Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Beatriz Cunta – Turma 2024 DEFINIÇÃO Doença infecciosa, contagiosa e transmissível causada pelo complexo Mycobacterium tuberculosis, que afeta prioritariamente os pulmões, mas pode acometer outros órgãos em até um terço dos casos. Notificação obrigatória - SINAN. Alta taxa de mortalidade. Quarta causa de morte por doenças infecciosas e a primeira em pacientes com AIDS no Brasil. Estima-se que 40% dos pacientes com HIV são coinfectados por M. tuberculosis. AGENTE ETIOLÓGICO - Bacilo imóvel não esporulado, ácido-álcool resistente. - Aeróbio preferencial: transmissão aerógena; busca infectar áreas mais oxigenadas. - Parasita intracelular facultativo, de crescimento lento. - Pode permanecer dormente por muito tempo. FATORES ASSOCIADOS Renda familiar baixa Educação precária Habitação ruim/inexistente Famílias numerosas Aglomeração humana Desnutrição Etilismo e outros vícios Infecções associadas Comorbidades associadas Serviços de saúde precários FATORES DE RISCO: Diabetes mellitus Infecção pelo HIV Neoplasias Etilismo Usuários de corticoide, principalmente os inaláveis. TRANSMISSÃO - Transmitida pelo ar, de pessoa para pessoa (gotículas de Flügge Núcleos de Wells, contendo 1-3 bacilos). - NÃO é transmitida pelo compartilhamento de roupas, lençóis, copos e outros objetos. PATOGENIA Cerca de 5%-10% dos pacientes infectados irão desenvolver a doença ativa. Após a inalação do núcleo de Wells, os MOs devem ultrapassar uma barreira física/anatômica do sistema respiratório (divisões, muco, cílios). Então, os NWs atingem os bronquíolos respiratórios e lá são fagocitados por macrófagos alveolares. Inicia-se um processo inflamatório com liberação de citocinas, quimiocinas e interferon, culminando no recrutamento de linfócitos e monócitos. Resultado = granuloma: necrose de caseificação central + células gigantes + coroa linfocitária. Outros caminhos: TB latente ou TB primária. PRIMOINFECÇÃO: - Decorrente do primeiro contato com o bacilo de Koch. Implante bacilo > Imunidade atua por meio do sistema mucociliar e da atividade de células imunes como macrófagos e linfócitos T > Reação granulomatosa. A depender do status imunológico do paciente e da carga infectante do agente, pode haver: Cicatrização, calcificação do foco ou o microorganismo entra em latência (90%). Beatriz Cunta – Turma 2024 OBS: calcificação observada em exames de imagem (Sinal: complexo de Ghon). O que também pode ocorrer é: Disseminação linfática – complexo de Ranke (foco pulmonar + ganglionar + Linfangite). Ducto torácico – disseminação hematogênica. Deflagrar TB primária – forma ativa após a primoinfecção (10%): em indivíduos com deficiência da imunidade e/ou elevada carga infectante. Decorre principalmente da progressão do complexo pulmonar de Ranke. - Ocorre até 5 anos após a primo-infecção. - Formas graves: menos comuns, a partir da disseminação hematogênica, com manifestações extrapulmonares. OBS: pode se desenvolver em região justapleural (pode-se confundir com alterações atelectásicas), linfadenopatias (mediastinal, paratraqueal transitória, hilar, cervical, axilar), alterações nos lobos inferiores ou padrão miliar (TB miliar primária). - Mais comum em pacientes HIV+ e crianças (resposta imune pouco estabelecida, normalmente apresentam evolução insidiosa, manifestação radiológica atípica e forma pseudobacilar). TUBERCULOSE PÓS-PRIMÁRIA: O foco latente sofre reativação endógena por déficit imunológico (uso de anti-TNF, neoplasias, quimioterapia, AIDS, entre outros) e o paciente desenvolve doença ativa. OU Um paciente previamente infectado com o M. tuberculosis sofre reinfecção exógena e desenvolve doença ativa. - Mais comum em adultos. - Manifestação pulmonar é a mais comum: 85% dos casos. - Em exames de imagens podemos ver cavitações, predominantes em lobos superiores em razão da destruição do parênquima pulmonar e necrose de caseificação. Padrão de árvore em brotamento também é comum. - É o tipo de TB que perpetua a infecção: cavitação permite acesso dos micro-organismos às vias aéreas e sua disseminação. - Também pode se apresentar como miliar pós- primária, com nódulos grosseiros e coalescentes. TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR: - Bacilo encontrado em vários órgãos e sistemas além dos pulmões e do sistema respiratório. - Não é transmissível - TB: pleural e ganglionar (alternam entre primeira e segunda posição), do pericárdio, peritoneal, laríngea, intestinal, renal, osteoarticular, genital, ocular, cutânea, do SNC. OBS: TUBERCULOSE DISSEMINADA - Pulmonar + EP ou padrão miliar. TUBERCULOSE LATENTE: - Pessoa infectada por bacilo que permanente viável, mas sem causar doença no organismo. Em geral, paciente fica saudável por muitos anos, com imunidade variável à doença. - Caminhos possíveis: eliminação da bactéria, reativação tardia da bactéria, contenção permanente do MO. QUADRO CLÍNICO DOENÇA PRIMÁRIA: Febre Dor pleurítica Alguns pacientes com eritema nodoso nas pernas ou conjuntivite flictenular. - Em pacientes com comprometimento da imunidade ou desnutrição podem evoluir rapidamente. A lesão aumenta de tamanho, podendo manifestar-se por derrame pleural (penetração de bacilos no espaço pleural por um foco subpleural adjacente), ou mesmo cavitação em casos graves (TB primária progressiva). Beatriz Cunta – Turma 2024 - Linfonodos aumentados podem comprimir os brônquios, causando obstrução total com colapso distal, obstrução parcial com sibilo de via aérea de grande calibre ou efeito de movimento de válvula com hiperinsuflação segmentar/lobar. DOENÇA PÓS-PRIMÁRIA: Tosse > 2 semanas. Hemoptise. Dor torácica, subcostal. Sintomas constitucionais: febre, astenia, falta de apetite e perda ponderal, sudorese noturna. OBS: até 66% dos pacientes infectados pelo HIV que apresentam TB podem ter TB tanto pulmonar quanto extrapulmonar. DOENÇA EXTRAPULMONAR: 15% dos casos Não é transmissível DIAGNÓSTICO BUSCA ATIVA: - Identifica precocemente os sintomáticos respiratórios. OBS: Sintomáticos Respiratórios Define-se como Sintomático Respiratório, na busca ativa na população geral, a pessoa que apresenta tosse por tempo igual ou superior a três semanas. - Permite descoberta precoce dos casos que eliminam o bacilo e interrupção da cadeia de transmissão da TB. - Em populações mais vulneráveis, o tempo de tosse necessário para a investigação pode ser menor: Duas semanas ou mais: privados de liberdade, profissionais de saúde. Independentemente do tempo: pessoas que vivem com HIV/AIDS, pessoas em situação de rua, povos indígenas. RADIOGRAFIA DE TÓRAX: - Útil para diagnósticos diferenciais. - Diferentes achados radiológicos: cavitações (principais achados, especialmente em lobos superiores), consolidações, tuberculose miliar. Às vezes torna-se difícil diferenciar doença ativa de doença passada. - Solicitada a todos os pacientes com suspeita de TB, pulmonar ou extrapulmonar. - Até 15% dos casos de TB pode ter radiografia normal, principalmente em pacientes imunodeprimidos. - A TB miliar é caracterizada por opacidades retículo-micronodulares difusas decorrentes da disseminação hematogênica do M. tuberculosis pelo parênquima pulmonar e representa acometimento do interstício pulmonar, indicando doença disseminada. Também pode estar associada à tuberculose no SNC. Forma grave, mas com baixa positividade no escarro. TOMOGRAFIA DE TÓRAX: Indicada quando, na suspeita de TB pulmonar, a radiografia é normal, e na diferenciação com outras doenças torácicas, especialmente em pacientesimunossuprimidos. Beatriz Cunta – Turma 2024 (árvore em brotamento, indicando preenchimento do brônquio com alguma secreção, muito sugestivo de TB quando associado à clínica) EXAME DO ESCARRO: - Principal exame para o diagnóstico de Tuberculose. - Opta-se pelo escarro espontâneo primeiramente (fácil, barato e menos agressivo). - Em casos de tosse seca, pode-se indicar escarro induzido. Em último caso, utiliza-se o lavado broncoalveolar. - Teste indicado a TODOS os sintomáticos respiratórios. - Escarro espontâneo: preferencialmente coletado de manhã, ao acordar. Deve-se inspirar profundamente, prendendo o ar. Em seguida, faz-se força para tossir, depositando o escarro no pote. O processo deve ser repetido mais 2 vezes, pelo menos. - Escarro induzido: feito com nebulizador ultrassônico e salina a 3% (produto que gera translocação da secreção por osmose). Deve ser realizado numa sala com dispositivos de biossegurança, e o rendimento tende a ser semelhante ao lavado broncoalveolar. - Lavado broncoalveolar: material nobre, feito pela broncoscopia. Baciloscopia (Pesquisa de BAAR): - Diagnóstico de casos novos e retratamento. - Controle do tratamento da TB. - Brasil: técnica de Ziehl-Neelsen. - Pesquisa de Bacilos Álcool-Ácido resistentes em esfregaços de amostras de: escarro, lavados brônquicos e broncoalveolares, urina e outros líquidos, secreções ganglionares. - Identifica maioria dos casos bacilíferos: OBRIGATÓRIA NA TB PULMONAR. - Permite avaliar sucesso ou falência de tratamento. - Ideal utilizar duas amostras: no dia do atendimento e no dia seguinte. - Critérios para interpretação: Teste rápido molecular (TRM-TB) - Diagnóstico de casos novos (não efetivo para avaliar tratamento) e de resistência à Rifampicina. - Genexpert MTB/RIF. - Material respiratório: líquor, linfonodos e macerado de tecidos. - Detecta DNA do M. tuberculosis e identifica mutações de resistência à rifampicina. - Leva 2h para execução em laboratório, mas tem rendimento superior ao do BAAR. OBS: métodos moleculares ≠ GeneXpert. - Genotype MTBDR plus / sl 2.0. - Leva cerca de 5h. - Identificam resistência além da rifampicina (isoniazida, quinolonas, drogas injetáveis). PPD – TESTE TUBERCULÍNICO: - Intradérmico: proteína purificada derivada de micobactérias. - Ele verifica se houve a primo-infecção, com resposta de hipersensibilidade tipo tardia. - Ponto de corte ≥ 5mm. - Falso-positivo: vacina BCG (prazo 2 anos) e infecção por micobactéria não tuberculosa. OBS: PPD (teste tuberculínico) não diagnostica TB. Beatriz Cunta – Turma 2024 IGRA: - Ensaio de liberação de interferon-gama. - Mensuração da resposta à micobactéria pelo sangue periférico a partir da quantificação de interferon-gama. - ELISA; resultado = reagente/não reagente. - Sem interferência BCG ou MNTB. TESTE DE CULTURA: - Método de referência para o diagnóstico. - Meio de cultura: Lowenstein-Jensen ou Ogawa Kudoh (meio sólido), demora até 8 semanas (incubação lenta). - Indicações para o teste: TODOS os casos com diagnóstico por meio da baciloscopia. - Permite teste de sensibilidade a antimicrobianos. OBS: também pode ser realizada a incubação em meio líquido – Middlebrook. Leva cerca de 15 dias, há maior risco de contaminação e é mais caro. Permite identificação pelo maior consumo de O2 (sensor detecta e há ativação de fluorescência). TESTE HISTOPATOLÓGICO: Identificação do granuloma/necrose caseosa a partir da análise de tecido obtido por biópsia. DIAGNÓSTICO BIOQUÍMICO - ADA: A adenosina deaminase é a enzima que participa do metabolismo das purinas e está relacionada com a proliferação de linfócitos durante a resposta celular. - Método com baixo custo operacional, técnica simples e exige pouco treinamento. - Líquido pleural, ascítico e pericárdio: positivo quando > 40 U/L. - Líquor: positivo quando > 9 U/L. - Outras causas de ADA positivo: empiema, derrame parapneumônico, doenças autoimunes, neoplasia. TRATAMENTO - A terapia medicamentosa reduz mortalidade, período de transmissibilidade e pode ser usada para prevenir que pessoas infectadas evoluam até a doença. Tem 3 regras básicas: - Associação medicamentosa: objetiva a proteção cruzada para evitar resistência bacilar (existem três bacilos: intracavitários, de crescimento geométrico; intracelulares, de crescimento lento; extracelulares, de crescimento intermitente). - Regime prolongado e bifásico: na fase aguda visa à redução da população bacilar, e na de manutenção, a eliminação de resistentes. - Tratamento regular (adesão): busca a proteção da resistência adquirida e a garantia de cura duradoura da doença. Mecanismo: dose única. Objetivos: - Matar os bacilos rapidamente (atividade bactericida precoce). - Eliminar os bacilos persistentes para evitar a recaída ou recidiva (atividade esterilizante). - Prevenir a seleção de bacilos resistentes. - É indicado para todos os casos novos de todas as formas de TB pulmonar e extrapulmonar (exceção: forma meningoencefálica). - No Brasil, é feito exclusivamente pelo SUS. - Importante buscar e tratar contatos (intradomiciliares, trabalho, longa permanência). Medicamentos: R = Rifampicina H = Isoniazida Z = Pirazinamida E = Etambutol Esquema básico: 2RHZE/4RH - Nos dois primeiros meses são usados RHZE, e nos quatro restantes, R e H. Beatriz Cunta – Turma 2024 - Casos novos ou retratamento (recidiva/reingresso após abandono com doença ativa) em adultos e adolescentes; todas as apresentações clínicas, exceto as formas meningoencefálica e osteoarticular usam podem usar, além dos medicamentos anteriores, Estreptomicina (S) e Etionamida (Et). - TB osteoarticular: mesmo esquema, mas a primeira fase dura 2 meses e a segunda dura 10. - TB meningoencefálica: segue o esquema da osteoarticular, mas associa-se uso de prednisona (1 a 2 mg/kg/dia) por 4 semanas OU dexametasona injetável (0,3 a 0,4mg/kg/dia) por 4-8 semanas, com redução gradual da dose nas 4 semanas subsequentes. OBS: Outros medicamentos - Etionamida, aminoglicosídeos, fluoroquinolonas, capreomicina, PAS, terizidona, clofamizina, linezolida, “novos”. - Fármacos de segunda linha: menos eficazes, mais tóxicos e maior custo. - Úteis em caso de necessidade de substituição da primeira linha. Mecanismos de ação: - Rifampicina: bactericida; ação intra e extracelular; atravessa BHE; absorção com pH ácido; metabolização hepática; intolerância GI. - Isoniazida: bactericida; ação IC e EC; atravessa BHE; metabolização hepática. - Pirazinamida: bactericida; ação IC; atravessa BHE; reduz excreção ACUR. - Etambutol: bacteriostático; ação IC e EC; não atravessa meninge. Cuidados: - Medicamentos em jejum, preferencialmente (absorção de rifampicina em pH ácido). - Não usar bebidas alcoólicas (alto potencial hepatotóxico). - Solicitar sorologia anti-HIV para todos os pacientes. - Evitar uso de lentes de contato. - Orientação de método contraceptivo para mulheres em idade fértil (rifampicina diminui efeito de anticoncepcionais hormonais; optar por método de barreira). - Puérperas: usar máscara. - Piridoxina: grupos de risco. - Retornar antes da consulta em caso de eventos adversos. OBS: Eventos adversos - Menores: não determinam interrupção do tratamento. - Maiores: necessária interrupção do tratamento, determinam morbimortalidade, pode indicar internação. Reações adversas: Beatriz Cunta – Turma 2024 - São esses efeitos específicos: R = urina avermelhada; pode haver hepatite/colestase (raro). H = neuropatia periférica; revertida com administração de piridoxina (B6); hepatite. Z = hiperuricemia;artralgia; hepatotóxica. S = ototoxicidade, nefrotoxicidade (geralmente um pouco mais graves); Et = alterações visuais; neurite retrobulbar. - A hepatoxicidade pode ocorrer. Assim, deve-se suspender o tratamento até a redução das transaminases. Depois, deve ser realizada a reintrodução progressiva dos fármacos (3-5 dias), a cada semana (RE – H – Z). Caso o paciente não tolere, ou não é possível esperar o resultado das transaminases, pode ser iniciado um esquema alternativo: amicacina, etambutol e levofloxacina. - Fatores de risco para reações adversas (investigar): idade (a partir da quarta década), dependência química ao álcool, desnutrição (perda de mais de 15% do peso), história de doença hepática prévia, HIV. Rotina de acompanhamento - Solicitar mensal/bimensalmente a coleta de escarro para o BAAR de controle. - BAAR positivo no segundo mês sinaliza dificuldade de adesão, suspeita de resistência a drogas, ou doença extensa que pode necessitar de manutenção do tratamento até o 9º mês. Conferir a adesão e verificar resultado de cultura e TSA. - BAAR positivo persistente no 4º/5º mês pode significar falência ao tratamento. Verificar cultura e TSA, e encaminhar paciente para avaliação da referência secundária. Infecção latente da tuberculose: - O tratamento da ILTB não induz resistência, o risco de resistência só existe se a TB ativa não foi afastada. - Nunca iniciar o tratamento para ILTB sem antes afastar doença ativa. Deve-se realizar exame bacteriológico + RX de tórax em pacientes sintomáticos, e somente RX de tórax em assintomáticos. - Apenas 10% dos pacientes completa tratamento (má adesão pelo tempo de duração).
Compartilhar