do governo Médici, onde as 
relações com os vizinhos argentinos melhoraram significativamente e assumiram um 
rumo que culminou em uma integração regional. 
Ficou evidenciado também que, apesar de o divisor de águas do processo de 
integração do Cone Sul ter sido o Acordo Corpus-Itaipu, esse ideal não era novidade, 
sendo possível analisar pontos na história como a formação da Associação Latino 
Americana de Livre Comércio (ALALC), em 1960, que, apesar de não ter obtido grande 
sucesso, já evidenciava as intenções integracionistas da região. 
Na pesquisa, a escolha pela análise da política interna sendo complementada pela 
política externa, principalmente no contexto brasileiro, permitiu desenvolver um saber 
embasado em várias fontes de informação que, amparadas pela bibliografia utilizada, 
foram capazes de expressar o contexto político no qual se desenvolveu e obteve 
amadurecimento o ideal de cooperação e, posteriormente, integração pelo qual passou o 
Cone Sul nas últimas décadas do século XX. 
O peso e a influência que os Estados Unidos tiveram nesse processo também foram 
bem expressados nesse trabalho, principalmente no contexto de neoliberalização da 
 32 
economia sul-americana, durante o período pós Guerra Fria. Com isso, por mais que a 
integração regional represente um aumento da relevância econômica da região e um 
conseqüente fortalecimento nas relações comerciais com os Estados Unidos, não 
podemos ignorar o peso das decisões de Washington nesse processo. Inclusive foi 
graças ao Consenso de Washington que o MERCOSUL foi estruturado em um formato 
de economia neoliberal, pois quando ele foi pensado, durante a primeira metade da 
década de 1980, ainda existiam os anseios desenvolvimentistas nas políticas econômicas 
dos países envolvidos no processo. 
O Tratado de Assunção assinado na capital paraguaia, em 26 de março de 1991, deu 
origem ao Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), composto inicialmente por 
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Tinha o objetivo de estabelecer uma união 
aduaneira entre os países membros, integrando assim a economia dos mesmos, 
facilitando o desenvolvimento econômico e aumentando o poder de barganha da região 
nas negociações em níveis globais. 
Por fim, este trabalho se propôs a demonstrar os desenhos e os caminhos percorridos 
por Argentina, Paraguai, Uruguai e, principalmente, Brasil até a feitura e assinatura do 
tratado que originou um bloco econômico no Cone Sul, introduzindo assim esta parte do 
globo no novo formato de organização regional e de relações comerciais que está 
presente em vários fóruns internacionais, tendo como principais expoentes – excluindo 
peculiaridades e características organizacionais que diferenciam tais exemplos uns dos 
outros – a União Européia, o Nafta e a APEC. O MERCOSUL ainda está se 
organizando, se aperfeiçoando mesmo após vinte anos de existência. Estuda-se 
atualmente o ingresso da Venezuela no bloco, entre outras mudanças. Mas, por mais que 
tenha passado por altos e baixos durante essas duas décadas, o Mercado Comum do Sul 
é uma estrutura fundamental para a economia da região e para os países que 
comercializam com os países membros, além de ter representado um marco 
revolucionário na relação secular existente entre os países da bacia do prata. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 33 
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