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CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 1 Hipertensão Definição A hipertensão (HA) é uma síndrome de múltiplas causas (os determinantes da PA são elucidados na imagem abaixo). Com base nisso, podemos dividir em dois tipos: • Hipertensão primária (ou essencial): de causa idiopática • Hipertensão secundária: tem uma causa conhecida; pode ser renal, endócrino-metabólica, induzida por fármaco ou de miscelânia. Fatores de risco • Genética • Idade → o envelhecimento faz o enrijecimento progressivo e perda da complacência das grandes artérias. • Sexo → em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada em homens; já a partir da 6ª década de vida, as mulheres dominam o quadro. • Etnia • Obesidade: relação direta do do peso com o da PA • Ingestão de sódio e potássio • Sedentarismo • Álcool • Fatores socioeconômicos: menor escolaridade, condições de habitação inadequadas e a baixa renda familiar são fatores de risco significativo para HA. • Apneia obstrutiva do sono Prevenção A HA é uma doença que causa grandes problemas sociais e econômicos à sociedade, tendo um tratamento eficiente e fácil. Apesar disso, ainda não vemos o seu controle, pois trata-se de uma doença assintomática e silenciosa. Alguns fatores que podemos fazer para prevenir tal condição são: • Controle do peso: Ser “o mais magro possível” dentro da faixa da normalidade do IMC pode ser a melhor sugestão com relação à prevenção primária da HA • Dieta saudável e menor ingestão de sódio: Recomenda-se que a ingestão de sódio seja limitada a aproximadamente 2 g/dia (equivalente a cerca de 5 g de sal por dia) na população em geral • Potássio: A relação entre o aumento da suplementação de potássio e a diminuição da HA está relativamente bem compreendida • Atividade física: pelo menos 150min/semana de atividade físicas moderadas ou 75 min/semana de atividade física vigorosa. Os exercícios aeróbicos (caminhada, corrida, ciclismo ou natação) podem ser praticados por 30 minutos em 5 a 7 dias por semana. A realização de exercícios resistidos em 2 a 3 dias por semana também pode ser recomendada • Álcool: deve ser limitado à 30g de álcool/dia; deve ser cortado pela metade para homens de baixo peso, mulheres e sobrepesos. • Fatores psicossociais: controle do estresse emocional • Suplementos alimentares: vitamina C, peptídeos bioativos derivados de alimentos, alho, fibras CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 2 dietéticas, linhaça, chocolate amargo (cacau), soja, nitratos orgânicos e ômega 3 • Tabagismo: cessar o tabagismo • Espiritualidade: ter um conjunto de valores morais, emocionais, de comportamento e atitudes com relação ao mundo PRESSÃO ARTERIAL E O DANO VASCULAR A hipertensão arterial está relacionado com o aumento do risco de acidentes vasculares encefálicos, cardiopatias isquêmicas, doença renal crônica e mortalidade precoce. Outras comorbidades, como insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, doença de Alzheimer, Diabetes Melito e disfunção erétil podem estar relacionados com o aumento sustentado da PA. Dano vascular Uma PA cronicamente causa, entre outras coisas, risco cardiovascular (CV), disfunção endotelial e rigidez arterial. Disfunção arterial É caracterizada pela baixa disponibilidade de óxido nítrico (NO) e pelo consequente desequilíbrio local entre fatores de relaxamento e constrição de arteríolas. Essa baixa concentração de NO pode ser causada por: • produção de NO → ocasionada por um estado inflamatório do indivíduo • maior transformação em radical livre peroxinitrito → ocasionada por maior produção de radicais livres A concentração de NO vai aumentar o tônus muscular liso vascular, induzindo maior proliferação de células musculares lisas e aumentar a permeabilidade do endotélio. Essa situação é uma estrutura ideal para o desenvolvimento da aterosclerose → Dessa forma, a disfunção endotelial estaria na raiz de duas doenças crônicas, a aterosclerose e a HA. Rigidez arterial A rigidez arterial tem alguns componentes principais determinantes: idade, PA e genética. • Idade: as artérias que ficam rígidas são as mais proximais. Isso ocorre pois com a idade observamos fragmentação e degeneração da elastina e aumento progressivo do colágeno, acompanhado de depósito de cálcio na camada média arterial, com consequente aumento da rigidez arterial. • PA aumentada: promove alterações dos componentes das artérias, pois aumenta o estresse das células das paredes das artérias, causando uma resposta mecanobiológica de maior produção de matriz e inflamação. Um ciclo pode ser formado nesta situação, pois artérias mais rígidas fazem necessárias maiores valores de PA para a passagem de sangue, o que causa maior rigidez nas artérias. A avaliação da rigidez das artérias pode ser feita a partir de alguns exames, como: • Índice Tornozelo-Braquial (ITB): razão entre a pressão sistólica no braço pelo o do tornozelo, sendo considerado um marcador de rigidez arterial em pacientes sem doença arterial periférica. Uma ITB normal é acima de 0,90. A obstrução leve caracteriza-se por ITB entre 0,71- 0,90; moderada 0,41-0,70; e grave 0,00-0,40. Trata-se de uma ferramenta importante tanto para o diagnóstico de doença arterial obstrutiva periférica quanto para o prognóstico de eventos cardiovasculares. • Velocidade de Onda de Pulso (VOP): padrão-ouro para a avaliação da rigidez arterial. Calcula-se a VOP carotídeo-femoral (VOPc-f) dividindo-se a distância percorrida pelo tempo (VOPc-f= distância/ tempo). O valor de corte da normalidade da VOP é < 10 m/s. Estudos indicam que o aumento de 1 m/s da VOP pode elevar até 15% da mortalidade do indivíduo. • Pressão central: é a mais relevante para a patogênese das doenças CV. DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO Diagnóstico São considerados hipertensos os indivíduos com PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg. O diagnóstico deve ser feito apenas após validação médica em duas ocasiões distintas, em locais e condições apropriadas, com intervalo de dias. As CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 3 exceções para isso são indivíduos que se apresentam com HA estágio 3 ou com diagnóstico de emergência hipertensiva. Indivíduos com PAS ≥ 140 mmHg e PAD < 90 mmHg são definidos como portadores de HA sistólica isolada, enquanto a presença de níveis de PAS < 140 mmHg e PAD ≥ 90 mmHg caracteriza a HA diastólica isolada. A PA deve ser medida em toda avaliação médica. Deve ser feita com o uso de esfigmomanômetros auscultatório, sendo feita primeiro nos dois braços (diferença > 15 mmHg da PAS entre os braços, há o aumento do risco CV, devido à doença ateromatosa). As medidas subsequentes devem ser feitas no braço de maior PA. Em idosos, diabéticos, disautonômicos ou naqueles em uso de anti-hipertensivos, a PA também deve ser medida 1 minuto e 3 minutos após estar em pé (imóvel). A hipotensão ortostática é definida como uma redução na PAS ≥ 20 mmHg ou na PAD ≥ 10 mmHg dentro do 3º minuto em pé e está associada a um risco aumentado de mortalidade e eventos cardiovasculares. Em casos em que não se consegue fazer a medição da PA no braço (como em obesos e não tendo a disponibilidade de um esfigmo apropriado), podemos fazer a realização da medida da PA no antebraço, em que o pulso auscultado deve ser o radial. É importante que o paciente não esteja com a bexiga cheia não tenha praticado exercícios há menos de 60 minutos, não tenha ingerido bebidas alcoólicas, café ou alimentos recentemente, não tenha fumado há 30 minutos. O principal problema da HA é que se trata de uma doença assintomática. Por isso, a investigação médica deve ser sempre feita. Classificação A HA pode ser dividida em 6 classificações de acordo com o nível pressórico do indivíduo. Os indivíduos com PAS entre 130 e 139 e PAD entre 85 e 89 mmHg passam a ser considerados pré- hipertensos, pois esta populaçãoapresenta consistentemente maior risco de doença CV, doença arterial coronária e acidente vascular encefálico do que a população com níveis entre 120 e 129 ou 80 e 84 mmHg. OBS! Hipertensão do avental branco (HAB) e Hipertensão mascarada (HM): A HAB uma condição em que o paciente apresenta da PA no consultório, mas ela é normal fora dele. Pacientes com HAB também apresentam maiores riscos relacionados a PA aumentada. Já a HM está associada à dislipidemia, à disglicemia, à LOA, à pré-hipertensão e à atividade adrenérgica e aumenta o risco de desenvolver diabetes melito e HS. Genética e HA Considera-se a HA primária uma doença multifatorial, mas com forte componente genético. Todavia, ainda é demonstrado que o componente ambiental traz grande importância para o desenvolvimento da HA. Já a HA secundária é causada por diversas formas de alterações genéticas, as vezes únicas, como hiperaldosteronismo familiar, a síndrome de Liddle, a hiperplasia adrenal congênita e as formas herdadas de feocromocitoma e paraganglioma AVALIAÇÃO CLÍNICA E COMPLEMENTAR A avaliação clínica do paciente hipertenso deve ser feita seguindo-se o método tradicional, constituído por anamnese, exame físico e laboratorial. • Anamnese: deve-se perguntar por diagnósticos prévios, tratamentos prévios, sintomas de lesões de órgãos-alvo (LOA), história familiar e sobre fatores de risco. • Exame físico: medida correta e repetida da PA, da FC, procurar por LOA e por possíveis sinais de HA secundária, ausculta de carótidas e cardíaca, estenose jugular, ictus, sistema respiratório, edemas de membros, abdômen, IMC, peso, altura, ITB, fundoscopia CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 4 • Laboratório: pesquisar por LOA, Hb glicada, potássio, ácido úrico, creatinina, albumina (estes dois últimos como função renal), glicemia perfil lipídico, EAS e ECG, OBS! Função renal → a avaliação da função renal é de extrema importância, devendo ser utilizado o Chronic Kidney Diseases Epidemiology Collaboration (CKD-EPI). ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR É de grande importância que na abordagem de um paciente com HA ou não, devemos fazer o controle de todos os fatores de risco que ele apresenta, a fim de diminuir consideravelmente os riscos que tal doença trás, principalmente os cardiovasculares. A estimativa de risco CV não deve ser obtida de modo intuitivo ou pela mera soma dos FR presentes, mas por métodos que considerem sua natureza complexa e multifatorial. Sendo assim, para a estratificação do paciente com HA, devemos procurar principalmente por: fatores de risco coexistentes, LOA, presença de doença cardiovascular e renal estabelecida. • Fatores de risco coexistentes o Idade: > 55 anos no homem e > 65 anos na mulher o DCV prematura em parentes de 1o grau (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos) o Tabagismo o Dislipidemia: LDL-colesterol ≥100mg/dL e/ou não HDL-colesterol 130 mg/dL e/ou HDL- colesterol ≤ 40mg/dL no homem e ≤ 46mg/dL na mulher e/ou TG >150 mg/dL o Diabetes melito o Obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) • Lesões em órgãos-alvo o Hipertrofia ventricular esquerda (pelo ECG) o ITB o Doença renal crônica estágio 3 o VOP carótido-femoral > 10 m/s • Presença de doença cardiovascular e Renal: a presença de doenças cardiovasculares ou renais associadas são indicativos de maior risco de desenvolvimento de outra doença cardiovascular, cerebrovascular, renal e arterial periférica nos hipertensos. DECISÃO E METAS TERAPÊUTICAS Um dos objetivos do tratamento da HA é de diminuir a PA para os valores de meta para aquele paciente (deve-se considerar presença de doença cardiovascular, fatores de risco e idade). De forma geral, deve-se reduzir a PA visando a alcançar valores menores que 140/90 mmHg e não inferiores a 120/70 mmHg . Nos indivíduos mais jovens e sem FR, podem-se alcançar metas mais baixas com valores inferiores a 130/80 mmHg. Sendo assim, as metas terapêuticas vão ser definidas de acordo com o risco do paciente: • Hipertensos de risco baixo ou moderado: meta abaixo de 140/90 mmHg e, se tolerada, próximo a 120/80 mmHg • Hipertensão de alto risco: é dividido de acordo com as doenças associadas que o indivíduo tem o Hipertenso com Doença Coronária: o tratamento anti-hipertensivo em pacientes com DAC deve procurar resultar em PA < 130/80 mmHg, mas não inferior a 120/70 mmHg. Convém muito cuidado na redução da PAS nos idosos com DAC e com elevada pressão de pulso, pois isso pode resultar em valores muito baixos de PAD e propiciar isquemia miocárdica. o Hipertenso com história de AVE: pacientes com essa história e sem outros fatores de risco tem uma meta de 120/80 mmHg; nos casos crônicos de prevenção secundária, o preconizado é manter a PAS entre 120 e 130 mmHg o Hipertenso com Insuficiência Cardíaca (IC): meta adequada é < 130/80 mmHg, mas > 120/70 mmHg → controle pressórico diminui a mortalidade e a taxa de reinternação por descompensação cardíaca o Hipertenso com Doença Renal Crônica: meta de PA < 130/80 mmHg o Hipertenso Diabético: meta é < 130/80 mmHg; obviamente deve-se fazer o controle da glicemia em conjunto. o Hipertenso idoso: ver tabela abaixo CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 5 OBS! O paciente hipertenso se beneficia enormemente de uma abordagem multidisciplinar para o tratamento da sua hipertensão, principalmente na atenção primária. Além do médico, a equipe multiprofissional pode ser composta por enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem, nutricionista, psicólogo, assistente social, profissional de educação física, fisioterapeuta, farmacêutico, musicoterapeuta, funcionários administrativos e agentes comunitários de saúde, não sendo necessária a existência de todos os componentes para o início da ação TRATAMENTO O tratamento do hipertenso deverá ser feito por meio de uma abordagem não medicamentosa e uma farmacológica para alcançar a meta pressórica. Tratamento não medicamentoso O tratamento não medicamentoso da PA visa principalmente reduzir os fatores de risco do paciente. Logo, as ações são principalmente em: • Tabagismo: deve ser enfatizada a cessação, devido ao risco CV e de neoplasias. Pode-se utilizar medicamentos para ajudar o paciente (como bupropiona e gomes de nicotina) • Padrão alimentar: deve-se incentivar maior consumo de frutas, hortaliças, laticínios com baixo teor de gordura e cereais integrais, além de consumo moderado de oleaginosas e redução no consumo de gorduras, doces e bebidas com açúcar e carnes vermelhas. • Sódio: a ingestão recomendada para indivíduos hipertensos e para a população em geral é até 2 g/dia de sódio. Deve-se incentivar o paciente a diminuir o consumo de produtos industrializados com muito sódio. • Potássio: pode-se incentivar o maior consumo de alimentos ricos em potássio, como damasco, abacate, melão, leite desnatado, iogurte desnatado, folhas verdes, peixes (linguado e atum), feijão, laranja, ervilha, ameixa, espinafre, tomate e uva-passa. • Café: recomenda-se que o consumo de café não exceda quantidades baixas a moderadas (≤ 200 mg de cafeína). • Perda de peso: para indivíduo com sobrepeso/obesidade a perda ponderal é uma recomendação essencial. O ideal é alcançar um IMC < 25 em adultos, IMC entre 22 e < 27 em idosos, e CC (cm) < 90 em homens e < 80 em mulheres. • Bebidas alcoólicas: a ingestão não deve ultrapassar 30 g de álcool/dia. Esse limiar deve ser reduzido à metade para homens com baixo peso, mulheres, indivíduos com sobrepeso e/ou triglicerídeos elevados. • Exercícios físicos: atividades físicas e exercícios físicos leves a moderador em indivíduos sem doença cardíaca, cerebrovascular ou renal devem ser incentivados (caso surjam sintomas durante a prática, deve-se interromper a atividade e procurar o médico). Indivíduos hipertensos com comorbidades, sintomas ou que pretendem fazer atividades de alta intensidade oucompetitivas devem se submeter à avaliação médica prévia. A sessão de treinamento não deve ser realizada se a PA estiver acima de 160/105 mmHg → Realizar, pelo menos, 150 minutos por semana de atividade física moderada. Deve ser estimulada ainda a redução do comportamento sedentário, levantando-se por 5 minutos a cada 30 minutos sentado. • Respiração lenta: redução da frequência respiratória para menos de 6 a 10 respirações/minuto durante 15-20 minutos/dia para promover a redução na PA casual • Controle do estresse: apesar de ainda não terem confirmações sobre a eficácia, algumas práticas como: meditação, ioga, terapias de relaxamento, biofeedback, acunputura, respiração lenta guiada e etc podem auxiliar na redução da PA do paciente. • Espiritualidade: o desenvolvimento de uma espiritualidade consolidada pode diminuir a PA, por meio de modificações favoráveis de estilo de vida, como redução nos níveis séricos de glicose, colesterol, fibrinogênio, cortisol e citocinas inflamatórias Tratamento medicamentoso O objetivo do tratamento medicamentoso é de principalmente proteção cardiovascular. CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 6 As cinco principais classes de fármacos anti- hipertensivos são: • Diuréticos tiazídicos(DIU) • Bloqueadores dos canais de cálcio (BCC), • Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) • Bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA) • Betabloqueadores (BB) OBS! Outras classes de fármacos, como os alfabloqueadores, os simpatolíticos de ação central, os antagonistas da aldosterona e os vasodilatadores diretos, não foram amplamente estudadas, mas associam-se a maior taxa de eventos adversos e devem ser usadas quando não há controle da PA em uso de combinações utilizando-se as principais classes de fármacos Esquema terapêutico O tratamento medicamentoso pode ser feito por meio de uma monoterapia ou uma combinação de fármacos. • Monoterapia: estratégia anti-hipertensiva inicial para pacientes com HA estágio 1 ou com risco CV. O tratamento deve ser individualizado de acordo com as características do paciente. As classes preferenciais para uma monoterapia são: DIU, BCC, IECA ou BRA. • Multiterapia: estratégia preferencial para todos os hipertensos. O início do tratamento deve ser feito com combinação dupla de medicamentos que tenham mecanismos de ação distintos. Caso a meta pressórica não seja alcançada, ajustes de doses e/ou a combinação de fármacos estarão indicados. Características gerais dos medicamentos anti- hipertensivos Diuréticos tiazídicos Tem efeito natriurético, com do volume circulante, que parece ser o mecanismo de ação da da PA pela menor resistência periférica (os DIU mostram-se particularmente efetivos em pacientes com hipertensão baseada no volume, como os que apresentam doença renal primária e pacientes afro- americanos). Com a do volume circulatório, ocorreria maior ativação do SRAA, mas, aparentemente, os tiazídicos apresentam um efeito vasodilatador que potencializa a depleção de volume compensada. Deve-se dar preferência aos DIU tiazídicos (hidroclorotiazida) ou similares (clortalidona e indapamida) em doses baixas, pois são mais suaves e com maior tempo de ação (diuréticos de alça, como a furosemida, devem ser utilizados quando se tem condições clínicas de retenção de sódio e água). A clortalidona é um DIU mais potente utilizado em HA resistente, mas ela também causa maiores efeitos adversos, particularmente distúrbios hidreletrolíticos e metabólicos. Os DIU poupadores de potássio (espironolactona e amilorida) costumam ser utilizados em associação aos tiazídicos ou DIU de alça para atenuar ou corrigir a excreção de K+ (caliurese) Os principais efeitos adversos são: • Fraqueza • Cãibras • Hipovolemia • Disfunção erétil • Hipopotassemia: arritmias ventriculares. Bloqueadores dos canais de cálcio Esta classe de fármacos bloqueia os canais de cálcio na membrana das células musculares lisas das arteríolas. Tal mecanismo causa: da contração muscular dos cardiomiócitos e contração das arteríolas periféricas. Os BCC são classificados em: • Di-hidropiridínicos: exercem efeito vasodilatador predominante, atuando pouco nos cardiomiócitos → são + frequentes no tratamento anti- hipertensivo. Ex: anlodipino e nifedipino • Não di-hidropiridínicos: menor efeito vasodilatador e agem na musculatura e no sistema de condução cardíacos. Tem efeitos antiarrítmicos, função sistólica (perigoso para alguns pacientes) e PA. Ex: verapamil e diltiazem. Os efeitos adversos principais dos BCC são: • Edema maleolar: devido à ação vasodilatadora das arteríolas. CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 7 • Cefaleia: vasodilatação das arteríolas das meninges • Rubor facial • Dermatite ocre • Hipertrofia gengival Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECA) Tem ação principal na inibição da IECA, responsável pela transformação da ang I em ang II (tinha ação vasoconstritora e secretora de aldosterona – aumentava absorção de sódio), fazendo também uma da degradação da bradicinina (que tem ação vasodilatadora). Tais medicamentos são eficazes no tratamento da HA, reduzindo a morbidade e mortalidade CV. Mostram-se medicações comprovadamente úteis em muitas outras afecções CV, como em ICFEr e antirremodelamento cardíaco po ́s-IAM, além de possíveis propriedades antiaterosclero ́ticas. Também retardam o declínio da função renal em pacientes com doença renal do diabetes ou de outras etiologias, especialmente na presença de albuminúria. Alguns efeitos adversos dos IECAs são: • Tosse seca • Angioedema • Risco de complicações fetais em gravidas • Hiperpotassemia Bloqueadores dos receptores AT1 da angiotensina II (BRA) Bloqueia o receptor específico da angiotensina II que é responsável pela vasoconstrição e pela liberação de aldosterona pela suprarrenal. Os efeitos adversos principais são: • Exantema • Hiperpotassemia • Risco de complicações na gravidez Betabloqueadores Promovem a diminuição inicial do débito cardíaco e da secreção de renina, com a readaptação dos barorreceptores e diminuição das catecolaminas nas sinapses nervosas. São divididos em 3 categorias principais: • Não seletivos → bloqueia os receptores adrenérgicos beta-1 (miocárdio) e os beta-2 (músculo liso dos pulmões – broncodilatação; e vasos sanguíneo - vasodilatação). Ex: propranolol, nadolol e pindolol • Cardiosseletivos → bloqueiam preferencialmente os receptores beta-1 adrenérgicos. Ex: atenolol, metoprolol, bisoprolol e nebivolol (é o mais cardiosseletivo) • Ação vasodilatadora → manifesta-se por antagonismo ao receptor alfa-1 periférico (carvedilol) e por produção de óxido nítrico (nebivolol) O uso dos BB deve ser feito apenas em casos de indicação específica, pois o seu uso no tratamento da HA parece aumentar o risco de AVE, comparado aos outros anti-hipetensivos. Efeitos adversos: • Broncoespasmo • Bradicardia • Distúrbios da condução atrioventricular • Vasoconstrição periférica • Insônia, pesadelos, depressão, astenia e disfunção sexual. Os BB são contraindicados em pacientes com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus. Simpatolíticos de ação central Os alfa-agonistas de ação central agem por meio do estímulo dos receptores alfa-2 que estão envolvidos nos mecanismos simpatoinibitórios. Os efeitos bem definidos dessa classe são: diminuição da atividade simpática e do reflexo dos barorreceptores, o que contribui para a bradicardia relativa e a hipotensão notada na posição ortostática; discreta diminuição na RVP e no débito cardíaco; redução nos níveis plasmáticos de renina; e retenção de fluidos. São representantes desse grupo: metildopa, clonidina e o inibidor dos receptores imidazolínicos rilmenidina. Os efeitos adversosprincipais dos simpatolíticos de ação central são: • Metildopa → reações autoimunes, como febre, anemia hemolítica, galactorreia e disfunção hepática • Sonolência e sedação • Boca seca • Fadiga e hipotensão postural • Disfunção erétil Alfabloqueadores São antagonistas competitivos dos receptores alfa-1 pós-sinápticos, reduzindo a reduzindo a CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 8 resistência vascular periférica sem mudanças no débito cardíaco. Os principais representantes dessa classe são a doxazosina e a prazosina. Tem um feito adicional de relaxamento da musculatura do assoalho pélvico, que favorece o esvaziamento da bexiga nos pacientes com hiperplasia benigna de próstata. Os principais efeitos adversos são: • Hipotensão sintomática • Tolerância • Incontinência urinária em mulheres Vasodilatadores diretos Os medicamentos dessa classe, ativos por via oral, são a hidralazina e o minoxidil. Atuam diretamente, relaxando a musculatura lisa arterial. Os efeitos colaterais da hidralazina são cefaleia, flushing, taquicardia reflexa e reação lupus-like (dose-dependente). Seu uso pode também acarretar anorexia, náusea, vômito e diarreia. Os vasodilatadores podem provocar retenção de sódio e água, com o aumento do volume circulante e da taquicardia reflexa. Um efeito colateral frequente do minoxidil é o hirsutismo, que ocorre em aproximadamente 80% dos pacientes. Associação de fármacos anti-hipertensivos A associação de fármacos como terapia anti- hipertensiva apresenta melhor desfecho comparado com o início por meio da monoterapia. Isso se deve, pois há atuação de diversas vias para redução da PA, utilização das dosagens dos fármacos, efeitos adversos, efeito terapêutico. A monoterapia deve ser considerada apenas para hipertensos estágio 1 de baixo risco ou idosos muito frágeis. O polígono abaixo demonstra as combinações preferenciais de fármacos anti-hipertensivos, as não recomendadas e as possíveis, mas pouco testadas. OBS! Pacientes com estágio 3 de HA ou hipertensos resistentes devem fazer o controle tríplice da HA, por meio de IECA (ou BRA) + BCC diidropridínico +DIU tiazídico. O não alcance da meta pressórica com o esquema tríplice exige a utilização de um quarto fármaco, cuja opção preferencial atual é a espironolactona. Os fármacos BB, clonidina e doxazosina são opções de associações de 4º ou 5º fármacos, havendo ainda a possibilidade de adição de hidralazina. HA E CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS • Diabetes melito: É necessário iniciar o tratamento com uma PA de consultório >ou= 140/90 mmHg. Deve-se fazer o uso preferencial dos bloqueadores do SRAA + BCC ou DIU tiazídico. • Síndrome metabólica: iniciar tratamento com PA >ou= 140/90 mmHg. Uso preferencial de IECA ou BRA + BCC. • Doença arterial coronariana: utilizar BB, IECA ou BRA • Doença renal crônica em tratamento conservador: IECA ou os BRA estão indicados em hipertensos com ou sem albuminúria; DIU e BCC podem ser associados. • Insuficiência cardíaca: bloqueadores de SRAA, os BB e os antagonistas da aldosterona. HIPERTENSÃO ARTERIAL NA GESTAÇÃO Os distúrbios hipertensivos na gestação são umas das principais causas de mortalidade materna e perinatal em todo o mundo. As definições de hipertensão gestacional são: • Hipertensão gestacional: PAS ≥140 mmHg e/ou PAD ≥90 mmHg, ou ambos, medida em duas ocasiões com pelo menos 4 horas de intervalo • Hipertensão gestacional grave: PAS ≥160 mmHg e/ou PAD ≥110 mmHg, ou ambas, medidas em CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 9 duas ocasiões com, pelo menos, 4 horas de intervalo Classificação da HA na gestação • Pré-eclâmpsia: PAS ≥140 mmHg ou PAD ≥90 mmHg, ou ambos, em geral após 20 semanas de gestação e frequentemente com proteinúria. Na ausência de proteinúria, pode-se considerar o diagnóstico quando houver sinais de gravidade: trombocitopenia (< 100.000.109/L), creatinina > 1,1 mg/dL ou 2x creatinina basal, elevação de 2x das transaminases hepáticas, EAP, dor abdominal, sintomas visuais ou cefaleia, convulsões, sem outros diagnósticos alternativos • Hipertensão crônica: HA diagnosticada ou presente antes da gestação ou antes das 20 semanas de gestação; ou HA diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez e que não normaliza no período pós-parto. • Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia sobreposta: Pré-eclâmpsia em mulher com história de HA antes da gravidez ou antes de 20 semanas de gestação. • Hipertensão gestacional PAS ≥140 mmHg ou PAD ≥90 mmHg, ou ambas, em mulher com PA previamente normal, após 20 semanas de gestação, medida em duas ocasiões com, pelo menos, 4 horas de intervalo, sem proteinúria ou sinais de gravidade, e que retorna ao normal no período pós-parto Tratamento não medicamentoso O tratamento não medicamentoso isoladamente não deve ser utilizado em situações de PAS acima de 160 mmHg persistente por mais de 15 minutos. Uma hipertensão grave gestacional deve ser indicada para internação. Tratamento medicamentoso O tratamento medicamentoso urgente é indicado em caso de hipertensão grave e na presença de sinais premonitórios. Deve-se ter o objetivo de manter a PA entre 120-169/80-100. O início de medicação para gestantes com hipertensão abaixo de 160/110 mmHg é ainda controverso, exceto em gestantes com lesão de órgão-alvo (LOA). O uso de IECA, BRA e IDR são contraindicados na gestação. A terapia medicamentosa deve ser iniciada como monoterapia pelos medicamentos considerados de primeira linha (metildopa, nifedipina de ação prolongada ou betabloqueadores – exceto atenolol). Caso não ocorra o controle adequado, associar outro medicamento de primeira linha ou de segunda linha (diurético tiazídico, clonidina e hidralazina). O tratamento para emergência hipertensiva na gestante pode ser feito tanto com nifedipina (10 mg) por via oral quanto com hidralazina IV. O uso de nitroprussiato deve ser evitado, pois pode ocorrer impregnação fetal pelo cianeto. CRISE HIPERTENSIVA As crises hipertensivas são situações em que há aumento da PA sistólica (PAS) ≥ 180 e/ou diastólica (PAD) ≥ 120 mm Hg com sinais clínicos sintomáticos. Essas crises são divididas em dois tipos: • Urgência hipertensiva (UH): NÃO há lesão de órgãos-alvo aguda e sem risco iminente de morte • Emergência hipertensiva (EH): há LOA aguda e progressiva, com risco de morte iminente. OBS! Uma condição comum nos setores de emergência é a pseudocrise hipertensiva (PCH). Na PCH, não há LOA aguda ou risco imediato de morte. Geralmente, ocorre em hipertensos tratados e não controlados, ou em hipertensos não tratados, com medidas de PA muito elevadas, mas oligossintomáticos ou assintomáticos. Também se caracteriza como PCH a elevação da PA diante de evento emocional, doloroso, ou de algum desconforto, como enxaqueca, tontura rotatória, cefaleias vasculares e de origem musculoesquelética, além de manifestações da síndrome do pânico. As emergências hipertensivas podem aparecer com as seguintes classificações: CARDIOLOGIA: HIPERTENSÃO ARTERIAÇ 10 Deve-se rapidamente fazer uma anamnese e ex físico que busque a causa possível da crise hipertensiva e também busque por LOA agudas. É importante perguntar sobre na PA antecedente, tratamento para PA, uso de substâncias ilícitas e etc. Tratamento • Urgência hipertensiva: deve ser iniciado após um período de observação em ambiente calmo. No tratamento agudo indicam-se a captoprila e a clonidina, ambos VO. A captoprila, na dose de 25- 50mg, tem seu pico máximo de ação em 60 a 90 minutos, enquanto a clonidina apresenta ação rápida, em torno de 30 a 60 minutos, na dose de 0,100 a 0,200mg. • Emergência hipertensiva: paciente deve ir para a UTI, tratado com anti-hipertensivo IV e monitorado rigorosamente. Deve-se seguir ao seguintes etapas: o PAM em até 25% na 1ª hora o Manter PA entre 160/100 nas próximas 2 a 6horas o a PA para 135/85 em um período de 24 subsequente. No caso das EH, devemos também fazer o tratamento da LOA aguda. • Encefalopatia hipertensiva: ocorre pelo edema cerebral devido aos níveis de PA. evolui com cefaleia, náuseas ou vômitos. Podem surgir alterações do campo visual, fotopsia, visão turva, alucinações visuais, confusão mental, coma, crises convulsivas generalizadas e hiper-reflexia. O objetivo do tratamento consiste em diminuir a PA de forma lenta porque reduções intensas e rápidas podem provocar hipoperfusão cerebral e perda do mecanismo de autorregulação cerebral. Recomenda-se o uso de nitroprussiato de sódio (NPS) em nosso meio. • SCA: a EH pode ocorrer devido à um reflexo desencadeado pelo miocárdio isquêmico. Nesses casos, devemos a pós-carga, sem alterar a FC ou exageradamente a pré-carga. A meta de PAS < 140 mmHg (evitar < 120 mmHg) e PAD entre 70- 80 mmHg deve ser buscada, utilizando-se esmolol, metoprolol ou nitroglicerina. • Edema agudo de pulmão (EAP): paciente deve ir para UTI e ser controlado com nitroprussiato de sódio e nitroglicerina IV, associado com diurético de alça. • Dissecção aguda de aorta: É importante obter o controle adequado da dor (analgesia por opiáceos IV), o FC < 60 bpm e a PAS entre 100 e 120mmHg. A PAS < 120 mmHg deve ser alcançada em 20 min. O uso isolado de nitroprussiato de sódio não é ideal, pois promove o aumento da FC e da velocidade de ejeção aórtica, podendo piorar a dissecção. Assim, o NPS deve ser associado ao BB, inicialmente IV, de ação rápida e titulável (metoprolol, labetalol ou esmolol), para diminuir a FC. • EH pelo uso de substâncias ilícitas: as principais causadoras são a ecstasy, cocaína e o crack. Nos casos mais leves, podem-se usar benzodiazepínicos e NTG sublingual. Nos mais graves, provavelmente será necessária terapia IV, e os agentes de escolha são NTG, NPS ou fentolamina. É importante evitar os BB, pois podem levar à estimulação do receptor alfa- adrenérgico na presença do bloqueio beta- adrenérgico, causando espasmo de coronária. • Hipertensão maligna: caracteriza-se pela presença de hipertensão em geral grave associada a retinopatia com papiledema, com ou sem insuficiência renal e/ou cardíaca, necrose fibrinoide de arteríolas renais e endarterite obliterante, podendo apresentar evolução clínica rapidamente progressiva e fatal. Os pacientes devem ser internados para controle intensivo da PA com fármacos vasodilatadores de ação imediata, como NPS. Durante o controle agudo, deve-se instituir anti-hipertensivos de uso oral, incluindo diuréticos, bloqueadores do sistema renina-angiotensina, BB, vasodilatadores de ação direta (hidralazina), agonistas adrenérgicos centrais (clonidina e metildopa) e BCC, quando necessário o uso de vários fármacos
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