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ESTUDO DE CASO 17.08

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Residência Fernando Millán, Paulo Mendes da Rocha 
CASA LEME – 1970
Residência Fernando Millán, São Paulo SP, 1970. Arquiteto Paulo Mendes da Rocha
A casa situa-se em bairro estritamente residencial, diante de um bosque, em um terreno de 600 m² com declive acentuado e forma irregular. Ela pode ser percebida de imediato como um volume prismático soberanamente implantado através de grandes cortes e arrimos no perfil natural. Mas esta primeira impressão se desfaz parcialmente, pois os muros de arrimos são incorporados à obra tanto como paredes estruturais, como divisórias demarcadoras dos espaços interiores da habitação. Nesta sensível operação, recupera-se o perfil natural do terreno, entrelaçando a forma forte, ideal e geométrica do artifício com a sinuosidade natural do sítio.
O concreto armado é praticamente a única matéria da obra: da estrutura as paredes de fechamento. A estrutura é composta por arrimos de concreto e paredes estruturais que sustentam as empenas laterais: que por sua vez, recebem as lajes nervuradas do piso e cobertura (tratada como espelho d’água). Sob este arcabouço, ou caixa, os espaços são arranjados em “planta livre” nos três pisos principais: o térreo, que contém estar e serviços; e o superior dividido em dois meios pisos, onde se acham os dormitórios e estúdio. Um quarto, piso no subsolo, abriga lavanderia e dependências de empregados. A iluminação e ventilação destes espaços acontecem através da clarabóia central, por uma pérgula envidraçada postada entre o arrimo e a bateria de dormitórios e cozinha e por pequenas aberturas recuadas que se voltam para uma das empenas de fechamento.
Se a casa é lugar para experimentar, especular e levar adiante o fazer arquitetura, esta em particular radicaliza e praticamente encerra algumas questões já postas na arquitetura paulista. A começar pela unidade plástica, formal e estrutural conferido pelo concreto aparente que subtrai a distinções entre estes termos. O continuum espacial interno, tanto perseguido pelos arquitetos no século XX, é exposto ao extremo seja pela matéria continua e homogênea, seja pelo fato de que as paredes divisórias dos compartimentos nem sempre tocarem o teto. A relação entre a habitação individual e o urbano é tratado com dura hierarquia, ou seja, o piso de asfalto da rua adentra e invade a casa; a cidade prevalece sobre o morar individual. Por outro lado, outras questões como a caixa introspectiva, sem aberturas diretas para o exterior e os vazios centrais em torno dos quais se organizam os espaços são postas em condições extremas: nesta casa não há literalmente janelas.
O concreto armado é eleito aqui o principal protagonista, e é através dele que o espaço interno é moldado pesado, sobrando ao teto de cristal iluminar o interior.
PLANTAS 
GALERIA
 
Arquiteto Paulo Mendes da Rocha 
BIOGRAFIA
Paulo Archias Mendes da Rocha, nascido em Vitória (ES) a 25 de outubro de 1928, costuma dizer que foi criado vendo a engenhosidade do mundo. Ouvia em casa que poderia fazer um porto e até um navio. Mendes da Rocha formou-se acreditando na capacidade do homem de intervir na natureza de forma criteriosa. Em suas próprias palavras, “a primeira e primordial arquitetura é a geografia”.
Seguindo a trilha familiar, ele próprio, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, em 1954, desenvolveu uma sólida carreira acadêmica, a partir dos anos 1960. Foi a convite de João Batista Vilanova Artigas que encabeçou a chamada Escola Paulista da arquitetura brasileira. Ambos elevaram a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidadede São Paulo (FAU-USP) com seus pontos de vista sociais e humanistas, influenciando gerações e gerações de arquitetos e artistas.
Mendes da Rocha assumiu nas últimas décadas uma posição de destaque na arquitetura brasileira contemporânea, tendo sido galardoado no ano de 2006 com o Prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura mundial.
A justificativa do júri foi que sua obra modifica a paisagem e o espaço, procurando atender tanto às necessidades sociais quanto estéticas do homem. Um grande senso de responsabilidade para com os usuários de seus projetos e com a sociedade em geral baliza suas realizações nas mais variadas frentes, da residência individual ao edifício de apartamento, da capela a estádios esportivos, parques infantis, museus de arte e praças públicas. 
Antes dele, o único brasileiro a ganhar esse prêmio foi Oscar Niemeyer, em 1988.

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