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Conteúdo Direito Constitucional 1 - 2S-2015

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DIREITO CONSTITUCIONAL 1 
2S-20151 
 
Poder Constituinte 
 
1. Origem da ideia de Poder Constituinte 
 
- Abade Sieyès = “descoberta do conceito”. 
- “O que é o Terceiro Estado?” (1788/1789). 
 
2. Conceito e titularidade 
 
- É o poder criar norma constitucional. 
- A titularidade do Poder Constituinte pertence ao POVO (abade Sieyès apontava a nação). 
Parágrafo único do art. 1º da CF/88 diz que “Todo poder emana do povo...” 
 
 
2.1. Espécies de Poder Constituinte: 
 
a) Poder Constituinte Originário; 
b) Poder Constituinte Derivado. 
 
 
3. Poder Constituinte Originário 
 
- Poder Constituinte Originário (Inicial ou Inaugural) = é o poder de criar uma nova 
Constituição. O poder originário instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo 
a ordem jurídica anterior. 
 
 
3.1. Características do Poder Constituinte Originário: 
 
a) Inicial 
b) Autônomo 
c) Ilimitado juridicamente 
d) Incondicionado e Soberano 
e) Poder político 
f) Permanente 
 
 
3.2. Formas de expressão do Poder Constituinte Originário 
 
a) Outorga; 
b) Convenção. 
 
 
1 Roteiro de aula elaborado, principalmente, a partir dos livros Direito Constitucional Descomplicado de Vicente Paulo e Marcelo 
Alexandrino e Direito Constitucional Esquematizado, constantes do plano de ensino, juntamente com outras obras. 
4. Poder Constituinte Derivado 
 
- Também denominado Instituído, Constituído, Secundário, de Segundo Grau. 
- Instituído pelo Poder Originário, ele obedece às regras estabelecidas por ele. 
- É poder jurídico, e não político. 
 
- Basicamente, são 3 as espécies de poder derivado: 
 
a) Reformador; 
b) Decorrente; 
c) Revisor. 
 
4.1. Poder Constituinte Derivado Reformador 
 
- Capacidade de modificar a CF por meio de um procedimento específico, mediante emendas 
constitucionais (art. 59, I e 60 da CF/88). 
 
 
- Emendas: 
 
a) quorum qualificado de 3/5, em cada Casa, em dois turnos (60, parágrafo 2º); 
b) proibição de alteração da CF na vigência de estado de sítio, defesa ou intervenção federal (par. 
1º); 
c) cláusulas pétreas (art. 60, parágrafo 4º). 
 
 4.2. Poder Constituinte Derivado Decorrente 
 
A) Dos Estados-membros/DF 
 
- Poder Constituinte Derivado Decorrente: poder que os estados-membros e o DF têm de criar 
suas próprias constituições. Poder que decorre da capacidade de auto-organização estabelecida 
pelo poder constituinte originário. 
 
- Distrito Federal possui Lei Orgânica. 
 
- Limites do poder constituinte derivado decorrente são a CF/88 e seus princípios. 
 
 
B) Dos municípios 
 
- Municípios: possuem capacidade de auto-organização (art. 29, caput, da CF). 
 
- Pelo respeito devido aos dois graus de imposição constitucional, a maioria dos autores entende 
que Municípios não dispõe de poder constituinte decorrente. 
 
 
4.3. Poder constituinte derivado revisor 
 
- Chamado também “competência de revisão”. 
- Art. 3º do ADCT: em cinco anos da promulgação far-se-á revisão constitucional. Objetivo de 
atualização. 
- Revisão por uma única vez. 
- Produção de 6 emendas constitucionais de revisão, todas de 1994. 
 
Limitações ao poder de reforma 
 
 
 Congresso Nacional, no exercício do poder reformador, submete-se às limitações impostas 
pelo constituinte originário. 
 
1. Tipo de limitações 
 
1.1. Limitações temporais 
 
 Não adotadas pela CF; 
 
1.2. Limitações circunstanciais 
 
 Impedem modificação em dada circunstância, na qual liberdade do órgão reformador esteja 
ameaçada. Constituinte de 88 = proíbe reforma na vigência de estado de sítio, intervenção 
federal ou estado de defesa. (60, par.1º). 
 
 Intervenção que impede reforma é a da União em relação aos estados-membros. 
 
1.3. Limitações processuais (formais) 
 
 Dizem respeito aos procedimentos especiais da reforma. São de 4 ordens: 
 
a) relativas à iniciativa de apresentação; 
b) ligadas à deliberação; 
c) ligadas à promulgação; 
d) ligadas à vedação de reapreciação de proposta rejeitada ou prejudicada; 
 
1.3.1 Limitações relativas à iniciativa de apresentação (art. 60, I, II e III) 
 
 A iniciativa para a apresentação de emendas é mais restrita que a de leis ordinárias (art. 
61); 
 A proposta depende de no mínimo 1/3 dos membros da Câmara ou do Senado, do 
Presidente da República ou de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades 
da federação, manifestando-se cada uma delas pela maioria relativa de seus membros; 
 Municípios não dispõem de legitimidade para apresentação de projeto de emenda. 
 Ausência de iniciativa popular, ao contrário do que ocorre para leis ordinárias (art.61, 
parágrafo 2º). 
 Ausência de iniciativa privativa ou reservada. 
 
1.3.2. Limitações ligadas à deliberação sobre a proposta de emenda 
 
 Necessidade de quorum qualificado de 3/5 dos membros de cada casa; 
 Aprovação em 2 turnos de votação em cada casa; 
 Ausência de casa revisora. Não há prevalência da vontade da casa iniciadora. Se a segunda 
Casa alterar a proposta, ela terá de ser novamente votada na primeira Casa. 
 STF entende que somente é obrigatório o retorno à primeira Casa quando a modificação 
na segunda implicar alteração substancial (ADI 2.666/DF, rel. Min. Ellen Gracie). 
 É possível a prática da promulgação fracionada da parte da emenda incontroversa, desde 
que autônoma em relação à parte suprimida ou alterada. Tese aprovada pelo Supremo. 
 
1.3.3. Limitações ligadas à promulgação da emenda 
 
 As emendas são promulgadas pela Mesa da Câmara e do Senado Federal, com o respectivo 
número de ordem (CF, art. 60, parágrafo 3º). Não se submetem, portanto, à promulgação 
pelo Chefe do Executivo. 
 Ausência de sanção ou veto. 
 
1.3.4. Limitações ligadas à vedação de reapreciação de proposta rejeitada ou havida por 
prejudicada 
 
 Proposta rejeitada ou prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão 
legislativa (art. 60, parágrafo 5º), ao contrário do que ocorre para as leis ordinárias (art. 
67). 
 STF já decidiu, por maioria, que a rejeição do substitutivo do relator não obsta a 
reapreciação da matéria constante da proposta originalmente apresentada, não incidindo 
no caso a vedação do art. 60, parágrafo 5º. 
 
1.4. Limitações materiais 
 
 Excluem da possibilidade de reforma determinadas matérias. As limitações materiais se 
dividem em dois grupos: 
 
1.4.1. Limitações materiais explícitas 
 
 As matérias que não estão sujeitas à reforma constitucional estão previstas no parágrafo 4º 
do art. 60 da Constituição Federal. São as chamadas cláusulas pétreas: 
 
a) forma federativa de Estado; 
b) voto direto, secreto, universal e periódico; 
c) separação dos poderes; 
d) direitos e garantias individuais. 
 
1.4.2. Limitações materiais implícitas 
 
 Não estão textualmente previstas na Constituição, mas não podem ser objeto de reforma 
por razões teóricas implícitas. Nesse sentido, o poder reformador não pode modificar: 
 
a) a titularidade do poder constituinte originário; 
b) a titularidade do poder constituinte derivado (transferindo, por exemplo, a atribuição 
reformadora a outro órgão); 
c) o próprio processo de modificação da Constituição (revisão e reforma, art. 60 e 3 do 
ADCT). Por exemplo, facilitando sua implementação. 
 
1.4.3. “Não será objeto de deliberação” 
 
 Art. 60, parágrafo 4º, utiliza a expressão “não será objeto de deliberação”. STF entende 
que proposta atentatória a cláusula pétrea não deve sequer ser objeto de deliberação no 
Congresso Nacional. 
 Congressistapodem entrar com um mandado de segurança para trancar a tramitação, uma 
vez que a simples deliberação já é inconstitucional. 
 
1.4.4. “Tendente a abolir” 
 
 A expressão “tendente a abolir” indica que não há necessidade de que a emenda suprima 
alguma das cláusulas pétreas. Basta uma simples tendência. 
 A deliberação das matérias arroladas no art. 60, parágrafo 4º, por si só, não é 
inconstitucional, mas só a proposta que tende a suprimir uma das cláusulas pétreas. Ex. 
EC 45/2004 = tratou de direitos individuais, acrescentando mais um inciso. 
 “Direitos e garantias individuais” são só os do art. 5º da CF/88? STF entende que não. 
Garantias tributárias, por exemplo, são pétreas também. 
 Vedação da dupla revisão (tese de Jorge Miranda, acatada por Manoel Gonçalves Ferreira 
Filho). 
 
Evolução constitucional do Brasil (Parte 1) 
 
 
1. Constituição de 1824 
 
 Constituição de 1824 é outorgada em 25 de março de 1824. 
 Trata-se do texto constitucional mais duradouro texto de nossa história (65 anos). 
 
 
1.1. Características: 
 
 Forte influência do liberalismo clássico e da Constituição francesa de 1814. 
 Forma de governo: monarquia hereditária, constitucional e representativa. 
 Forma de Estado: unitário, com centralização administrativa e política. 
 Transforma as antigas capitanias hereditárias em províncias subordinadas ao poder central. 
 Religião oficial: católica apostólica romana. Todas as outras religiões eram permitidas em 
seu culto doméstico ou particular, em templos apropriados para isso. 
 Organização de Poderes: adotou-se a teoria de Benjamin Constant, com a separação 
quadripartida (poder legislativo, executivo, judiciário e moderador). 
 Poder Legislativo: exercido pela Assembleia Geral, composta por: a) Câmara dos 
Deputados (eletiva e temporária); b) Câmara dos Senadores, ou Senado (vitalícios e 
nomeados pelo imperador após envio de lista tríplice pelas províncias). 
 Eleições para o Legislativo: indiretas. 
 Voto: censitário. Só poderiam votar homens maiores de 25 anos, com renda mínima de 
100 mil-réis por ano. Só poderia se candidatar a deputado quem tivesse renda mínima de 
400 mil-réis, e para Senador a exigência era de 800 mil-réis. 
 Poder Moderador: chave de toda a organização política (art. 98), delegado 
exclusivamente ao Imperador como Chefe Supremo da Nação e seu Primeiro 
Representante, para que incessantemente vele sobre a independência, harmonia e 
equilíbrio dos demais poderes. 
 Constituição semi-rígida, nos termos do art. 178. 
 Liberdades públicas: A Constituição de 1824 continha rol de direitos civis e políticos 
(legalidade, liberdade de opinião, religião, de ir e vir), mas mantinha escravidão. O inciso 
XIX abolia “os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais penas cruéis.” 
 
2. Constituição de 1891 
 
 Decreto nº 1 de 15/11/1889 declara a República no Brasil. 
 Províncias se tornam estados integrantes de uma federação, os Estados Unidos do Brasil. 
 Promulgada em 24/02/1891. 
 
2.1. Características: 
 
 Consagra o sistema presidencialista. 
 Forma de governo: republicana, em substituição à monarquia. 
 Forma de estado: federalista, em substituição ao Estado unitário. As províncias se 
transformam em estados-membros da Federação. 
 Fim da religião oficial. O Brasil se transforma num “Estado laico, leigo ou não 
confessional”. O Estado reconhece todas as religiões e o casamento civil. Fim dos 
cemitérios religiosos, que passam à administração municipal. Proibição do ensino religioso 
nas escolas públicas. Não se invoca mais no preâmbulo a invocação ao nome de Deus. 
 Extinção do Poder Moderador com retorno à clássica tripartição de Montesquieu (art. 15). 
 Poder Legislativo: exercido pelo Congresso Nacional, composto por Câmara dos 
Deputados e Senado Federal. 
 Voto: adota o voto direto, mas exclui os mendigos e analfabetos. 
 Declaração de direitos: foi aprimorada, abolindo-se a pena de galés2, a de banimento e a 
de morte, ressalvadas, neste último caso, as disposições da legislação militar em tempo de 
guerra. Proteção às clássicas liberdades públicas. O parágrafo 2º do art. 72 diz que “a 
 
2 Decreto 774, de 20.09.1890, expedido pelo governo provisório da República, já havia: a) abolido a pena de galés; b) reduzido a 30 
anos as penas perpétuas; c) mandado computar a prisão preventiva na execução; d) estabelecido a prescrição das penas. O Código 
criminal do Império (1830) admitia: a) morte pela forca (art. 38), aplicada contra cabeças de insurreição (art. 113 e 114) e em 
determinados homicídios; b) a pena de galés, que era aplicada em comutação à pena de morte para crimes de perjúrio, pirataria ou 
ofensa física irreparável da qual resultasse aleijão ou deformidade. Os condenados eram obrigados a andar com calceta no pé e corrente 
de ferro, além de serem obrigados a trabalhos públicos; c) pena de prisão para a quase totalidade dos crimes; d) a de banimento, que 
privava o condenado de direitos de cidadão, proibindo a residência no Império; e) a de degredo, que obrigava o condenado a residir em 
determinado local por certo tempo (art. 51), para os que cometessem estupro de parente ou para quem sem legitimidade exercesse 
comando militar; f) a de desterro, que consistia na saída do condenado do local onde foi praticado o delito, aplicável aos conspiradores, 
aos que abusassem da autoridade, crimes de estupro e de sedução de mulheres menores de 16 anos; g) perda de exercício de direitos 
políticos (acessória às galés, à prisão etc); h) perda de emprego público, para os servidores que cometessem crimes ligados à 
administração pública; i) pena de açoites, que só podia ser aplicada aos escravos e desde que não condenados à pena capital, ou de galés, 
ou ainda por crime de inssurreição; j) pena de multa. Para mais detalhes, veja SOUZA, Carlos Fernando Mathias, disponível em 
http://www.unb.br/fd/colunas_Prof/carlos_mathias/anterior_16.htm, citado por LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 
14.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p.98-99. 
República não admite privilégios de nascimento, desconhece foros de nobreza e extingue 
as ordens honoríficas existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem como os 
títulos nobiliárquicos e de conselho.” 
 Garantias constitucionais: previsão, pela primeira vez em sede constitucional, do habeas 
corpus. 
 
3. Constituição de 1934 
 
 Com a revolução de 1930, Vargas ascende ao poder e põe fim à chamada Primeira 
República. 
 O objetivo da Revolução era o de pôr fim ao domínio das oligarquias e à fraude eleitoral 
institucionalizada. Contribuíram para a eclosão do movimento, o crash da Bolsa de valores 
de Nova York, a ascensão do tenentismo no Brasil e as mobilizações operárias, recorrentes 
na história da Primeira República. 
3.1. Características: 
 
 CF/1934 sofreu forte influência da Constituição alemã de Weimar, de 1919, reconhecendo, 
pela primeira vez, os direitos fundamentais sociais (ou de 2ª geração). Marco na transição 
de um regime de democracia liberal, de cunho individualista, para a chamada democracia 
social, preocupada com a igualdade material entre as pessoas. Início do processo de 
ampliação do rol das matérias constitucionais (constitucionalização). A CF/34 tem mais 
do que o dobro dos artigos da CF/1891. 
 Teve curtíssima duração. 
 Manutenção da estrutura de Estado: república, federação, divisão de poderes, 
presidencialismo e regime representativo. Os poderes da União foram ampliados, 
discriminando-se a distribuição de receitas entre os entes públicos. 
 Mantida inexistência de religião oficial. Passou-se a admitir o casamento religioso com 
efeitos civis.Facultou-se, ainda, o ensino religioso na escola pública. 
 Organização dos Poderes: manutenção da tripartição clássica. 
 Declaração de direitos: constitucionaliza-se o voto feminino, o voto secreto (australiano). 
Mantém vários direitos clássicos, inovando na parte social (ordem econômica e social, 
família, educação e cultura e segurança nacional). 
 Garantias constitucionais: previsão, pela primeira vez, do mandado de segurança (art. 113, 
n.33) e da ação popular (art. 113, n.38). 
 
4. Constituição de 1937 
 
 Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas dissolve a Câmara e o Senado, revoga a 
Constituição de 1934 e outorga a Carta de 1937, dando início ao período ditatorial do 
Estado Novo (1937-1945). 
 A Carta tinha inspiração fascista, autoritária, e permitia forte concentração de poderes nas 
mãos do Presidente. Chamada “a Polaca”, em referência à Constituição polonesa de 1935, 
que a inspirou. 
 A Constituição de 1937 declarava em todo o país o “estado de emergência”. 
 Fechava o Parlamento e permitia amplo domínio do Judiciário pelo Executivo. 
 O federalismo foi abalado pela nomeação de interventores. 
 Os direitos fundamentais foram enfraquecidos, especialmente pela atuação da “Polícia 
Especial” e pelo “DIP”, Departamento de Imprensa e Propaganda. 
 Os partidos políticos foram extintos. 
 
4.1. Características: 
 
 Mantém a república como forma de governo e o federalismo como forma de Estado, 
embora na prática tenham sido afrontadas as autonomias estaduais. Os vereadores e 
prefeitos eram nomeados pelos interventores federais. 
 Mantém estado laico. 
 Mantém, formalmente, a separação de Poderes. 
 Legislativo: nos termos do art. 38, era exercido pelo Parlamento Nacional, com a 
colaboração do Conselho da Economia Nacional e do Presidente da República. O 
Parlamento deveria ser composto pela Câmara dos deputados e pelo Conselho Federal. O 
Senado ficou extinto no Estado Novo. No entanto, nos termos do art. 178 ficaram 
dissolvidos a Câmara, o Senado, as Assembleias estaduais e as Câmaras municipais. 
Enquanto não se reunisse o Parlamento, o Presidente governaria mediante decretos-leis. 
 Executivo: ficava estabelecida a eleição indireta para a escolha do presidente, que 
cumpriria mandato de 6 anos. 
 Judiciário: composto pelo Supremo, pelos juízes e Tribunais dos estados, do DF e 
Territórios, pelos juízes e tribunais militares. A Justiça Eleitoral foi extinta. 
 Declaração de direitos: não previa o mandado de segurança nem a ação popular. Não tratou 
dos princípios da irretroatividade das leis e da reserva legal. Restrição à liberdade de 
expressão por conta da censura prévia. Poderia ser aplicada pena de morte para crimes 
políticos e nas hipóteses de homicídio cometido por motivo fútil e com extremos de 
perversidade. 
 
Evolução constitucional do Brasil (Parte 2) 
 
 
1. Constituição de 1946 
 
 O fim da Segunda Guerra possibilita a redemocratização do Brasil 
 CF/1946 cumpriu tarefa redemocratizadora e proporcionou condições para o 
desenvolvimento do país durante as duas décadas seguintes. Na ordem econômica, 
procurou conciliar o princípio da livre iniciativa com o da justiça social. 
 
1.1. Características: 
 
 Forma de governo e de Estado: República Federativa. Prestígio do municipalismo. 
 Capital: o art. 4º do ADCT previa transferência da capital para o planalto central. 
 Inexistência de religião oficial: o preâmbulo, todavia, volta a mencionar o nome de Deus. 
 Organização dos Poderes: restabelecimento da teoria clássica de Montesquieu. 
 Legislativo: nos termos do art. 37, exercido pelo Congresso Nacional, que se compunha 
de Câmara e Senado. Volta dos partidos políticos. 
 Declaração de direitos: mandado de segurança e a ação popular foram restabelecidos no 
texto constitucional. Retoma o rol dos direitos individuais da CF/1934. Consagra-se o 
princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 141, par. 4º). Vedação da pena de morte 
(salvo caso de guerra), de banimento, de confisco e a perpétua (art. 141, par. 31). 
Reconhecimento do direito de greve (art. 158). Manutenção das garantias conquistadas 
pelos trabalhadores durante o Estado Novo. 
 
 
2. Constituição de 1967 
 
 Após golpe civil-militar de 1964, militares assume comando do país. 
 Inicia-se o regime dos Atos Institucionais (AIs). 
 O AI-2 estabelece eleições indiretas para Presidente e Vice da República. O AI-3 
estabeleceu eleições indiretas em âmbito estadual. 
 Constituição de 1967 foi outorgada em 24 de janeiro de 1967. Teve curta duração: em 
30.10.1969 entra em vigor a EC n.1/69. 
 
a. Características: 
 
 Sendo fortemente inspirada pela Carta de 1937, há na Constituição de 1967 uma forte 
preocupação com a segurança nacional. 
 Estrutura de Estado: República e Federalismo (nominal, pois a CF/67 dá um duro golpe 
no federalismo). 
 Organização dos Poderes: embora formalmente adote a teoria da Separação dos Poderes, 
observou-se na prática uma tendência de centralização político-administrativa e 
fortalecimento do Executivo. 
 Poder Legislativo: Câmara e Senado. 
 Poder Executivo: Presidente eleito de maneira indireta pelo Colégio Eleitoral. O Presidente 
legislava por decretos-leis, que poderiam ser editados em casos de urgência e interesse 
público relevante, e desde que não resultasse aumento de despesa sobre as seguintes 
matérias: a) segurança nacional; b) finanças públicas. 
 Declaração de direitos: apresentava possibilidades exageradas de suspensão de direitos 
políticos por 10 anos, nos termos do art. 151. Redução dos direitos individuais, mas maior 
definição dos direitos dos trabalhadores. 
 
3. O AI-5: 
 
 Trata-se do mais violento ato baixado pela ditadura militar. Foi editado em 13.12.68 e 
durou até sua revogação pela EC 11/78, de 17.10.1978. 
 Formalmente, mantinha a CF/67 e as Constituições estaduais, com as modificações do AI-
5. 
 Presidente poderia decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias 
Legislativas e Câmaras de Vereadores, por ato complementar em estado de sítio ou fora 
dele, só voltando a funcionar quando convocados pelo Presidente da República. Decretado 
o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente fica autorizado a legislar em 
todas as matérias e exercer as atribuições previstas nas Constituições ou na Lei Orgânica 
dos Municípios. 
 Presidente poderia decretar intervenção sem limitações constitucionais. 
 Presidente da República poderia suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos 
pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais. 
 Suspensão das garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e 
estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo. 
 O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos 
quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública. 
 Suspensão da garantia de habeas corpus nos casos de crimes políticos, contra a segurança 
nacional, a ordem econômica e social e a economia popular. 
 Exclusão de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com o AI-5 
(art. 11). 
 Já a partir de 13.12.68, Congresso Nacional ficou fechado, por 10 meses. 
4. Constituição de 1969 (EC n. 1 à CF/67) 
 Emenda serviu como mecanismo de outorga. Aprovada quando Congresso estava fechado, 
por outorga de uma Junta Militar que governava desde o afastamento de Costa e Silva, por 
problemas de saúde. 
 Como um novo poder constituinte originário, EC 01/69 constitucionalizava os AIs, 
inclusive o AI-5. 
 Sofreu várias emendas, até que com a Emenda 26, de 27.11.1985, foi convocada a 
Assembleia NacionalConstituinte, de cujos trabalhos resultou a CF/1988. 
5. Origens da Constituição de 1988 
 Durante o governo de Ernesto Geisel (1974-1978), uma série de acontecimentos vão 
precipitar alguma mobilização popular e dar início a um processo de abertura política. 
 
 O governo decreta então o Pacote de junho de 1978: 
 
a) revogando totalmente o AI-5; 
b) suspendendo medidas de cassação de direitos políticos com base no AI-5; 
c) prevendo a impossibilidade de suspensão do Congresso. 
 
 Era o início do processo de redemocratização, que viria a ser impulsionado por outras 
medidas: 
 
a) Lei de Anistia (Lei 6.6.83/79, que concedia anistia para todos os que praticaram crimes 
políticos e conexos); 
b) Reforma Partidária (Lei 6.767/79, que acabou com o bipartidarismo, permitindo o 
surgimento do PDS, PMDB, PP, PT, PDT e PTB); 
c) EC 15/80, que estabeleceu eleições diretas em âmbito estadual; 
d) PEC 5/83, emenda das “Diretas Já!”, do deputado Dante de Oliveira, propondo, pela 
primeira vez em quase 20 anos, eleições diretas para Presidente da República. Apesar 
da pressão popular, a PEC foi rejeitada em 25.04.1985; 
e) Colégio Eleitoral elege indiretamente, depois de 20 anos, um civil: Tancredo Neves. 
 
 Sarney expede Decreto n. 91.450/85, instituindo uma Comissão Provisória de Estudos 
Constitucionais, composta de 50 membros para futura colaboração com os trabalhos da 
Assembleia Nacional Constituinte. 
 Essa comissão, conhecida como Comissão Afonso Arinos (nome do seu presidente) 
entregou um anteprojeto de Constituição, mas o texto foi rejeitado por Sarney, entre outras 
razões, porque adotava o parlamentarismo. 
 Procurando cumprir o mandamento da EC 26, de 27.11.1985, que determinou a 
convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, ela foi instalada em 01.02.1987, 
sob a presidência do Ministro do STF José Carlos Moreira Alves. 
 Em 05.10.1988 é promulgada a Constituição Federal, marco da redemocratização do país. 
 
Constituição de 1988: características e estrutura 
 
 
1. Características: 
 
 A CF/88 é democrática e liberal. Sofreu forte influência da Constituição portuguesa de 
1976. 
 
 Principais características: 
 
a) Forma de governo: republicana, confirmada pelo plebiscito do art. 2º do ADCT. 
b) Sistema de governo: presidencialista, confirmado pelo plebiscito do art. 2º do ADCT. 
c) Forma de Estado: federação. 
d) Brasília é a capital federal. 
e) Inexistência de religião oficial. 
f) Tripartição dos Poderes. 
g) Legislativo bicameral. 
h) Executivo exercido por presidente, com mandato de 4 anos. 
i) Organização do Poder Judiciário (art. 92). 
j) Constituição de tipo rígida. 
k) Declaração de direitos = defesa de direitos individuais e coletivos, ampliação dos direitos 
dos trabalhadores, mandado de injunção, mandado de segurança coletivo, habeas data, capítulo 
específico sobre meio-ambiente, ação civil pública como função do MP, defesa dos direitos da 
populações indígenas pelo MP, previsão da Defensoria Pública. 
 
2. Estrutura da CF/1988 
 
- CF/88 = 3 partes: 
 
a) preâmbulo; 
 
b) parte dogmática (9 títulos): 
 
Título I – Dos Princípios Fundamentais (art. 1 a 4); 
Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais (art. 5 a 17); 
Título III – Da Organização do Estado (art. 18 a 43); 
Título IV – Da Organização dos Poderes (art. 44 a 135); 
Título V – Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas (art. 136 a 144); 
Título VI – Da Tributação e do Orçamento (art. 145 a 169); 
Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira (art. 170 a 192); 
Título VIII – Da Ordem Social (art. 193 a 232); 
Título IX – Das Disposições Constitucionais Gerais (art. 233 a 250). 
 
c) disposições transitórias. 
 
2.1.Preâmbulo 
 
- Instituição de um Estado Democrático, destinado a assegurar os seguintes valores supremos 
de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e 
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias: 
 
a) o exercício dos direitos sociais e individuais; 
b) a liberdade; 
c) a segurança; 
d) o bem-estar; 
e) o desenvolvimento; 
f) a igualdade; 
g) a justiça. 
 
- Muito se discute sobre a eficácia jurídica do preâmbulo. Três são posições doutrinárias: 
 
a) irrelevância; 
b) plena eficácia; 
c) relevância jurídica indireta = preâmbulo orienta identificação das características da 
Constituição. 
 
- STF = entendimento de que o preâmbulo não constitui norma central, pois se situa no domínio 
da política (e não do Direito), refletindo posição ideológica do Constituinte (Carlos Velloso, ADI 
2.076-5). MS 24.645/DF = Celso de Mello = preâmbulo não impõe qualquer limitação de ordem 
material ao poder reformador. 
 
- Conclusão: preâmbulo não se situa no âmbito do Direito Constitucional, não tem força 
normativa, não é norma de observância obrigatória pelos Estados, DF e municípios, não serve de 
parâmetro para declaração de inconstitucionalidade das leis, não constitui limitação à atuação do 
poder constituinte derivado. Sem embargo, a doutrina pátria costuma reconhecer ao preâmbulo 
da CF/88 a função de diretriz interpretativa, por auxiliar na identificação dos princípios e valores 
primordiais que orientaram o constituinte originário. 
 
Princípios fundamentais 
 
1. Princípios fundamentais 
 
 Previstos no Título I, trata-se dos princípios fundamentais do Estado brasileiro. 
 Nos quatro artigos, define-se forma de Estado, governo e regime político, separação de 
poderes. Também os objetivos e valores do Estado. 
 No art. 1º estão definidos: a) a forma de Estado; b) a forma de governo; c) regime político. 
 Princípio democrático. 
 
1.1. Fundamentos da República (art. 1º): 
 
 São os valores maiores, que orientam e estruturam o Estado enquanto comunidade política. 
São eles: 
 
a) Soberania; 
b) Cidadania; 
c) Dignidade da pessoa humana; 
d) Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
e) Pluralismo político. 
 
1.2. Poderes da República Federativa do Brasil 
 
 O art. 2º estabelece que são poderes harmônicos e independentes entre si, o Legislativo, o 
Executivo e o Judiciário. 
 Trata-se do princípio da separação de poderes ou da divisão funcional. O Executivo tem 
funções de governo e administração, o Legislativo tem por função típica a elaboração de 
leis e o Judiciário o exercício da jurisdição. 
 
 
1.3. Objetivo fundamentais (art. 3º) 
 
 São objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
 
a) construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
b) garantir o desenvolvimento nacional; 
c) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais3; 
d) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação. 
 
 
 A função dos objetivos fundamentais é assegurar a igualdade material entre os brasileiros, 
possibilitando a todos iguais oportunidades para alcançar o pleno desenvolvimento de sua 
personalidade. 
 
1.4. Princípios das relações internacionais 
 
 Previstos no art. 4º: 
 
a) Independência nacional; 
b) Prevalência dos direitos humanos; 
c) Autodeterminação dos povos; 
 
3 EC 31/2000 e Lei Complementar 111 de 2001 instituem o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, para vigorar até 2010. A EC 
67 o prorroga por prazo indeterminado. 
d) Não-intervenção; 
e) Igualdade entre os Estados; 
f) Defesa da paz; 
g) Solução pacífica dos conflitos; 
h) Repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
i) Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
j) Concessãode asilo político. 
 
 O parágrafo único do art. 4º prevê que a República buscará a integração latinoamericana. 
 
Teoria Geral dos Direitos Fundamentais 
 
 
 Título II da CF/88 = Direitos e Garantias Fundamentais (5 Capítulos): 1)Direitos 
individuais e coletivos; 2) Direitos sociais; 3) Direitos de nacionalidade; 4) Direitos 
políticos; 5) Direitos relacionados à participação em partidos políticos, sua existência e 
organização. 
 
1. Origem dos direitos fundamentais 
 
a) Liberalismo/limitação ao poder do Estado (direitos negativos, liberdades negativas, 
direitos de defesa) – sécs. XVIII e XIX. Direitos fundamentais de primeira geração. 
Inspirados pelo ideal de liberdade. Ex. direito à vida, à liberdade, à propriedade, à 
liberdade de expressão, à participação política e religiosa, à inviolabilidade de domicílio, 
à liberdade de reunião etc. 
 
b) Século XX = reconhecimento dos direitos fundamentais de segunda geração, que 
exigem uma prestação positiva por parte do Estado. Inspirados pelo ideal de igualdade, 
são os chamados direitos econômicos, sociais e culturais (saúde, educação, trabalho, 
habitação, previdência social, assistência social). Direitos positivos, direitos do bem-estar, 
liberdades positivas ou direitos dos desamparados. 
 
c) Direitos de terceira geração, inspirados pelos princípios da fraternidade ou 
solidariedade, atingem toda a coletividade. Ex. Direito ao meio-ambiente ecologicamente 
equilibrado, defesa do consumidor, direito à paz e à autodeterminação dos povos, ao 
patrimônio comum da humanidade, direito ao desenvolvimento. Titularidade coletiva ou 
difusa, e não de indivíduos específicos. 
 
 Direitos de quarta, quinta e sexta geração? 
 
 As novas gerações de direitos se integram nas já existentes, permitindo uma releitura das 
anteriores a partir das novas. Ex. direito de propriedade, que era absoluto no Estado liberal, 
passou a ser limitado no Estado Social. 
 
2. Direitos humanos X fundamentais 
 
 A concepção de direitos humanos alicerça-se em bases jusnaturalistas e filosóficas. 
 Os direitos fundamentais, ao contrário, são os direitos humanos positivados em textos 
normativos dos Estados. 
 
3. Direitos e garantias fundamentais 
 
 Direitos são bens em si mesmo considerados, declarados como tais nos textos normativos. 
Garantias são instrumentos de proteção dos direitos. 
 
4. Características dos direitos fundamentais 
 
 São características dos direitos fundamentais: 
 
a) Imprescritibilidade; 
b) Inalienabilidade; 
c) Irrenunciabilidade; 
d) Inviolabilidade (por parte de normas ou atos do Poder Público); 
e) Universalidade; 
f) Efetividade; 
g) Interdependência (reafirmada pela Conferência de Direitos Humanos de Viena, de 
1993); 
h) Complementaridade. 
 
 
 J. J. Gomes Canotilho entende que os “direitos fundamentais” são núcleos abertos, capazes 
de abranger situações não previstas pelo constituinte (conjunto aberto e dinâmico). Nesse 
sentido, não há lista taxativa de direitos fundamentais. 
 O parágrafo segundo do art. 5º da CF/88 adota esta idéia ao proclamar que “os direitos e 
garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos 
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa 
do Brasil seja parte.” 
 
5. Destinatários 
 Inicialmente admitia-se que o único destinatário seria a pessoa natural, o indivíduo. Com 
o tempo, reconhecimento se estendeu às pessoas jurídicas. Modernamente, Constituições 
asseguram ao próprio Estado alguns direitos fundamentais. 
 Há prerrogativas que são dos três, como a legalidade e a propriedade; outras pertencem 
somente às pessoas naturais e jurídicas, como a inviolabilidade do domicílio e a assistência 
judiciária; por fim, há aquelas que são só das pessoas naturais (locomoção), só das pessoas 
jurídicas (liberdade de associação, direitos dos partidos políticos), e só do Estado (direitos 
de requisição administrativa, autonomia política etc). 
 
 
6. Direitos fundamentais: eficácia vertical e horizontal 
 
 Os direitos fundamentais devem ser observados primariamente pelo Poder Público 
(eficácia vertical). A eficácia vertical, além de ser imediata, possibilita também efeitos 
indiretos. Os direitos fundamentais têm uma dimensão proibitiva (e voltada para o 
legislador, administrador ou juiz), que não podem editar medidas violadoras de direito 
fundamental, e também uma dimensão positiva, devendo o legislador, administrador e juiz 
adotar medidas que promovam os direitos fundamentais. 
 A doutrina costuma ressaltar a eficácia irradiante dos direitos fundamentais: aos 
Poderes constituídos (Legislativo, Executivo e Judiciário) cabe atuar no sentido da 
promoção e proteção dos direitos fundamentais do homem. 
 
 Os direitos fundamentais também podem ser opostos aos particulares? Modernamente, os 
tribunais vêm admitindo a eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Sendo assim, aos 
particulares também cabe atuar no sentido de respeito aos direitos fundamentais. Vários 
precedentes do STF apontam para essa tendência de aplicar a teoria da eficácia horizontal 
dos direitos fundamentais. 
 
 A teoria é utilizada especialmente para aquelas instituições privadas que têm um certo 
caráter público (clubes, associações, relações de trabalho). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Direitos fundamentais têm natureza relativa, ou seja, não são direitos absolutos que podem 
se sobrepor à ordem pública ou a outros direitos fundamentais. Ex. liberdade de expressão 
não pode chegar a ferir a honra ou imagem de alguém; liberdade de locomoção não 
significa que o cidadão pode ir onde quer sem quaisquer restrições; liberdade de associação 
não significa que é lícita a associação ao tráfico de drogas. É comum que a liberdade de 
informação e de imprensa se choquem com o direito à privacidade (colisão de direitos 
fundamentais). 
 
 Não há hierarquias entre os direitos fundamentais. 
 É importante que quando haja conflito sempre prevaleça o interesse público. 
 O Estado pode impor limitações aos direitos fundamentais. Não se trata de violação, mas 
regramento para que possam ser exercidos de acordo com as diretrizes estabelecidas pela 
própria Constituição. Há, portanto, um limite para o estabelecimento dos limites. 
 
7. Aplicabilidade imediata 
 
 Normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata (art. 5º, 
parágrafo primeiro). São normas preceptivas, e não programáticas. No entanto, há normas 
relativas a direitos fundamentais que não são autoaplicáveis (art. 6º). 
 
8. Tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos 
 
 Estabelece a Constituição no parágrafo 3º do art. 5º que “os tratados e convenções 
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso, 
em dois turnos, por 3/5 dos votos serão equivalentes às emendas constitucionais.” 
- Dignidade da Pessoa 
Humana 
- Máxima efetividade dos 
direitos fundamentais 
- Art. 1º, III 
- Art. 5º, parágrafo primeiro. 
- Autonomia da 
vontade 
- Livre Iniciativa 
- Art. 1º, IV 
- Art. 170, caput 
 Passam então a ter status constitucional, situando-se no mesmo plano hierárquico das 
demais normas constitucionais. Isso significa que: 
 
a) a legislação ordinária posterior deve respeitá-los como normas constitucionais; 
b) só podem ser modificados pelo procedimento legislativo rígido previsto no art. 60; 
c) poderão ser declarados inconstitucionais se ferirem cláusula pétrea. 
 
 Em 2008 foi incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro com status de emenda 
constitucional a Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, assinadaem 30 
de março de 2007 em Nova York, e aprovada pelo Decreto Legislativo 186/2008. 
 
9. Tribunal Penal Internacional 
 
 A CF, no art. 5º, parágrafo 4º, diz que “o Brasil se submete à jurisdição do Tribunal Penal 
Internacional.” 
 Abrandamento do princípio da soberania, em respeito aos direitos humanos. 
 Tribunal Penal Internacional é um organismo internacional criado pelo Estatuto de Roma 
para julgar as pessoas acusadas de cometerem graves violações aos direitos humanos.4 São 
graves violações: 
 
a) crimes de genocídio; 
b) crimes contra a humanidade; 
c) crimes de guerra; 
d) crime de agressão de um país a outro. 
 
 A jurisdição da corte não se sobrepõe à dos Estados soberanos, sendo complementar 
(princípio da complementariedade). TPI só atua quando o Estado competente se mostre 
politicamente incapaz de realizar o julgamento. 
 
Direitos individuais e coletivos: Direito à vida 
 
1. Fundamentos Constitucionais 
 
 O art. 5º da CF trata dos “direitos e deveres individuais e coletivos”. O dispositivo começa 
enunciando direito de igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza. Assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país, a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos dos 
incisos seguintes. 
 
 Direitos individuais: 
 
a) vida; 
b) intimidade; 
c) igualdade; 
d) liberdade; 
e) propriedade. 
 
4 O Estatuto de Roma foi aprovado em 17/07/98. Assinado pelo Brasil em 07.02.2000 e aprovado pelo Congresso mediante Decreto 
Legislativo 112, de 06.06.2002. Promulgação por meio do Decreto 4.388 de 25.09.2002, publicado no DOU em 26.09.2002. 
 
 Direitos coletivos: alguns deles estão no art. 5º (liberdade de reunião, associação, mandado 
de segurança coletivo), mas outros em outros artigos (direito à moradia, direito de greve, 
direito dos trabalhadores e empregadores na participação dos colegiados de órgãos 
públicos, direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado etc). 
 
 Deveres individuais e coletivos: conservadores da Constituinte queriam uma declaração de 
deveres, mas ela é desnecessária, devendo cada um atuar com respeito aos direitos dos 
outros. 
 
2. Direito à vida 
 
 Previsto no caput do art. 5º da CF/88. 
 A Constituição protege a vida no seu sentido amplo: biológico (físico), intelectual, 
psicológico e espiritual. 
 A vida é a fonte primária de todos os outros bens jurídicos. A consagração do direito à vida 
nas constituições é uma das grandes conquistas da nossa civilização. 
 
 O direito à vida abrange: 
 
a) direito de não ser morto (direito à integridade físico-corporal); 
b) direito a ter uma vida digna (direito à existência, direito à integridade moral). 
 
2.1. Direito de não ser morto / Direito à integridade física: 
 
 Proibição da pena de morte, salvo em caso de guerra declarada (art. 84, XIX c.c. art. 5, 
XLVII, a). Pena de morte não pode ser introduzida por emenda constitucional (art. 60, par. 
4º, IV). 
 Com relação ao direito à integridade física, é possível questionar se é lícito doar partes do 
próprio corpo. Diz o art. 199, par. 4º da CF/88 que “lei definirá as condições e requisitos 
que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, 
bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue, vedado, porém, todo tipo de 
comercialização.5 
 
 Eutanásia: morte que alguém provoca em outra pessoa já em estado agônico ou pré-
agônico, com o fim de liberá-la de gravíssimo sofrimento, em conseqüência de doença tida 
como incurável, muito penosa ou tormentosa (homicídio piedoso). CF/88, ao assegurar o 
direito à vida, proíbe a prática da eutanásia, mesmo com o consentimento expresso da 
vítima. 
 Ortotanásia: desligamento dos equipamentos que mantém artificialmente vivo paciente 
clinicamente já morto. Neste caso o doente já está em processo natural da morte e recebe 
uma contribuição do médico para que este estado siga seu curso natural. Assim, ao invés 
 
5 Trata-se da lei 9.434/97, regulamentada pelo Decreto 2.268/97, que institui o Sistema Nacional de Transplante – SNT, modificada 
pela Lei 10.211/01. Só se admite a disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humana em vida ou post mortem, para fins 
de transplante ou tratamento. Para os efeitos da lei, não se incluem entre os tecidos o sangue, o esperma e o óvulo. A lei também só 
admite a doação quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo 
do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade. 
de se prolongar artificialmente o processo de morte (distanásia), deixa-se que este se 
desenvolva naturalmente.6 
 Aborto: CF/88 não enfrentou diretamente o tema. Houve 3 tendências na Constituinte: uma 
queria assegurar direito à vida desde a concepção; outra entendia que a condição de sujeito 
de direito se atingia com o nascimento com vida, sendo a vida intrauterina responsabilidade 
da mulher; a terceira admitia que a CF não tomasse partido na disputa. 
 Aborto de feto anencefálico: Em 11.04.2012, no julgamento na ADPF 54, o Supremo 
Tribunal Federal considerou inconstitucional a interpretação de que a interrupção de 
gravidez de feto anencefálico seja conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, I e II do 
Código Penal. 
 Pesquisa com células-tronco embrionárias: Na ADI 3510, o STF reconheceu como 
constitucional a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias, sem que isso 
significasse violação do direito à vida (reconhecimento de constitucionalidade do art. 5º 
da Lei 11.105/2005 (Lei da Biossegurança).7 O voto do relator asseverou que as pessoas 
físicas ou naturais seriam apenas as que sobrevivem ao parto, dotadas do atributo a que o 
art. 2º do Código Civil denomina personalidade civil, assentando que a Constituição 
Federal, quando se refere à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), aos direitos da pessoa 
humana (34, VII, b), ao livre exercício dos direitos individuais (art. 85) e aos direitos e 
garantias individuais (art. 60, par.4º, IV), estaria falando de direitos e garantias do 
indivíduo-pessoa. 
 
2.2. Direito à vida digna: 
 
a) garantia de satisfação das necessidades básicas do ser humano (direito à existência); 
b) direito à integridade moral; 
c) proibição de qualquer tratamento indigno, como tortura, humilhação, penas de caráter 
perpétuo etc. 
 
 Direito à existência: consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender a 
própria vida, de permanecer vivo. Direito de não ter interrompido o processo vital senão 
pela morte espontânea e inevitável. 
 Direito à integridade moral: a CF/88 empresta muita importância à moral como bem 
jurídico passível de tutela (art. 221, IV, art. 5º, V, X, XLIX). A moral sintetiza a honra da 
pessoa, o bom nome, a boa fama, a reputação que integra a vida humana como dimensão 
imaterial. Sem o atributo moral, a pessoa fica reduzida à condição animal. Assédio 
moral/bulismo = violação da integridade moral. 
 Proibição de tratamento indigno (tortura, penas degradantes e cruéis etc). O art. 5º, III, diz 
que ninguém será submetido a tortura, ou a tratamento desumano ou degradante. 
 
- Tortura é o conjunto de procedimentos destinado a forçar a vontade de outro sujeito, para 
admitir, mediante confissão ou depoimento, a verdade da acusação ou fornecer informações. 
 
6 Resolução n. 1.805/2006 do Conselho Federal de Medicina estabelece que na fase terminal de enfermidadesgraves e incuráveis é 
permitido ao médico liminar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, garantindo-lhe os cuidados 
necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de uma assistência integral, respeitada a vontade do 
paciente ou de seu representante legal. 
7 O art. 5º da Lei de Biossegurança admite “para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de 
embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não usados no respectivo procedimento, e estabelece condições para essa 
utilização.” 
(Exs. espetos sob as unhas, queimaduras de cigarro, choques elétricos nas partes íntimas, pau-de-
arara, etc). 
 
 Até o século XVIII a tortura era admitida pelo direito como meio de prova, mas foi 
combatida pelos pensadores ilustrados, especialmente Beccaria. 
 
- Uso de algemas 
 
Súmula Vinculante 11/2008: “só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado 
receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de 
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, 
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se 
refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.” 
 
PRINCÍPIO DA ISONOMIA E PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
 
 
A) PRINCÍPIO DA ISONOMIA 
 
1. Introdução 
 
 Isonomia: princípio assegurado no caput do art. 5º e no art. 5º, inciso I, da CF/88. 
 Base da forma republicana de governo. 
 Manifesta-se em diversas oportunidades na Constituição (art. 7º, XXX – proibição de 
diferença de salários por motivo de sexo, idade; 150, II – isonomia tributária). 
 
2. Espécies: 
 
 A isonomia se desdobra em: isonomia formal e material. 
 
 Isonomia formal: 
 
a) Igualdade na lei (princípio dirigido ao legislador); 
b) Igualdade perante a lei (dirigido ao juiz e intérprete do Direito). 
 
 Isonomia material: “Tratar igualmente os iguais e desigualmente aos desiguais”. Princípio 
não proíbe que sejam tratados de modo diferenciado pessoas que guardem distinções de grupo 
social, sexo, profissão, condição econômica ou de idade. Ex. Lei do Idoso, Estatuto da Igualdade 
Racial, Estatuto da Pessoa com Deficiência, reserva de vagas etc. O que não se admite é que o 
critério diferenciador seja arbitrário, desprovido de razoabilidade. 
 
 A própria CF adota critérios de diferenciação, em vários dispositivos (discriminação 
positiva – affirmatives actions). 
 
Súmula 683 do STF = “O limite de idade para inscrição em concurso 
público só se legitima em face do art. 7, XXX, da Constituição, quando possa 
ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.”8 
 
 Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso) também proíbe discriminação por motivo de idade, salvo 
quando a natureza do cargo o exigir (art. 27). 
 STF = não autoriza Judiciário a estender vantagens não previstas em lei a outros grupos 
sociais. 
 
 
3. Igualdade entre homem e mulher 
 
 Prevista no art. 5º, I: 
 
Inciso I – Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos 
termos desta Constituição. 
 
 Igualdade homem/mulher. A discriminação pelo sexo é inaceitável sempre que o mesmo 
seja eleito com o propósito de desnivelar a situação; deve ser aceita, todavia, quando se 
trata de garantir igualdade material. Exs. proteção ao mercado de trabalho da mulher – art. 
7º, XX; licença gestante de 120, aposentadoria com menor tempo de contribuição (art. 40); 
 STF reconheceu como cláusula pétrea a previsão constitucional de licença à gestante, 
impedindo a EC 20/98 de alterá-la (ADI 1946/DF, rel. Min. Sidney Sanches, 2003). 
 Lei 9.029/95 proíbe a exigência de atestados de gravidez e esterilização e outros práticas 
discriminatórias para efeitos admissionais ou de permanência de relação jurídica de 
trabalho. Constitui crime a exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração 
ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou a estado de gravidez. 
 Decreto 4.377/02 (Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra a Mulher, de 1979). 
 
 
B) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
 
1. Introdução 
 
 Inscrito no art. 5º, II, da CF: 
 
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão 
em virtude de lei. 
 
 Conceito: só por meio de espécies normativas (devidamente elaboradas conforme as regras 
de processo legislativo constitucional) podem-se criar obrigações para o indivíduo, pois 
são expressão da vontade geral. 
 Princípio visa combater o poder arbitrário do Estado e é o fundamento do Estado de Direito 
(“Governo das leis e não dos homens”). 
 
8 Essas restrições, todavia, só serão lícitas se previstas em lei, não sendo o edital meio idôneo para impor restrições a direito protegido 
constitucionalmente. 
 
 Consequências: 
 
a) somente a lei pode criar obrigações; 
b) a inexistência de lei proibitiva implica autorização. 
c) Poder Público não pode atuar contrariamente à lei e nem na ausência de lei. 
 
 Legalidade é reafirmada várias vezes no texto constitucional. Exs: art. 37 (legalidade na 
administração pública), 150, I (legalidade tributária) e art. 5º, XXXIX (legalidade penal). 
 
 
2. Legalidade e reserva legal 
 
 Princípio da legalidade se distingue do princípio da reserva legal (este é a exigência 
constitucional de que dada matéria seja disciplinada por lei em sentido estrito. Ex. art. 5º, 
XIII; art. 9º, parágrafo 1º). 
 O princípio da legalidade é mais amplo que o da reserva de lei. Este não é genérico e 
abstrato, mas concreto. 
 O princípio da legalidade envolve todos os atos humanos; o da reserva de lei exige 
tratamento da matéria exclusivamente pelo Legislativo, sem participação do Executivo. 
 
 O princípio da reserva legal se desdobra em duas categorias: 
 
a) Reserva legal absoluta: quando a norma constitucional exige para sua integral 
regulamentação a edição de lei formal, entendida como ato normativo emanado do 
Congresso Nacional; 
b) Reserva legal relativa: quando a CF, apesar de exigir edição de lei formal, permite que 
esta fixe tão somente parâmetros de atuação para o órgão administrativo, que poderá 
complementá-la por ato infralegal. 
 
 Com base na reserva legal relativa, juristas entendem que a expressão “em virtude de lei” 
(art. 5º, II) contempla também atos administrativos, atos normativos infralegais. Jurisprudência 
também se manifesta nesse sentido. A condição é que tal ato seja praticado dentro dos limites da 
lei. 
 
DIREITOS DE LIBERDADE (Parte 1) 
 
1. Liberdade de expressão 
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. 
 
 Todo cidadão tem direito de manifestar o seu pensamento, desde que não se cubra sob o 
manto do anonimato. 
 Direito de se expressar oralmente ou por escrito, e também o direito de ouvir, assistir e ler. 
 Vedação do anonimato: intuito de responsabilização civil ou criminal de quem 
eventualmente cause danos a terceiros em virtude de expressões ou juízos de valor 
ofensivos. 
 O Supremo Tribunal Federal não admite a delação apócrifa, isto é, entende que a denúncia 
anônima não pode dar início imediato à persecução penal. O “disque-denúncia” pode, 
apenas, dar início ao procedimento investigatório. 
 
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano 
material, moral ou à imagem. 
 
 Direito de resposta: orientado pelo critério da proporcionalidade, deverá ser exercido no 
mesmo meio de comunicação em que o agravo foi veiculado, tendo o mesmodestaque e a mesma 
duração ou tamanho. 
 O direito de resposta não exclui o direito de indenização. As indenizações material e moral 
são cumuláveis, podendo ser requeridas pelas pessoas físicas ou jurídicas. 
 
 
2. Liberdade intelectual, artística, científica e de comunicação 
 
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura. 
 
 Vedação da censura prévia, de natureza política, ideológica e artística (art. 220, parágrafo 
2º). 
 Contudo, poder público pode regular através de lei ordinária as diversões e espetáculos 
públicos, classificando-os por faixas etárias, bem como definir locais e horários que lhe 
sejam inadequados (Portaria 1.100 de 14 de julho de 2006, do Ministério da Justiça, 
regulamenta o exercício da classificação indicativa de diversões públicas). 
 Liberdade de imprensa não deve significar irresponsabilidade dos veículos de 
comunicação. 
 Com base nesse preceito do art. 5º, IX, STF julgou que a Constituição de 1988 não 
recepcionou a “Lei de Imprensa” produzida na ditadura militar (ADPF n. 130, rel. Min. 
Carlos Britto, j. 30.04.2009). 
 No julgamento da ADI 4815 (10.06.2015), o STF deu interpretação conforme a 
Constituição aos artigos 20 e 21 do Código Civil, considerando inexigível o consentimento 
de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais. 
 
 
 
3. Acesso à informação e sigilo de fonte 
 
XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo de fonte, quando 
necessário ao exercício profissional. 
 
 Direito fundamental de todo cidadão ao acesso à informação, especialmente à de interesse 
público ou geral. 
 Fundamental no regime democrático. 
 E o direito ao acesso aos documentos oficiais produzidos no contexto da ditadura militar? 
 Não é absoluto, encontrando limite no direito à intimidade. 
 A proteção ao sigilo de fonte tem como destinatários os profissionais do jornalismo, uma 
vez que possibilita que estes obtenham informações que, sem essa garantia, não seriam 
reveladas. A garantia permite ao cidadão que tem informações privilegiadas transmiti-las 
a um jornalista sem correr eventuais riscos por isso. 
 Jornalista não pode sofrer, em função do exercício dessa legítima prerrogativa 
constitucional, a imposição de qualquer sanção penal, civil ou administrativa (STF – Inq. 
870-2, rel. Min. Celso de Mello, 15.04.96). 
 
 
4. Liberdade de consciência, crença e culto 
 
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos 
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias; 
 
VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e 
militares de internação coletiva; 
 
 Afirmação do Estado laico e do princípio da tolerância e da diversidade. 
 Liberdade de consciência e de crença; 
 Livre exercício dos cultos religiosos; 
 Vedação do preconceito religioso. 
 A liberdade religiosa não é absoluta, encontrando o seu limite no respeito aos direitos 
fundamentais e aos valores constitucionais consagrados. 
 Algumas questões envolvidas: ensino religioso nos colégios, feriados religiosos, 
casamento perante autoridades religiosas, transfusão de sangue em “testemunhas de 
Jeová”, curandeireismo e fixação de crucifixos em repartições públicas. 
 Com relação ao ensino religioso, diz a Constituição que será de matrícula facultativa (art. 
210, par. 1º). 
 Os feriados religiosos devem ser entendidos como parte da tradição histórico-cultural do 
Brasil. 
 Os casamentos realizados perante quaisquer autoridades religiosas têm efeito civil, nos 
termos da lei (art. 226, parágrafo 2º). 
 Não configura crime de constrangimento ilegal (art. 146, par. 3º, I, CP) a hipótese das 
testemunhas de Jeová, se estiver o médico diante de caso de urgência e perigo iminente, 
ou se o paciente for menor de idade. O direito à vida é mais importante que a convicção 
religiosa. 
 Não se configura o crime de curandeirismo (art. 284 do CP) se a promessa de cura decorrer 
de crença religiosa e dentro de um contexto de razoabilidade. 
 Com relação aos crucifixos em repartições públicas, decisões do CNJ vêm assentando que 
se trata de símbolo cultural e não religioso. Presidente do TJRJ determinou fossem 
retirados crucifixos e desativada a capela. 
 
 
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica 
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se 
a cumprir prestação alternativa. 
 
 Direito à “escusa de consciência” ou “objeção de consciência”. Nesse caso, Estado 
estabelece prestação alternativa. Ex. isenção do cumprimento do serviço militar 
obrigatório. 
 Se houver recusa ao cumprimento da prestação alternativa, a consequência é a suspensão 
de direitos políticos, nos termos da Lei 8.239/91 e do art. 15, IV, da CF/88. 
 
DIREITOS DE LIBERDADE (Parte 2) 
 
 
1. Inviolabilidade da vida privada, honra e imagem das pessoas 
 
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o 
direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. 
 
 Indenização moral e material são cumulativas. 
 O STF diz que indenização por dano moral não exige ofensa à reputação. Ex. publicação 
não consentida de fotografias do indivíduo gera direito à indenização independentemente 
de ofensa. 
 Violação à dignidade própria ou de ente familiar. 
 A proteção constitucional em relação a políticos e artistas, em geral, deve ser interpretada 
de uma forma mais restrita. 
 Jurisprudência majoritária do STF entende que Estado não pode obrigar pai a fazer exame 
de DNA. Lei 12.004/09, alterando a Lei de Investigação de Paternidade (Lei 8.560/92) 
dispõe que a recusa do réu em se submeter a exame de DNA gerará presunção de 
paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório (art. 2º-A, parágrafo 
único). No mesmo sentido, já preceituava a súmula 301 do STJ. 
 Pessoas jurídicas podem ser vítimas de danos morais, embora não de calúnia, injúria e 
difamação (STF). 
 
 
2. Inviolabilidade de domicílio 
 
XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento 
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante 
o dia, por determinação judicial. 
 
 Inviolabilidade não abrange apenas a casa, mas todo recinto fechado, não aberto ao público 
(escritório de advogado, consultório médico, dependências de empresa, quarto de hotel). 
 A Constituição de 88 pôs fim às determinações administrativas de busca e apreensão. As 
autoridades administrativas (fiscais fazendários, trabalhistas, sanitários, ambientais e 
servidores congêneres) somente podem ingressar na casa munidos de ordem judicial. 
 Não é considerado crime de desobediência a recusa em permitir o acesso a autoridades 
policiais e administrativas sem mandado judicial. 
 STF considerou válido provimento judicial que autorizava ingresso de policial em recinto 
profissional durante a noite, para o fim de instalar equipamentos de captação acústica 
(escuta ambiental) e de acesso a documentos no ambiente de trabalho do acusado (Inq. 
2.424/RJ – Min. Peluzo, 19 e 20.11.2008). Argumentou-se que tais medidas jamais 
poderiam ser realizadas com publicidade, o que inviabilizaria a instrução penal. 
 
 
3. Liberdade de atividade profissional 
 
XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações 
que a lei estabelecer. 
 
4. Inviolabilidade das correspondênciase de comunicações 
 
XII – é inviolável o sigilo de correspondência e das comunicações telegráficas, de dados 
e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e 
na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual 
penal. 
 
 O dispositivo, na sua literalidade, prevê que somente a inviolabilidade de comunicações 
telefônicas pode ser afastada por ordem judicial. Dessa forma, estão excluídas as 
possibilidades de quebra do sigilo de correspondência e das comunicações telegráficas e 
de dados, mesmo com autorização judicial. 
 Todavia, jurisprudência do STF entende que mesmo a garantia da inviolabilidade das 
correspondências e de dados não é absoluta. É possível, por exemplo, respeitados certos 
parâmetros, a interceptação das correspondências e comunicações telegráficas e de dados 
sempre que tais liberdades públicas estiverem sendo utilizadas como instrumento de 
salvaguarda de práticas ilícitas. (HC 70.814/SP – rel. Min. Celso de Mello, 01.03.1994). 
Ex. seqüestrador que envia carta à família do seqüestrado: nesse caso, pode haver 
interceptação policial, desde que autorizada judicialmente. 
 
 A hipótese de interceptação das comunicações telefônicas só é possível: 
 
a) com lei autorizadora; 
b) existência efetiva de investigação criminal ou instrução processual penal; 
c) ordem judicial específica para o caso concreto (reserva de jurisdição) = nem mesmo 
CPI pode determinar quebra. 
 
 Não é possível interceptação telefônica em investigação administrativa ou civil. Se ela 
ocorrer, será inconstitucional. Só é possível interceptação em investigação criminal. STF 
entende que não é possível interceptação em processo de extradição. 
 No entanto, pode haver compartilhamento posterior das provas obtidas em investigação 
criminal. 
 
 Lei 9.296/96 = Lei da Escuta Telefônica = regulamentou a interceptação no Brasil. STF 
considerou inconstitucionais todas as interceptações anteriores à lei. 
= lei estende seus efeitos à interceptação do fluxo de comunicações em 
sistemas de informática e telemática. Ex. email, fax etc. 
= a interceptação só é possível quando houver indícios razoáveis de autoria 
ou participação em infração penal punível com reclusão, e se a prova não 
puder ser constituída por outros meios. 
= STF entendeu que provas regularmente obtidas podem ser utilizadas em 
processos de crimes de detenção, desde que conexos com os de reclusão. 
= lei permite ao magistrado autorizar interceptação pelo prazo de 15 dias, 
renovável por igual tempo. STF entende que é permitido renovar o prazo por 
sucessivas vezes quando se trate de crime complexo e de difícil investigação. 
 
 A autuação dos dados obtidos é feita em apartado, preservando-se a intimidade e os dados 
obtidos. 
 Não é possível gravação de conversa do advogado com o acusado, que estão resguardadas 
pelo sigilo profissional, salvo se patrono estiver envolvido no crime (HC 83966 – Rel. Min. 
Celso de Mello, 23.06.2004). 
 Resolução n. 59 do CNJ, de 09.09.2008 uniformizou as rotinas visando aperfeiçoamento 
no procedimento de interceptação. 
 
4.1. Gravação clandestina 
 
 Diferentemente da interceptação telefônica, em que nenhum dos interlocutores conhece a 
gravação, a gravação clandestina é realizada por um deles, no momento em que a conversa 
está sendo efetuada. 
 Atualmente, STF admite a possibilidade da gravação clandestina realizada por um dos 
interlocutores, estendendo essa permissão, inclusive, no tocante às gravações ambientais 
(Questão de Ordem-RJ, rel. Min. Cezar Peluzo, 17.12.2009). 
 Proteção constitucional = refere-se à comunicação dos dados, e não aos dados em si. Por 
essa razão, STF entendeu que é legal a apreensão de computadores para investigação 
criminal, desde que fundamentada em ordem judicial expressa. 
 
4.2. Inviolabilidade de dados (art. 5º, X e XII) 
 
 Sigilo bancário e fiscal. 
 STF entende que há necessidade de endosso do Judiciário para a quebra do sigilo bancário 
em procedimentos administrativos na esfera tributária (HC 85.088/ES, rel. Min. Ellen 
Gracie, 30.09.2005). 
 Sigilo bancário é contemplado pela garantia da privacidade, embora não seja absoluta, 
podendo ser quebrada em caso de interesse público e segundo os trâmites legais. 
 LC 105/2001 = permite quebra de sigilo bancário por agentes do fisco, independentemente 
de autorização judicial. Lei contestada no Supremo, mas ainda sem um pronunciamento 
definitivo por parte da Corte. 
 LC 104/2001 = permite à Receita Federal divulgar dados patrimoniais do contribuinte por 
simples solicitação de autoridade administrativa, desde que aberto processo administrativo 
(art. 198, par. 1º, II, do CTN). 
 
 
5. Liberdade de reunião 
 
XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, 
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente 
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. 
 
 Direito de reunião é meio de manifestação coletiva da liberdade de expressão, pelo 
qual pessoas se associam temporariamente tendo por objeto um interesse comum (intercâmbio 
de ideias, divulgação de problemas da comunidade, reivindicação de alguma providência). 
 Garantia refere-se não somente às reuniões estáticas, como também às manifestações 
em percurso móvel, como as passeatas, os comícios, os desfiles. 
 
 Características do direito de reunião: 
 
a) Finalidade pacífica; 
b) Ausência de armas; 
c) Locais abertos ao público; 
d) Não-frustração de outra reunião anteriormente convocada. 
e) Desnecessidade de autorização. 
f) Prévio aviso à autoridade competente. 
 
 
6. Liberdade de associação 
 
XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. 
 
 Objeto tem que ser lícito. 
 
XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de 
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento. 
 
 Diferenciam-se das reuniões por serem permanentes. 
 Tem personalidade jurídica. 
 
XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou permanecer associado. 
 
XIX – as associações só poderão ser dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão 
judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado. 
 
 Suspensão = decisão judicial. 
 Dissolução compulsória = necessidade do trânsito em julgado. 
 Associações em sentido amplo = partidos políticos, sindicatos etc. 
 
Liberdade de associação: 
a) Liberdade de criar associação; 
b) Liberdade de aderir a qualquer associação; 
c) Liberdade de desligar-se da associação; 
d) Liberdade de dissolver espontaneamente a associação. 
 
Violação da liberdade de associação pode acarretar responsabilidade tríplice: 
a) Penal = Crime de abuso de autoridade, tipificado na Lei 4.898/65; 
b) Político-administrativa = Crime de responsabilidade, definido na Lei 1.079/50; 
c) Civil = reparação por danos materiais/morais. 
 
 
6.1. Representação processual das associações 
 
XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para 
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente. 
 
 Regra geral = somente titular do direito pode ingressar em juízo para prevenir lesão ou 
ameaça a direito. Desde que expressamente autorizado, alguém pode ingressar em juízo 
em nome alheio, para defesa de direito alheio. É o caso do representante processual. 
 
 Regra geral = ninguém pode pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando 
autorizado por lei. CPC, Art. 6o Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, 
salvo quandoautorizado por lei. Quando lei autoriza, sem necessidade de autorização 
expressa do representado, há o fenômeno da substituição processual (legitimação ativa 
extraordinária). 
 
 STF = o caso do art. 5, XXI, é de representação processual, porque exige autorização 
expressa dos associados. 
 Já o caso do mandado de segurança coletivo (art. 5, LXX, b) e da atuação judicial ou 
extrajudicial dos sindicatos (art. 8, III) é caso substituição processual. 
 
7. Liberdade de locomoção (art. 5º, XV e LXI) 
 
 A locomoção no território nacional em tempo de paz é livre, podendo qualquer pessoa, nos 
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. 
 Esse direito pode ser restringido na vigência do estado de defesa. 
 
Direito de Propriedade 
 
 
1. Direito de propriedade 
 
 A República Federativa do Brasil adota o capitalismo regime econômico. A livre iniciativa 
é fundamento da República e da Ordem Econômica. O direito de propriedade é consagrado 
no art. 5º, XX: 
 
XXII – é garantido o direito de propriedade. 
 
 Um dos mais importantes direitos desde o liberalismo clássico. 
 Então, era um direito absoluto (ius utendi, ius fruendi, ius abutendi – direito de usar, fruir, 
dispor da coisa, e reivindicá-la de quem indevidamente a possua, oponível a todos (erga 
omnes). 
 Não mais é cabível essa concepção. No Estado Social e Democrático de Direito, a 
propriedade deve exercer uma função social. 
 
XXIII – a propriedade atenderá sua função social. 
 
 Proprietário tem deveres perante a ordem social. Ex. proprietário de terreno urbano não 
pode deixá-lo não edificado ou subutilizado (art. 182, par.4º), proprietário de imóvel rural 
não pode deixá-lo improdutivo (art. 186). 
 CF/88 assegura direito de propriedade sobre bens materiais, mas também sobre bens 
imateriais (propriedade intelectual): 
 
 A propriedade intelectual abrange: 
 
a) direitos autorais; 
b) propriedade industrial. 
 
1.1. Direitos autorais 
 
XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de 
suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar. 
 
XXVIII – são assegurados nos termos da lei: 
a) a proteção às participações individuais, em obras coletivas e à reprodução da imagem e 
voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; 
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que 
participarem aos criadores, intérpretes e às respectivas representações sindicais ou 
associativas. 
 
 A Lei de Direitos Autorais é a Lei 9.610/98. Abrange: textos literários, científicos, 
composições musicais, obras audiovisuais. A Lei 9.609/98 protege a propriedade 
intelectual sobre programas de computador. 
 
1.2. Propriedade industrial 
 
XXIX – a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua 
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de 
empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento 
tecnológico e econômico do País. 
 
 Lei de Propriedade Industrial = Lei. 9.279/96. 
 A propriedade industrial abrange: 
a) a invenção (direito assegurado pela concessão da patente)9; 
b) o modelo de utilidade (patente); 
c) o desenho industrial (registro, documentado pelo certificado); 
d) a marca (registro, documentado pelo certificado). 
 
 
1.3. Direito de herança 
 
 
9 Lei de Propriedade Industrial não define o que é invenção, mas faz um rol do que não pode ser considerado (art. 10). Modelo de 
utilidade é uma espécie de aperfeiçoamento técnico da invenção. O desenho industrial (design) é a alteração da forma dos objetos: sua 
característica de fundo é a futilidade. A marca é definida como sinal distintivo, suscetível de percepção visual. Não são marca, no 
Brasil, os sinais sonoros. 
XXX – é garantido o direito de herança. 
 
XXXI – a sucessão de bens de estrangeiro situados no País será regulada pela lei brasileira em 
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei 
pessoal do de cujus. 
 
1.4. Proteção constitucional à pequena propriedade rural 
 
XXVI – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, 
não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, 
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento. 
 
 
2. Desapropriação 
 
 
 Interesse público pode justificar limitação ao direito de propriedade. 
 
XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade 
pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados 
os casos previstos nesta Constituição. 
 
 Desapropriação é o procedimento de direito público pelo qual o Poder Público transfere 
para si a propriedade de terceiro, por razões de utilidade pública, necessidade pública, ou 
de interesse social, normalmente mediante o pagamento de justa e prévia indenização. 
 A transferência pode ser de particular para Poder Público, ou entre poderes públicos, do 
inferior para superior. 
 A regra é a da justa e prévia indenização em dinheiro. As exceções são as 
desapropriações-sanção: 
 
a) Desapropriação de área urbana não edificada, subutilizada ou não utilizada, com 
pagamento em títulos da dívida pública de emissão previamente autorizada pelo Senado 
(art. 182, par.4º, III). Nesse caso, a medida é tomada pelo Município, estando 
regulamentada pela Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade); 
b) Desapropriação de área rural para reforma agrária, com prévia e justa indenização em 
títulos da dívida agrária (art. 184). A expropriante é a União. 
c) Temos ainda a desapropriação confiscatória, prevista no art. 243 da Constituição Federal, 
que não assegura direito à indenização. 
 
 
 O bem desapropriado torna-se insuscetível de reivindicação e liberta-se de todos os 
gravames que eventualmente possuía. 
 Desapropriação tem uma fase administrativa seguida de uma judicial. Só há fase judicial 
quando não há acordo entre proprietário e Poder Público. 
 Podem desapropriar não só a União, Estados, DF e Municípios, mas também as autarquias, 
fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas. Também podem propor 
ação de desapropriação as concessionárias ou permissionárias de serviços públicos, desde 
que expressamente autorizadas em lei ou contrato. 
 
 Regras sobre desapropriação: 
a) Decreto-Lei 3.365/41 = Desapropriação por utilidade pública; 
b) Lei 4.132/62 = Desapropriação por interesse social; 
c) Lei 8.629/93 = Desapropriação rural; 
d) Lei Complementar 76/93 = dispõe sobre o procedimento contraditório especial, de rito 
sumário, para desapropriação rural para fins de reforma agrária. 
 
3. Requisição administrativa 
 
XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de 
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano. 
 
 Requisição é utilização coativa de bens ou serviços particulares pelo Poder Público por ato 
de execução imediata e indenização posterior, para atendimento de necessidades coletivas 
urgentes e transitórias. 
 
Defesa do Consumidor 
 
XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. 
 
 Influência das Constituições portuguesa e espanhola. 
 Preocupação constitucional com o consumidor. Também no art. 170, V, art. 150, par. 5, 
etc. 
 O artigo 48 do ADCT previa prazo de 120 dias para a elaboração de um Código de Defesa 
do Consumidor. Essa lei foi elaborada em 1990 (Lei 8.078/90 = Código

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