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Thalita Albuquerque Medicina – C. Cirúrgica Queimadura é a lesão resultante da ação do calor direto ou indireto (radiante – calor do sol) sobre o corpo. Também o frio pode provocar essas lesões e, por tomar algumas características próprias, denomina-se “geladura”, tem também as elétricas e química. A lesão depende da intensidade da fonte de calor (ex, brasa), que, por sua vez, tem determinada velocidade de transferência desse calor para o corpo. Se essa velocidade é significativamente maior do que o índice do corpo em dissipá-la, ocorrem danos teciduais de variados graus. Se o agente produtor das queimaduras for gerador de calor – portanto, não perde intensidade ao entrar em contato com o corpo –, as lesões são mais profundas. Se for apenas um agente aquecido –, portanto, em condições de perder calor em contato com a atmosfera e com o próprio corpo atingido –, as lesões são menos profundas. Essa profundidade depende também do tempo de ação do calor sobre a superfície corporal. Quanto mais longa, mais danos. As queimaduras se classificam quanto a: PROFUNDIDADE DAS LESÕES Primeiro grau – Quando somente é atingida a epiderme. Aspecto clínico: Eritema, branqueia sob pressão e é dolorosa. Segundo grau – Quando ocorre destruição total da epiderme e parcial da derme. A parte não lesada da derme é capaz de regenerar espontaneamente uma nova pele. Aspecto clínico: Lesão exsudativa, eritematosa, dolorosa, presença de bolhas (flictenas), ainda há as lesões de segundo grau superficial e profundo. Terceiro grau – Quando ocorre destruição total da pele, tanto da epiderme quanto da derme. Nesse caso, por não haver elementos cutâneos íntegros, não há regeneração espontânea da pele. Somente por meio da enxertia cutânea ou por retração das bordas ocorre a cicatrização. Aspecto clínico: Lesão seca, dura, inelástica, translúcida, com vasos trombosados visíveis, indolor à punctura local. EXTENSÃO DAS LESÕES • Denomina-se “grande queimado adulto” o paciente com queimaduras de 2º grau em mais de 25% da superfície corporal, ou acima de 10% de 3º grau. • O “médio queimado adulto” tem queimadura de 2º grau entre 10% e 25% do corpo, ou de 3ºgrau em torno de 10%. • O “pequeno queimado adulto” situa-se numa faixa menor que 10% de seu corpo atingido por queimaduras de 2º grau, ou menor que 5% de 3º grau. Para crianças, esses valores são respectivamente 15%, entre 5% e 15%, e abaixo de 5% para lesões de 2º. As queimaduras de 3º que atingem áreas maiores que 3% do corpo infantil são consideradas relevantes. Para determinar a extensão da área queimada, utilizam-se valores equivalentes à porcentagem da superfície corporal. Para calcular essa extensão, utiliza-se a Tabela de Lund e Browder. Outra tabela conhecida por “regra dos noves”. Para adultos e crianças com mais de 10 anos de idade, divide-se o corpo em segmentos, que equivalem aproximadamente a 9% de sua superfície corporal (SC). − Cabeça e pescoço = 9% SC − Cada membro superior = 9% SC − Cada quadrante do tronco = 9% SC − Cada coxa = 9% SC − Cada perna e pé = 9% SC − Genitais e períneo = 1% SC Em crianças com menos de 10 anos de idade, existe desproporção (com relação ao adulto) entre o segmento cefálico e os membros inferiores. Por isto, os valores desses segmentos variam de acordo com a idade: Recém-nascido: − Cabeça e pescoço = 18% SC − Todo um membro inferior = 13,5% SC Thalita Albuquerque Medicina – C. Cirúrgica Crianças com mais de 1 ano de idade: − Cabeça e pescoço = 18% – idade (18% menos a idade) − Todo um membro inferior = 13,5% + idade/2 Os demais segmentos do corpo têm a mesma porcentagem do adulto. Por exemplo: Uma criança com 6 anos de idade tem: − Cabeça e pescoço = 18% – 6 = 12% sc − Todo um membro inferior = 13,5% + 6/2 = 16,5% sc Outro exemplo: Um adulto com queimaduras em todo um membro superior, na parte anterior do tronco completa e em uma perna e pé tem: − Membro superior = 9% − Parte anterior do tronco = 9% + 9% = 18% − Toda uma perna e pé = 9% − Total: 36% sc “A superfície palmar da mão de um indivíduo, com os dedos unidos e estendidos, corresponde a 1% da superfície corporal desse indivíduo.” OBS: Todos os dados desses exames, profundidade das lesões e extensão devem ser rigorosamente anotados em papeleta, de preferência utilizando-se o desenho de um boneco visto de frente e de costas, onde se assinalam as lesões constatadas. FISIOPATOLOGIA Alterações Locais - As camadas protetoras da pele são destruídas e removidas proporcionalmente à profundidade das lesões, com quebra da barreira normal do vapor e consequente perda de água corporal. Dessa maneira, a perda insensível de água no paciente queimado é muito maior do que nas pessoas com o tegumento íntegro. Além disso, ocorre o resfriamento do corpo com perda de calorias em excesso, o que leva à demanda metabólica acentuada nesses pacientes. A essa perda excessiva de água para o meio exterior, soma-se a perda maior de líquidos para dentro do próprio paciente, pela “sequestração” de líquidos para o espaço intersticial. Nas queimaduras de segundo e terceiro graus, a pele sofre necrose por coagulação, ocorrendo diversos graus de trombose dos vasos sanguíneos dentro da pele e, por vezes, no tecido subcutâneo, quando as lesões são mais profundas. Esse desarranjo vascular, quando mais superficial, organiza-se após as primeiras 48 h, com recanalização da árvore vascular subjacente, que se completa ao fim de 1 semana. Ativa resposta inflamatória celular pode ser observada no local das lesões, com aumento do número de mitoses das células dos apêndices dérmicos que sobreviveram à agressão. O desarranjo vascular que perdura por 48 h ou mais não permite difusão eficaz de possível cobertura antibiótica, nem mesmo nenhuma defesa carreada pelo sangue. Se há infecção, ocorre trombose progressiva, com consequente ampliação da profundidade das lesões, transformando uma queimadura de 2º grau em lesões de 3º grau, pela destruição dos elementos dérmicos que haviam sido preservados pela lesão original. Na queimadura de 3º grau, a natureza vasculodestruidora da lesão não permite que a árvore vascular subjacente se torne novamente funcional na área atingida. Essa falta de suprimento sanguíneo, além de diminuir a resistência local a infecções, marca a ausência de realização inflamatória celular. Isto obriga o organismo a tentar cicatrizar a lesão por segunda intenção. Na transição entre o tecido normal e o queimado, começa a aparecer, perto da segunda semana, um tecido rico em fibroblastos e novos capilares, estando bem estabelecido, já na terceira semana. É o tecido de granulação característico da queimadura. Esse tecido de granulação, é um tecido com alta capacidade de retração e fibrose, cujo “objetivo” é trazer a pele normal das bordas da lesão para se unir centripetamente, fechando- a. Assim, as cicatrizações por segunda intenção se caracterizam por retrações, às vezes deformantes, e hipotrofia da pele cicatricial. O aumento da permeabilidade capilar (APC) é o principal mecanismo fisiopatológico ocasionado pela ação direta do calor sobre a microcirculação. Os mediadores que estão relacionados com o APC, a maioria, age alterando a integridade da membrana das vênulas, como a histamina, aminas vasoativas, produtos de ativação plaquetária e da cascata do complemento, hormônios, prostaglandinas (PGE) e leucotrienos. Imediatamente após o trauma térmico, que expõe as fibras colágenas do tecido afetado, ocorrem graves mudanças no tecido queimado, como a ativação dos mastócitos e dos sistemas calicreína e fosfolipase ácido araquidônico. Há liberação de histamina, cininas e PGE (inclusive a prostaciclina – PGI2), as quais, respectivamente e em conjunto, provocamdanos à integridade do endotélio capilar pela separação das junções das células desse endotélio. Esse fato causa o APC, promovendo o extravasamento de líquido plasmático rico em proteínas, sódio e cloretos, através Thalita Albuquerque Medicina – C. Cirúrgica dos poros capilares aumentados, em direção ao interstício dos tecidos lesados. O processo resulta em edema intersticial e, consequentemente, provoca redução na pressão coloidosmótica plasmática e nova fuga de líquidos dos vasos para o interstício da área lesada. Em resumo, o que ocorre na fisiopatologia da queimadura é o aumento da permeabilidade capilar com extravasamento, para o interstício, de infiltrado plasmático rico em proteínas e cristaloides, o meio extravascular passa a ter sua pressão coloidosmótica aumentada com relação ao intravascular, mantendo assim a reversão deletéria desse fluxo, e causando edema, hipovolemia, hipoproteinemia e, por fim, o burn shock. O APC inicia-se alguns segundos após o trauma térmico e dura, em média, 24 h, voltando ao normal progressivamente, sempre na dependência de um esquema de ressuscitação volêmica bem planejado. Dependendo da superfície corporal queimada (SCQ) e da profundidade das lesões (normalmente acima de 50% nos adultos e 25% nas crianças em queimaduras de 2º desse percentual em queimaduras de 3º grau, ou metade grau), esse fenômeno generaliza-se por todo o organismo, culminando com a falência circulatória, débito cardíaco baixo, oligúria e acidose metabólica, principalmente em crianças e idosos. O retorno do líquido extravasado para o intravascular ocorre à custa da drenagem pelas circulações linfática e capilar venosa, depois de restaurada a permeabilidade capilar. Todo o edema é absorvido progressivamente, de modo a desaparecer, quase por completo, nos primeiros 10 dias. Alterações Sistêmicas - A magnitude das alterações sistêmicas pós-queimadura é diretamente proporcional à profundidade e à extensão das lesões. ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES ➢ Reversão de gradiente coloidosmótico, aumento da resistência vascular periférica e aumento da viscosidade sanguínea. Medidas: restaurar volemia, diminuir a resistência periférica e tonificar musculo cardíaco. ALTERAÇÕES RENAIS ➢ Aumento da permeabilidade do glomérulo, aumento do clearance de creatinina, pode ocorrer necrose tubular aguda (hidratar). ALTERAÇÕES PULMONARES ➢ Aumento da ventilação, lesão por inalação, posições viciosas no leito, faz aumentar a quantidade de secreções pulmonares, principalmente por causa da limitação da tosse pela dor e sinais de queimadura na face (pelos, vias aéreas). ALTERAÇÕES GASTRINTESTINAIS ➢ Íleo funcional (intestino com peristalse reduzida), úlcera de Curling (edema e congestão duodenal) e melenêmese (vômito em borra de café). ABORDAGEM DO PACIENTE • A dor é inversamente proporcional à profundidade da queimadura, ou seja, quanto mais profunda, menor a intensidade da dor; • Qualquer medicamento deve ser administrado exclusivamente por via endovenosa, exceto o toxoide tetânico, quando se fizer necessário, porque as alterações na hemodinâmica retardam ou impedem a absorção de medicamentos injetados por via intramuscular ou subcutânea; • Grande queimado adulto é aquele que apresenta área lesada maior do que 25% da sua superfície corporal ou maior do que 15% em crianças, considerando-se para isto somente as queimaduras de 2º e 3o graus. Do ponto de vista da gravidade da lesão térmica, esses valores são relativos, dependendo de outras variáveis, como idade, estado geral, doenças de base, estado nutricional, lesões associadas etc., que, se presentes, agravam consideravelmente o prognóstico. • Queimaduras de face e pescoço são sempre graves, exigindo correta avaliação da permeabilidade das vias aéreas, principalmente se houve inalação de produtos de combustão e se a intubação ou traqueostomia se fazem necessárias. • Queimaduras elétricas são surpreendentes quanto à evolução das lesões, além de poderem causar inibição respiratória, parada cardíaca ou uma Thalita Albuquerque Medicina – C. Cirúrgica combinação das duas. Não são raros os traumas cranianos, fraturas, rupturas de vísceras, já que normalmente se associam a desmaios seguidos por quedas da própria altura ou de lugares ainda mais altos, como, por exemplo, nos acidentes ocorridos em redes elétricas. INTERNAR: Grandes queimados; Médios queimados de baixa condição socioeconômica − Idosos ou crianças de tenra idade − Pacientes com queimaduras da face e pescoço (pelo menos por 48 h) − Pacientes com queimaduras incapacitantes (as duas mãos, os dois pés etc.) − Pacientes com queimaduras graves do períneo − Pacientes com lesões por inalação. NÃO INTERNAR: Médios queimados de condição socioeconômica mais alta, que possam e queiram prosseguir o tratamento em regime ambulatorial − Pequenos queimados. CONDUTA TERAPÊUTICA Analgesia: Utiliza-se, sempre por via endovenosa, a morfina na dose de 5 mg para o adulto e 0,1 a 0,2 mg/ kg/dose para crianças, sempre diluída em 9 mL de água destilada e aplicada, fracionada e lentamente, a cada 4 h no adulto e a cada 6 h na criança. O paracetamol associado à codeína, na dosagem de 30 mg a cada 6 h, é o tratamento de escolha, por via oral, numa fase subsequente de terapia analgésica no adulto queimado. Na criança, dá-se preferência ao cloridrato de tramadol, com dose de 2 mg/kg/dose a cada 6 h. Acesso Venoso: Fazer uma punção de veia superficial com cateter de polietileno agulhado. Dependendo da localização da punção do tipo de fixação do cateter, pode até ser definitiva. Através da veia puncionada, colhe-se sangue para uma primeira bateria de exames laboratoriais (hemograma, ionograma), administra-se o analgésico e liga-se um soro ringo lactato. Resfriamento da Lesão: Pode-se lavar a região queimada com água corrente, ou então usar compressas de água fria, ou mesmo gelada, sobre a referida região. Tranquilizantes: Sempre que possível, devem ser evitados. Quando forem absolutamente necessários, não devem ser administrados isoladamente no paciente queimado, pois tentar tranquilizar quem sente dor é quase impossível. Antes de utilizar um sedativo, lembrar- se de que, na maioria das vezes, a agitação de um paciente queimado se deve à hidratação insuficiente ou incorreta, analgesia incompleta ou, até mesmo, ao edema cerebral causado pela hipoproteinemia aguda que se instala no grande queimado. É preciso corrigir esses problemas antes de tranquilizá-lo farmacologicamente. Os benzodiazepínicos são os preferidos para o tratamento da ansiedade em pacientes com queimaduras. Os narcóticos não devem ser utilizados, principalmente na suspeita de lesões das vias aéreas superiores. Broncoscopia: Nas queimaduras graves do segmento cervicofacial, na inalação (ou suspeita de inalação) de produtos de combustão, nos acidentes ocorridos em ambientes fechados e nos acidentes por incêndio com liberação de fumaça tóxica, a realização de laringotraqueoscopia e broncoscopia é imperativa. Oxigenoterapia: Em grandes queimados, com extensas áreas de 3º grau, é importante ligar oxigênio umidificado por cateter nasal, 3 L a 5 L/min. Queimaduras Químicas: Nunca lavá-la em água parada nem utilizar outras substâncias químicas para neutralização daquela produtora das lesões. Se o agente etiológico foi o fósforo, deve-se tomar o cuidado de retirar todas as partículas com uma pinça antes de fazer a lavagem do local. Se o agente foi o piche ou asfalto, é possível removê-los totalmente com éter. Porém, é preciso que o paciente esteja anestesiado, por causa da dor intensa que esse procedimento causa. Logo após a retirada desses agentes, deve-se lavar a região com água e sabão degermante. Limpeza da Área Queimada:Dá-se preferência aos degermantes à base de clorexidina. Para os casos que necessitam de desbridamentos e tricotomias, o banho pode ser realizado em mesas cirúrgicas convencionais, com o paciente sob analgesia e sedação assistida por anestesista. Hidratação: Nos grandes e médios queimados, utiliza-se a hidratação parenteral como o recurso mais eficaz na estabilização ou profilaxia da desidratação aguda e sua evolução para o choque. Várias são as fórmulas para o cálculo do volume e característica dos líquidos a serem infundidos. Dentre elas. A fórmula de Parkland obedece aos seguintes parâmetros: 2mL de líquidos a serem infundidos (ringo lactato isotônico) × peso corporal em kg × superfície corporal queimada em porcentagem até um máximo de 50%. Se as lesões estiverem numa superfície superior a 50%, esse valor fica fixo nesse número, pois a capacidade de “sequestro” de líquidos por parte do paciente não se torna maior com queimaduras acima dos 50%. Em crianças substitui-se o fator 4 mL por 3 mL para o cálculo do volume principal e acrescenta-se uma dose de manutenção, com a mesma solução isotônica de lactato de Ringer na quantidade de 1.000 mL para crianças com até 10 kg de peso corporal. De 10 kg a 20 kg, soma-se, aos 1.000 mL, o volume de 50 mL para cada quilo entre 10 e 20. De 20 kg a 30 kg, soma-se, aos 1.500 mL, o volume de 20 mL para cada quilo entre 20 e 30. Por Thalita Albuquerque Medicina – C. Cirúrgica exemplo, uma criança com 25 kg terá, como dose de manutenção, 1.600 mL de lactato de Ringer isotônico. Pacientes idosos ou com doenças cardíacas prévias podem necessitar de cardiotônicos para melhorar o débito cardíaco e a perfusão renal durante o período de reposição hídrica. Se o paciente chega ao hospital algumas horas depois do acidente, o tempo perdido deve ser incluído na contagem. Do total calculado para as primeiras 24 h de queimadura, a metade deve ser administrada nas primeiras 8 h, já que é nesse período que as perdas são mais acentuadas. Para calcular a velocidade de infusão hídrica, usa-se a seguinte fórmula: Nº de gotas por minuto = volume em ml / 3 x nº de horas Um paciente bem hidratado deve manter volume urinário horário entre 30 mL e 50 mL ou 0,5 mL/kg/h. A infusão de coloides, quando indicada, pode ser feita 24 h após o acidente. Dá-se preferência à albumina endovenosa (albumina a 10% em 150 mL de SGI a 5%, EV de 8/8 h), mantendo o nível sérico maior do que 3,0 g/dL. Dieta: Reserva-se a bomba de infusão contínua (BIC) por cateter nasogástrico ou nasojejunal para os pacientes adultos com SCQ > 20% e para crianças internadas. A prescrição de medicamentos protetores de mucosa do trato digestivo deve ser feita nos primeiros 3 dias pós queimadura, até que se inicie efetivamente a dieta oral ou enteral por BIC. Normalmente, no adulto, utiliza-se a ranitidina venosa na dosagem de 50 mg a cada 8 h. Reserva-se o omeprazol para aqueles pacientes com história de doenças gástricas preexistentes. Para as crianças com história pregressa de muita ansiedade ou com queimaduras acima de 30% de superfície corporal, utiliza-se a ranitidina venosa na dose de 1 mg a 2 mg/kg/dose a cada 8 h, até que se inicie a dieta enteral por BIC. Profilaxia do Tétano: Caso o queimado esteja comprovadamente imunizado, não há necessidade de dose de reforço. Na dúvida sobre a imunização prévia, deve-se aplicar 250 unidades de gamaglobulina hiperimune contra o tétano. Antibiótico: O uso de antibiótico sistêmico não está indicado na fase inicial do tratamento de queimados. Taquipneias acima de 40 irpm, íleo funcional, hemorragia digestiva, alteração da curva térmica, oligúria e falência cardiovascular são dados importantes na decisão de iniciar o tratamento. Do mesmo modo, escurecimento das lesões, secreção purulenta, formação de abscessos, necrose tecidual, arroxeamento ou edema da pele ao redor das margens da área queimada, aumento da espessura da lesão com aprofundamento da queimadura e rápida separação da escara necrótica são algumas das manifestações que servem como parâmetro para a indicação precisa do medicamento. Quanto à terapia antimicrobiana tópica, dá-se preferência ao creme de sulfadiazina de prata associado ao nitrato de cério. Cateter Vesical de Demora: Em pacientes homens menos graves ou com mais de 5 dias de cateter de demora, pode-se utilizar coletor externo de urina. Avaliar a possibilidade de entupimentos ou dobras no cateter caso o débito urinário, apesar de bom programa de hidratação, não esteja a contento. Tratamento Local: Preferencialmente, sob sedação assistida por anestesista, inicia-se o curativo. O desbridamento das flictenas, com limpeza das impurezas e tricotomia nas áreas vizinhas, diferencia o curativo. Segue-se a degermação com clorexidina. Enxágua-se toda a área lavada e seca-se com compressas estéreis. Aplica- se generosa camada de sulfadiazina de prata simples ou associada ao nitrato de cério e, em seguida, cobrem-se as lesões com gazes abertas esterilizadas e em boa quantidade, de modo a acolchoar bem os locais atingidos. Com ataduras de crepom de boa elasticidade, promove- se fixação firme das gazes sem, entretanto, apertar essas áreas. Como o tempo médio de ação da sulfadiazina de prata é de 12 h, esse procedimento deve ser feito 2 vezes por dia. Nas queimaduras circulares de 3º grau, faz-se necessária a escarotomia, que deve ser feita com incisões paralelas ou paralelas cruzadas tipo mosaico, sob o risco de haver garroteamento de extremidades, com necrose destas ou, até mesmo, dispneia por restrição da expansão pulmonar nas graves queimaduras circulares do tronco. A exposição da área queimada deve ser utilizada em queimaduras da face, períneo ou nas lesões de pequena extensão, caso não traga desconforto ao paciente. As condições higiênicas e socioeconômicas do paciente também devem ser avaliadas na opção pela exposição. Cuidado especial deve-se ter com as orelhas queimadas. Pelo risco de condrites, recomenda-se curativo 3 vezes por dia, utilizando-se, nessa área específica, cremes à base de sulfadiazina de prata + nitrato de cério e curativo oclusivo protetor. Normalmente, os curativos devem ser feitos 2 vezes por dia na própria UTQ, desde que haja infraestrutura física e pessoal treinado para essa finalidade. Thalita Albuquerque Medicina – C. Cirúrgica
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