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Maria Seiane - MEDICINA Infecções genitais DOENÇAS QUE CAUSAM CORRIMENTO: Corrimento vaginal normal: Em mulheres em idade reprodutiva, o corrimento vaginal normal consiste em 1 a 4 mL de fluido (por 24 horas), branco ou transparente, grosso ou fino, na maioria das vezes inodoro e com pH entre 3,5 a 4,5; Esta descarga fisiológica é formada por secreções endocervicais mucoides em combinação com células epiteliais descamativas, flora vaginal normal e transudato vaginal. o A secreção pode tornar-se mais perceptível às vezes ("leucorreia fisiológica"), como no meio do ciclo menstrual próximo ao momento da ovulação, durante a gravidez ou com uso de anticoncepcionais estrogênicos e progestínicos. o Dieta, atividade sexual, medicação e estresse também podem afetar o volume e o caráter do corrimento vaginal normal. o A secreção normal pode ser amarelada, levemente mal-cheirosa e acompanhada de sintomas irritativos leves; Corrimento patológico: Uretral: o Dentre essas doenças, duas delas causam principalmente cervicite e uretrite que são a clamídia e gonorreia. o Clamídia: agente: Chlamydia tracomatis, gram negativa intracelular obrigatória; Epidemiologia: Acomete preferencialmente menores de 25 anos. IST bacteriana crônica mais frequente. Fatores de risco: idade menor que 25 anos; multiplicidade de parceiros ou parceiro novo nos últimos 90 dias, solteiros, uso inconsistente de métodos de barreira, ectopia de colo uterino (por maior exposição do epitélio), menor nível de escolaridade e socioeconômico, história de IST prévia. Manifestações clínicas: O período de incubação dura de 6 a 14 dias. É comum apresentarem queixa de dispareunia (dor no final da penetração durante a relação sexual) e dor à mobilização de colo uterino ao exame especular. Cerca de 70% dos pacientes são assintomáticos, proporcionando assim um reservatório permanente da infecção. Sequelas na mulher: esterilidade, gravidez ectópica, dor pélvica crônica. Diagnóstico: Clínico, através das manifestações, e laboratorial, através da pesquisa de DNA (PCR), captura híbrida ou teste rápido por PCR real time; Tratamento: doxiciclina; azitromicina; o Gonorreia: Agente: Neisseria gonorrhoeae, diplococo gram negativo. Epidemiologia: Acomete mais mulheres do que homens, já que nelas geralmente ocorre de forma assintomática. Manifestações clínicas: Período de incubação de 2 a 5 dias. Cerca de 50% das pacientes são assintomáticas. Quando sintomáticos apresentar: cervicite mucopurulenta, já que o colo uterino é o local mais comum de infecção. Assim, a mucosa endocervical apresenta-se edemaciada, hiperemiada e sangrativa ao toque da espátula, além de leucorreia purulenta saindo pelo orifício externo do colo uterino. DIP, disúria e dispareunia podem estar presentes. Diagnóstico: clínico e laboratorial; A bacterioscopia-gram com presença de diplococos gram negativos intracelulares é diagnostico de gonorreia. Caso negativa, não exclui a infecção, já que a sensibilidade é de 30% Tratamento: ceftriaxone; ciprofloxacina; o Micoplasma: Agentes: Mycoplasma pneumoniae; Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum e Mycoplasma genitalium; Epidemiologia: O M. hominis faz parte da flora vaginal e uretral de cerca de 20 a 50% de homens e mulheres sexualmente ativos; As mulheres são Maria Seiane - MEDICINA mais susceptíveis à colonização, enquanto os homens são, geralmente, assintomáticos. Manifestações clínicas: Cerca de 50% das mulheres são assintomáticas. Quando sintomáticas, apresentam sinurragia, cervicite, sangramentos de escape e endometrite. Pode apreentar febre ou pielonefrite após cateterismo uretral ou citoscopia. Diagnóstico: clínica; Tratamento: azitromicina; levofloxacino. Vaginal: o Tricomoníase: Agente: Trichomonas vaginalis, protozoário f lagelado anaeróbico falcultativo; Epidemiologia: Corresponde a 20% dos casos de corrimento vaginal. É encontrada em 30 a 40% dos parceiros de mulheres infectadas. Manifestações clínicas: Na maioria dos casos a mulher é sintomática, após a menopausa podem se tornar assintomáticas. Os homens são na maioria assintomáticos, funcionando como vetores, mas podem também desenvolver quadro de uretrite não gonocócica, epididimite ou prostatite. As características do corrimento são: amarelo ou amarelo-esverdeado, abundante, fétido e bolhoso. O pH vaginal, normalmente, é maior que 5. É comum ardência, edema e hiperemia. Ocasionalmente pode ocorrer disúria, polaciúria e dor pélvica. Na colposcopia, ou raramente a olho nu, é visualizada a colpite focal ou difusa em “colo de framboesa”, característica da tricomoníase e ocorre por dilatação capilar e hemorragias puntiformes; Diagnóstico: clínico; Pode-se realizar medida do pH vaginal, teste de Whiff e microscopia a fresco do fluido vaginal. O pH vaginal, normalmente, é igual ou superior a 5. Tratamento: metronidazol, VO, dose única e Tinidazol; o Candidíase: causada principalmente pela Candida albicans (80 a 90% dos casos) e ocasionalmente por outras espécies “não albicans”, como a C. glabrata e a C. tropicalis; é uma infecção endógena do trato reprodutivo e é a 2ª causa mais frequente de vulvovaginite no menacme. Fatores de risco: estados hiperestrogênicos, diabetes mellitus, imunossupressão por medicamentos ou doenças de base, gravidez, uso de tamoxifeno, uso de antibióticos, assim como hábitos alimentares e de vestimentas propícios ao crescimento contínuo dos fungos, e várias automedicações prévias inapropriadas. Manifestações: prurido, ardência, corrimento (geralmente grumoso, sem odor), dispareunia, disúria externa, edema, eritema, fissuras, maceração, escoriações, placas aderidas à parede vaginal e colo uterino de cor branca. Nenhum desses achados é específico. Diagnóstico: citologia vaginal; culturas especificas; pH vaginal: < 4,5 sugere CVV; Tratamento: miconazol tópico ou nistatina; fluconazol ou traconazol; o Vaginose bacteriana: é uma infeção endógena e é corrimento vaginal e mau cheiro. É uma síndrome a causa mais comum de polimicrobiana caracterizada pelo desequilíbrio da microbiota vaginal normal, com acidófilos (normais na microbiota vaginal) intensa redução dos lactobacilos e aumento expressivo de bactérias anaeróbias como Prevotella sp., Mobiluncus sp., G. vaginalis (mais frequente), Ureaplasma, Micoplasma e outros. Emprega-se o termo vaginose (em vez de vaginite) devido à discreta resposta inflamatória pequeno ou inexistente) com ausência marcante de leucócitos; Fatores de risco: multiplicidade de parceiros, novo parceiro, ducha vaginal, coito sem uso de preservativo , escassez de lactobacilos , sexo oral, raça negra, tabagismo, sexo durante a menstruação, dispositivo intrauterino e relação sexual em idade precoce. Manifestações: corrimento branco-acinzentado cremoso ou bolhoso, com odor fétido (“cheiro de pescado”), principalmente após o coito e pós menstrual, aderente às paredes vaginais. Menos frequentemente, há dispareunia. Diagnóstico: realizado pelos “critérios de Amsel” ou pela microscopia com a coloração de Gram, considerada o padrão ouro. Tratamento: metronidazol; clindamicina. DOENÇAS QUE CAUSAM VERRUGAS GENITAIS: São as doenças causadas pelo Papilomavírus humano (HPV), um DNA-vírus. Epidemiologia: É, provavelmente, a IST mais comum. 1% da população sexualmente ativa manifesta HPV na forma de verruga genital. Como um todo, em cerca de 70% a 80% dos homens e mulheres sexualmente ativos adquiriu HPV em algum tempo de suas vidas. O HPV está envolvido no desenvolvimento do câncer do colo do útero em cerca de até 99,7% dos casos de CA de colo uterino. Mecanismo: Para se estabelecer na epiderme, o HPV precisa infectar células metabolicamente ativas, como as da camada basal, ou seja, o ciclo do HPV está ligado a diferenciaçãoda célula escamosa. Assim, as proteínas E6 e E7 dos HPV Maria Seiane - MEDICINA 16 e 18 formam complexos com as proteínas anti-oncogênicas p53 e pRB, respectivamente, e essas interações influenciam, pelo menos em parte, no poder de transformação desses dois vírus. Manifestações clínicas: o Apresentação latente: ocorre quando as pessoas infectadas por HPV não desenvolvem nenhum tipo de lesão, sendo que tal condição pode permanecer durante toda a vida. o Apresentação subclínica: a lesão subclínica ocorre quando as microlesões pelo HPV são diagnosticadas por meio de exame de Papanicolaou e/ou colposcopia (lesões acetobrancas), com ou sem biópsia. o Apresentação clínica: a forma mais comum de apresentação é o condiloma acuminado (verruga), com lesões aparentes, vegetativas, vascularizadas, sesseis e múltiplas projeções papilares. As lesões se manifestam, principalmente, em região de fúrcula, grandes e pequenos lábios, região perineal e perianal. Nesses casos, a biopsia é indicada em condiloma acuminado atípico ou quando não há resposta ao tratamento. Diagnóstico: A grande maioria das infecções por HPV é assintomática e autolimitada. Quando a doença se apresenta de forma clínica, como no caso do condiloma genital, o diagnóstico pode ser feito ao olho nu. O papanicolau é bastante utilizado como método de triagem, devido a boa sensibilidade. Tratamento: O tratamento visa estimular o sistema imunológico, melhorando os sintomas, erradicando as lesões e prevenir a transmissão. DOENÇAS QUE CAUSAM ÚLCERAS GENITAIS São lesões localizadas principalmente em região de vulva, vagina ou colo uterino. Os principais agentes etiológicos são o Herpes simplex vírus, Treponema Pallidum, Chlamydia trachomatis, Haemophilus ducreyi e Klebsiella granulomatis. Herpes genital: Agente: Herpes simplex vírus (HSV--tipo 1 e HSV-tipo 2). o Epidemiologia: A causa mais comum de úlcera genital é a herpes genital, principalmente pelo sorotipo HSV-tipo2. A transmissão ocorre por contato sexual vaginal, oral ou anal, pela mucosa ou lesão infectante. Cerca de 50- 90% dos adultos têm anticorpos circulantes contra HSV-tipo1; o Classificação: Primo-infecção herpética: Geralmente subclínica e a paciente torna-se portadora assintomática. Nos casos sintomáticos, período de incubação de 4-7 dias, observam-se lesões eritematopapulosas de 1 a 3 mm em pequenos lábios, clitóris, grandes lábios ou fúrcula vaginal que evoluem para vesículas agrupadas com conteúdo citrino, que se rompem e dão origem a ulcerações muito dolorosas. Adenopatia inguinal bilateral pode estar presente em 50% dos casos. Quando presente, a cervicite herpética cursa com corrimento genital aquoso. A paciente pode apresentar ainda sintomas gerais como febre, mal estar e mialgia. Após 3 semanas o vírus entra em estado de latência em gânglios medulares ou de nervos cranianos. As lesões herpéticas são caracterizadas por vesículas agrupadas sobre uma base eritematosa, que evoluem para pequenas úlceras arredondadas, dolorosas, com bordas lisas. Posteriormente são recobertas por crostas sero-hemáticas até a cicatrização. A lesão tem regressão espontânea em 7-10 dias. Herpes recidivante: 90 – 60% dos pacientes tem recidiva em 1 ano por reativação dos vírus, que migram através dos nervos periféricos e promovem erupções em pele e mucosa. O quadro clínico é menos intenso do que na primo-infecção, sendo precedido por aumento da sensibilidade, prurido, queimação e “fisgadas” nas pernas, quadris e região anogenital. o Diagnóstico: clínico; laboratorial conta com a coleta do material para detecção direta de HSV; o Tratamento: aciclovir; Sífilis: Agente: Treponema pallidum, bactéria Gram-negativa, do grupo das espiroquetas. o Transmissão: por contato, principalmente sexual, com pacientes com lesões genitais ativas. Na sífilis congênita, ocorre por meio da via hematogênica. o Classificação: Sífilis primária: Conhecida por cancro duro. Possui incubação de 10- 90 dias, em média de 3 semanas; Inicialmente ocorre o aparecimento de lesão genital ulcerada, quase sempre única, indolor, de bordos endurecidos, de fundo limpo e rica em treponemas. -Além disso, ocorre adenopatia satélite inguinal bilateral, indolor. -A lesão dura cerca de 2 a 6 semanas e desaparece espontaneamente; Sífilis secundária: surge entre 6 semanas a 6 meses após cancro duro, manifestando lesões cutâneo-mucosas, como roséola sifilítica Maria Seiane - MEDICINA (exantema morbiliforme não pruriginoso), sífilis papulosa palmo-plantar, alopecia areata e lesões pápulo-hipertróficas nas mucosas ou pregas cutâneas (condiloma plano ou condiloma lata); - Pode vir acompanhada de febre, mal--estar, cefaleia, adinamia, aumento dos linfonodos palpáveis presentes em região cervical posterior, axilar, inguinal e femoral. Mais raramente observa-se acometimento hepático, quadros meníngeos e comprometimento ocular (uveíte). As lesões desaparecem entre 4-12 semanas, sem cicatrizes. - Nesse estágio da doença, há resposta imune significativa, com aumento da produção de anticorpos contra o treponema; Sífilis terciária: tardia, surge após 2 - 40 anos da infecção. Apresenta manifestações cutâneas (lesões gomosas e nodulares), neurológicas (tabes dorsalis, parestesia generalizada, meningite), ósseas (osteíte gomosa, periostite, osteíte esclerosante) e cardiovascular (aortite sifílica). o Diagnóstico: A microscopia de campo escuro é padrão-ouro no diagnóstico de sífilis, porém raramente está disponível; testes não treponêmicos: VDRL, é bastante sensível e utilizado como screening populacional (falsos positivos em portadores de doença autoimune) – positivo apenas 2-3 semanas após infecção. Se o teste for positivo realiza-se o teste treponêmicos (FTA-ABS), altamente especifico, fechando diagnóstico – reativo somente a partir de 15 dias; o Tratamento: penicilina G benzatina ou ceftriaxona ou azitromicina; na neurosifilis é a penicilina G cristalina; Cancro mole: Agente: Haemophilus ducreyi, coco bacilo gram negativo. o Epidemiologia: Houve declínio na sua incidência nos últimos anos. Porém, ainda se configura como terceira causa mais comum de úlceras genitais. o Transmissão: contato sexual; o Manifestações clínicas: Período de incubação de 3 a 5 dias. Apresenta-se com uma ou múltiplas ulceras dolorosas hiperemiadas, com bordas irregulares e eritemato-edematosas, fundo purulento ou irregular, recoberto por exsudato necrótico, amarelado, com odor fétido e com tecido granulomatoso ao fundo. Compromete a genitália externa, mas pode acometer também ânus e, raramente, cavidade oral. Pode ainda atingir os linfonodos inguino-crurais (bubão); o Diagnóstico: O diagnóstico é clínico, deve ser pensado após excluir sífilis e pelas características das lesões. o Tratamento: azitromicina; ciprofloxacina; PREVENÇÃO Manter uma boa higiene genital – evitar usar duchas vaginais, lenços umedecidos ou papel higiênico perfumado; Roupa intima de algodão; Usar preservativo durante a relação sexual; Manter uma boa alimentação; Evitar roupas apertadas. Vacinação; REFERÊNCIAS: SILVA FILHO, Agnaldo; LARANJEIRA, Claúdia. Manual SOGIMIG de ginecologia e obstetrícia. 6. ed. Rio de Janeiro: Med Book, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília-DF, 2015. Tuddenham, S., Ghanem, K.G. Approach to the patient with genital ulcers. Uptodate, 2020. Hicks, C.B., Clement, M. Syphilis: Screening and diagnostic testing. Uptodate, 2019.
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