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05- Fred Didier (Aula LFG)

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�LFG – PROCESSO CIVIL – Aula 05 – Prof. Fredie Didier – Intensivo I – 02/03/2009
VII – CONEXÃO E CONTINÊNCIA
	Quando há dois processos idênticos pendentes, absolutamente iguais, há o que se chama de litispendência. Mas a palavra litispendência tem também um outro sentido. Esse sentido de pendência de dois processos iguais, é o mais comum. Mas há um outro sentido que temos que saber que é o seguinte: da data em que nascemos até a data que morrermos, há um período de tempo chamado de vida. Entre o nascimento e a morte do processo, também ocorre um período de tempo e esse período de tempo também se chama litispendência. O período de tempo da existência de um processo é chamado de litispendência. 
	Caiu em concurso: “O recurso prolonga a litispendência.” Verdadeiro ou falso? Verdadeiro porque o recurso prolonga a vida do processo, impede que o processo morra. Então, cuidado porque a palavra litispendência pode aparecer em concurso em dois sentidos.
	“Litispendência” - Duas acepções possíveis:
Litispendência usada para se referir a dois processo iguais
Litispendência usada para a existência de um processo em curso
	Procurador da República (2008) – Prova aberta: “Fale sobre os efeitos da litispendência com relação a terceiros.” O que ele quer dizer com isso? “Fale dos efeitos do processo, da pendência do processo perante terceiros.” Ora, o processo pode produzir efeitos perante terceiros? Isso veremos mais adiante (na intervenção de terceiros, coisa julgada, sentença), por isso FD não vai responder. Mas para falar bem sobre o tema da questão seria preciso lembrar das duas acepções da palavra litispendência. Neste caso específico, teríamos que usar a expressão como sinônimo de existência do processo.
	Vimos que dois processos iguais são litispendentes. Se entre dois processos não há nada de parecido, se são absolutamente distintos, não havendo nada que os relacione, qual é o nome dessa situação? Essa situação não tem nome porque ela é irrelevante. A correlação entre dois processos pendentes e que não têm nada a ver um com o outro é um nada jurídico. É um não-acontecimento. É absolutamente irrelevante.
Conexão ou continência: aspectos estruturais
	Vimos a litispendência, que são dois processos iguais, e a situação de irrelevância de dois processos pendentes sem nada a ver entre si. E há um meio termo. Qual é esse meio termo? Dois processos diferentes mas que guardam uma relação, um vínculo entre si. Não são iguais, mas não são totalmente desvinculados. Essa situação intermediária é que se chama de conexão ou continência. 
	A conexão ou continência são espécies de vínculos entre dois ou mais processos diferentes, mas que guardam entre si alguma relação. Então, é indispensável que se perceba onde está a conexão nesta relação entre processos. Ela está em posição intermediária entre dois processos idênticos e outros absolutamente desvinculados. A conexão é justamente o vínculo entre processos diferentes.
	O professor vai dar a aula de conexão e continência, chamando tudo de conexão. A distinção é apenas conceitual. Todo o regramento da conexão se aplica à continência, sem exceção. O que muda é apenas o nome. Vai chegar um momento em que o professor vai dizer o que é um e o que é outro, mas até lá tudo o que disser, vale para ambos.
	Quando há litispendência, um dos processos tem que ser extinto. Não há razão para que tramitem concomitantemente. No caso de conexão e continência, é preciso saber qual é a consequência jurídica que decorre desse vínculo de semelhança. Quais são os efeitos jurídicos que esse vínculo de semelhança entre causas produz. Porque se houver identidade entre causas, o efeito é a extinção dd um deles. Agora, se houver um vínculo de semelhança entre essas causas, o efeito jurídico que isso produz?
Efeitos da conexão
	A conexão produz dois efeitos jurídicos básicos típicos:
	1º efeito)	Modificação da competência e reunião das causas em um mesmo Juízo – A modificação da competência com a remessa dos autos a um único juízo que será o competente para julgar todas as causas. Modifica-se a competência para que um único juízo julgue as causas conexas. Ao serem reunidas em um único juízo, modifica-se a competência. O juízo que ia julgar a causa, deixa de julgar a causa. Em razão da conexão ele perde essa competência que vai para um outro juízo que só julgaria uma causa, passa a julgar mais uma causa. Um juízo perde a competência e o outro ganha a competência que não tinha porque passa a julgar uma causa que antes ele não julgaria, que é essa causa conexa. Então, a modificação da competência é isso: a causa sai de um juízo e vai para outro juízo onde se conectará a outra causa para serem julgadas simultaneamente.
	2º efeito)	Processamento e julgamento simultâneo das causas – as causas serão processadas e julgadas simultaneamente.
Observação n.º 01 – A conexão só pode modificar a competência relativa. Só.
Observação n.º 02 – Não confunda conexão com efeito da conexão. Conexão é o vínculo de semelhança. Se há semelhança entre as causas, há conexão. Efeito da conexão é a reunião dos processos, é o julgamento simultâneo. Muita gente acha que na hora da prova a reunião dos processos é a conexão. Reunir os processos é a conexão. Conexão não é reunir os processos. Reunir os processos é efeito dela. A conexão vem antes. A conexão é vínculo de semelhança, é o fato. O efeito é que é a reunião do processo. 
	Essas duas observações são importantes para que se perceba que pode haver conexão sem reunião dos processos. É possível haver conexão que não gera como consequência a reunião dos processos. Daí a importância de se separar uma coisa da outra. Se duas causas conexas estiverem tramitando em juízos com competências absolutas distintas, não será possível a reunião. Se as competências absolutas são distintas, como se pode reunir, já que a conexão não muda a competência absoluta? Imagine uma causa conexa numa vara de família e uma causa conexa numa vara cível. Não obstante a conexão, não será possível a reunião, já que a conexão não pode fazer com que o juiz julgue uma competência absoluta que ele não tem. A conexão só muda a competência relativa. Uma coisa é conexão, outra coisa é efeito da conexão. Pode haver conexão sem a reunião dos processos quando há competência absoluta distinta. Outro exemplo: um processo em primeira e outro em segunda instância. Há relação entre eles mas não dá pra reunir porque a competência funcional vertical é distinta. 
	Quando não for possível a reunião, o que fazer? Havendo conexão e não for possível a reunião dos processos, o que se faz? Recomenda-se a suspensão de um deles para evitar, com isso, o desperdício de atividade jurisdicional. A suspensão só será recomendada quando não houver possibilidade de reunião. Por que? Porque reunir é sempre melhor. 
	Exemplo: Súmula 235, do STJ: “A conexão não determina a reunião dos processos se um deles já foi julgado.” A Súmula é correta porque diz: há conexão, mas não há reunião dos processos.
	Por que será que o legislador resolveu dar esse tratamento à conexão? Por que reunir para julgamento do mesmo juízo? O Objetivo é, de um lado, a economia processual. Ora, se as causas são parecidas, têm um vínculo, vamos fazer com que um mesmo juízo cuide delas, para poupar energia processual. Isso é um dos fundamentos que regem a conexão. O segundo fundamento é harmonizar as decisões. Ora, se as causas são semelhantes convém que um mesmo juízo cuide delas para evitar decisões que não estejam em harmonia. Para evitar uma desarmonia em decisões que tratem de situações semelhantes, o legislador resolveu colocar a apreciação das causas por um mesmo juízo. Então, a economia processual e a prevenção a uma eventual desarmonia das decisões são os dois fundamentos que justificam um tratamento legislativo diferenciado para a situação em que dois processos são semelhantes. 
	Exatamente por conta disso tudo, a conexão é um fato que pode ser conhecido de ofício pelo juiz. O juiz pode, de ofício, a qualquertempo, reconhecer a conexão e determinar a reunião dos processos. A qualquer tempo até o julgamento porque depois disso não há razão para reunir os processos. O juiz pode de ofício e autor e réu também podem alegar conexão. 
	Uma observação das mais importantes: O autor costuma alegar conexão já na petição inicial quando ele pede a chamada distribuição por dependência da conexão. Quando faz isso, já alega conexão. O réu costuma alegar conexão na contestação. A conexão não se alega por exceção de incompetência. Não confundam. Conexão se alega em defesa, na contestação. Exceção de incompetência é para alegar incompetência relativa. 
	Muita atenção porque é um dos pontos que mais gera confusão na hora de estudar: não pode confundir alegação de incompetência relativa com alegação de modificação da competência relativa, que é exatamente, a conexão. Não é pra confundir “alegar a incompetência relativa” (“juiz vc não tem competência relativa”) com “alegar modificação da competência relativa” (“juiz, vc tem competência, mas em razão da conexão, a causa tem que ir para outro Juízo”). Uma coisa é dizer que juiz é relativamente incompetente. Outra coisa, bem diferente é dizer que houve modificação da competência relativa, que é a conexão.
	Tanto é diferente que só o réu pode alegar incompetência relativa. Já a conexão pode ser alegada pelo autor, pelo réu e até conhecida de ofício pelo juiz. A incompetência relativa tem que ser alegada por exceção de incompetência relativa. A conexão pode ser alegada por qualquer forma. Pelo autor, pelo réu (que só não pode é entrar com exceção de incompetência por conexão porque isso seria um híbrido). 
	Quando se alega incompetência relativa, o que se quer é que a causa vá para o juízo competente. Vc diz: “Juiz, vc é relativamente incompetente, quero que a causa vá para o juízo competente”. Quando se alega conexão, o que se quer é a remessa dos autos ao juízo prevento, ao juízo que vai julgar as causas conexas. Não confundam: alegação de incompetência relativa com alegação de modificação da competência relativa. Por isso o regramento da conexão é bem diferente: o juiz pode de ofício, pode há qualquer tempo, porque há um interesse público aí. Na conexão surge o interesse público de que as causas fiquem no mesmo juízo por questão de economia, para evitar decisões contraditórias. É por isso que a conexão pode ser alegada a qualquer tempo, por qualquer forma. Muito diferente da incompetência relativa que é algo que só interessa ao réu e faz preclusão.
	Neste ponto da aula, o professor sugere a consulta a uma tabela disponível no editorial n.º 25 do site www.frediedidier.com.br e que segue transcrito adiante:
Editorial 25 - 21/08/2007
Distinção entre a alegação de modificação de competência e a alegação de incompetência relativa.
Muitos alunos pediram-me que fizesse uma distinção entre a alegação de modificação de competência relativa (conexão ou continência) e a alegação de incompetência relativa.
Não há como confundi-las.
Ao afirmar a ocorrência de uma hipótese de modificação de competência, parte-se da premissa de que o órgão jurisdicional é competente, mas, em razão da prorrogação da competência, deve a causa ser remetida a outro órgão jurisdicional, o prevento (é nisso que consiste a modificação). Quando se aponta a incompetência relativa, nega-se, de logo, que o magistrado tenha competência para conduzir a causa, pedindo-se a remessa dos autos ao juízo competente.
A competência que surge para o juízo prevento tem natureza absoluta (funcional), sendo essa a razão pela qual é possível o conhecimento ex officio da conexão/continência: ao autorizar a modificação da competência, surge uma hipótese de competência absoluta do órgão jurisdicional prevento, que justifica, inclusive, a quebra da perpetuação da jurisdição prevista no art. 87 do CPC. A modificação legal da competência é uma questão que transcende o interesse das partes, indisponível, portanto, na medida em que se relaciona com a economia processual e serve para minimizar os riscos de desarmonia das decisões.
Cabe, assim, apresentar um quadro distintivo.
	
	Alegação de modificação de competência relativa
	Alegação de incompetência relativa
	Legitimidade
	Qualquer das partes pode suscitar a questão, além de o órgão jurisdicional poder conhecê-la ex officio
	Somente o réu pode suscitar a questão
	Efeito do acolhimento
	Remessa dos autos ao juízo prevento
	Remessa dos autos ao juízo relativamente competente
	Forma de alegação
	No bojo da petição inicial ou contestação, por simples petição ou até mesmo oralmente
	Exceção de incompetência
	Momento
	Enquanto o processo estiver pendente
	No primeiro momento que couber ao réu falar nos autos, sob pena de preclusão
	Já vimos: o regramento jurídico da conexão e da continência ou seja, seus efeitos, quem as reconhece de ofício, como alegar. Não sabemos ainda o que é conexão e o que é continência. Só vimos a estruturação.
Conexão e continência: aspectos conceituais
	Quando, então, há conexão e quando há continência. Conexão e continência são opções legislativas. Cabe ao legislador optar pelos casos que considera relevantes para justificar tudo isso. 
	O CPC prevê a conexão no art. 103:
	“Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações quando lhes for comum o objeto e a causa de pedir.”
	Pelo nosso código haverá conexão quando o pedido ou a causa de pedir forem iguais. Se entre os dois processos o pedido ou a causa de pedir for comum, a haverá conexão. Notem que o conceito é muito simples. A identidade de um dos elementos objetivos (pedido ou causa de pedir) basta para caracterizar a conexão. A identidade de partes é irrelevante para a conexão. Basta pedido ou causa de pedir. É um conceito simples, eminentemente objetivo.
	“Art. 104. dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às as partes e a causa de pedir, mas o objeto de uma por ser mais amplo, abrange o das outras.”
	O art. 104 cuida da continência e estabelece para ela um conceito mais rigoroso. Na continência o legislador exige partes iguais e causa de pedir igual. Por isso é mais específica. Além disso, um pedido tem que ser mais abrangente que o outro. Exemplo: peço para anula em cláusula e em outro caso, peço para anular o contrato inteiro. Isso abrange anular uma cláusula. O pedido de anulação do contrato inteiro, abrange o pedido de anular uma cláusula. Partes iguais, causa de pedir igual e pedido mais abrangente, há continência.
	Percebam duas coisas importantíssimas: Na continência as causas são diferentes, se fossem iguais seria litispendência. Na continência, a diferença é quanto aos pedidos. Face a mesma causa de pedir, só muda o pedido, só que um abrange os outros. A continência não é espécie de litispendência. Continência é continência: pedidos diferentes, só que um abrange o outro. 
	Vejam bem: isso é o que está no CPC. Se vier na prova, o texto expresso do Código, não há dificuldade. O problema é que temos que ir além. É preciso fazer duas críticas ao regramento do CPC:
	1ª Crítica – A desnecessidade do conceito de continência. Esse conceito, para o CPC, é absolutamente desnecessário. Isso porque pelo Código, toda continência é uma conexão. Toda. Por que pelo CPC toda continência é uma conexão? Porque se a continência exige causa de pedir igual, e a identidade de causa de pedir já gera conexão, toda continência tem causa de pedir igual. E para que haja conexão, basta que a causa de pedir seja igual. Consequentemente, toda continência é uma conexão. Ora, se é assim, para que falar da continência? Não tem utilidade. Só teria utilidade se o regramento da continência fosse diferente. Se tivesse alguma sutileza na continência que não houvesse na conexão. 
	2ª Crítica – diz respeito à insuficiência do conceito de conexão previsto no art. 103, do CPC. O que o professor vai dizer agora, não é uma novidade. Não fiquem pensando que isso é algo de uma doutrina da mais atualizada. Isso tem trinta anos. Isso já é construção consolidada nadoutrina e na jurisprudência. Esse conceito é um conceito mínimo de conexão. O que é isso? Quando esse fato ocorre, há conexão. Mas há conexão também fora dessas hipóteses. Há conexão para além das hipóteses do art. 103, que seria meramente exemplificativo. Dois exemplos: investigação de paternidade e alimentos. Duas ações. Indiscutivelmente essas duas ações são conexas. Não tem ninguém que vá dizer que não há conexão aí. Todo mundo vai dizer que tem que reunir no mesmo juízo, até porque imagina se juiz um disser que não é pai e o outro manda pagar alimentos? Não há polêmica sobre a conexão dessas ações. Ninguém discute isso. Mas vamos ver se isso se encaixa no art. 103. Pedido igual? Não. Pedir investigação é uma coisa, pedir alimentos é outra. Causa de pedir é igual? Não. Uma coisa é vc pedir para reconhecer um pai porque não tem pai, outra coisa é vc pedir alimento porque está precisando. Então, causa de pedir distinta, pedidos distintos, portanto, não se encaixa no art. 103. Mas há conexão? Há. Segundo exemplo: ação de despejo por falta de pagamento e ação de consignação dos aluguéis. Em um caso, pede-se para despejar o sujeito porque ele não paga. E o mesmo sujeito vai à juízo e pede para consignar em pagamento os aluguéis. Há conexão aí? Sem dúvida. Imagina se um juiz manda despejar e o outro manda consignar em pagamento? Haveria uma nítida contradição. Há conexão, mas não nos termos do art. 103 porque o pedido não é igual e a causa de pedir não é igual. 
Conexão por prejudicialidade
	Sendo o art. 103 é exemplificativo, quais são os outros casos em que poderá haver conexão? Para tanto, vale uma regra prática. Sempre que a decisão de um processo puder afeta outro, sempre que houver um vínculo entre os processos de modo que a decisão de um possa afetar a do outro, que a solução de um interferirá na solução do outro, há conexão. Sempre que a solução de um processo interferir na solução do outro, haverá conexão. Isso é muito tranqüilo. É daí que surge a chamada conexão por prejudicialidade. Ou seja, se houver prejudicialidade entre as causas, se uma causa for prejudicial à outra, há conexão. A solução de uma interfere na solução da outra, há conexão.
	Se perguntarem no concurso: o nosso CPC previu a conexão por prejudicialidade? Não. Não previu. Existe conexão por prejudicialidade? Existe. A partir de uma interpretação elástica do art. 103. Ouçam bem: a existência de conexão por prejudicialidade não é uma questão polêmica. Não é para colocar como polêmica doutrinária. 90% dos casos de conexão que existem na jurisprudência são casos fora do art. 103, na prática o que se vê são casos de conexão por prejudicialidade.
	Vimos que o art. 103 é insuficiente para resolver todos os problemas práticos de conexão art. 103 não está errado. Ele é apenas exemplificativo. Prestem bem atenção: entraremos em terreno um pouco pantanoso. 
A conexão nas causas repetitivas
	Discussão, aí sim, aprofundada, polêmica. O que será dito agora é novidade: conexão nas causas repetitivas.
	É a primeira vez que o professor vai falar sobre isso no curso e voltará a falar sobre isso em diversos momentos. O que significa a expressão causas repetitivas? Uma coisa que a gente vai ouvir falar demais ao longo do curso, nos livros e na jurisprudência.
	Causas repetitivas são aquelas em que se discute uma mesma tese jurídica, em que se muda muito pouco. Elas basicamente tem por diferença o autor. São causas de marca. 
	Exemplos: todas as causas em que se discute correção das contas de FGTS são repetitivas. Casa um vai a juízo pedir para reajustar a sua conta de FGTS. Há milhões de pessoas pedindo isso, todas alegando que os planos econômicos do governo não as corrigiram devidamente. Nessas ações, as iniciais são idênticas. Só muda o autor. É o mesmo que acontece nas causas tributárias (vários contribuintes vão a Juízo pedir redução de tributo), nas causas de consumo (vários vão a Juízo pedir isenção da assinatura básica de telefonia). É o que acontece com os servidores públicos ao pedir reajuste, aos segurados da previdência que pedem reajuste da aposentadoria.
	As causas repetitivas são frequentes e são as responsáveis pela crise do poder judiciário no Brasil que entrou em colapso por causa delas. Isso porque o Judiciário brasileiro foi idealizado para as causas envolvendo Tício contra Caio (despejo, separação, usucapião) . No máximo pensando na intervenção de Névio e de problemas relacionados sempre com elite econômica. E por que isso? Porque só tem problemas quem tem um mínimo de dinheiro. Porque quem não tem nada não tem problema com telefone, com carro, não faz inventário. Questões jurídicas não são feitas para quem não tem dinheiro. Nosso judiciário foi criado para atender problemas de pessoas com problemas. Poucos tinham telefone há trinta anos. Em pouco tempo histórico, uma série de pessoas que estavam fora da atividade econômica foram a elas incorporadas. Houve um aumento substancial a pessoas com acesso a luz, água, telefone, a cargos públicos, a universidades... Quem não tinha nada, começou a ter problema. Quando a oi faz uma bobagem, ela faz uma bobagem para uma multidão de pessoas que agora sabem que podem exigir e são incentivadas a isso. As causas repetitivas emperraram o Judiciário. 
	O que causa repetitiva tem a ver com conexão e continência? Historicamente, sempre se disse que não há conexão entre causa repetitiva porque a solução de uma tem diferença para a solução da outra. O fato de um ganhar, não significa que um pode perder ou ganhar. Cada um tem a sua situação. Então, sempre se disse que não há conexão em se tratando de causa desse tipo. Hoje, como tratamos isso? Tudo o que foi dito sobre conexão não se aplica às causas repetitivas. Todo regramento que vimos não foi pensado para as causas repetitivas.
	Pergunta de concurso: “alguém pede para não pagar um tributo por inconstitucional. Outro sujeito pede para não pagar outro tributo por inconstitucional e alega conexão. É possível?” Não. São causas semelhantes, mas não há entre elas nenhum elemento que justifique a conexão. Esse é um clássico concursal.
	Acontece, porém, e aí que é a novidade, que o legislador brasileiro nos últimos tempos começou a defender que as causas repetitivas, grande mal do Judiciário brasileiro, mereciam um tratamento diferenciado. Se não há conexão nos termos do código, é preciso pensar outra forma de dar tratamento diferenciado. Isso porque não se pode ignorar que nas causas repetitivas o trabalho do juiz é mecânico. Se ele entende, por exemplo, que um tributo é inconstitucional, qualquer processo que venha para ele que seja repetitivo, ele vai pegar aquela mesma sentença, vai mudar os dados e vai julgar. As causas repetitivas são típicas, causas padrão. Daí, o legislador percebeu que precisava dar um tratamento diferente às causas desse tipo e hoje já se fala em processo de causas repetitivas. Um regramento processual próprio para as causas repetitivas. E esse regramento aparece em várias situações, em vários momentos. O professor vai falar desses momentos ao longo de todo o curso. Quando falar em litisconsórcio, vai falar “o litisconsórcio em causas repetitivas”; quando falar em intervenção de terceiros, vai falar “intervenção de terceiros em causas repetitivas”; “petição inicial em causas repetitivas”; “recursos em causas repetitivas”. Agora estamos falando conexão em causas repetitivas.
	O que o legislador fez em relação às causas repetitivas com a conexão? Quando as causas repetitivas chegam ao STJ e ao STF, via recurso, olha o que acontece: em vez de reunir para julgar simultaneamente, a lei determina que das diversas causas repetitivas se escolha uma ou umas que representem bem a controvérsia e todos os outros processos ficam parados à espera da decisão que se der a esses escolhidos. Selecionam-se as causas representativas e os outros todos ficam parados. Aqueles escolhidos serão julgados e a tese que se fixar ali, valerá para todos. Ao invés de pegar tudo, reunir para uma decisão única, escolhem-sealguns, suspendem-se outros e a decisão que se der aos escolhidos, vale para todos automaticamente. É um julgamento por amostragem. Porque se não fosse assim, seria inviável se reunir 5 milhões de processos. Não teria onde guardar. Então, criou-se um regramento de conexão diferente. É uma conexão? É. O legislador viu relevância na semelhança entre as causas repetitivas. Só que essa semelhança, que é a conexão, não gera os efeitos clássicos que mencionamos aqui. Gera outros efeitos. Isso porque nas causas repetitivas os efeitos têm que ser outros. 
	Essa é a primeira manifestação desse regramento próprio para as causas repetitivas de inúmeras que o professor vai fazer ao longo do curso. Numa visão tradicional e correta o regramento do CPC não se aplica às causas repetitivas. A conexão das causas repetitivas hoje é em outros termos e, por enquanto, só em nível de STJ e STF.
	Onde está isso? Arts. 543-B e 543-C, do CPC. 
Em resposta às perguntas feitas durante o intervalo: nas causas repetitivas os pedidos não são iguais. Em nenhuma. Se eu vou a Juízo pedir para a minha conta de FGTS ser reajustada, o pedido é: “reajuste a causa de Fredie”. Qual é a causa de pedir? “A conta de Fredie foi lesada.” Se João for pedir a mesma coisa, ele vai dizer: “reajuste a conta de João” porque a “conta de João foi lesada”. Pedidos diferentes. Causa de pedir distintas. A lesão à conta de Fredie não é igual à lesão à conta de João. Agora, são parecidos. E é isso que torna as causas repetitivas, porque a lesão às contas de ambos se deu em razão de um mesmo comportamento do Estado. Os pedidos também são diversos, porque cada um pede para si. Por isso que pelo regramento tradicional, não há conexão. Essa semelhança que existe teve que justificar um outro regramento de conexão.
Como se equilibra um contraditório com essa história de os processos ficarem suspensos e só os escolhidos vão ser julgados? E os outros? O contraditório já foi exercido amplamente no juízo a quo. A discussão agora está em grau de recurso, no tribunal. E mais: Qualquer interessado, cujo processo ficou suspenso, que queira trazer um argumento novo, uma observação nova que não está entre os escolhidos a serem enfrentado pelo STJ pode intervir nesse julgamento por amostragem. Isso tem previsão expressa e é assim que se equilibra o contraditório. Mas o professor vai voltar a falar nisso, na aula de recursos extraordinários, na última aula.
Escolha do Juízo prevento
	É preciso, ainda, responder a uma pergunta para terminar conexão: como saber em qual dos juízos as causas haverão de ser reunidas? As causas deverão ser reunidas no Juízo prevento, onde se deu a prevenção. E qual é esse Juízo? Há dois critérios para saber o juízo prevento:
1º Critério)	Se as causas conexas estiverem na mesma comarca – quando for assim, a prevenção se dá pelo despacho inicial. O despacho inicial é o critério para a prevenção. Prevento é o juízo que primeiro despachou, no caso de mesma comarca (art. 106, do CPC: “Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar”).
2º Critério)	Se as causas conexas estiverem em comarcas diversas – quando for assim, prevento é aquele onde primeiro se deu a citação válida. Art. 219, do CPC (cuida da prevenção em comarcas diversas).
	Cuidado com isso na hora da prova: Defensoria Pública/RJ – prova prática. Alegar conexão e dizer o juízo prevento. Era um caso que envolvia dois processos em comarcas diversas. Em um, o juiz despachou primeiro, no outro, citou validamente primeiro. O prevento é aquele em que primeiro houve a citação porque as comarcas eram diversas. 
	Cuidado: Nas ações coletivas, o critério de prevenção é outro, é um terceiro: é a data da propositura da ação. Prevento é o juízo onde primeiro a ação foi proposta. Não é o despacho inicial e nem a citação válida. Onde está isso? Art. 2º, § único da Lei nº 7.347/85.
	É possível reunir em um mesmo juízo causas conexas, sendo uma de conhecimento e outra de execução? Sim. A jurisprudência é farta, admitindo isso. Execução de contrato com anulação desse contrato. São conexas. Imagine se um juiz anula e o outro executa. Vai reunir no mesmo juízo, mas com uma peculiaridade: não haverá processamento simultâneo. É uma conexão que gera reunião no mesmo juízo, mas não gera processamento simultâneo porque os procedimentos são diferentes. Essa pergunta é interessante porque classicamente se dizia que não seria possível essa reunião, justamente pela incompatibilidade entre execução e conhecimento. A visão clássica impede a reunião dessas causas. Mas a jurisprudência começou a perceber que era preciso reunir até por uma questão de bom-senso, para evitar práticas de atos inúteis (executar um contrato quando o outro juiz está dizendo que é nulo). Para evitar isso, o STJ admite a reunião entre uma ação de conhecimento e de uma ação de execução. 
(fim da 1ª parte da aula)
	
VIII – CONFLITO DE COMPETÊNCIA
	O conflito de competência é um incidente processual de competência originária de um tribunal (é sempre um tribunal que julga conflito de competência) e tem por objeto um conflito entre dois ou mais juízos sobre a competência para julgar determinada causa (s). Pode ser que o conflito se dê para julgar uma ou mais de uma causa.
	O conflito de competência pode ser positivo ou negativo. Será positivo quando a briga se der para julgar a causa. Ambos estão ansiosos para julgar a causa. Fato que deve ser intuído como raro, mas que pode existir. Mais comum, é o conflito negativo, aquele em que os sujeitos brigam para não julgar a causa. Ambos se afirmam incompetentes.
	Uma situação como essa tem que ser resolvida e será resolvida sempre por um tribunal nesse incidente chamado conflito de competência.
	O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer dos juízos conflitantes, pelas partes e também pelo Ministério Público. Se o MP não suscitar o conflito, deverá ele intervir em qualquer conflito de competência. Ele tem que intervir. Se ele propôs o conflito, não precisa intervir. Se não propôs o conflito, tem que intervir. É caso de intervenção obrigatório do Ministério Público. 
	Note que o conflito pode se dar entre juízes, ou seja, juiz contra juiz. Pode ser também entre juiz e tribunal e entre tribunal e outro tribunal. Parece ser uma coisa meio besta, mas didaticamente tem a sua utilidade.
	Jamais pode haver conflito entre órgãos que tenham diferencial hierárquico (olha a pegadinha!). Isso significa que juiz não conflita com o seu tribunal. Juiz baiano não conflita com o TJ da Bahia. Juiz Federal não conflita com o seu TRF. Não há conflito se, entre eles, há hierarquia. O juiz baiano pode conflitar com o TJ de Sergipe, com o TRT. Não pode é conflitar com o tribunal ao qual está vinculado. 
Por isso, olha a pegadinha concursal, não há conflito entre TJ e STJ. Prevalece o que o STJ disser. O STJ pode conflitar com o TST, com o TSE. Não há conflito entre o STJ e o TRE. E não há conflito que envolva o STF. O STF nunca é sujeito de um conflito porque o que ele disser prevalece sobre o que qualquer outro disser. O TSF não conflita com ninguém. Cuidado! O STJ pode conflitar com o TST. O conflito não pode se dar entre órgãos que tenham relacionamento hierárquico. 
Também não há conflito quando se trata da Súmula 59, do STJ: “Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado proferido por um dos juízos conflitantes”. 
	Tudo o que vimos até agora sobre o conflito de competência é bobagem. Não há maiores complicações. O problema é a partir de agora. 100% das questões que envolvem competência nas provas dizem respeito à solução dos conflitos de competência, à competência para julgar conflito de competência. De quem é a competência para julgar o conflito? Responder isso não é muito simples. Aqui a gente se embanana um pouco. Vamos achar um jeito de compreender isso da forma mais simples possível.
	Como estamos no Processo Civil, nos interessa sabera competência do STF para julgar conflito, do STJ para julgar conflito e dos TJ’s e TRF’s para julgar conflito. Já vimos que só quem julga conflito é um tribunal. Qual é a dica? Se são três os níveis, basta que a gente decore dois níveis. Tudo o que sobrar será do outro. O método não consiste só nisso. É preciso saber quais dois vc vai decorar. E é aí que está o segredo. Decorar mesmo, só STF, TJ e TRF. O resto é STJ. Por que só decorar esses? Porque a competência do STJ é um mundo. O STJ é quem julga conflito de competência no Brasil. O resto, a competência é quase residual. Se tiver que chutar, chuta STJ. Vamos decorar os outros dois.
Muito simples. O STF só julga conflito se no meio estiver um tribunal superior. Tem tribunal superior no conflito? É o STF que julga. Não tem tribunal superior? Já sabe que não é STF. 
Só julgam conflitos de competência entre juízes vinculados ao tribunal respectivo. Então, juiz da Bahia que conflita com outro juiz da Bahia, é o TJ da Bahia. Juiz federal conflita com juiz federal, ambos pertencentes ao mesmo tribunal, quem julga é esse TRF que vai julgar. Se forem de estados diversos, quem julga? STJ. Juiz da Bahia, conflita com juiz de Sergipe, quem julga é o STJ. TJ/MG x Juiz de SP, quem julga? STJ. TJ/MG x juiz de BH. Quem julga? Ninguém. Não tem conflito. Pegadinha. 
Existem 5 TRF’s: 
TRF 4 abrange Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
TRF 3 abrange São Paulo e Mato Grosso do Sul.
TRF 2 abrange Rio de Janeiro e Espírito Santo.
TRF 5 abrange Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
TRF 1 abrange o resto: Minas Gerais, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Tocantins, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Rondônia, Acre e Mato Grosso.
Por que é importante saber isso? Olha a pergunta do concurso: juiz federal de Salvador conflita com juiz federal de Aracaju. Quem julga? STJ. Por que? Porque são juízes federais vinculados a tribunais diversos. Juiz federal de Salvador conflita com juiz federal de Boa Vista, em Roraima. Quem julga? TRF 1. Juiz federal de Juazeiro na Bahia, conflita com Petrolina em PE. Quem julga? STJ, por serem de tribunais diversos. Isso é que derruba no concurso porque não tem lógica e infelizmente vamos ter que saber essa divisão territorial dos TRF’s para saber se os conflitos envolvendo juízes federais vão para o TRF (juízes de mesma região) ou para o STJ (juízes de regiões diversas). 
Conflito entre juizes do trabalho não nos interessa porque é matéria de processo do trabalhão. Mas conflito entre juiz do trabalho e juiz federal ou juiz estadual nos interessa. Quem julga? STJ. Por isso, há várias decisões do STJ sobre competência trabalhista. Não é o STF porque não envolve tribunais superiores. Não é TRF ou TJ porque é conflito envolvendo tribunais diversos. Portanto, sobra para o STJ.
E juiz de juizado e juiz que não é de juizado? Juiz de juizado, turma recursal. Juiz comum, TJ. A CF não trata disso. Não há previsão constitucional de competência. Não havendo previsão constitucional de competência temos que recorrer a quê? Teoria das competências implícitas. É preciso ver quem tem a competência implícita pra julgar esse conflito entre juiz e juizado e juiz comum. O STJ entendeu que a competência é dele. Houve muita discussão sobre isso, mas de um tempo pra cá se consolidou o entendimento de que cabe ao STJ julgar.
XIX – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
	É uma competência regulada integralmente na Constituição. O CPC não será usado nesta matéria. Só a CF fala nisso.
	Quando estudamos esse assunto, precisamos saber a competência dos juízes federais e a competência do TRF. Normalmente, o aluno, quando estuda esse assunto, estuda apenas a competência dos juízes federais, do art. 109 da CF e ignora o TRF, no art. 108. Um erro comum é pensar que toda a competência da Justiça Federal está regulada no art. 109. Isso é um erro! 
A competência dos juízes federais está regulada no art. 109, da CF. 
A competência dos TRF’s está regulada no art. 108, da CF.
	
Se no concurso perguntarem algo sobre a competência do TRF, busque no art. 108 e não no art. 109. 
A primeira coisa a ser dita sobre o tema é que a Constituição autoriza que causas de competência de juízes federais possam ser julgadas por juízes estaduais. Surge aí um sujeito esdrúxulo que é o juiz estadual investido de jurisdição federal. É aquele cara que passou no concurso para juiz estadual e se vê na contingência de julgar causas da Justiça Federal. Isso pode acontecer, com recurso para o TRF e não para o TJ porque ele exerce jurisdição federal. É situação curiosa permitida pela CF. 
Onde que todo mundo erra nisso: quando acha que o juiz estadual sempre pode fazer isso. Ou seja, basta que a cidade onde juiz esteja não seja sede de justiça federal para que ele se invista da jurisdição federal. Não é assim! Para que o juiz estadual julgue causas federais, é preciso que se preencham dois pressupostos cumulativos:
1º Pressuposto)	É preciso que na localidade não haja sede da Justiça Federal.
2º Pressuposto)	Haver autorização legal expressa nesse sentido. 
É preciso que a lei expressamente autorize que determinada causa federal tramite perante um juiz estadual. O que significa dizer que não é qualquer causa que vai para a Justiça Estadual. São só as causas em que houver autorização expressa Não é qualquer processo que é da Justiça Federal que pode tramitar perante o juízo estadual se lá não houver sede da Justiça Federal. 
A Constituição já faz essa primeira autorização. Há um tipo de causa que a própria CF se antecipa e autoriza: “essa causa aqui, se não houver justiça federal, a estadual pode julgar.” São as causas que envolvem o segurado e o INSS. Essas causas podem ser julgadas na justiça estadual se lá não houver sede da Justiça Federal. Isso por expressa autorização da Constituição: § 3º, do art. 109, da CF. essas são causas de natureza previdenciária como causas de natureza assistencial. Ou seja, vc vai pedir, não o benefício previdenciário, mas assistencial (porque nem tudo que o INSS paga é previdência) envolvendo INSS. 
Mas há outros casos previstos na legislação extravagante porque o constituinte permitiu que a lei trouxesse outras situações. Nesse primeiro caso, o próprio constituinte já disse e também abriu para a lei abarcar outras hipóteses. Vamos ver as mais importantes:
Como já visto, as causas envolvendo o INSS e o segurado – previsão constitucional expressa.
Execuções fiscais federais podem tramitar na Justiça Estadual se lá não houver sede da Justiça Federal. Isso é previsto há muitos anos, confirmada há pouco pela Súmula 349, do STJ.
Usucapião especial rural – envolveu ente federal, vai para Justiça Federal. Se não tiver na localidade, Justiça Estadual com recurso para o TRF. É outro caso de ação, envolvendo entes federais, que pode tramitar na Justiça Estadual se na localidade não houver Justiça Federal (art. 4º, Lei nº 6.969/81 e Súmula 11 do STJ).
Justificações envolvendo entes federais também podem tramitar na justiça estadual (art. 15, da Lei nº 5.010/76.
Agora veremos os problemas.
1) 	Se sobrevier a criação de uma vara federal na localidade, a causa terá que ser redistribuída à vara federal criada, porque é fato novo que muda a competência absoluta. Sempre que o professor diz isso, sente que as pessoas se confundem um pouco. Pensem num Estado com o a Bahia. Na Bahia há Varas Federais em vários lugares: Salvador, Ilhéus, Conquista, etc. Todas as cidades da Bahia, todos os 415 municípios da Bahia estão sob jurisdição federal. O juiz de Barreiras exerce jurisdição em um grande território. A sede está em Barreiras, o juiz de lá vai ter competência em Formosa do Rio Preto e em outros Municípios. Não há cidade que não tenha sobre ela, jurisdição federal. O que a Constituição fala é em juiz federal na localidade. O cara que mora em Formosa do Rio Preto que quer demandar contra o INSS pode demandar via juiz estadual em Formosa do Rio Preto, não precisa se deslocar para Barreiras, onde tem juiz federal.Se vier a ser criada uma vara federal em Formosa do Rio Preto, os processos federais que tramitavam perante o juiz estadual ali serão redistribuídos. Não se pode dizer que há juiz federal em Formosa do Rio Preto pelo fato de o juiz de Barreiras ter competência para lá sempre há um juiz federal competente, porque jurisdição federal vai haver em todos os municípios do Brasil, sem exceção. O objetivo da Constituição é facilitar o acesso à Justiça. É o cara que quer demandar contra o INSS não ter que ir para Barreiras demandar, se ele mora em Formosa do Rio Preto. Se não houvesse essa regra e não houvesse vara federal em Barreiras (e até bem pouco tempo não tinha), o cara teria que ir a Salvador demandar. 
2)	O sujeito que mora em Formosa do Rio Preto pode demandar contra o INSS lá mesmo, perante o juiz estadual. Mas se ele quiser, pode demandar contra o INSS na capital do Estado e se fizer isso demandará perante o juiz federal. O sujeito tem o benefício de demandar contra o INSS na Justiça Estadual de sua cidade para não ter que se deslocar. Mas se ele quiser, pode demandar na capital porque a capital é sempre competente para as ações contra o INSS. Só que aí será Justiça Federal. O sujeito mora em Barreiras, cidade com sede de Justiça Federal. Ele pode demandar contra o INSS na justiça estadual em Formosa do Rio Preto? Não. E se ele quiser demandar na capital, pode? STF entende que sim. É direito dele demandar em Barreiras, mas é também direito dele demandar na capital e o INSS não pode alegar que não consegue se defender na capital. Se o cara que mora num lugar onde tem vara federal pode demandar na capital contra o INSS, quanto mais um sujeito que mora em uma cidade que não é sede de vara federal. Tem Súmula sobre isso:
Súmula 689, do STF: “O Segurado pode ajuizar contra a instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio, se tiver, ou numa das varas federais na capital.”
	Com esse raciocínio, uma pessoa de Lauro de Freitas (do lado de Salvador), poderia optar por demandar contra o INSS perante a justiça estadual? Sim. Ele não pode é propor qualquer ação na Justiça estadual porque não é qualquer ação que pode tramitar na Justiça estadual. 
	3)	Há uma súmula muito antiga, do TFR (Tribunal Federal de Recursos), que não existe mais. No seu lugar colocaram o STJ. O TFR constituiu sólida jurisprudência e os primeiros Ministros do STJ eram os antigos ministros do TFR. Daí porque o STJ tem uma certa afeição até genética pelo TFR e costuma se valer da jurisprudência do TFR. Há uma súmula do TFR, que é a 216 (uma das mais bizarras que o professor já viu):
Súmula 216, do TFR: “Compete à Justiça Federal processar e julgar mandado de segurança impetrado contra autoridade previdenciária ainda que localizado em comarca do interior.”
	O que esta súmula está a dizer? O sujeito mora em Formosa do Rio Preto. Vimos que se ele quiser propor uma ação previdenciária poderá propor na Justiça Estadual. É direito dele. Vem o TFR e diz o seguinte: Se essa ação previdenciária for um mandado de segurança, ele não vai poder propor em Formosa. Vai ter que propor na Justiça Federal. Então, para o TFR, mandado de segurança previdenciário, só Justiça Federal. Para o TFR, o juiz estadual pode julgar qualquer ação previdenciária, mas se essa ação for um mandado de segurança, aí o sujeito que mora em Formosa do Rio Preto, vai ter que pegar o seu ônibus e ir para Barreiras ou para a Capital propor perante uma das varas federais. O TFR entendeu que o mandado de segurança previdenciário não é uma exceção. Não é um desses casos que pode tramitar na Justiça Estadual. Isso é absurdo porque a Constituição é muito clara ao dizer “causas previdenciárias”. E por que logo não o MS? O writ of mandamus. Ele, o TFR interpreta contra o cidadão. Um absurdo, mas o STJ aplica. E já foi cobrado em concurso para defensor público.
	Logo que saiu a Lei de Ação Civil Pública (ACP), de 1985, surgiu a interpretação de que a ACP também seria um desses exemplos, ou seja, a ACP teria que ser na localidade do dano. Se envolvesse ente federal, teria que ficar lá, perante o juiz estadual, com recurso do TRF. logo que saiu a Lei de ACP, se interpretou dessa forma: A ACP também deve tramitar na localidade do dano. Se lá tiver vara federal, ótimo. Se não tiver, fica na Justiça Estadual com recursos do TRF. esse entendimento acabou consolidado na Súmula 183, do STJ. Uma súmula muito antiga: 
Súmula 183, do STJ: “compete ao juiz federal, nas comarcas que não sejam sede de vara federal, processar e julgar a ação civil pública, ainda que a União figure no processo.”
	Essa súmula foi cancelada em 2000 porque o STF julgou no sentido de que a ACP não é um desses casos. O STJ cancelou a súmula para seguir a orientação do Supremo no sentido de que na Ação Civil Pública Federal a competência é da Justiça Federal. Cuidado! Tem livro que ainda segue essa orientação cancelada há 9 anos. Não é mais uma questão polêmica. Como é que isso aparece no concurso? Na prova prática, vem uma ACP para vc contestar, proposta contra a União numa comarca sem justiça federal, alegando que é competência do local do dano. Na sua defesa, vc, Advogado da União, o que vai alegar? Incompetência da Justiça Estadual. Juiz estadual não pode julgar ACP federal. 
O Artigo 109, da Constituição Federal 
	O art. 109 tem XII incisos, dos quais, nem todos nos interessam porque há incisos de competência criminal. Então, precisamos arrumar esses 12 incisos. O art. 109 prevê casos de competência em razão da matéria, casos de competência em razão da pessoa e casos de competência em razão da função.
A competência cível em razão da matéria está prevista nos incisos III, V-A, X e XI
A competência cível em razão da pessoa está prevista nos incisos I, II e VIII
A Competência cível em razão da função está prevista no inciso X
	
Competência em razão da MATÉRIA
Art. 109, III: “Aos juízes federais compete processar e julgar: as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional.”
É a primeira hipótese de competência em razão da matéria. Percebam que a competência aí é em razão da matéria. Pouco importa quem são os envolvidos. A competência da justiça federal se deve ao fato de a causa discutir tratado internacional. A jurisprudência restringiu o inciso III dizendo o seguinte: só vai para a Justiça Federal se o único fundamento da causa for o tratado. Só se o tratado regular aquela situação, aí sim, é Justiça Federal. Exemplo mais famoso de aplicação do inciso III é o exemplo dos alimentos internacionais. O guri mora em Londres e o pai mora no Brasil, ele pede na Justiça Federal. É o juiz federal julgando uma causa de família porque os alimentos internacionais estão regulados pela Convenção de Nova Iorque que cuida do assunto. E por ser um assunto tratado exclusivamente por tratado, alimentos internacionais se processam perante a Justiça Federal. 
Esse inciso III está no centro de uma controvérsia que vem sendo divulgada: aquele americano que está brigando por seu filho pela própria mãe que morreu. O padastro entrou com ação de guarda desse guri alegando paternidade assertiva. Mas é ação de guarda contra o guri que foi seqüestrado, uma espécie de “usucapião de paternidade”. Não tenho a menor dúvida que será cobrado em concurso. O STJ decidiu que a Justiça Federal é competente. E por que? Porque a Convenção de Haia trata do seqüestro internacional de crianças. Imagine a Justiça Federal discutindo problema de guarda, problema de família, mas ela se justifica pelo inciso III, do art. 109. 
Art. 109, V-A: “Aos juízes federais compete processar e julgar: as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo.”
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquerfase do inquérito ou do processo, incidente de deslocamento de competência para a justiça federal.
O que diz o inciso V-A? Quando a causa envolve grave violação de direito humanos, o juiz federal vai julgar. Mas que causa é essa? O PRG, só ele, constatando que uma causa/inquérito que tramita na Justiça Estadual envolve grave violação de direitos humanos, pode se dirigir ao STJ e pedir o deslocamento da Justiça Federal. Os juízes federais só julgarão essa causa após decisão do STJ sobre um pedido de modificação da competência feito pelo PGR. é caso de modificação da competência. Isso viola o juiz natural? Não porque se trata de uma hipótese de modificação legal, prevista pela própria Constituição. É muito parecido com o desaforamento do júri no processo penal. Vc pode pedir que o júri saia daquela comarca e vá para outra comarca. Aqui é um pedido de deslocamento da competência que só o PGR pode fazer e só o STJ pode autorizar. Mas quando? Quando houver grave violação de direitos humanos.
Atenção: o que o professor vai falar agora não é para colocar no concurso, mas é para ficar sabendo: essa regra parte de uma premissa implícita que a justiça federal é melhor que a estadual. O que está por detrás é isso. Uma grande bobagem. Nem todo juiz estadual é bandido e nem todo juiz federal é santo. Mas isso é o pressuposto dessa mudança. Por isso que quando essa mudança veio, em 2004, os delegados, promotores e juízes estaduais ficaram ofendidos. Por que o PGR pede para ser da Justiça Federal? Só porque a violação é grave? O que o STJ fez? O primeiro pedido de deslocamento que se deu foi o caso daquela freira americana que morreu assassinada no Pará, a missionária Dorothy Stang. Foi o primeiro pedido, tanto que o número desse processo é curioso: IDC (Incidente de Deslocamento de competência) n.º 01, do STJ. O STJ julgou esse IDC e disse o seguinte: para que haja esse deslocamento há que se atender a um pressuposto implícito. Os outros pressupostos, se houver pedido do PGR e se houver grave violação de direito humanos, estão na Constituição. Esses são os implícitos. O STJ disse: só pode haver deslocamento se ficar demonstrada a ineficiência das autoridades estaduais para solucionar a controvérsia. Se ficar demonstrado que as autoridades estaduais não estão conseguindo cumprir a contento com suas tarefas. Neste caso, o STJ não autorizou porque estava tudo andando. Não havia porque sair de um lugar onde estava tudo funcionando para mandar para outro. O STJ argumentou que era preciso equilibrar a federação. Esse pressuposto implícito é reconhecido pelo STJ.
Essa regra se aplica ao processo penal e ao processo civil. Grave violação de direitos humanos pode dar ensejo a uma ACP e se der ensejo a uma ACP, o PGR pode pedir o deslocamento para a Justiça Federal. Então, uma grave violação de direitos humanos pode dar ensejo a uma ação penal, mas pode dar ensejo a uma ACP cuja competência pode passar a ser da Justiça Federal se o PGR pedir isso ao STJ.
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