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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 2 – mod XII – P.L Meningites + abscessos + encefalite + empiema Meningite bacteriana - É uma inflamação da membrana aracnoide, pia-máter e LCR. O processo se estende pelo espaço subaracnóideo em torno do cérebro e da medula, podendo comprometer os ventrículos. - Esta condição está relacionada a uma intensa reação inflamatória no SNC, que se manifesta com rebaixamento da consciência, convulsões, aumento da PIC (pressão intracraniana) e eventos isquêmicos. - 90% dos casos acontecem em crianças de 1 mês – 5 anos, mas podem acontecer em qualquer idade. - Diagnóstico precoce e tratamento imediato reduzem mortalidade. ETIOLOGIA/EPIDEMIO RN e lactente até 3 meses → Streptococcus Agalactie, Listeria Monocytogenes. E. Coli, Klebsiella Pneumoniae, Enterobacter, Salmonella enteritidis. Aquisição dessas bactérias no MOMENTO DO PARTO pela colonização da mucosa vaginal. - 3 Meses - 18 anos → Neisseria Meningitidis (meningococo), Streptococcus Pneumoniae pneumococo) e Haemophilus Influenzae tipo B. - 18 aos 50 anos → Pneumococo é mais frequente que o meningococo. MENINGITE PELO STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE - Quadros clínicos de maior gravidade – com letalidade de 15-30%. Geralmente deixa sequelas. - O fator de risco mais significativo é a PNEUMONIA – tem em 25% dos pctes. - Sinusite, otite, alcoolismo, diabetes, esplenectomia, TCE com fratura da base craniana, anemia falciforme e deficiência do complemento – também são fatores de risco. MENINGITE POR NEISSERIA MENINGITIDIS - Raramente deixa sequelas quando curada. - A chance de óbito é menor que a do pneumococo (5- 15%) - DEFICIÊNCIA DO COMPLEMENTO – mais suscetível a infecção. MENINGITE POR H. INFLUENZAE B → Menos letal que o pneumococo, mas deixa sequelas (como surdez), com mais frequência que a do meningococo. MENINGITE POR LISTERIA MONOCYTOGENES - Gram positivo que afeta IDOSOS e pctes com alterações na IMUNIDADE CELULAR. - Gravidez é um fator de risco. - Agente mais comum em pctes com linfoma e transplantados. MENINGITE POR STAPHYOCOCCUS AUREUS E S. EPIDERMIDIS → Meningites que ocorrem mais após procedimentos neurocirúrgicos. GRAM NEGATIVOS → Meningites em alcoólatras, diabéticos, pctes com ITU Crônica. Após neurocirurgias. PÓS PUNÇÃO LOMBAR → S. Aureus e Pseudomonas Aeruginosa. - Em grandes hospitais, 40% dos casos de meningite bacteriana são de origem hospitalar. Pode ocorrer esporadicamente ou em surtos. Grupos de alto risco: pessoas que vivem em ambientes fechados, como salas de aula, alojamentos universitários, barracas miliares, prisões. Vacina dá 85% de proteção. FISIOPATOLOGIA - As bactérias podem ter acesso às meninges por: 1. Disseminação hematogênica 2. Ingresso direto pelo TRS ou pele por defeito anatômico 3. Passar para interior do crânio pela nasofaringe 4. Disseminação por um foco de infecção - Bacteremia por H. influenzae, N. Meningitidis e S. pneumoniae é a via mais frequente de infecção. - Bacteremia é usualmente iniciada pela adesão de germes de uma cepa à faringe, fazendo colonização local. - A adesão dessas cepas (S. pneumoniae) às mucosas é aumentada pq elas produzem proteases que quebram a IgA, inativando as defesas de anticorpos. - A adesão de meningococo às céls nasofaríngeas é feita por fímbrias e promovida por danos precedentes às céls ciliadas. Invadem a mucosa por endocitose e são transportados em vacúolos. - O H. influenzae usa espaços intercelulares, pq separa as junções de oclusão existentes entre as células. Quando esses patógenos chegam a corrente sanguínea, a sobrevida intravascular é favorecida pela presença de cápsulas polissacarídicas que inibem a fagocitose e conferem resistência à atividade bactericida mediada por complemento. - Uma vez estabelecida em qualquer parte das meninges, a infecção rapidamente se estende pelo espaço subaracnóideo. - A replicação bacteriana prossegue no líquor sem obstáculos já que ele tem poucas Ig e complemento, tendo pouca ou nenhuma atividade opsônica ou bactericida. - A lise bacteriana e a liberação de elementos da parede provocam liberação para dentro do espaço EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 subaracnóideo de citocinas, como IL-1 e fator de necrose tumoral a partir das células endoteliais, leucócitos (líquor), astrócitos, macrófagos e micróglia. - Citocinas aumentam permeabilidade capilar, ajudando na passagem de leucócitos e proteínas para o líquor, formando um exsudato. Este pode bloquear a reabsorção do líquor pelas granulações aracnóideas (hidrocefalia e edema). - Elas podem fazer surgir selectinas, que podem aumentar afinidade da ligação de uma molécula de adesão do leuc para seu receptor na cél endotelial e podem contribuir para aumentar o fluxo de neutrófilos dentro do espaço subaracnoide. - Citocinas – também fazem surgir SELECTINAS – que são receptores para leucócitos em células endoteliais – que favorece migração dessas células para o líquor. AUTORREGULAÇÃO CEREBROVASCULAR – também é perdida nas meninges bacterianas, sendo uma consequência da produção de citocinas. Esse mecanismo é fundamental para preservar a perfusão cerebral adequada nas variações da PAM. Quando a PAM se eleva (vasoconstrição cerebral) e quando tem queda da PAM (vasodilatação). • Caso ocorra HIPOTENSÃO durante o episódio de meningite – é comum – hipofluxo pode gerar isquemia. • Caso ocorra HIPERTENSÃO – agrava EDEMA CEREBRAL. - O processo inflamatório também pode acometer vasos sanguíneos por contiguidade (vasculite – nos vasos da base do crânio), ocasionando TROMBOSE e INFARTO CEREBRAL ISQUÊMICO, ou então favorecendo DISSEMINAÇÃO do processo infeccioso para o encéfalo – fazendo abscessos cerebrais. - Surgimento da SIADH piora ainda mais o edema cerebral, com a elevação da PIC e baixa perfusão do SN. - Na meningite bacteriana, os neutrófilos entram no subaracnoide, mas não conseguem controlar a infecção pq suas propriedades fagocíticas são ineficazes. Neutrófilos produzirão prostaglandinas, metaloproteinases e radicais livres. Aumento da permeabilidade vascular: edema cerebral Fluxo sanguíneo cerebral pode estar aumentado nas fases iniciais, podendo diminuir depois, Pode haver hipoperfusão, comprometimento da autorregulação do fluxo sanguíneo cerebral MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - 3 Síndromes concomitantes caracterizam a apresentação clínica das meningites bacterianas agudas: - Síndrome toxêmica, de irritação meníngea, hipertensão intracaniana - Presença de 2 síndromes dessas é muito sugestiva de diagnóstico. - Em crianças pequenas, principalmente lactentes, os sinais e sintomas de irritação meníngea podem estar AUSENTES em até 50% dos casos – Choro intenso, agitação e recusa alimentar podem ocorrer. Deve ser sempre feita a Punção Lombar (PL), mesmo com os riscos. Tríade clássica: febre, rigidez da nuca e alteração de consciência. SÍNDROME TOXÊMICA → Febre alta, mal-estar geral, prostração, agitação psicomotora. • Sinal de FAGET – bradicardia + febre alta (clássico da febre amarela) • 40-60% das meningites meningocócicas – podem ter rash cutâneo, com petéquias e equimoses. SÍNDROME DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA • RIGIDEZ DA NUCA – Com pcte em decúbito dorsal, se tenta fletir pescoço. Tem dificuldade na manobra pela contratura reflexa da musculatura cervical posterior. • SINAL DE KERNIG – Pcte em decúbito dorsal se eleva o tronco, fletindo sobre a bacia. Ocorre flexão da perna sobre a coxa e dessa sobre a bacia. /// ou pcte em decúbito dorsal flete-se a coxa sobre o quadril e o joelho sobre a coxa – quando se tenta estender a perna, pcte sente dor. • SINAL DE BRUDZINSKI – Flexão involuntária da perna sobre a coxa e desta sobre a bacia ao tentar fletir a cabeça. • SINAL DO DESCONFORTO LOMBAR – Pcteem decúbito dorsal flexiona um joelho. Examinador coloca mão na planta do pé do mesmo lado e pede para empurrar o pé para baixo – pcte sente “choque” na região lombar. SÍNDROME DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA • Cefaleia holocraniana intensa, náuseas, vômitos, fotofobia, confusão mental. • Vômitos em JATO sem náuseas antecedentes. - Pcte pode ter alteração dos nervos 3°, 4°, 6° ou 7° nervos cranianos (5-10%) em pcte adultos com meningite adquirida na comunidade e desaparecem depois que passou a monitoria. - Perda auditiva em 10% das crianças. DIAGNÓSTICO - Hemocultura em paralelo ao exame e cultura do líquor. - Deve ser confirmado por uma PUNÇÃO LOMBAR. - Mas se tiver rebaixamento de consciência, com déficits focais novos ou lesão com efeito de massa, é recomendado exame de neuroimagem antes da punção. - PL → Região lombar entre L1 e S1, sendo os espaços mais indicados o L3-L4 ou L4-L5 ou L5-S1. - CONTRAINDICAÇÃO ABSOLUTA DE PL – Presença de infecção no local da punção – piodermite. ESTUDO DO LCR EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 Microrg Pressão de abertura do LCR Contag em celular Prot Glic ose Bactérias > 20 > 1.000 > 100 < 10 Mycobacteriu m tuberculosis > 20 100-500 > 100 10- 45 Borrelia < 20 100-500 50- 150 10- 45 Treponema pallidum < 20 5-500 50- 150 10- 45 Fungos < 20 5-500 > 100 10- 45 Vírus < 20 5-500 50- 150 norm al - Coloração – Nas meningites ocorre turvação no LCR pelo aumento de células nele. Normal seria líquido límpido e incolor. - Contagem de células: predomínio de neutrófilos. Precisa ser feita logo pq elas começam a se degenerar em 90 minutos. - Glicose no LCR é maior que 2/3 do sangue. Pode-se diferenciar meningite bacteriana da viral, porém, um valor normal não exclui diagnóstico. Pcte com DM tem [ ] elevada de glicose no sangue. - Proteínas também aumentam no LCR, passando de 45mg/dl, sendo o normal até 30. Elevações extremas podem indicar bloqueio subaracnoide com obstrução do fluxo de LCR. - Aglutinação pelo látex – Pesquisa de antígenos bacterianos. Específico para Meningococo e Pneumococo. - Microbiológico – Sob assepsia para detectar a presença de bactérias. Pode usar PCR também. Coloração de Gram... Hemocultura e biópsia de lesões cutâneas → Hemoculturas positivas e biópsias de lesões petéquias costumam revelar o micro-organismo, inclusive de forma rápida pelo método de GRAM. - Achados na TC de crânio podem indicar ruptura da barreira da dura-máter. TRATAMENTO - A meningite bacteriana aguda é uma emergência infecciosa e deve ser tratada sem demora. - Aplicação imediata do ATB altera um pouco sensibilidade dos métodos diagnósticos, mas diminui enormemente a morbidade da doença. - ATB por via IV por 7-14 DIAS ou até mais dependendo da evolução clínica ou etiologia. Tratamento empírico MENOS QUE 3 MESES → Ampicilina + Ceftriaxone 3 MESES – 50 ANOS → Ceftriaxone (+Vancomicina) + 50 ANOS, ALCOOLISMO, DOENÇAS DEBILITANTES → Amplicina + Ceftriaxone (+Vancomicina) INTRA HOSPITALAR, PÓS NEUROCIRURGIA, TRAUMA, DISTÚRBIO IMUNIDADE → Amplicina + Ceftazidima + Vancomicina. Tratamento com etiologia definida MENINGOCOCO → Penicilina G Cristalina ou Amplicina. 4-7d após cessar febre. H. INFLUENZAE → Ceftriaxona. 4-7d. S PNEUMONIAE → Penicilina G Cristalina, Ceftrixone, Vancomicina. 10-14d. ESTAFILOCOCO → Oxacilina ou Vancomicina ENTEROBACTÉRIAS → Ceftriaxona. 4 semanas. P. AERUGINOSA → Ceftazidima L. MONOCYTOGENES → Amplicina. Glicocorticoides - Uso sistemático em todas as formas de meningite aguda bacteriana – para REDUZIR A INFLAMAÇÃO – reduzindo chance de óbito e sequelas neurológicas. - Inicia GC 15-30 minutos antes do início da ATB ou junto com a primeira dose do ATB. - Início após 6h do TTO ATB é inútil. - DEXAMETASONA 10mg IV 6/6h por 4d ou 12/12h por 2d. Medidas importantes para pcte com meningite ISOLAMENTO RESPIRATÓRIO – Por 24h em meningites por meningococo ou Haemophilus. HIDRATAÇÃO – Com solução isosmolar, evitando hiper- hidratação – que agrava edema cerebral. ELEVAR – Cabeceira da cama MANITOL – Diurese osmótica e melhora edema cerebral. DIAZEPAM ou LORAZEPAM – Para tratar convulsões VENTILAÇÃO MECÂNICA – Em caso de coma ou arritmias respiratórias. CASOS SUSPEITOS OU CONFIRMADOS DE MENINGITE POR MENINGOCOCO OU H. → Precaução respiratória contra gotículas durante as primeiras 24h de ATB. Quarto privativo ou enfermaria com pctes com mesmo agente etiológico, máscara cirúrgica para que for se aproximar do pcte. Limitação do transporte intra- hospitalar. EVOLUÇÃO E CONTROLE - Resposta ao TTO costuma ser RÁPIDA – havendo melhora da confusão mental nas primeiras 6h da terapia. - Febre também melhora nas 6-12h. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - Sinais e sintomas da irritação meníngea levam de 3-5 dias para desaparecer. - Quando tiver febre de evolução prolongada – tem que se descartar algumas complicações da meningite. - NOVA PL APÓS 72h de TTO → Indicada para avaliar evolução das alterações inflamatórias do líquor, bem como para demonstrar a esterilização do mesmo. - RAQUICENTESE (punção do canal raquidiano) – método mais objetivo e fiel para demonstrar a evolução de um quadro de meningite. COMPLICAÇÕES • Coma → Por edema cerebral... • Choque séptico → Mais comum na meningite meningocócica. • Comprometimento de pares cranianos → Na criança o VII par facial; VIII Vestibular. • SIADH → Hiponatremia e piora do edema cerebral. • Efusão subdural estéricos → Retorno ou manutenção da febre, irritabilidade, vômitos. US de crânio diagnostica. TTO são punções repetidas • Empiema subdural →. Mesma clínica que a efusão, porém, aqui existe infecção da coleção. • Ventriculite → Comum em crianças menores que 2 meses. Pela demora no início do tto. Aumenta PIC e hidrocefalia. US é diagnóstica. • Hidrocefalia → Pode surgir durante o quadro ou após resolução. • Sequelas → Surdez, hidrocefalia, cegueira, hemiplegia (paralisia de um lado do corpo), retardo psicomotor, déficit intelectual PROFILAXIA Vacinas - Vacinas eficazes para muitos subtipos de H. influenzae tipo B e muitas das infecções meningocócicas que causam meningite. - A adesão à vacinação recomendada reduz a meningite. Quimioprofilaxia - A pronta profilaxia os contatos próximos é feita pq até 1/3 dos casos de doença meningocócica se desenvolve 2-5d após o contato com o caso inicial. - Rifampicina VO é usada para profilaxia em adultos. - Podem ter alternativas: ofloxacina, Ciprofloxacino, azitromicina, ceftriaxona. - Uso generalizado da vacina eliminou a necessidade de quimioprofilaxia dos contatos próximos com crianças. Profilaxia indicada para contato com domiciliares não imunizados. - Ex: se dois ou mais casos de doença invasiva ocorrerem em crianças numa creche, é justificada fazer a profilaxia. Rifampicina 1xdia por 4d. - Indicada em contatos familiares e íntimos do pcte. - VACINAÇÃO – ESQUEMA NACIONAL → Criança menor que 1 ano faz 3 doses. 2º, 4º, 6º mês de vida. Marcadores de mau prognóstico das meningites bacterianas – dependem da etiologia - Rebaixamento do nível de consciência à admissão hospitalar - Convulsão dentro de 24h da admissão hospitalar - Extremos das idades (crianças e adultos > 50 anos) - Sinais de aumento de PC - Choque ou necessidade de intubação - Atraso no início da terapia - Líquor com Glicose < 40 OU PTN > 300mg/dl. Meningites virais - São entidades comuns e ocorrem em crianças maiores que 1 ano, adolescentes e adultos jovens. ETIOLOGIA - Vírus da caxumba, Epstein-Barr, enterovírus, CMV, Cocksackie, Echovirus, vírus da Herpes simples. - No lactente com meningite e Líquor claro: comprometimento sifilítico. - Adulto jovem e sexualmente ativo: pesquisa do HIV é mandatória. FISIOPATO Via hematogênica- Enterovírus passam através do estômago, num pH ácido, seguem TGI. Alguns replicam na nasofaringe e se disseminam pelos gânglios. Se ligam a receptores e o vírus rompe o revestimento epitelial, tendo replicação na célula suscetível. - Entra no SNC, atravessa as junções da barreira hematoencefálica e entra no líquor, através do plexo coróide. Via neuronal: vírus da herpes - HSV-1: nervo trigêmeo e olfatório, pode ficar latente até se reativar para produzir encefalite. - HSV-2: se dissemina a partir de uma lesão genital, pode ficar latente até ser reativada para provocar meningite viral. QUADRO CLÍNICO - Febre, cefaleia e rigidez na nuca. - Pode haver náuseas, vômitos, diarreia e rash maculopapular. Pode ter fotofobia. - Uma infecção respiratória alta pode preceder a instalação do quadro. - Alguns doentes também relatam envolvimento do encéfalo, com agitação, rebaixamento do nível de consciência e crises convulsivas – justificando o termo meningoencefalite. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 - AUMENTO DAS PARÓTIDAS – pode preceder, ser concomitante ou aparecer durante a convalescença da meningite por paramixovírus. DIAGNÓSTICO - ANÁLISE DO LÍQUOR: predomínio de linfócitos, proteína ligeiramente elevada; - Cultura do líquor, sorologia pareada, coprocultura para vírus e cultura de secreção da nasofaringe. TRATAMENTO - Na maioria das vezes é de suporte, com reposição hidroeletrolítica e controle das convulsões, quando presentes. - Isolamento respiratório deve ser feito se for pelo vírus da caxumba, enquanto durar aumento das parótidas ou até 9 dias a partir do início da doença. - Pleconaril evita a fixação viral às células hospedeiras e pode trazer uma melhora clínica nos pctes. - Aciclovir IV é usado para tratar pctes sintomáticos, hospitalizados, com meningite HSV-2, embora não se tenha mostrado que altera o curso da doença. - Pctes com recorrência: profilaxia com antiviral Aciclovir, valaciclovir ou fanciclovir. Prognóstico benigno, 1% evolui para meningoencefalite. A maioria dessas meningites é autolimitada. Abscesso cerebral - Um processo supurativo, focal, localizado na intimidade do parênquima do cérebro. - É uma condição bem rara, ocorrendo em 1 a cada 100.000 pessoas por ano. - TENÍASE é uma causa frequente de abscesso cerebral (Taenia Solium – agente da neurocisticercose) - Condições predisponentes: Sinusite paranasal, otite média, infecções dentárias. Pctes imunodeprimidos são população de risco para desenvolver. - 90% são consequência de uma supuração em outras partes do corpo; 10% decorre de inoculação a partir de feridas na cabeça ou procedimentos neurocirúrgicos. PATOGÊNESE E ETIOLOGIA - O abscesso pode se desenvolver de 4 formas: 1. Associação com um foco de sinusite, por exemplo. 2. Seguido de trauma craniano (fratura aberta), lesão ocular em ponta de lápis na criança ou neurocirurgias. 3. Disseminação hematogênica por foco a distância. 4. Criptogênico – que nenhum fator de risco é identificado - Em ordem decrescente de frequência – abscesso pode envolver as seguintes regiões → Frontal > Frontoparietal > Parietal > Cerebelar > Occipital. FRONTAL – Geralmente vem de sinusite paranasal ou infecção dentária. Microrganismos mais prevalentes: estreptococos anaeróbicos, Haemophilus, bacteroides, fusobacterium... - Sinusite esfenoidal – principal condição que predispõe ao abscesso. TEMPORAL E CEREBELO - Se for de uma endocardite, por exemplo, vai ser o S. Aureus, e o Streptococcus Viridans. Se for do pulmão, Streptococcus. Se for do TU, Enterobactérias, Pseudomonas aeruginosa. APÓS TRAUMATISMO CRANIANO PENETRANTE → S. aureus, Clostridium, Enterobactérias. NEUROCIRURGIAS → S. aureus, P. Aeruginosa, Enterobactérias. - Abscessos são coleções de material purulento (neutrófilos e tecido necrótico) causas por infecção por bactérias, fungos e parasitas. - A infecção prolifera no cérebro por via hematogênica. Quando próxima ao cérebro, a infecção entra nele por extensão direta ou vai caminhando ao longo dos vasos com flebite. - Dentro do cérebro, a infecção como com uma cerebrite com infiltrados de neutrófilos para dentro do parênquima cerebral. - Passa um tempo e o abscesso é formado por exsudato purulento que inclui tecido cerebral necrótico e neutrófilos viáveis e necróticos. Um tecido de granulação se desenvolve entre esses. Abscesso então é cercado e bloqueado por uma cápsula fibrosa, que vai depender da virulência e sistema imune do pcte. - Organismos mais virulentos são associados a lesões maiores, mais necrose e áreas mais frequentes de escape inflamatório para fora da cápsula de colágeno. - Pctes imunocomprometidos, como HIV, não conseguem formar resposta imune para formar cápsula e por isso só respondem bem à ATB. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Curso clínico pode ser indolente ou fulminante. Em 75% dos casos a duração dos sintomas data de 2 semanas ou menos. - Uma minoria de pctes (<50%) – apresenta a clássica tríade (Febre, cefaleia, déficit neurológico) - As manifestações do abscesso se devem mais à lesão em massa que ocupa espaço do que a presença de infecção. - Cefaleia hemicraniana ou generalizada: 70% dos casos. - Febre: ocorre em 50% dos casos, sendo mais comum em crianças com 80% dos casos. - Letargia / coma: ocorre na maior parte dos casos. - Déficit neurológico focal: em metade dos pctes. Depende do local e presença de edema. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 - Hemiparesia – Achado mais comum - Convulsões – até 35% dos pctes. - Náuseas e vômitos: aumento da pressão intracraniana – acomete metade dos pctes. - Cefaleia / sonolência / desatenção / deterioração da função mental: se abscesso for no lobo central. - Cefaleia ipsilateral – Abscesso no lobo temporal. - Paralisia facial / vômito / disfagia / cefaleia / febre – Abscesso em tronco cerebral. DIAGNÓSTICO - Reconhecimento desta condição é tardio em grande parte dos casos. - Os métodos de imagem ajudaram a reduzir a mortalidade. - Leucocitose neutrofílica e elevação do VHS são encontrados com mais frequência. - Aumento da PCR também é utilizado para diferenciar de tumor cerebral. Só é elevada em abscesso. - HIPONATREMIA – pela SIADH é comum. - PL – Não é indicada em abscesso porque pode ter herniação. - NEUROIMAGEM – RM é melhor do que TC pois permite identificar edema cerebral. - ASPIRAÇÃO ESTEROTÁXICA DO ABSCESSO para colher análise microbiológica. TRATAMENTO - Tratamento é empírico. - PENICILINA G CRISTALINA – pilar da terapia. Pode associar com METRONIDAZOL. - Tem vários ATB específicos para cada foco de disseminação. - Drogas ANTICONVULSIVANTES – podem ser usadas quando há convulsões. - CORTICOIDE – usados em caso de edema cerebral para evitar herniação. DEXAMETASONA. - ASPIRAÇÃO ESTEROTÁXICA DO ABSCESSO → deve fazer parte da terapia do abscesso quando a antibioticoterapia isolada não for eficiente. - INTERVENÇÃO CIRÚRGICA → Abscessos multiloculados, lesões com gás, abscessos por fungos, deterioração neurológica. Craniotomia Encefalite - Se refere à infecção do parênquima cerebral e pode ser usado o termo “Meningoencefalite” quando as meninges e o parênquima cerebral parecem estar infectados. A encefalite viral geralmente acompanha a inflamação meníngea. EPIDEMIOLOGIA - É uma doença comum. Causa específica é identificada em apenas 10-15% dos casos de meningoencefalite nos EUA. VÍRUS IMPLICADOS → Enterovírus, Vírus da encefalite japonesa (mais comum – alta taxa de mortalidade). Arbovírus, HVS 1 (mais comum no ocidente – encefalite grave), HIV pode causar, mas é raro. Em imunocomprometidos, o CMV e o Varicela Zoster podem causar. - A doença neurológia aguda associada às infecções pelo sarampo, rubéola – é usualmente uma sequela da infecçãochamada de ENCEFALOMIELITE PÓS INFECCIOSA. Também ocorre após infecção causada pela gripe e parainfluenza. - CORIOMENINGITE LINFOCÍTICA → Esse vírus é o principal ZOONÓTICO que causa encefalite e meningite. Humano adquire o vírus pelo contato com poeira ou alimento infectado pela excreta do CAMUNDONGO DOMÉSTICO. - Doença humana é mais comum no inverno, quando os hospedeiros naturais tendem a ir para dentro de casa. - Hamsters também podem ser portadores. - CAXUMBA → O vírus se dissemina pela via respiratória, ocorrendo durante todo o ano, mas aumentando na primavera. - Embora a caxumba infectar ambos os secos igualmente, a meningoencefalite é mais frequente em homens. - O vírus da Encefalite Japonesa é o transmitido por artrópodes de maior distribuição geográfica. FISIOPATOLOGIA - Os eventos que conduzem o desenvolvimento da encefalite viral aguda podem ser divididos em 3 fases. 1. Exposição da superfície externa do corpo ao vírus – com replicação local do inóculo 2. Viremia sistêmica – e amplificação do vírus em órgãos viscerais. Uma viremia secundária pode levar à invasão e replicação dentro do sistema nervoso e meninges. Pode atingir o SN por via hematogênica. 3. Replicação viral dentro do sistema nervoso – infecção de neurônios, células gliais – que leva à disfunção celular e às vezes morte celular. Seguem- se respostas INFLAMATÓRIAS. - Os sintomas e sinais clínicos dependem da distribuição da infecção, assim como do efeito direto do vírus e das respostas inflamatórias. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Tem sintomas semelhantes todas as encefalites, mas com variações dependendo do vírus particular. - Sintomas neurológicos precedidos ou acompanhados por FEBRE, MAL ESTAR OU MIALGIA, PERTURBAÇÃO GTI, SINTOMAS RESPIRATÓRIOS E ERUPÇÃO NA PELE. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 - Essas manifestações são seguidas por CEFALEIA, FOTOFOBIA, PESCOÇO RÍGIDO e outros sinais de irritação meníngea (mais branda que na meningite bacteriana). - Pctes tipicamente exibem alterações de ATENÇÃO e CONSCIÊNCIA, variando de CONFUSÃO A LETARGIA ou COMA. - FUNÇÃO MOTORA – Anormal, com fraqueza, tônus alterado ou incoordenação (reflete alteração do córtex, núcleos da base ou cerebelo) - CONVULSÕES – em casos graves. - Alguns pctes exibem MIOCLONIA (espasmos involuntários) ou TREMOR - Comprometimento HIPOTALÂMICO – pode levar à HIPO ou HIPERTERMIA, com disfunção autonômica, diabetes insipido ou instabilidade vasomotora. - Anormalidades na mobilidade ocular, deglutição ou outras funções de nervos cranianos são comuns. - Se envolver MEDULA ESPINHAL – Fraqueza flácida, com perda aguda de reflexos. DIAGNÓSTICO - Quando há suspeita de Encefalite Viral, o exame do LCR é essencial. - Se estiverem presentes sinais focais importantes – TC. - PIELOCITOSE (10 a 1000 células mononucleares por mm³). É característica. - Pressão do LCR pode estar elevada. - GLICOSE normal ou levemente reduzida. - PROTEÍNA ELEVADA. - Investiga doença base – importante. VIROLOGIA - É difícil fazer o diagnóstico etiológico pelos achados neurológicos e laboratoriais. Por isso é importante saber o contexto epidemiológico do vírus e manifestações sistêmicas. - Caxumba – tem envolvimento das parótidas. - Enterovírus – produzem erupção cutânea., assim como o coxsackie. - Já que não tem tratamento específico, importante é só excluir outras doenças. - A detecção do microorganismo pode ser obtida por sorologia, sangue ou fezes. PREVENÇÃO → Há vacinas contra pólio, sarampo, caxumba, rubéola. Encefalite japonesa também tem. Varicela, raiva... A raiva pode dar a vacina até depois de pegar o vírus. TRATAMENTO - ACICLOVIR – HSV1, CMV, Varicela Zoster. - O tratamento é mais para os sintomas, prevenção e tratamento de complicações. - Isolamento não é essencial, porém é importante tomar medidas de higiene. - Cefaleia e febre da meningite podem ser tratadas com ACETAMINOFENO. - Hipertermia grave pode exigir terapia de resfriamento com compressas geladas. - Pctes com encefalite grave muitas vezes se tornam comatosos – mas com suporte vigoroso pode evoluir bem. - Não são recomendados rotineiramente anticonvulsivantes profiláticos. - ESTEROIDES – devem ser evitados por causa dos efeitos inibitórios das respostas imunes do pcte. - Prognóstico da encefalite depende da causa. Arbovírus tem alta taxa de mortalidade. - A complicação mais comum após meningoencefalite da caxumba é surdez neurosensorial. Empiema subdural - Acúmulo de pus entre a dura máter e a aracnoide. EPIDEMIOLOGIA - É um distúrbio raro, que responde por 15-25% das infecções supurativas focais do SNC - Empiema com rinossinusite tem preferência por homens jovens. ETIOLOGIA - RINOSSINUSITE é a causa predisponente mais comum e envolve os seios frontais – seja de maneira isolada ou com outros seios. - ESD também pode surgir com TRAUMATISMO ou NEUROCIRURGIA. - Estreptococos aeróbicos e anaeróbicos, estafilococos, enterobactérias e bactérias aneróbicas. - Estafilococos e Gram negativos – relacionados com procedimentos neurocirúrgicos ou traumatismo. FISIOPATOLOGIA - A doença decorre da propagação retrógrada da rinossinusite por tromboflebite séptica das veias da mucosa, que drenam os seios paranasais ou propagação contígua da infecção para o cérebro a partir de osteomielite na parede posterior dos seios frontais ou outros seios. - Também pode se desenvolver por introdução direta de bactérias no espaço subdural, como uma complicação de procedimento neurocirúgico. - Evolução da ESD pode ser extremamente rápida porque o espaço subdural é um grande compartimento que tem poucas barreias mecânicas à propagação da infecção. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Sintomas mais frequentes: cefaleia, febre, déficit neurológico e rigidez de nuca. - Pode progredir e causar sinais de hipertensão intracraniana: vômito, alterações do nível de consciência, convulsões e papiledema. - Devemos suspeitar sempre que o pcte tiver rinossinusite conhecida + sinais e sintomas no SNC. - HEMIPARESIA OU HEMIPLEGIA contralateral é o déficit neurológico focal mais comum. DIAGNÓSTICO - RM é superior a TC em qualquer detecção de infecção intracraniana. Massa em forma de crescente com margem contrastada. - Líquor apenas se tiver meningite concomitante. Pcte com hipertensão craniana, evitar PL por risco de hérnia. TRATAMENTO - ESD é uma EMERGÊNCIA MÉDICA. - EVACUAÇÃO NEUROCIRÚRGICA do ESD por craniotomia ou por drenagem por orifícios de trepanação. - ATB – Cefalosporina de terceira geração. Via parenteral Cefalosporina de 3ª geração - São mais potentes contra bacilos gram-negativos facultativos, e têm atividade antimicrobiana superior contra S. pneumoniae (incluindo aqueles com sensibilidade intermediária às penicilinas), S. pyogenes e outros estreptococos. - Com exceção da ceftazidima, apresentam atividade moderada contra os S. aureus sensível à oxacilina, por outro lado, somente a ceftazidima tem atividade contra P. aeruginosa. - Drogas disponíveis no Brasil: No Brasil só estão disponíveis cefalosporinas de terceira geração na apresentação parenteral (ceftriaxona, cefotaxima e ceftazidima). Indicações - Podem ser utilizadas no tratamento de uma variedade de infecções por bacilos gram-negativos susceptíveis adquiridas no ambiente hospitalar, dentre elas: Infecções de feridas cirúrgicas, Pneumonias e Infecções do trato urinário complicadas. - Cefotaxima e ceftriaxona podem ser usadas no tratamento de meningites por H. influenzae, S. pneumoniae e N. meningitidis. Também são as drogas de escolha no tratamento de meningites por bacilos gram- negativos. - Pela sua boa penetração no sistema nervoso central e sua atividade contra P. aeruginosa,a ceftazidima é uma excelente opção para o tratamento de meningites por este agente.
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