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Um guia de sobrevivência para os estudantes de engenharia By Richard M. Felder (North Carolina State University) Tradução e adaptação: Marcelo S. Rabello (DEMa / UFCG) As reclamações de um estudante de engenharia são comuns: “Eu não estou indo bem nesse semestre. No próximo será diferente”. “Nunca consigo chegar no horário certo, especialmente na aula das 8 da manhã”. “O professor enche o quadro com fórmulas e deduções e não consigo acompanhar tudo!”. “Os livros nunca vem com exemplos claros, que todos possam entender”. “Na prova o professor nunca pede exatamente como mostrou em sala”. “O final de semestre é estafante demais: tem 3° estágio, reposição, final, tudo junto. Os professores deveriam facilitar um pouco mais...” Todas essas reclamações e comentários são comuns. No meu tempo de estudante também era assim – e eu reclamava quase do mesmo jeito. Infelizmente as suas reclamações não irão resolver nada. Neste artigo irei propor algumas maneiras para você aumentar sua produtividade e os seus resultados acadêmicos. Antes de qualquer coisa, é preciso ter consciência de que não é o seu professor que faz a sua vida universitária um inferno. O problema real é que na sua vida inteira você recebeu uma mensagem assim: “Meus professores sabem tudo e detém toda a verdade. A função deles é transmitir todo o conteúdo nas aulas e a minha função é absorver e repetir o conteúdo nos trabalhos e provas. Se eu consigo fazer isso eu provei que aprendi... e isso é tudo o que eu preciso.” ERRADO!!! Esse pensamento poder até ter funcionado no colégio, mas na universidade a coisa começa a mudar de figura. Por que? Porque a universidade tem a obrigação de lhe preparar para a vida profissional. Veja só como será diferente no ambiente de trabalho: Não existem professores, aulas, trabalhos ou provas. Existem apenas problemas – muitas vezes pouco definidos – e soluções que podem ser viáveis ou não. Os caminhos para solucioná-los devem passar necessariamente por fatores econômicos, realidade de mercado, treinamento e envolvimento de pessoal, etc. Aspectos, diga-se de passagem, raramente observados nos cursos de engenharia. Para tornar o problema ainda maior, você não mais terá um crédito parcial se problema não for totalmente resolvido – mesmo que você utilize as fórmulas corretas. Se você projeta 10 reatores e um deles explode, acredite, eles não vão te dar nota 9,0 e te parabenizar! Se você observar a realidade lá fora, notará que existem centenas ou milhares de engenheiros – a maioria nem tão inteligente quanto você – que está sobrevivendo no mercado de trabalho. Decidindo o que precisa ser feito e resolvendo problemas. Essas pessoas, curiosamente, tiveram as mesmas dificuldades que você teve na universidade e provavelmente nunca chegaram a entender completamente o conceito de entropia, por exemplo. Como eles conseguem? Ora, eles sabem algumas poucas coisas que você ainda não aprendeu! Logo no início da vida profissional eles aprenderam que não podem contar sempre com alguém para dizer tudo o que eles precisam saber para resolver os problemas. Eles aprenderam como encontrar sozinhos e o que eles precisam saber e que existe muita ajuda disponível se eles souberem onde buscá-la. Eles aprenderam que na vida profissional não pode deixar os problemas para a “reposição”, como você sempre faz com suas provas! Esses engenheiros aprenderam a partir da necessidade. A partir da pressão por resultados. O que gostaria de atingir com essa contribuição é ajudá-lo nesse bate- cabeça de início e até mesmo auxiliá-lo no restante da sua vida universitária. Dê uma chance a essas idéias. Você não terá nada (absolutamente nada!) a perder. E poderá ganhar muito na sua carreira. Descubra o que você precisa para o conteúdo do curso ficar mais claro Os alunos têm estilos de aprendizagem diferentes. Isto é, a maneira como cada um percebe e processa a informação varia muito. Isto gera um problema quando o seu estilo de aprender não combina com o estilo de ensino do professor. Os estudantes de engenharia reclamam muito desse problema. Veja alguns exemplos: • Para entender direito eu preciso de aplicações práticas, do mundo real. Mas tudo que eu vejo nas aulas é teoria, teoria, teoria – que não tem nada a ver com a realidade. • Eu preciso exercitar com exemplos para entender as fórmulas e teorias matemáticas, mas o professor só mostra exemplos triviais ou não mostra exemplo nenhum. • Eu preciso entender por que e como as coisas funcionam, mas nas aulas só tem fórmulas e teorias para decorar. • Eu entendo melhor o que eu vejo – figuras, gráficos, esquemas – muito mais do que eu escuto ou leio, mas nas aulas só se tem textos e fórmulas. • Eu só aprendo fazendo! Cadê as aulas práticas? Identificar o seu problema nas aulas é a primeira etapa para solucioná-lo. Uma vez que você identifica o que está faltando, você poderá buscar procedimentos adicionais para suprir deficiências. Peça ajuda ao seu professor, dentro e fora da sala de aula Ao contrário das conversas de corredores, a maioria dos professores realmente se esforça para que os alunos aprendam. A propósito, uma reclamação comum dos professores é que os alunos quase nunca participam das aulas, a não ser quando têm certeza que um determinado assunto vai “cair” na prova! Se você não entende um ponto, solicite complementação que poderá lhe auxiliar. Baseado na seção anterior, você poderia perguntar ao professor: “você poderia dar um exemplo prático?”, “essa fórmula poderá ser utilizada em todas as situações?”, “você poderia desenhar um esquema desse processo?”. Mesmo que você tenha receio da pergunta ser idiota, faça-a de qualquer jeito. Eu lhe garanto que muitos outros colegas seus também estarão confusos e darão graças a Deus por você ter tido a coragem de perguntar! Acabe com aquela idéia de “depois eu me viro”! Tire as suas dúvidas na hora, evitando acumular conteúdo sem entender. Isso só irá lhe prejudicar. Muitos professores irão encarar essas questões positivamente. Outros não. Certamente você saberá logo qual o estilo do seu professor. Se você se deparar com professores hostis a perguntas desse tipo, não pressione. Busque fontes alternativas. Mesmo com os professores mais cooperativos, se você não se sentir muito à vontade para perguntar durante a aula, vá à sala do professor em outro horário. Lembre-se: a grande maioria dos professores apreciam os alunos que se interessam verdadeiramente pelo conteúdo. Se preferir, junte um grupo de colegas para tirar dúvidas. Um alerta: o professor percebe quando você vai tirar dúvida apenas para que ele lhe diga exatamente como fazer determinados exercícios. Adote a regra de nunca pedir ajuda para um problema a menos que tenha realmente se esforçado para resolvê-lo sozinho. Quando for perguntar, esteja preparado para mostrar em detalhes o que você tentou e o quanto conseguiu. Leia, de fato, o conteúdo da sua disciplina Alguns livros que enfocam a teoria tentam explicar sua importância, descrevendo comportamentos da vida real e como resolvê-los. Os alunos geralmente ignoram essas partes do livro, buscando apenas por exemplos e dicas para resolver os exercícios da lista. Pode acontecer, entretanto, que as partes que você pula contém justamente explicações que fazem a teoria e a prática mais claras para você. E você, como se situa em relação ao parágrafo anterior? Você é o tipo que lê o conteúdo inteiro ou o que busca apenas o macete para resolver a questão? Honestamente, você chega a consultar a literatura recomendada???? AH! Você é do tipo que estuda apenas por apostilas e pelo (famigerado) caderninho? Entendi! Se esse for o seu caso, desculpe a sinceridade, você está sendo treinado para a MEDIOCRIDADE! Você quer aprender de fato e crescer profissionalmente ou simplesmente obter aprovação na disciplina? Faça uma análise das pessoas quevocê conhece e verifique se alguém (ao menos uma pessoa) que tenha alcançado o sucesso profissional limitou-se a estudar pelo (famigerado) caderninho. E olhe que hoje a situação está muito mais favorável: bibliotecas melhores, internet, artigos on-line, etc... No meu tempo, a gente esperava até dois meses para receber a cópia de um artigo (e como era caro!). Trabalhe em equipe Quando você estuda sozinho, você pode emperrar em algum conteúdo e acabar desistindo; quando você estuda em grupo, sempre existe alguém para encontrar outra visão e o trabalho continuar. O trabalho em grupo também lhe expõe a alternativas para resolver problemas e de forma mais eficaz. Além disso, o estudo em grupo faz como que os alunos ensinem uns aos outros – como qualquer professor poderá testemunhar, ensinar é a melhor maneira de aprender. A riqueza de um trabalho de pesquisa em grupo é comprovada com dados reais. Os alunos que estudam em grupo têm melhores notas, retém o conhecimento, participam mais das aulas e são mais auto-confiantes do que os alunos que estudam individualmente (ou do que os não estudam de jeito nenhum!). No mercado de trabalho, a propósito, a habilidade de trabalhar em grupo é atualmente um dos aspectos mais requisitos do profissional. Praticamente todos os projetos de engenharia são elaborados e executados por times de trabalho. Entretanto, simplesmente juntar os amigos para resolver listas de exercícios pode não resultar nos benefícios mencionados. Além do cuidado que todos devem ter em não dispersar com conversas paralelas e outros assuntos, segue algumas idéias para que o seu grupo tenha o máximo de rendimento nos estudos: • Trabalhe em grupos de 3 ou 4. Quando você trabalha em pares, você não obtém uma variedade suficiente de abordagens e idéias e não se gera mecanismos para superação de conflitos. Em grupos de 5 ou mais, a convergência de idéias fica dificultada e alguns membros podem se “escorar” nos outros. Aliás, esse é o grande problema do trabalho em grupo. Não se junte com colegas que só quer colocar o nome no trabalho sem contribuir para a sua realização. • Visualize inicialmente a solução do problema sozinho. Freqüentemente a maior dificuldade é se definir como começar. Se todos os problemas forem tratados ao mesmo tempo pelo grupo inteiro, o estudante mais rápido irá iniciar a solução. Se esse aluno não for você, você terá a falsa impressão de que terá a habilidade em resolver o problema no futuro (ou mesmo na prova). Uma maneira eficaz do trabalho em grupo render bastante é cada aluno refletir sobre possíveis soluções antes e então, durante o trabalho em grupo, se definir as formas mais viáveis. • Certifique-se de que todos entendem cada solução. Os alunos muitas vezes “vão na onda” sem entender muito a solução do problema. Para que o trabalho em grupo seja eficaz é preciso que cada membro seja capaz de explicar a solução em detalhe. Se todos podem fazer isso, a sessão em grupo atingiu os seus objetivos. Quando tudo falhar... Muitas vezes nem você nem os seus colegas de grupo conseguem encontrar soluções viáveis para um problema, mesmo após muitas horas de estudo, consultas e discussões. Quando os engenheiros se deparam com algo assim na sua atuação profissional, a empresa pode até contratar consultores (experts). Na universidade você também tem experts disponíveis para lhe ajudar – o segredo é encontrá-lo e saber abordá-los com sabedoria. O seu professor é o seu expert mais óbvio – e a forma de abordá-lo já foi comentada aqui. Outros potenciais consultores são os monitores, professores da mesma ou de outras disciplinas, estudantes de mestrado e de doutorado. Se você tiver sorte em encontrar os seus consultores, por favor, não abuse da boa vontade deles solicitando ajuda para todo e qualquer problema. Eles têm as suas próprias atribuições e não terão disponibilidade sempre. Procure-os ocasionalmente e apenas quando tiver tentado TODAS as recomendações sugeridas aqui.
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