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Arteterapia: Uso da Arte na Terapia e Psicoterapia

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ARTETERAPIA
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 2
O USO DA ARTE NA TERAPIA E PSICOTERAPIA: DEFINIÇÃO E HISTÓRIA
CAPÍTULO 3
BENEFÍCIOS DA ARTETERAPIA
CAPÍTULO 4
SESSÕES DE ARTETERAPIA
CAPÍTULO 5
RESUMO DO CURSO
INTRODUÇÃO
Este material aborda o uso da arte como terapia para influenciar, positivamente, a mente humana. Nele iremos estudar a definição da arteterapia, sua história e os benefícios deste tipo de terapia que enaltece as emoções individuais dos pacientes/clientes, principalmente aqueles mais reclusos aos seus sentimentos e que, muitas vezes, não conseguem identifica-los nem expressá-los e que terminam por desenvolver doenças psicossomáticas. A arte como influência para a mente humana também foi originalmente foco de estudo do médico alemão Johann Reil, do renomado psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung, da psicóloga e educadora Margareth Naumburg, também conhecida como a “mãe” da arteterapia, e da psiquiatra brasileira Nise da Silveira.
Também iremos compreender como acontece as etapas das sessões de arteterapia, quais as técnicas (desenho, pintura, por exemplo) e ferramentas (tintas e argila) que podem ser utilizados pelo arteterapeuta para benefício da terapia e do paciente. Para fixar melhor o conteúdo, apresentaremos dois relatos de experiência de sessões de arteterapia e conheceremos os benefícios proporcionados para os pacientes. Por fim, vamos entender quem é o profissional arteterapeuta e quais estratégias ele pode utilizar parar aderir novos pacientes/clientes, inclusive fazendo uso da tecnologia digital a seu favor.
O USO DA ARTE NA TERAPIA E PSICOTERAPIA: DEFINIÇÃO E HISTÓRIA
Cada pessoa, através da convivência e experiência como membro de uma sociedade vivencia seus valores, memórias, ideais, costumes e práticas que a identifica em um ou mais grupos de pessoas. Toda esta convivência e experiência define o que chamamos de cultura. Segundo Campomori (2008), cultura é a própria identidade nascida na história, que ao mesmo tempo nos singulariza e nos torna eternos. Uma das formas de representar a cultura é através da arte. O dicionário Michaelis, define arte como sendo “atividade que supõe a criação de obras de caráter estético, centradas na produção de um ideal de beleza e harmonia ou na expressão da subjetividade humana”.
Quando apreciamos a arte, seja o teatro, a música ou a dança, por exemplo, percebemos como estamos envoltos de informações que alimentam nosso repertório e compreendemos que além do caráter sociocultural, a arte está conectada com a vida e os anseios das pessoas, já que sentimos necessidade de expressar nossos sentimentos e pensamentos. Estima-se que há 40 mil anos a.C., durante o período Paleolítico Superior, o homem desenvolveu as primeiras formas de comunicação artística, as artes rupestres. Os desenhos e pinturas rupestres testemunhavam a cultura e cenas do cotidiano de um período da humanidade. Com o passar do tempo, além da representação de cenas do cotidiano, o homem passou a usar a arte como meio de comunicação e linguagem. É o que podemos observar, por exemplo, em galerias e museus. Logo, a arte também passou a ser utilizada como ferramenta para atividade terapêutica com objetivo de trabalhar as emoções e sentimentos do indivíduo que a nomeou de arteterapia.
2.1 ARTETERAPIA COMO TERAPIA OCUPACIONAL
A arte como atividade terapêutica teve seus estudos iniciados no século XIX pelo médico alemão Johann Reil. Com objetivo de obter a cura psiquiátrica, ele fez uso de dispositivos artísticos (desenhos e sons) e concluiu que a arte serve como meio de comunicação para acessar questões internas dos seus pacientes. As imagens representam o inconsciente pessoal como parte integradora da personalidade do ser, resultado da cultura humana ao longo das civilizações.
Importante
Arteterapia é uma área de atuação profissional que utiliza recursos artísticos com finalidade terapêutica (Carvalho, 1995).
A arteterapia baseia-se em diferentes referenciais teóricos como o da psicanálise e psicologia analítica. Na década de XX, o psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung, fundador da psicologia analítica, começou a utilizar a arte como parte do tratamento psicoterápico, inclusive enfatizando a análise dos sonhos dos indivíduos. Ele acreditava que, mesmo os sonhos sendo uma linguagem inconsciente, o profissional da arteterapia poderia interpretar seu significado e auxiliar no tratamento de questões internas do ser.
Ainda no século XX, a psicanálise freudiana demonstrou interesse na arte como meio de manifestação do saber. Segundo a Associação Mineira de Arteterapia, Freud teve interesse pela arte e postulou que o inconsciente se manifesta através de imagens que transmitem significados mais diretamente do que as palavras. Ele observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente na produção artística, retratando conteúdo do psiquismo que, para ele, é uma forma de catarse.
Além da psicologia analítica por Jung e da psicanálise, abordada por Freud, a arteterapia possui outras vertentes teóricas. Uma delas segue baseada na abordagem gestáltica. “Gestalt” é uma palavra alemã que significa “forma, uma configuração, o modo particular de organização particular das partes individuais que entram em sua composição” (PERLS, 1988, p. 19). A arteterapia gestáltica constitui uma ponte interna entre a fantasia e realidade do ser, engloba a vivência do criar no intuito de fazer com que o paciente/cliente descubra suas qualidades e sentimentos. A arteterapia gestáltica, desenvolvida por Janie Rhyne, formada em Artes e em Ciências Sociais, faz uso de materiais artísticos na conjuntura educacional e psicoterapêutica e trabalha a percepção do indivíduo sobre ele mesmo. Rodrigues (2000) descreve a visão de homem da Geltalt Terapia:
O homem é um ser no mundo, agindo ativamente sobre o mundo e transformando e recebendo dele também influências, em uma relação recíproca. O indivíduo não pode ser concebido isoladamente; estará sempre em um contexto onde há um conjunto de forças atuando e sempre o atingindo de uma forma inteira, como um todo. Na medida em que se detém ao que se descreve, percebe-se que a realidade é mutável, processual, fluindo continuamente em novas situações que nunca se repetem. Não há controle, e sim, acompanhamento, “estar junto”, reagindo adequadamente ao que se apresenta, na medida em que se apresenta. Atua-se ao que se está consciente, óbvio e passível de compreensão. (RODRIGUES, 2000, p. 55).
No Brasil, na década de 40, a psiquiatra alagoana Nise Magalhães da Silveira, destacou-se por humanizar o tratamento psiquiátrico que até então fazia uso de formas agressivas como o eletrochoque, lobotomia e leucotomia cerebral. Além de reconhecer a importância do trabalho terapêutico e da interação de pacientes com animais, Nise fazia uso da arte como meio de expressão e forma de expor os conflitos internos dos pacientes, principalmente dos esquizofrênicos. Um exemplo da atuação de Nise da Silveira foi no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro. Antes do trabalho de Nise, o centro insalubre abrigava seus pacientes sob situação sub-humanas. Depois que Nise passou a dirigir a Seção de Terapêutica Ocupacional, entre os anos de 1946 a 1974, o ambiente passou a contar com um ateliê e várias possibilidades de atividades como desenho, pintura, escultura e modelagem. Os pacientes internos puderam fazer uso de um espaço acolhedor. Nise buscava a cura através da expressividade criativa inspirada na realidade de cada paciente. A técnica era baseada no método de ouvir e observar o comportamento dos internos, os monitores do centro não interferiam nas criações. É importante destacar que mesmo após diversos métodos invasivos, os internos desenvolveram sensibilidade entre si.
Jung, Freud e Nise Magalhães nos mostram a arte como apoio no processo terapêutico tem influência na criação de possibilidades e metodologias de trabalho que podem ser utilizadas durante uma sessão de terapia pelos arteterapeutas. Vale destacar que, atualmente, para atuar como profissional da arteterapia,o arteterapeuta precisa concluir um Mestrado ou Especialização em Arteterapia reconhecida pela União Brasileira de Associações de Arteterapia (UBAAT). Desta forma, além de psicólogos, profissionais da área social, artes, educação e saúde podem atuar em Organizações Não Governamentais (ONGs), presídios, Instituições de Recuperação Social, orfanatos e outros espaços com a arteterapia.
Importante
Dentre os profissionais da arteterapia, o psicólogo, devido a análise dos comportamentos e dos pensamentos humanos, possui a capacidade de interpretar a simbologia do produto final. Sem interpretar o produto artístico, o arteterapeuta fica restrito ao uso da arte como caminho ou processo criativo para o paciente acessar algumas questões internas que não consegue expressar ou entender.
2.2 EMOÇÕES NA ARTETERAPIA
Compreendida como um processo terapêutico decorrente da utilização de modalidades expressivas diversas como a plástica, sonora, literária, dramática e corporal, desenho, pintura, modelagem, música, poesia, dramatização e dança, a arte é considerada uma ferramenta de terapia que se baseia na expressão de sentimentos, emoções e aprendizados inerentes a cada pessoa como medo, raiva e alegria. Sob o ponto de vista de Freud, podemos observar essas expressões ao observar obras de arte de renome como a escultura “O Moisés de Michelangelo” (Figura 1) de Michelangelo.
FIGURA 1 - O MOISÉS DE MICHELANGELO
FONTE: Wikimedia Commons (2021).
De forma anônima, em 1914, Freud publicou o artigo “O Moisés de Michelangelo”, uma interpretação da escultura em mármore de Michelangelo. Segundo o psicanalista, Michelangelo representou uma reação de Moisés com o corpo voltado para frente e cabeça girada demonstrando controle do sentimento ira. Sabe-se que diante da perfeição da escultura, Michelangelo teve alucinações e bateu com um martelo na estátua, questionando o motivo dela não falar.
Freud (1914), afirma:
O Moisés de Michelangelo é representado sentado; o corpo volta-se para frente, a cabeça com a pujante barba olha para a esquerda, o pé direito repousa sobre o solo e a perna esquerda acha-se levantada de maneira que apenas os artelhos tocam o chão. O braço direito une as Tábuas da Lei a uma parte da barba e o esquerdo repousa sobre o colo. SIGMUND, F. (1914, p. 256).
A pintora mexicana Frida Kahlo é outro exemplo de artista que expressava suas emoções através da arte. Frida chegou a afirmar que pintava autorretratos porque sentia solidão e através deles conseguia canalizar seu sofrimento. A sua obra “A Coluna Partida”, de 1944, transmite a dor de ter utilizado aparelhos ortopédicos em decorrência de um acidente de ônibus que sofreu e que deixou sequelas na sua coluna (Figura 2).
FIGURA 2 - A COLUNA PARTIDA
FONTE: Google Arts & Culture (2021).
Nota
Além de representar suas dores físicas através de telas mundialmente conhecidas, Frida Kahlo abusava de estampas florais e cores exuberantes inclusive associando a cultura do México, seu país natal.
É interessante destacar que trabalhar com arteterapia não significa fazer obras de arte como as de Michelangelo e Frida Kahlo. Segundo Martins (2012), o objetivo da arteterapia não é obter criações com valor estético agregado e sim uma criação livre e espontânea, realizada por qualquer pessoa sem a mínima prática artística. Podemos entender que o mais importante na arteterapia é o trabalho da expressão do sentimento nato do indivíduo. O processo do fazer a arte durante as sessões de arteterapia é abarcado por diversas técnicas como pintura, colagem e o uso da argila, todas buscam benefícios mentais e físicos para o indivíduo. 
BENEFÍCIOS DA ARTETERAPIA
A arte é multifuncional, ela pode ter um sentido crítico, religioso, decorativo como também pode expor pensamentos, ideias e sentimentos intrínseco do seu autor. Seja através de desenhos, pinturas ou outras formas de expressão, como a colagem ou a escultura, a arteterapia traz à tona conteúdos simbólicos com facilidade e rapidez. Diante de cenários emocionais traumáticos ou diversas outras situações limitantes, a arte se apresenta como um recurso revelador. E assim, de maneira bastante prazerosa, o paciente/cliente, vai entendendo o que dificulta o seu bem viver e vai ressignificando e dando outros destinos aos seus problemas (CARNEIRO, 2016).
Questões como traumas psicológicos, demandas emocionais, relações entre pessoas, ambições profissionais e sexualidade, entre outros, podem ser abordados pelo arteterapeuta. Ela é uma ferramenta que amplia as possibilidades de expressão. Segundo Loiola e Andriola (2017), acredita-se que a arte seja o método que mais proporciona a ligação do objeto com o sujeito, através de inúmeros modelos de expressão que possibilitam compreender significações que estariam ocultos no comportamento.
É essencial que o indivíduo tenha consciência das emoções básicas como amor, tristeza, alegria e raiva. Porém, seja por timidez, receio de ser rejeitado e ridicularizado ou outros motivos, muitas pessoas têm dificuldade em caracterizar, verbalizar e demonstrar seus sentimentos e pensamentos por vias verbais e, por causa disso, muitas vezes, desenvolvem doenças psicossomáticas como ansiedade, insônia e doenças gastrintestinais. Observa-se um maior número dessas doenças durante a pandemia do Covid-19.
Atenção!
O número de pessoas com desordens mentais como depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia tem aumentado. Em 2020, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o Brasil lidera o ranking de ansiedade no mundo. No país, mais de 18 milhões de brasileiros sofriam com esse mal antes do surgimento do novo coronavírus.
Diante de tantos traumas psicológicos e demandas emocionais, e no intuito de promover o bem-estar mental, o Ministério da Saúde na Portaria nº 849, de 27 de março de 2017, incluiu a prática de arteterapia como um dispositivo de tratamento na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Esta política tem o propósito de implementar tratamentos alternativos à medicina baseado em evidências na rede pública do Brasil.
No processo terapêutico, a arte funciona como um canal não verbal de percepção que induz o processo de autoconhecimento, levando o indivíduo a confrontar com seu íntimo de ideias e sensações. Segundo Philippini (1998), é função do arte-terapeuta acompanhar e ser guardião no processo criativo, cooperando assim com formas de ampliar a humanização, e de buscar e construir alternativas para as aceleradas mudanças que precedem o terceiro Milênio.
Importante
Para Coqueiro et al. (2011), a arteterapia permite aos utilizadores desse processo a oportunidade de trabalharem e vivenciarem suas angústias, medos e bloqueios de uma forma mais adaptativa e menos sofrível. Ela se consolida como uma ferramenta eficaz para canalizar e converter os conflitos advindos do adoecimento mental.
Durante uma sessão de arteterapia, o paciente é conduzido a externar seus sentimentos e emoções explorando sua imaginação e criatividade. A arte funciona como instrumento de conexão entre o mundo interno e externo do indivíduo. Através de cores e texturas, o indivíduo transmite para o papel sentimentos como alegria e medo que muitas vezes não consegue identificar e ou demonstrar, assim aumenta sua capacidade de enfrentar os problemas. Desta forma, a arteterapia busca promover mudanças necessárias de comportamento e desenvolve a inteligência emocional através da intervenção do terapeuta.
Importante
Além dos benefícios mencionados, é importante destacar que a arte desenvolve as habilidades física e motora do indivíduo, pois ajuda a realizar movimentos coordenados e, por ser uma atividade relaxante, ajuda a amenizar os níveis de ansiedade e estresse, melhorando assim a concentração, memória e atenção do mesmo.
Através dos cinco sentidos - tato, visão, audição, olfato, paladar, a arteterapia abarca emoções muitas vezes aprisionadas no inconsciente humano, objetivando a transformação da personalidade e bem-estar do criador. Neste tipo de terapia, que não possuirestrição de sexo, faixa etária e ou quadros clínicos, a arte é utilizada como uma ferramenta de interpretação simbólica. Através dela expressamos, refletimos e analisamos nossos sentimentos. Logo, pode-se concluir que além dos benefícios em âmbitos mentais, a arteterapia favorece a saúde física e o bem-estar emocional do ser, pois trabalha com o desenvolvimento das habilidades interpessoais.
SESSÕES DE ARTETERAPIA
Para Vasconcelos (2007), a arteterapia pode ser trabalhada de duas formas diferentes, a primeira é de fato como uma terapia, onde o objetivo maior é voltado para as propriedades curativas por meio do processo artístico. A segunda abordagem da arteterapia é na psicoterapia, nesta, as técnicas e fundamentos são aplicadas de maneira a desenvolver emocionalmente o indivíduo e influenciá-lo positivamente quanto ao seu potencial criativo.
Importante
As sessões de arteterapia normalmente duram uma hora e podem acontecer em grupo (Figura 3) ou de forma individual. O arteterapeuta deve apresentar ao paciente/cliente uma atividade prazerosa que retrata e informa etapas da sua jornada, além de relacioná-la com sua capacidade cognitiva/psicossocial e que respeite a individualidade e autonomia do paciente/cliente.
FIGURA 3 – REGISTRO DE UMA SESSAÇÃO DE ARTETERAPIA EM GRUPO
FONTE: GADELHA (2019).
O profissional da arteterapia deve disponibilizar ao paciente/cliente materiais para que ele desenvolva a atividade de forma criativa. A escolha dos materiais é importante para um bom desenvolvimento do trabalho, pois ela serve como estímulo para o indivíduo trabalhar suas emoções. Por exemplo, lápis de cor, giz de cera e caneta hidrográfica transmitem criatividade, segurança e sensação de estabilidade ao paciente/cliente. A papietagem, técnica artesanal em que se constrói objetos com cola e papel picado, também representa um recurso terapêutico que aproxima o indivíduo a suas questões psíquicas, além de, quando exercida de forma livre, estimula a criatividade e a subjetividade do mesmo. A maleabilidade da argila permite trabalhar os nossos movimentos internos em toda sua complexidade” (CHIESA, 2004). Durante a transformação da argila, o paciente/cliente forma o objeto e durante cada gesto do processo, dá vida ao seu interior, ressignificando os conteúdos internos e expandindo a sua consciência. 
Importante
Os materiais disponibilizados pelo arteterapeuta deve aflorar a criatividade inerente a cada pessoa, principalmente quando são exploradas diferentes texturas, cores, elementos sonoros e olfativos. Segundo Jung, as cores têm a possibilidade de exprimir as principais funções psíquicas do homem, como o pensamento, o sentimento, a intuição e a sensação.
A sequência de estágios do desenvolvimento da atividade proposta pelo arteterapeuta exige concentração e memória por parte do paciente/cliente. Philippini (2004), ressalta que fica a cargo do profissional criar um repertório de informações relativo a cada modalidade, adequando-as às necessidades do usuário a ser atendido. Além de considerar as informações passadas pelo profissional, é válido destacar que cada pessoa possui seu próprio repertório, então mesmo que o arteterapeuta passe informações e atividades similares para diferentes pacientes/clientes, os processos desenvolvidos durante as sessões são diferentes.
Ao final da atividade, deve-se o direcionar o paciente/cliente a observar o resultado da sua produção, colocá-lo para refletir seus significados desde o processo de criação ao significado do produto desenvolvido. É importante salientar que para ser terapêutica, a atividade apresenta um produto sem finalidade estética no qual o paciente/cliente reconheça seu esforço durante o processo e não a sua finalização.
Importante
Terapeutas acreditam que as atividades desenvolvidas em sessões de arteterapia produzam mudanças comportamentais significativas, pois a abordagem do paciente/cliente com o terapeuta faz links com questões internas. Muitas vezes a arteterapia precisa andar em paralelo com outras condutas como tratamento medicamentoso.
4.1 TÉCNICAS DA ARTETERAPIA
Expressar sentimentos difíceis de serem verbalizados não é um processo simples, porém a arteterapia conta com uma gama de ferramentas e técnicas das artes visuais que facilitam este processo. Desenho, pintura, colagem, modelagem, construção/sucata, dramatização, escrita criativa e ferramentas digitais são exemplos de habilidades de enfrentamento saudáveis que ajudam na exploração da imaginação e criatividade. A colagem, por exemplo, estimula no indivíduo o ato de organizar já que se baseia na junção de peças. A tecelagem, trabalha com o ritmo e a reprodução em série. Já a escultura, trabalha com a liberdade e o efeito tridimensional.
O desenho livre é uma técnica bastante comum e eficaz utilizada em sessões de arteterapia, ele necessita de ferramentas com significados terapêuticos semelhantes para serem executados, por exemplo, papel A4, cartolina, giz de cera, lápis de cor e grafite. Entre diversos benefícios, o desenho desenvolve a motricidade do indivíduo, pois são desenvolvidas conexões cerebrais para controlar os movimentos da mão, principalmente a motricidade fina. O desenho é uma atividade minuciosa, o ato de desenhar requer um considerado nível de concentração, e por ser uma atividade que pode ser compartilhada através de sessões de arteterapia em grupo, gera estreitamento de laços entre pessoas.
Dependendo do objetivo da arte, a pintura, estudada pela História da Arte, requer um acabamento absolutamente perfeito, mas este não é o foco da arteterapia que visa o processo artístico e não o julgamento do produto final. A pintura trabalha com o desbloqueio da imagem, formas, cores e texturas. Linhas curvas, por exemplo, remetem a natureza e representam a sensação de aconchego e suavidade. Christo e Silva, (2002), apresentam a funcionalidade da variedade de elementos que envolvem a pintura:
A variedade de elementos presentes na técnica da pintura: as linhas, as formas, os volumes, a cor, a tonalidade, a luz, (...) pode funcionar como um grupo de amigos que nos estimula a desabafar, a aliviar as nossas tensões, a encontrar soluções diferentes, a ter coragem de tentar novas alternativas, a mudar o nosso olhar e, consequentemente o nosso sentir (CHRISTO e SILVA, 2002, p. 12).
Entre tantos elementos que podem ser trabalhados na pintura, como a textura da tinta e o toque do pincel no suporte, podemos destacar a variedade de cores disponíveis que o arteterapeuta pode disponibilizar para seu paciente/cliente. Segundo a psicologia das cores, a simbologia das cores é uma forma de estímulo e de expressão, já que cada cor representa uma das oito emoções primário do indivíduo: a alegria, a aceitação, a curiosidade, o nojo, a surpresa, o medo, a tristeza e a raiva. A cor vermelha, por exemplo, remete sensação de excitação, em contrapartida, o azul transmite relaxamento e o preto, negatividade e agressividade.
Nota
É interessante observar que a representação da cor varia de acordo com cada cultura, por exemplo, o roxo, obtida pela mistura das cores primárias vermelho e azul, na Europa e nos Estados Unidos, significa realeza e mistério. No Egito, Roma e Pérsia, riqueza, já que era considerada uma cor cara para ser produzida para tingir tecidos. 
A arteterapia também pode fazer uso da tecnologia digital como forma de comunicação interpessoal do indivíduo. Segundo Malchiodi (2018), a arteterapia digital trata de intervenções terapêuticas que utilizam teclados, telas de computador/tablets ou outros dispositivos tecnológicos para capturar imagens no contexto do tratamento do participante em uma sessão de arteterapia. Os dispositivos servem para editar, modificar e/ou manipular imagens e fotos, assim como é possível utilizar nos encontros de arteterapia digital outras ferramentas digitais e aplicativos para a criação de arte, tais como: vídeos, animações, storytelling, desenho digital, colagem, fotografia, edição de música, jogos-eletrônicos, realidade virtual e arteterapia online.Com objetivo de buscar evidências teóricas de que os jogos digitais servem como instrumentos para aplicar a arteterapia na reabilitação cognitiva voltada para acompanhamento terapêutico de esquizofrênicos, Menezes et al. (2017), fizeram uma revisão bibliográfica que comprovou este tipo de terapia.
Outra técnica que é utilizada nas sessões de arteterapia é a modelagem. Ela utiliza materiais pastosos como argila, papel machê e massa de modelar. A argila é um material natural que para algumas pessoas transmite certa estranheza ao toque. Sobre esta sensação, Urrutigaray (2011) afirma que:
A argila é o material mais próximo de um sentido visceral. Devido a seu aspecto, traz em si uma modalidade de ênfase ao trabalho com as mãos propulsoras de imagens de experiências mais fortes, mais viscerais, que usualmente encontram-se dificultadas na sua expressão, verbalização, em virtude da interferência da consciência do ego. (URRUTIGARAY, 2011, p. 68).
Diante dessa possibilidade de estranheza ao toque, é necessário que o arteterapeuta saiba selecionar as técnicas e os materiais mais indicados para o perfil do seu paciente ou mesmo, se for foco da terapia, trabalhar essa adversidade. O mesmo acontece com os pacientes mais rígidos e com a criatividade bloqueada, talvez eles rejeitem a proposta de desenhar ou fazer qualquer atividade ligada a arte, neste caso, é de fundamental importância explicar que a criação de material deve ser realizada sem preocupação estética, pois o foco é no processo ou desenvolvimento da atividade.
Nota
Valladares (2001) nos lembra que o indivíduo deve ser instrumentalizado de forma adequada, ou seja, deve receber o material apropriado para executar sua criação que dessa forma surge espontaneamente, agilizando-se a expressão da pessoa, pois não havendo preocupação de domínio da técnica, ocorre o fluir natural de sua subjetividade. 
4.2 ARTETERAPIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Em sua dissertação de mestrado intitulada “Arte-terapia e as Potencialidades Simbólicas e Criativas dos Mediadores Artísticos”, a arteterapeuta Daniela de Carvalho e Souza Martins, apresenta o resultado da análise de estudos de casos oriundos da arteterapia. A autora inicia os relatos com um desenho feito com canetas de feltro por uma adolescente de 14 anos de idade (Figura 4) e de uma adulta de 30 anos de idade que usou a técnica de colagem para expressar seus sentimentos (Figura 5). Além do desenho com caneta e da técnica de colagem, a modelagem de barro e a pintura com tinta aquerela fazem parte dos relatos da dissertação.
FIGURA 4 – ESTUDO DE CASOS ORIUNDOS DA ARTETERAPIA
FONTE: MARTINS (2012, p. 103).
FIGURA 5 – ESTUDO DE CASOS ORIUNDOS DA ARTETERAPIA
FONTE: MARTINS (2012, p. 113).
Na Figura 4, o papel e a caneta de feltro permitiram uma ilustração detalhada com vários elementos do estado emocional da paciente, elemento estes que são difíceis de serem expressos verbalmente. A partir dessa imagem, a adolescente pode dar uma “cara” e identificar o que a deixa triste e como a tristeza influencia na sua vida.
Já a paciente que fez uso da colagem, na Figura 5, mesmo tendo formação em artes, optou por não desenhar a lápis demonstrando o receio de ser malsucedida e julgada negativamente. Pain e Jarreu (1996), afirmam que aquele que recorta e cola acaba por encontrar o seu lugar “mesmo tendo poucas ideias”, o medo que paralisa a sua criatividade é atenuado pela facilidade de criar com imagens prontas. Os autores ainda colocam que na colagem o processo de recortar/rasgar e colar demonstra simbolicamente a vivencia de rompimento com o passado. A subsequente colagem e fixação reflete uma imagem futura.
Importante
Considerando o uso do papel, lápis e da técnica de colagem, nota-se que é fundamental analisar o potencial terapêutico de cada recurso da arteterapia, a seleção deles irá depender da necessidade e do repertório de cada indivíduo, pois devem ser consideradas as funções simbólicas, expressivas e criativas dos instrumentos de trabalho.
Como conclusão do seu trabalho, a autora da dissertação afirma que a criação artística facilita o estabelecimento de uma linguagem própria. Os recursos artísticos disponibilizados são um veículo de comunicação, mas também um palco de atuação, assim o próprio sistema simbólico é impulsionado pelas potencialidades simbólicas dos recursos artísticos, oferecendo a possibilidade de criação e renovação simbólica pessoal.
4.3 COMO ADERIR PACIENTES/CLIENTES PARA A ARTETERAPIA
Para atrair novos pacientes/clientes para a arteterapia é importante que o arteterapeuta defina e estude seu público-alvo. Mesmo sabendo que a arteterapia não possui restrição de idade, sexo e quadro clínico, definir o perfil do paciente/cliente que se deseja trabalhar e conhecer suas necessidades, auxilia no direcionamento e na divulgação do seu trabalho com arte e terapia. Desta forma, o arteterapeuta pode atrair mais rapidamente a atenção do cliente potencial que se deseja. Manter contatos com outros profissionais, ou seja, fazer um bom networking com pessoas que trabalham com ferramentas sonoras e visuais em prol da saúde e do bem-estar do indivíduo, como o musicoterapeuta e o terapeuta ocupacional, contribui tanto para o tratamento do paciente/cliente, pois ele trabalha com pontos de vistas e metodologias diferentes suas questões mentais quanto para o profissional da arteterapia, aumentando, assim, sua cartela de atendimentos. Além dos profissionais que trabalham com terapia, é importante que o arteterapeuta faça colaborações com atuantes em diversas outras áreas como psicólogos, psiquiatras, pessoas que trabalham em âmbito educacional e hospitalar. Essa é uma das formas que o arteterapeuta tem de alcançar e atender mais pessoas.
Utilizar a tecnologia a seu favor, também desperta a atenção dos possíveis pacientes/clientes, o arteterapeuta pode fazer uso das redes sociais para divulgar seu trabalho através de, por exemplo, redes sociais. A tecnologia também agrega a acessibilidade durante sessões remotas. A facilidade em atender remotamente é reconhecida pelos próprios pacientes/clientes, principalmente aqueles que precisam fazer viagens longas a centros de terapia e com limitações físicas.
Podemos concluir que, seja por meio físico como papel, lápis, gesso, argila e tintas, seja por através de ferramentas digitais como computador e tablets, a arteterapia auxilia pacientes/clientes trabalharem suas emoções, anseios e comportamentos e, inclusive promover mudanças comportamentais. É imprescindível que o arteterapeuta conheça as inúmeras técnicas e ferramentas para serem utilizadas durante uma sessão de arteterapia. Este trabalho pode, inclusive, acontecer em diversos segmentos diferentes como hospitalar, educacional e clínico.
RESUMO DO CURSO
Neste curso, você aprendeu que arte e cultura nos envolvem de informações que alimentam nosso repertório e nos ajudam a compreender os anseios e emoções das pessoas. Indícios da influência da arte para a mente humana, passaram a ser reconhecidos e desenvolvidos pelos estudiosos da psique humana Carl Jung, Margareth Naumburg, conhecida como a “mãe” da arteterapia, e a psiquiatra brasileira, Nise Magalhães.
A arteterapia como dispositivo terapêutico em saúde mental auxilia no tratamento de desordens mentais como depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia. No processo terapêutico, a arte funciona como um canal não verbal de percepção que leva ao processo de autoconhecimento, o indivíduo é levado ao confronto com seu íntimo de ideias e sensações. Durante as sessões de arteterapia, o paciente/cliente trabalha suas experiências interiores como sonhos, fantasias, medos, memórias infantis e conflitos atuais vividos, como pode ser visto nos estudos de casos analisados neste material. O arteterapeuta deve apresentar ao paciente/cliente uma atividade prazerosa que retrata e informa etapas da sua jornada, além de relacioná-la com sua capacidade cognitiva/psicossocial e que respeite a individualidade e autonomia do paciente/cliente. Terapeutas acreditam que asatividades desenvolvidas em sessões de arteterapia produzem mudanças comportamentais significativas, pois a abordagem do paciente/cliente com o terapeuta faz links com questões internas.

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