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Crimes contra a Paz Pública e contra a Fé Pública

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Crimes contra a Paz Pública1
(a) Crimes em Espécie:
i) Incitação ao crime: incitar, publicamente, a prática de crime
(art. 286, CP).
ii) Apologia de crime ou criminoso: fazer, publicamente,
apologia de fato criminoso ou de autor de crime (art. 287, CP).
iii) Associação Criminosa: associarem-se 3 (três) ou mais
pessoas, para o fim específico de cometer crimes (art. 288, CP).
iv) Milícia: Constituir, organizar, integrar, manter ou custear
organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de
praticar qualquer dos crimes previstos neste Código.
(b) Tópicos Importantes:
- Obs. I: no art. 286 pune-se a conduta sugestiva à prática de um
crime; no art. 287, pune-se a apologia a um fato criminoso já ocorrido ou ao autor
de um crime já praticado. Para DAMÁSIO, “o fato criminoso deve ser determinado e
ter realmente ocorrido anteriormente à apologia criminosa”2. No mesmo sentido,
MIRABETE3:
“O dolo é a vontade de incitar, ou seja, de instigar a prática de
crime, tendo a agente ciência de que está dirigindo-se a número
3
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
pp. 164 e 168. São Paulo, 2007.
2
JESUS, Damásio E. Direito Penal. Ed. Saraiva. Vol. 03. 16ª edição. p. 404. São
Paulo, 2007.
1 Aula Crimes.
indeterminado de pessoas” (comentários quanto ao crime de
“incitação”).
“A lei, porém, refere-se a fato criminoso na descrição típica,
exigindo que a apologia seja feita a fato ocorrido, concreto e não a
crime futuro” (comentários quanto ao crime de “apologia”).
- Obs. II: segundo MIRABETE, tanto no crime de incitação como no
de apologia, exige-se que a conduta seja praticada perante um certo número de
pessoas (com multis personis) e que se caracterize a publicidade. Não há crime na
investigação efetuada em uma reunião privada, familiar, ainda que na presença de
várias pessoas”4.
- Obs. III: caso o agente que tenha sido incitado venha a cometer o
crime, o sujeito que o incitou poderá responder pelo crime de “incitação ao crime”
em concurso com o crime por este cometido, pois será partícipe. A espécie de
concurso (formal próprio, impróprio ou material), varia de acordo com cada autor:
- BITTENCOURT: “o agente pode responder em concurso com a
prática do crime pela pessoa instigada (art. 29 do CP), resultando
em concurso material entre os dois ilícitos penais”5.
- MIRABETE: “caso seja cometido o crime pelas pessoas
instigadas, há concurso de delitos em relação ao sujeito ativo da
incitação. Havendo desígnios autônomos e dois resultados (lesão à
paz pública e lesão ao bem jurídico referente ao crime praticado
5
BITENCOURT, César Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol. 4. 2ª edição. p. 286.
São Paulo, 2006.
4
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
pp. 165 e 167. São Paulo, 2007.
pelos induzidos) provenientes de uma só conduta, aplica-se o
disposto no art. 70, segunda parte (concurso formal impróprio) ”6.
- NUCCI: “Entretanto, se forem vários os destinatários da incitação
e apenas um deles cometer o crime, haverá concurso formal, isto é,
o agente da incitação responde pelo delito do art. 286 e também
pelo crime cometido pela pessoa que praticou a infração
estimulada”7.
- Obs. IV: a incitação e a apologia à contravenção não caracterizam
os crimes dos arts. 286 e 287. Quanto ao tema, DAMÁSIO8 adverte que a incitação
deve ser a prática de crime. Se o agente incita, publicamente, à prática de
contravenção, o fato é atípico, o mesmo devendo ser dito se incita publicamente à
prática de ato imoral”. Com o mesmo raciocínio, registra que “a apologia deve ser de
fato definida como crime, não configurando o delito o elogio de fato contravencional
nem de fato imoral”.
- Obs V: não se pune o agente que se limita a externar sua opinião
social ou política, sem que tenha o dolo de “incitar” ou “fazer apologia” à prática de
crime (ex: defender a reforma agrária). MIRABETE entende que “não há crime
quando o agente faz apenas a defesa de uma tese sobre a ilegitimidade ou sem razão
da incriminação de tal ou qual fato, como, por exemplo, o homicídio eutanásico, o
aborto, etc”9.
- Obs. VI: a apologia ao sujeito que ainda responde a processo
criminal não caracteriza este crime. Isto porque, segundo NUCCI, "autor de crime é
a pessoa condenada, com trânsito em julgado, pela prática de um crime, não se
incluindo a contravenção penal. Não é suficiente a mera acusação, pois o tipo não
9
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 165. São Paulo, 2007.
8
JESUS, Damásio E. Direito Penal. Ed. Saraiva. Vol. 03. 16ª edição. pp. 404 e 408.
São Paulo, 2007.
7
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Ed. RT. 6ª edição. p. 946.
São Paulo, 2006.
6
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 166. São Paulo, 2007.
prevê apologia de pessoa acusada da prática de crime”10. MIRABETE, contudo,
diverge, pois entende que “a referência na lei a autor de crime e não a criminoso
condenado leva à interpretação de que não importa se o elogiado já foi condenado ou
mesmo denunciado pelo crime, como aliás é indiferente, para os fins do mesmo
artigo, que o fato criminoso tenha sido objeto de sentença irrecorrível”11.
- Obs. VII: no crime de associação criminosa (art. 288) pena é
aumentada até a metade, se a quadrilha é armada, mas “não é necessário que todos
estejam portando armas”12. O mesmo ocorre se há envolvimento de criança ou
adolescente.
- Obs. VIII: quanto à diferença entre os termos (“quadrilha” ou
"bando"), da redação anterior, MIRABETE ensina que “já se tem afirmado que a
quadrilha é a associação para cometer crimes nas cidades e bando é a que opera no
interior do país sem organização interna e com chefe eventual. Mas, como bem
acentua Fragoso, quadrilha ou bando são termos que a lei emprega como sinônimos,
definindo-se como associação estável de delinqüentes com o fim de praticar
reiteradamente crimes”13.
- Obs. IX: no crime do art. 288 exige-se pelo menos três pessoas
para a caracterização do crime, sendo, em regra, desinfluente que um dos agentes
seja inimputável. Se, contudo, se tratar de menor absolutamente incapaz, este não
será agente, e, sim, autor mediato. Ainda sob a redação anterior, ensinava a
doutrina:
“21. Número mínimo de quatro pessoas: o tipo penal não exige
que todas elas sejam imputáveis, de modo que se admite, para a
composição do crime, a formação de quadrilha entre maiores e
13
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 172. São Paulo, 2007.
12
JESUS, Damásio E. Direito Penal. Ed. Saraiva. Vol. 03. 16ª edição. p. 414. São
Paulo, 2007.
11
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 168. São Paulo, 2007.
10
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Ed. RT. 6ª edição. p. 946.
São Paulo, 2006.
menores de 18 anos (posição majoritária: Mirabete, Delmanto,
Damásio, Noronha). É o que se denomina ‘concurso impróprio’.
Natural, ainda, argumentar que depende muito da idade dos
menores, uma vez que não tem cabimento, quando eles não têm a
menor noção do que estão fazendo, incluí-los na associação. Se
três maiores se valem de uma criança de nove anos para o
cometimento de furtos, não pode o grupo ser considerado uma
quadrilha ou bando, pois um deles não tem a menor compreensão
do que está fazendo. É apenas uma hipótese de autoria mediata,
ou seja, maiores usando o menos para fins escusos. Mas, quando
se tratar de adolescente que, não responsável penalmente, tem
discernimento para proceder à associação, forma-se a quadrilha e
configura-se o tipo penal”14.
- Obs. X: no crime do art. 288 há necessidade que a associação,
além de permanente, tenha a intenção de praticar mais de um crime. DAMASIO
adverte que “o fim dos componentes da quadrilha ou bando deve ser o de cometer
delitos, da mesma espécie ou não. Não configurao crime a associação momentânea
para o fim de cometer delitos. Exige-se a estabilidade e a permanência da associação,
sendo desnecessário, entretanto, que a associação seja organizada formalmente,
bastando a organização de fato”15.
- Obs. XI: é possível o concurso de associação criminosa com outro
crime (ex: roubo majorado pelo emprego de arma ou concurso de agentes)16.
16
STF: HC nº 84.669/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 2ª Turma, in DJ 17/6/2005;
HC nº 67.111/RJ, Rel. Min. Sydney Sanches, 1ª Turma, in DJ 4/4/89; STJ: HC nº
60.695/RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª Turma, in DJ 18/12/2006; HC nº 28.035/SP,
rel. Min. Hamilton Carvalhido, 6ª Turma, in DJ 18/2005; TJDF: Ap. Crim. nº
245.750, Rel. Des. Sérgio Bittencourt, 1ª Turma Criminal, in DJ 7/6/2006; Ap.
Crim. nº 234.958, Rel. Des. Edson Smaniotto, 1ª Turma, in DJ 22/2/2006.
15
JESUS, Damásio E. Direito Penal. Ed. Saraiva. Vol. 03. 16ª edição. p. 412. São
Paulo, 2007.
14
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Ed. RT. 6ª edição. p. 947.
São Paulo, 2006.
- Obs. XII: se a associação se formar para o fim de cometer crimes
hediondos ou equiparados, a pena será de 3 a 6 anos (art. 8º da Lei nº 8.072/90),
nada impedindo o aumento de pena, também, pelo emprego de arma.
- Obs. XIII: a jurisprudência entende que cessa a permanência da
associação com o recebimento da denúncia17. NUCCI tem a mesma opinião:
“31. Cessação da permanência: ocorre com o recebimento da
denúncia pelo crime de quadrilha ou bando. Assim, caso os
agentes permaneçam na mesma atividade criminosa, é possível
haver nova acusação, inexistindo, nessa hipótese, bis in idem”18.
Crimes contra a Fé Pública
i) Moeda Falsa: falsificar, fabricando-a ou alterando-a,
moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no
estrangeiro (art. 289, CP). Pena: reclusão de 3 a 12 anos e multa.
- Crime Privilegiado (§ 2º): receber de boa-fé, como
verdadeira, moeda falsa ou alterada, restituindo à circulação, depois de
conhecer a falsidade: detenção, de 6 meses a 2 anos e multa.
- Obs. I: O Brasil é signatário da Convenção
Internacional para Repressão de Moeda Falsa (Decreto nº 3.074/38).
No Brasil a emissão de moeda é ato privativo do Banco Central, através
da Casa da Moeda, com autorização do Conselho Monetário Nacional
(art. 164 da CRFB c/c Lei nº 5.895/73).
18
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Ed. RT. 6ª edição. p. 950.
São Paulo, 2006.
17
STF: HC nº 78.821/RJ, Rel. Min. Octávio Gallotti, 1ª Turma, in DJ 17/3/2000;
STJ: HC nº 3.222/RJ, Rel. Min. Adhemar Maciel, 6ª Turma, in DJ 2/10/95.
- Obs. II: segundo MIRABETE, “tutela-se não só a moeda
nacional, como a moeda estrangeira, desde que tenham curso legal,
respectivamente, no país ou fora dele”
19
.
- Obs III.: nas mesmas penas incorre quem desvia e faz
circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada (§ 4º).
- Obs. IV: se a falsificação for grosseira, não há crime de
moeda falsa, podendo subsistir, contudo, crime de estelionato (art.
171, CP)
20
. Nesse sentido, a opinião de MIRABETE: “a imitação grosseira,
rudimentar, perceptível ictu oculi, em que a moeda apresenta despida de
características capazes de ilaquear a boa-fé das pessoas, não constitui o crime
de moeda falsa”
21
.
- Obs. V: Os tribunais superiores têm entendido que não
se aplica o princípio da insignificância ao crime de falsificação de
moeda, ainda que ínfimo o valor de face, pois o que se objetiva com a
punição não é evitar prejuízo patrimoniais, mas manter a confiança da
população na higidez da moeda. Nesse sentido, STJ HC 210.764 de São
Paulo e STF HC 105.638.
Obs. VI: se o falso tem por objetivo o estelionato,
considera-se “crime-meio” e por este fica absorvido
22
.
- Obs. VII: a competência é da Justiça Comum Federal
(se a falsificação, contudo, for grosseira, poderá subsistir o crime de
estelionato e a competência passará para a Justiça Comum Estadual
23
).
23
"A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o
crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual" (Súmula nº 73/STJ).
22
“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por
este absorvido” (Súmula nº 17/STJ).
21
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 182. São Paulo, 2007.
20
HC nº 83.526/CE, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 1ª Turma/STF, in DJ 7/5/2004;
HC nº 39.312/CE, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma/STJ, in DJ 11/4/2005;
19
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 184. São Paulo, 2007.
ii) Crimes Equiparados ao de Moeda Falsa (art. 290,
CP): a) formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com
fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros; b) suprimir, em
nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à
circulação, sinal indicativo de sua inutilização; c) restituir à circulação
cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de
inutilização.
iii) Petrechos para falsificação de moeda: fabricar,
adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente
destinado à falsificação de moeda (art. 291, CP) Pena: reclusão, 2 a 6
anos e multa.
iv) Emissão de título ao portador sem permissão legal:
emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que
contenha promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou a que
falte indicação do nome da pessoa a quem deva ser pago (art. 292, CP).
- Crime Privilegiado (§ único): quem recebe ou utiliza
como dinheiro qualquer dos documentos referidos neste artigo
(detenção, de 15 dias a 3 meses ou multa).
v) Falsificação de papéis públicos: falsificação de papéis
públicos, fabricando-os ou alterando-os (art. 293, CP) Pena: reclusão, 2
a 8 anos e multa.
- Papéis públicos: estão definidos nos incisos I a VI (selo
destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de
emissão legal destinado à arrecadação de tributo, papel de crédito
público que não seja moeda de curso legal, vale postal, cautela de
penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro
estabelecimento mantido por entidade de direito público, talão, recibo,
guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação
de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder
público seja responsável, bilhete, passe ou conhecimento de
empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou por
Município).
vi) Petrechos de falsificação: fabricar, adquirir, fornecer,
possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de
qualquer dos papéis referidos no artigo anterior (art. 294, CP).
vii) Causa Especial de Aumento de Pena: se nas
hipóteses anteriores (art. 293 a 294, CP) o agente é funcionário
público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
de sexta parte (art. 295, CP).
iii) Falsificação do selo ou sinal público: falsificação de
selo ou sinal público, fabricando-os ou alterando-os (art. 296, CP).
- Selos ou Sinais Públicos: estão descritos nos incisos I
e II (selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de
Estado ou de Município, selo ou sinal atribuído por lei a entidade de
direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião).
- Obs. I: o objeto falsificado neste tipo é o selo
autenticado do documento.
- Obs. II: pune-se no § 1º, inciso I, o sujeito que não
falsifica, mas faz uso do selo autenticador falso; no inciso II, quem faz
uso (indevido) do selo autenticador verdadeiro; e, no inciso III, quem
falsifica outros símbolos da Administração Pública (ex: brasão, colete
da PF, etc).
- Causa de Aumento de Pena (§ 2º): se o agente é
funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.
ix) Falsificação de documento público: falsificar, no
todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro (art. 297, CP).Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito passivo: será o Estado. Particular prejudicado
também poderá figurar no pólo passivo.
Conduta: falsificar (contradizer) documento público, ou
alterar (modificar) documento público verdadeiro. A falsificação pode ser
total ou parcial. Na alteração, o agente modifica documento público
existente e verdadeiro, substituindo ou introduzindo dizeres inerentes à
própria essência do documento.
O objeto material é o documento público: a) documento
formal e substancialmente público: emanado de agente público no
exercício de suas funções e seu conteúdo diz respeito a questões de
interesse público; b) documento formalmente público, mas
substancialmente privado: o interesse é de natureza privada, mas o
documento é emanado de entes públicos.
- Documentos Públicos: CPF, CNH, CRLV, CTPS, RG,
Título Eleitoral (se o fim for eleitoral, há o crime do art. 348 do Código
Eleitoral – Lei nº 4.737/65), Escrituras Públicas, Sentenças Judiciais,
Certidões de Cartório de Registro (não se confunde este crime com o
previsto no art. 301, CP), etc. Por equiparação: § 2º do artigo 297: o
emanado de entidade paraestatal; o título ao portador ou transmissível
por endosso; as ações de sociedade comercial; os livros mercantis; o
testamento particular.
- Causa de Aumento de Pena (§ 1º): se o agente é
funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.
- Sujeito Ativo por Equiparação (§§ 3º e 4º): são
hipóteses ligadas a fraude contra Previdência Social (nas mesmas
penas incorre quem insere ou faz inserir i) na folha de pagamento ou
em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante
a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado
obrigatório; ii) na Carteira de Trabalho e Previdência Social do
empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a
previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido
escrita; iii) em documento contábil ou em qualquer outro documento
relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social,
declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado; iv) quem omite,
nos documentos mencionados no § 3
o
, nome do segurado e seus dados
pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de
prestação de serviços).
- Obs. I: para os efeitos penais, equiparam-se a
documento público o emanado de entidade paraestatal (ex:
autarquias), o título ao portador ou transmissível por endosso (nota
promissória, duplicata, cheque, letra de câmbio, etc), as ações de
sociedade comercial (sociedade anônima e comandita por ações), os
livros mercantis e o testamento particular (§ 2º).
- Obs. II: os crimes que têm por núcleo “falsificar” são
formais, ou seja, consumam-se com a “falsificação”, sendo prescindível
que venham a causar prejuízo a alguém.
- Obs. III: quando o sujeito falsifica documento público
(art. 197, CP) com intuito de usá-lo (art. 304, CP), a jurisprudência
entende que o uso se torna um pós-fato impunível
24
.
24
“Sendo o documento falsificado utilizado pelo próprio falsário, o crime do art. 304 se
caracteriza como post factum não punível, respondendo o agente somente pela
falsificação” (HC 26.106/SP, Rel. Min. GILSON DIPP, 5ª Turma/STJ, DJ 28.10.2003).
- Obs. IV: a inserção de outra fotografia em documento
público configura hipótese de concurso aparente de normas (arts. 297,
304, 307 e 308, todos do CP), prevalecendo o mais grave (ou seja, o
crime do art. 297).
- Obs. V: em regra, a competência será o do lugar da
falsificação. Caso seja desconhecido, fixa-se a competência pelo local do
uso
25
.
x) Falsificação de documento particular: falsificar, no
todo ou em parte, documento particular ou alterar documento
particular verdadeiro (art. 298, CP).
- Documentos Particulares: contratos, recibos, confissão
de dívida, etc.
- Obs.: se se tratar de documento particular sem
qualquer relevância jurídica (ex: carta entre namorados), o fato é
atípico.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: será o Estado, bem como eventual
terceiro prejudicado com a conduta do agente.
Conduta: falsificar ou alterar. Documento particular é
aquele por exclusão, isto é, todo aquele não compreendido como público
ou equiparado a público.
Elemento subjetivo: Dolo.
Consumação: quando ocorre a contrafação, total ou
parcial, ou alteração do documento particular. É possível a tentativa.
25
“Desconhecendo-se o local da confecção do documento falsificado, compete ao Juízo
do local em que este foi utilizado processar e julgar o feito” (CC nº 36.624/RJ, Rel.
Min. Gilson Dipp, 3ª Seção/STJ, in DJ 22/9/2003).
xi) Falsidade ideológica (ou “falsidade intelectual”):
omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante (art. 299, CP).
- Obs.: neste crime, diferentemente dos demais delitos de
falsidade material, a conduta do agente não atinge o documento em si,
que é formalmente perfeito, mas o seu conteúdo. Daí porque se mostra,
neste caso, irrelevante a perícia no documento:
“Distingue-se o falso ideológico do material porque neste o agente
imita a verdade, através de contrafação ou alteração, enquanto
naquele o documento é perfeito em seus requisitos extrínsecos, em
sua forma, e emana realmente da pessoa que nele figura como seu
autor ou signatário, mas é falso no seu conteúdo, no seu teor, no que
diz ou encerra. Uma coisa é criar materialmente o documento ou
parte dele, outra é declarar um juízo inverídico em lugar da verdade
em documento que, materialmente, é verdadeiro. Concerne à
falsidade ao conteúdo, e não à forma. Assim, enquanto na falsidade
material o crime é apurado pelo exame do escrito para se verificar se
houve contrafação ou alteração, na ideológica somente pode ser
constatado pela verificação dos fatos a que se refere”
26
.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
- Sujeito Ativo: pode ser tanto o funcionário público (ex:
inserir declaração falsa em documento público) quanto o particular (ex:
fazer o funcionário público inserir declaração falsa). Ou seja, é crime
comum, podendo ser qualquer pessoa.
Sujeito passivo: será o Estado. A pessoa prejudicada pela
conduta figura como vítima secundária.
26
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 226. São Paulo, 2007.
Conduta: a) omitir declaração; b) inserir declaração falsa;
c) inserir declaração diversa da que deveria ser escrita; d) fazer inserir
declaração falsa; e) fazer inserir declaração diversa da que devia
constar.
Elemento subjetivo: dolo é o elemento subjetivo do tipo,
consistente no propósito de lesar direito, criar obrigação ou alterar a
veracidade sobre o fato juridicamente relevante.
Consumação: consuma-se o crime com a prática de uma
das figuras típicas previstas no artigo 299 do CP. Trata-se de crime
formal. Nas modalidades comissivas, admite-se tentativa.
- Causa de Aumento de Pena (§ único): se o agente é
funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se
a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.
- Obs. I: se há registro de nascimento de criança
inexistente, haverá o crime do art. 241, CP.
- Obs. II: se há registro de filho alheio como próprio
(“adoção à brasileira” ou “adoção afetiva”), há o crime do art. 242, CP
(nesta hipótese poderá incidir um privilégio ou, até mesmo, perdão
judicial – art. 242, § único, CP).
- Obs. III: quando o sujeito comete a falsidade (art. 299,
CP) com intuito de usá-lo (art. 304, CP), a jurisprudência entende que o
uso se torna pós-fato impunível. Neste caso, então, não se admite o
concursode crimes
27
.
27
“Sendo o documento falsificado utilizado pelo próprio falsário, o crime do art. 304 se
caracteriza como post factum não punível, respondendo o agente somente pela
falsificação” (HC 26.106/SP, Rel. Min. GILSON DIPP, 5ª Turma/STJ, DJ 28.10.2003).
“Desconhecendo-se o local da confecção do documento falsificado, compete ao Juízo
do local em que este foi utilizado processar e julgar o feito” (CC nº 36.624/RJ, Rel.
Min. GILSON DIPP, 3ª Seção/STJ, in DJ 22/9/2003).
- Obs. IV: se o falso tem por objetivo o estelionato,
considera-se “crime-meio” e por este fica absorvido
28
.
- Obs. V: se houver inserção de dados falsos em mapa ou
boletim de apuração eleitoral, há o crime previsto no art. 315 do Código
Eleitoral (Lei nº 4.737/65).
- Pena: reclusão, de 1 a 5 anos e multa, se o documento
é público, e reclusão de 1 a 3 anos e multa, se o documento é
particular.
xii) falso reconhecimento de firma ou letra: reconhecer,
como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o
não seja (art. 300, CP).
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
- Obs. I: Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois
apenas o funcionário público atuante no respectivo Cartório pode
praticá-lo. Trata-se de crime formal, pois está consumado no instante
em que há o falso reconhecimento, independentemente da utilização do
documento.
Sujeito passivo: será o Estado, tendo ao seu lado eventual
particular prejudicado pelo comportamento do agente.
Conduta: pune-se a conduta de reconhecer, como
verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que não o
seja. A ação nuclear é o de reconhecer, isto é admitir, atestar algo como
verdadeiro, no caso presente, firma (assinatura por extenso ou rubrica)
ou letra (manuscrito escrito de próprio punho).
Elemento subjetivo: dolo.
Consumação: no momento em que o agente efetua o
reconhecimento irregular, independentemente da devolução do
28
“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por
este absorvido” (Súmula nº 17/STJ).
documento àquele que solicitou o reconhecimento, bem como da
ocorrência de dano efetivo. É possível a tentativa.
- Obs. II: segundo MIRABETE, “não há crime quando o
reconhecimento deriva de culpa do funcionário que, por exemplo, por
negligência, não observa as dissemelhanças entre a assinatura reconhecida e a
constante do protocolo de firmas”
29
.
- Pena: reclusão, de 1 a 5 anos e multa, se o documento
é público; e de 1 a 3 anos e multa, se o documento é particular.
xiii) Certidão ou atestado ideologicamente falso:
atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou
circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de
ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem (art.
301, caput, CP). Ex.: atestar o diretor da penitenciária a boa conduta
carcerária do preso para fins de progressão de regime.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio
Sujeito passivo: será o Estado.
Conduta: pune-se a conduta do funcionário público que,
no desempenho da função atesta (afirma oficialmente) ou certifica
(afirma a certeza), falsamente, fato ou circunstância que habilite alguém
a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público,
ou qualquer outra vantagem.
Elemento subjetivo: dolo. Havendo intuito de lucro, a
pena será cumulada com a multa.
- Consumação: há divergência. Damásio e Capez
entendem que só há a consumação quando o documento é entregue a
terceiro, pois até então não ingressou no mundo jurídico; Noronha,
29
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 236. São Paulo, 2007.
Hungria, Bitencourt e Delmanto entendem que o delito está consumado
assim que o documento estiver formalmente perfeito,
independentemente de vir a ser entregue a terceiro.
- Qualificadora (§ 1º): Falsidade material de atestado ou
certidão: falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar
o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou
circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de
ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem
(detenção, de 3 meses a 2 anos). É crime comum, podendo ser praticado
por qualquer pessoa.
- Obs. I: o crime do caput é ideológico, só podendo ser
praticado por funcionário público, enquanto o do § 1º é material,
podendo ser praticado por qualquer pessoa
30
.
- Obs. II: se há falsificação de documento escolar há
duas hipóteses: i) se o documento é destinado a alguma finalidade
pública (ex: posse em concurso público), há o crime do art. 301, CP; ii)
se o agente falsifica o documento sem um propósito público específico,
há o crime do art. 297, CP
31
.
- Obs. III: “compete à Justiça Estadual o processo e
julgamento dos crimes de falsificação e uso de documento falso relativo a
estabelecimento particular de ensino” (Súmula nº 104/STJ).
31
Falsificação de Diploma (Certificado de Conclusão de Curso Superior): “se o agente,
ao utilizar o documento público falsificado, visa obter vantagem no serviço público
municipal, tem-se que sua ação se amolda no art. 304 com remissão ao art. 301, par. 1º,
do CP e não art. 279 do mesmo estatuto” (REsp nº 78.659/RJ, Rel. Min. Anselmo
Santiago, in DJ 16/9/97).
30
“Qualquer pessoa pode ser responsabilizada pela feitura de documento ou atestado
que contenha falsidade material, e não apenas o exercente da função pública que o
teria expedido ou deveria expedir, porquanto, intencionalmente não incluído pelo
legislador o requisito, em razão da função pública, no § 1º do art. 301 do CP, faz com
que se tenha, na espécie, crime classificado como comum, quanto ao agente e não
crime próprio. Assim, se o agente, ao utilizar o documento público falsificado, visa
obter vantagem no serviço público, tem-se que sua ação se amolda no art. 304 com
remissão ao art. 301, § 1º, do CP e não ao art. 297 do mesmo estatuto” (REsp nº
210.379/DF, Rel. Min. Fernando Gonçalves, in DJ 2/10/2000).
Se o crime for praticado com o fim de lucro, aplica-se,
além da pena privativa de liberdade, a pena de multa. (§ 2º)
xiv) Falsidade de atestado médico: dar ao médico, no
exercício da sua profissão, atestado falso (art. 302, CP).
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
- Obs. I: Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, bem
como é espécie de falsidade ideológica, por isso caso o agente não seja
médico, deverá responder pelo crime do art. 299. MIRABETE ensina
que “o falso atestado de veterinário, dentista, parteira ou de outros
profissionais ligados à atividade sanitária poderá constituir o crime mais
grave de falsidade ideológica'' (art. 299). Criou-se com o dispositivo em análise
um privilégio desarrazoado e manifestamente imoral. Quando a falsidade é
praticada por qualquer cidadão a pena é mais severa e no tratamento mais
benigno é dispensado justamente ao procedimento mais grave, que envolve o
abuso das prerrogativas do grau profissional”
32
. Assim, o sujeito ativo só
pode ser o médico, no exercício da função. Se praticado por dentista,
veterinário, enfermeiros etc., incidirão as penas do artigo 299 do CP. Se
o médico for funcionário público, o crime será do artigo 301 do CP.
Sujeito passivo: será o Estado, diretamente interessado
no conteúdo do atestado médico fornecido, que pode conter informações
de interesse à manutenção da saúde pública. Também pode figurar
como vítima secundária o indivíduo que venha a sofrer dano pela
utilização do atestado falso.
Conduta: o crime consiste em dar ao médico, no exercício
da profissão, atestado falso, isto é, escrever informação total ou
parcialmente inverídica, entregando, em seguida, o documento
ideologicamente falso ao interessado. Segundo a jurisprudência: o
atestado de óbito falso, emitido para encobrir causa mortis,
32
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 240. SãoPaulo, 2007.
configura o crime do artigo 299, e não o do artigo 302 do CP. É
imprescindível que a falsidade recaia sobre um fato juridicamente
relevante e potencialmente lesivo.
Elemento subjetivo: dolo. Se o crime é cometido com o
fim de lucro, aplica-se também a multa (parágrafo único).
Consumação: ocorre no momento em que o médico
fornece o atestado falso, independentemente de ulteriores
consequências. A tentativa é possível.
xv) Reprodução ou adulteração de selo ou peça
filatélica: reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica que tenha valor
para coleção, salvo quando a reprodução ou a alteração está
visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou peça (art. 303, CP).
(Ver artigo 39 da Lei 6.538/78)
- Obs.: pune-se com a mesma pena o agente que faz uso
do selo falsificado.
xvi) Uso de documento falso: fazer uso de qualquer dos
papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302
(art. 304, CP).
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito passivo: será o Estado, bem como eventual lesado
pelo uso do documento.
Conduta: consiste o crime em fazer uso de qualquer dos
papéis falsificados ou alterados a que se referem os artigos 297 a 302
como se fossem verdadeiros.
- Obs. I: não se pune o uso quanto ao crime do art. 303,
pois há nele previsão específica (art. 303, § único, CP).
- Obs. II: quando o sujeito falsifica documento público
(art. 297, CP) com intuito de usá-lo (art. 304, CP), a jurisprudência
entende que o uso se torna pós-fato impunível
33
.
- Obs. III: somente se caracteriza o crime quando o
agente faz efetivamente o uso do documento. Assim, o simples portar
(na carteira, no bolso, na bolsa, etc) não configura o delito
34
.
- Obs. IV: é irrelevante à caracterização do crime que o
uso ocorra em razão de solicitação de autoridade pública
35
.
- Obs. V: se o uso não é de documento falsificado ou
alterado (ou seja, se o documento é verdadeiro), configurado está o
crime do art. 308, CP.
- Obs. VI: em regra, a competência será o do lugar da
falsificação. Caso seja desconhecido, fixa-se a competência pelo local
do uso
36
.
36
“Desconhecendo-se o local da confecção do documento falsificado, compete ao Juízo
do local em que este foi utilizado processar e julgar o feito” (CC nº 36.624/RJ, Rel.
Min. Gilson Dipp, 3ª Seção/STJ, in DJ 22/9/2003).
35
STF: “Pratica o crime do art. 304 do Código Penal aquele que, instado, por agente de
autoridade policial, a se identificar, exibe cédula de identidade que sabe falsificada”
(HC nº 70.422/RJ, Rel. Min. Sydney Sanches, in DJ 24/6/94). No mesmo sentido
STJ: REsp nº 193.210/DF, Rel. Min. José Arnaldo, 5ª Turma/STJ, in DJ 24/5/99;
34
STJ: A simples posse de documento falso não basta à caracterização do delito
previsto no art. 304 do Código Penal, sendo necessária sua utilização visando atingir
efeitos jurídicos. O fato de ter consigo documento falso não é o mesmo que fazer uso
deste. Se o acusado em nenhum momento usou ou exibiu a documentação falsificada,
tendo a autoridade policial tomando conhecimento de tal documento após despojá-lo
de seus pertences, não se configura o crime descrito no art. 304 do Código Penal.”
(Resp nº 256.181/SP, Rel. Min. Felix Fischer, in DJ 19/2/2002). Posição contrária
(anterior): “O crime de uso de documento falso depende, para a sua consumação, da
forma corrente de utilização de cada documento. Exigindo o Código Nacional de
Trânsito que o motorista ‘porte’ a carteira de habilitação e a exiba quando solicitada,
portar a carteira para dirigir e uma das modalidades de uso desse documento. Se a
carteira é falsa, o crime do art. 304 do CP se configura ainda que a exibição do
documento decorra de exigência da autoridade policial” (REsp nº 63.370/SP, Rel. Min.
Assis Toledo, 5ª Turma/STJ, in DJ 17/6/96).
33
“Sendo o documento falsificado utilizado pelo próprio falsário, o crime do art. 304 se
caracteriza como post factum não punível, respondendo o agente somente pela
falsificação” (HC 26.106/SP, Rel. Min. GILSON DIPP, 5ª Turma/STJ, DJ 28.10.2003).
- Obs. VII: especificamente quanto ao uso de passaporte
falso, o STJ entende que “o Juízo Federal competente para processar e julgar
acusado de crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se
consumou” (Súmula nº 200/STJ). Esta hipótese não se confunde com a
anterior
37
.
Elemento subjetivo: dolo direto ou eventual.
Consumação: no momento em que o agente utiliza o
documento, independentemente da obtenção do proveito. A tentativa é
inadmissível.
Há entendimento do STJ que, no caso de Carteira
Nacional de Habilitação, o delito se verifica com o simples porte.
- Pena: a cominada à falsificação ou à alteração (trata-se
de norma penal imperfeita ou incompleta).
xvii) Supressão de documento: destruir, suprimir ou
ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor
(art. 305, CP) Pena: reclusão de 2 a 6 anos e multa – documento público
ou reclusão de 1 a 5 anos e multa – documento particular.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o proprietário do
documento, desde que dele não possa dispor (crime comum).
Sujeito passivo: será o Estado e, secundariamente,
eventual lesado pela ação criminosa.
37
“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO
(PASSAPORTE). COMPETÊNCIA DETERMINADA PELO LOCAL DA CONSUMAÇÃO DO
DELITO. PRECEDENTES DO STJ. CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR A
COMPETÊNCIA DO SUSCITANTE. 1. Estando em apuração, no presente caso, não o
crime de uso de passaporte falso (art. 304 do CPB), mas o de falsificação de
documento público (art. 297 do CPB), a competência não se estabelece pelo lugar
da apresentação do documento, mas em razão do local onde se efetuou a
falsificação. 2. (...)” (CC 90.084/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, 3ª
Seção/STJ, DJ 14.11.2007).
Conduta: a conduta punível é a de destruir (arruinar,
eliminar) ou ocultar (esconder, sonegar), em benefício próprio ou de
outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular
verdadeiro (se falso, não há crime), de que não podia dispor. É
indiferente a forma pela qual o documento chegou ao agente, ou seja, se
legitimamente confiado ou se obtido de maneira ilícita, pois o que
importa para a tipificação é a destruição, a supressão ou a ocultação.
Se o documento destruído, suprimido ou ocultado for
passível de substituição, como traslados, certidões ou cópias
autenticadas, o crime não se perfaz. Pode a conduta tipificada outro
crime, como, por exemplo, o furto.
Tipo subjetivo: é o dolo. O agente deve agir com finalidade
específica, ou seja, executar o crime em benefício próprio ou de outrem,
ou em prejuízo alheio (dolo específico).
Consumação e tentativa: consuma-se o crime no
momento da destruição, da supressão ou da ocultação, ainda que a
finalidade visada não seja alcançada – delito formal. É possível a
tentativa.
- Casuísticas:
i) Cheque: sujeito que toma o cheque entregue
espontaneamente a terceiro e o inutiliza para não o pagar, responde por
este crime (o cheque é documento equiparado a público – art. 297, § 2º,
CP).
ii) Advogado: se o advogado oculta os autos do processo
para favorecer seu cliente ou inutiliza prova constante nestes, comete
crime contra a Administração da Justiça (art. 356, CP).
- Ação Penal: pública incondicionada.
Capítulo IV – De outras Falsidades.
xviii) Falsificação do sinal empregado no contraste de
metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou para outros fins:
falsificar, fabricando-o ou alterando-o, marca ou sinal empregado pelo
poder público no contraste de metal precioso ou na fiscalização
alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa natureza, falsificado por
outrem (art. 306, CP). - Pena: reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).Sujeito passivo: será o Estado e, secundariamente,
eventual lesado pela ação criminosa.
Conduta: pune-se a conduta de falsificar, fabricando-o ou
alterando-o, marca ou sinal empregado pelo poder público (federal,
estadual, distrital ou municipal) no contraste de metal precioso ou na
fiscalização alfandegária. Também é incriminado o uso da marca ou
sinal inautêntico, falsificado por outrem. Se quem utiliza a marca ou
sinal é o próprio falsificador do objeto, responderá apenas pela
falsificação. A falsificação deve ser apta a iludir, sob pena de tornar
atípica a conduta.
Tipo subjetivo: é o dolo.
Consumação e tentativa: consuma-se o crime com a
fabricação ou alteração da marca ou sinal, ou com seu uso por quem
não seja o falsificador. Na conduta de falsificar, é possível a tentativa.
Na hipótese de uso, o crime é unissubsistente, sendo que o primeiro ato
de utilização já atinge a consumação.
- Obs.: MIRABETE esclarece que a proteção deste tipo
engloba qualquer sinal destinado a distinguir produtos pela sua maior
pureza ou perfeição quando se trata de metal precioso. O ouro, a prata, a
platina são distinguidos segundo o quilate ou toque. As marcas e sinais podem
ser gravados no próprio metal (contraste) ou adicionados através de carimbos,
selos, tarjas adequadas às marcas ou impressos a seco, apostas sobre lacre,
por etiquetas, etc (...) Além dos sinais utilizados para o contraste de material
precioso, refere-se o caput àqueles usados para fiscalização alfandegária,
destinados a assinalar as mercadorias liberadas pela aduana”
38
.
- Privilégio (§ único): se a marca ou sinal falsificado é o
que usa a autoridade pública para o fim de fiscalização sanitária, ou
para autenticar ou encerrar outros objetos, ou comprovar o
cumprimento de formalidade legal, a pena é de reclusão ou
detenção, de 1 a 3 anos, e multa. O dispositivo privilegia o
comportamento com pena mais branda se a marca ou o sinal falsificado
é o que usa a autoridade pública para o fim de fiscalização sanitária, ou
para autenticar ou encerrar determinados objetos, ou comprovar o
cumprimento de formalidade legal.
- Ação Penal: pública incondicionada.
xix) falsa identidade:
a) atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para
obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a
outrem (art. 307, CP). Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa,
se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito passivo: será o Estado e, secundariamente,
eventual lesado pela ação criminosa.
Conduta: consiste em atribuir-se ou atribuir a terceiro,
falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou
para causar dano.
38
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Ed. Atlas. Vol. III, 22ª edição.
p. 254. São Paulo, 2007
A substituição de fotografia em documento público, para
uns, configura o crime do artigo 307 do CP, vez que o documento
permanece autêntico (não forjado). Já para outros, como o retrato é
parte integrante do documento, a sua arbitrária e ilícita substituição
gera o falso material (artigo 297 do CP).
O crime é comissivo (atribuir-se), não havendo crime no
caso de o agente silenciar acerca da identidade equivocada que lhe
atribuem.
Se o agente se atribui falsa identidade para afastar de si
a responsabilidade por eventual prática criminosa, segundo os
Tribunais Superiores (STF e Súmula 522 do STJ), o comportamento é
típico, pois a vantagem mencionada no dispositivo pode representar
qualquer utilidade ao agente. A autodefesa somente abrange os
questionamentos sobre os fatos em apuração e jamais a identificação do
sujeito.
Trata-se de delito subsidiário, ficando absorvido se a
intenção do agente é praticar estelionato, posse sexual ou atentado ao
pudor mediante fraude etc.
Tratando-se de crime contra a fé pública, a ação do
agente deve ser apta a iludir terceiros.
Tipo subjetivo: é o dolo. É imprescindível que o agente
pratique a ação visando obter vantagem de qualquer natureza, em
proveito próprio ou alheio, ou causar dano a outrem.
Consumação e tentativa: a consumação ocorre no
momento em que o agente atribui falsa identidade a si ou a outrem. Não
é necessário que o agente consiga alcançar a vantagem visada ou cause
efetivo dano. A tentativa é possível pela execução por escrito.
b) Uso ou cessão para uso de documento de
identificação civil de terceiro: usar, como próprio, passaporte, título
de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de identidade
alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa
natureza, próprio ou de terceiro (art. 308, CP).
- Pena: detenção, de 4 meses a 2 anos, e multa, se o fato
não constitui elemento de crime mais grave.
Neste crime do artigo 308, a objetividade jurídica é a fé
pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito passivo: será o Estado e, secundariamente,
eventuais lesados pela ação criminosa.
Conduta: consiste em usar (utilizar) como próprio,
passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer
documento de identidade alheia ou ceder (entregar) a outrem, para que
dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro. O tipo
elenca diversos objetos materiais (todos verdadeiros, pois, se falsos, o
crime será o do artigo 304 do CP). A mesma observação cabe no artigo
307 a respeito de seu caráter subsidiário se aplica ao presente delito.
Tipo subjetivo: é o dolo, não se exigindo qualquer
finalidade especial.
Consumação e tentativa: a consumação se dá no
momento em que o agente se utiliza do escrito. A tentativa não é
admissível.
- Obs. I: o termo “identidade” segundo a doutrina
(DAMÁSIO e CAPEZ) deve ser interpretado em sentido amplo
“compreendendo todo o arcabouço de dados individualizadores da
personalidade (nome, filiação, profissão, estado civil, etc) ”.
- Obs. II: segundo DAMÁSIO não há crime se a
atribuição de falsa identidade é realizada equivocadamente por terceiro
e o agente não o corrige.
- Obs. III: é imprescindível que a falsa identidade seja
crível (não caracteriza o crime, assim, atribuir-se a identidade de
“super-homem”, “batman”, “Napoleão Bonaparte”, etc).
- Obs. IV: neste crime (art. 307, CP) não há emprego de
qualquer documento falso (RG, CPF, CNH, etc), mas simplesmente
atribuição de falsa identidade. O agente se limita a declarar, por escrito
ou verbalmente, identidade falsa.
- Obs. V: se houver o uso de documento falso para
comprovar a identidade atribuída, a conduta amolda-se ao tipo previsto
no art. 304, CP (pois o crime de “falsa identidade” é expressamente
subsidiário) ou ao art. 297, CP (se o mesmo agente que usou e
falsificou o documento).
- Obs. VI: se houver intenção de obter vantagem
econômica indevida em prejuízo alheio, haverá crime de estelionato
(art. 171, CP – crime mais grave).
- Obs. VII: se o agente usa documento de identidade
alheio para atribuir-se falsa identidade (ou seja, o documento é
verdadeiro, apenas não pertence ao agente), o crime é o previsto no
art. 308, CP.
- Obs. VIII: se o agente atribui a si a qualidade de
funcionário público (que não deixa de ser uma “falsa identidade”),
responde pelo art. 45 da Lei de Contravenções Penais.
- Obs. IX: se o agente recusa a identificar-se quando
solicitado pela autoridade pública, responde pela infração do art. 68 da
Lei de Contravenções Penais.
- Ação Penal: em ambos os casos a ação penal é pública
incondicionada.
xx) Fraude de lei sobre estrangeiro:
a) Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no
território nacional, nome que não é o seu (art. 309, CP).
- Pena: detenção, de 1 a 3 anos, e multa.
b) atribuir a estrangeiro falsa qualidade para
promover-lhe a entrada em território nacional (art. 309, § único, CP).
- Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
c) prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de
ação, título ou valor pertencente a estrangeiro,nos casos em que a este
é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens (art. 310, CP).
- Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa.
(Art. 309 CP) - Objetividade jurídica: tutela-se a fé
pública e também o controle de imigração.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, que só pode ser
praticado por estrangeiro, abrangendo o apátrida (sem nacionalidade).
Pode haver a participação de brasileiros.
Sujeito passivo: será o Estado.
Conduta: pune-se a conduta do estrangeiro que usar,
para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o
seu. Na execução do crime, pode o agente valer-se de documento falso.
Se falsificar o documento e utilizar para ingressar no Brasil, haverá
concurso material de crimes (arts. 309 e 304 -CP). Entretanto, se outra
pessoa realiza a falsificação e o sujeito utiliza o documento, responderá
somente pelo delito em estudo (art.309-CP).
Tipo subjetivo: é o dolo. Exige-se a finalidade especial do
agente, consubstanciada na intenção de ingressar ou permanecer no
território nacional.
Consumação e tentativa: consuma-se no momento em
que o nome é usado, independentemente do sucesso na entrada ou
permanência do agente no país. A tentativa não é admitida.
- Obs. I: no caput do art. 309 o crime é próprio (apenas o
estrangeiro pode praticá-lo). A doutrina, assim, exclui não só o
brasileiro como o apátrida.
- Obs. II: no § único o crime é comum (qualquer um pode
praticá-lo). A conduta típica consiste em atribuir a estrangeiro falsa
qualidade (predicado que não ostenta) para promover-lhe a entrada em
território nacional.
- Obs. III: no art. 310 pune-se o brasileiro que se coloca
à disposição do estrangeiro para figurar como proprietário ou possuidor
de algo que lhe é proibido no Brasil, dada sua nacionalidade. Segundo a
doutrina, é a hipótese típica do “testa-de-ferro”. Ex: art. 222 da CF/88 e
art. 3º da Lei nº 5.250/67.
Neste tipo penal, a objetividade jurídica é a fé pública.
Sujeito ativo: o crime é próprio, já que somente pessoa de
nacionalidade brasileira pode praticá-lo.
Sujeito passivo: é o Estado.
Conduta: há atividade que, em razão do interesse
nacional que as cerca, não podem ser livremente desempenhadas por
estrangeiros. É o que ocorre, por exemplo, com serviços jornalísticos e
de radiodifusão, exploração de jazidas, recursos minerais e potenciais
de energia. Pune-se o brasileiro que serve de “testa de ferro” ao
estrangeiro, assumindo a qualidade de proprietário ou possuidor de
ação, título ou valor pertencente ao não nacional, nos casos em que a
este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens.
Tipo subjetivo: é o dolo.
Consumação e tentativa: a consumação ocorre no
momento em que o agente passa a figurar como proprietário ou
possuidor de ação, título ou valor. A tentativa é admissível.
- Obs IV: em todos os casos a ação penal é pública
incondicionada.
xxi) Adulteração de sinal identificador de veículo
automotor: adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal
identificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento
(art. 311, CP). - Pena: reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.
- Causa de Aumento de Pena (majorante): se o agente
comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena
é aumentada de um terço.
- Sujeito Ativo Equiparado: incorre nas mesmas penas
o funcionário público que contribui para o licenciamento ou
registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo
indevidamente material ou informação oficial. Neste caso, cuida-se de
crime próprio, que somente pode ser praticado por funcionário público
(artigo 327 do CP). A conduta consiste na contribuição para o
licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado,
fornecendo indevidamente material ou informação oficial.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Sujeito ativo: o crime é comum, razão pela qual qualquer
pessoa pode praticá-lo. A pessoa que recebe o veículo já adulterado,
sabendo dessa circunstância, responde por receptação (artigo 180, CP).
Se recepta o veículo e, em seguida, promove a adulteração, será
responsabilizada por ambos os delitos em concurso material.
Sujeito passivo: é o Estado, e, secundariamente, eventual
lesado pela ação delituosa.
Conduta: é punida a conduta de quem adulterar
(modificar) ou remarcar (marcar de novo) número de chassi (estrutura
que suporta os elementos que integram o veículo – carroceria) ou
qualquer sinal identificador (registro que serve para individualizar o
objeto dos demais) de veículo automotor (todo o veículo motorizado que
serve normalmente para transporte viário de pessoas ou coisas), de seu
componente (portas, vidros) ou equipamento (iluminação de placas).
A alteração de placa com utilização de fita adesiva é
objeto de controvérsia. Para alguns (Damásio), não se apresentando
adulteração concreta e definitiva com objetivo de fraudar a propriedade,
o licenciamento ou o registro do veículo, trata-se de simples infração
administrativa. Para outros, há o crime do artigo 311 do CP.
Argumentam que a placa de veículo motorizado, ao lado de outros
sinais de identificação, constitui-se num sinal identificador ou sinal
externo de identificação. Assim, a alteração, adulteração ou remarcação
de referido objeto perfaz a conduta criminosa do artigo 311 do CP.
Nucci ensina que a falsificação grosseira não constitui o delito, citando
julgado que considerou mera infração administrativa o ato do motorista
que alterou o número das placas de seu veículo, utilizando fita adesiva,
com o propósito de se livrar das multas.
A jurisprudência do STJ firmou entendimento no sentido
de que a substituição de placas de um veículo pelas de outro, sem
adulterar ou remarcar número, configura o delito.
Tipo subjetivo: é o dolo. Não é necessário o conhecimento
da origem ilícita do bem. Se a intenção do agente é auxiliar o autor de
crime anterior, praticado, além do artigo 311, também o crime de
favorecimento pessoal (art 348 do CP) ou favorecimento real (artigo 349
do CP).
Consumação e tentativa: consuma-se com a adulteração
ou remarcação. A tentativa é admissível.
- Obs. I: se o sujeito adquire o veículo com chassi
adulterado, responde, conforme as circunstâncias, por receptação (art.
180, CP), dolosa ou culposa, mas, não, pelo tipo do art. 311 do CP.
- Obs. II: se o agente sabe que o veículo foi objeto de
furto ou roubo e, posteriormente, adúltera seu chassi, responderá pelos
dois crimes (arts. 180 e 311, CP).
- Obs. III: segundo NUCCI, a expressão ‘qualquer sinal
identificador de veículo automotor’ significa “qualquer marca colocada no
veículo para individualizá-lo, como a numeração correspondente àquela que
consta no chassi estampada nos vidros do automóvel. Pode ser, inclusive, a
placa do veículo”.
- Obs. V: segundo o STJ, o uso de fita adesiva na placa
do veículo caracteriza o crime do art. 311 do CP
39
.
- Ação Penal: pública incondicionada.
Capítulo V – Das fraudes em certames de interesse
público.
Artigo 311-A – fraude em certames de interesse
público.
Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de
beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do
certame, conteúdo sigiloso de: (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
I - Concurso público; (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
II - Avaliação ou exame públicos; (Incluído pela Lei
12.550. De 2011)
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior;
ou (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
IV - Exame ou processo seletivo previstos em lei:
(Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
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Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
(Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita,
por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações
mencionadas no caput. (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração
pública: (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.(Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é
cometido por funcionário público. (Incluído pela Lei 12.550. De 2011)
Objetividade jurídica: tutela-se a credibilidade dos
certames de interesse público.
Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa pode
praticá-lo.
Sujeito passivo: é o Estado, e, secundariamente,
eventuais lesados pela ação delituosa.
Conduta: é punida a conduta de quem utiliza ou divulga,
indevidamente (sem justo motivo), com o fim de beneficiar a si ou a
outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo
sigiloso (abrangendo não apenas as perguntas e respostas, mas também
outros dados secretos que, se utilizados indevidamente, geram
desigualdade na disputa).
Antes da nova lei, a “cola eletrônica” (utilização de
aparelho transmissor e receptor em prova), uma das formas mais
corriqueiras de fraudar os certames de interesse público, foi julgada
atípica pelos Tribunais Superiores. Com a nova lei, passou a ser crime.
Nas mesmas penas incorre quem permite (dá liberdade)
ou facilita (torna mais fácil a execução), por qualquer meio, o acesso de
pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. Não
haverá crime no caso em que, passada a avaliação que caracteriza o
certame, haja divulgação do resultado a determinadas pessoas antes da
formal publicação. Ainda que a divulgação seja indevida, não há crime
porque, encerrada a fase de avaliação dos candidatos, não existe
possibilidade de alguém beneficiar a si ou a outrem, ou mesmo
comprometer a credibilidade do certame.
Tipo subjetivo: dolo e o fim de beneficiar a si ou a outrem,
ou de comprometer a credibilidade do certame.
Consumação e tentativa: consumação com a simples
prática dos núcleos (divulgar, utilizar, emitir ou facilitar o acesso ao
conteúdo sigiloso) dispensando a obtenção de vantagem particular
buscada pelo agente ou mesmo eventual dano à credibilidade do
certame (crime formal). Se resultar dano à administração, o crime será
qualificado. A tentativa é admissível.
Forma equiparada - § 1º.
Qualificadora - § 2º.
Majorante de pena - § 3º: neste caso, não basta ser
servidor público, mas deve o agente valer-se da sua condição
profissional, o que não significa dizer que o conteúdo sigiloso do
certame deve estar entre as suas atribuições.
Ação penal: é pública incondicionada.

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