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Bioquímica Professora Me. Andressa Lorena Ieque Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP L616b Leque, Andressa Lorena Bioquímica/ Andressa Lorena Leque. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 164 p.: il. Color. ISBN 978-65-87911-91-5 1. Bioquímica. 2. Carboidratos – Metabolismo. 3. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 614.0981 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTORA Professora Me. Andressa Lorena Ieque ● Mestre em Ciências da Saúde (Universidade Estadual de Maringá) ● Doutorado em andamento (Universidade Estadual de Maringá) ● Bacharel em Biomedicina (UEM). ● Professor de pós-graduação na Faculdade Eficaz ● Docente de cursos de graduação Biomedicina, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição na UniFatecie CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4780393744371602 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá aluno(a)! Seja bem-vindo à disciplina de Bioquímica. Essa disciplina será de extrema importância para a sua formação, pois trata-se do estudo da vida de modo geral. A bioquímica é a ciência que estuda o conjunto de biomoléculas que existem no mundo, levando em consideração sua complexidade química e seu envolvimento com outros ele- mentos do ambiente e organismos vivos. Além disso, o conteúdo da bioquímica é extremamente importante para aplicação de técnicas laboratoriais e de pesquisa, relacionando-se estreitamente com diversos campos da ciência e da tecnologia. Portanto, essa disciplina provavelmente enriquecerá seu conhecimento no contexto atual da importância e necessidade de gerar novos recur- sos em todos os campos. Na Unidade I, iremos conhecer a bioquímica como ciência e ser apresentados às macromoléculas mais importantes para processos que ocorrem nos organismos vivos. Tam- bém buscaremos compreender alguns princípios de como a vida é mantida a nível celular, destacando o processo de manutenção de energia para o funcionamento do metabolismo celular e contextualizar o papel da água nas funções biológicas. Na Unidade II, vamos caracterizar cada uma das biomoléculas quanto à sua cons- tituição química e propriedades, além de ressaltar as suas funções específicas estruturais ou metabólicas. As biomoléculas abordadas serão os nucleotídeos e ácidos nucleicos, lipídeos, as proteínas, as enzimas, coenzimas e vitaminas e os carboidratos. Na Unidade III, estudaremos as principais rotas bioquímicas e as reações envolvi- das no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. Esse destaque é merecido, uma vez que explicam todo o processo de obtenção e manutenção de energia para manter os organismos em funcionamento. Por fim, na Unidade IV, compreenderemos como as vias metabólicas atuam de forma integrada através de um mecanismo regulatório norteado por hormônios. Também serão pontuadas algumas doenças resultantes de defeitos metabólicos e suas principais consequências ao corpo humano. Será um prazer compartilhar todo conhecimento com vocês, e espero que todo o conteúdo contribua para o seu crescimento profissional, além de ajudar a esclarecer sobre o sentido da vida. Muito obrigada e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Introdução à Bioquímica e Macromoléculas UNIDADE II ................................................................................................... 35 Bioquímica de Macromoléculas UNIDADE III .................................................................................................. 81 Metabolismo de Carboidratos UNIDADE IV ................................................................................................ 124 Integração do Metabolismo e Regulação Hormonal 3 Plano de Estudo: ● Fundamentos da bioquímica e a lógica molecular da vida; ● Princípios de bioenergética e metabolismo; ● Água e sistemas bioquímicos; ● Sistema tampão: ácidos fracos, pH e pOH. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer e contextualizar os principais fundamentos celulares e químicos; ● Compreender a lógica molecular da vida e a estrutura dos componentes celulares; ● Apresentar o conjunto de biomoléculas que constituem a maioria dos organismos vivos; ● Compreender os princípios de obtenção e manutenção de energia para o funcionamento do metabolismo celular; ● Caracterizar e contextualizar as propriedades físicas e químicas da água com as funções biológicas e suas aplicações experimentais. UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Professora Me. Andressa Lorena Ieque 4UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas INTRODUÇÃO Olá caro (a) aluno (a)! A partir de agora daremos início à disciplina Bioquímica. Nes- ta primeira unidade, faremos uma introdução dos principais fundamentos celulares através da revisão de alguns conhecimentos biológicos e químicos importantes. A integração do conhecimento desses dois campos de estudos irá fornecer suporte para entendermos o funcionamento do metabolismo de diferentes organismos vivos em nível molecular. Partindo do princípio que todos os organismos compartilham de uma unidade es- trutural em comum, que é a célula, iremos ressaltar algumas características importantes ao que diz respeito aos seus componentes, organização e algumas funções. Além disso, as diferenças entre espécies serão destacadas porque elas podem determinar diferentes pa- drões de comportamento que serão relevantes no momento de aplicação do conhecimento nas diversas áreas. Em seguida, vamos avançar para entender como todos os processos bioquímicos se integram e se complementam para tornar possível a manutenção da vida. Nesse cenário estão inseridos os princípios de bioenergética e do metabolismo, que esclarecerão como e a partir de que a célula obtém energia para manter seus sistemas funcionando constantemente. A partir daí, o nosso aprendizado será guiado por uma classificação das principais biomoléculas envolvidas na composição e no conjunto de processos de reações químicas da célula. Primeiramente, ainda nesta unidade, estudaremos a molécula de água que cons- titui maisde 70% da maioria dos organismos vivos. 5UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 1. FUNDAMENTOS DA BIOQUÍMICA E A LÓGICA MOLECULAR DA VIDA A bioquímica estuda o conjunto de biomoléculas que fazem parte da constituição dos diversos organismos vivos, essas moléculas são formadas por diferentes elementos químicos, e ao que dita às leis da química, estas apresentam diferentes propriedades de acordo com a sua constituição. A complexidade dessas moléculas, associada aos diferen- tes arranjos de composição dos organismos vivos, implica em características estruturais, funcionais e metabólicas muito específicas. Além da química, não podemos nos esquecer dos princípios da biologia, nos quais as diversas formas de vida interagem entre si através de relações harmônicas ou não, e que causam consequências ao metabolismo de ambos os envolvidos. Essas interações ocorrem na sua maior parte através da participação de biomoléculas complexas em di- versos mecanismos e processos químicos fundamentais para o funcionamento da vida humana. Portanto, o conhecimento da composição e função dessas moléculas torna-se importante na compreensão de como esses organismos vivos funcionam e interagem com outros organismos vivos e o ambiente. A diversidade de organismos do planeta é dividida em dois grupos, os procariotos e os eucariotos, com base na estrutura de suas respectivas células. Os procariotos apresen- tam uma arquitetura celular simples e com poucas especializações internas, enquanto os eucariotos são representados por uma célula maior em tamanho e complexidade. A principal diferença entre ambos consiste na presença de uma membrana externa que envolve o DNA e outros elementos celulares nas células eucarióticas. 6UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas A maioria dos procariotos é unicelular e são representados por microrganismos microscópicos conhecidos como bactérias, já os eucariotos podem ser unicelulares, e na maioria das vezes, multicelulares constituindo todas as formas macroscópicas de vida, incluindo as plantas, animais e fungos. Ao avaliarmos todas as formas de vida existente, temos organismos macroscopicamente diferentes compartilhando estruturas biológicas semelhantes, devido à presença de biomoléculas comuns que compõem uma unidade estrutural básica: a célula (Figura 1). FIGURA 1 - ESTRUTURA BÁSICA CELULAR COMUNS A DIFERENTES ORGANISMOS (BACTÉRIAS, ANIMAIS E VEGETAIS As características moleculares e os mecanismos químicos envolvidos são organiza- dos em princípios bioquímicos que representam a base da vida em diferentes organismos. Todo esse raciocínio explica a lógica molecular da vida, que pode ser aplicada para reunir informações de diversas áreas do conhecimento. Para começar a compreender sobre a lógica molecular da vida, precisamos introduzir alguns fundamentos celulares e químicos comuns dos organismos vivos, que fornecerão a base para a futura aplicação da bioquímica em dois pontos principais: 1) no entendimento do funcionamento de órgãos e sistemas, sob o contexto fisioló- gico ou patológico; ou, 2) na aplicação prática desse conhecimento para desbravamento da ciência, bus- cando novas tecnologias e avanços na agricultura e indústria, ou ainda, na área biomédica com estudos sobre nutrição, tratamento de doenças, toxicidade, desenvolvimento de novos fármacos e técnicas de diagnóstico, entre outros (NELSON E COX, 2018). 7UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 1.1 Fundamentos celulares As células vivas apresentam características universais e a partir do padrão de or- ganização e de seus constituintes, podemos classificá-las em dois grupos: a célula animal e a vegetal. Ao observar as Figuras 1 e 2, repare que alguns elementos estão presentes apenas em um dos tipos celulares, como por exemplo, a parede celular e os cloroplastos, que aparecem apenas na célula vegetal, enquanto os lisossomos apenas na célula animal. Esses “elementos” são estruturas especializadas denominadas de organelas, e a sua pre- sença na célula de um organismo vivo relaciona-se com a adaptação de cada espécie para realizar funções que atenda às suas necessidades bioquímicas. FIGURA 2 - CÉLULA ANIMAL E VEGETAL E SUAS ORGANELAS Fonte: Tortora, 2016. Apesar de diferenças pontuais existirem, como precisamos compreender o contexto geral das propriedades bioquímicas iremos focar nas semelhanças, e quando for necessá- rio, ressaltaremos as particularidades. Sendo assim, podemos citar algumas estruturas celulares, como a membrana plas- mática, citoplasma e núcleo. A função da membrana plasmática possui peso importante para os mecanismos que ocorrem no interior da célula, pois esta age como uma barreira seletiva para íons e outros compostos, envolvidos em reações químicas do metabolismo. As proteínas presentes na membrana plasmática têm papel essencial nessa passagem de substâncias para o lado externo e interno da célula. 8UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O núcleo celular carrega o material genético, representado na maioria dos orga- nismos pelo ácido desoxirribonucleico (DNA), que codifica toda a informação necessária para promover a síntese e regulação de todos os outros elementos celulares. Além disso, o DNA também é responsável pela divisão celular, que forma outras células e garante a perpetuação da espécie. Apesar de todos os mecanismos de regulação e reparo de erros existentes, em alguns momentos o processo de replicação pode sofrer pequenos erros que não são reparados, produzindo uma mutação genética. Essas mutações podem ser repassadas para outras células, e inclusive, determinar mudança na função do produto codificado pelo gene. A mudança pode ser indiferente, conferir incapacidade funcional ou ainda, prover uma vantagem associada à capacidade de realizar funções que antes da mutação eram impossíveis de serem realizadas. Nesse contexto, o estudo dos genes de diferentes organismos pode trazer informações valiosas sobre a evolução entre espécies e também para a determinação de funções bioquímicas. SAIBA MAIS O conjunto de sequências genéticas completas provenientes do DNA de um organismo é chamado de genoma. O estudo comparativo do genoma fornece uma visão ampla so- bre o processo evolutivo de diferentes espécies, além de permitir a dedução da função dos produtos de um gene a partir da sequência de DNA. Essa dedução é possível por- que o processo de formação de produtos em uma célula é interligado, como represen- tado na figura abaixo. O processo integrado inicia-se no DNA que é transcrito em RNA, seguido pela tradução em proteínas. A interação de todos esses produtos em reações químicas determina a produção de metabólitos, que incluem carboidratos, aminoácidos, lipídeos e nucleotídeos, e que também podem possuir funções celulares específicas ou representar produtos provenientes destas. A partir da evolução científica e tecnológica, os pesquisadores têm achado meios de realizar o estudo de dados bioquímicos em larga escala. Algumas abordagens comuns são as “ômicas”, como a genômica, transcriptômica, proteômica e metabolômica. Intui- tivamente, a genômica estuda o genoma, a transcriptômica o conjunto de RNA transcri- tos, a proteoma o conjunto de proteínas e o metabolômica o conjunto de metabólitos. Fonte: MACHADO et al. Web Resources on Tuberculosis: Information, Research, and Data Analysis. My- cobacterium. Research and Development. Chapter 8. 2018 9UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas FIGURA 3 - PROCESSO INTEGRADO DE FORMAÇÃO DE PRODUTOS EM UMA CÉLULA Fonte: A autora (2021). SAIBA MAIS O citoplasma carrega várias estruturas celulares em uma solução aquosas, inclusive estruturas delimitadas por membranas que recebem o nome de organelas, cada uma destas com uma função específica (Quadro 1). Vale lembrar que dependendo do tipo de célula (vegetal ou animal e procariota ou eucariota) estas organelaspodem estar presentes ou ausentes. QUADRO 1 - PRINCIPAIS ORGANELAS E SUAS RESPECTIVAS FUNÇÕES NA CÉLULA Organela Função Parede celular Forma, rigidez e proteção Membrana plasmática Barreira seletiva para a entrada e saída de substâncias Citoplasma Sustentação e movimento Núcleo Contém os genes Citoesqueleto Suporte estrutural e movimento Retículo endoplasmático rugoso Síntese proteica Retículo endoplasmático liso Síntese de lipídeos e metabolismo de drogas Complexo de Golgi Processamento, empacotamento e envio de proteínas Mitocôndria Produção de ATP (energia) Ribossomo Síntese de proteínas Lisossomo Degradaçao de restos intracelulares Peroxissomo Oxidação de ácidos graxos Cloroplastos Absorção de luz e produção de ATP e carboidratos Fonte: Adaptado de: NELSON E COX, 2018. 10UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O ácido ribonucleico, RNA, é outro componente celular importante que fica locali- zado no citoplasma das células eucariotas ou procariotas. Assim como o DNA, ele carreia informações genéticas, mas que estão relacionadas especificamente com a estrutura de proteínas e enzimas. Em outros organismos, como os vírus, o RNA também pode exercer funções semelhantes à do DNA, incluindo a síntese e regulação de componentes e a própria replicação para produção de novas partículas virais. Portanto, apesar de seguir o mesmo padrão geral estrutural, alguns organismos po- dem apresentar características específicas quanto à composição celular. Ao compararmos uma célula de um organismo eucarioto com uma de uma bactéria, podemos ressaltar al- gumas diferenças relevantes. Em eucariotos, o núcleo possui membrana nuclear, apresen- tando uma organização diferente do núcleo de bactérias, que não apresenta a membrana nuclear (Figura 4). FIGURA 4 - PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE CÉLULA BACTERIANA E CÉLULA ANIMAL Fonte: NELSON E COX, 2018. A mitocôndria é uma organela que está presente no citoplasma de eucariotos e possui função associada à respiração celular, um mecanismo que produz energia para a célula. Em bactérias, a mitocôndria não está presente, e isso implica em reações metabóli- cas e caminhos diferentes para produção de energia. As bactérias possuem a capacidade de adaptar a forma de obtenção de energia de acordo com o habitat, sendo possível classificá-las em aeróbias e anaeróbias. Ambas obtêm energia pela transferência de elétrons de moléculas de combustível para um aceptor final, que no caso das aeróbias é o oxigênio. Nas anaeróbias, os elétrons serão transferidos para o nitrato, sulfato ou gás carbônico, com produção de gás. 11UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas As bactérias apresentam uma camada mais externa de peptidoglicano que envolve a célula, além da membrana plasmática, e que também permite a diferenciação desses orga- nismos. Ao aplicar técnicas de coloração, como a coloração de gram, é possível diferenciar as bactérias em classes de acordo com a espessura da camada de peptidoglicano (Figura 4A). A coloração gram é aplicada como um teste laboratorial para direcionar o diagnós- tico de bactérias patogênicas que causam doenças. As bactérias que possuem a camada mais espessa são classificadas em gram-positivas, enquanto as que possuem camada mais fina, em gram-negativas (Figura 4B). FIGURA 4A - DIFERENÇAS NA CONSTITUIÇÃO DA PAREDE CELULAR DE BACTÉRIAS GRAM NEGATIVAS E GRAM POSITIVAS FIGURA 4B - COLORAÇÃO DE GRAM REFERENTE A BACTÉRIAS GRAM NEGATIVAS (À ESQUERDA) E GRAM POSITIVAS (À DIREITA) 12UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Na Figura 4A podemos evidenciar as diferenças de parede celular entre bactérias gram-negativas e gram-positivas, a coloração de gram consiste no uso de dois corantes, o cristal violeta (cor roxa) e a fucsina (rosa). E já na Figura 4B, é possível observar o resultado da coloração de gram visto em microscopia ótica, as bactérias gram positivas são coradas na primeira etapa pelo corante cristal violeta e devido a camada mais grossa de peptidoglicano, esse corante fica retido no interior da célula, e as células apresentam-se coradas de roxo escuro. Enquanto as bactérias gram negativas, a camada fina de peptidoglicano não é suficiente para reter o corante, que é descorado na segunda etapa pelo álcool. Em seguida, as células recebem o corante fucsina e são coradas de rosa. As organelas representam as estruturas de maior grau de organização estrutural dentro de uma célula. As estruturas celulares são constituídas por elementos de nível estruturais cada vez menores, sendo que ainda temos os complexos supramoleculares, constituindo as organelas e abaixo destes, as macromoléculas e as unidades monoméri- cas. Esta relação ficará mais clara no decorrer das próximas unidades, mas para ilustrar e facilitar esse entendimento observe a organização estrutural e veja que é possível investigar algumas estruturas celulares até os seus menores níveis estruturais (Figura 5). FIGURA 5 - ORGANIZAÇÃO MOLECULAR DE ALGUMAS ESTRUTURAS CELULARES: MATERIAL NUCLEAR, MEMBRANA PLASMÁTICA E PAREDE CELULAR Fonte: NELSON E COX, 2018. 13UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O núcleo representaria o maior grau de organização estrutural, sendo constituído por cromatina, classificada como um complexo supramolecular. A cromatina é formada por uma unidade menor, o DNA, uma biomolécula que estudaremos com maior propriedade na próxima unidade. E por fim, o DNA é constituído por unidades monoméricas menores, como os nucleotídeos, aminoácidos e açúcares (Figura 4). Para compreender as reações químicas envolvidas no metabolismo celular, será necessário realizar a caracterização dos componentes desde o menor nível estrutural, que será visto agora nos fundamentos químicos. 1.2 Fundamentos químicos Os organismos vivos mantêm suas funções celulares a partir de reações químicas, buscando sempre o equilíbrio e função normal. Células de diferentes organismos realizam processos químicos semelhantes, porque são constituídas por quatro principais elementos em comum: o carbono, o oxigênio, o hidrogênio e o nitrogênio, arranjados em diferentes moléculas e compostos. Alguns outros elementos também possuem participação essencial nesses pro- cessos, porém, estes representam uma fração menor de 1% da constituição celular. FIGURA 6 - ABUNDÂNCIA RELATIVA DOS ELEMENTOS QUÍMICOS NAS CÉLULAS Fonte: Adaptado de: BROWN, 2016. A partir disso, conseguimos compreender a importância de conhecer a química desses elementos para dar suporte ao estudo da bioquímica. O carbono é o elemento chave entre todos os citados, pois apresenta uma versatilidade muito grande para formar moléculas e estruturas através da variedade de ligações, combinações com outros átomos e arranjos espaciais. A maioria das biomoléculas é derivada de átomos de carbono e de hidrogênio associados a outros grupamentos, que caracteriza compostos químicos especí- ficos com funções diferentes. 14UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Como nossa disciplina é a bioquímica, não vamos discorrer muito sobre as caracte- rísticas químicas desses elementos. Apesar disso, podemos refletir sobre uma biomolécula importante para contextualizar a aplicação de conhecimentos químicos em nossa disciplina. As proteínas, por exemplo, são biomoléculas importantes constituídas por uma unidade básica denominada como aminoácido. Na Figura 7, podemos observar que o aminoácido é formado por um arranjo de átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. FIGURA 7 - ESTRUTURA QUÍMICA DE AMINOÁCIDOS E FORMAÇÃO DE PEPTÍDEOS ATRAVÉS DE LIGAÇÕES PEPTÍDICAS Os átomos de carbono e hidrogênio se organizam em um esqueleto base, que cha- mamos de hidrocarbonetos, esse esqueleto é ligado a outros dois grupamentos químicos específicos, conhecidos como grupo carboxila (vermelho) e grupo amino (verde). Portanto, os aminoácidos poderiam ser classificados como polifuncionais, visto que apresentam estes dois tipos de grupos funcionais diferentes. O grupamento amino reage quimicamente com o grupamento carboxila e se unem em ligações, formando os peptídeos, que posteriormente serão combinados para produzir uma proteína completa. Esse tipo de organização em que uma unidade básica comum (monômero) é combinada sucessivamente para formar um produto mais complexo (polímero) ocorre para outras biomoléculas importantes e comumente recebe o nome de polimerização. Portanto, as proteínas são polímeros formados por peptídeos, assim como, o DNA é um polímero formado por nucleotídeos. 15UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas As características químicas de cada átomo, suas configurações e disposição influen- ciam diretamente na conformação final da molécula, ou seja, no seu arranjo espacial. Esse conjunto de informações define uma relação entre estrutura e função, e será determinante para o acontecimento de reações químicas e para a formação de outros componentes importantes do conjunto processos biológicos. 16UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 2. PRINCÍPIOS DE BIOENERGÉTICA E METABOLISMO Como vimos até agora, o conteúdo celular é responsável por realizar vários proces- sos químicos para manter a célula viva e, para compreender esses processos, precisamos conhecer a lógica molecular da vida. Mas além dessa maquinaria celular, o que mais é necessário para que a célula se mantenha em funcionamento constante? A resposta é energia! Em seguida, você poderia se perguntar, e como essa energia é produzida? As próprias células, a partir da organização de várias reações químicas, desenvol- veram mecanismos que permitem a conversão de matéria em energia utilizando combus- tíveis. A maioria dos organismos vivos, incluindo os animais e muitos microrganismos são quimiotróficos, e obtêm energia a partir de moléculas orgânicas como a glicose. Por outro lado, temos algumas bactérias, algas e plantas que são capazes de utilizar a luz como fonte de energia, sendo denominados de fototróficos. Outra subclassificação é feita levando em consideração a fonte de carbono que o organismo necessita para sintetizar suas biomoléculas. Quando apenas o CO2 é suficiente chamamos de autotróficos, e quando requerem outros elementos que geralmente são previamente sintetizados por outros organismos, chamamos de heterotróficos. O esquema abaixo ilustra essas classificações sobre a forma de obtenção de energia para a realização de todos os processos celulares: 17UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas FIGURA 8 - CLASSIFICAÇÃO DE ORGANISMOS DE ACORDO COM A FONTE DE ENERGIA E DE CARBONO PARA SÍNTESE DE MATERIAL CELULAR Fonte: Adaptado de: NELSON E COX, 2018. Além dos processos de obtenção de energia, também é necessário manter a produ- ção constante para que a produção de componentes celulares e todas as reações químicas estejam sempre acontecendo. Apesar da segregação em grupos, os processos realizados por autotróficos e heterotróficos estão interligados e dependem um do outro. FIGURA 9 - INTEGRAÇÃO DE ORGANISMOS AUTOTRÓFICOS E HETEROTRÓFICOS NO PROCESSO DE OBTENÇÃO DE ENERGIA Fonte: NELSON e COX, 2018. 18UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Podemos entender essa dependência observando a Figura 8, que ilustra de forma bem resumida que os autotróficos realizam a fotossíntese a partir da disponibilidade de CO2 e da luz solar, gerando produtos orgânicos e oxigênio (O2). Em seguida, os heterotró- ficos utilizam esses produtos e reciclam o CO2, deixando-o disponível novamente para os autotróficos recomeçarem o ciclo. A produção de energia na verdade ocorre resultante de processos de transforma- ções de substratos em produtos através das reações químicas. Naturalmente, as reações químicas resultam em uma variação de energia livre, expressa por ΔG, que pode ser negativa ou positiva. Quando negativa, a reação é denominada como exergônica, e quando positiva, como endergônica. De forma bem básica, uma reação química poderia ser representada da seguinte forma: 1) A + B → C ΔG = - 45,0 J 2) D + E → F ΔG = - 21,5 J Sendo A, B, D e E reagentes ou substratos, e C e F produtos obtidos da transfor- mação de A e B (1) e D e F (2), respectivamente. Observe que temos a variação de energia livre negativa especificada ao lado de cada reação. Isso permite concluir que ambas seriam classificadas como exergônicas. A energia negativa da reação exergônica caracteriza que a energia livre dos produtos é menor que a do substrato e, portanto, uma quantidade de energia equivalente ao valor de ΔG é liberada de modo espontâneo. As reações que ocorrem em um organismo são dependentes uma das outras e precisam ser organizadas em sequências consecutivas. Por exemplo, para que a terceira reação ocorra, é necessário que outras duas reações (1 e 2) aconteçam anteriormente, porque os produtos dessas reações serão utilizados como reagentes da última. 3) C + F → G ΔG = + 32,5 J Observe que na terceira reação a variação de energia foi positiva, significando que para ocorrer será necessária uma disponibilidade de pelo menos 32,5 J. Portanto, nesse caso a reação é endergônica e de modo contrário à exergônica, a energia livre dos produtos da reação é maior que a dos substratos, implicando que esse tipo de reação necessita de energia para acontecer. 19UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Esse tipo de organização interdependente das reações comumente recebe o nome de rotas bioquímicas, e o conjunto dessas rotas pode ser classificado em catabolismo e anabolismo, de acordo com a energia envolvida nas reações. O catabolismo relaciona-se com rotas produtoras de energia principalmente através da degradação de nutrientes, ou seja, reações exergônicas que partem de moléculas grandes em direção a moléculas me- nores. Já o anabolismo é formado por rotas que requerem energia e geralmente partem da conversão de moléculas pequenas a moléculas maiores e mais complexas, caracterizando reações do tipo endergônicas. Para que todo esse cenário de rotas bioquímicas funcione de forma eficiente, é essencial a participação de enzimas acopladas a essas reações. As enzimas atuam como catalisadores e aumentam a velocidade de reações químicas sem serem consumidas no processo. A união de rotas bioquímicas do catabolismo e do anabolismo catalisadas por enzimas integra o metabolismo. De modo geral, o estudo do metabolismo é organizado partindo de diferentes classes de biomoléculas ou constituintes, como os que seguem: água, carboidratos, nucleotídeos e ácidos nucleicos, lipídeos, proteínas e membranas. Portanto, a partir de agora iremos caracterizar a estrutura e função dessas classes para, em seguida, aprender os processos químicos integrados do metabolismo e suas consequências. 20UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 3. ÁGUA E SISTEMAS BIOQUÍMICOS Após a introdução geral dos Fundamentos de Bioquímica e de Bioenergética, conse- guimos definir com mais clareza quais são os principais pontos de conhecimento para com- preender o metabolismo como um todo. Partindo da organização em classes de constituintes e biomoléculas, nós iremos iniciar a caracterização da substância mais abundante nos seres vivos, a água. Considerando que 70% da maioria dos seres vivos é constituído por água, fica claro a importância de definir suas propriedades físicas e químicas, pois estas afetam diretamente ou indiretamente a estrutura e função de todos os outros componentes celulares. A molécula de água é formada por dois átomos de hidrogênio (H) e um átomo de oxigênio (O), de forma que cada H compartilha um par de elétrons com o átomo central de oxigênio. O átomo de H possui carga elétrica parcial positiva que corresponde à +1, enquanto o átomo de O possui uma carga elétrica parcial negativacorrespondente à -2 (Figura 10). FIGURA 10 - REPRESENTAÇÃO DE UMA MOLÉCULA DE ÁGUA E SUAS CARGAS PARCIAIS 21UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Seguindo a lei das atrações, em que cargas opostas se atraem, o átomo de O de uma molécula de água é atraído pelo átomo de H de outra, determinando a união de diferentes moléculas de água através de ligações de hidrogênio. A força dessa ligação é relativamente fraca, mas confere a organização de moléculas de água em redes ordenadas (Figura 11). FIGURA 11 - PONTES DE HIDROGÊNIO ENTRE DUAS MOLÉCULAS DE ÁGUA Além disso, as ligações de hidrogênio também podem ocorrer entre moléculas de água com outros solutos polares, formando pontes que permitem a interação entre molé- culas. Em muitas situações, a presença de moléculas de água é essencial para a função, como por exemplo, quando moléculas de água são desordenadas para permitir a ligação de um substrato a uma enzima, realocando-se para permitir a estabilização da interação (Figura 12). FIGURA 12 - O PAPEL DAS PONTES DE HIDROGÊNIO NA LIGAÇÃO ENTRE SUBSTRATO E ENZIMA Fonte: NELSON e COX, 2018. 22UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Essas características químicas da água determinam sua função como um solvente polar, o que facilita muito no metabolismo, uma vez que a maioria das biomoléculas é solúvel são compostos carregados ou polares, e consequentemente, solúveis em água. Os compostos podem ser classificados em hidrofílicos, hidrofóbicos e anfipáticos de acordo com a sua capacidade de se dissolver em água. Os compostos hidrofílicos são estes carregados ou polares que se dissolvem facil- mente em água, enquanto os hidrofóbicos, geralmente são moléculas neutras ou apolares e, portanto, não se dissolvem facilmente em água. Já os compostos ou moléculas anfipá- ticas apresentam regiões hidrofílicas e hidrofóbicas em sua composição, de forma que a parte hidrofílica reage com a água e a hidrofóbico organiza-se de forma a evitar no máximo o contato com a água. Essa organização pode ser observada na estrutura das micelas, nas quais as moléculas apolares são unidas por interações hidrofóbicas (Figura 13). FIGURA 13 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DE UMA MICELA E DE UMA BICAMADA DE FOSFOLIPÍDIOS, COMO OCORRE NA MEMBRANA PLASMÁTICA. A PARTE HIDROFÓBICA É EVIDENCIADA EM AMARELO E A HIDROFÍLICA EM BRANCO Os fosfolipídios, que fazem parte da estrutura da membrana plasmática seguem esse mesmo padrão de organização. Na Figura acima, podemos observar que a parte da cabeça é hidrofílica e fica em contato com o meio externo, enquanto a parte interior formada por lipídeos (hidrofóbicos) ficam posicionados para o interior da célula (Figura 13). Além das ligações de hidrogênio, existem outras forças de interação que influenciam em várias interações biológicas e funções celulares, como as interações hidrofóbicas, as ligações iônicas e as forças de Van Der Waals. Todas estas, quando comparadas a ligações covalentes, são consideradas ligações fracas. Porém, o seu efeito cumulativo confere força maior e é determinante para formar a estrutura e conformação final de macromoléculas. Por exemplo, o dobramento de uma cadeia polipeptídica é definido pela união de forças intermoleculares para formar a estrutura tridimensional final de uma proteína (Figura 14). 23UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas FIGURA 14 - ESTRUTURA TERCIÁRIA DE UMA PROTEÍNA FORMADA ATRAVÉS DE FORÇAS INTERMOLECULARES A água tende a mover-se de uma região mais concentrada em direção a uma região menos concentrada. Isso ocorre no processo de osmose, no qual a água é movimentada para o interior ou exterior da membrana plasmática devido a diferença de soluto existente entre os meios. A osmolaridade é uma medida que representa essa diferença de soluto, e de acordo com ela, as soluções são classificadas em isotônicas, hipertônicas e hipotônicas. As soluções isotônicas apresentam osmolaridade iguais à do citosol e, por esse moti- vo, determina um estado de equilíbrio entre os dois meios, não ocorrendo entrada ou saída de água. Em soluções hipertônicas, a osmolaridade da solução será maior em relação ao citosol, determinante a saída de água até atingir a equivalência de dissolução entre os dois meios. Já as soluções hipotônicas apresentam osmolaridade menor em relação ao citosol, fazendo com que a água desloque para o interior da célula até atingir o equilíbrio osmótico. Portanto, podemos concluir que a célula sempre trabalhará para manter o equilí- brio. Esse sistema é muito importante, pois a entrada e a saída de água da célula podem comprometer drasticamente as funções e a vitalidade celular. Para manter esse equilíbrio osmótico, a célula utiliza de vários mecanismos, que podem variar entre diferentes espécies de organismos. A presença de parede celular rígida nas bactérias confere resistência celular e contribui para impedir a lise celular. Algumas organelas também podem atuar na manutenção desse equilíbrio através do controle de dissolução de partículas no citosol. O plasma sanguíneo é um ótimo exemplo, no qual as proteínas são dissolvidas no seu interior para manter a osmolaridade sanguínea semelhan- te ao do citosol, determinando equilíbrio entre a célula e seu meio externo. 24UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O armazenamento de moléculas na forma de polímeros é uma estratégia que contribui para evitar esse tipo de desequilíbrio, uma vez que o armazenamento no formato monomérico causaria um efeito muito maior na osmolaridade intracelular. Ao observar a Figura 15, podemos imaginar o armazenamento na forma de monômero ou polímero utili- zando o exemplo da molécula de glicose. FIGURA 15 - COMPARAÇÃO ENTRE O ARMAZENAMENTO DE GLICOSE NA FORMA DE MONÔMERO (GLICOSE) E OU POLÍMERO (GLICOGÊNIO) Fonte: A autora (2021). Se a célula armazenasse a glicose no seu formato monomérico na proporção ideal para as funções normais acontecerem, o meio interno ficaria muito hipertônico com risco de rompimento celular devido à necessidade de entrada de água até atingir o equilíbrio osmótico (Figura 15). Para evitar esse tipo de situação, o nosso corpo armazena moléculas de glicose na forma de glicogênio, um polímero que apresenta glicose de forma compacta e em quantidade suficiente. 25UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 4. SISTEMA TAMPÃO: ÁCIDOS FRACOS, PH E POH A água naturalmente passa pelo processo de autoionização, que faz com que a molécula se dissocie em íons hidrogênio (H+), que reagem imediatamente com a água (H2O), formando íons hidrônio (H3O+) e íons hidroxila (OH-). Essa ionização confere à água a propriedade de condução de eletricidade, de forma que os cátions H3O+ migram para o cátodo e os íons OH- para o ânodo. E esse sistema é utilizado em uma técnica chamada eletroforese, que consiste na separação de algumas moléculas a partir dessa propriedade de migração de íons na presença de um campo elétrico (LEITURA COMPLEMENTAR). O processo de ionização da água é muito importante para estabelecer uma proprie- dade da água chamada de pH. O termo pH é definido pela seguinte expressão: Considerando que o valor de pH em uma solução neutra a 25ºC é de 1 x 10-7 M, é possível calcular o valor de pH, chegando ao número 7,0. Sendo assim, a valor 7,0 de pH é derivado do valor do produto iônico da água a 25ºC e representa uma solução neutra. A partir desses cálculos utilizando valores de concentração de íons H+ e OH-, foi possível criar uma escala numérica de pH, que varia de 0 a 14 e é capaz de caracterizar se uma solução tem caráter básico, ácido ou neutro. 26UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O pH é caracterizado por uma escala numérica que varia e que, a partir desses va- lores, é capaz de determinar se uma solução tem caráter básico, ácido ou neutro. Quando a concentração de íons H+ é iguala concentração de íons OH-, a solução é considerada neutra. As soluções com valores de pH menores que 7 (entre 0 e 7) são ácidas, enquanto as soluções com valores de pH maiores que 7 (entre 7 e 14) são básicas ou alcalinas. Devemos ficar atentos ao falar sobre valores de concentração de íons, pois a escala de pH é logarítmica. Portanto, se compararmos dois valores de pH que diferem por apenas uma unidade, a concentração de íons H+ entre estas soluções apresenta uma variação de dez vezes a mais ou a menos. Isso pode ser exemplificado observando a Figura 16. Se considerarmos o pH 1 e 2, por mais que a escala de pH esteja variando em apenas uma unidade, a concentração de íons H+ na escala de pH 1 é equivalente a 10-1 M, enquanto na solução de pH 2, equivale a 10-2 M. FIGURA 16 - ESCALA DE PH Fonte: NELSON e COX, 2018. Ainda nesta figura, podemos observar que além da concentração de íons H+ ex- pressa pela escala de pH, também temos a concentração de íons OH- expressa por uma escala pOH. Essa escala pOH pode ser usada quando queremos descrever a alcalinidade da solução, ao invés da acidez, de forma que segue o mesmo padrão de interpretação que utilizamos na escala de pH. 27UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas O pH é uma propriedade de soluções aquosas que pode afetar diretamente a fun- ção de vários componentes celulares. Por exemplo, a atividade de enzimas é totalmente dependente do pH do meio e na maioria dos casos, a variação do pH do meio implica em perda da função enzimática. Nesse contexto, ressalta-se a importância de reconhecer o pH de soluções quando estamos estudando o metabolismo celular. FIGURA 17A - PHMETRO DE BANCADA FIGURA 17B - FITAS INDICADORAS DE pH Na rotina laboratorial ou de pesquisa, o pH de qualquer solução aquosa pode ser medido através do emprego de um pHmetro ou de indicadores de pH (Figura 16A). De modo geral, as medidas de pH utilizando o pHmetro são baseadas em um sinal produzido a partir de um eletrodo de vidro sensível à concentração de íons H+ e, em seguida, comparado 28UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas com o sinal que foi gerado por uma solução padrão de pH conhecido. Portanto, chegamos a um valor de pH a partir de uma determinação por medidas aproximadas e comparadas a uma solução padrão. Os indicadores de pH são soluções preparadas com substâncias químicas espe- cíficas capazes de evidenciar valores de pH a partir da mudança de cor. Os indicadores mais utilizados são a fenolftaleína e o vermelho de fenol. A fenolftaleína apresenta cor rosa quando atinge o seu ponto de mudança de pH (8 a 10), enquanto em valores abaixo desse ponto é incolor. Já o vermelho de fenol apresenta ponto de viragem diferente, que varia de 6 a 8, exibindo coloração amarela abaixo desse ponto ou vermelha quando o pH se encontra acima de 8. Na rotina de testes diagnósticos, é comum também a presença de fitas indicadoras de pH (Figura 17B). Essas fitas são embebidas na solução a ser testada e, em seguida, observam-se as cores comparando-as com um padrão disponibilizado pelo fabricante. Esse tipo de técnica é utilizado na rotina laboratorial de exame de urina, para determinação do parâmetro pH. Quando for necessário estabelecer o valor de pH de uma solução no laboratório, você poderá escolher qual método atende melhor aos seus objetivos. A presença de ácidos e bases dissolvidos na água torna-se importante nesse contexto de dissociação de autoionização da água, pois os ácidos tem uma tendência de consumir íons OH- e as bases de consumir íons H+ em solução. Os ácidos e bases fracos estão presentes no sistema biológico dos organismos e são importantes para estabelecer condições para que alguns componentes celulares consigam exercer a função de forma correta. Além disso, também participam de regulações metabólicas para manter o corpo no seu melhor estado de equilíbrio. Partindo do princípio que a maioria das reações biológicas acontecem em um pH próximo do valor neutro (7), o corpo humano e todos os seus mecanismos podem trabalhar para buscar condições que garantam o mínimo de variação do pH ao redor dessas faixas. Assim, esses mecanismos reguladores garantem que o metabolismo terá condições ótimas para realizar todas as suas funções. Esse sistema existe, e além de ser utilizado pelas cé- lulas, também conseguimos reproduzi-los in vitro para realização de técnicas laboratoriais em condições pré-estabelecidas. Os tampões são sistemas capazes de impedir mudanças bruscas na escala de pH e são produzidos através da mistura de ácidos e bases fracas. A adição de ácidos e bases fracas em uma solução vai contribuir para que os íons H+ e OH- sejam absorvidos, em uma quantidade ideal para neutralizar as mudanças de pH. A idealização dessa quantidade ideal é feita através de cálculos que levam em consideração a força de dissociação dos ácidos e bases, além de concentrações para atingir o equilíbrio iônico. 29UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas De modo geral, os fluidos intra e extracelulares utilizam de sistemas de tampão para manter os valores de pH. O pH do sangue utiliza um sistema tampão que consiste na presença de ácido carbônico e bicarbonato para manter seus valores entre 7,35 e 7,45 e garantir o funcionamento normal de todos os sistemas biológicos. Valores abaixo e acima desse pH determinam condições denominadas acidose e alcalose, respectivamente, nas quais uma série de reações são desencadeadas para buscar estabelecer o equilíbrio nor- mal. Essas alterações podem acontecer no contexto de alterações físicas ou pela presença de doenças metabólicas que estudaremos na última unidade. A ação desses sistemas tampão no contexto de células e tecidos pode ser favo- recida pela ação de organelas ou favorecida pela presença de algumas moléculas que apresentam em sua estrutura química grupamentos funcionais que as caracterizam como ácidos ou bases fracas, como por exemplo, os aminoácidos. REFLITA O ser humano tenta compreender e explicar a vida a partir da elucidação de processos biológicos em nível molecular. Essa visão molecular da vida é explicada principalmente através da bioquímica, de forma que a partir do momento que entendemos como um mecanismo funciona, podemos aprimorar técnicas experimentais e modificar processos específicos de acordo com a nossa vontade. Nesse contexto, fica a pergunta: Até que ponto essas intervenções são vantajosas e podem influenciar na evolução das espécies? Fonte: (BLASCO; JUNGES & COSTA, 2013). 30UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da nossa primeira unidade da disciplina de bioquímica, na qual introduzimos os princípios fundamentais do funcionamento celular e conhecemos as pro- priedades da água, que representa uma das moléculas mais abundantes nos organismos vivos. Nesta unidade verificamos que diferentes organismos vivem e compartilham de uma unidade estrutural básica, a célula. Todas as células apresentam características em comum de composição e organização. Por exemplo, independente do organismo a célula sempre apresenta membrana plasmática, citosol contendo os constituintes celulares e um núcleo. Os eucariotos são mais complexos que os procariotos, e por isso, apresentam uma organização celular mais organizada com a presença de estruturas especializadas, chama- das de organelas. No grupo dos eucariotos, ainda podemos ressaltar algumas diferenças entre as células animais e vegetais. Essas informações são importantes porque implicam no funcionamento celular, e consequentemente, no metabolismo desses organismos. O conteúdo também permitiu esclarecer que o metabolismo é na verdade um conjunto de reações químicas que ocorrem de maneira ordenada e dependente uma das outras. Para que o metabolismo aconteça de forma completa e integrada, a célula necessita obter energia do ambiente. A energia pode serobtida pelos organismos a partir da captação e absorção de luz solar ou pelo processamento de compostos químicos, o que os classifica em fototróficos e quimiotróficos, respectivamente. Além disso, a fonte de energia para produção de todos componentes biológicos tam- bém é importante e gera uma subclassificação em autotróficos e heterotróficos. Essas dife- renças no modo de obter energia estabelece um estado de equilíbrio para a vida de diferentes espécies, pois as reações de um tipo de organismo fornecem substratos importantes para outros. Essa lógica também ocorre no funcionamento interno através das rotas bioquímicas. Depois que a energia é obtida para que as reações químicas ocorram, essa energia precisa ser renovada constantemente, visto que o metabolismo celular não pode parar. Apesar de algumas reações exigiram energia para iniciar (endergônicas), outras liberam energia (exergônica) e isso facilita a classificação das rotas bioquímicas em dois grupos dentro do metabolismo celular, o catabolismo e o anabolismo. O catabolismo está relacio- nado às reações de degradação e liberam energia, enquanto o anabolismo relaciona-se com a síntese de moléculas complexas e por isso exige energia disponível. 31UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas Seguindo a lógica molecular da vida, também estudada nesta unidade, apresenta- mos as principais biomoléculas que constituem os organismos vivos e permitem que todo esse metabolismo celular. O estudo da organização estrutural dessas moléculas e a forma que se comportam quimicamente são essenciais para compreender as rotas bioquímicas que controlam o funcionamento celular. Sobre a água, vimos que suas características químicas determinam propriedades de autoionização e de interações em sistemas aquosos muito importantes para manter o equilíbrio de vários processos químicos celulares, além de facilitar a interação entre outros elementos. Os produtos de ionização da água (H+ e OH-) confere uma propriedade chamada pH, possível de ser mensurada por técnicas experimentais e das quais fomos apresentados, além de aprendermos à interpretá-las. O valor de pH é importante para manter os organis- mos em equilíbrio com suas funções e reações químicas. Os íons H+ e OH- liberados pela água participam do processo de tamponamento, que evita variações bruscas de pH e evitam o desequilíbrio das condições ótimas de funcionamento do metabolismo. 32UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas LEITURA COMPLEMENTAR Eletroforese: conceitos e aplicações (artigo científico) Link para acesso: https://www.conhecer.org.br/enciclop/2015c/agrarias/Eletroforese.pdf Fonte: OLIVEIRA et al. Eletroforese: conceitos e aplicações. Enciclopedia: Bioesfera, 2015. Aplicação da técnica eletroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE) na caracterização de microrganismos dominantes na rizosfera de plantas cultivadas em solo ácido (artigo científico) Link para acesso: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/489286/1/Circ72.pdf Fonte: MARRIEL et al. Aplicação da técnica eletroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE) na caracterização de microrganismos dominantes na rizosfera de plantas cultivadas em solo ácido. Circular técnicas 72. Embrapa. Sete Lagoas, MG, 2005. https://www.conhecer.org.br/enciclop/2015c/agrarias/Eletroforese.pdf https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/489286/1/Circ72.pdf 33UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: de Bioquímica de Lehninger. Autores: David L. Nelson e Michael M. Cox Editora: Artmed Sinopse: Esta 7ª edição mantém a qualidade que tornou o texto original de Lehninger um clássico na área, com explicações úteis para conceitos complexos e apresentando aos estudantes uma vi- são clara e abrangente da bioquímica como é entendida e praticada hoje. Além de oferecer esclarecimentos importantes e aplicações práticas na medicina, na agricultura e pecuária, na nutrição e na indústria, a bioquímica dedica-se a elucidar o milagre da vida em si. Assim, por aproximar a bioquímica do dia a dia, enfocando seu papel fundamental nos avanços da saúde e do bem-estar humano e incorporando os mais recentes avanços científicos, esta nova edição de Princípios de bioquímica de Lehninger permanece como a referência ideal para estudantes e profissionais da área (AMA- ZON, 2020). FILME / VÍDEO Título: pHmetro bancada Starter 2100. Ano: 2016. Sinopse: Esse vídeo apresenta o aparelho pHmetro e demonstra como utilizá-lo na rotina laboratorial. Este instrumento é útil para dosagens experimentais de pH, importante em diversas áreas de conhecimento. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=zosqquhA- Qx0&t=49s https://www.youtube.com/watch?v=zosqquhAQx0&t=49s https://www.youtube.com/watch?v=zosqquhAQx0&t=49s 34UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas FILME / VÍDEO Título: Eletroforese horizontal de DNA em gel de agarose Ano: 2016. Sinopse: A eletroforese é um método habitualmente usado para separar e também purificar macromoléculas, principalmente áci- dos nucleicos e proteínas. Essas macromoléculas são submetidas a um campo elétrico, na qual migram para um polo positivo ou negativo de acordo com a sua carga. No caso de uma carga posi- tiva, seguirá para o polo negativo e se for negativa, irá na direção do polo positivo (KASVI, 2016). Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=vL3EfRx78P0 https://www.youtube.com/watch?v=vL3EfRx78P0 35 Plano de Estudo: ● Nucleotídeos e ácidos nucleicos: caracterização e função; ● Lipídeos: caracterização e função; ● Aminoácidos, peptídeos e proteínas: caracterização e funções; ● Enzimas e sistemas enzimáticos, coenzimas e vitaminas; ● Carboidratos: caracterização e funções. Objetivos da Aprendizagem: ● Estudar a composição química das principais biomoléculas; ● Conhecer a estrutura básica dos nucleotídeos e a relação dos ácidos nucleicos como fonte de informação nas células; ● Compreender as funções, composição e organização das proteínas, pela caracterização de aminoácidos e peptídeos; ● Descrever a estrutura dos lipídeos e compreender as funções de cada classe; ● Reconhecer as características e a importância das vitaminas e enzimas nos processos celulares; ● Compreender as diferenças estruturas dos carboidratos e reconhecer os nos organismos; ● Estabelecer os fatores que podem influenciar no desempenho funcional das biomoléculas. UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Professora Me. Andressa Lorena Ieque 36UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 36 INTRODUÇÃO UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Olá caro (a) aluno (a)! Iniciaremos a Segunda Unidade da disciplina de Bioquímica, na qual estudaremos as macromoléculas. Como vimos na unidade anterior, a estrutura quí- mica das moléculas é extremamente importante na definição do seu papel no metabolismo, e por isso, teremos como objetivo evidenciar essas características químicas da estrutura de cada biomolécula para em seguida enaltecer as suas principais funções. No primeiro tópico, vamos introduzir essas informações para os nucleotídeos e os ácidos nucleicos, que são os responsáveis envolvidos na formação do material genético. Esses componentes são utilizados pela célula como uma fonte de informação que será posteriormente transformada em diversos produtos e mensagens para que o os organismos sejam capazes de realizar todas as funções necessárias para a vida. No segundo tópico, conheceremos as proteínas, que são produtos resultantes da leitura dos ácidos nucleicos. Neste momento, iremos evidenciar a constituição química das proteínas, esclarecendo sobre como os aminoácidos e peptídeos contribuem para o estabelecimento da estrutura final das proteínas e das suas funções. Em seguida, os lipídeos serão apresentados quanto às suas características quími- cas e divididos em classes para facilitar o entendimento das suas principais funções.No quarto tópico, vamos estudar sobre as enzimas, os cofatores enzimáticos e as vitaminas que estão estreitamente correlacionados, inclusive com os lipídeos que foram apresentados anteriormente. No último tópico ressaltaremos as características estruturais e funcionais dos car- boidratos, pontuando as principais funções dentro de cada classe. Em todos os tópicos abordados durante esta unidade, buscaremos ressaltar os fatores que podem influenciar o desempenho funcional dessas macromoléculas. 37UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 1. NUCLEOTÍDEOS E ÁCIDOS NUCLEICOS Como introduzidos na primeira unidade, o material genético dos organismos vivos é formado por unidade monoméricas menores, os nucleotídeos, aminoácidos e açúcares. Agora, iremos iniciar o estudo de uma dessas unidades, os nucleotídeos. Os nucleotídeos são os constituintes dos ácidos nucleicos do DNA (ácido desoxirri- bonucleico) e do RNA (ácido ribonucleico), que carregam a informação genética. A partir do processamento desse material genético, a célula torna-se capaz de produzir todos os seus componentes e comandar todas as suas funções biológicas. E como é feito esse proces- samento? Para compreender o processo completo, devemos ressaltar alguns conceitos. Primeiro, o segmento de DNA que possui uma informação genética a ser lida é chamado de gene. Na sequência normal de processos celulares, o gene é transformado em RNA mensageiro (RNAm) através de um processo de transcrição com o envolvimento de enzimas chamadas de RNA polimerases. O RNAm é traduzido nos ribossomos pelos RNA transportadores (RNAt) em sequências específicas de aminoácidos, que serão combinadas para formar as proteínas. Isso mostra que todos os passos devem acontecer de forma articulada e que os nucleotídeos que formam os ácidos nucleicos do DNA e RNA são os primeiros ele- mentos envolvidos na produção de produtos celulares. Como o processo depende de reações químicas a nível molecular, é fundamental conhecermos a estrutura molecular desses elementos. 38UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 38UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Os componentes moleculares de ambos, DNA e RNA. são semelhantes e por isso vamos caracterizá-los de forma única. A figura abaixo mostra os componentes de um nu- cleotídeo: um grupo fosfato, uma pentose e uma base nitrogenada. A pentose é um açúcar formado por cinco átomos de carbono e organizado em uma cadeia fechada (cíclico). No caso do DNA, a pentose presente é a desoxirribose (D) e no RNA é a ribose (R) (Figura 1). FIGURA 1 - COMPOSIÇÃO ESTRUTURAL DE UM NUCLEOTÍDEO, EVIDENCIANDO O GRUPAMENTO FOSFATO (AZUL), A BASE NITROGENADA (AMARELO) E O AÇÚCAR PENTOSE (ROSA) Assim como as pentoses, as bases nitrogenadas também são compostas cíclicos, mas que são marcadas pela presença de nitrogênio. Elas são divididas em dois grupos: as purinas (adenina-A e guanina-G) e as pirimidinas (citosina-C, timina-T e uracila-U). A adenina, a guanina e a citosina estão presentes no RNA e no DNA, porém a timina está presente apenas no DNA e a uracila apenas no RNA (Figura 2). Quando a pentose é ligada à base nitrogenada é formado um nucleosídeo. A estru- tura completa de nucleosídeo acrescido de grupo fosfato é então denominada de nucleotí- deo. Os nucleotídeos são unidos entre si por ligações fosfodiéster e formam o esqueleto do DNA e do RNA. Assim como as proteínas, podemos classificar a montagem em três níveis de complexidade: a primária, a secundária e a terciária. A primária é representada por esse esqueleto de nucleotídeos em sequência unidos por ligações covalentes. 39UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 39UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DOS NUCLEOTÍDEOS PRESENTES NO DNA E NO RNA A partir de agora, vamos focar na compreensão da estrutura secundária do DNA que é muito bem estabelecida e, a seguir, faremos breve considerações sobre o RNA. 1.1 O DNA A estrutura do DNA foi descoberta em 1953 por James Watson e Francis Crick e revolucionou a ciência, contribuindo para evolução de diversas áreas, após a descoberta da estrutura primária, avançamos para a estrutura secundária, em que visualizamos certos dobramentos na molécula no formato de dupla hélice. Em um estágio mais complexo de organização as moléculas de DNA formam os cromossomos e a cromatina no núcleo da célula, que representam a estrutura terciária (Figura 3). 40UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 40UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 3 - ORGANIZAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO EM NÍVEIS DE COMPLEXIDADE ESTRUTURAL. ESTRUTURA SECUNDÁRIA REPRESENTADA PELA DUPLA HÉLICE E TERCIÁRIA PELOS CROMOSSOMOS NO NÚCLEO DA CÉLULA A seguir, veremos algumas contribuições de pesquisadores que ajudaram a elucidar de forma completa a molécula de DNA: Chargaff e colaboradores (1940) descobriram algumas informações que são deno- minadas como “regras de Chargaff”, veja: 1. A composição de bases do DNA, em geral, varia de uma espécie para a outra. 2. Amostras de DNA isoladas de diferentes tecidos da mesma espécie têm a mesma composição de bases. 3. A composição de bases de DNA em uma dada espé-cie não muda com a idade do organismo, seu estado nutricional ou a mudança de ambiente. 4. Em todos os DNA celulares, independentemente da espécie, o número de resíduos da adenosina é igual ao número de resíduos da timidina (i.e., A 5 T) e o número de resíduos de guanosina é igual ao número de resíduos de citidina (G = C). Dessas correlações, conclui-se que a soma dos resíduos de purina é igual à soma dos resíduos de pirimidina; isto é, A + G = T + C (NEL- SON e COX, 2018, p. 278) Rosalind Franklin e Maurice Wilkins descobriram a partir de estudos de difração de raios X que o DNA ocorria na forma de dupla hélice. A partir de todas as informações, Watson e Crick criaram o modelo tridimensional do DNA que consiste em duas cadeias de DNA enroladas em torno do mesmo eixo, formando uma dupla hélice de orientação à direita e reforçando a sua alta capacidade de flexibilidade (Figura 4). 41UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 41UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 4 - REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA SECUNDÁRIA DO DNA: DUPLA HÉLICE Fonte: NELSON e COX, 2018. Nesse modelo, as bases ficam direcionadas no interior da molécula enquanto os grupos fosfatos e a pentose são orientados para o lado externo. Os pares de bases são unidos por pontes de hidrogênio triplas entre a citosina e a guanina e duplas entre adenina e a timina. Por esse motivo, a separação de bases ou desestabilização da união entre a C e a G é mais difícil (Figura 5). Vejam a representação da estrutura primária do DNA evidenciando a ligação (dupla e tripla) entre bases nucleotídicas, a complementaridade das cadeias na dupla-hélice de DNA e o sentido antiparalelo das fitas (fita à direita no sentido 5’→3’ e fita à esquerda no sentido 3’→5’): 42UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 42UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA PRIMARIA DO DNA Fonte: NELSON e COX, 2018. Vale ressaltar também que a orientação dessas duas fitas segue sentidos contrário (antiparalelas). Observe que na Figura acima, a fita esquerda está com uma indicação 5’ (lê-se cinco linha) na parte superior e 3’ (lê-se três linha) na parte inferior, enquanto a fica complementar está ao contrário. Assim, essa nomenclatura representa esse sentido oposto que as fitas assumem. Portanto, se em uma fita temos uma sequência de pares de bases a outra fita ne- cessariamente terá que apresentar uma sequência complementar, e para exemplificar isto, observe as quatro primeiras bases nucleotídicas da Figura acima. Iniciamos a fita do lado esquerdo com uma composição de bases na sequência C, A, A e T, então obrigatoriamente a outra fita à esquerda apresentará em sequência complementarG, T, T e A. É importante você saber que o DNA pode apresentar algumas variações na sua estrutura. Por exemplo, dependendo das condições do meio o DNA pode assumir outras formas tridimensionais diferentes (forma A e Z) da apresentada na figura X (B), que é a mais comum e mais estável. No entanto, não iremos nos aprofundar nessas formas. 43UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 43UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Outras variações estruturais incomuns podem acontecer e afetar a função do DNA, geralmente associadas à presença de sequências palindrômicas ou repetições de imagem especular. Veja na Figura 6 para entender como essas sequências ocorrem: FIGURA 6 - VARIAÇÕES ESTRUTURAIS QUE PODEM AFETAR A FUNÇÃO DO DNA: SE- QUÊNCIAS PALINDRÔMICAS E REPETIÇÕES DE IMAGEM ESPECULAR Fonte: NELSON e COX, 2018. Os palíndromos são sequências que se complementam em regiões próximas da fita dupla e as repetições de imagem especular ocorrem quando essas sequencias comple- mentar apresentam-se na mesma fita. Ambas podem ocasionar a formação de estruturas em forma de grampo ou cruciformes resultado da combinação dessas sequências comple- mentares (Figura 7). FIGURA 7 - COMBINAÇÃO DE SEQUÊNCIAS COMPLEMENTARES RESULTANDO EM ESTRUTURAS EM FORMATO DE GRAMPO OU CRUCIFORME Fonte: NELSON e COX, 2018. 44UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 44UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Essas estruturas são as que acontecem com maior frequência, mas também existem alterações que envolvem até quatro cadeias de DNA. Todas estas podem estar relacionar-se com a interrupção da expressão gênica, defeitos no metabolismo, e inclusive, podem ocasionar doenças genéticas e metabólicas. 2. O RNA O RNA apresenta estrutura diferente do DNA e quando vamos estudá-lo precisamos considerar as várias classes que incluem: os RNAs mensageiros, os RNAs transportadores e os RNAs ribossômicos. Quando o DNA é transcrito, o RNAm resultante apresenta uma estrutura de cadeia ou fita simples tendendo à conformação helicoidal devido ao empilha- mento das bases. O pareamento de bases ocorre de forma semelhante à do DNA, diferindo apenas na base uracila que ocorre no lugar da timina e é complementar à adenina. A estrutura primária do RNA está representada na Figura 8. Vale ressaltar que no DNA não temos padrões estabelecidos de estruturas secundárias e as suas conformações são altamente complexas e únicas. Os RNAs transportadores têm função na síntese proteica e apresentam um ami- noácido em uma extremidade, responsável por parear com um RNAm para dar início à leitura e produção de proteínas no processo de tradução. Os RNAs ribossômicos ocorrem como constituintes dos ribossomos que são essenciais para a Ainda, existem as ribozimas que são RNAs de função especial e têm como função principal a atuação como enzimas em reações do metabolismo. FIGURA 8 - ESTRUTURA PRIMÁRIA DO RNA 45UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2. LIPÍDEOS 2.1 Lipídeos Os lipídeos são compostos químicos que apresentam como principal característica a sua insolubilidade em água. A insolubilidade ocorre porque os lipídeos são constituídos por um esqueleto de hidrocarbonetos que confere essa propriedade apolar. Eles desempenham funções variadas nas células, sendo as duas principais: o armazenamento de energia como gorduras e óleos e componentes de membranas bio- lógicas. Nas membranas, podem exercer tanto o papel estrutural quanto funcionar como mediadores da adesão e do reconhecimento celular ou na transdução de sinal entre o ambiente intra e extracelular. Quando os lipídeos participam nessa passagem de informação e interligam os processos metabólicos recebem o nome de sinalizadores. Além disso, eles também po- dem ser classificados como cofatores ou pigmentos, auxiliando na atividade das enzimas em reações biológicas, conferindo cor à determinados componentes e participando de reações fotossensíveis. Para facilitar o nosso estudo, vamos conhecer a constituição química e principais funções dos lipídeos de acordo com a seguinte classificação: ácidos graxos, triacilgliceróis, fosfolipídios, esfingolipídios, glicolipídios, lipoproteínas e isoprenóides. 46UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 46UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2.2 Ácidos graxos Os ácidos graxos são chamados de ácidos devido a presença da função ácido carboxílico na extremidade de sua cadeia de hidrocarbonetos (Figura 9). Eles geralmente apresentam em média de 12 a 24 carbonos e podem ser formados por ligações simples (saturados) ou duplas (insaturados). As propriedades dos ácidos graxos são determinadas principalmente pelo comprimento e grau de insaturação da cadeia. FIGURA 9 - ESTRUTURA QUÍMICA DOS ÁCIDOS GRAXOS: HIDROCARBONETOS E FUNÇÃO DOS ÁCIDOS CARBOXÍLICOS. Como a função de ácido carboxílico é solúvel em água, quando a sua cadeia de hidrocarbonetos é curta eles podem apresentar certa polaridade. Entretanto, quanto maior a cadeia de hidrocarbonetos e menor o número de ligações duplas, mais baixa será a sua solubilidade em água. A insaturação da cadeia também influencia na estabilidade de arranjos desses ácidos graxos e na forma em que são encontrados no ambiente. Os mais insaturados apresentam maior dificuldade para empacotar-se devido à instabili- dade de ligações duplas (tipo cis) e as forças que os ligam uns aos outros são mais fracas. Assim, a temperatura necessária para desfazer esses arranjos é menor, resultando em agrupamentos de consistência mais líquida ou oleosa. O contrário acontece com as ceras, que apresentam maior instabilidade e se empacotam com interações muito estáveis (SAIBA MAIS 1). 47UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 47UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2.3 Triacilgliceróis ou triglicerídeos Alguns ácidos graxos são importantes para o desempenho de funções celulares e podem interferir na homeostase do metabolismo, mas a maioria são derivados de ácidos carboxílicos, apresentando funções ésteres ou amida. Os triacilgliceróis ou triglicerídeos, por exemplo, são formados por ésteres de ácidos graxos com glicerol (Figura 10). Sua principal função nas células eucarióticas animais e vegetais é o armazenamento de energia, geral- mente em células adiposas. A oxidação desses lipídeos gera mais energia do que a oxidação de carboidratos e por isso pode apresentar vantagem metabólica em certas situações. FIGURA 10 - ESTRUTURA QUÍMICA DOS TRIGLICERÍDEOS: ÉSTERES (EVIDENCIADO NA LIGAÇÃO C‒O‒C) DE ÁCIDOS GRAXOS (TRÊS) LIGADOS AO GLICEROL As ceras são ésteres de ácidos graxos saturados e insaturados com álcoois que apresentam pontos de fusão alto, ou seja, são encontradas na forma sólida. Além de da função de combustível, também desempenham funções relacionadas à propriedade imper- meabilizante principalmente em glândulas da pele, útil para alguns animais na proteção da pele e de pelos e também para evitar a evaporação excessiva. 48UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 48UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2.4 Fosfolipídios Os fosfolipídios são classificados como lipídios estruturais de membranas que apresentam em sua estrutura uma parte polar (hidrofílica) e uma apolar (hidrofóbica), caracterizando-os como anfipáticos. A parte apolar é constituída por ácidos graxos e são chamadas de caudas, enquanto a parte polar deve-se à presença de grupos carregados como o fosfato, sendo denominada de cabeça e ambas são ligadas por uma ligação fosfo- diéster (Figura 11). FIGURA 11 - REPRESENTAÇÃO DE UM FOSFOLIPÍDIO CONSTITUÍDO POR ÁCIDO GRAXOS (CAUDA HIDROFÓBICA) UNIDOS AO GLICEROL E UM GRUPO FOSFATO (CABEÇA HIDROFÍLICA) A característica anfipática dos fosfolipídios permite que eles se organizem em meios aquosos de forma vantajosa e que permite interações importantes. Na membra- na plasmática, por exemplo, os fosfolipídios assumem uma organização em bicamadaem que suas partes hidrofóbicas ficam todas voltadas para um mesmo lado, evitando interações com a água. Os grupos polares das cabeças dos fosfolipídios ficam voltados para fora em contato com esse meio aquoso garantindo que o interior da célula consiga se comunicar com o exterior (Figura 12). Como já citamos na unidade anterior, além da organização em bicamada lipídica, os fosfolipídios também podem se organizar na forma de micelas (Figura 12, Unidade I). 49UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 49UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas FIGURA 12 - ORGANIZAÇÃO DOS FOSFOLIPÍDIOS EM BICAMADA LIPÍDICA COM AS CAUDAS HIDROFÓBICAS VOLTADAS PARA O LADO INTERIOR E CABEÇAS HIDROFÍLICAS PARA O LADO EXTERIOR (ESPAÇO EXTRACELULAR E CITOPLASMA) Os fosfolipídios podem ser subclassificados de acordo com a constituição das suas regiões hidrofóbicas em glicerofosfolipídios ou esfingolipídios. Os glicerofosfolipídeos apresentam dois ácidos graxos ligados ao glicerol e são representados pela fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina. Já os esfingolipídios apresentam apenas um ácido graxo, que está ligado a uma amina e resulta em um composto chamado ceramida. 2.5 Esfingolipídios Os esfingolipídios são constituídos por um ácido graxo unido a uma função amida (--NH2) que resulta em um composto chamada ceramida. Eles ficam expostos na superfície da membrana celular e podem atuar como componentes de membrana ou agir como sítio de reconhecimento, ou seja, sinalizadores. Nós podemos dividi-los em três subclasses de acordo com a composição da cabeça polar: a esfingomielina (grupo fosfato), os glicoesfin- golipídios (açúcares) e os gangliosídios (oligossacarídeos e ácido siálico). De acordo com essa classificação, podemos concluir que dependendo dos grupos químicos presentes na estrutura do esfingolipídio, este poderá ser classificado como fosfo- lipídios ou glicolipídio. A esfingomielina possui grupo fosfato e por isso é classificada como fosfolipídio, exercendo função de componente e sinalizador ao mesmo tempo. Ela está presente na bainha de mielina, que envolve os neurônios e auxilia na condução nervosa através da sinalização nessas células. 50UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 50UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 2.6 Glicolipídios Os glicolipídios podem ser esfingolipídios ou galactolipídeos. A constituição dos gli- colipídios difere dos fosfolipídios, pois eles apresentam um carboidrato (açúcar simples ou oligossacarídeo complexo) na sua extremidade polar e não o grupo fosfato que ocorre dos fosfolipídios. Como vimos anteriormente, os esfingolipídios classificados como glicolipídios são os glicoesfingolipídios e os gangliosídios. Os glicoesfingolipídios ocorrem na forma de cerebrosídios ou globosídios e também podem ser chamados de glicolipídios neutros, uma vez que não apresentam carga em pH neutro. Os gangliosídios estão presentes na membrana de células sanguíneas e possuem partes que contribuem para determinar os grupos sanguíneos humanos. Um outro grupo de glicolipídios que são mais comuns em células vegetais são os galactolipídeos e os sulfolipídeos. Os galactolipídeos são os mais abundantes e atuam como componentes de membranas, localizados nas membranas internas de cloroplastos. 2.7 Lipoproteínas As lipoproteínas são constituídas pela associação entre moléculas de proteínas com triacilgliceróis, colesterol e ésteres de colesterol. Essa organização faz com que as lipoproteínas tenham um núcleo hidrofóbico (triacilgliceróis, colesterol e ésteres de coles- terol) e outro hidrofílico (proteínas e fosfolipídios), sendo caracterizadas como anfipáticas. Estas moléculas podem ser classificadas em quatro tipos de acordo com a sua densidade: os quilomícrons, lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL), de densidade baixa (LDL) e de densidade alta (HDL). As suas respectivas funções encontram-se no quadro abaixo: QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO E FUNÇÃO DAS LIPOPROTEÍNAS Lipoproteína Função Quilomícrons Transporte de lipídeos da alimentação pela linfa e sangue até o intestino, músculo ou tecido adiposo. Lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) Transporte de triacilgliceróis e colesterol até o tecido hepá- tico. Precursora da LDL. Lipoproteína de densidade baixa (LDL) Transporte de lipídeos para os tecidos periféricos. Degra- dado por lisossomos e proteases. Lipoproteína de densidade alta (HDL) Transporte do colesterol do plasma e tecidos extra-hepáti- cos para o fígado. Fonte: A autora (2021). 51UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 51UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Todos esses lipídios desempenham funções fundamentais na célula, eles precisam ser produzidos e renovados. A renovação ocorre mediante degradação por enzimas presen- tes nos lisossomos, que atuam removendo o ácido graxo ou grupamento polar associado. As lipoproteínas possuem papel essencial e ajudam no transporte de lipídeos para remoção e renovação dos componentes. Defeitos nesse sistema de reposição podem ocasionar doenças graves relacionadas ao acúmulo desses componentes no ambiente celular. Nós iremos estudar um pouco mais dessas disfunções na última unidade desta apostila. 2.8 Isoprenóides Os isoprenóides são um grupo de biomoléculas derivadas de ácidos graxos re- presentados pelos esteroides e os terpenos. Os esteroides também são formados por um grupo polar e um apolar e estão presentes como elementos estruturais de membrana. Outra função importante é a de servir como precursor de diversos produtos biológicos (hormônios, vitamina D e sais biliares). O esterol mais conhecido é o colesterol, presente nos animais, mas as plantas e os fungos apresentam lipídeos dessa mesma classe denominados estigmasterol e ergosterol, respectivamente. O colesterol pode ser encontrado associado a esfingolipídios e proteínas ligadas ao fosfatidilinositol no interior da célula, formando balsas lipídicas que permitem a comunicação e a adesão entre células. Os terpenos podem ser representados por pigmentos e substâncias voláteis pro- duzidas naturalmente por plantas vasculares. As substâncias voláteis podem atuar como sinalizadores na comunicação com outras plantas e animais e os pigmentos produzem cor, desempenhando papel importante na visão (fotossensíveis) e na fotossíntese. O caroteno é um exemplo de pigmento de cor amarelo alaranjado que presente dá cor à cenoura e também a penas de aves. Além dos esteróis e dos terpenos, várias outras biomoléculas importantes são formadas por grupos isoprenóides, por exemplo, algumas vitaminas, as ubiquinonas e as plastoquinonas (transportadores de elétrons nas mitocôndrias e cloroplastos) e algumas citocinas. 52UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas 3. AMINOÁCIDOS, PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS As proteínas são biomoléculas presentes em abundância em todas as células e desempenham funções importantes para o metabolismo. Como vimos anteriormente, elas são formadas por unidades mais básicas denominadas de aminoácidos. Os grupamentos funcionais amino e carboxila são unidos através de ligações covalentes gerando os pep- tídeos (cadeias de aminoácidos), que por fim, são combinados para formar uma proteína completa (Figura 13). FIGURA 13 - ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DAS PROTEÍNAS 53UNIDADE I Introdução à Bioquímica e Macromoléculas 53UNIDADE II Bioquímica de Macromoléculas Os aminoácidos apresentam ligados ao seu esqueleto de carbono e hidrogênio dois grupos funcionais, o carboxil e o amino. Além destes, também apresenta uma cadeia lateral (grupo R) que é o que determina a diferença de um aminoácido para o outro. De modo geral, vinte aminoácidos mais comuns são combinados em quantidade e sequência diferentes e resultam em milhares de tipos de proteínas, que são responsáveis por uma infinidade de processos biológicos. A sequência em que esses aminoácidos serão combi- nados não é definida por acaso, na verdade, as proteínas
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