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UNIVERSIDADE PAULISTA-UNIP MARIA LUIZA SILVA SANTOS VERA LUCIA DOS SANTOS ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: uma análise da situação atual SOROCABA – SP 2012� MARIA LUIZA SILVA SANTOS VERA LUCIA DOS SANTOS ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: uma análise da situação atual Trabalho de Conclusão de Curso apresentado á Universidade Paulista para obtenção do titulo de Bacharel em Serviço Social. Orientador:Prof. José Aparecido Batista Junior. SOROCABA – SP 2012� MARIA LUIZA SILVA SANTOS VERA LUCIA DOS SANTOS ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: uma análise da situação atual Trabalho de Conclusão de Curso apresentado á Universidade Paulista para obtenção do titulo de Bacharel em Serviço Social. Aprovado em:___/___/2012 BANCA EXAMINADORA __________________________ Prof .José Aparecido Batista Junior Universidade Paulista _________________________ Prof Universidade Paulista _________________________ Prof . Universidade Paulista � DEDICATÓRIA Dedico primeiramente à Deus que é meu guia e protetor e que nunca me abandonará. Dedico á minha mãe maravilhosa Edileuza, que sem cujo incentivo eu não teria chegado onde cheguei. Dedico á minha amiga Daiane que sempre esteve comigo durante minha trajetória. Dedico á minha amiga Vera Lucia que se dedicou comigo á este trabalho. E por fim dedico ao meu Profº e Orientador José Junior que sempre nos deu sua injeção de ânimo e nos mostrou que quando se corre atrás, sonhos se tornam realidade sim, prova disso é a realização desse sonho. Maria Luiza Silva Santos � DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente á DEUS que me deu forças. À minha mãe Ângela por todo o apoio e á meu pai Antonio por acreditar em mim. Dedico ás minhas irmãs Adriana e Priscila e ao meu cunhado Roberto, pois sem a força deles não teria conseguido. Dedico á minha vó Rosalina e minha Tia Shirlei e também á todos os meus amigos, principalmente á aqueles que me inspiraram para a construção dessa pesquisa. Dedico á minha amiga Maria Luiza que esteve comigo nesta trajetória. Vera Lucia dos Santos � AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer primeiramente à DEUS que me deu forças para continuar essa difícil caminhada, pois nos meus momentos mais difíceis, senti Sua presença em minha vida, sempre me abençoando. Agradeço especialmente a minha linda mãezinha Edileuza pela sua dedicação e incentivo que lutou com todas as suas forças para que eu não desistisse dos meus sonhos, Mãe, você é minha grande inspiração ,meu exemplo de vida, de determinação, que com suas dificuldades me educou da melhor maneira possível .Com você, aprendi o quão importante é o estudo na vida de uma pessoa e pretendo passar essa lição para os meus filhos, ainda bem que DEUS não nos permite escolher nossa família, porque se eu estivesse escolhido não teria escolhido tão bem, sou grata a DEUS pela tua vida, não existem palavras para descrever a importância que você tem na minha vida, TE AMO. Agradeço também a minha amiga Daiane, o que seria de mim se não tivesse você para me socorrer nos momentos em que eu mais precisava?!Quem disse que para ser irmão precisa ser de sangue neh! Prova disso é você que muitas vezes deixou suas coisas de lado, para atender as minhas necessidades muito obrigada, nada do que eu faça por você poderá pagar o que já fez e ainda faz por mim, te amo. Agradeço aos demais familiares (Duda, Michele, Valter, tios, tias e primos) e amigos que acompanharam minha trajetória e me apoiaram, Saulo ,que independente do rumo em que nossas vidas tomaram, sempre me apoiou e me auxiliou nessa trajetória, seria injustiça da minha parte não cita-lo, Tiemi e Mayumi que nesse finalzinho de semestre foram muito condescendentes comigo me auxiliando nessa etapa final. Obrigada meninas, não sei o que seria de mim sem vocês. Agradeço também ao meu amor Adriano Vaz que foi muito paciente comigo nesses últimos dias, suportando meu choro, estresse, lamentações, histerias ,etc... Amor você chegou em minha vida no momento em que eu mais precisava, obrigado por me permitir fazer parte da sua vida porque eu me sinto muito honrada em tê-lo na minha, te amo. Agradeço as(o) minhas(o) colegas de classe, que apesar do pouco contato, foi um prazer compartilhar com vocês tamanho aprendizado. Em especial minha grande amiga Michelle Scocca, Mi foi imprescindível sua amizade e auxilio para minha formação ,obrigada por tudo que você fez por mim, desejo a você uma carreira profissional excelente, pois sei que você tem competência pra isso. Agradeço também á todos os meu professores, que sempre deram o melhor de si em sala de aula para que pudéssemos absorver o máximo de experiência , em especial nosso orientador profº José Júnior, que sem cuja dedicação e confiança em nós, não seria possível a conclusão desse trabalho. Obrigado por ser esse profissional de visão, um exemplo a ser seguido, tenho certeza de que o senhor com sua experiência, contribuirá para as grandes mudanças em nossa profissão .Agradeço também á Instituição Universidade Paulista ,e seus colaboradores em especial a coordenadora do curso de Serviço Social, Profª Amarílis Tudella pela competência e dedicação que sempre nos incentivou e acreditou em nosso potencial. E por ultimo, mas não menos importante, minha parceira Vera Lucia. Vera, quero que saiba que a nossa amizade irá além desse curso, você foi uma das primeiras pessoas da sala que falou comigo quando cheguei e aos poucos fomos nos aproximando até virar essa bela amizade que construímos. Obrigada por aceitar esse desafio comigo, só nós sabemos o que passamos .Nesses seis meses rimos, choramos, nos frustramos, mas você apesar de tudo isso não desistiu ,seguiu em frente, foi além dos seus limites, me ensinando a cada dia que independente das dificuldades é preciso prosseguir, continuar, porque se desistirmos dos nossos sonhos , ninguém lutará pela gente .Desejo a você uma carreira brilhante porque tive o prazer de estagiar com você e observar o quão competente profissional se tornará. Obrigada pela dedicação ao nosso trabalho ,pelas noites mal dormidas ,pelo estresse vivido. Enfim, obrigada por participar de uma das fases mais importantes da minha vida. Te adoro. Maria Luiza Silva Santos � AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar e acima de tudo agradeço à DEUS, por proporcionar essa graça em minha vida, muito obrigada meu senhor pela força, pela coragem e por sempre me iluminar. Obrigado mesmo meu Deus, meu salvador Jesus e minha intercessora Maria. Quero agradecer muito à todos da minha família, à meu pai Antonio por todo apoio financeiro e psicológico que me deu, muito obrigada papis por apostar em mim, o senhor é meu exemplo, minha força minha vida, à minha mãe Ângela por ficar do meu lado sempre, aguentando minhas crises de estresse meus choros e por falar não, toda vez que eu pensava em desistir, mamis sem a senhora do meu lado eu não conseguiria sua força foi minha fortaleza, suas orações me sustentaram, muito obrigada minha rainha. Mãe e Pai agradeço e dedico este trabalho à vocês, pois sem vocês eu não seria nada AMO MAIS QUE TUDO, VOCÊS SÃO A MINHA VIDA. Agradeço às minhas irmãs Priscila e Adriana e ao meu cunhado Roberto, por todo apoio que me deram tanto psicologicamente quanto financeiro, vocês fazem parte desta vitória, pois rezaram e torceram para que eu vencesse vocês sabem a importância que têm em minha vida, amo vocês demais. Agradeço a todos o meus familiares, tios, tias, primos e todosque torceram por mim, em especial a minha vózinha Rosalina e a minha tia Shirlei que sempre rezaram por mim, amo vocês. Agradeço a todos meus verdadeiros amigos, é muito bom saber que existem pessoas que torcem pela gente mesmo longe e não se vendo com freqüência, à todos que estiveram comigo nesta caminhada muito obrigada, pois como diz a musica A AMIZADE É TUDOO!!! Quero agradecer a minha amiga Thaline, pois foi a primeira amiga que eu falei que queria fazer faculdade, foi ela que estava comigo quando fiz a inscrição para o vestibular e no dia da prova foi comigo mesmo debaixo de chuva prestar vestibulinho. Thata você não iniciou seu curso naquele ano, porém estava comigo para eu não desistir, muito obrigada minha linda te amo e você sabe disso. Agradeço a todos os formandos do 6° e 7° período de Serviço Social da Unip, galerinha obrigada por esses três anos e meio de amizade, mesmo aqueles que eu não tive nenhum contato quero agradecer pois todos fazemos parte desta conquista, em especial agradeço a minha amiga Michele, que apesar de não fazermos o trabalho juntas sempre me apoiou, acreditou em meu potencial e me ajudou enviando artigos, muito obrigada Mih, muito obrigada por estes três anos de amizade, cuja a qual eu quero que dure para sempre, te adoro. Agradeço à Instituição Universidade Paulista, à nossa professora e coordenadora de curso Amarilis Tudella e à todos os professores que fizeram parte nesta nossa caminhada, cada um contribuiu um pouco para nossa formação, em especial agradeço ao nosso professor e orientador José Junior, pela paciência, por acreditar em nosso trabalho e potencial, pela orientação e por nortearmos na construção dessa pesquisa, muito obrigada professor por não desistir de nós. Agradeço à minha amiga, companheira e parceira Maria Luiza. Malu muito obrigada por ter aceitado o tema e o desafio comigo. Realmente só nós duas e Deus sabemos o que passamos nesses meses, mas todas as lutas, todas as lagrimas e estresse valeram a pena, você foi pra mim exemplo de perseverança, pois também disse não quando eu pensei em desistir, disse que conseguíamos quando eu disse que não aguentava mais e se eu continuei foi porque você estava do meu lado, você teve força, acreditou, se esforçou e provou a todos que é capaz e eu acredito em você e em seu potencial profissional, nunca desista Malu pois esse trabalho é exemplo de que se nos dedicarmos seremos capazes. Te adoro muito e com certeza nossa amizade irá além desse curso. Enfim agradeço a todos que direta ou indiretamente fizeram parte desta trajetória, muito obrigada mesmo e saibam que todos são especiais. Vera Lucia dos Santos � “Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.” (Pitágoras) � RESUMO A presente pesquisa tem por objetivo analisar a atual situação das medidas socioeducativas no Brasil, tendo como base as legislações pertinentes ao tema: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) e as referencias bibliográficas objetivada a temática. Para a averiguação de tal temática faz-se necessário discorrer sobre o conceito adolescência e entender todo o processo de desenvolvimento e transformação que passamos nessa época, bem como todos os conflitos vivenciados pelos jovens na contemporaneidade, dentre eles a violência, delinquência e a dependência química, fatores aos quais influenciam a atos infracionais. Também analisaremos de forma critica a aplicação das medidas socioeducativas com o objetivo de averiguar sua eficácia frente a problemática exposta, analisando se as mesmas podem educar, (re)socializar) e ou/ punir os adolescentes em conflito com a lei. Para finalizarmos nossa pesquisa discorreremos sobre as medidas existentes e quais as formas de sua laicidade, seguindo o Estatuto da Criança e do Adolescente e utilizando de dados gráficos para entendermos a atual situação no Brasil. Palavras-chaves: Adolescente, ato infracional e medidas socioeducativas. ABSTRACT This research aims to analyze the current situation of educational measures in Brazil, based on the laws relevant to the topic: the Child and Adolescent (ECA) and Sinase (National Socio-Educational Services) and bibliographical references objectified theme . For the investigation of this issue it is necessary to discuss the concept of adolescence and understand the entire process of development and transformation that we spent that time as well as all the conflicts experienced by young people in contemporary society, including violence, crime and addiction, factors which influence the infractions. Also critically analyze the implementation of educational measures in order to ascertain its effectiveness against the problem exposed by examining whether they can educate, (re) socialize) and / or punish the adolescents in conflict with the lei.Para finalizing our research will discuss existing measures and what forms their aplicidade following the Statute of Children and Adolescents and charts using data to understand the current situation in Brazil. Keywords: Adolescent offenders, social and educational measures. � LISTA DE GRÁFICOS .GRÁFICO 1-Faixa Etária do Primeiro Ato Infracional do Brasil 37� GRÁFICO 2-Percentual de Reincidencia no Brasil 38 GRÁFICO 3-Uso de Drogas por Adolescentes em Cumprimento das Medidas Socioeducativas 39 GRÁFICO 4-Tipos de Drogas Utilizadas 40 GRÁFICO 5-Cumprimento das Medidas 41 GRÁFICO 6- Responsável pela Criação do adolescente em Conflito com a Lei 42 GRÁFICO 7-Tipos de Internação 43 GRÁFICO 8-Disponibilidade de Recursos Humanos das Medidas de Internação 44.� �� SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 .2. ADOLESCÊNCIA,VIOLÊNCIA ATO INFRACIONAL E ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI 3 � 3.2.1. Adolescência e Seus Significados � .2.2. Violência 6� .2.3. Ato Infracional 9� 2.4 O/A Adolescente Em Conflito com a Lei 12 .3. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS:EDUCAÇÃO (RE)SOCIALIZAÇAO OU FORMAS PUNITIVAS? 16� .3.1. Educação 17� .3.2. Socialização 20� .3.3. Ressocialização 25� 3.4. Formas Punitivas 27 3.5 Efetivação das Medidas Socioeducativas 30.� 3.5.1 Advertência 31 3.5.2 Obrigação de Reparar o Dano 32 3.5.3 Prestaçãode Serviço á Comunidade 32 3.5.4 Liberdade Assistida..............................................33 3.5.5 Inserção em Regime de Semi Liberdade 34 3.5.6.Internação em Estabelecimento Educacional..................................... ...35 4. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA E SUAS DIRETRIZES 37 .4.1.Análise e Interpretação dos gráficos 37� 4.2 Metodologia da Pesquisa 45 4,3 Instrumentais 45 .CONSIDERAÇÕES FINAIS 46� .REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47� � � � INTRODUÇÃO Ao tratar do objeto de pesquisa far-se-á necessário o entendimento referente ao conceito de adolescência, bem como o processo do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, podendo-se assim analisar a atual situação das medidas socioeducativas no Brasil. Recentemente as medidas socioeducativas previstas no Capitulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), obtiveram uma legislação própria, o SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), que regulamenta a execução das medidas em todo território nacional, porém para entender tais medidas, deve-se primeiramente conhecer o público ao qual as mesmas estão destinadas, com o intuito de refletir sobre a temática transversal, fazendo-se necessário o entendimento do conceito adolescência, bem como todo contexto que acerca a temática como as transformações físicas e psicológicas, a violência, a dependência química e a delinquência juvenil. Após a análise da temática adolescência discorreremos sobre o ato infracional cometido por adolescentes bem como o histórico dos adolescentes em conflito com a lei no Brasil. Ao discorrer sobre a história do adolescente e conflito a lei, podemos observar os avanços contidos nas legislações referentes á esses adolescentes. Antigamente toda a criança e adolescente que não possuíam condições dignas de moradia e de vida eram chamados de “menores infratores” e ficava a dever do estado cuidar desses “menores”, e através desse paradigma foram criadas legislações que não asseguravam direitos e sim puniam essas crianças e adolescentes pela situação irregular em que se encontravam “As medidas dos antigos códigos rotuladas de protetivas, objetivamente não passavam de penas disfarçadas, impostas se os critérios de retributividade, da proporcionalidade e principalmente da legalidade (SARAIVA, 1999, p. 38) . Esse paradigma permaneceu durante toda a época de repressão militar que teve fim no ano de 1985. A década de 1980 foi marcada pelo surgimento de movimentos sociais que lutavam pelo fim da ditadura militar, e pela efetivação dos direitos sociais, principalmente com a relação a população infanto-juvenil, a força desses movimentos e o fim da ditadura resultaram na promulgação da Constituição Federal de 1988, que em seus artigos n° 227 e n° 228 dispõem da proteção ás crianças e adolescentes, porém havia necessidade de criar legislação específica a estes, desta maneira em 13 de Julho de 1990 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) regido pela Lei n° 8.069. O ECA foi um avanço na legislação destinada às crianças e adolescentes por consolidar no Estatuto medidas de prevenção e proteção, bem como direcionar a este público, bem como a família não discriminando e não fazendo discriminar. As medidas socioeducativas surgem no capítulo IV do ECA e foram criadas como “respostas” do Estado frente o ato infracional cometido por adolescentes “Aos adolescentes não se pode atribuir responsabilidade frente á legislação penal comum. Todavia, podendo-se-lhes atribuir responsabilidade com base nas normas do estatuto próprio, responderem pelos delitos que praticarem” (SARAIVA, 1999, p. 40). Diante do exposto, torna-se necessário analisar através das pesquisas bibliográficas a atual situação das medidas socioeducativas, utilizando-se de dados gráficos e pesquisas referentes ao tema,e assim verificar a efetividade das mesmas, se são formas de educação, socialização ou servem apenar como formas punitivas. � 2. ADOLESCÊNCA,VIOLÊNCIA,ATO INFRACIONAL E O/A ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI Diante do histórico da sociedade brasileira, em relação aos adolescentes em conflito com a lei, nota-se que existem questões e soluções para amenizar essa situação. Nessa percepção, e, de acordo com a temática pesquisada, torna-se necessário discorrer sobre a conjuntura que envolve os adolescentes cumpridores de medidas socioeducativas. Sendo assim, discorreremos sobre os significados da adolescência, os históricos que os envolvem ,e o contexto do adolescente em conflito com a lei. 2.1 ADOLESCÊNCIA E SEUS SIGNIFICADOS A adolescência é considerada uma das fases mais importantes da vida, pois é o período de romper laços com a infância e os criar com a adultez. É o período em que ocorrem os maiores medos e descobertas, é um momento de aprendizagem, de confusão, de conflitos internos e externos e é nesse capitulo que vamos entender melhor o que é a adolescência para assim discorrermos sobre o tema proposto. Conforme citado no dicionário a palavra adolescência significa “a.do.les.cên.cia:sf (lat adolescentia) Idade entre 12 e 18 anos.�” É nesse período entre 12 e 18 anos que ocorre as mudanças tanto físicas quanto psicológicas na vida de um individuo, mas para adentrarmos um pouco mais no assunto utilizaremos também visões de conceituados autores, e através dos conceitos empregados instituirmos um olhar meticuloso diante da problemática. Na ótica de RIBEIRO apud FERREIRA(1999, p. 55), adolescência significa: Adolescer ou adolescere do latim significa crescer desenvolver-se. A adolescência se constitui, assim, “no período da vida humana que sucede á infância, começa com a puberdade e se caracteriza por uma serie de mudanças físicas e psicológicas. Estende-se aproximadamente dos 12 aos 20 anos. A adolescência é marcada por traçar o caminho para a vida adulta, pois é quando o sujeito vai adquirindo maturidade para resolver as questões ao longo da vida. Período marcado por mudanças, ou seja, as mudanças decorrentes ao longo da vida ocorrem principalmente nesse período. A adolescência também é uma fase tumultuada, pois o adolescente tem que aprender a conviver com o novo corpo, novo ambiente, enfim é uma fase de auto conhecimento . Para Macedo( 2004,p. 17) apud LEVISKY (1998), adolescência é: Difícil processo de busca de si mesmo é o elemento condutor na transição da identidade infantil para a adulta. Processo este doloroso e prazeroso, assustador e fascinante, desejado e temido. Estas ambiguidades mostram a dimensão da crise de identidade do adolescente: não é mais criança, mas não é adulto ;não quer perder os privilégios infantis mas quer adquirir as prerrogativas da adultez. Macedo relata que a adolescência é uma fase de incertezas, pois o sujeito ainda não tem um perfil para se encaixar, pois é maduro o suficiente para ser criança e imaturo demais para ser adulto, é onde ocorre a crise de identidade e o adolescente só vai amadurecendo com o tempo mas não tem paciência para isso .Hora age como criança, hora como adulto. É nesse momento em que o individuo começa a se dar conta sobre o que é responsabilidade, pois já não é mais tratado como criança e começam as cobranças para se portar como adulto. E essa fase de transição marcada por conflitos, torna-se um processo doloroso de aceitação sobre no que esta se tornando , as mudanças do corpo, o modo como é visto pelas outras pessoas, dentre outros. Surgem outras questões principalmente sobre sexualidade: primeiro beijo, namoro, amor, sexo. Temas como virgindade, gravidez precoce, drogas são assuntos permanentes em conversa de adolescentes, a adolescência é a fase de se apaixonarperdidamente e sofrer dramaticamente por um amor não correspondido, é quando as emoções estão á flor da pele sempre no tudo ou nada ,viver as emoções intensamente ,na verdade tudo é intenso, até a medida que os hormônios agem no corpo . Essas mudanças internas se refletem externamente. Neste momento notam-se as diferenças físicas tanto nos meninos quanto nas meninas: em garotos alteração da voz,em garotas desenvolvimento dos seios, ambos tem mudanças bruscas de humor, outro fator notável são as acnes (espinhas) que surgem devido a excessiva quantidade de hormônios. Após essa breve explicação sobre fatos decorrentes da adolescência, buscaremos a visão do modo social de como os adolescentes se enxergam diante da sociedade. Segundo Lopes: No que se refere á construção da identidade do adolescente, Luz(1999,22,p.13) apresenta um conceito para adolescência, assim expresso: “a adolescência é uma fase evolutiva com profundas transformações, sinalizadas pelo desenvolvimento biológico, sociocultural e psicológico”. As transformações biológicas são, comumente, consideradas ponto de partida no processo de adolescer. A sequencia do desenvolvimento físico da maturação sexual regula-se por mecanismos neuroendócrinos, em que ocorre a menarca na menina, e a primeira ejaculação, no menino .Relacionada á estimulação psicossocial, esta exerce efeito no metabolismo, e portanto, influenciará o comportamento, com as emoções fluindo no condicionamento cultural, na vivencia do adolescente (2008, p. 29). Na visão da autora, os primeiros sinais visíveis de que o individuo esta entrando na adolescência é a mudança física ,a psicológica (maturidade) acontece ao longo dos anos .Na adolescência, o sujeito se depara com varias questões e pela confusão interna, isso pode ou não interferir em seus atos. É neste momento que ocorre a crise de identidade (quem sou eu? o que devo fazer ? o que esta acontecendo comigo? por que esta acontecendo comigo? por que ninguém me entende? por que todos estão contra mim?) questões como estas que estão presentes cada dia mais na vida dos adolescentes .Neste ponto ,podemos de fato citar sobre o adolescente infrator que, pode na maioria das vezes agir como forma de chamar atenção ,pois como citado acima ainda não se acostumou com essa nova fase de responsabilidade e não quer perder as regalias da infância, ou conflito familiar ,influencia de amigos, dentre outros. Quando o adolescente opta por esse caminho, de certa forma suas emoções o levaram a tomar essa decisão, podendo ou não ser influenciado por terceiros, pois na maioria das vezes o adolescente infrator não age sozinho, sempre há uma questão mais forte por trás dessa ação. Questões como a violência que é sobre o que vamos entender neste tópico. � 2.2 VIOLÊNCIA Ao discorrermos sobre o tema adolescente em conflito com a lei, torna-se pertinente relacionarmos questões como a violência, pois a questão nos remete á ligação entre ambos e é necessário entendê-la para assim tomarmos uma posição diante do assunto. Ao recorrermos ao dicionário, violência esta definido como: vi.o.lên.cia sf (lat violentia) 1 Qualidade de violento. 2 Qualidade do que atua com força ou grande impulso; força, ímpeto, impetuosidade. 3 Ação violenta. 4 Opressão, tirania. 5 Intensidade. 6 Veemência. 7 Irascibilidade. 8 Qualquer força empregada contra a vontade, liberdade ou resistência de pessoa ou coisa. 9 Dir Constrangimento, físico ou moral, exercido sobre alguma pessoa para obrigá-la a submeter-se à vontade de outrem; coação. Antôn (acepção 7): brandura, doçura.� Nesta visão a violência é descrita como um ato agressivo de impor á alguém a vontade de outrem através da força ,ou seja, o mais fraco atende a necessidade do mais forte por coação e não por vontade própria, a violência também pode ser vista como um ato impensado que poderia ser evitado, violência é a conduta que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. Recusando a autonomia, prejudicando assim a integridade física ou psicológica chegando a atentar contra a vida de outrem. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado. Embora as definições do dicionário possa nos relatar seu significado com clareza, será utilizado também visões de alguns autores para melhor entendermos este conceito. Na percepção de Bingermer (2003,p.222),a violência pode ser entendida como “a ação contraria a ordem moral, politica ou jurídica e, nesse aspecto, pode ser legitimada quando usada para fazer surgir uma ordem mais justa”. Nesta perspectiva, a violência se aplica na questão social, pois a violência é muito complexa, ou seja, existem várias formas de violência. Violência física, moral, domestica, sexual, estrutural, policial, urbana, simbólica, dentre outras. A agressividade também é uma característica da violência, pois violência é o ato de agredir alguém tanto fisicamente, quanto moralmente, a ofensa já é um ato de violência ,a imposição ,privação de liberdade de expressão, ato infracional ,injustiça da sociedade ,qualquer atitude que exponha o individuo ao constrangimento. Como tal, a violência pode causar tanto sequelas físicas como psicológicas. Somente quando é legitimada, seu uso é permitido que é o que se observa, como mutilações e até como punição, por exemplo: a pena de morte, que em alguns países é legalizada, com desígnio de promover a ordem, geralmente usada por força maior. Porém a violência nunca vai deixar de ser violência, e, muitas associações civis consideram que todo o assassinato (seja legal ou não) é uma violação dos direitos humanos, mesmo sendo permitida, e, para evitá-la, seria necessário atuar de maneira eficaz tanto em suas causas primárias quanto em seus efeitos. GALTUNG ,citado por LEAL narra a violência da seguinte maneira: Estamos na presença da violência naquelas situações em que o desenvolvimento efetivo de uma pessoa, em termos físicos e espirituais ,resulta inferior á seu possível desenvolvimento potencial. Desse modo, a violência é definida como a causa da diferença entre a realidade e potencialidade. Trata-se de uma definição não-ideológica, suficientemente abrangente para incluir suas variáveis mais importantes e, ao mesmo tempo, suficientemente especifica para oferecer as bases mínimas para uma operacionalização concreta.(2001,p.1105,). Segundo o autor a violência se dá quando o individuo não é capaz de realizar seus anseio através de sua atitudes, então desconta essa decepção de forma negativa. Independente de ser possível evitar determinada atitude, o individuo prefere agir por instinto, pensando somente em seu próprio beneficio, menosprezando a opinião do outro. As possíveis causas da violência são a fome ,miséria, desemprego, porém nem todo tipo de violência decorre de problemas econômicos. Ao olharmos para a questão em si percebemos que fatores como crescimento acelerado da população, desigualdade de classes também influenciam o crescimento da violência. A violência também está presente no reconhecimento da autoridade exercida por certas pessoas e grupos de pessoas. Deste modo, nem é percebida como violência, mas sim como uma espécie de interdição desenvolvida com base em um respeito que "naturalmente" se exerce de um para outro. Também se torna uma questão cultural, pois o individuo que cresce sendo vitima da violência , possivelmente refletira essa atitude com o filho, pois cresce com a visão de que para se educar é necessário bater. Nesse aspecto, torna-se um ciclo de geração em geração que somente uma ressocialização para mudar a forma de pensar. Para diminuí-la é preciso aliar políticas sociais que reduzam a vulnerabilidade dos moradores das periferias, sobretudo dos adolescentes, à repressão ao crime organizado Uma tarefa que não é só do Poder Público, mas de toda a sociedade civil. Ao relacionarmos violência ao adolescente ,nos remete a seguinte questão, o que leva o adolescente a cometer a violência?A fase da adolescência também é conhecida como a fase dos desafios e muitos adolescentes usam a violência como maneira de desafiar tanto a si mesmo quanto o outro. Para Levisky: (...) os adolescentes pensam depois da ação ter sido realizada. Percebem, não raro, as consequências de seus atos efetivos após a ocorrência dos fatos. Frente á fragilidade egóica e a predominância de mecanismos psíquicos primitivos diminuem suas possibilidades de postergar, substituir, ponderar ou reprimir eficazmente a satisfação dos seus desejos.”(,2000,p .21). O adolescente age por impulso, na expectativa de conseguir realizar seus desejos e ao cometer o ato de violência, somente depois de refletir sobre o que foi feito, é que se dá conta do que causou. Psicologicamente imaturo para pensar nas consequências antes de agir, o adolescente tende a ser influenciado tanto por suas vontades quanto por vontade de outrem. O que os tornam cada vez mais alvos de traficantes já que são considerados imputáveis pela lei, e, ao cometer alguma infração, mesmo sendo punidos, quando completar maioridade não serão considerados delituosos e assim poderão viver livres de qualquer acusação, e, movido pelo seus desejos acabam por aceitar eventuais situações para conseguir atender á sua necessidade. Olhando por esse lado, percebemos que a mídia também influencia a violência, se não direta, indiretamente. Pois vivemos em uma sociedade capitalista onde as questões materiais são mais importantes do que as questões morais, sendo assim a sociedade determina o perfil do individuo pelo que ele tem e não pelo que ele é. Despertando assim a necessidade de ser aceito de qualquer forma pela sociedade, sendo capaz até de cometer a violência se esta for uma forma de inclusão. Levisky também relata que atitudes como: O vandalismo, a delinquência, a prostituição ,a perda de respeito pelo privativo, pelos bens comuns da sociedade, a má qualidade das relações humanas, tornam-se modelos de autoafirmação e contestação , consequentes de um lado á incorporação de objetos caóticos de identificação, e de outro, num grito de desespero, numa tentativa inconsciente de recuperar algo que foi perdido ou não adquirido durante o processo evolutivo,(...)(2000,p. 21). Nesse aspecto, o autor cita que independente dos atos cometidos, na realidade o adolescente usa esses atos como forma de chamar a atenção, seja dos pais ou da sociedade, como se fosse um alarme para alertar de que não esta passando por uma fase fácil e que precisa de ajuda. Se levarmos em conta a posição do adolescente desde sua infância, observaremos que um adolescente que se desenvolve em uma família sem estrutura familiar possivelmente no período da adolescência terá mais dificuldades de enfrentar essa fase, onde de fato seus medos e desejos estão aflorados ,criando vários conflitos dentro de si e confusões psicológicas, e necessitando de atenção redobrada, um alicerce para se ter uma base do que seguir ,já que essa é uma fase de desordem interna e necessita-se de um bom exemplo para seguir e, quando isso não acontece, o adolescente acaba tomando um rumo diferente dos padrões .E assim, geralmente acaba se envolvendo em situações de vulnerabilidade social. Nesse contexto torna-se pertinente entendermos a relação do adolescente com o ato infracional, uma das maiores causas para o cumprimento das medidas socioeducativas. 2.3 ATO INFRACIONAL Para conseguirmos entender o adolescente em conflito com a lei é necessário entendermos o ato infracional, portanto neste tópico analisaremos tal contexto. De acordo com o dicionário português a palavra “ato” significa “Aquilo que se faz ou se pode fazer”, assim sendo, o “ato humano” pretende-se designar o agir próprio da pessoa, que como tal, pode se tornar objeto de avaliação moral, portanto, as atitudes de um individuo podem identificar sua personalidade. Gianna em um estudo teológico ressalta que há uma diferença entre o actus hominis (ação do homem) e o actus humanus (ato humano): O primeiro é um ato trazido á existência pela pessoa, mas que não depende (pelo menos imediatamente) da sua vontade deliberada. Pertencem a essa categoria os vários processos fisiológicos e o conjunto das ações provocadas por dinamismo biopsíquicos não controláveis (sonhos, tiques nervosos, etc.). O segundo é um ato que brota diretamente das faculdades superiores da pessoa (inteligência e vontade) pelo qual ela é, portanto responsável (2003, p. 61). Ou seja, o ser humano age conforme suas faculdades mentais, podendo ser estes atos voluntários (quando partem de sua própria vontade) ou involuntários (quando surgem de uma manifestação biopsíquica�). Já a infração significa o “ato de infringir, transgredir ou violar. Portanto cometer um ato infracional significa fazer algo que transgrida ou viole uma lei. O termo ato infracional é utilizado para conceituar toda conduta descrita como crime ou contravenção penal praticada por crianças ou adolescentes (LIMA), pois segundo a Constituição Federal de 1988� em seu artigo n°228, é considerado imputável todo o adolescente com idade inferior á 18 anos, ficando estes á disposição da legislação especial, ou seja, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)�, que dispõe de um atendimento especializado direcionado á crianças e adolescentes autores de atos infracionais, o ECA determina que as medidas aplicadas á adolescentes seja diferenciada daquela prescrita no código penal: Ressalta se, por oportuno, que o ato infracional difere do crime e da contravenção penal em dois aspectos. O primeiro diz respeito ao sujeito da conduta ilícita, pois o ato infracional, é ato típico praticado por sujeitos menores de dezoito anos (criança e adolescente), enquanto o crime ou a contraverção dizem respeito à conduta de sujeitos com dezoito anos ou mais. A segunda diferença está na medida a ser aplicada, pois ao ato infracional poderão ser aplicadas as medidas de proteção ou as medidas socioeducativas, enquanto ao crime ou contravenção serão aplicadas as sanções de natureza penal (CABRERA, 2006, p. 62). Portanto nesta ótica do autor, compreendemos que o ato infracional difere dos crimes comuns, pois este somente pode ser praticado por adolescentes, neste sentido o atendimento também tende a ser diferenciado, pois se entende que o adolescente é um sujeito que está construindo sua identidade psíquica, biológica e moral, tornando-se individuo ilícito frente á seus atos, ficando assim á disposição das ciências explicarem seu desenvolvimento como cita AMARO apud Folcault apud Adorno (1999, p. 13) Emanado e concebido como etapa preparatória da vida adulta, o corpo adolescente é então esquadrinho por uma serie de discursos – médicos, psicológicos, sociológicos, religiosos, pedagógicos, jurídicos e policiais – que percorrem suas dimensões físicas, psíquicas, sexuais, morais e buscam definir- lhe uma identidade própria. Podemos entender como já citado em outro tópico que, a adolescência é um período de transição do ser humano, ao qual passamos da infância para a vida adulta, portanto torna-se também um período de experiências e conhecimentos e como já analisado os adolescentes não estão mais na infância, porém ainda não são adultos, tornando-se assim indivíduos neutros e objetos de pesquisa das ciências atuais. Porém os adolescentes não deixam de ser seres humanos portadores de qualidades e defeitos e, como tal, estão expostos ás problemáticas apresentadas pela sociedade contemporânea como violência, negligência, dependência química e etc. Tais questões expõe os adolescentes á vulnerabilidade, onde podem ser praticados delitos. Antes do termo “ato infracional”, muito se discutiu sobre o crime praticado por adolescentes como cita Arantes apud Athayde,( 2005 p. 71): Para quando a criança ou adolescente furta,agride, rouba ou mata, os redatores da Constituição Federal de 1988 tinham que escrever algo.Podiam pôr no texto constitucional: Quando crianças e adolescentes praticam crimes ou delitos...Mas entrouem cena o jogo de palavras.Alguns influentes da época sugeriram: não se deve escrever: pratica de infração criminal. Mas havia, movidos por nobres e honestos motivos, os mais exigentes ainda.Melhor seria, em vez de falar em infração criminal que ainda lembra crime e delito, escrever ato infracional. Contudo entendemos que o termo ato infracional surgiu para conceituar os delitos cometidos por adolescentes de uma maneira que preserve sua integridade física e psicológica como dita o Estatuto da Criança e do Adolescente, porém não devemos esquecer que o ato infracional faz parte das sanções criminosas do código penal e mesmo que no ECA tenham um caráter de igualdade e respeito ás crianças e adolescentes, tais públicos frente ás desigualdades sociais tendem a se envolver na criminalidade. Neste momento analisaremos o Adolescente em Conflito com a Lei para melhor entendermos a dinâmica ao qual se pretende pesquisar. 2.3 ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI De acordo com tudo que analisamos e conforme já foi exposto a adolescência é um período de transformação, porém os adolescentes como seres sociais não estão isentos de sofrerem com as questões sociais presentes na sociedade contemporânea, dentre essas questões está a violência.Portanto neste tópico procuraremos discorrer o histórico do adolescente em conflito com a Lei no Brasil, para melhor avaliarmos essa temática. As questões sociais sempre existiram, porém começaram a ficar expressas na sociedade a partir da Revolução Industrial do século XVIII. Este fenômeno econômico fez surgir duas classes sociais: a classe dominante (empresários detentores de poder) e a classe dos proletariados (trabalhadores assalariados), tal desigualdade fez com quem a expressões sociais aumentassem e dentre essas expressões surgiram aqueles que eram chamados de “menores infratores”, eram crianças e adolescentes desfavorecidos socioeconomicamente que viviam em situação de rua e/ou praticavam atos infracionais.Com o crescimento de tal demanda o Estado viu-se obrigado a criar legislações que atendessem a problemática, criando-se assim o Código de Mello Matos de 1927�. Tal código procurava atender as crianças e adolescentes desamparadas, assim sendo, a doutrina do Código Mello Mattos (CMM) era a de manter a ordem social. As crianças com família não eram objeto do Direito; já as crianças pobres, abandonadas ou delinqüentes, em situação irregular – e apenas aquelas que estivessem em situação irregular-, passariam a sê-lo. (Azevedo), ou seja, o código de Mello Matos atendia apenas a classe menos favorecida, porém era considerada na época um grande avanço na legislação brasileira referente a este público. Através do referido código foram criados instituições de atendimentos como o SAM (Serviço de Assistência aos Menores) e a FUNABEM(Fundação Nacional do Bem Estar do Menor). O SAM funcionava como um asilo para “menores desamparados”, que vagavam pelas ruas da cidade, era uma forma de limpar a cidade e não de amparar as crianças e adolescentes em situação de rua, na verdade os “desamparados” eram levados para esses asilos e eram punidos através de maus-tratos pela situação desregular em que encontravam-se. O SAM ficou marcado pelos seus famosos escândalos de corrupção e foi fechado diante de denúncias de maus tratos e falta de condições de moradia. Em 1964 para substituir o SAM, através da lei 4.513/64 foi criada a FUNABEM que visava á reintegração social do menor abandonado e/ou infrator á sociedade. Suas ações eram acolher as crianças e adolescentes na própria família, com recursos da comunidade e orientação, ou direcioná-los á um lar substituto. A internação só acontecia quando se acabava todas as possibilidades de ressocializar - se em meio á liberdade, porém era centrada em atividades fora do internato, como sócio terapêuticas. Porém a instituição também foi denunciada por maus tratos e abusos ás crianças e adolescentes que por lá eram atendidos. Em 1979 o Código de Mello Matos passou por algumas modificações e passou a ser conhecido como Código de Menores de 1979�, porém possuía o mesmo caráter assistencialista e discriminatório que o antigo código. Portanto podemos analisar que o ECA foi um grande avanço na legislação brasileira referente á crianças e adolescentes principalmente aqueles que cometem atos infracionais, tal legislação é advinda das lutas e movimentos sociais ocorridos ao longo da historia: Segundo o autor: O Estatuto é processo e resultado porque é uma construção histórica de lutas sociais dos movimentos pela infância, dos setores progressistas da sociedade política e civil brasileira, da ‘falência mundial’ do direito e da justiça menorista, mas também é expressão das relações globais e internacionais que se reconfiguravam frente ao novo padrão de gestão de acumulação flexível do capital ( SARTÓRIO apud SILVA, 2005, p. 36). Assim sendo, entendemos que o ECA tem como intuito terminar com a visão assistencialista dos antigos códigos ,mudando a expressão menor infrator para a expressão Adolescente em Conflito com a Lei, como indicam o referido estatuto, o SINASE e o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente: A expressão "adolescente em conflito com a lei" surgiu com o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). No entanto, do ponto de vista da psicanálise, seu significado é questionável. "O adolescente vive em conflito com a lei do ordenamento jurídico, mas, se ampliarmos a discussão, a psicanálise nos ajuda a compreender que todo sujeito vive um conflito com a lei. Lógico que aqui estamos falando de uma lei simbólica, mas sempre há um conflito entre o permitido e o proibido. Todos temos uma tentação de quebrar aquilo que acreditamos como certo, que aprendemos na cultura como legal. Essa expressão é muito interessante porque parece que só o adolescente vive em conflito com a lei.� Portanto, nesta ótica podemos analisar que estar em conflito não é uma característica apenas dos adolescentes, principalmente aqueles autores atos inflacionais, pois podemos entrar em conflito de diversas maneiras e em várias etapas da vida, porém na adolescência os conflitos aparecem com mais freqüência devido as grandes mudanças ocorridas fisicamente e psicologicamente. O conflito com a lei estipula a junção de diversos fatores psicossociais� ao qual cada ser humano está submetido. SILVEIRA apud WINNWCOTT, em seu artigo sobre adolescente e ato infracional descreve que “ as circunstâncias que levam um adolescente a se tornar infrator são muitas vezes complexas e variadas” e está relacionada a negligência e a privação familiar com fatores responsáveis pelo cometimento de delitos. Pois, a maioria dos jovens possuem família, mas no entanto esta é ausente, não cria um vínculo para assumir realmente seu papel, não há uma figura que represente autoridade, seja por situações de maus-tratos, abandono, privações materiais, alcoolismo ou drogas. Porém, não só a estrutura familiar pode ser apontada como fator determinante no ingresso de um adolescente no cometimento de ato infracional, mas a estrutura social também, as políticas sociais básicas, a saúde, a escola, o lazer, o estado e a sociedade são fatores que interferem no contexto. Na visão de SILVA apud TEIXEIRA, (1994, p. 22), o envolvimento de adolescentes com o crime está relacionado ao seu histórico de vida, pois o adolescente tende a reproduzir as experiências vivenciadas: (...) a perda de uma experiência particularmente boa que o adolescente viveu no início de vida e não conseguiu manter enquanto “memória consciente”. O roubo, muitas vezes, revela a busca desse algo bom (na ou a relação com a mãe) que perdeu: - a ausência ou depreciação da função paterna (não necessariamente a figura do sexo masculino), que estabelece o controle o externo, a Lei que funciona como “inibidora” dos impulsos, no caso a destrutividade, que será – no processo de constituição da subjetividade – internalizada, “dispensando” autoridade externa. Portanto, a ausência de um ambiente estável e segurona infância pode estar associada à destrutividade (algo que nos constitui a todos) que é realizada pelo adolescente – das coisas, do outro e de si próprio; - a adolescente repete com o ato infracional – principalmente aqueles atos associados ao não controle da destrutividade – uma situação de violência física, psicológica (um trauma) que viveu como vítima. Ela atua (age) aquilo que não elaborou (compreendeu). E, enquanto não elaborar, irá repetir. SILVEIRA apud SCHELB,( p. 10), também ressalta que um outro fator importe que envolve adolescentes com a criminalidade é a dependência química: (...)muitos delitos praticados por adolescentes está associado ao consumo de drogas, o mundo das drogas durante muito tempo se restringiu ao mundo dos adultos, porém nos últimos 30 anos passou a fazer parte dos mundos das crianças e adolescentes que acabaram se tornando os maiores usuários. O jovem tem necessidade natural de sempre estar experimentando os limites sociais de seu comportamento, como forma de assimilar o mundo, por isso, muitos tem o desejo de experimentar drogas. Sendo que os primeiros contatos com a droga está associado aos instintos naturais de um ser “em fase peculiar de desenvolvimento: curiosidade, imitação, auto afirmação, etc” (...) “há também outras causas, relacionadas a processos psicológicos autodestrutivos de origem individual, familiar ou social, como a vontade de transgredir, a revolta contra todos, a opressão social ou econômica ou até mesmo deficiências mentais. Contudo entendemos que o Adolescente em Conflito com a Lei é um conjunto de diversos fatores: expressões sociais de desigualdade, desenvolvimento psicossocial, relação familiar, dependência química e etc. tais fatores associados ás condições de vida, resultam na construção dos adolescentes e determinam o caminho por eles escolhidos ou muitas vezes impostos, por isso ressaltamos que tal problemática não deve ser enxergada de forma fragmentada, pois ela é a junção de varias questões sociais e deve ser atendida como tal. Portanto neste momento analisaremos as ações desenvolvidas aos Adolescentes em Conflito com a Lei com base nas Medidas Socioeducativas impostas aos mesmos. 3. EDUCAÇÃO, (RE) SOCIALIZAÇÃO OU FORMAS PUNITIVAS? Neste momento procuraremos analisar de maneira crítica as expressões educação, (re) socialização e punição, para que posteriormente consigamos entender qual a base que direciona as medidas socioeducativas de jovens em conflito com a Lei. Para tanto, começaremos conceituando estas termologias para compor o corpo deste estudo, com o intuito de visualizar o direcionamento adotado por nós na composição da temática. � 3.1 EDUCAÇÃO: Ao tratar do objeto de pesquisa far-se-á necessário o entendimento referente às ações desenvolvidas ao adolescente em conflito com a Lei, por conseguinte procuraremos analisar o conceito da palavra educação. Ao utilizar o significado contido no dicionário, educação é: 1. Ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais: a educação da juventude./Resultado dessa ação./2. Conhecimento e prática dos hábitos sociais; boas maneiras: homem sem educação.3.Educação nacional, conjunto de órgãos encarregados da organização, da direção e da gestão de todos os graus do ensino público, bem como da fiscalização do ensino particular.4. Educação física, conjunto dos exercícios corporais que visam a melhorar as qualidades físicas do homem.”� Portando, educação está interligada ao processo de transformação do ser humano, tanto nos aspecto psicossociais, intelectuais e morais�, quanto á prática de conhecimento e aprendizagem de novos hábitos sociais, ou seja, o ser humano parte de sua realidade, efetua uma reflexão sobre ela e volta à realidade com olhar diferenciado com o intuito de transformá-la a partir dos argumentos utilizados. Sendo assim podemos identificar que a educação não está direcionada apenas ao conhecimento pedagógico, mas igualmente ao desenvolvimento psicossocial, ou seja, o desenvolvimento psicológico e a realidade social ao qual cada indivíduo está inserido. Interagem na condição educacional que os mesmo abrangem, pois segundo Brito apud Piaget (2005), “o desenvolvimento psicossocial transforma-se a partir das modificações interpessoais de cada sujeito”. Na percepção de Freire: Uma das características do homem é que somente ele é homem. Somente ele é capaz de tomar distância frente ao mundo. Somente o homem pode distanciar-se do objeto para admirá-la. Objetivando ou admirando [...] os homens são capazes de agir conscientemente sobre a realidade objetivada. É precisamente isso a práxis humana, a unidade indissolúvel entre minha ação e minha reflexão sobre o mundo ( 1979, p. 15). Na visão do autor o ser humano tem a capacidade da consciência, ou seja, de refletir sobre aquilo que está ao seu redor. Essa reflexão torna-se uma práxis humana, pois tem a finalidade da transformação, portanto toda ação educativa parte de uma reflexão, que gera uma ação e resulta em uma transformação, podendo- se assim coligir que a educação aconteça somente quando á uma transformação do ser humano e do seu meio social, porém essa transformação ocorre somente com a criação de espaços e oportunidades. Como cita Costa, “(...) educar é criar espaços para que o educando, situado organicamente no mundo, empreenda, ele próprio, a construção de seu ser em termos individuais e sociais” ( 1989, p.63). Sendo assim cria-se no processo de educação de dois sujeitos, o educador, aquele que educa ou dá educação á outrem, e o educando, aquele que está recebendo educação, movimento que pode ser transferido de um para o outro a todo o momento. Para Costa o papel do educador é: Ser um dirigente, contudo, ser dirigente não significa como querem alguns, autoritarismo e arbítrio. Agir como dirigente implica que o educador detenha, ou pelo menos esteja empenhado em construir, uma inteligência mais elevada do processo educativo.Para isso, faz-se necessário captar o sentido geral de seus movimentos, se possível, deduzir-lhe as leis pra, com base nelas, direcioná-lo (1989, p. 80). Nessa ótica o autor nos revela que o educador deve direcionar o educando, porém, sem agir de forma repressiva e autoritária, possibilitando assim a criação de um novo método educacional que é construído por dois fatores importantes: heteronomia e a autonomia Autonomia significa o poder de dar a si a própria lei (...) não se entende esse poder como algo absoluto ou ilimitado, também não se entende como sinônimo de autossuficiência. Indica uma esfera particular cuja e existência é garantida dentro dos próprios limites que a distinguem do poder dos outros e do poder em geral (...) autonomia é oposta a heteronomia que em termos gerais é toda a lei que procede do outro (ZATTI, 2007, p. 12). Portanto está na posição de autônomo compreende seguir seus próprios princípios, já na heteronomia, adotar princípios que procedem de outros: Heteronomia e autonomia são temas clássicos sobre o estudo de moralidade.São pelo menos duas formas de interpretar esses conceitos. Uma forma refere-se a questão da liberdade, outra, a questão da autoridade (NOGUCHI, 2008 p. 14). Nessa percepção entendemos que na heteronomia o indivíduo perde sua autoridade e segue as regras impostas pela instituição promotora da educação, já na autonomia lhe é garantido a liberdade de expor suas ideias e experiências, a qual possibilita uma analise da realidade: Os processos interativos estabelecidos entre pessoas, em contextos específicos, são considerados como mergulhados em e impregnados por uma matriz sócio-histórica, de natureza semiótica, composta por elementos sociais, econômicos, políticos e culturais. Ela é entendida a partir da dialética inter-relação de elementos discursivos com as condições socioeconômicas e políticas nas quais as pessoas estão inseridas, interagindo e se desenvolvendo (CRAIDY e GONÇALVES, 2005 apud FERREIRA, 2004 p.27). Entende-se assim que, o processo deeducação deve ocorrer de forma interativa entre o/a educador/a e o/a educando/a, pois é nas interações e através destas que as pessoas se desenvolvem. As ações que visam à promoção da educação devem compreender o/a educando/a como: A ação intencionada de educar é sempre contextualizada. O educando não é um ser passivo, é interativo, é co-participante no próprio processo de desenvolvimento, mas é também dependente de outros que com ele interajam. Sentir-se acolhido, reconhecido como alguém que merece consideração é a primeira condição para entrar num processo de busca de construção de si mesmo (CRAIDY E GONÇALVES, 2005, p. 2)� Ou seja, o processo de educação implica no estabelecimento da troca entre educador/a e o/a educando/a, “pois toda a atitude repressiva que negue a dignidade ao sujeito e não permita um encontro consigo mesmo, não será educativa” (CRAIDY e GONÇALVES, 2005). Sendo assim entendemos que a educação é uma construção de valores passado do/a educador/a para o/a educando/a e do educando/a para o/a educador/a. “O/a educador/a é aquele/a que cria condições para que interações positivas se estabeleçam: do/a educando/a com as pessoas próximas, realidade social, saber e com ele mesmo” (CRAIDY e GONÇALVES, 2005), o papel do/a educador/a é proporcionar o eu que há no indivíduo, a qual possa entender a realidade de maneira generalista. Portanto, para compor este objeto de estudo entendemos que educação é aquela capaz de promover a transformação dos indivíduos, compreendendo que todo sujeito é um ser passivo dotado de capacidades que necessitam ser trabalhadas em um processo interativo do/a educador/a com o/a educando/a e do/a educando/a com o/a educador/a. Após o entendimento da termologia educação, faz-se necessário neste momento analisar o processo de socialização e (re)socialização, para melhor interagi-lo com as ações desenvolvidas aos adolescentes em conflito com a Lei. 3.2 SOCIALIZAÇÃO Este tópico tem o objetivo de explicar a importância da socialização como um todo, nas relações interpessoais e na construção do ser social� no qual o sujeito se torna agente de suas ações de acordo com suas referências e conforme a visão da sociedade. Se optarmos em utilizar em apenas o significado da palavra socialização recorreríamos ao dicionário, a qual define como: 1 Ato ou efeito de socializar. 2 SociolProcesso pelo qual o indivíduo, no sentido biológico, é integrado numa determinada sociedade. Pela socialização o indivíduo se torna pessoa humana, adquirindo os hábitos que o capacitam a viver em uma determinada sociedade. Socialização significa aprendizagem ou educação, no sentido mais lato da palavra, aprendizagem essa que começa na infância e termina com a morte da pessoa. 3 Extensão, por leis e decretos, de vantagens particulares à sociedade inteira.� Assim, a socialização estaria direcionada ao ato de tornar o indivíduo “solitário” apto ao convívio com o outro, entretanto para que isso ocorra precisa adquirir hábitos aceitos no grupo que será inserido. Entretanto, este recurso seria superficial para a discussão que se pretende promover com este estudo, para tanto se utilizará outras fontes de discussões no que tange ao tema, logo teríamos o entendimento que Socialização é a palavra que se emprega para definir o processo pelo qual se transmite o conhecimento social necessário para se poder adotar determinada posição e os papéis com ela relacionados no interior de um sistema social (KUNCZIK,,JR,VARELA,1997,p.154). O autor relata que o indivíduo passa por um processo de transformação ao se deparar com novos conceitos (modo de vida, novo emprego, experiências vividas por outras pessoas, diferentes situações, estudo, novas culturas, diversas religiões) e, ao refletir sobre sua condição, se adapta e passa a comportar-se conforme a situação que lhe é exposta e assim inserir no grupo que melhor adequar-se. Na percepção de FLEURY: A socialização pode ser compreendida como um processo de desenvolvimento de papéis, entendendo-se papel como o comportamento esperado de um indivíduo quando ocupa dada situação social. Em conformidade com essa definição, praticamente todos os atos sociais podem ser pensados como constituindo comportamentos de papéis, no sentido de que, do ator individual espera-se que responda com desempenho ás expectativas legítimas que percebe dos outros significativos em seu ambiente social (2002, p.169). Na visão da autora observa-se que o indivíduo tem a necessidade de mostrar capacidade ao outro, preocupando-se com a imagem própria e com o modo como a sociedade o aceita, com isso, a cada situação se revela de uma maneira. Neste sentido podemos nos comportar de diferentes modos conforme a situação, logo no lar, trabalho, momentos de lazer, relacionamentos interpessoais, entre outros; temos diferentes ações, pois cada indivíduo atua conforme seus anseios e concomitantemente baseia-se nas pretensões do outro. Neste sentido torna-se pertinente compreendermos os termos status e papel social, logo, segundo Reis o papel social é definido como: (....) um conjunto organizado de condutas que correspondem ás expectativas socialmente estabelecidas sobre como o sujeito deve-se comportar face a determinado objeto ou em uma determinada situação. O papel social depende das relações sociais que o engendram, nas quais se destaca a função da ideologia (1992,p.48). Conforme citado acima, papel social se define em como o ser humano se comporta diante da sociedade, a cada situação um comportamento diferente sempre desempenhando seu papel social conforme prega a sociedade. Um exemplo que recorreremos é o comportamento em público, pois espera-se ser educado/a, oferecer lugar as grávidas, idosos, mulheres com crianças de colo, respeitar os mais velhos, entre outros. De fato, são ensinadas algumas ações ao individuo desde seu nascimento conforme os padrões de normalidade da sociedade e, tendo sempre algum modelo á ser seguido. Por outro lado vem o status social que, segundo Figueiredo (2002, p. 20, apud BORDIEU,1989) define quem você é não pelas suas atitudes mas pelo que você tem: (...) é utilizado para se referir as sociedades em que a concorrência econômica extrapola o campo econômico para o campo simbólico. Dito de outro modo ,não é que estejamos nos referindo a uma divisão social baseada exclusivamente em grupos de status em oposição as classes sociais (cujo referencial são os aspectos econômicos). A sociedade tenta moldar um padrão de vida perfeito e isso é constantemente pregado na mídia e o individuo busca cada vez mais essa ideologia, como forma de estar inserido nesse meio. Se possuir determinada coisa ou característica é inserido/a no grupo, caso contrário automaticamente esta excluído/a do grupo ou até mesmo não conseguirá ser inserido/a. O ser humano tem a necessidade de conviver em grupo e, para isso é necessária sua adaptação. Geralmente se insere em grupos no qual tem afinidade e quando encontra dificuldades, procura alguma forma de conseguir a atenção desses grupos sociais e, assim relacionar-se socialmente.. Contemporaneamente percebe-se que para ser feliz é preciso casa luxuosa, carro novo, rendimentos em excesso, luxos, dentre outros. A partir destes pontos o individuo é influenciado pela sociedade capitalista, e acaba se tornando um ser superficial apenas pela satisfação de que, de algum modo esta inserido em um grupo social senão pelas atitudes, pelo que se tem: dinheiro, bens materiais, influência social, poder. A socialização pode ser entendida como um processo a qual (...) para análise do processo de socialização, assinalavam a existência de duas fases diferentes no processo: a socialização primária (que o indivíduo sofre na infância e que o converte num membro da dita sociedade) e a secundária (que se refere a qualquer processo posterior que induza o indivíduo a interiorizar setores particulares do mundo objetivo da sua sociedade. ( TEDESCO,1995,p,99 apud BERGER e LUCKMAN, 1968 ). Com o entendimentocitado, o indivíduo esta sempre transitando pela socialização, já que esta se inicia ao nascer, ou seja, através do primeiro contato o grupo socialmente estabelecido, tendo como grande primazia a família� e este processo é contínuo, indo no decorrer de sua vida com a sua inserção em outros grupos. Utilizaremos também a analise de MACEDO, 2008, p.145 apud PIAGET,1977 ), no que se refere a interpretação da socialização (...) não é sinônimo de educação: esta é uma forma específica da socialização na qual um “programa” é formulado e realizado. (...) a socialização do indivíduo não se resume á educação formal e, portanto não devem ser negligenciadas vivencias variadas que possam se dar fora de qualquer controle adulto. Desta forma pode-se entender que a socialização não depende só dos valores que se adquire durante a infância, mas também da conscientização do próprio indivíduo sobre o certo e errado, á partir desta escolha é que se constrói um ser social. Segundo Thiers� (1998), o ser social é definido através de uma construção interna e externamente, que se dá a partir do momento em que o sujeito social é inserido na sociedade, longe de seu núcleo parental, ou seja, deixa de ser só a relação pai-mãe-filho, e passa a conviver com os demais seres sociais. Após essa separação, o individuo vai amadurecendo psicologicamente, preparando-se para enfrentar as situações por si só, ser capaz de arquitetar, realizar, sair da dependência e se tornar agente de suas atitudes, sair da passividade e se tornar participante e ativo da construção da sua história. Neste sentido podemos incrementar em nossa analise o estudo de Freud quando fala sobre Id, Ego e Superego. Seguindo o estudo de Freud, Ramos (1998, p. 61) descreve (...) o id seria a sede dos instintos; o ego uma parte diferenciada do id, devido ao contato com o mundo externo; o superego, o representante critico dos valores do individuo, a censura. Caberia ao ego servir de intermediário entre os impulsos do id e a critica e proibição do superego. Nessa perspectiva, observamos que o individuo vive em constante conflito interno, entre seus desejos mais íntimos, a real vontade de agir mas não age, por medo de represália ,ou crítica da sociedade, pelo fato da sociedade julgar tudo que esta fora do que estima ser correto. Percebemos que o ego atua como um equilíbrio interior, e , quando uma dessas funções esta comprometida, o individuo sai dos padrões da normalidade, se torna crítico demais ou sem pudor nenhum. Ramos também relata que Freud descreve o indivíduo como: (...) um id psíquico, desconhecido e inconsciente, sobre cuja superfície repousa o ego, desenvolvido a partir do seu núcleo, o sistema Pcpt (...) e o ego não se acha nitidamente separado do id; sua parte inferior funde-se á ele. Mas o reprimido também se funde com o id, e é simplesmente uma parte dele. Ele só se destaca nitidamente do ego pelas resistências da repressão, e pode se comunicar com o ego através do id (...) (RAMOS, 1998,p. 61 apud SIGMUND FREUD,1923 ). Nessa ótica, Freud relata que o individuo não obtém suas informações acerca da vida somente externamente, entende que a questão do ser social esta ligada ao psíquico que não se constrói um ser somente através do que lhe é ensinado, ou seja, não só por heteronomia, mas também por autonomia. Independente do que lhe é ensinado o individuo é capaz de ter e fazer suas próprias vontades e neste momento é que surge o conflito interno (id, ego, superego). Eu quero fazer (id), eu devo fazer? (ego), é correto o que vou fazer? (superego). Assim o individuo se adapta durante a vida procurando sempre manter o equilíbrio entre o querer e o poder. Porém, nem sempre se dá ouvido ao superego e acaba cometendo atos incorretos, isso ocorre quando o id supera o ego e atende somente aos seus instintos independente de ser correto ou não. Após esta breve analise a respeito da termologia sugerida, ou seja, socialização utilizará para compor este trabalho o conceito que diz que é um processo no qual o indivíduo está em constante mudança, seja por sua vontade ou por necessidade de aceitação. Com o entendimento do termo socialização procuraremos seguir os estudos direcionando no entendimento da expressão ressocialização. 3.3 RESSOCIALIZAÇÃO Seguindo as definições da termologia segundo o dicionário português, ressocialização significa o “ato ou efeito de ressocializar-se.�.Ou seja cometer a ação de ressocializa-se novamente, reaprender, estar disposto á novos saberes,conhecer outras formas de aprendizado. Segundo Jhonson : Ressocialização é uma parte do processo contínuo de socialização que se estende pelo curso de vida e implica aprender, e ás vezes desaprender vários papeis” (JOHNSON, 1997, p. 198). Diante do exposto pode-se afirmar que ressocialização não é um conceito que se aprende somente uma vez, o indivíduo vai se ressocializando durante a vida, como se fosse moldado conforme a situação que enfrenta, á partir das dificuldades o sujeito tem a necessidade de se adaptar á situação que lhe é imposta, em um ciclo que não finda. Observamos também que na visão de CENTURIÃO em relação á ressocialização consiste em Este conceito se apoia na crença de que um indivíduo pode ter sofrido distorções psíquicas e de conduta de tal ordem, durante sua existência, que merece tomar-se objeto de um processo terapêutico e adaptativo, passível de conduzi-lo modificações psicológicas de caráter substantivo, capazes de permitir-lhe o convívio com seres humanos tidos como normais, ou seja, que o adequem as representações de papeis convencionais (1974, p.27). Segundo relata o autor, o ato de ressocializar-se consiste em reaprender, reiniciar seu modo de viver, porém com uma nova visão, sendo esta capaz de torna-lo mais social possível, implica em se tornar aceitável á determinado modo de vida. Ter a capacidade de inserir-se novamente em uma sociedade, refazendo uma leitura de si mesmo e tomando um caminho qual lhe melhor convém. A ressocialização esta ligada a uma forma de absorção sobre o que a sociedade prega ser “normal”. As pessoas consideradas fora dos padrões da sociedade são aquelas que de alguma forma não se encaixam nesse meio, ou seja, que tenham dificuldades de adaptação e assim, estando fora desses modelos de normalidade deve-se ser feita a ressocialização do individuo, ou seja, adaptá-lo ao convívio social visando a inserção do mesmo no meio social. Neste sentido é pertinente relacioná-la ao adolescente em conflito com a Lei, na qual ressocialização se torna um fator importante para a inclusão do mesmo na sociedade. É através dela que o adolescente se torna apto á conviver e enfrentar os novos desafios que surgirão ao longo de sua vida e tratando-se de ressocialização, existem varias formas de obter-se tal feito, porém nessa análise, será citado somente a qual esta focado este tema, as medidas socioeducativas e suas variáveis. Existem muitas formas de medidas socioeducativas ,tal qual tem como objetivo ressocializar o adolescente em conflito com a lei. Porém muitos tem a visão de que essas medidas não reeducam e sim punem, o que de fato, como vamos observar mais á frente, a maioria dos adolescentes em conflito com a lei, voltam a cometer tais atos na idade adulta. Assim torna-se necessário que entendamos o que vem a ser essas formas punitivas. 3.4 FORMAS PUNITIVAS Neste momento analisaremos a termologia formas punitivas associando-a ao objeto de estudo em questão, o Adolescente em Conflito com a lei. Ao discorrer sobre o histórico do adolescente em conflito com a Lei, podemos analisar os avanços contidos nas legislações brasileira direcionada á este público, partindo do antigo Código de Menores, passando pela instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e finalizando com SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo)�, porém é necessário avaliar o desenvolvimento das ações contidas em cada legislação, para isso faz-se necessário entender o sentidoda palavra punição: 1 Aplicar punição a; castigar, reprimir: Punir alguém de um crime. Quis puni-lo por este meio. vtd 2 Servir de castigo a: Os nossos erros por si mesmos nos punem. vpr 3 Infligir castigo ou pena a si próprio: "Ele punia-se por si mesmo" (Mário Barreto). Punir de morte: aplicar a pena capital ou de morte.� Portanto o ato de punir significa castigar e/ou reprimir algo ou alguém por determinada situação, a punição surge como forma de penitenciar o ofensor e restabelecer as regras impostas Quando normas e regras são infringidas, punição é a sanção social efetuada de acordo com essas normas e regras. As sanções impõem dor para que o ofensor pague sua “dívida” e por sua vez isso reforça a validade das normas e regras. A justiça social é, portanto restaurada (HELLER, p. 216, 1987). Ou seja, a sociedade impõe regras que devem ser seguidas para o bom convívio social e todo indivíduo que contrapor essas regras estará infringindo a lei da natureza, ficando a mercê da punição para que se reestruture a justiça social e impeça que outros sujeitos cometam o mesmo erro, segundo HELLER apud LOCKE Transgredindo a Lei da Natureza, o Ofensor se declara viver por outra regra, em vez de pela razão e igualdade comum (...) cada homem sob esse aspecto (...) pode restringir ou, se é necessário, destruir coisas nocivas, e assim pode trazer o mal a qualquer um que tenha transgredido aquela Lei, como pode fazê-lo arrepender-se, e assim detê-lo, e, através de seu exemplo, impedir outros de fazer o mesmo (p. 219, 1987). Porém, esta analise viola a questão do livre arbítrio, pois faz com que todos os indivíduos vivam em torno do que a sociedade lhes impõe perdendo assim sua autonomia.A punição existe para castigar alguém que tenha violado alguma regra imposta, para tentar minimizar o dano, porém a aplicação de punição á um individuo acaba causando outro dano, como aponta Inwood apud Hegel A finalidade da punição não é o aperfeiçoamento moral do delinqüente: tal finalidade requer uma resposta á pergunta prévia: “Porque é justo punir?”, porquanto não é obviamente justo infringir dor a uma pessoa sem que esta consista em ser moralmente aperfeiçoada e não pode ser realizada, porquanto é impossível compelir uma pessoa a alterar suas convicções morais. O livre arbítrio como tal na visão de Hegel não pode ser coagido (p. 265, 1997). Assim sendo, entendemos que o ato de punir alguém para reparar um dano, implica em causar novos danos, não sendo a punição a maneira mais eficaz de constituir a transformação social dos indivíduos, deste modo á punição aplicada como forma ressocialização pode não surtir nenhum efeito, tendo como exemplo as antigas legislações. O antigo Código de Menores trazia em sua legislação um caráter assistencialista, pois não visava à promoção das crianças e adolescentes atendidos, segundo o Código de Menores de 1979 toda criança desfavorecida economicamente e socialmente apresentava mais disposição para atos infracionais e necessitavam de uma vigilância especial por parte do Estado, e quando cometiam tais atos deveriam ser corrigidas, portanto “as medidas dos antigos códigos rotuladas de protetivas, objetivamente não passavam de penas disfarçadas, impostas sem critérios da retributividade, da proporcionalidade e principalmente da legalidade” (SARAIVA, 1999), sendo assim essas medidas podem ser consideradas como punitivas, por não visarem a reintegração social das crianças e adolescentes e não privatizar sua integridade física e psicológica. O ECA surge em 1990 contrapondo as normas estabelecidas pelo Código de Menores de 1979, segundo sua redação contida no artigo 4º: (...) é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar ás crianças e adolescentes, com absoluta prioridade, á efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069, 1990). Sendo assim, através do ECA as crianças e adolescentes passaram a ter uma proteção especial, encerrando o caráter assistencialista e preconceituoso das antigas legislações direcionadas à esse público, sendo vistos como cidadãos dignos de direitos. As medidas socioeducativas surgem no capitulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente como uma forma de manifestação do Estado em resposta aos atos infracionais cometidos pelos adolescentes, apesar de toda medida protetiva que o ECA impõe, falar de medidas socioeducativas implica em falar de punição, pois segundo Saraiva: Diante da delinqüência juvenil, seja nos antigos códigos da doutrina de situação irregular, seja nas modernas legislações, não se encontrou outra alternativa, que referir a conduta tipificadas na lei penal. As respostas tenham o nome que tiver, seja medida protetiva, socioeducativa, corresponderá sempre á responsabilização pelo ato delituoso (p. 41, 1999). Portanto, as medidas socioeducativas foram a forma que o Estado encontrou para punir os adolescentes pelo seu ato, “embora de caráter predominante pedagógico, estas pertencem ao gênero das penas e não passam de sanções impostas aos jovens”(SARAIVA, 1999). Contudo fez-se necessário a criação de um sistema que reafirmasse a proposta pedagógica das medidas socioeducativas, surgindo assim o SINASE: (...) trata-se de um documento elaborado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que visa (...) promover uma ação educativa no atendimento ao adolescente que cumpre medida socioeducativa, sejam aquelas em meio aberto ou as retritivas de liberdade. Fruto de uma construção coletiva, o SINASE envolveu diversos segmentos do governo, representantes de entidades de atendimentos e sociedade civil, com o intuito de atender aos preceitos pedagógicos das medidas socioeducativas, conforme preconiza o ECA (MONTEIRO, p. 307, 2011). A finalidade do SINASE é ressocializar sem repreender, trazendo a tona todos os princípios estabelecidos pelo ECA em relação aos adolescentes cumpridores de medidas socioeducativas, o SINASE deve ser entendido como política publica social de inclusão do/a adolescente em conflito com a lei no direito a dignidade humana.Sua forma de funcionamento compreende em atender os adolescentes desde a apuração do ato infracional até a execução das medidas socioeducativas, deve se seguir um conjunto de princípios de regras e critérios de caráter jurídico político, pedagógico, financeiro e administrativo�.Portanto o SINASE segue como uma base para que as medidas socioeducativas seja executadas de maneira correta, de forma que todo adolescente autor de ato infracional possam ter um atendimento digno como preconiza o ECA. Contudo, entendemos que é possível ressocializar-se sem punir, e que as medidas socioeducativas podem funcionar não como uma forma de punição, mas de construção de um novo ser social. Para tanto é necessário que a pratica se infunda com a teoria , pois somente dessa maneira as medidas socioeducativas obterá sua finalidade, portanto analisaremos por conseguinte a situação atual do sistema socioeducativo, com base nas bibliografias referentes ao tema para compor nosso estudo. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Conforme já analisado as medidas socioeducativas é o retorno que o Estado encontrou para os atos infracionais cometidos por adolescentes, portanto neste capitulo descreveremos os tipos de medidas existentes e analisaremos a situação atual das mesmas utilizando de informações bibliográficas e porcentagem. Segundo CAVALCANTE (2008, p. 02), em sua monografia de conclusão de curso e mediante a pesquisa já exposta no trabalho, o sistema socioeducativo visa: o resgate e a reintegração do adolescente infrator à sociedade, mediante procedimentos pedagógicos que desenvolvam a sua capacidade intelectual, profissional e o seu retorno ao convívio familiar.
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