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APOSTILA_DE_RELAÇÕES_INTERNACISSSSS

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RELAÇÕES INTERNACIONAIS - 1º Bimestre 
Professor Wiliam Rangel - wiliam.rangel@yahoo.com.br 
 
Ementa e Unidades: 
1 - Comércio Internacional 
1.1 - Teorias do Comércio Internacional 
1.2 - Comércio Interindustrial e Intraindustrial 
1.3 - O desempenho recente do comércio internacional 
1.4 - Mudanças nos padrões de comércio 
1.5 - Competitividade internacional 
1.6 - O comércio exterior do Brasil e o Balanço de 
Pagamentos 
 
 
2 - Política Comercial e Negociações Interna-
cionais 
2.1 - Mercado Cambial 
2.2 - Instrumentos, tarifas e medidas não tarifárias 
2.3 - Protecionismo versus liberalização 
2.4 - Negociações comerciais multilaterais, GATT, OMC 
2.5 - Internacionalização da Produção e empresas 
transnacionais 
2.6 - Evolução da Política Comercial Brasileira 
2.7 - O Brasil e o Mercosul 
Conteúdo 
A - Introdução: Economia Internacional e Relações Internacionais .................................................................... 2 
B - Objetivo das teorias e políticas econômicas internacionais: .......................................................................... 3 
C - Temas econômicos internacionais relevantes na atualidade: ........................................................................ 8 
D - Padrões de Comércio Internacional - Comércio Intra-Indústria e Comércio Inter-Indústria ....................... 10 
E – Panorama das exportações Brasileiras ....................................................................................................... 13 
F – Competitividade Internacional .................................................................................................................... 15 
G – Protecionismo Internacional ...................................................................................................................... 19 
H - O Brasil e as negociações multilaterais ....................................................................................................... 24 
I - O Brasil na Organização Mundial do Comércio: ............................................................................................ 25 
J – Internacionalização de Empresas ................................................................................................................ 29 
K - O Brasil e o Mercosul ................................................................................................................................... 39 
IMPORTANTE: Espera-se que o conteúdo desta Apostila seja importante auxiliar para os Alunos, 
quanto ao acesso às informações relevantes sobre as Unidades Programáticas da Ementa da 
Disciplina de Relações Internacionais, no Curso de Administração. Porém, este conteúdo não 
substitui aquele de renomados autores nacionais e estrangeiros, presentes nos livros indicados na 
Bibliografia. A confecção dos Instrumentos de Avaliação levará em conta esta Bibliografia oficial da 
Disciplina, as notas de aula e os debates em sala, as referências desta Apostila, e ainda textos 
adicionais que poderão ser enviados aos Alunos, através do Portal da Unigranrio, com temas 
contemporâneos de especial interesse. 
A - Introdução: Economia Internacional e Relações Internacionais 
As transformações ocorridas nas relações econômicas entre os paises, após a década de 80, mudaram 
profundamente o cenário político e econômico mundial. Os paises industrializados ganharam importante 
parcela do mercado mundial de manufaturados em detrimento dos paises desenvolvidos. O mercado de 
capitais internacional também se desenvolveu fortemente passando a oferecer novos produtos e tecnologias 
financeiras, possibilitando novas relações entre os centros financeiros e as economias dos paises. Estas 
relações nem sempre são estáveis, pois a mobilidade de capitais provoca, por vezes, grandes oscilações na 
taxa de câmbio e mudanças estruturais nos padrões de comércio, que por sua vez, podem resultar em fortes 
pressões políticas. Estes eventos aumentaram o interesse por assuntos estudados pelos economistas há mais 
de dois séculos, como a natureza do mecanismo de ajuste internacional e os méritos do livre comércio versus 
os impactos dos mercados protegidos. 
1. Consumo e Produção: A sobrevivência do ser humano depende da satisfação de suas necessidades 
básicas ou primárias (alimentação, vestuário e habitação). Essas necessidades não são as únicas, pois a 
evolução do homem trouxe consigo outras tais como: educação, saúde e lazer, sendo estas chamadas de 
progressivas. Para atendê-las, o homem precisa produzir bens e serviços, sendo que o consumo destes bens 
e serviços depende da produção em volume satisfatório. 
2. Divisão do trabalho: Dado que os recursos necessários à produção precisam ser transformados para 
atender a demanda cada vez mais crescente, o ser humano tem que produzir bens e serviços em larga 
escala. A fabricação em larga escala somente é possível se houver produtividade e esta, por sua vez, depende 
da divisão do trabalho. A divisão do trabalho é o componente que permite aumentar a produtividade, 
melhorar a qualidade e também o surgimento de excedentes para trocas. No livro "A Riqueza das Nações" de 
1776, Adam Smith faz referência à divisão do trabalho quando escreve que em uma fábrica de alfinetes dez 
pessoas, por se especializarem em várias tarefas, conseguem produzir 48.000 alfinetes por dia, ao invés de 
uns poucos que cada um poderia produzir isoladamente. No mesmo livro, ele argumenta: "Essa divisão do 
trabalho, da qual derivam tantas vantagens, não é, em sua origem, o efeito de uma sabedoria humana 
qualquer... Ela é conseqüência necessária, embora muito lenta e gradual, de certa tendência ou propensão 
existente na natureza humana...a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa pela outra." E 
dessa forma, a certeza de poder permutar toda a parte excedente da produção de seu próprio trabalho que 
ultrapasse seu consumo pessoal estimula cada pessoa a dedicar-se a uma ocupação específica, e a cultivar e 
aperfeiçoar todo e qualquer talento ou inclinação que possa ter por aquele tipo de ocupação ou negócio. A 
divisão do trabalho se equilibra pelo mesmo mecanismo da competição e da oferta e procura. As trocas entre 
pessoas foram sendo ampliadas, passando a envolver cidades e finalmente países. Chamamos comércio 
comercio internacional as trocas entre paises. Ele é feito por meio de importações e exportações e pago em 
diversas moedas que precisam ser convertidas por uma medida, a taxa de câmbio. O comércio internacional 
não se resume simplesmente às relações econômicas, ele é composto de um conjunto de atividades que 
constituem a Economia Internacional. 
3. Definição de Economia Internacional: Tipo de economia que estuda os fenômenos e comportamentos 
econômicos entre estados soberanos ou regiões geográficas. 
4. Importância: Os conhecimentos de economia internacional são necessários para a compreendermos o 
que se passa no mundo e para que sejamos consumidores, cidadãos e eleitores capazes de tomar decisões 
que afetam direta ou indiretamente nossas vidas. De um ponto de vista mais prático, o estudo da economia 
internacional é requisito necessário em numerosos empregos em empresas multinacionais, bancos, agências 
internacionais (como os departamentos de comércio dos paises) e organismos internacionais tais como a 
ONU, o banco Mundial e o FMI. 
5. Objeto de estudo: A economia internacional trata da interdependência econômica entre os paises. De 
forma específica, a economia internacional trata da teoria do comércio entre os paises, da política de 
comercio internacional, do balanço de pagamentos, dos mercados de câmbio externos e da macroeconomia 
aberta. A teoria do comércio internacional analisa as bases e os ganhos decorrentes do comércio. A política de 
comércio internacional examina as razões e os efeitos das restrições comerciais e do novo protecionismo. O 
balanço de pagamentos mede as receitas e os gastos totaisda nação em relação aos seus parceiros 
comerciais. Os mercados de câmbio externos constituem o referencial para a troca de uma moeda nacional 
por outra. A macroeconomia aberta trata dos mecanismos de ajuste dos desequilíbrios do balanço de 
pagamentos, bem como dos efeitos da interdependência macroeconômica entre as nações sob diferentes 
sistemas monetários internacionais, e seus efeitos sobre o bem estar de uma nação. 
 
B - Objetivo das teorias e políticas econômicas internacionais: 
O objetivo geral da teoria econômica é prever e explicar fenômenos econômicos. Cabe à teoria econômica 
internacional, a partir de hipóteses simplificadoras (um universo de duas nações, duas mercadorias, dois 
fatores de produção, inexistência de restrições comerciais, perfeita mobilidade de fatores de produção, 
concorrência perfeita e ausência de custos de transações), examinar as bases e os ganhos decorrentes do 
comércio, as razões e os efeitos das restrições comerciais, as políticas dirigidas à regulamentação dos fluxos 
de pagamentos e os efeitos dessas políticas sobre o bem estar de uma nação. 
1. O Mercantilismo: Chama-se mercantilismo ao conjunto de ideias e práticas econômicas que floresceram, 
na Europa, entre 1450 e 1750. Uma tríplice transformação, de ordem intelectual, política e geográfica, 
assinala, na aurora desse período, o início dos tempos modernos. No século XVI assiste-se ao surgimento do 
Estado Moderno. A centralização monárquica vai tomando o lugar dos pequenos núcleos feudais. A Idade 
Média teve, sem dúvida, o seu sistema de Estado. Mas, pelo fato de não passarem de aglomerações feudais, 
não possuíam uma verdadeira política nacional. Foi a suplantação desta forma de Estado que fez surgir a 
ideia de economia nacional no sentido moderno da expressão, ou seja, a concepção de Estado que coordena 
todas as diferentes forças ativas da nação. O comércio, principalmente, transforma-se em negócio público. A 
noção de “balança comercial” suplanta a de “balança de contratos”. Os sistemas mercantilistas podem ser 
assim divididos: 
1.1 - A forma espanhola ou bulionista: A primeira – e também a mais rudimentar – forma de 
mercantilismo coincide com a descoberta e exploração das minas de ouro da América, e tem nascimento no 
país que recebe este metal precioso: a Espanha. Os principais representantes bulionistas são Ortiz, Botéro, 
entre outros. Para se conseguir acumular o máximo de ouro e prata, dois são os processos preconizados e 
empregues: 
- impedir que o metal precioso saia do país, através de medidas intervencionistas em diversos 
campos. Atraem-se também as moedas estrangeiras para o interior do país, mediante a adoção de 
uma política de taxa de juros elevada; depois, a fim de impedir a saída do metal, falsificam-se as 
moedas; 
- a balança de contratos. 
Os mercantilistas compreendem a importância das trocas entre nações, mas, em contraposição, perceberam 
também que esse comércio acarreta um deslocamento dos estoques metálicos. Por isso, impõem medidas de 
controle: os navios espanhóis que vão vender mercadorias no exterior, devem, obrigatoriamente, trazer para 
a Espanha o valor da sua carga em ouro. Por outro lado, os navios estrangeiros, que desembarcam os 
produtos dos seus países de origem na Espanha, devem, necessariamente, levar, ao partir, o valor da sua 
carga em produtos espanhóis. Estes processos esbarravam na dificuldade de fiscalizar os contratos 
continuadamente, e a sua aplicação só seria possível por parte de um pequeno número de países. É assim 
que a balança de contratos vai dar lugar à balança de comércio e, com ela, o alargamento da concepção 
mercantilista: admite-se a entrada e saída de ouro, desde que se assegure uma balança de comércio 
favorável. 
1.2 - A forma francesa ou Colbertismo: Com o mesmo objetivo de aumentar os estoques monetários, a 
França vai orientar a sua ação para o fomento da indústria, uma vez que não pode recorrer às fontes diretas 
de metais preciosos. A indústria é preferida, por um lado, em virtude de sua produção ser mais certa e 
regular, e, por outro, pelo fato dos produtos fabricados para a exportação terem um valor específico maior. O 
esforço em prol do desenvolvimento industrial é acompanhado de numerosas medidas intervencionistas: o 
Estado outorga monopólio de produção e regulamenta a indústria de modo estrito; há interdição do trabalho 
livre. A mão-de-obra representa, na produção, a parte mais importante do preço de custo dos produtos. 
1.3 - A forma inglesa ou comercialista: O mercantilismo inglês vai sofrer a influência das grandes 
descobertas. Foi perante as potencialidades comerciais dos Descobrimentos que os comerciantes solicitaram a 
abolição da proibição da saída de metais precioso do país. O argumento é simples: as Índias Orientais 
fornecem aos compradores preciosas especiarias, as quais são revendidas ais estrangeiros a um preço muito 
elevado. Ora, os indígenas não querem vender contra pagamento em outros produtos, mas, sim, em metal 
precioso. A exportação desse metal permitiria, portanto, ao comerciante inglês, auferir lucros que se 
traduziriam, no fim de contas, em importação do metal precioso, com vantagem para o país. Na concepção 
mercantilista, é a nação – e não o indivíduo – o comerciante. Cabe-lhe, pois, envidar todos os esforços para 
conseguir uma balança de comércio exterior saldada mediante a entrada de metal. No entanto, como se exige 
que a balança seja favorável, todo um sistema de regulamentações é elaborado: o Estado regulamenta a 
produção, fiscaliza as exportações e controla as vendas no exterior. Essa regulamentação é tanto mais 
rigorosa quando, na verdade, à preocupação metalista se vai juntar a preocupação política: é assim que a 
fiscalização das exportações visará também impedir a saída de produtos e matérias-primas que possam ser 
úteis à defesa do país ou à condução da guerra. 
 
2. Adam Smith (1776) – O Liberalismo Econômico e a Teoria das vantagens absolutas: Os trabalhos 
de Adam Smith neste domínio correspondem ao culminar de um processo de argumentação contra o 
mercantilismo por razões de ordem... 
(i) prática – o protecionismo limitaria o processo de desenvolvimento inglês; 
(ii) teórica – o saldo permanentemente positivo da balança comercial seria insustentável; 
(iii) ‘normativa’ – as exportações diminuiriam devido a ações de retaliação. 
Adam Smith demonstra as vantagens da livre troca, ao observar que a abertura ao exterior conduz a um 
ganho importante para os dois parceiros da troca (embora podendo não ser equitativo) e, portanto, também 
para a economia mundial (originando o aumento global da riqueza). Por conseguinte, ao invés da lógica 
mercantilista, Adam Smith considera que o comércio internacional tem ganhos positivos para os países 
intervenientes na troca. Para tal, basta que os países se especializem de acordo com as suas vantagens 
absolutas: cada país deve especializar-se (completamente) no(s) produto(s) em que tem vantagem (ens) 
absoluta (s) em termos de custos (ou produtividade), ou seja, em que o número de horas de trabalho 
requerido para a sua produção é menor. Deste modo, propõe que os países não façam tudo: devem apenas 
produzir e, portanto, exportar os produtos em que têm maior produtividade e eficiência e comprar (importar) 
aqueles em que os outros são melhores. A teoria das vantagens absolutas pode ser facilmente compreendida 
com base num exemplo numérico. Tendo presentes os pressupostos já referidos, considere-se adicionalmente 
o quadro abaixo com os custos unitários de produção de dois bens X e Y, por parte de dois países A e B – e 
que facilmente pode ser reescrito em termos de produtividade: 
 
Note-se, em particular que, apesar de existirem custos de produção constantes para cada bem dentro de um 
país, os custos diferem nos dois países. A tecnologia é então o fator relevante na explicação das trocas. 
Constata-se que A é absolutamente mais eficientea produzir X, enquanto B é absolutamente mais eficiente a 
produzir Y. Na verdade, A produz X com menor custo ou, dito de outro modo, a produtividade de A em X é 
maior. Por isso, diz-se que tem uma vantagem absoluta em X, pelo que deve especializar-se completamente 
na sua produção. Por sua vez B é absolutamente mais eficiente a produzir Y (dispõe de vantagem absoluta 
em Y) devendo, pois, especializar-se completamente na sua produção. Neste caso, com livre troca, A vai 
produzir duas unidades de X, uma para consumo interno e outra para exportação, e obtém de B uma unidade 
de Y (note-se que B produz agora duas unidades de Y). O comércio internacional origina um ganho 
materializado na poupança de uma hora de trabalho em cada país: 
 
Em economia fechada Em regime de livre troca 
 
3. David Ricardo (1820) - Teoria das vantagens comparativas ou relativas: David Ricardo tentou 
mostrar que mesmo quando um país fosse absolutamente menos eficiente a produzir todos os bens, 
continuaria a participar no comércio internacional ao produzir e exportar os bens que produzisse de forma 
relativamente mais eficiente. Assim, o modelo Ricardiano é referido como o modelo das vantagens 
comparativas ou relativas. Para uma melhor compreensão da teoria das vantagens comparativas, vejamos o 
exemplo proposto por David Ricardo, que tem como países Portugal e a Inglaterra e como produtos o Tecido 
e o Vinho, e que consagram à produção de uma unidade de cada produto as seguintes quantidades de horas 
de trabalho: 
 
Tal como em Adam Smith, também em David Ricardo é a tecnologia dos países que determina os custos 
unitários ou as produtividades. Neste exemplo, paradoxalmente o país menos desenvolvido, Portugal, é 
absolutamente mais eficiente na produção de ambos os bens. Ricardo terá pretendido levar até ao limite das 
consequências a vantagem da troca (no caso concreto, do ponto de vista da Inglaterra). No contexto da 
teoria das vantagens absolutas, o comércio entre os dois países seria nulo, uma vez que Portugal detinha 
vantagens absolutas ou era absolutamente mais eficiente na produção de ambos os bens, não havendo da 
sua parte qualquer interesse na troca. Ou seja, o conceito de vantagem absoluta não é, num caso destes, 
suficiente para determinar a especialização. Pelo contrário, o conceito de vantagem comparativa ou relativa 
permite determinar padrões de especialização e troca. Formalmente, dado que em economia fechada se 
verifica uma troca de equivalentes; i.e., uma equivalência nos valores globais da produção em ambos os 
bens, pode determinar-se as Razões de Troca Autárquicas (RTA) em cada um dos países, e passamos a 
trabalhar com os custos relativos: 
 
Assim, considerando o custo relativo de cada bem face ao outro para cada país, conclui-se que Portugal tem 
uma vantagem comparativa na produção de Vinho e a Inglaterra tem uma vantagem comparativa na 
produção de Tecido; i.e., o custo relativo do Vinho é inferior em Portugal, 0,88 < 1,2 e o custo relativo do 
Tecido é inferior na Inglaterra, 0,83(3) < 1,125. 
 
Dito de outro modo, Portugal é relativamente mais eficiente na produção de Vinho e a Inglaterra é 
relativamente mais eficiente na produção de Tecido. Devido aos diferentes custos relativos ambos os países 
têm incentivos à troca. Assim, Portugal deve especializar-se completamente na produção de Vinho e a 
Inglaterra na produção de Tecido. Em suma, a especialização não se deve fazer em termos de vantagens 
absolutas, mas segundo as vantagens comparativas: neste caso, cada nação deve especializar-se na 
produção do bem para o qual possui relativamente maior vantagem ou menor desvantagem relativa. 
Determinado o padrão de especialização, a troca apenas se concretizará se, de fato, existirem incentivos para 
tal, em termos de uma Razão de Troca Internacional (RTI) que beneficie a especialização em ambos os 
países. Assim, a especialização portuguesa em Vinho. 
O ponto importante é que, após a troca, existirá um preço do Vinho em termos do Tecido que será comum 
aos dois países. Inglaterra importa Vinho e exporta Tecido pelo que o preço do Tecido relativamente ao Vinho 
deverá aumentar. Em Portugal o preço relativo do Vinho deverá aumentar. Com os novos preços 
determinados pelo comércio, os produtores aumentam a produção do bem em que têm vantagem 
comparativa. 
 
O ganho à escala mundial traduziu-se na poupança de 30 horas de trabalho para as mesmas unidades dos 
bens. Portugal poupa 10 horas e a Inglaterra poupa 20 horas. Donde, também em David Ricardo o comércio 
internacional é um ‘jogo’ de soma positiva (contrariamente ao pensamento mercantilista). 
EXERCÍCIOS SOBRE VANTAGEM ABSOLUTA: Para cada tabela de dados: 
• Calcular as horas de trabalho por país, em regime de AUTARQUIA. 
• Analisar as produtividades e indicar qual país vai se especializar em qual produto; 
• Calcular as horas de trabalho, se houver comércio internacional entre estes países; 
• Comentar sobre os ganhos de produtividade encontrados; 
 1 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 10 9 
País 2 1 10 
 
 2 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 50 40 
País 2 30 70 
3 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 111 444 
País 2 333 222 
 
 4 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 100 900 
País 2 300 200 
EXERCÍCIOS SOBRE VANTAGEM COMPARATIVA: Para cada tabela de dados: 
• Calcular as horas de trabalho por país, em regime de AUTARQUIA. 
• Calcular os custos de oportunidade para os países e os produtos; 
• Analisar as produtividades e indicar qual país vai se especializar em qual produto; 
• Calcular as horas de trabalho, se houver comércio internacional entre estes países; 
• Comentar sobre os ganhos de produtividade encontrados; 
1 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 105 95 
País 2 60 90 
 
2 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 200 180 
País 2 90 120 
 
3 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 10 8 
País 2 1 7 
4 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 170 140 
País 2 190 260 
 
5 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 100 110 
País 2 130 120 
6 EM AUTARQUIA 
 Prod 1 Prod 2 
País 1 1 9 
País 2 10 10 
 
C - Temas econômicos internacionais relevantes na atualidade: 
São os seguintes os temas econômicos atuais em que o estudo das teorias e políticas econômicas pode 
auxiliar a entender e resolver: 
a) Protecionismo comercial em paises desenvolvidos. Embora a teoria pura do comercio internacional 
defenda a ideia de que a melhor política para o mundo é o livre comercio, a maior parte das nações impõe 
algum tipo de barreira ao livre comercio. Estas barreiras são justificadas, em termos de bem estar social da 
nação, mas invariavelmente beneficiam uma minoria de produtores que delas tiram grande proveito 
econômico. Este problema tornou-se ainda mais complexo pela possibilidade de que o mundo se divida em 
três blocos econômicos: Um bloco norte americano (EUA, Canadá e México) um bloco europeu e um bloco 
asiático. 
b) Insegurança no emprego devido à reestruturação e diminuição dos postos de trabalho nos EUA. 
Rápidas mudanças tecnológicas, globalização e a crescente competição com as exportações de 
manufaturados das economias asiáticas (dynamic asian economies – DAEs), como Coréia e China, vêm 
causando um processo de enxugamento (downsizing) e insegurança no emprego nos EUA. 
c) Pobreza extrema em vários paises em desenvolvimento. Em contraste com o rápido crescimento de 
alguns paises, em especial a China e a Índia, que provavelmente reduzirá a pobreza de seus residentes, 
existem muitos outros paises em desenvolvimento, mais pobres, em particular os da África Subsaariana, que 
enfrentam graves problemas de pobreza extrema, endividamento externo incontornável, estagnação 
econômica e crescimento da desigualdade internacional de padrões de vida. Estas condições podem gerar 
instabilidade para a economia mundial por criar as bases para as guerras. 
d) A Crise dosSub-Prime e a recessão econômica dos EUA. A crise surgiu com inadimplência das 
hipotecas de alto risco originadas de financiamentos a clientes que não têm boa avaliação de crédito, os 
Ninja: sigla para "no income, no job or assets“ = sem renda, sem emprego e sem ativos. Em geral, esses 
créditos imobiliários têm taxas mais altas que a média do mercado e surgem quando um banco concede 
empréstimo até para imigrantes ilegais. O passo seguinte foi diluir o risco dessas operações duvidosas 
juntando-as aos milhares - e transformando a massa resultante em derivativos negociáveis no mercado 
financeiro, em valor cinco vezes superior ao das dívidas originais. Essa etapa do processo chamada de 
securitização contou com a colaboração das agências de risco que deram a estes ativos a chancela máxima de 
triple AAA, transformando os títulos tão sólidos quanto os do Tesouro dos Estados Unidos e muito mais 
confiáveis do que os bônus do governo brasileiro. 
e) Fundos Soberanos. Os fundos soberanos são constituídos com parte das reservas de países altamente 
superavitários no seu comércio exterior, na sua grande maioria, exportadores de petróleo e gás. Mais de 20 
países têm esse tipo de fundo, sendo que o maior deles, o de Abu Dhabi, acumula mais de US$ 600 bilhões. 
Os países asiáticos exportadores de manufaturados também entraram neste segmento, como o fundo da 
China, lançado este ano, com um patrimônio inicial de US$ 200 milhões. Outros fundos famosos são o russo 
Fundo de Estabilização do Petróleo, com US$ 127 bi, e o Fundo de Pensão do Governo da Noruega, com US$ 
322 bi. Segundo o FMI, podem acumular US$ 10 trilhões até 2012. 
f) Guerra Cambial: Nos últimos meses, a possível emergência de uma guerra cambial –ou atual presença de 
uma, como apontado pelo Ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega- tem causado a inquietação de 
políticos, economistas e empresários em diversos países. Mais do que um fenômeno meramente econômico, 
uma guerra cambial é um acontecimento político que, além de envolver governos específicos, é capaz de 
afetar todo o sistema internacional de comércio. Partindo da definição mais simples, guerra cambial é uma 
situação em que países competem pela desvalorização de suas moedas como forma de proteger sua 
indústria. A desvalorização cambial atua como uma espécie de subsídio implícito às exportações. Tal prática 
representa uma ação unilateral em prol de vantagens comerciais, e é expressamente proibida por 
organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). O 
cenário econômico conflituoso atualmente verificado é protagonizado por dois países: Estados Unidos e China. 
O primeiro é possuidor do maior déficit da economia mundial, enquanto o segundo ostenta o maior superávit. 
Esse imenso desequilíbrio comercial é causado, em grande parte, pela manutenção do câmbio artificialmente 
desvalorizado por parte da China. Tal manobra já há algum tempo tem sido fonte de tensão entre os dois 
países. As repercussões desencadeadas pela manipulação do câmbio praticada pela China são severamente 
agravadas por dois fatores presentes na economia norte-americana: os prejuízos que esta ainda amarga da 
crise de 2008; e o crescente déficit que há muito preocupa analistas de política econômica no país. Em 
decorrência desse cenário, o governo tem lançado mão de medidas de estímulo, como a redução da taxa de 
juros a níveis atípicos e a potencialização da emissão de moeda, chamada “enxurrada de dólares”. No intuito 
de recuperar o dinamismo econômico do país anterior à crise, as medidas de estímulo podem acabar por 
prejudicar demais países à medida que causam a valorização de suas moedas frente ao dólar. 
g) Crise do Norte da África: as revoltas populares na Tunísia e no Egito estão tirando o sono de 
governantes dos países árabes, que começam a adotar medidas de abertura e prometer reformas políticas 
para evitar que o efeito dominó chegue a seus territórios, embora os analistas acreditem que, se a rebelião 
egípcia for derrotada, o impulso reformista deverá ser freado. "Em um mês, o mundo árabe mudou mais do 
que em anos", estimou Ziad Majed, especialista em Oriente Médio Contemporâneo, da Universidade 
Americana de Paris. "O temor mudou de campo: durante décadas, os regimes autoritários se mantinham 
graças à repressão (...). Hoje, os regimes têm medo e querem evitar a qualquer preço o que aconteceu no 
Egito e na Tunísia", acrescentou. Na Jordânia, o rei Abdallah destituiu o primeiro-ministro para amainar a 
pressão popular por sua saída, mas a poderosa oposição islamita criticou a opção do substituto e convocou 
novas manifestações na sexta-feira. Na Síria, onde as redes sociais foram usadas para organizar protestos na 
última sexta-feira e sábado, o presidente Bashar al-Assad - que sucedeu o pai em 2000 - declarou querer 
"continuar a mudança em nível do Estado e das instituições". 
 
Exercícios de Fixação: 
Com base no texto acima, assinale V (Verdadeiro) ou F (Falso) para cada uma das assertivas abaixo. Caso 
você assinale (F) – Falso, indique onde está o erro: 
1 – ( ) O ser humano tem que produzir bens e serviços em larga escala pois os recursos necessários à 
produção são abundantes, mas precisam ser transformados para atender a demanda cada vez mais 
crescente. 
2 – ( ) Chamamos comércio internacional às trocas entre paises, que são feitas por meio de importações e 
exportações, que são pagas em diversas moedas que precisam ser convertidas por uma medida, a taxa de 
câmbio. 
3 – ( ) A divisão do trabalho se equilibra pelo mesmo mecanismo da competição e da oferta e procura. 
4 – ( ) O comércio internacional se resume às relações econômicas entre os paises, sendo composto de um 
conjunto de atividades que independe de fatores políticos, culturais ou de produtividade. 
5 – ( ) Segundo Adam Smith, a abertura de um país ao mercado externo conduz a um ganho importante para 
os dois parceiros da troca e, portanto, também para a economia mundial, originando o aumento global da 
riqueza. 
6 – ( ) Segundo Adam Smith, obterá sucesso no mercado externo o país que tiver vantagem absoluta em 
todos os produtos. 
7 – ( ) Segundo Adam Smith, a vantagem comparativa se dá através da medição dos custos e da 
produtividade. 
8 – ( ) Segundo Adam Smith, a vantagem absoluta se dá no fator trabalho, isto é, as pessoas devem ser 
generalistas, em vez de se especializarem em algumas tarefas para aumento da destreza pessoal e aumento 
da produtividade. 
9 – ( ) Segundo Ricardo, mesmo se um país for absolutamente menos eficiente para produzir todos os bens, 
pode participar no comércio internacional ao produzir e exportar os bens que produz de forma relativamente 
mais eficiente. 
10 – ( ) Segundo Ricardo, um país possui vantagem comparativa na produção de um bem se consegue se 
especializar e fabricar este bem a custos de oportunidade menores que os demais países. 
 
 
D - Padrões de Comércio Internacional - Comércio Intra-Indústria e 
Comércio Inter-Indústria 
Nesta seção são apresentados o significado e a importância do comércio interindústria e intra-indústria, bem 
como as características dos países e das indústrias que qualificam o comércio intra-indústria. 
Comércio interindústria: Pode-se definir o comércio interindústria como o padrão relacionado às vantagens 
comparativas do modelo desenvolvido por Ricardo (1996), ou seja, o padrão de comércio determinado pelo 
menor custo de oportunidade na produção de determinado bem, quando comparado entre os produtores e/ou 
países. Custo de oportunidade entendido como o custo relativo de produção. Ou ainda, quando há diferenças 
de produtividade na produção do bem, aquele que apresentar a mais elevada, possui vantagem comparativa 
nesse produto. Pode-se dizer que a vantagem comparativa na produção de um tipo de bem resulta em 
ampliação da fronteira de possibilidade de consumo, para uma dada fronteira de possibilidade deprodução. 
Para que as vantagens possam ser compartilhadas, basta que os países se especializem nos bens com os 
quais detêm vantagens comparativas e, portanto, menor custo de oportunidade na produção, trocando tais 
bens com a produção de outro país. 
Pode-se representar graficamente o padrão de comércio com um modelo simples com dois países produzindo 
dois bens, considerando-se que o país A se especializará na produção de computadores e o país B na 
produção de alimentos. Para ambos, dado o menor custo de oportunidade na produção de um dado bem em 
relação ao outro, tem-se, então, vantagem comparativa na produção do primeiro. Isto pode ser visualizado 
na Figura 1 a seguir. O país A apresenta maior produtividade na produção de computadores do que na de 
alimentos e o país B possui maior produtividade na produção de alimentos, comparativamente com a 
produção de computadores. 
Figura 1 - Padrão de comércio interindústria 
 
Comércio intra-indústria: O padrão de comércio interindústria é de fácil interpretação, principalmente 
quando analisado sob as óticas dos modelos ricardiano e, adicionalmente, sob a análise do padrão 
determinado pelo modelo de Heckscher-Ohlin, o qual diz que os países apresentam vantagens comparativas 
nos bens cuja produção utiliza-se do fator de produção abundante no país. De modo que a tendência é a de 
que o país exporte esses tipos de produtos. 
Todavia, um importante estudo do economista Wassily Leontief, publicado em 1953, colocou em xeque a 
teoria de Hecksher-Ohlin, ao evidenciar que as exportações norte-americanas, no pós-Segunda Guerra 
Mundial, eram menos capital-intensivas do que as importações, uma contradição que foi denominada de 
paradoxo de Leontieff. Percebeu-se, assim, outro padrão de comércio, denominado intra-indústria, explicado 
por um conjunto de características, tais como a ocorrência de economias de escala, imperfeições de mercado 
e similaridade da renda entre os países, que não pode ser analisado sob as óticas dos modelos de abundância 
de fatores e/ou vantagens comparativas. 
O comércio intra-indústria tem como característica a utilização dos mesmos fatores de produção em ambos os 
países e não é explicado pela teoria das vantagens comparativas. A ocorrência do comércio intra-indústria, 
portanto, dependerá da capacidade de os países produzirem bens diferenciados, com características de 
concorrência monopolística e, adicionalmente, ganhos provenientes de economias de escala e da demanda 
dos consumidores do outro país, conforme analisado por Krugman (1979) e Krugman (1980). A precisa 
compreensão do padrão de comércio intra-indústria pode ser dada pelo seguinte exemplo: supondo dois 
países, A, intensivo em capital, e B, intensivo em trabalho, espera-se, pela dotação de fatores, que o país A 
se especializará na produção de computadores e o país B na produção de alimentos. Contudo, em muitos 
casos, os países realizarão trocas do mesmo tipo de bem, porém com características ligeiramente distintas, 
conforme pode ser observado na Figura 2. 
Figura 2 - Padrão de comércio intra-indústria: 
 
Importante: o comércio interindústria é explicado pelas vantagens comparativas, ao passo que o comércio 
intra-indústria é explicado pelas economias de escala. 
 
3) Economias de Escala e Concorrência imperfeita: Economia de escala é aquela que organiza o 
processo produtivo de maneira que se alcance a máxima utilização dos fatores produtivos envolvidos no 
processo, procurando como resultado baixos custos de produção e o incremento de bens e serviços. Ela 
ocorre quando a expansão da capacidade de produção de uma empresa ou indústria provoca um aumento na 
quantidade total produzida sem um aumento proporcional no custo de produção. Como resultado, o custo 
médio do produto tende a ser menor com o aumento da produção. Mais especificamente, existem economias 
de escala se, quando se aumentam os fatores produtivos (trabalhadores, máquinas, etc.), a produção 
aumenta mais do que proporcionalmente. Por exemplo, se forem duplicados todos os fatores produtivos, a 
produção mais do que duplicará. Numa função produção com dois inputs' (trabalho e capital, L e K 
respectivamente) \ F(K,L) têm-se economias de escala se: F(aK,aL)>aF(K,L) para 'a' constante e maior que 
1. Sendo assim, os custos médios serão decrescentes. 
Em empresas com grande escala de produção, normalmente grandes empresas, o investimento inicial (custo 
fixo) é difundido sobre o crescente número de unidades de produção. Desta forma, estas empresas 
possuiriam vantagens sobre as pequenas, com custos médios ainda altos, o que poderia favorecer 
monopólios. "Existe economia de escala quando a expansão da capacidade de produção de uma firma ou 
indústria causa um aumento dos custos totais de produção menor que, proporcionalmente, os do produto. 
Como resultado, os custos médios de produção caem, a longo prazo" (Bannock et alii, 1977). "Aquela que 
organiza o processo produtivo de maneira que se alcance, através da busca do tamanho ótimo, a máxima 
utilização dos fatores que intervêm em tal processo. Como resultado, baixam-se os custos de produção e 
incrementam-se os bens e serviços" (SAHOP, 1978). "Ganhos que se verificam no produto e/ou nos seus 
custos, quando se aumenta a dimensão de uma fábrica, de uma loja ou de uma indústria" (Seldon & 
Pennance, 1977). 
Em finais da década de 70, Paul Krugman, Prêmio Nobel da Economia em 2008, publicou um artigo onde 
detectava o aparecimento de novos padrões comerciais. Na opinião de Paul Krugman, o tamanho do mercado 
era essencial para determinar a vantagem de um país em relação a outro nas relações comerciais. Não 
obstante, anos após esse artigo, Krugman concluiu que existem outras premissas para a criação de uma 
Economia de Escala: o padrão de localização geográfica das empresas dentro de um país leva em conta a 
oposição entre economia de escala e os custos com o transporte das mercadorias, ou seja, as empresas 
localizadas em áreas mais densamente ocupadas poderiam fazer melhor uso da economia de escala, pois 
levaria preços mais baixos para os consumidores e uma maior diversidade de oferta. 
Tudo isso provocaria uma sensação de bem-estar nos consumidores, levando-os a se deslocarem para essas 
mesmas regiões densamente ocupadas, o que por sua vez resultaria numa maior oferta de mão-de-obra, 
tornando-se assim um círculo vicioso, de concentração. Este círculo vicioso descrito por Krugman poderá de 
alguma forma ser a explicação para o aparecimento de grandes cidades, rodeadas de zonas rurais que 
sofreram uma enorme migração das suas populações para a cidade. 
Exercícios de Fixação: 
Com base no texto acima, assinale V (Verdadeiro) ou F (Falso) para cada uma das assertivas abaixo. Caso 
você assinale (F)–Falso, indique onde está o erro: 
1 – ( ) Se o Brasil exporta motores de automóveis para outro país, e dele importa automóveis, estamos 
diante de um tipo de comércio chamado de inter-indústria. 
2 – ( ) Na pauta de comércio exterior de Brasil e China consta que o Brasil exporta soja e farelo de soja, e 
importa computadores e periféricos. Sob este contexto, isto caracteriza o comércio intra-indústria. 
3 – ( ) A partir dos conceitos detalhados neste texto, podemos inferir que o Haiti pode participar ativamente 
do comércio mundial, mas este comércio será predominantemente inter-indústria. 
4 – ( ) O comércio intra-indústria possui algumas externalidades positivas, tais como os ganhos de 
aprendizado e o desenvolvimento tecnológico. 
5 – ( ) O Brasil tem ostensivamente buscado ativar o comércio exterior com países em desenvolvimento. 
Considerando-se o grau de maturidade industrial do Brasil, certamente que esta decisão visa incrementar o 
comércio intra-indústria. 
 
 
E – Panorama das exportações Brasileiras 
AEB divulga previsão da balança comercial de 2013 
A previsão dos resultados da Balança Comercial Brasileira é tradicionalmente divulgadapela AEB em 
dezembro considerando as expectativas de evolução da economia, preços, safras e produção, demanda 
mundial e interna, taxa de câmbio, dentre outras variáveis. 
Para 2013, em relação aos resultados estimados para 2012, a AEB prevê que as exportações irão alcançar 
US$239,69 bilhões, representando ligeira redução de 1,1%. Já as importações deverão atingir US$225,07 
bilhões, o que significa estabilidade (0,4%). 
Com isso, o superávit comercial projetado situar-se-á em US$ 14,62 bilhões, apontando queda de 20,0%. 
Em 2013 persistirá o quadro de incerteza e volatilidade no comércio exterior, influenciado principalmente pela 
crise européia, mercado de destino de 20% das exportações brasileiras e que concentra 37% do comércio 
mundial. Em 2012, esse quadro já se influenciou negativamente as principais commodities exportadas, mais 
no aspecto preço do que na quantidade, sendo dos males o menor para o Brasil. 
No próximo ano, tal cenário pode ser invertido, com mais quedas no quantum, devido ao elevado e crescente 
desemprego na Europa. Quedas de cotação estão previstas para ocorrer em açúcar, café e etanol. Os preços 
e o quantum do complexo soja vão estar em alta, compensando quedas de cotação e/ou de volume de outros 
produtos. 
A crise européia pode afetar não só as vendas diretas para aquele mercado, mas também indiretamente, pois 
é a região de destino de cerca de 30% das exportações chineses, que, se reduzidas, podem levar à 
diminuição das compras de chinesas de insumos brasileiros. 
O crescimento econômico da China também foi considerado nestas projeções, prevendo-se que se mantenha 
ao redor de 7,5%. Crescimento abaixo deste nível pode afetar as cotações das commodities em geral, e 
acima pode provocar sua recuperação. 
Os EUA, cuja economia está se recuperando lentamente, absorvem 10% das exportações brasileiras e são 
concorrentes do Brasil em muitos produtos. Embora não previsto, a eventual concretização do “abismo fiscal” 
trará impactos negativos para todo o comércio mundial. 
O comércio com a Argentina continuará a regredir, pois segue dependente de decisões que observam lógica 
política própria, não respeitando os compromissos assumidos no âmbito do Mercosul. 
Assim, alterações no desenrolar da crise européia, no crescimento chinês e no “abismo fiscal” dos EUA 
poderão afetar a Balança Comercial de 2013. 
 
Míriam Leitão e Valéria Maniero - COLUNA NO GLOBO, 05/Jan/2013 - O saldo encolheu 
Uma das notícias de destaque da semana foi a queda de 35% do saldo comercial: US$ 10 bilhões a menos do 
que no ano anterior. No passado seria preocupante, porque os dólares fariam falta nas nossas reservas. 
Agora, o relevante é que falhou todo o arsenal no qual o governo acredita: desvalorização do real, benefício a 
setores, elevação de alíquota de importação. 
O governo estava convencido de que bastaria o dólar chegar a R$ 2 que tudo se resolveria. Não resolveu. 
Tem apostado em política setorial. Não tem funcionado nem para o crescimento, nem para o comércio 
exterior. Tentou o protecionismo. De uma tacada foram elevadas as barreiras de 100 produtos ao nível 
máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio. 
O trio favorito — câmbio desvalorizado-benefícios setoriais-protecionismo — não evitou a queda das 
exportações e do volume de comércio brasileiro. Provavelmente teremos mais do mesmo em 2013. O 
governo tentará mudar o quadro usando o mesmo remédio. 
A diminuição do saldo reduziu a entrada de dólares no Brasil no ano passado ao menor nível desde 2008, mas 
isso também não é o preocupante. Há outros canais de entrada de dólares, como os investimentos diretos, e 
o Brasil tem hoje uma situação folgada de reservas cambiais. O saldo de cada ano ou a entrada de capital não 
precisa mais ser olhado com os temores do passado. 
O que realmente preocupa é o governo não ter um bom diagnóstico do comércio exterior e insistir nos 
equívocos. A decisão de elevar as barreiras ao comércio foi mais do que apenas um episódio. Representou um 
retrocesso no movimento iniciado em 1990 de tornar a economia brasileira mais aberta. Ela ainda é muito 
fechada, e o governo, ao distribuir elevações de alíquota, deu o sinal de que aceitaria outros pedidos setoriais 
de proteção. Foi um grande passo na direção errada. 
O dólar muito baixo estava criando distorções na economia, mas o governo mostrou que acredita que a 
desvalorização do real seria uma panaceia. Mas a moeda do câmbio tem dois lados. A desvalorização produziu 
efeitos colaterais, no custo das empresas e na inflação. E não houve o resultado que se esperava no comércio 
exterior. 
Recentemente, o vice-presidente do BNDES, em uma entrevista, disse que o banco não está trabalhando para 
criar “campeões nacionais”, mas sim para criar “campeões internacionais”. Este governo realmente acredita 
que se ele aspergir benefícios sobre um específico grupo, ou setor, ele fará uma economia forte. Para apostar 
nisso é preciso ignorar as lições da história recente do Brasil. 
O mais eficiente seria investir em políticas que beneficiem a economia como um todo, permitindo aumento da 
competitividade. Um país exportador de commodities precisa de melhores estradas e portos mais eficientes 
do que temos. Isso é infinitamente mais importante do que a ação em favor dos supostos fazedores de 
campeões. 
A previsão da AEB, entidade que reúne exportadores brasileiros, é de que o saldo cairá de novo em 2013. A 
queda para R$ 19,4 bilhões em 2012 só não foi maior porque se descobriu que a Petrobras teve permissão 
para jogar alguns números de 2012 para este ano. Mais um truquezinho contábil. 
Quase 70% do que o Brasil exporta são commodities e para alguns poucos mercados. Isso deixa o país 
vulnerável a qualquer oscilação de preços, como a queda do minério de ferro que aconteceu em 2012 e pode 
se repetir este ano, ou de conjuntura. Uma política comercial que tivesse visão estratégica estaria olhando 
todos esses fatores que estão drenando a competitividade do Brasil. Isso faz mais falta do que US$ 10 bilhões 
a menos no saldo. 
 
 
F – Competitividade Internacional 
1 - INTRODUÇÃO: O termo competitividade vem sendo muito utilizado nos meios acadêmico e empresarial, 
e está ligado diretamente à capacidade de enfrentar a concorrência. Mas, o que de fato é competitividade? 
Como pode ser mensurada? Existem várias abordagens sobre o tema. A mais simples e difundida é aquela 
que a relaciona ao desempenho das exportações com o livre comércio imposto pelo capitalismo, vence aquele 
que se tornar mais competitivo, aquele que apresentar um resultado mais satisfatório de que todos seus 
concorrentes. 
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE COMPETITIVIDADE: O tema competitividade assumiu uma 
presença crescente e marcante na análise econômica do desempenho de empresas, indústrias e países devido 
ao processo de globalização enfrentado pela economia mundial nos últimos anos. Para manter ou conservar 
condições competitivas, as empresas e os governos passaram a ter uma necessidade de reestruturação 
produtiva e organizacional, através de redefinição de estratégias, de desenvolvimento de novos mercados, 
entre outros recursos, os quais exigem um grande esforço de adaptação. Sendo assim, o conceito de 
competitividade está vinculado à eficiência produtiva. 
Shumpeter (1950) contribuiu, de forma pioneira, no questionamento da abordagem neoclássica, ao associar a 
base científica à base tecnológica de uma atividade. O autor propõe o entendimento da tecnologia como um 
bem que, como outros, incorpora um sistema produtivo em sua criação, envolvendo custos e riscos. Assim, a 
passagem da invenção para inovação implica na existência de um agente, o qual se define no núcleo da 
competição – o empresário - e que utiliza a informação tecnológica como instrumento competitivo. Esta 
realidade propiciou o surgimento de muitos modelos e métodos na literatura tendo como objetivo estudar, 
avaliar e mensurar a competitividade de firmase setores, bem como identificar os fatores que a afetam. 
POSSAS (1996), considerou a competitividade como sendo atributo de concorrência e definiu concorrência 
como sendo o processo em que as empresas buscam o lucro por meio de constantes tentativas de 
diferenciação junto aos seus concorrentes. Dessa forma, quando competitividade expressa capacidade de 
inovação, é necessário, para desenvolver potencial competitivo, o investimento tanto em potencialidades das 
firmas (tecnológicos, produtivos, entre outras) quanto específicas do ambiente econômico (externalidades 
sociais, técnico/ científicas, condições institucionais, entre outras). 
Outro conjunto de autores, em seus estudos sobre desafios competitivos, atribuiu à competitividade, 
características de desempenho e eficiência (FERRAZ et al., 1996). O desempenho teria relação direta com a 
participação de um determinado produto ou empresa no mercado. 
Alguns autores também citam, como exemplo de competitividade internacional, a participação das 
exportações de um setor no comércio externo. Eficiência determina a competitividade potencial, e é resumida 
pelos autores como a capacidade das firmas converterem os insumos em produtos com o máximo 
rendimento. “A capacidade de a empresa formular e implementar estratégias concorrências que lhe permitam 
ampliar ou conservar de forma duradoura uma posição sustentável no mercado”, a competitividade, assim, 
foi definida por FERRAZ et al. (1996:3). No entanto, o termo competitividade não tem respaldo apenas nas 
abordagens econômicas. As interpretações de competitividade também podem ser fundamentadas a partir de 
teorias que têm sua origem na área de estratégia das organizações. 
Com a crescente internacionalização das economias, o estudo da competitividade dos países tem preocupado 
nos últimos anos as autoridades econômicas mundiais e os estudiosos da teoria econômica. Após a Segunda 
Grande Guerra, os Estados Unidos e a URSS discutiam os problemas mundiais em termos bipolares, e suas 
rivalidades os levaram a uma crescente corrida armamentista. Porém, nas últimas décadas, o equilíbrio das 
forças alterou-se com incrível rapidez. A Europa recuperou-se dos prejuízos da guerra e primeiramente como 
CEE (Comunidade Econômica Europeia) e atualmente como UE (União Europeia), tornou-se uma das maiores 
unidades comerciais do mundo. 
A parcela do Terceiro Mundo na produção de manufaturados e no PIB mundial, que na década posterior a 
1945, tinha declinado, vem-se expandindo. A República Popular da China está avançando em um ritmo 
bastante acelerado com taxas de crescimento próximas de 10% no último decênio. O resultado destes novos 
acontecimentos é uma nova ordem mundial de progressiva internacionalização da vida econômica, tendente a 
favorecer a concorrência, na qual é posta em prática a capacidade competitiva das empresas nacionais e das 
empresas. Diante destes novos desafios, o Brasil deve envidar esforços no sentido de revitalizar seus recursos 
de uma maneira geral, e principalmente os ligados à mineração, para competir em igualdade de condições no 
mercado internacional. 
3. COMPETITIVIDADE NO BRASIL: A competitividade no Brasil está condicionada e associada à estrutura 
sócio-econômico-financeira da nação e tem por base, entre outros, os seguintes vetores: quadro institucional, 
padrão de especialização, infraestrutura e tecnologia de produção. Para melhorar a competitividade da 
indústria brasileira é imprescindível a liberalização do comércio externo com a eliminação do excesso de 
burocracia e das distorções nos sistema tributário e tarifário. A competitividade de um país leva em conta 
alguns itens: estabilidade financeira; sofisticação do mercado acionário; infraestrutura e carga tributária; taxa 
de câmbio; burocracia oficial e estabilidade política. Índices comprovam que o Brasil ainda não é uma 
economia internacionalmente competitiva e que quase todas as instituições econômicas nacionais, ainda são 
deficientes. Um forte indicativo do fraco desempenho econômico pode ser observado nas exportações. A 
economia brasileira apresenta hoje um padrão geral de comércio onde, pelo lado das exportações, ramos de 
manufaturados e semimanufaturados intensivos em recursos naturais e energia apresentam forte 
competitividade e expansão. Reduziu-se a dependência em relação a produtos básicos, mas há uma crescente 
especialização, no conjunto, de produtos industrializados com conteúdo tecnológico relativamente simplificado 
e pequeno valor agregado. A abertura comercial, por outro lado, provocou a adoção de programas de 
racionalização pelas empresas no Brasil, levando a um aumento de produtividade expresso em índices de 
valor agregado por trabalhador empregado. A especialização em linhas de produto ou em segmentos da 
produção resultou em uma estrutura produtiva mais enxuta e competitiva. Contudo, ampliou-se o coeficiente 
de importação de produtos, componentes ou insumos com maior conteúdo tecnológico, reforçando a 
tendência de especialização revelada nas exportações. 
4. OS ANOS COLLOR - ABERTURA COMERCIAL E O PLANO REAL: A ascensão de Fernando Collor ao 
poder, em 1990, inaugurou o mais contundente processo de transformação econômica dos últimos 40 anos. 
Após décadas em que as políticas econômicas eram desenhadas e implementadas para promover a 
industrialização por substituição de importação e sedimentar o parque industrial nacional através de reservas 
de mercado, empresas estatais e instrumentos regulatórios, cambiais, fiscais e creditícios, promoveram-se 
profundas mudanças nas políticas públicas. 
Em poucos anos, removeu-se um enorme e complexo sistema de proteção não tarifária e reduziram-se as 
tarifas nominais e efetivas modais para cerca de 1/4 daquela prevalecente na década de 1980. Os efeitos das 
reformas comerciais não tardaram a surgir. A penetração de importações na manufatura, setor mais afetado 
pela reforma comercial, duplicou em apenas cinco anos, saltando de 5,5%, em 1990, para 10,7%, em 1995. 
As exportações, por outro lado, tiveram modesto crescimento, o que levou, já em 1995, à reversão do saldo 
da balança comercial, que estivera positivo desde o início da década de 1980. As reformas, no entanto, não 
se limitaram ao comércio internacional. A privatização foi outra importante mudança introduzida na década. 
Embora a privatização tenha começado em 1991 de forma modesta, em 1995 os setores siderúrgico, 
fertilizantes, petroquímica, além de outros, já tinham sido passados à iniciativa privada e, nos anos que se 
seguiram, os setores de telecomunicações e outros serviços públicos foram também privatizados. A 
desregulamentação dos investimentos estrangeiros, o sistema financeiro e o mercado de trabalho, dentre 
outros, também provocaram importantes mudanças na economia. Além dessas reformas, a década de 1990 
testemunhou o sucesso do Plano Real, ao estabilizar a inflação, após sucessivas tentativas de congelamento 
de preços e salários e mudanças de moeda. 
5. COMPETITIVIDADE E TRABALHO: Arbache e De Negri (2001) utilizam uma inédita base de dados ao 
nível das firmas, e não da indústria, como é largamente utilizado em trabalhos similares, para investigar os 
determinantes do comércio exterior brasileiro. A base de dados utilizada contém informações de mais de 5 
milhões de trabalhadores empregados em cerca de 31 mil firmas do setor industrial brasileiro. O período 
analisado foi 1996-1998. 
 
Uma síntese dos resultados de Arbache e De Negri (2001) mostra que, primeiro, as firmas exportadoras e 
não exportadoras têm diferentes características de mão-de-obra, tamanho e nacionalidade do capital. 
Segundo, as firmas do setor exportador pagam um prêmio salarial, o qual deve estar associado a salários de 
eficiência, variáveis produtivas omitidas, maior eficiência ou ganhos derivados da tecnologia e/ou escala de 
produção. 
Terceiro, economias de escala e educação média da força de trabalho— que é Proxy de tecnologia — são 
fatores fundamentais para explicar a probabilidade de a firma exportar, independentemente da indústria da 
qual ela faça parte. Quarto, não foram encontradas evidências de um padrão de exportação ao nível da 
indústria, com base na dotação de fatores e vantagens comparativas, como sugere o modelo de HO. Quinto, 
as firmas exportadoras valorizam mais as variáveis de capital humano que as firmas não exportadoras, 
sugerindo que aquelas dependem mais de qualidade e eficiência que estas. Sexto, a competitividade 
internacional da firma parece estar associada mais às suas características e menos às características da 
indústria da qual ela faz parte. 
6. UMA TENTATIVA DE EXPLICAÇÃO: Parece que teria havido as seguintes mudanças na economia 
brasileira: 
a) as condições da concorrência do mercado internacional de bens semimanufaturados e manufaturados de 
baixo valor agregado, bem como de bens agrícolas, teriam se deteriorado na década de 1990 devido à 
simultaneidade da liberalização comercial de diversos países em desenvolvimento do mesmo porte do Brasil e 
às suas tentativas de aumento das exportações para financiar as importações e a modernização das suas 
respectivas economias; 
b) o impacto resultante das reformas e das políticas econômicas da década de 1990 teria causado exit-effect 
(efeito de abandono) entre as firmas brasileiras, fazendo com que as menos aptas e as tecnologicamente 
menos modernas tivessem desaparecido; e 
c) visando sobreviver no novo contexto econômico local e internacional e se aproveitando das facilidades de 
importação de bens intermediários, bens de capital, novas tecnologias, e a entrada em larga escala de 
investimentos diretos estrangeiros, teria havido ampla modernização das firmas brasileiras. 
Os itens (a) e (c) teriam elevado o patamar tecnológico médio das firmas remanescentes. Dessa forma, o 
aumento da competição internacional experimentada pela economia brasileira no início da década de 1990, e 
as demais reformas efetivadas no período teriam pressionado as firmas a implantar vigorosas mudanças em 
seus processos produtivos, levando-as à adoção de novas tecnologias como forma de sobreviver num 
mercado muito mais seletivo, exigente e competitivo. Como vimos, elas teriam se aproveitado das novas 
facilidades de importar máquinas, equipamentos e tecnologias para mudar seu paradigma de produção, de 
forma a produzir melhores produtos a preços mais baixos. Ademais, o ambiente mais competitivo teria 
provocado exit-effect, permanecendo no mercado essencialmente as firmas mais sofisticadas e preparadas 
para operar dentro das novas conformações da economia. De outro lado, o tamanho do mercado interno e 
regional e as proteções associadas ao Mercosul teriam contribuído para que a empreitada tivesse sucesso, 
permitindo ganhos de escala e produção mais eficiente. As reações das firmas às mudanças econômicas 
teriam sido bastante agudas, as quais, juntamente com o exit-effect, teriam nos levado rapidamente para um 
maior nível de aprimoramento e sofisticação, colocando-nos em posição para concorrer em certos mercados 
de bens de valor intermediário de agregação. Dessa forma, poder-se-ia explicar o significativo aumento dos 
salários relativos, a crescente demanda por trabalhadores mais qualificados, a competitividade das firmas 
baseada em escala de produção e tecnologia, e os maiores salários relativos dos trabalhadores das firmas 
exportadoras. Essa análise sugere que, tão logo a competição se acirrou devido à entrada de países como 
China, Indonésia e México nos mercados internacionais de bens pouco elaborados, teria ficado claro que a 
competitividade marginal do Brasil não era grande o suficiente para competir com esses países em mercados 
de bens semimanufaturados ou manufaturados de baixo valor, impelindo-nos a buscar mercados. 
7. CONCLUSÃO: As evidências e argumentos apresentados neste capítulo nos conduzem a duas conclusões 
gerais. A primeira é que, desde o início da década de 1990, o Brasil tem passado por um intenso processo de 
transformações que rompem com o quadro econômico e de políticas públicas que prevaleceram por várias 
décadas. Segunda, o Brasil introduziu tardiamente o processo de abertura comercial e integração à economia 
mundial como meio de promoção do crescimento, o que teria causado importantes mudanças no mercado de 
trabalho. Ademais, foram introduzidas simultaneamente à abertura outras reformas, como a privatização, 
desregulamentação, estabilização e ajustamento das contas públicas, as quais teriam também contribuído 
para os fortes impactos observados na economia e no mercado de trabalho no período. 
Exercícios de Fixação: Com base no texto acima, assinale a alternativa que está em pleno acordo com as premissas do 
histórico recente do Comércio Exterior Brasileiro, em termos de competitividade: 
1 (a) Segundo Schumpeter, a tecnologia é um bem que 
não incorpora um sistema produtivo em sua criação. 
(b) O conceito de competitividade está vinculado à 
eficiência produtiva e ao desempenho. 
(c) Segundo Schumpeter, o empresário nem sempre 
utiliza a informação tecnológica como instrumento 
competitivo. 
(d) Estratégia empresarial é a capacidade das firmas 
converterem os insumos em produtos com o máximo 
rendimento. 
2 (a) Os acontecimentos da nova ordem mundial, com 
progressiva internacionalização da vida econômica, tende 
a impedir a livre concorrência. 
(b) O autor recomenda que o Brasil deve revitalizar seus 
recursos para aumentar a substituição de importações. 
(c) Para competir no mercado internacional em igualdade 
de condições, é necessário privilegiar as empresas 
genuinamente brasileiras. 
(d) A parcela do Terceiro Mundo na produção de 
manufaturados e no PIB mundial, está se expandindo. 
3 – A competitividade no Brasil está condicionada e 
associada à estrutura sócio-econômico-financeira da 
nação e tem por base... 
(a) O quadro institucional, padrão de especialização, 
infraestrutura e estrutura produtiva. 
(b) O quadro institucional, padrão de especialização, 
valor agregado e tecnologia de produção 
(c) O quadro institucional, especialização, infraestrutura 
e tecnologia de produção 
(d) O quadro institucional, padrão de especialização, 
infraestrutura e tecnologia de produção 
4 (a) O Brasil ainda não é uma economia 
internacionalmente competitiva. 
(b) Distorções nos sistema tributário e tarifário 
prejudicam a competitividade brasileira. 
(c) Um dos entraves ao comércio exterior é a burocracia. 
(d) Todas as respostas estão corretas. 
5 (a) A abertura comercial dos anos 90 impactou 
severamente as empresas brasileiras, que tiveram que 
mudar para sobreviver ou sair do mercado 
(b) As afirmativas de (a) e (d) estão corretas. 
(c) As afirmativas de (a) e (d) estão erradas. 
(d) No comércio exterior recente o Brasil está forte em 
produtos industrializados de baixo teor tecnológico. 
6 (a) Está correto associar a gestão de Fernando Collor 
de Mello à abertura comercial brasileira. 
(b) Está correto associar substituição de importações e 
reserva de mercado. 
(c) Está correto associar abertura comercial dos anos 90 
ao ajustamento das empresas, em que só as eficientes 
continuaram a exportar. 
(d) Todas as afirmativas estão corretas. 
7 - Com a abertura comercial dos anos 90 
(a), as importações triplicaram e as exportações pouco 
cresceram. 
(b) as importações ficaram estagnadas e as exportações 
pouco cresceram. 
(c) as importações dobraram e as exportações pouco 
cresceram. 
(d) as importações e as exportações geraram superávit 
na balança comercial. 
8 – Os anos 90 foram tempos de grandes mudanças na 
economia brasileira, pois: 
(a) as privatizações e o plano Real foram um sucesso. 
(b) setores estratégicos foram entregues à iniciativa 
privada e grandes empresas começaram trazer grandes 
investimentos para o país; 
(c) os seguidos congelamentos de preços e salários e 
mudanças de moeda foramfundamentais para alavancar 
as exportações. (d) somente (a) e (b) estão corretas. 
9 – A pesquisa de Arbache e De Negri, feita em 1998, 
mostrou que: 
(a) Empresas exportadoras empregam 3 vezes mais que 
as empresas não exportadoras; 
(b) Empresas não exportadoras pagam salários inferiores 
aos das empresas exportadoras; 
(c) empresas exportadoras têem maior rotatividade de 
pessoal. 
(d) empregados de empresas exportadoras têem mais 
anos de escolaridade. 
10 – Nas sentenças abaixo, marque (V) ou (F): 
( ) Embora tenha aumentado a competição internacional, 
as firmas brasileiras não chegaram a implantar 
mudanças em seus processos produtivos. 
( ) As empresas brasileiras se aproveitaram das novas 
facilidades de importar máquinas, equipamentos e 
tecnologias para mudar seu paradigma de produção. 
( ) Com as mudanças, permaneceram no mercado 
somente as firmas mais bem preparadas para lidar com 
um mercado mais protegido pelas reservas de mercado. 
( ) A criação do Mercosul não contribuiu para que a as 
empresas brasileiras se beneficiassem com ganhos de 
escala e produção mais eficiente. 
( ) A abertura comercial passou a provocar o aumento 
dos salários e crescente demanda por trabalhadores mais 
qualificados. 
 
 
G – Protecionismo Internacional 
1 - Apresentação: No atual cenário do comércio internacional é de fundamental importância que esforços 
sejam desenvolvidos no sentido de aumentar significativamente a reduzida participação das exportações 
brasileiras no mercado mundial, cuja fatia situa-se atualmente em menos de 1%, cifra esta que não 
corresponde às dimensões da economia do país e muito menos às suas potencialidades. Para atingir esse 
objetivo faz-se necessário, inicialmente, a identificação das barreiras existentes às nossas exportações, de 
forma sistemática e atualizada, para posterior análise de seu impacto econômico, visando, simultaneamente, 
informar e melhorar a performance do setor exportador, bem como servir de subsídios às negociações 
internacionais que visem à eliminação dos obstáculos comerciais. Desta forma, para viabilizar esse Projeto, o 
MDIC está aberto a todo exportador que queira participar com suas ideias e contribuir com informações e 
divulgação das dificuldades em geral de acesso para seus produtos, em qualquer mercado. É importante que 
o setor privado dê sua contribuição, pois o êxito dessa iniciativa dependerá, sobretudo, do engajamento do 
setor exportador brasileiro, tendo em vista sua experiência e vivência diária na matéria. Na literatura e 
trabalhos internacionais, normalmente são consideradas barreiras não tarifárias as medidas e os instrumentos 
de política econômica que afetam o comércio entre dois ou mais países e que dispensam o uso de 
mecanismos tarifários (tarifas ad-valorem ou específicas). 
 Barreiras naturais: moeda, idioma, legislação, cultura, unidades de medida, estágio científico, dentre 
outros; Barreiras inaceitáveis: os da economia de mercado imperfeito: Monopólio, Dumping, 
Oligopólio, Trust => Cartel; 
2 – Protecionismo: Protecionismo é a teoria que propõe um conjunto de medidas econômicas que 
favorecem as atividades internas em detrimento da concorrência estrangeira. O oposto desta doutrina é o 
livre-comércio. 
Vantagens: 
Proteção da indústria e agricultura do país. 
Garantia dos empregos internos. 
Incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias 
Fechamento das fronteiras para o comércio, estancando 
a sangria das contas externas 
Desvantagens 
Aumento de preços internos. 
Falta de incentivo na indústria interna na busca de 
melhorias. 
Atraso tecnológico ao país frente a inovações externas. 
Perda de mercados externos. 
Esta doutrina visa proteger o mercado interno através da criação de mecanismos que dificultam a entrada no 
país de mercadorias importadas, reduzem a competição externa e assim permitem o livre desenvolvimento 
das atividades econômicas internas. A teoria contrária ao protecionismo é o livre-comércio. 
Através desta linha de atuação, garante-se a independência de um país, enquanto ao se optar pelo caminho 
inverso, atinge-se o estágio da interdependência entre Estados concorrentes. Todos os países, mais ou 
menos, adotam essas medidas econômicas em algum momento de sua trajetória político-econômica. Para 
tanto, estabelecem tarifas elevadas e impõem regras técnicas aos produtos externos, gerando assim uma 
série de obstáculos que tornam mais difícil sua entrada no mercado nacional, ao diminuir sua margem de 
lucros. Também é comum criar subsídios à indústria interna, propiciando um crescimento mais intenso; e 
instituir uma porcentagem fixa de mercadorias e de trabalhos estrangeiros no mercado interno. 
Como conseqüência, os empregos no âmbito nacional ficam garantidos, a indústria e a agricultura internas 
são protegidas, estimula-se o incremento de novas técnicas nacionais e estimula-se a abertura das fronteiras 
para atividades comerciais. Por outro lado, porém, há uma elevação dos preços dos produtos nacionais; na 
falta de uma maior competitividade, as indústrias se acomodam e não desenvolvem o potencial integral de 
que dispõem; o país não acompanha o avanço tecnológico em curso no contexto externo e há uma privação 
dos mercados exteriores. 
A Organização Mundial do Comércio – a OMC – regula o comércio entre os vários países. Assim, é este órgão 
que vela pela instituição de regras nas transações comerciais externas e vigia as medidas protecionistas 
adotadas pelas diversas nações. Seu objetivo é favorecer um mercado mais liberal. O protecionismo, como 
visto acima, tem suas vantagens e desvantagens, mas talvez o seu maior prejuízo seja na esfera das políticas 
que incentivam a luta contra a fome e o desenvolvimento das nações pobres. 
 
Hoje, o Brasil enfrenta uma séria ameaça do mercado chinês e de outros recém-chegados à economia 
mundial. A competição com estes países não é possível no campo dos preços, e sim na esfera do marketing, 
dos recursos tecnológicos, da concepção e do planejamento dos produtos, bem como no aproveitamento dos 
recursos naturais, área na qual o Brasil se destaca. Mas é justamente das diferenças produtivas entre os 
variados países, da competição entre suas várias possibilidades, que nasce o progresso. Se todo país 
radicalizasse em suas medidas protecionistas, cada nação seria uma autarquia isolada, não haveria contato 
entre os Estados. Sem a disputa e o intercâmbio necessários para o crescimento, cada economia tenderia a 
uma provável estagnação. O protecionismo, portanto, é importante para o desenvolvimento econômico de um 
país, mas em um grau moderado, pois sua versão radical poderia gerar um quadro drástico para a economia 
mundial. 
Instrumentos da Política Comercial 
1 - TARIFAS - IMPOSTOS: na economia, ao se analisar o impacto dos impostos sobre a oferta e a 
demanda, criou-se um conceito chamado “peso morto dos tributos”. Talvez você não saiba, mas a tributação 
tem uma influência muito maior do que simplesmente o valor arrecadado na forma de tributos, que são os 
recursos que saem da coletividade e que voltam (ou deveriam voltar) para a sociedade. Quando um imposto 
é estabelecido ou sua alíquota é aumentada, a quantidade total demandada e ofertada diminui, tendo em 
vista que o preço fica mais caro para o consumidor e o valor recebido pelo vendedor diminui. O valor recebido 
pelos vendedores menos o custo de produção representa um ganho, denominado de excedente dos 
produtores. Da mesma forma, o valor atribuído pelos consumidores menos o preço pago pelo produto 
representa o ganho dos consumidores, denominado excedente dos consumidores. Na medida em que o 
imposto é estabelecido, ao se diminuir a quantidade de produtos comprados e vendidos, diminui-se o 
excedente total (excedente dos produtores mais o excedente dos consumidores). Além disso, há a redução 
desse excedente total pelo montante dos tributos pagos, correspondentes à quantidade transacionada vezesa 
alíquota tributária. 
2 - SUBSÍDIOS: Entende-se como subsídio a concessão de um benefício, em função das seguintes 
hipóteses: 
• existência, no país exportador, qualquer forma de sustentação de renda ou de preços que, direta ou 
indiretamente, contribua para aumentar exportações ou reduzir importações de qualquer produto; ou 
• existência de contribuição financeira por um governo ou órgão público, no interior do território do 
país exportador. 
3 - QUOTAS: Entendem-se as restrições quantitativas impostas sobre o volume ou o valor das importações. 
Podem ser fixadas em acordos entre paises ou ser resultado de decisão unilateral. Sempre que são impostas 
restrições quantitativas, a insuficiência de oferta resultante provoca alta de preços do mesmo modo que as 
tarifas. Foi adotado no Brasil no período pós guerra. Tinha o propósito de equacionar o desequilíbrio do 
Balanço de Pagamentos. Com o tempo foi utilizado como promoção do desenvolvimento industrial, 
procurando inibir o ingresso de bens de consumo não essenciais e daqueles que tivesse similar nacional. 
4 – SALVAGUARDAS: As medidas de salvaguarda têm como objetivo aumentar, temporariamente, a 
proteção à indústria doméstica que esteja sofrendo prejuízo grave ou ameaça de prejuízo grave decorrente do 
aumento, em quantidade, das importações, em termos absolutos ou em relação à produção nacional, com o 
intuito de que durante o período de vigência de tais medidas a indústria doméstica se ajuste, aumentando a 
sua competitividade. 
• Indústria Doméstica: Considera-se como indústria doméstica, o conjunto de produtores de bens similares 
ou diretamente concorrentes ao produto importado, estabelecido no território brasileiro, ou os produtores 
cuja produção total de bens similares ou diretamente concorrentes ao importado constitua uma proporção 
substancial da produção nacional de tais bens. O termo "indústria" inclui, ainda, as atividades ligadas à 
agricultura. 
• Prejuízo Grave ou Ameaça de Prejuízo Grave: Entende-se por prejuízo grave a deterioração geral e 
significativa da situação de uma determinada indústria doméstica e por ameaça de prejuízo grave a clara 
iminência de prejuízo grave, com base em fatos e não apenas em alegações ou possibilidades remotas. É um 
instrumento de defesa comercial que consiste na aplicação de medidas temporárias e seletivas, tais como 
tarifas ou restrições quantitativas (quotas), destinadas a dificultar a entrada de produtos importados que 
estejam ameaçando a produção nacional de bens similares. 
 
Como enfrentar o protecionismo – Revista Exame/Economia 
http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0938/economia/como-enfrentar-protecionismo-425345.html 
A onda de fechamento de mercados que toma conta do mundo é perigosa e merece ser confrontada pelo 
Brasil - e há um jeito certo de fazer esse combate. De tempos em tempos, quando a economia global adoece, 
como agora, uma infecção oportunista - o protecionismo - começa a se manifestar pelo mundo todo. Nesse 
quadro, é comum ver empresários reivindicando barreiras contra produtos importados e trabalhadores 
gritando contra o emprego de imigrantes estrangeiros. Governos, que dependem de votos tanto de 
trabalhadores quanto de empresários, tendem a ceder às reivindicações. O passo seguinte normalmente é a 
adoção de medidas que interrompem o fluxo normal do comércio, transformando-se em distorções 
econômicas com efeitos potencialmente destrutivos. 
"Na década de 30, o protecionismo levou ao nacionalismo e à Segunda Guerra", disse o vice-chanceler 
britânico, Mark Malloch Brown, a EXAME. De fato, enquanto eram castigados pela profunda recessão que 
sucedeu à queda da bolsa em 1929, os Estados Unidos aumentaram os impostos de importação de 20 000 
produtos. O resultado foi uma reação em cadeia dos europeus, barrando a entrada de produtos americanos. 
Três anos depois, as exportações e importações americanas tinham caído mais de 60% e a crise virou a 
Grande Depressão. Passadas quase oito décadas, o mundo começa a flertar com os mesmos erros. Desde que 
a crise americana começou a afetar outras economias, o vírus protecionista voltou a atacar em escala 
planetária e tornou-se uma ameaça à globalização. Ele também é mais uma ameaça ao comércio mundial, já 
enfraquecido pela crise - a previsão é que, após 27 anos consecutivos de crescimento, as trocas entre os 
países declinem em 2009. 
Infiltradas em pacotes de estímulo econômico ou infringindo descaradamente regras básicas do comércio 
internacional, investidas protecionistas se multiplicaram nos últimos meses. Nos Estados Unidos, maior 
parceiro comercial do Brasil, o governo Obama lançou um pacote de quase 800 bilhões de dólares, incluindo 
as controversas cláusulas buy american (algo como "compre produto americano"), com o intuito de gerar pelo 
menos 3 milhões de empregos. Na prática, foram inicialmente estabelecidos benefícios fiscais a empresas 
americanas que preferirem ferro, aço e outros itens produzidos no país. 
A iniciativa gerou protestos no mundo todo, e Obama decidiu retirar do pacote as restrições às empresas 
europeias e canadenses, que ameaçaram abrir processo contra os Estados Unidos na Organização Mundial do 
Comércio. No mesmo rumo, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, aprovou ajuda de 6,5 bilhões de euros 
para montadoras, recomendando que as beneficiadas investissem dentro da França para criar ou manter 
empregos no país. A crise ainda gerou uma nova variedade de vírus protecionista, o que a revista The 
Economist chama de "nacionalismo econômico". Trata-se da recusa, seja por incapacidade financeira, sejam 
por restrições deliberadas, de os bancos de países ricos emprestarem aos do mundo em desenvolvimento. Foi 
justamente esse corte repentino no crédito o principal canal de contágio da crise global no Brasil. 
O presidente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, se diz preocupado com o fato de, 
ao capitalizar bancos em dificuldades, os governos do Primeiro Mundo instruírem os banqueiros a manter o 
dinheiro em casa. 
Para o Brasil, os efeitos comerciais mais diretos estão sendo provocados pelas medidas impostas pela 
Argentina, segunda maior importadora de produtos brasileiros. Lá, o protecionismo ressurgiu inicialmente sob 
o disfarce da burocracia: o governo da presidente Cristina Kirchner promoveu aumento de alíquotas de 
importação e ampliou o número de produtos que precisam de licença para entrar no país. O documento está 
dentro das regras da OMC, mas vem sendo emitido com prazo superior ao máximo de 60 dias fixado pelo 
órgão. O setor calçadista brasileiro tem sido um dos mais afetados. "Muitos clientes cancelaram pedidos por 
causa dos atrasos, pois os sapatos seguem as estações do ano e têm tempo certo para ser vendidos", diz 
Paulo Tigre, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul. 
Para tentar resolver o impasse, argentinos e brasileiros travam intensas negociações. Depois de um primeiro 
encontro em Brasília, em fevereiro, mais duas reuniões de alto nível estão marcadas para São Paulo e Buenos 
Aires. De sua parte, os argentinos dizem não poder suportar a competitividade brasileira. Irritado com a 
resistência argentina em manter as barreiras aos produtos brasileiros, o secretário de Comércio Exterior do 
Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, ameaça acionar a OMC. "Em 2008, as barreiras argentinas 
causaram prejuízo de 1,5 bilhão de dólares aos exportadores brasileiros", diz Barral. 
Num ambiente em que governos de vários países, incluindo os mais desenvolvidos, agem de maneira 
protecionista, o que é melhor fazer? Aderir à onda ou lutar contra ela? Há, no leque de reações possíveis, 
formas mais ou menos inteligentes de lidar com o problema? 
Com a experiência de quem foi embaixador brasileiro em Londres e em Washington, o ex-diplomata Rubens 
Barbosa avalia que há, sim, alternativas boas e más entre as opções. "O protecionismo

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