Grátis
6 pág.

AULA 14 - HERMENÊUTICA E ARG JURÍDICA
Denunciar
5 de 5 estrelas









2 avaliações
Enviado por
TAJ STUDIES 
5 de 5 estrelas









2 avaliações
Enviado por
TAJ STUDIES 
Pré-visualização | Página 1 de 2
AULA 14 – A ARTE E A ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA Aula administrada por Marcelo Paiva Almeida (ex-aluno da faculdade) e Sara (monitora da disciplina). 1. Alethéia: a verdade como “descobrimento” – a visão tradicional de verdade: Alethéia, segundo Heidegger, alethéia significa “descobrimento”, ou seja, verdade consiste em descobrir alguma coisa. Destarte, a verdade está nas coisas e não na interpretação do sujeito, mas este sujeito é importante para descobrir o sentido que já existe nas coisas. 2. O mito da caverna: Platão propõe uma alegoria pautada na perspectiva de que homens passaram a vida inteira dentro de uma caverna, de forma que conseguiam ver somente sombras na parede da caverna, acreditando se tratar da verdade. Distingue-se, portanto, o mundo sensível (as sombras) do mundo inteligível (o mundo como realmente é). O mundo sensível trata-se do mundo das abstrações, ou seja, da representação de verdades que se encontram em outro plano. O mundo inteligível trata-se do mundo das essências. Ex: O cavalo (mundo sensível) x diversas espécies de cavalo (mundo inteligível). Os homens presos na gruta somente apresentam acesso às manifestações do mundo fenomenológico (abstrações). Cabe ao filósofo compreender o que a coisa realmente é, isto é, a sua essência. 3. Metáfora de Francesco Carnelutti: O fato apreciado pelo Direito precisa ser construído ao longo do processo. Ao caminharmos em uma floresta, o processo seria aquele que aproveita os rastros deixados pelas pessoas para reconstruir os seus passos. Desse modo, o Direito precisa reconstruir o fato para que a norma incidente no caso seja, de fato, a correta. “Os princípios publicistas presentes no Processo Penal fazem confundir os interesses deste com os do próprio Estado, de modo que a função social do processo depende da efetivação dessa proteção. Não é possível imaginar um juiz inerte, [...] não podendo limitar-se a a analisar os elementos fornecidos pelas partes, mas determinando sua produção, sempre que necessário].” Em “A república”, Platão afirma que o homem é a medida de todas as coisas. Platão dialoga com a filosofia socrática. Se pensamos em uma “pessoa virtuosa”, podemos pensar em pessoas com mais virtude em comparação a essas que pensamos no primeiro plano. Logo, para Sócrates, o homem não pode ser a medida de todas as coisas, devendo existir critérios externos à vontade humana – o que leva a busca de uma essência. O ideal de virtude, desse modo, não deve ser subjetivo, mas pautado em uma investigação filosófica. Daí se pode considerar uma conduta como virtuosa ou não. A verdade não é o que as partes e/ou o julgador consideraram como verdade, mas o que, de fato, aconteceu no mundo dos fatos (tal qual ocorreu). 4. Inquisição eclesiástica (Santa Inquisição): Na Roma Antiga, principalmente no que tange à república romana, o Direito Processual, inclusive Penal, estava a cargo das partes. O julgamento acontecia por um tribunal popular, o qual não produzia provas. Esse modelo mostrou-se ineficaz em virtude de privilegiar acusações falsas, coações e o bom morador. A verdade não era importante. Logo, a Santa Inquisição considerou que esse sistema favorecia a delinquência. Houve uma ruptura com o paradigma romano, concedendo poderes ao Estado – responsável pela acusação, pela produção de provas e por proferir o julgamento. O Estado passa a tomar para si o corpo do acusado e começava, a partir daí, o processo de investigação pautado em indícios. Mantinha-se os sujeitos presos e constantemente fazia perguntas para verificar a sequência lógica dos depoimentos. Eram realizados métodos de tortura com o fito de adquirir a verdade, acreditando que, caso o indivíduo fosse inocente, Deus lhe concederia forças para aguentar. “o réu indiciado que não confessar, apesar da evidência dos fatos e do depoimento idôneos; a pessoa sobre a qual não passaram indícios suficientemente claros para que e possa exigir a abjuração, mas que vacila nas respostas, deve ir para a tortura. Igualmente, a pessoa contra quem houver indícios suficientes para e exigir abjuração. Finalmente, quando se pode dizer que alguém foi suficientemente torturado? Quando parecer aos juízes e especialistas que o réu, passou, sem confessar, por torturas de uma gravidade comparável à gravidade dos indícios. Entenderão, portanto, que expiou suficientemente os indícios através da tortura.” Logo, o castigo era variável a depender das evidências com o intuito de obter as confissões. O debate que ascende é o seguinte: a que custo essa confissão era obtida? 5. As limitações da verdade por correspondência: Para Nietzsche, nós pensamos e investigamos a verdade por palavras. Só conseguimos raciocinar com as palavras que aprendemos ao longo da vida. Mesmo que cada planta seja diferente, o conceito “planta” foi extraído a partir daquilo que é igual (Nietzsche iguala as diferenças). A palavra iguala aquilo que, em verdade, é diferente (pessoas diferentes podem pensar em diferentes plantas, ou seja, com diferentes detalhes). Albert Einstein afirmou que a percepção do tempo vai depender do sujeito que está sendo observado. O tempo seria como uma massa constante e a depender da sua velocidade é possível perceber a passagem desse tempo. Se estamos mais devagar (entediados), temos a percepção de que o tempo passou mais, assim como temos a sensação de celeridade quando estamos em movimento. O tempo é relativo a depender da pessoa que está observando um dado evento. Para se obter uma verdade acerca de uma paisagem, é necessário unir todos os pontos de vista possíveis simultaneamente, o que, faticamente, não é possível. Portanto, o conhecimento de qualquer coisa depende de como a coisa se passou para determinado sujeito. 6. A importância da verdade: A verdade apresenta suma importância para que uma tutela jurisdicional ocorra. A norma precisa prever certos tipos de comportamentos sociais. O processo é um mecanismo crucial no que concerne à reconstrução dos fatos. Não há uma única verdade, absoluta, imutável. Trata-se de uma utopia, nesse sentido, a noção da verdade como correspondência. 7. Teoria da arte: Aristóteles desenvolveu uma Teoria da arte, mas que também pode ser aplicada ao Direito. Para o autor, todas as narrativas ficcionais apresentam: mito (enredo); ethos (personagens) e dianóia (mensagem). Os mitos apresentam um modelo quinário (cinco etapas): · Estado inicial duradouro; · Rompido por uma força perturbadora; · Desencadeia uma dinâmica; · Encerrada por uma força equilibradora; · Estado final duradouro (instalação de um novo final, distinto do estado de paz inicial); Exemplos: “DragonBall Z” e “Sherek”. Aristóteles elenca cinco modelos de personagens: · Mítico: Personagem superior aos demais em espécie (He-man, Goku, Superman); · Romântico: Superior em grau de valores; · Mimético alto: É um líder, mas está sujeito à falibilidade humana (Homem de ferro, batman); · Mimético baixo: Passa comum, não pertencente a nenhuma classe elava (menos importantes na história); · Irônico: Inferior ao leitor da obra (personagens geralmente covardes, que não tomam decisões certas); A maior diferença entre as narrativas artística e jurídica As narrativas ficcionais precisam partir da ideia de mímeses, ou seja, deve ocorrer uma identificação por parte da pessoa que assiste. Destarte, existe a vida e a arte retira elementos da vida para criar a sua história, subvertendo-a (há uma “imitação” da vida). As narrativas ficcionais têm como premissa a suspensão da descrença. Os filmes de terror, por exemplo, normalmente apresentam uma trilha sonora parecida e luzes baixas com o fito de despertar sensações nas pessoas que assistem. Apesar de beirarem o absurdo, temos sensações genuínas enquanto assistimos filmes de tal cunho. 8. Aplicação dos conceitos da arte ao Direito: O juiz passa a conhecer o fato a partir daquilo que as partes alegam, ou seja, o processo produz uma narrativa para o juiz para que este venha a aplicar o Direito. Essa narrativa também seria um modelo quinário (vide o exemplo