Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 5°P MEDICINA 2M3 FISIOPATOLOGIA DA TUBERCULOSE DEFINIÇÃO: A tuberculose é uma doença infecto contagiosa cujo agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis, um bacilo álcool-ácido-resistente (BAAR). Também chamado de bacilo de Koch (BK). É uma doença infecto-contagiosa, crônica, granulomatosa e necrosante. A forma mais comum da doença é a forma pulmonar, mas acometimentos extra-pulmonares também são frequentes e dignos de atenção da saúde pública, como as formas pleural, ganglionar, miliar, osteomuscular etc. Produzida por uma bactéria bacilo de Koch Doença infecto contagiosa crônica. É mais comum no pulmão Mas pode acometer qualquer órgão. EPIDEMIOLOGIA: É uma das principais doenças infectocontagiosas do planeta, sendo estimado pela OMS que aproximadamente um terço da população mundial tenha a infecção latente. Em 2015, cerca de 10,4 milhões de pessoas desenvolveram tuberculose, 580 mil delas na sua forma multirresistente ou resistente a rifampicina, com 1,4 milhão de mortes. O Brasil está entre os 30 países de alta carga para TB e TB-HIV considerados prioritários para o controle da tuberculose globalmente. Não há uma epidemia de tuberculose no Brasil, mas concentrações dos casos da doença. Pessoas vivendo com HIV, em situações de rua e privadas de liberdade, população indígena, pessoas vivendo em aglomerados ou em situação de pobreza são as mais acometidas pela doença no país. Todo caso de tuberculose deve ser notificado à vigilância epidemiológica. QUEM PEGA: Pessoas privadas de liberdade, moradores de rua. Baixa condição social, indígenas. TRANSMISSÃO: É transmitido por via aérea de uma pessoa “bacilífera” com TB pulmonar ou laríngea, que elimina bacilos no ambiente e estes podem ficar suspensos em pequenas partículas no ar. O termo bacilífero se refere a uma pessoa com TB pulmonar ou laríngea e com amostra positiva no exame de escarro. Durante a fala, espirro ou tosse nos chamados aerossóis. As partículas menores de bacilos (núcleos de Wells) contêm um a dois bacilos que podem ficar suspensas no ar por horas, capazes de infectar outros indivíduos. Pessoa bacilifera: ta com tb ativa – transmite. É por isso que, embora a tuberculose possa se apresentar de diversas formas, a forma pulmonar tem maior relevância no contexto epidemiológico, por ser a que mais frequentemente torna o paciente capaz de transmitir o bacilo. A pessoa bacilífera pode infectar até 10 a 15 pessoas, em média, de uma comunidade, no período de um ano. Após o início do tratamento, a transmissão cai gradualmente, tornando-se muito baixa após cerca de quinze dias, tornando importante a boa adesão e o acompanhamento por baciloscopia de controle. Quanto tempo deixa de ser contaminante: 15 dias após o início do tratamento a carga dde bacilo já diminui. Mas se chegou 15 dias, o pct não parou de tossir e está com febre? não libera o pct. FISIOPATOLOGIA: 2 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 5°P MEDICINA A história natural da tuberculose está estritamente ligada à resposta imunológica do hospedeiro, sendo 3 situações possíveis: 1. A resposta imune do hospedeiro elimina o agente 2. O sistema imune do hospedeiro não controla a replicação do bacilo, causando a tuberculose 3. O sistema imune do hospedeiro consegue conter o bacilo em granuloma, de forma latente Inicialmente, o M. tuberculosis infecta o organismo e entra nos macrófagos pela fagocitose. A partir daí, ele inibe a maturação do fagossomo e a formação do fagolisossoma, permitindo sua multiplicação dentro desta célula incontroladamente, protegida da ação dos lisossomos. Logo, a infecção primária ocorre ao primeiro contato com o bacilo de Koch, havendo uma reação do sistema imunológico do indivíduo, particularmente por meio da fagocitose, como forma de controlar a infecção. A infecção requer inalação de partículas suficientemente pequenas para atravessar as defesas respiratórias superiores e se depositar profundamente no pulmão. Para dar início à infecção, bacilos M. tuberculosis devem ser ingeridos pelos macrófagos alveolares. Os bacilos que não são mortos pelos macrófagos na verdade se replicam dentro dos macrófagos, matando-os no final (com a ajuda de linfócitos CD8); células inflamatórias são atraídas para a área, causando pneumonite focal que coalesce e evolui para os característicos tubérculos observados na histologia. No entanto, a bactéria é extremamente resistente ao fagossomo e inibe sua maturação, impedindo sua destruição e ficando em sua forma latente. Assim, durante essa infecção primária, ocorre grande disseminação do bacilo pelo corpo de forma oculta. A disseminação hematogênica para qualquer parte do corpo, em particular para a porção apical-posterior dos pulmões, epífises dos ossos longos, rins, corpos vertebrais e meninges pode ocorrer. A disseminação hematogênica é menos provável nos pacientes com imunidade parcial decorrente da vacinação ou à infecção natural prévia por M. tuberculosis ou micobactérias ambientais. Infecção latente ocorre após a maioria das infecções primárias. Em cerca de 95% dos casos, após aproximadamente 3 semanas de intensa multiplicação, o sistema imunitário suprime a replicação bacilar, geralmente antes que sintomas ou sinais apareçam. Focos dos bacilos no pulmão ou em outros locais se transformam em granulomas que podem ter centros caseosos e necróticos. A infecção pelo M. tuberculosis cursa desde a infecção inicial, com ataque aos macrófagos, à ativação de células Th1. Essas células T tanto controlam a infecção ao hospedeiro, como também são causa do dano causado pela doença, gerando granuloma e cavitação (pois não é seletiva). Bacilos da tuberculose podem sobreviver nesse material durante anos; o equilíbrio entre a resistência do hospedeiro e a virulência microbiana determina se a infecção essencialmente desaparece sem tratamento, se permanece dormente ou torna-se ativa. Raramente o foco primário progride de modo imediato, causando doença aguda com pneumonia (às vezes cavitaria), derrame pleural e alargamento de mediastino ou de linfonodo hilar (que pode comprimir os brônquios em crianças). Essa sequência talvez seja mais comum entre crianças pequenas e recém-infectadas ou pacientes imunossuprimidos reinfectados. Doença ativa: Pessoas saudáveis infectadas pela tuberculose têm aproximadamente 5% a 10% de risco durante a vida de desenvolver doença ativa, embora a porcentagem varie significativamente de acordo com a idade e outros fatores de risco. Em 50 a 80% dos que desenvolvem doença ativa, a tuberculose reaparece dentro dos 2 primeiros anos, mas também pode ocorrer décadas depois. Qualquer órgão inicialmente infectado pode tornar- se um local de reativação, mas esta ocorre com frequência nos ápices pulmonares, presumivelmente por causa das condições locais favoráveis como alta tensão de oxigênio. Doenças que comprometem a imunidade celular (essencial para a defesa contra a TB) facilitam significativamente a reativação. Assim, pacientes coinfectados pelo HIV e que não estão recebendo TARV apropriado têm risco anual aproximado de 10% de desenvolver doença ativa. Outras doenças que facilitam a reativação, mas em menor grau do que a infecção pelo HIV são: • DM • Câncer cefaleico ou cervical • Doenças imunodepressoas • Nefropatas TB EXTRAPULMONAR: Em qualquer local pode se apresentar, algumas vezes, sem evidência de envolvimento pulmonar. A tuberculose ganglionar é a apresentação extrapulmonar mais comum; porém, a meningite é a mais temida por causa de sua alta mortalidade em pessoas muito jovens e muito idosas. Tuberculose extrapulmonar geralmente resulta da disseminação hematogênica. 3 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 5°P MEDICINA TUBERCULOSE MILIAR: Também conhecida como tuberculose hematogênica generalizada,a tuberculose miliar ocorre quando uma lesão tuberculosa úlcera em um vaso sanguíneo, disseminando milhões de bacilos da tuberculose pela circulação sanguínea e ao longo do corpo. Pode ocorrer disseminação maciça descontrolada durante a infecção primária ou após a reativação de um foco latente. Frequentemente, são afetados pulmões e medula óssea, mas qualquer local pode ser envolvido. Tuberculose miliar é mais comum entre: • Crianças < 4 anos de idade • Pessoas imunocomprometidas • Idosos Os sintomas incluem febre, calafrios, fraqueza, mal- estar e frequentemente dispneia progressiva. A disseminação intermitente de bacilos tuberculosos pode levar à febre de origem indeterminada prolongada. O envolvimento de medula óssea pode produzir anemia, trombocitopenia, ou uma reação leucemoide. TUBERCULOSE GENITURINÁRIA: A infecção do rim pode se apresentar como pielonefrite (p. ex., febre, dor lombar e piuria) sem o patógeno habitual de vias urinárias na cultura de rotina (piuria estéril). A infecção geralmente se dissemina para a bexiga e, em homens, para a próstata, as vesículas seminais, ou o epidídimo, provocando um aumento na massa escrotal. A infecção pode se disseminar para o espaço perinefrético e abaixo do músculo psoas, causando, algumas vezes, um abscesso na coxa anterior. Salpingooforite pode ocorrer após a menarca, quando as tubas uterinas ficam vascularizadas. Os sintomas incluem dor pélvica crônica e esterilidade, ou gestação ectópica na cicatriz tubária. MENINGITE POR TUBERCULOSE: Meningite ocorre frequentemente na ausência de infecção em outros locais extrapulmonares. Em qualquer idade, a meningite é a forma mais grave de tuberculose e possui alta morbidade e mortalidade. É uma forma de tuberculose a qual se acredita ser prevenida na infância por meio da vacinação com BCG. Os sintomas são febre baixa, cefaleia constante, náuseas e sonolência, que pode progredir para torpor e coma. Os sinais de Kernig e Brudzinski podem ser positivos. As fases são: • Sem alteração da consciência e líquor anormal • Sonolência ou estupor com sinal neurológico focal • Coma PERITONITE POR TUBERCULOSE: A infecção peritoneal representa disseminação de linfonodos abdominais ou de salpingooforite. A peritonite é particularmente comum em alcoólatras com cirrose. Os sintomas podem ser leves, com fadiga, dor e sensibilidade abdominal que pode ser intensa o suficiente para se assemelhar a abdome agudo. LINFADENITE POR TUBERCULOSE: Linfadenite tuberculosa (escrófula) normalmente compromete os linfonodos nas cadeias cervicais e supraclaviculares posteriores. Considera-se que a infecção nessas regiões ocorra por contiguidade dos vasos linfáticos intratorácicos ou da infecção das tonsilas e adenoides. Os linfonodos mediastinais também costumam estar aumentados na doença pulmonar primária. Linfadenite tuberculosa cervical é caracterizada por edema progressivo dos linfonodos afetados. Em casos avançados, os nódulos podem se tornar inflamados e sensíveis; a pele sobrejacente pode romper resultando em uma fístula. TUBERCULOSE CUTÂNEA: Tuberculose cutânea (escrofulodermia) resulta da extensão direta de um foco de tuberculose subjacente (p. ex., linfonodo regional, osso ou articulaçao infectados) à pele sobrejacente, formando úlceras e tratos sinusais. TUBERCULOSE DOS OSSOS E DAS ARTICULAÇÕES: As articulações que suportam peso são geralmente as mais envolvidas, mas ossos do punho, da mão e do cotovelo podem também ser afetados, especialmente após lesão. A doença de Pott é uma infecção na coluna espinal que começa em um corpo vertebral e, muitas vezes, se dissemina para as vertebras adjacentes, com estreitamento do espaço discal entre elas. Sem tratamento, as vertebras podem desmoronar, atingindo possivelmente a coluna espinal. 4 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 5°P MEDICINA TUBERCULOSE DO FÍGADO: A infecção hepática é comum com tuberculose pulmonar avançada e amplamente disseminada ou tuberculose miliar. Porém, o fígado geralmente cicatriza sem sequela quando a infecção principal é tratada. A tuberculose no fígado ocasionalmente se dissemina para a vesícula biliar, levando à icterícia obstrutiva. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA: Paciente tosse é produtiva, a expectoração pode ser purulenta ou mucoide, com ou sem sangue (hemoptise). A febre vespertina, sem calafrios, não costuma ultrapassar os 38,5°C. A sudorese noturna e a anorexia (com perda de peso). Todo paciente com tosse produtiva mais de 20 dias (3 semanas) com febre noturna e perda de peso deve descartar Dx de TB. DIAGNÓSTICO: Como é o cronograma pelo sus: Clínica? Suspeita? Contato? Privado de liberdade? situação de rua? Baciloscopia direta – BAAR 03 amostras (pesquisa de bacilo ácido resistente). Imagem – Rx de tórax e/ou TC de tórax (ACM) Cultura de secreção (não acessível em todo lugar e demora). Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB): Em alguns municípios brasileiros, o teste rápido molecular para TB (TRM-TB, genexpert ®) encontra-se disponível na rede pública de saúde e deve ser utilizado de acordo com algoritmos estabelecidos e descritos a seguir. O TRM-TB é um teste de amplificação de ácidos nucleicos utilizado para detecção de DNA dos bacilos do complexo M tuberculosis e triagem de cepas resistentes à rifampicina pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real (Who, 2011). O teste apresenta o resultado em aproximadamente duas horas em ambiente laboratorial, sendo necessária somente uma amostra de escarro. Teste cutâneo tuberculínico: É positivo tanto na infecção latente como na ativa e, portanto, não consegue distinguir uma da outra. PDD em 0,1 ml de solução, é injetada no antebraço (mantoux ou derivado de proteína purificada PPD). O resultado deve ser uma bolha ou pápula bem demarcada após 48 a 72 horas. Interpretação: Pontos de corte recomendados para uma reação positiva dependem do ambiente clínico: 5mm: pacientes com alto risco de desenvolverem tuberculose ativa, caso infectados, como aqueles com evidência de tuberculose prévia em radiografia de tórax, imunossuprimidos por causa de infecção pelo HIV ou fármacos ou aqueles com contatos íntimos de pacientes com tuberculose infecciosa. 10mm: pacientes com alguns fatores de risco, tais como usuários de drogas injetáveis, imigrantes recentes de áreas de alta prevalência, moradores de áreas de risco (p. ex., prisões, abrigos para moradores de rua), pacientes com certas doenças (p. ex., silicose, insuficiência renal, diabetes, câncer de cabeça ou pescoço) e aqueles com histórias de cirurgia gastrintestinal ou colocação de by-pass jejunoileal. 15mm: pacientes sem fatores de risco (que normalmente não devem ser testados) Resultados falso-positivos podem ocorrer se os pacientes têm infecção por micobactérias não tuberculosas ou receberam a vacina BCG. Mas o efeito da vacina BCG no PPD diminui após vários anos. Depois desse período de tempo, é provável que um teste positivo ocorra por causa de infecção por TB. Falsamente negativos: Anticorpos inibitórios ou porque tantos linfócitos T foram mobilizados para o local da doença, que poucos permaneceram para produzir uma reação cutânea significativa. A sensibilidade da PT é de 77% isto é, reações falso-negativas (indivíduo com PT negativa e com ILTB) podem ocorrer em até 23%, nas seguintes circunstancias: 5 Laís Flauzino | FISIOPATOLOGIA | 5°P MEDICINA TUBERCULOSE NO PACIENTE COM HIV: O diagnóstico precoce de infecção pelo HIV em pessoas com TB tem importante impacto no curso clínico da doença. Portanto, o teste diagnóstico para HIV, preferencialmente o rápido, deve ser oferecido, o mais cedo possível, a toda pessoa com diagnóstico estabelecido de TB. Todo paciente com diagnóstico de TB deve ser testado para HIV. É importante ressaltar que a equipede saúde responsável pelo atendimento dos pacientes com TB deve estar preparada para orientar e atender a demanda de questionamentos referentes ao HIV, e principalmente à coinfecção TB-HIV, além dos benefícios do diagnóstico e tratamento precoces do HIV com o uso de antirretrovirais. O teste diagnóstico de HIV deve ser realizado com o consentimento do paciente, observando-se o sigilo e a confidencialidade e utilizando-se dos algoritmos diagnósticos estabelecidos.
Compartilhar