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DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 CAROS AMIGOS E ALUNOS É um prazer poder usufruir dos atuais meios de comunicação e me dirigir a todos vocês. Nesta apresentação vou passar algumas breves informações sobre minha pessoa e o curso que pretendo ministrar. Sou graduado e pós-graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Sempre fui o que se pode chamar de “concurseiro”. Exerci diversos cargos públicos, sempre por concurso, desde Escrevente, passando por Procurador do Estado e atualmente Juiz de Direito. Ao lado das funções públicas, sempre fui ligado à área do ensino. Para mim, uma atividade completa a outra e vou me mantendo atualizado. Iniciei minha carreira docente na própria PUC/SP, onde lecionei durante alguns anos. Atualmente dedico-me aos cursos preparatórios para concursos públicos, tendo me especializado no Direito Civil, matéria que possuo algumas obras e artigos publicados. Minha intenção com este curso é ministrar aulas especialmente direcionadas para o concurso de ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS, de uma forma clara e direta, fornecendo o máximo de informações ao aluno e abrangendo a totalidade do edital referente à matéria de Direito Civil, sem perder a objetividade e dispersar para temas que não caem nas provas, evitando opiniões pessoais e doutrinárias que não são acolhidas nos concursos. Para mim é um privilégio especial dar estas aulas para um concurso do Estado do Amazonas, pois minha esposa é juíza do Trabalho em Manaus... Como moro em São Paulo, minha “ponte aérea” é para Manaus. Já estou nessa vida há mais de um ano. E nesse período passei a admirar, ainda mais, o Estado do Amazonas, seus moradores, sua cultura e tradições e sua deliciosa culinária sem igual... Sem dúvida alguma é a minha “segunda casa”. Só não consegui me decidir se sou Caprichoso ou Garantido. Por enquanto acho que sou um legítimo Garanchoso. Dia 18 de abril próximo estarei mais uma vez em Manaus e apenas retornarei para São Paulo no dia 28 de abril... Voltando ao curso... nossa Banca Examinadora é a Fundação Getúlio Vargas (FGV). E forma de elaboração das questões é a tradicional, ou seja, questões objetivas de múltipla escolha com cinco alternativas, sendo que apenas uma deve ser assinalada. Lembramos que as provas realizadas pela FGV possuem um grau de subjetividade um pouco acima da média dos demais concursos. O que isso quer dizer? Quer dizer que é importante saber a literalidade da lei, pois muitas vezes cai o texto literal da lei no enunciado da questão. Mesmo assim o candidato deve tomar cuidado, pois o examinador costuma elaborar um enunciado grande com apenas uma palavra diferente do texto legal, tornando, com isso, a afirmação errada. Mas só isso não basta! Em muitas questões o DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2 examinador redige o enunciado de modo bem diferente do que está na lei; utiliza expressões diferentes das que constam na lei para verificar se o candidato realmente entendeu o “espírito da lei” ou se apenas houve “decoreba”. Assim, mais importante do que a simples literalidade da lei, o candidato precisa demonstrar que sabe o que a lei quer dizer com determinada afirmação. E aí vem a importância destas aulas, pois iremos “dissecar” os institutos legais para que o aluno aprimore a aprendizagem para melho interpretar os enunciados da questão da prova e fazer uma ligação com a norma jurídica. EDITAL PARA ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO TJ/AM Noções de Direito Civil: 1 Lei de introdução às normas do direito brasileiro. 1.1 Vigência, aplicação, interpretação e integração das leis. 1.2 Conflito das leis no tempo. 1.3 Eficácia da lei no espaço. 2 Pessoas naturais. 2.1 Existência. 2.2 Personalidade. 2.3 Capacidade. 2.4 Nome. 2.5 Estado. 2.6 Domicílio. 2.7 Direitos da personalidade. 3 Pessoas jurídicas. 3.1 Disposições gerais. 3.2 Domicílio. 3.3 Associações e fundações. 4 Bens públicos. 5 Prescrição. 5.1 Disposições gerais. 6 Decadência. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DAS AULAS Além da aula demonstrativa de hoje, teremos OUTRAS 03 (três) AULAS. Nosso programa, obedecendo rigorosamente o edital é o seguinte: AULA DEMO (01/04): Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Vigência. Aplicação. Interpretação e integração das leis. Conflito das leis no tempo. Eficácia da lei no espaço. AULA 01 (02/04): Pessoas naturais. Existência. Personalidade. Capacidade. Nome. Estado. Domicílio. Direitos da Personalidade. AULA 02 (09/04): Pessoas jurídicas. Disposições gerais. Domicílio. Associações e fundações. Bens públicos. AULA 03 (16/04): Prescrição e Decadência. Disposições Gerais. Vamos agora explicar como será desenvolvido este curso. Cada aula contém a matéria referente a um capítulo do Direito Civil que está no edital, sendo que a mesma será exposta de uma forma direta e objetiva. Durante as aulas forneço o maior número de exemplos possível. Tenho certeza que mesmo uma pessoa que não seja formada em Direito terá plenas condições de acompanhar o curso e entender tudo o que será ministrado. No entanto não posso fugir de algumas ‘complexidades jurídicas’, pois estas também costumam cair nas provas, principalmente nas DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 3 elaboradas pela FGV. Costumo dizer que os examinadores gostam de pedir “as exceções de uma regra...” e também “as exceções da exceção...”. Desta forma, darei um enfoque especial a estes aspectos, chamando a atenção do aluno quando um ponto é mais exigido no concurso e onde podem ocorrer as famosas “pegadinhas”. Em todas as aulas, após apresentar a parte teórica, com muitos exemplos práticos, sempre faço um quadro sinótico, que na verdade é o resumo da aula. É o que eu chamo de “esqueleto da matéria”. A experiência demonstra que esse “quadrinho” é de suma importância, pois se o aluno conseguir memorizá-lo, saberá situar a matéria e completá-la de uma forma lógica e sequencial. Portanto, após ler toda a aula, o aluno deve também ler (e reler) o resumo apresentado, mesmo que tenha entendido toda matéria. Sem dúvida alguma, esta é uma excelente maneira de fixação do conteúdo da aula. Além disso, é ótimo para rápidas revisões às vésperas de um exame. Ao final de cada aula também apresento os exercícios. São testes que já caíram em concursos anteriores. Como dissemos acima, nossa banca examinadora é a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Fizemos uma ampla pesquisa de todas as provas de Direito Civil realizadas por esta entidade. No entanto não há um número muito grande de provas e questões sobre todos os pontos do edital (diferentemente da FCC e do CESPE). Vamos inserir nas aulas todos os exercícios que achamos. Inclusive de provas para Procurador, Advogado e Juiz, em que a forma de elaborar a questão é o mesmo, porém com um grau maior de dificuldade. Levando isso em consideração, complementamos a aula com diversos exercícios de outras bancas examinadoras, mas com certa semelhança à forma que a FGV costuma elaborar seus exames. Finalmente, qualquer dúvida que porventura o aluno ainda tenha referente à aula deve ser encaminhada ao fórum deste site, para que eu possa respondê-la da melhor forma possível. Assim, as perguntas dos alunos e as minhas respostas ficarão disponíveis para todos os matriculados no curso, enriquecendo ainda mais o nosso projeto. Por esse motivo é importante que oaluno leia todas as perguntas e respostas que já foram elaboradas e encaminhadas, mesmo que feitas por outros alunos, pois às vezes as suas dúvidas podem ser as mesmas que outro aluno já formulou. Com a exposição da matéria teórica acompanhada de exemplos práticos, quadros sinóticos, resumos e uma boa quantidade de testes com gabarito comentado, possibilitando ainda ao aluno eliminar qualquer dúvida que reste através do nosso fórum, acreditamos ser este trabalho uma importante ferramenta para o conhecimento e aprimoramento nos estudos. Finalizo, desejando a todos os votos de pleno êxito em seus objetivos, com muita tranquilidade e paz durante os estudos e na hora da realização das provas. Um forte abraço a todos. DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 4 AULA DEMONSTRATIVA Meus amigos e alunos: antes de iniciar uma aula, costumo colocar no início e em destaque os itens que o edital expressamente exige e que serão abordados, bem como a legislação a ser consultada, para que o aluno acompanhe o que está sendo ministrado, facilitando o estudo. Vejamos: ����Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→→ Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Vigência. Aplicação. Interpretação e integração das leis. Conflito das leis no tempo. Eficácia da lei no espaço. ����Legislação a ser consultada: Decreto-Lei n° 4.657/42 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). Outra coisa: como nas aulas abordo diversos temas que estão no edital, para que o aluno possa melhor manusear o material, costumo fazer um “pequeno índice”. Assim, principalmente quando se deseja revisar apenas um item da matéria, ou tirar uma dúvida a respeito de um tema específico, pode ir “DIRETO AO PONTO”, utilizando este sumário. ÍNDICE Fontes de Direito Civil ...................................................................... 06 Características da lei ........................................................................ 09 Vigência das leis no tempo ............................................................... 09 Início da obrigatoriedade ........................................................... 10 Fim da obrigatoriedade .............................................................. 17 Repristinação ............................................................................. 20 Leis gerais e especiais ................................................................ 21 Conflito das normas no tempo .................................................... 22 Interpretação das leis ...................................................................... 25 Integração da norma jurídica ........................................................... 27 Antinomia: conflito entre as normas ................................................ 31 Vigência das leis no espaço .............................................................. 34 Estatuto de Direito Internacional .................................................... 36 RESUMO DA AULA ............................................................................ 40 Bibliografia Básica ........................................................................... 44 EXERCÍCIOS COMENTADOS .............................................................. 45 DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 5 Vamos então entrar na matéria... Mas... primeiro uma curiosidade. O Decreto-Lei n° 4.657/42 tinha como “nome” (ou ementa) “Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro”. Pois bem... a Lei n° 12.376 de 31 de dezembro de 2010 alterou esse nome para Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Ou seja, nossos parlamentares elaboraram uma lei apenas para alterar o nome da lei. Nada, absolutamente nada, mudou em seu conteúdo. E a intenção foi somente deixar claro o que já dizíamos há muito tempo: a Lei de Introdução não tem aplicação somente ao Código Civil, mas sim a todo o Direito, respeitadas as peculiaridades de cada matéria, como veremos. Observem que em muitos exercícios ainda se menciona a expressão LICC, mas isso não quer dizer que eles estão desatualizados, pois, como dissemos, a alteração foi só na nomenclatura e não no conteúdo da lei. Feita esta observação, comecemos... LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO Em 2003 entrou em vigor o novo Código Civil (Lei n° 10.406/02). Ele foi publicado no dia 10 de janeiro de 2002, mas somente entrou em vigor no ano seguinte. Antes disso já vigorava uma lei conhecida como Lei de Introdução ao Código Civil (ou simplesmente LICC), que é o Decreto-lei n° 4.657, de 04 de setembro de 1942, que atualmente é chamada de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (ou simplesmente LINDB). Importante salientar que a Lei de Introdução não é parte integrante do Código Civil. Ele não a revogou a Lei de Introdução, nem a incorporou em seu texto. Portanto, trata-se de uma outra lei. Ou seja, Código Civil e Lei de Introdução são leis autônomas e independentes entre si. Como diz seu próprio nome, suas normas são aplicáveis não só ao Direito Civil, mas também a todo nosso ordenamento jurídico (guardadas as peculiaridades de cada matéria). Na realidade a Lei de Introdução é um conjunto de normas sobre normas (alguns autores a chamam de lex legum: lei das leis), isto porque disciplina as próprias normas jurídicas, prescrevendo-lhes a maneira de aplicação e entendimento, predeterminando as fontes e indicando-lhes as dimensões espaço-temporais. Ela não rege a vida das pessoas (como o Código Civil), mas sim das próprias normas jurídicas, ultrapassando o âmbito do Direito Civil e atingindo tanto o direito privado quanto o público, salvo naquilo que for regulado de forma diferente na legislação específica. Contém normas de sobredireito (também chamadas de normas de apoio, pois visa regular outras normas). Trata-se de um código de normas. A doutrina a considera como uma “lei de introdução às leis” por conter princípios gerais sobre as normas sem qualquer discriminação, indicando como aplicá-las. E, reforçando, continua em vigor, a despeito do novo Código Civil, de forma autônoma e em sua plenitude. DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 6 RESUMINDO A LINDB • Arts. 1° e 2° →→→→ vigência e eficácia das normas jurídicas sob o aspecto temporal (ou seja, determinando como e quando a lei entra em vigor). • Art. 3° →→→→ obrigatoriedade geral e abstrata das normas; garantia da eficácia global da ordem jurídica (ou seja, não admite a ignorância de lei vigente). • Art. 4° →→→→ fontes e mecanismos integração das normas (ou seja, quando houver lacunas na lei). • Art. 5° →→→→ critérios de interpretação das normas (hermenêutica jurídica). • Art. 6° →→→→ direito intertemporal (solução de conflitos temporais, dando certeza e segurança no ordenamento). • Arts. 7° a 19 →→→→ conflito das normas no espaço (território). Também contem normas de Direito internacional público e privado (ex.: competência judiciária brasileira, prova de fatos ocorridos no estrangeiro, eficácia de tratados e convenções assinadas pelo Brasil, execução de sentença proferida no exterior, atos praticados pelas autoridades consulares brasileiras no exterior, etc.). FONTES DO DIREITO CIVIL Inicialmente, vamos falar sobre as “Fontes de Direito Civil”. Na verdade a expressão “Fontes do Direito” é figurada. Em sentidocomum, fonte significa a origem, o nascedouro (daí fonte de água). Em sentido técnico significa onde o direito nasce ou o meio pelo qual se estabelecem as normas jurídicas. Para fundamentar uma sentença, o Juiz precisa apontar o dispositivo (que é a fonte) para fundamentá-la. São necessários dois elementos para caracterizar uma fonte de direito: segurança e certeza. Cada autor possui uma classificação própria de fonte de direito. Citamos duas formas de se classificar. Aliás, muito parecidas. A primeira é a seguinte: • Fontes formais: formadas pela lei, a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Lembrem-se que no Brasil a lei é a principal fonte de Direito. As demais são apenas formas acessórias. Mas nem por isso são menos importantes, especialmente para fins de concurso. • Fontes não-formais: formadas pela doutrina e pela jurisprudência. Para outra corrente doutrinária, a classificação é um pouco diferente: • Fontes diretas ou imediatas: são as que geram por si mesmas a regra jurídica (lei e costumes). Observem que esta classificação possui um caráter mais restrito, pois não menciona a analogia e os princípios gerais de direito, que seriam formas de integração (e não fontes) da norma jurídica. DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 7 • Fontes indiretas ou mediatas: são as que não geram por si mesmas a regra jurídica, mas contribuem para que a mesma seja elaborada (doutrina e jurisprudência). FONTES INDIRETAS DOUTRINA é a interpretação da lei feita pelos estudiosos da matéria. Também é chamada de Direito Científico. Forma-se doutrina por meio dos pareceres dos jurisconsultos, das pesquisas, ideias e ensinamentos dos professores, das opiniões e juízos críticos dos tratadistas e dos trabalhos forenses, especialmente se há alguma controvérsia. Esta nossa aula, por exemplo, embora singela sob o ponto de vista jurídico, não deixa de ter um conteúdo doutrinário. JURISPRUDÊNCIA é a interpretação da lei feita pelos juízes em suas decisões. Como fonte de direito podemos dizer que a jurisprudência é o conjunto uniforme, constante e pacífico das decisões judiciais sobre determinada matéria em determinado sentido. “Uma andorinha não faz verão” e, da mesma maneira, uma decisão solitária não constitui jurisprudência. Por isso é necessário que as decisões se repitam e sem variações de fundo. Costuma-se usar o termo “jurisprudência mansa e pacífica” quando as decisões não sofrem alterações em julgados da mesma natureza. Quanto à importância dela, diversificam os sistemas jurídicos contemporâneos. Para os anglo-saxões, de direito costumeiro (dizemos direito consuetudinário – direito dos costumes), ela é de suma importância; a pessoa que tem a jurisprudência a seu favor certamente ganhará a causa (common law). Já para o nosso sistema jurídico, teoricamente, ela não tem tanta relevância, pois nosso sistema é baseado nas leis (civil law). No entanto, na prática, a jurisprudência tem-se revelado como uma importante fonte criadora de Direito e uma ótima ferramenta para os juristas. Basta verificar a quantidade de Súmulas de Jurisprudência de nossos Tribunais Superiores. A jurisprudência é fonte indireta de direito porque muitas vezes cria soluções não encontradas na lei ou em outras fontes. Mas, embora se constitua numa importante fonte de consulta, os Juízes não são obrigados a segui-la. É possível que a partir de agora a jurisprudência tenha maior relevância no cenário do Direito, pois a chamada “Reforma do Poder Judiciário” (Emenda Constitucional n° 45/04) aprovou a “Súmula de Efeitos Vinculantes”. Há uma grande discussão a respeito do tema, dividindo os autores a respeito dos “prós e contras” do dispositivo, pois por um lado ela “engessaria” a magistratura, tornando o direito estático, impossibilitando a interpretação do Juiz e afetando sua independência. Mas por outro lado dará uma melhor igualdade sistêmica, conferindo maior homogeneidade nas decisões judiciais e limitando o excessivo número de recursos para matérias que já foram amplamente debatidas, desafogando o Poder Judiciário. Mas não estamos aqui para defender uma ou outra posição. Nosso objetivo é dizer que atualmente elas existem, estão previstas na Constituição e por isso devem ser cumpridas. E caem nos concursos... Explicando melhor o assunto: Súmulas são enunciados que, sintetizando as decisões assentadas pelo respectivo Tribunal em relação a determinados temas DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 8 específicos de sua jurisprudência, servem de orientação para toda comunidade jurídica; são extraídas de reiteradas decisões judiciais em um mesmo sentido. As Súmulas podem ser vinculantes ou não vinculantes. As de efeito vinculante estão fundamentadas no art. 103-A da Constituição Federal, dispositivo este regulamentado pela Lei n° 11.417/06. Elas somente podem ser editadas pelo Supremo Tribunal Federal, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços de seus membros, depois de reiteradas decisões sobre matéria constitucional. A partir de sua publicação na imprensa oficial ela terá um efeito chamado “vinculante”, que torna estas Súmulas obrigatórias aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública (direta e indireta), nas esferas federal, estadual e municipal. Também poderá ser revisada ou cancelada pela nossa Suprema Corte, na forma estabelecida em lei. Alguns autores entendem que estas súmulas, ainda que tenham efeito vinculante, por não serem atos normativos (e sim interpretativos do STF), são fontes indiretas. Já outros autores entendem que o efeito vinculante da súmula é a sua obrigatoriedade, conferida a determinado enunciado jurisprudencial. Neste caso específico, afasta-se a mera orientação, passando a obrigar o judiciário e os órgãos da administração a adotarem o conteúdo dela. Atribuindo-se as características essenciais de imperatividade e coercibilidade, passam a ser fontes diretas (um pouco de common law em nosso direito). Existe também a chamada “Súmula Impeditiva de Recurso” (criada tanto pelo Supremo Tribunal Federal como pelo Superior Tribunal de Justiça). Por força dela não cabe recurso da decisão quando o Juiz segue o entendimento de qualquer dessas Súmulas. FONTES DIRETAS Falemos, agora sobre as Fontes Diretas, que são as mais importantes para nosso sistema jurídico e, por isso mais complexas exigindo um estudo mais aprofundado: COSTUMES Costume é o uso reiterado, constante, notório e uniforme de uma conduta, na convicção de ser a mesma (a conduta) obrigatória. Falaremos mais acerca dos costumes no tópico “formas de integração das normas jurídicas”. Isso porque o costume pode ser considerado como fonte de Direito e também como forma de integração da norma jurídica. LEI É a principal fonte de Direito no Brasil. Etimologicamente o vocábulo lei é originário do verbo latino legere = eleger, escolher (em sentido figurado seria a escolha de uma determinada regra dentro de um conjunto). A lei pode ser definida de vários modos. Para conceituá-la adotamos o ensinamento da Professora Maria Helena Diniz: Lei é a norma imposta pelo Estado e tornada obrigatória na sua observância, assumindo forma coativa. Também podemos conceituá-la como sendo um preceito escrito formulado com solenidade pela autoridade competente, sendo instituidora de uma ordem jurídica, impondo-se coercitivamente a todos (somente o Estado detém o monopólio da força coercitiva), protegendo interesses e normatizando as ações. DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSORLAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 9 Atualmente há uma exigência de maior certeza e segurança para as relações jurídicas. Por isso, nas sociedades modernas, há um entendimento de supremacia da lei, da norma escrita sobre as demais fontes. Portanto a lei é, indiscutivelmente, a fonte mais importante na ordem jurídica brasileira. Trata- se, portanto, de uma norma jurídica escrita, elaborada pelo Poder Legislativo, por meio de um processo adequado. Vejam o que diz nossa Constituição Federal: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art. 5°, inciso II: Princípio da Legalidade). E o art. 4° da Lei de Introdução ao Código Civil determina que somente quando a lei for omissa é que se aplicarão as demais formas de expressão de direito. O Código de Processo Civil, no seu art. 126, também prevê que “o juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normais legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito”. CARACTERÍSTICAS DA LEI • Generalidade: não se dirige a um caso particular, mas a um número indeterminado de indivíduos (pode ser a todos os cidadãos em geral ou a uma categoria de pessoas, como um Regulamento Disciplinar da Polícia Militar). • Imperatividade: impõe um dever, uma conduta a ser observada pelos indivíduos. Trata-se de ordem, quando exige a prática de uma ação ou uma proibição quando exige uma abstenção. • Autorizamento: autoriza que o lesado pela violação exija o cumprimento dela ou a reparação pelo mal causado. • Permanência: a lei não se exaure numa só aplicação; ela perdura até que seja revogada por outra. No entanto, como veremos adiante, algumas normas são temporárias, como por exemplo, as disposições transitórias de uma lei, as leis orçamentárias, etc. • Competência: deve emanar de autoridade competente, ou seja, respeitando o processo legislativo previsto na Constituição. Se o ato é emanado de autoridade incompetente é considerado nulo, não sendo possível a sua convalidação e não estando capaz de produzir efeitos, podendo haver o questionamento sobre isso perante o Pode Judiciário. Observação Alguns autores ainda acrescentam como característica o registro escrito da lei, pois garante maior estabilidade das relações jurídicas, com a sua consequente divulgação em órgãos oficiais (publicação em Diário Oficial). I. VIGÊNCIA DAS LEIS NO TEMPO Toda norma jurídica tem um âmbito de aplicação temporal, espacial, material e pessoal, dentro dos quais ela tem vigência e validade. Vamos iniciar DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 10 nosso estudo quanto à vigência, analisando as leis sob o aspecto temporal. Depois passaremos para o âmbito territorial. As leis também possuem um ciclo vital: nascem, aplicam-se a determinadas situações, podem ser modificadas e “morrem”. São regidas por dois princípios fundamentais: 1. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DAS LEIS (também chamado de princípio da inescusabilidade da ignorância das leis). Publicada a lei, ninguém se escusa de cumpri-la alegando que não a conhece (art. 3°, LINDB), tornando-se obrigatória para todos os seus destinatários (ignorantia legis neminem excusat). Tal dispositivo visa garantir a estabilidade e a eficácia do sistema jurídico que ficaria comprometido se fosse admitida a alegação de ignorância de lei em vigor. Segundo a doutrina, três teorias procuram justificar este preceito: a) Presunção legal: uma vez publicada, presume-se que todos leram e tomaram conhecimento do teor da lei, tornando-se conhecida de todos. b) Ficção: pressupõe que se uma lei foi publicada torna-se conhecida de todos. c) Necessidade social: sustenta que a lei é obrigatória e deve ser cumprida por todos não por ser de conhecimento ficto ou presumido, mas para tornar possível a convivência social. É a mais aceita no mundo jurídico, para não se estabelecer o caos ou a anarquia. Em consequência, não é necessário se provar em juízo a existência de uma lei, pois parte-se do pressuposto que o “Juiz conhece o direito” (jura novit curia). Mas isso não se aplica ao direito municipal, estuadual, estrangeiro ou consuetudinário (art. 337 do Código de Processo Civil). O erro de direito (que seria a alegação de desconhecimento da lei) só pode ser invocado em raríssimas ocasiões e quando não houver o objetivo de furtar-se o agente ao cumprimento da lei (serve para justificar a boa-fé no descumprimento de um contrato, sem intenção de descumprir a lei). Reforçando: para a LINDB o desconhecimento da lei não pode ser alegado como escusa de seu cumprimento; já para o Código Civil pode haver tal alegação em situações especialíssimas (art. 139, III). 2. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DAS LEIS. A partir de sua vigência, a lei tem eficácia contínua, até que outra a modifique ou revogue (embora possam existir “leis temporárias”, conforme veremos adiante: art. 2°, LINDB). O desuso ou o decurso de tempo, não fazem com que a lei perca sua eficácia. INÍCIO DA OBRIGATORIEDADE DAS LEIS A criação de uma lei obedece a um procedimento próprio, definido nas normas constitucionais (arts. 59 a 69, CF/88). Há todo um processo solene de elaboração da lei, chamado de processo legislativo, que geralmente passa por cinco etapas. Embora este não seja um tema específico do Direito Civil é conveniente fazer um resumo sobre o tema. Há várias espécies de leis, DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 cada uma possui peculiaridades próprias. Vamos falar sobre o “processo padrão” (ou processo legislativo ordinário): A) INICIATIVA. É o ato que inicia todo o processo legislativo. Trata-se da faculdade conferida a alguém ou a algum órgão para apresentar um projeto de lei. A Constituição confere legitimação a várias pessoas e órgãos para a apresentação de projetos de lei ao Poder Legislativo. Na área federal, dependendo da matéria, cabe: 1. Iniciativa Parlamentar: a qualquer membro ou comissão do Poder Legislativo. 2. Iniciativa Extraparlamentar: ao Presidente da República, Supremo Tribunal Federal, demais Tribunais Superiores, Procurador Geral da República e também aos cidadãos em geral (iniciativa popular), como previsto no art. 61, CF/88. Nesta última hipótese o caso mais famoso foi o da autora de novelas Glória Peres, que perdeu uma filha assassinada e liderou uma campanha vitoriosa por todo Brasil para incluir o homicídio qualificado como crime hediondo. B) DISCUSSÃO E APROVAÇÃO. Apresentado o projeto são realizados estudos, debates, redações, correções, emendas e votação do projeto. Este trabalho é chamado de deliberação parlamentar. No âmbito federal o projeto deve ser aprovado pelas duas Casas Legislativas (Iniciadora e Revisora). No caso de uma lei ordinária, que trata, em tese, de matérias mais simples, a aprovação se dá por maioria simples de cada Casa Legislativa. Já uma lei complementar possui um quorum qualificado (maioria absoluta), isto para que se tenha certeza de que aquele assunto tratado realmente reflete o interesse da sociedade. Lembrando: na maioria das vezes a Casa Iniciadora é a Câmara dos Deputados. Isso ocorre quando o projeto é apresentado por um Deputado Federal, pelo Presidente da República, pelo Supremo Tribunal Federal, pelos Tribunais Superiores, etc. A exceção ocorre quando o projeto é de autoria de um Senador ou comissão do Senado. Neste caso a Casa Iniciadora é o próprioSenado Federal. A Casa Iniciadora pode aprovar ou rejeitar o projeto. Se for rejeitado, será arquivado, não podendo ser apresentado outro sobre a matéria na mesma sessão legislativa, salvo se houver proposta da maioria dos Deputados ou dos Senadores. Aprovado na Casa Iniciadora (com ou sem emendas) o projeto segue para a Casa Revisora, para nova deliberação. Ela poderá: a) aprovar integralmente o projeto (segue- se, então, para a próxima etapa, que é a sanção ou veto); b) emendar o projeto (neste caso as emendas – somente as emendas – retornam para a Casa Iniciadora, podendo aprová-las ou rejeitá-las); ou c) simplesmente rejeitar o projeto (neste caso ele será arquivado). Não há um poder ilimitado para apresentar emendas; elas devem ser relacionadas ao tema de que trata o texto. Sendo o projeto de iniciativa exclusiva do Presidente da República, não serão admitidas emendas que acarretem aumento da despesa prevista, salvo se se tratar de lei orçamentária (este “salvo”, como temos visto na prática, é uma “festa”...). C) SANÇÃO OU VETO. Nesta fase o chefe do Poder Executivo participa do processo (deliberação executiva). DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 12 1. Com a sanção ele manifesta a sua concordância com o projeto aprovado pelo Poder Legislativo. Há uma conjugação das vontades dos Poderes Legislativo e Executivo, nascendo a lei. A sanção incide em um projeto de lei e, ao incidir, faz com que este projeto se transforme em lei. O projeto pode ser sancionado de forma expressa (quando o Executivo se manifesta por despacho, aprovando o projeto) ou tácita (quando o Executivo simplesmente se omite, deixando de apreciar o projeto no prazo de 15 dias úteis), conforme estabelece o art. 66, §3°, CF/88. 2. Com o veto o chefe do Executivo manifesta sua recusa ou não- concordância com o projeto de lei. O veto é irretratável e deve ser sempre expresso e motivado. Não há o chamado “veto tácito”, pois o silêncio do Chefe do Executivo implica em sanção. O veto pode ser total, quando atinge todos os dispositivos do projeto ou parcial, quando atinge um ou alguns dos dispositivos do projeto. Como falei acima, o veto deve ser motivado. E são dois os motivos para se vetar: inconstitucionalidade e/ou inconveniência. Costuma- se dizer que o veto é jurídico (caráter formal) quando o projeto é considerado inconstitucional; ele contraria a Constituição. Por outro lado ele pode ser político (caráter material - mérito), ou seja, contrário ao interesse público; o Chefe do Executivo faz um juízo sobre a inconveniência de se aprovar determinada matéria. Assim, um projeto pode ser constitucional, e, mesmo assim, ser vetado por não ser conveniente para o interesse público. O veto só pode ser supressivo, ou seja, o Chefe do Executivo nada pode acrescentar ao projeto; ele somente pode retirar. Não pode haver veto de palavras isoladas; isso para evitar alterações ou inversões de sentido (ex.: vetar a palavra “não”). O veto, ainda que parcial, deve abranger o texto integral do artigo, de parágrafos (§1°, §2° ...), de incisos (I, II, III...), ou alíneas (“a”, “b”, “c”...). Por outro lado o veto pode ser superado (ou derrubado). Isto é, ocorrido o veto, o Presidente da República comunica ao Presidente do Senado os motivos do veto no prazo de 48 horas e o Congresso Nacional irá reapreciar a matéria, no prazo de 30 dias. A votação será feita pelo Congresso Nacional, de forma conjunta, mas os votos dos Deputados e Senadores serão computados separadamente. Ou seja, embora a sessão seja conjunta, para derrubar o veto é necessária a maioria absoluta dos Deputados e dos Senadores. Sendo o veto total e não sendo alcançada a maioria absoluta em cada Casa, encerra-se o processo legislativo (o projeto será arquivado). Se o veto for parcial e o mesmo for mantido, o próprio Presidente do Congresso promulgará a lei (evidentemente que somente com as partes não vetadas), uma vez que o texto já estava com a concordância com o Chefe do Executivo. Se o veto for derrubado, o projeto volta ao Chefe do Executivo apenas para a promulgação. D) PROMULGAÇÃO. Decorre da sanção e tem o significado de proclamação, de “ateste de validade de lei”. Dá-se conjuntamente com a sanção, quando o Presidente da República assina o projeto de lei. Promulgar é declarar a existência de uma lei, inovando-se a ordem jurídica. Costuma-se dizer que “a lei nasce com a promulgação”. Quando está escrito no texto da lei ...faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei... implicitamente quer dizer que a lei também está sendo promulgada, no mesmo tempo e instrumento. A sanção transforma o projeto de lei em lei, por isso o DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 13 que se promulga é a lei (e não o projeto). O Chefe do Executivo atesta perante a sociedade a existência válida de uma lei, ordenando-lhe o respectivo cumprimento. Lembrando que não há sanção ou veto no caso de uma Emenda Constitucional, mas sim de promulgação pelas mesas da Câmara e do Senado. Nos casos de sanção tácita (transcorreram 15 dias úteis sem manifestação do Executivo) ou derrubada de veto, o Chefe do Executivo terá 48 horas para promulgar a lei. Não o fazendo no prazo a atribuição cabe ao Presidente do Senado. E) PUBLICAÇÃO. É o ato por meio do qual se dá a divulgação da existência da nova lei em órgão oficial, tornando-se, portanto, conhecida de todos (trata- se de uma presunção). A finalidade da publicação é garantir (ao menos potencialmente) que uma lei seja conhecida por todos os que estarão sujeitos ao seu comando; é uma condição de vigência e de eficácia da lei. Como já dissemos, a teoria mais aceita para justificar a obrigatoriedade da lei para todos é a da necessidade social. Com a publicação encerra-se o processo legislativo. Resumindo Observando-se o processo de criação de uma lei (processo legislativo) notamos que a lei só deixa de ser um projeto quando ocorre a promulgação. Com ela tem-se a existência da lei, confirmando sua executoriedade (possibilidade de ser executada). Todavia, para que possa ser aplicada e possa produzir seus efeitos, a lei deve ser obrigatória, e a obrigatoriedade depende de sua publicação oficial. Mas não é só, para que a lei possa obrigar seus destinatários não basta a simples publicação; é preciso ainda que a lei possua vigência. Assim, mesmo antes de ser publicada, uma lei já é executável e existente. No entanto, ainda que exista e que se possa cobrar sua produção de efeitos, só isso não basta. É preciso, também, que se tenha dado conhecimento aos destinatários da lei, o que ocorre mediante sua publicação em veículo oficial. Com isso pode-se falar que ela é obrigatória. E ainda assim, para que possa produzir seus efeitos ela precisa estar vigente, ou seja, apta para produzir seus efeitos. Frases da doutrina referentes a este tópico que costumam cair em concurso: “A promulgação, por ser ato de competência do Executivo, é que dará força executória à lei, que tenha sancionado, dando-lhe autenticidade”. “A executoriedade é efeito da promulgação; a obrigatoriedade é efeito da publicação”. “A obrigatoriedade supõe a publicação, sendo que a lei só a adquirirá após a vacatio legis” (que veremos mais adiante). ����IMPORTANTE ���� Distinção entre validade, vigência e eficácia. a) Validade: qualidade da norma por terem sido obedecidas as condições formais e materiais para sua produção. Validade Formal: norma produzida por autoridade legítima e competente (competência para elaboração da lei), além da tramitação pelo devido processo legislativo e consequenteintegração no sistema jurídico da sociedade. Validade Material: diz respeito ao conteúdo da norma; se está de acordo com nosso sistema jurídico (ex.: respeito à Constituição). DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 14 b) Vigência: deriva da expressão latina vigentia (do verbo vigere, vigens – estar em voga, vigorar), que significa a qualidade de vigente, o tempo durante o qual uma coisa vige ou vigora. Refere ao intervalo de tempo em que a norma jurídica está legalmente autorizada a produzir seus efeitos. É o período de vida da lei, que vai do momento em que ela entra em vigor (passa a ter força vinculante; início da obrigatoriedade) até o momento em que é revogada, ou em que se esgota o prazo prescrito para sua duração (lei temporária). Lei em vigor é a que se mantém em voga, para ser efetivamente aplicada aos casos sob o seu regime. Como veremos a seguir, uma lei pode ter sido publicada e ainda não estar vigorando, pois a própria lei marcou um prazo para que ela entre em vigor (vacatio legis). Outro tópico interessante aqui é a diferença entre vigência e vigor. Como vimos, vigência está relacionada com o período de vida da lei; já vigor está relacionado com a força vinculante da lei. Observem o art. 2°, LINDB, que aprofundaremos mais adiante: “Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. c) Eficácia (ou efetividade): refere-se aos efeitos ou consequências da norma jurídica; é a qualidade da norma que está em vigor no tocante à possibilidade de produção de efeitos concretos, seja porque foram cumpridas as condições exigidas para isso (eficácia jurídica ou técnica), seja porque estão presentes as condições fáticas exigíveis para sua observância, espontânea ou imposta, ou para a satisfação dos objetivos pretendidos. Neste último caso leva-se em conta se a lei atende aos anseios da sociedade e se os destinatários da norma a estão cumprindo (eficácia social da norma). No entanto, na prática, como veremos, as pessoas não podem se eximir do cumprimento de suas disposições. Quase todas as leis que entram em vigor, também possuem eficácia. No entanto, há normas que foram editadas, mas ainda não foram regulamentadas. Já outras exigem que o Estado crie um órgão que viabilize sua execução. Portanto, pode ocorrer que uma lei seja válida e possua vigência (já está vigorando), estando apta a produzir efeitos, porém ainda não tenha eficácia (não produzindo efeitos concretos), pois depende da prática de algum ato por parte do Estado. REGRAS DA LINDB SOBRE O INÍCIO DA OBRIGATORIEDADE PRIMEIRA REGRA. Salvo disposição em contrário, uma lei começa a vigorar, em todo o País, quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada (art. 1°, caput, LINDB). Essa regra não é absoluta. Na prática quase todas as leis contêm em seu texto disposição que elas entram em vigor “na data de sua publicação”. O espaço compreendido entre a publicação da lei e sua entrada em vigor (quando há esse espaço de tempo) denomina-se vacatio legis. Trata-se de uma expressão latina, muito comum em concursos, que significa “vacância da lei”. Geralmente este prazo é estabelecido para melhor divulgação dos textos legais antes que eles entrem em vigor e se tornem obrigatórios e para que os órgãos da administração se aparelhem melhor ao novo texto legal. Enquanto DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 15 não transcorrido esse período, a lei nova, ainda que já publicada, não tem força obrigatória ou vinculante. Observem: a norma é válida, mas ainda não é vigente. Notem que esse mesmo dispositivo também consagrou o princípio da vigência sincrônica (sincronismo significa ao mesmo tempo) ou sistema simultâneo (princípio da simultaneidade ou prazo único). Ou seja, a lei entra em vigor a um só tempo em todo o território nacional (portanto, não há vigência progressiva da lei). Trata-se de um prazo único para todo País (45 dias após a sua publicação oficial), sendo simultânea a sua obrigatoriedade. Quanto ao prazo de vacatio legis, as leis podem ser classificadas em: a) Lei com vacatio legis expressa: a própria lei faz referência ao seu período de vacatio. O melhor exemplo é o atual Código Civil, que prevê em seu art. 2.044: “Este Código entrará em vigor um ano após a sua publicação”. b) Lei com vacatio legis tácita: o texto da lei é omisso em relação ao momento em que ela entra em vigor; neste caso ela passará a vigorar 45 dias após a publicação; é a regra teórica do art. 1°, caput, LINDB (raríssimo de se encontrar na prática). c) Lei sem prazo de vacatio legis: a lei entra em vigor na data de sua publicação, devendo esta frase constar de seu texto. ����Art. art. 8°, da Lei Complementar n° 95/98 (com texto modificado pela Lei Complementar n° 107/01 e regulamentada pelo Decreto n° 4.176/02, que dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal): “A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula entra em vigor na data de sua publicação para as leis de pequena repercussão”. Resumindo: uma lei pode entrar em vigor na data de sua publicação ou em outra data mais à frente, desde que haja previsão expressa no seu texto. Isto é assim devido à importância ou urgência de determinada lei e a maior ou menor dificuldade de adaptação da sociedade a esta nova lei. Somente quando não houver expressa disposição na própria lei acerca da data em que ela entrará em vigor (omissão proposital da lei), aí sim, ela entrará em vigor em 45 dias após a publicação. SEGUNDA REGRA. Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada (art. 1°, §1° da LINDB). Isto é, se uma lei for editada no Brasil, mas para surtir efeitos no estrangeiro (em geral quando cuida de atribuição de ministros, embaixadores, cônsules, convenções de direito internacional, etc.) e esta lei for omissa quanto à data que entrará em vigor (a data de sua vigência efetiva), esta lei somente entrará em vigor 03 (três) meses após a sua publicação. DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 16 ���� Atenção ���� Como vimos, a regra (teórica) quanto ao prazo para uma lei começar a vigorar em todo País é de 45 dias depois de oficialmente publicada; já o prazo para vigorar nos Estados estrangeiros é de 03 meses (e não 90 dias como às vezes eu vejo cair em concursos, como uma forma de “pegadinha”). Parece ser óbvio, mas é importante deixar claro que para o Direito, 03 meses é prazo bem diferente do que 90 dias! Há um “macete” bem manjado para não fazer confusão: esTRangeiro = TRês meses. TERCEIRA REGRA. Uma lei pode ter sido publicada com algum erro substancial, implicando em uma divergência de aplicabilidade (geralmente são erros materiais ou falhas de ortografia). O art. 1°, §3° da LINDB determina que “se antes de entrar em vigor ocorrer nova publicação desta lei, destinada à correção de seu texto, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação”. Exemplo: uma lei foi publicada em determinado dia e é omissa em relação ao dia que entrará em vigor. Assim, somente entrará em vigor 45 dias após a publicação. Vinte dias depois de publicada (portanto ainda estamos no curso do prazo de vacatiolegis), alguém notou que houve um erro no texto da lei. Desta forma ela deve ser republicada. E aquele prazo de 45 dias recomeça a contar; inicia-se novamente a contagem do prazo de vacatio a partir do dia da republicação da lei. Notem que continua sendo a mesma lei. QUARTA REGRA. As emendas e correções de texto de lei que já tenha entrado em vigor consideram-se lei nova (art. 1°, §4°, LINDB). Exemplo: uma lei foi publicada, cumpriu o prazo de vacatio legis e entrou em vigor. Alguns dias depois, um erro foi notado. Neste caso, quando houver a “republicação”, esta será considerada como lei nova. No entanto, para haver esta “republicação de correção”, é necessário um novo processo legislativo, pois se trata de lei nova. Os direitos adquiridos na vigência da lei emendada serão resguardados. Admite-se que o Juiz ao aplicar determinada lei corrija um evidente erro ortográfico, mas ele não pode alterar erros substanciais, que podem alterar o sentido da norma; nesse caso é imprescindível a edição de uma nova lei. Resumindo: norma corretiva • Correção antes da publicação →→→→ a norma pode ser corrigida sem maiores problemas. • Correção após a publicação e durante a vacatio →→→→ trata-se da mesma lei; sendo o texto republicado por incorreção, conta-se novo prazo de vacatio, a partir da republicação (veja mais abaixo a “questão polêmica). • Correção após entrar em vigor →→→→ a lei somente pode ser corrigida mediante a edição de uma nova lei, após o trâmite do devido processo legislativo. � Questão Polêmica � Digamos que uma lei esteja no período de vacatio legis e quase no final do prazo ela foi republicada com algumas modificações. DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 17 Pergunta-se: a lei inteira deve cumprir novo prazo de vacatio? Ou aplica-se o novo prazo de vacatio apenas àquilo que foi modificado pela nova publicação? A professora Maria Helena Diniz, em sua obra, “Lei de Introdução ao Código Civil Interpretada” (Ed. Saraiva – 13a Edição - 2007), pondera que: “Se apenas uma parte da lei for corrigida o prazo recomeçará a fluir somente para a parte retificada, pois seria inadmissível, no que atina à parte certa, um prazo de espera excedente ao limite imposto para o início dos efeitos legais, salvo se a retificação afetar integralmente o espírito da norma” (grifos meus). Portanto, diante dessa situação, devemos analisar cada caso em concreto. Se a parte corrigida afetar a norma de uma forma geral, a lei inteira deve esperar o novo prazo de vacatio. Mas se a parte corrigida não afetar o espírito da lei, ou for independente em relação a ela, nada impede que a lei entre em vigor, excetuada a parte que foi modificada, recomeçando-se o prazo de vacatio apenas naquilo que foi modificado. ���� Importante ���� Contagem do prazo da vacatio Conforme o art. 8°, §1° da LC n° 95/98, o prazo de vacatio legis conta- se: incluindo-se o dia do começo (ou seja, o dia da publicação da lei) e também do último dia do prazo (que é o dia do seu vencimento). Assim, a lei entrará em vigor no dia subsequente a sua consumação integral (ainda que se trate de domingo ou feriado), ou seja, no dia seguinte ao último dia de prazo. Observação. Vale mencionar que não há vacatio legis em caso de atos normativos administrativos (decretos, resoluções e regulamentos) cuja obrigatoriedade é determinada na data de sua publicação (salvo se eles dispuserem de forma diversa), pois em tese tratam de temas de “pequena repercussão”. Assim, na omissão de quando essas espécies normativas entrarão em vigor, isto ocorrerá na data da sua publicação. FIM DA OBRIGATORIEDADE DAS LEIS Não se destinando à vigência temporária, uma lei terá vigor até que outra a modifique ou a revogue. É o que dispõe o art. 2°, caput, LINDB. Regra Geral →→→→ A lei tem caráter permanente e irá perdurar até a sua revogação. Isto é, uma lei não tem um prazo certo para vigorar; ela permanece em vigor enquanto não for modificada ou revogada por outra lei (eficácia contínua). O desuso não implica em perda de vigência. No entanto, algumas leis são expedidas com prazo de duração. Nestes casos a lei possui vigência temporária. Ex.: lei que concede favores fiscais durante 10 anos às indústrias que se instalarem em determinada região; racionamento de combustível durante a guerra; Imposto/Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (IPMF, CPMF), Leis Orçamentárias, etc. Tais normas desaparecem do ordenamento jurídico com o decurso do prazo estabelecido ou quando ela já cumpriu os objetivos a que se propôs (Ex.: lei que se destina alojar, de forma temporária, em escolas públicas, pessoas desabrigadas por causa de uma inundação). Assim, lei temporária é a que nasce com termo prefixado de duração ou com um objetivo a ser cumprido. A lei já nasce com um prazo para perder sua vigência. Contudo, não DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 18 se fixando um prazo determinado, prolonga-se a obrigatoriedade da norma (princípio da continuidade) até que ela seja modificada ou revogada por outra. Revogar (do latim revocatio, revocare = anular, desfazer, desvigorar) é tornar sem efeito uma lei ou qualquer outra norma jurídica, retirando a sua obrigatoriedade. Uma lei somente pode ser revogada por outra lei de hierarquia igual ou superior (portanto, ela não pode ser revogada por decretos, portarias, resoluções, regulamentos, etc.). Podem ser revogadas as leis, os regulamentos, as portarias, as cláusulas contratuais, etc. O art. 2°, §1°, LINDB dispõe que a lei posterior revoga a anterior em três situações: 1) quando expressamente assim o declare; 2) quando seja com ela incompatível; 3) quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Podemos classificar a revogação quanto à extensão em: a) Total (ou ab-rogação): quando a lei nova regula integralmente a matéria da lei anterior, ou quando existe incompatibilidade (explícita ou implícita) entre as leis. A norma anterior perde sua eficácia em sua totalidade. b) Parcial (ou derrogação): quando torna sem efeito apenas uma parte da lei ou norma, permanecendo em vigor todos os dispositivos que não foram modificados. A revogação ainda pode ser classificada quanto à forma de execução: a) Expressa (ou por direta): quando a lei nova taxativamente declara revogada a lei anterior ou aponta os dispositivos que pretende suprimir (art. 2°, §1°, primeira parte da LINDB). Seria interessante que todas as leis dissessem exatamente o que estão revogando. Mas isso não ocorre muito na prática. O art. 9° da LC n° 98/95, com a redação da LC n° 107/01, determina que “a cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”. b) Tácita (por via indireta ou oblíqua): quando a lei posterior é incompatível com a anterior e não há disposição expressa no texto novo indicando a lei que foi revogada. Diz o art. 2°, §1°, segunda parte da LINDB, que ocorre a revogação tácita quando seja com ela incompatível (revogação tácita por incompatibilidade) ou quando regule inteiramente a matéria que tratava a lei anterior (revogação tácita global). ���� ATENÇÃO ���� Embora haja muita controvérsia a respeito, a ESAF entende que a expressão contida em algumas leis “revogam-se as disposições em contrário”, é uma forma de revogação expressa. Na prova do MDIC (analista de comércio exterior), realizada em 2012, o examinador considerou correta a afirmação: “a revogação expressa pode também ser geral, compreensiva e aplicar-se a todas as disposições contrárias, sem individualização”.Houve recurso, mas a questão não foi anulada! DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 19 Observações 01) As espécies de revogação podem ser “combinadas”. Ou seja, a revogação expressa pode ser total (a nova lei diz que está revogando toda a lei anterior) ou parcial (a nova lei aponta apenas um ou dois artigos que está revogando da lei velha). E a revogação tácita também pode ser total ou parcial. 02) Irrevogabilidade. Algumas matérias estabelecidas na Constituição Federal (art. 60, §4°) não podem ser objeto de revogação, nem mesmo mediante Emenda Constitucional. São as chamadas cláusulas pétreas: forma federativa do Estado, voto direto, secreto, universal e periódico; separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. 03) No mundo jurídico pode ocorrer a seguinte hipótese: uma Lei X está vigorando normalmente. Algum tempo depois é promulgada uma Emenda Constitucional (que ficará fazendo parte da própria Constituição – trata-se do Poder Constituinte Derivado ou Reformador). Com isto, aquela Lei X se tornou, digamos, “inconstitucional”. Quando isso ocorre dizemos que houve a “não- recepção da lei pela nova ordem constitucional” ou que a lei “perdeu o seu fundamento de validade”. Curiosidade. A perda de eficácia pode também decorrer da decretação de inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, cabendo ao Senado suspender-lhe a execução. Embora não seja nossa matéria, vamos aprofundar este tema um pouco mais... No Brasil temos basicamente dois métodos de controle de constitucionalidade: difuso e concentrado. O controle difuso (também chamado de via de defesa ou via de exceção, controle aberto ou concreto) pode ser exercido por qualquer órgão do Poder Judiciário. Uma pessoa se sentindo lesada ou na iminência de ser prejudicada por uma lei e entendendo estar ela fora dos limites legais, ingressa com uma ação ou contesta esta ação (civil, trabalhista, penal, etc.) em primeira instância e argui, de forma incidental, a inconstitucionalidade da lei. O órgão competente para julgar a questão principal terá também competência para julgar a questão incidental (a decisão sobre a constitucionalidade será uma questão incidental ao objeto principal do processo). Mesmo que esta ação chegue ao Supremo Tribunal Federal, a decisão dele não terá efeito extensível a todos (erga omnes). A decisão vincula apenas as partes envolvidas no processo (inter partes). Por isso, o Senado, através da espécie normativa "resolução", estenderá os efeitos da decisão declaratória da inconstitucionalidade, proferida pelo Supremo Tribunal Federal. Esta Resolução é que irá suspender a execução da norma (consultem o art. 52, X, CF/88). Já o controle concentrado (também chamado de reservado, abstrato ou por via de ação direta) é exercido por apenas um órgão: o Supremo Tribunal Federal, que é o "guardião da Constituição". O pedido é feito diretamente ao STF com a intenção única de declaração de (in)constitucionalidade. Portanto, a finalidade deste processo é viabilizar o julgamento da validade da lei em tese (daí ser abstrato) e não da relação jurídico-processual. A declaração de inconstitucionalidade no controle DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 20 concentrado resultará em eficácia erga omnes da decisão, ou seja, extensivo a todos. Neste caso a própria decisão do STF já produz este efeito de imediato. Exemplo: o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional o §1° do art. 66 do Código Civil. Este dispositivo afirmava que se uma Fundação funciona no Distrito Federal, quem a fiscaliza é o Ministério Público federal (enquanto nos Estados-membros a fiscalização é do Ministério Público estadual). O Supremo declarou que neste caso o órgão fiscalizador é o próprio Ministério Público Distrital. Este tema deve ser aprofundado no Direito Constitucional. Ele não pertence ao Direito Civil; estamos apenas “dando uma panorâmica”. ����Expressões Importantes ���� 1) Atividade: é o fenômeno jurídico pelo qual a lei regula todas as situações durante o seu período de vida (vigência). É a regra em nosso Direito. 2) Extra-atividade: ocorre quando uma lei regula situações fora do seu período de vigência. Trata da exceção em nosso Direito. A extra-atividade pode abranger situações passadas e/ou futuras. Portanto, possui duas espécies: a) Retroatividade: a lei regula situações que ocorreram antes do início de sua vigência. b) Ultra-atividade: a lei foi revogada, mas continua sendo aplicada em relação aos fatos ocorridos durante o prazo em que esteve em vigor. REPRISTINAÇÃO Repristinar (do latim: re: fazer de novo, restaurar; pristinus: anterior; vigência) significa reconstituir, restituir ao valor, caráter ou estado primitivo, restaurar. Na ordem jurídica repristinação é o restabelecimento da eficácia de uma lei anteriormente revogada. Preceitua o art. 2°, §3° da LINDB que a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo disposição em contrário. Ex.: Se a Lei “A” é revogada pela Lei “B” e posteriormente a Lei “B” é revogada pela Lei “C”, não se restabelece a vigência da Lei “A”. No Brasil não há repristinação ou restauração automática da lei velha, se a lei mais nova foi revogada. Isso somente é admissível quando a nova lei (no exemplo acima a Lei “C”) determinar expressamente que a lei anterior (no caso a Lei “A”) retome sua vigência. Resumindo: a regra é a não repristinação; no entanto excepcionalmente a lei revogada pode ser restaurada desde que haja disposição expressa para tanto. Doutrina. Repristinação X Efeito Repristinatório A despeito da semelhança são vocábulos com significação diversa. Repristinação é um fenômeno legislativo no qual há a entrada novamente em vigor de uma norma efetivamente revogada, pela revogação da norma que a revogou (nosso ordenamento só admite essa situação de forma expressa). Observem que as duas normas anteriores vigoraram normalmente e produziram efeitos regulares até serem revogadas. Já efeito repristinatório advém do controle de constitucionalidade, por meio da atuação do Poder Judiciário. Ex.: foi editada a Lei "A". Posteriormente foi editada a Lei "B" que DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 21 revogou a lei “A”. Tempos depois, a Lei "B" foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Neste caso a Lei "A" volta a vigorar. Na realidade a doutrina costuma afirmar que não é que ela “volta a vigorar”. É que com a declaração de inconstitucionalidade da revogadora, ela nunca deixou de vigorar... Essa tese é embasada no fato de que a decisão que reconhece a inconstitucionalidade é declaratória de nulidade, ou seja, a declaração irá retroagir desde a edição da lei, como se ela nunca tivesse existido no mundo jurídico. Com isso, como a norma já “nasceu nula” (declarada inconstitucional de forma retroativa), não poderia revogar a anterior validamente. Portanto, efeito repristinatório é a reentrada em vigor de norma aparentemente revogada, ocorrendo quando uma norma que revogou outra é declarada inconstitucional. Resumindo. Na repristinação temos a vigência de três atos normativos, todos eles válidos. No efeito repristinatório temos duas leis e uma decisão judicial; a lei posterior não revogou validamente a anterior, diante da sua declaração de inconstitucionalidade pelo STF, que é retroativa (efeito ex tunc). Obs.: ficar a atendo quanto à forma de elaboração da questão,pois os próprios examinadores podem confundir os conceitos. � E se uma lei temporária (“A”) revogar a lei “B” sem que nela haja declaração expressa da repristinação da lei revogada? Entende-se que não ocorre a repristinação, pois esta somente ocorre se houver previsão expressa. Como a lei temporária não dispôs expressamente sobre o assunto, ambas as leis perderam sua vigência: a Lei “B” porque foi revogada; a Lei “A” porque era temporária. LEIS GERAIS E ESPECIAIS Outro item que vem caindo muito em concursos é a regra disposta no art. 2°, §2° da LINDB: “a lei nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”. Este dispositivo consagrou o que se costuma chamar de Princípio da Conciliação. Explicando. Lei geral é a que aborda todo um ramo específico do Direito (ex.: Código Civil). Norma especial é aquela que tem um conteúdo especializado dentro de certo ramo (ex.: Lei do Inquilinato, do Condomínio, etc., em relação ao Código Civil). Como regra a norma geral não revoga a especial e a norma especial não revoga a geral. Quando a lei especial regula determinada matéria que também está prevista num Código, contendo outras disposições a mais que não se encontram no Código e que não contradizem o novo direito, ambas continuam em vigor; coexistem. No entanto a norma especial pode revogar a geral quando dispuser sobre esta revogação de forma explícita ou implícita, momento em que regula a mesma matéria que a geral, modificando o seu conteúdo. Vejamos: uma lei, que regula determinado assunto de forma genérica está vigorando normalmente. Posteriormente outra lei sobre este mesmo assunto é editada regulando e trazendo alguns aspectos especiais, aprofundando o tema. Ora, este fato, por si só, não faz com que a primeira lei seja revogada ou modificada. As duas leis podem coexistir normalmente. Somente se o texto de uma delas for totalmente DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 incompatível com o da outra é que será hipótese de revogação. As situações devem ser analisadas caso a caso. Exemplo clássico: o Código Civil trata no art. 1.711 e seguintes, disposições sobre o bem de família de uma forma geral. No entanto a Lei n° 8.009/90 também trata deste tema. Qual lei deve ser aplicada? Se cotejarmos os textos de ambas as leis, veremos que eles não são antagônicos entre si. Uma lei completa a outra. Uma é especial em relação à outra, sendo que não há incompatibilidade entre seus dispositivos. A lei especial apenas introduziu uma exceção ao princípio geral. Portanto ambas coexistem e vigoram normalmente. E o intérprete deve associá-las, acomodá-las, sintonizá-las, aplicando-as em cada caso concreto. CONFLITO DAS NORMAS NO TEMPO Quando uma norma é modificada por outra e já se haviam formado relações jurídicas na vigência da lei anterior, podem surgir conflitos. Qual norma deve ser aplicada a um caso concreto? O chamado direito intertemporal visa solucionar estes conflitos entre as normas. Para tanto são usados dois critérios: a) disposições transitórias; b) princípio da irretroatividade das leis. A) DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS (ou direito intertemporal). A lei, para evitar eventuais e futuros conflitos, em seu próprio corpo, geralmente ao final, pode estabelecer regras temporárias, destinadas a dirimir conflitos entre a nova lei e a antiga, conciliando a nova lei com as relações já definidas pela norma anterior. Observem que o próprio Código Civil em vigor contém um Livro Complementar, chamado “das disposições finais e transitórias” (arts. 2.028 até 2.043). Em seu corpo percebe-se que há uma série de regras, sendo que algumas delas autorizam a aplicação do Código anterior (mesmo já revogado, continua produzindo efeito: ultra-atividade). Observem o art. 2.038 do atual Código. Ele determina que um capítulo inteiro do Código anterior continue sendo aplicado em relação às enfiteuses (tema do Direito das Coisas). B) IRRETROATIVIDADE DAS LEIS. Etimologicamente retroatividade quer dizer atividade para trás, ou seja, produção de efeitos em situações passadas. Juridicamente, podemos dizer que uma norma retroage quando ela vigora, não somente a partir de sua publicação, mas, ainda, regula certas situações jurídicas que vêm do passado. Na realidade uma lei é expedida para disciplinar fatos futuros, a partir de sua vigência. A vigência de uma lei se estende, como já dissemos, desde o início de sua obrigatoriedade até o início da obrigatoriedade de outra lei. A regra no Brasil é a irretroatividade das leis, ou seja, elas não se aplicam às situações constituídas anteriormente. Trata-se de um princípio que visa dar estabilidade e segurança ao ordenamento jurídico preservando situações já consolidadas sob a lei antiga, em que o interesse particular deve prevalecer. No entanto, há casos em que a lei nova pode retroagir ao passado, alcançando consequências jurídicas de fatos efetuados sob a égide de lei anterior. Em regra, deve prevalecer o princípio da irretroatividade. Há um DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 23 duplo fundamento: constitucional e infraconstitucional. O art. 5°, XXXVI, CF/88 prevê que “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. E, de forma parecida, prevê o art. 6°, LINDB que: “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”. Observem que a cláusula de irretroatividade da lei nova convive com outro preceito de direito intertemporal, que é o da eficácia imediata e geral da lei nova. Isto quer dizer que a lei nova atinge os casos pendentes e futuros que se realizarem já sob sua vigência, não abrangendo os fatos passados. Em latim dizemos: tempus regit actum (o tempo rege o ato). Ou seja, a lei que incide sobre um determinado ato é a do tempo em que este ato se realizou. Vamos agora dar um exemplo bem simples, muito citado na doutrina sobre esse efeito geral e imediato de uma lei. Como sabemos, atualmente a maioridade civil é de 18 anos. Digamos que uma lei reduza a maioridade para 16 anos. Neste caso, todos aqueles que atingiram essa idade serão reconhecidos como maiores imediatamente. Por outro lado, se a lei aumentar o limite para 21 anos, será respeitada a maioridade dos que já haviam completado 18 anos na data da entrada em vigor da lei nova. E se uma pessoa tinha 17 anos, 11 meses e 27 dias terá que aguardar o momento em que completará 21 anos... Vejamos agora o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 1) ATO JURÍDICO PERFEITO Segundo o art. 6°, §1°, LINDB “reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou”. Ou seja, na ocasião da prática do ato todas as formalidades exigidas pela lei foram rigorosamente obedecidas e em razão disso o ato não pode ser alterado pela existência de lei posterior. 2) DIREITO ADQUIRIDO Segundo o art. 6°, §2°, LINDB, “consideram-se adquiridos os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem”. Assim, direito adquirido é o que já se integrou ao patrimônio e à personalidade de seu titular, podendo ser exercido a qualquer momento. Para ser considerado “direito adquirido” são necessários dois requisitos: a) existência de um fato; b) existência de uma norma que faça do fato originar-se direito. Enquanto não estiverem presentes estes elementos não há direito adquirido,mas “expectativa de direito”. Ex.: pessoa que já se aposentou e a lei modifica posteriormente o prazo para a aposentadoria, ampliando-o; a pessoa não será obrigada a voltar a trabalhar para completar o novo prazo, pois quando se aposentou a regra era aquela. 3) COISA JULGADA Segundo o art. 6°, §3°, LINDB “chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso” (transitou em julgado). Para alguns autores coisa julgada é a qualidade dos efeitos da decisão, no sentido de lhes traduzir imutabilidade. A decisão que estabelece o direito de um dos DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 24 litigantes pressupõe uma verdade, que se torna irrevogável e irretratável. Assim, uma lei nova não pode alterar aquilo que já foi apreciado em definitivo pelo Poder Judiciário. É interessante acrescentar que mesmo após o trânsito em julgado de uma decisão, ela ainda pode ser modificada, por meio de uma revisão criminal ou ação rescisória. No entanto estes expedientes não são recursos, mas ações autônomas. � Questão de Atualidade. Há forte tendência material e processual em apontar a relativização da coisa julgada, em especial nos casos envolvendo ações de investigação de paternidade julgadas improcedentes por ausência de provas em momento em que não existia o exame de DNA. O Supremo Tribunal Federal já apreciou essa hipótese e concedeu o direito de rediscutir a matéria (a votação foi apertada) afirmando que “houve evolução nos meios de prova e que a defesa do acesso à informação sobre a paternidade deve ser protegida, pois se insere no conceito de direito da personalidade”. ����Há direito adquirido contra normas constitucionais? Para responder a esta indagação, primeiro precisamos mencionar que, observando os fatos jurídicos e relacionando-os cronologicamente de acordo com a produção de efeitos, eles podem ser classificados como: a) fatos pretéritos: são os que se constituíram na vigência de uma lei e tem seus efeitos produzidos durante sua vigência. b) fatos pendentes: são os que foram constituídos na vigência de uma lei anterior e ainda não produziram todos os seus efeitos nela. c) fatos futuros: são os que ainda não foram gerados. Precisamos agora esclarecer que a doutrina reconhece a existência de três graus de retroatividade: a) retroatividade máxima (ou restitutória): a lei ataca fatos pretéritos consumados. Verifica-se quando a lei nova prejudica a coisa julgada ou os fatos jurídicos já consumados (ato jurídico perfeito e o direito adquirido). b) retroatividade média: a lei nova atinge os efeitos pendentes de atos jurídicos verificados antes dela (ex.: a lei nova atinge as prestações vencidas de um contrato, mas que ainda não foram pagas). c) retroatividade mínima (temperada ou mitigada): a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos anteriores, verificados após a data em que ela entra em vigor (ex.: prestações futuras de contratos firmados antes do advento da nova lei). O Supremo Tribunal Federal, antes da Constituição de 1988, chegou a se manifestar no sentido de que “não há direito adquirido contra texto constitucional, resulte ele do Poder Constituinte Originário ou Derivado”. Neste sentido, dizia Pontes de Miranda que “contra a Constituição nada prospera, tudo fenece”. Atualmente o STF vem se posicionando no sentido de que as normas constitucionais, mesmo as emanadas do poder constituinte originário, possuem DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 25 retroatividade mínima. No entanto, nesse caso, nada impede que tenham retroatividade média e máxima, desde que expressamente previsto na própria Constituição. Concluindo Regra 01 →→→→ as normas constitucionais possuem retroatividade mínima, aplicando-se a fatos ocorridos a partir de seu evento (fatos futuros), ainda que relacionados a negócios celebrados no passado (fatos pendentes). Regra 02 →→→→ as Emendas Constitucionais (poder constituinte derivado reformador), Constituições Estaduais (poder constituinte derivado decorrente) e todas as demais leis infraconstitucionais estão sujeitas à observância do princípio constitucional da irretroatividade das leis (art. 5°, XXXVI: lei em sentido amplo), com algumas exceções (ex.: lei penal nova que beneficie o réu). Exceção →→→→ uma norma, fruto do poder constituinte originário pode ter retroatividade máxima ou média, desde que haja previsão expressa neste sentido. INTERPRETAÇÃO DAS LEIS Na realidade as leis deveriam ser sempre claras e precisas. Mas é difícil encontrar uma “lei perfeita”. Além disso, segundo a doutrina majoritária, até mesmo as leis claras podem ser objeto de atuação do intérprete. Não se aplica mais o brocardo in claris cessat interpretatio (na clareza, cessa a interpretação). Ora, o que é claro para um julgador, pode não ser para outro. Além disso, o tempo e o contexto mudam com frequência, ou seja, o que é claro num momento e em determinada situação, pode não ser em outro momento ou situação. Concluindo: a interpretação não é mera opção, mas uma necessidade! No entanto, aparecendo uma ambiguidade no texto, má redação, imperfeição ou falta de técnica, haverá a atuação do intérprete, para pesquisar o verdadeiro sentido que o legislador quis estatuir. Trata-se da mens legis (ou intenção da lei). Surge então a hermenêutica, que é a teoria científica da arte de interpretar: descobrir o sentido da norma jurídica e fixar o seu alcance. Costumamos usar também o termo “exegese” para conceituar o esclarecimento, entendimento ou interpretação minuciosa de um texto legal, para a consequente aplicação do Direito. Ou seja, exegese é a aplicação prática das regras de hermenêutica. Existem vários métodos e critérios de interpretação das leis. Mas é importante deixar claro que todas essas espécies de interpretação não se operam de forma isolada; elas devem se completar, pois todas trazem alguma contribuição para a descoberta do sentido e alcance da norma. Vejamos: 1. Quanto às Fontes ou Origem (ou quanto ao agente que a realiza) a) Autêntica: feita pelo próprio legislador aclarando, no próprio texto ou em outra espécie normativa, o sentido e o alcance da norma (um exemplo DIREITO CIVIL: ASSISTENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – TJ/AM PROFESSOR LAURO ESCOBAR – AULA DEMONSTRATIVA Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 26 muito citado é o art. 327 do Código Penal, em que o próprio legislador interpreta o sentido da expressão “funcionário público no âmbito penal”). b) Doutrinária (ou científica): feita pelos estudiosos da matéria em obras ou pareceres. c) Jurisprudencial: feita por nossos Juízes ou Tribunais ao decidirem um caso concreto que lhe é submetido a julgamento (ex.: um acórdão ou uma súmula do STJ ou STF). 2. Quanto ao Método ou Meio utilizado a) Gramatical: são observadas as regras de linguística; examina-se o sentido das palavras ou as expressões usadas pelo legislador. É a mais pobre das técnicas. Usa-se, também, a expressão “interpretação literal”. b) Lógica (ou racional): busca-se, por meio de um raciocínio lógico, o significado da norma nos fatos e motivos políticos, históricos e ideológicos que culminaram na sua criação. c) Sistemática (ou orgânica): compara a lei considerando-a como parte integrante de todo um sistema jurídico (e não isolada no mundo jurídico); a norma deve ser analisada em seu conjunto (e não um dispositivo isolado) e pertencente a um sistema jurídico (e não de forma isolada). d) Ontológica: busca-se a essência da lei, sua razão de ser, a
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