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1 Ana Clara S. Carvalho ------- Urgência e Emergência ------- ------------------------ Queimaduras ------------------------ Introdução Os maiores princípios da abordagem da lesão térmica incluem: Suspeitar de comprometimento da via aérea (pela inalação de fumaça e pela queimadura); Identificar e abordar lesões mecânicas associadas; Manter normalidade hemodinâmica com reposição de volume; Controlar a temperatura; Monitorar os acessos IV para garantir que eles não se percam pelo edema; Verificar fixações do tubo orotraqueal e sonda nasogástrica; Tratar complicações como rabdomiólise, arritmias, síndrome compartimental (pode ocorrer após excessivas reposições volêmicas). Avaliação inicial 1. Interromper o processo de queimadura: Remover o possível da roupa do doente (roupa aderida não deve ser arrancada). Lembrar que tecidos sintéticos podem inflamar e queimar e derretem formando resíduos que continuam a queimar o doente. Escovar qualquer pó químico seco da ferida e descontaminar as áreas, enxaguando com irrigação abundante com solução salina morna ou lavagem em banho quente. Interrompido o processo de queimadura: cobrir o doente com lençol quente, limpo e seco para prevenir hipotermia! 2. Controle da via aérea: Pode obstruir por lesão direta (ex: inalação) ou pelo edema resultante da queimadura (pode aparecer posteriormente). Fatores que aumentam o risco de obstrução de via aérea superior: extensão e profundidade da queimadura, queimaduras localizadas na cabeça e face, lesão inalatória, trauma associado e queimaduras no interior da boca. É essencial avaliar a necessidade de intubação endotraqueal. História de queimadura com confinamento em ambiente fechado (pela inalação) ou sinais de lesão de vias aéreas (ex: lesão térmica da faringe) garantem obtenção de via aérea definitiva. Indicações para intubação precoce: Sinais de obstrução de via aérea (rouquidão, estridor, uso de músculos respiratórios); Área de superfície corporal queimada > 40-50%; Queimaduras faciais extensas e profundas ou no interior da boca; Edema significativo ou risco para edema de orofaringe; Dificuldade para deglutir; Sinais de comprometimento respiratório; 2 Ana Clara S. Carvalho Diminuição do nível de consciência.. 3. Ventilação adequada: Normalmente lesão direta da via aérea inferior é rara e está associada a inalação de vapor superaquecido ou gases inflamáveis. Preocupar com: hipóxia, intoxicação por monóxido de carbono e lesão por inalação de fumaça. Nível de carboxihemoglobina (HbCO) > 10% sugere lesão por inalação. O diagnóstico de intoxicação por CO é feito pela história e medida pela HbCO. Níveis elevados de CO podem resultar em cefaleia e náuseas, confusão, coma e morte. O CO possui meia-vida de 4 horas, mas pode ser reduzido a 40 minutos pela inalação de O2 a 100%: ou seja, qualquer doente exposto a CO deve receber O2 de alto fluxo (100%) através de uma máscara não reinalante de 4-6 horas. OBS: Pacientes com DPOC devem ser monitorados atentamente em caso de O2 100%. Na gasometria arterial, medida de PaO2 arterial não confiável sugere envenenamento por CO. É importante colocar um tubo endotraqueal, limpar as secreções e realizar uma broncoscopia. Oximetria de pulso não é confiável por não distinguir oxihemoglobina de carboxyhemoglobina. Sinal de toxicidade de cianeto é a persistente e inexplicável acidose metabólica. Critérios para diagnóstico de lesão por inalação de fumaça: exposição a um agente combustível e sinais de exposição à fumaça na via aérea inferior, abaixo das cordas vocais, visualizados pela broncoscopia. Exposição prolongada e em local fechado aumentam a probabilidade dessa lesão. Se alta probabilidade, intubar! Se a condição hemodinâmica do paciente e lesão na coluna vertebral foram excluídas: elevar a cabeça e o tórax do doente 30º para ajudar a reduzir o edema. Se restrição da movimentação torácica por queimadura: escarotomia pode ser necessária. 4. Estabelecer o acesso IV: A reposição volêmica é necessária para substituir as perdas líquidas contínuas de extravasamento capilar devido à inflamação. Iniciar preferencialmente ringer lactato pela fórmula de Parkland: 2ml de fluido x peso (kg) x área queimada de superfície corporal (%) Metade do volume: primeiras 8h Outra metade: demais 16h Se criança: 3 ml de fluidos na fórmula acima. A fórmula é uma estimativa e deve ser reajustado com base no débito urinário (0,5mg/kg). Deve ser feita em queimaduras parcial profunda e de espessura total > 20 SCT. Os acessos devem ser de grande calibre em veia periférica, preferencialmente em membro superior. Inserir um cateter urinário em todos os doentes que estão recebendo fluidos e monitorar a saída de urina para avaliar a perfusão (PA pode não ser confiável). Lembrar que diurese osmótica (glicosúria 3 Ana Clara S. Carvalho ou uso de manitol) pode aumentar o débito urinário. História clínica Mnemônico “ARDEU”: Alergias Remédios Doenças prévias, atuais e DUM Eventos relacionados com a lesão Última refeição Área de superfície corporal queimada A “regra dos 9” é útil para avaliar a extensão e gravidade da queimadura e determinar a quantidade de volume a ser administrado. Profundidade da queimadura 1º grau: caracterizadas por eritema e dor (ex: queimadura solar). 2º grau: aparência vermelha ou mosqueada e apresentam bolhas e edema. Normalmente são muito dolorosas. 3º grau: escuras e com aparência de couro. A superfície é indolor e geralmente seca. A área ao redor da queimadura pode apresentar intenso edema. COMPLEXIDADE DA QUEIMADURA 4 Ana Clara S. Carvalho OBS: Também é considerado grande queimado quando: queimadura de qualquer extensão associada a uma ou mais das seguintes situações: Lesão inalatória, politrauma, fratura óssea em qualquer localização, TCE, choque de qualquer origem, insuficiência renal, cardíaca ou hepática, DM, distúrbios de coagulação e hemostasia, embolia pulmonar, IAM, quadros infecciosos graves decorrentes ou não da queimadura, síndrome compartimental ou do túnel do carpo, doença consumptiva. Sondagem gástrica Se náusea, vômitos, distensão abdominal ou queimadura > 20% de área de superfície corporal queimada (ASCQ). Outros cuidados Analgésicos devem ser administrados em doses pequenas e frequentes por via IV. Antibióticos não estão indicados (exceto se infecção). Verificar imunização anti-tetânica. Queimaduras químicas Por exposição a ácidos, álcalis ou derivados do petróleo. Esse tipo de queimadura causa necrose de coagulação do tecido circundante, impedindo a penetração do ácido em certa medida (o álcali penetra mais profundamente que o ácido). Deve-se remover o produto químico e cuidar da ferida. Se o pó seco ainda estiver na pele, deve-se removê-lo antes de irrigar com água (aquecida em grande quantidade de 20-30min utilizando uma ducha ou mangueira – álcalis necessita de mais tempo de irrigação). OBS: Queimaduras dos olhos por álcalis exigem irrigação contínua durante as primeiras 8 horas após a queimadura. Queimaduras elétricas São mais graves do que parecem à inspeção. A corrente elétrica passa por vasos sanguíneos e nervos e pode causar trombose local e lesão nervosa.. Essas queimaduras possuem orifício de entrada e saída.. Frequentemente esses pacientes necessitam de fasciotomias e devem ser transferidos precocemente para um centro de queimados. O atendimento imediato inclui atenção à via aérea e respiração, estabelecimento de acesso venoso em membro não afetado, monitoração eletrocardiográfica (eletricidade pode causar arritmias) e sondagem