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Laísa Dinelli Schiaveto Parâmetros Laboratoriais Microbiológicos INTRODUÇÃO As bactérias são um grupo de microrganismos unicelulares que crescem e formam colônias, podendo ser identificas microscopicamente de acordo com a sua morfologia: cocos (redondos) como estreptococos e estafilococos, bacilos (bastão) como E. coli e Enterobacteriaceae, e espiralada como Treponema pallidum. Ainda, existem alguns bacilos filamentosos, cocobacilos, diplococos, entre outros. É importante lembrar que algumas bactérias são aeróbicas, enquanto outras são anaeróbicas, o que impõe exigências quanto ao tipo de meio de transporte da amostra para análise. à As enterobactérias têm como habitat natural o intestino humano, são denominadas coliformes e apresentam cerca de 20 espécies. Possuem grande importância clínica, pois 95% delas são patogênicas, podendo causar ITU, septicemias, infecção gastrointestinal ou meningite. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Para a diferenciação desses microrganismos, é necessário conhecer as diferenças estruturais e suas propriedades bioquímicas, as quais permitem isolá-las em meios de cultivo diferenciados. Assim, um dos métodos mais utilizados para o isolamento e a diferenciação das enterobactérias é a técnica de Gram. EXAMES BACTERIOLÓGICOS Em geral, os exames bacteriológicos são feitos por meio de cultivo das bactérias, que podem estar presentes na amostra biológica (ex.: fezes, sangue, escarro, líquidos ou secreções), em meios de cultura adequados. Dessa forma, esses meios podem isolar um determinado tipo de bactéria favorecendo a formação de colônias de bactérias fermentadoras de lactose (ex.: Klebsiella e. coli) diferenciando-as das não fermentadoras (ex.: Shigella, Salmonella e Proteus), além de favorecer o crescimento daquelas colônias em ágar sangue ou para o crescimento de fungos patogênicos através da utilização de meios que contêm dextrose, maltose e peptonas (ágar dextrose sabouraud). Quando se coloca indicadores de cor (cromogênicos) no meio, pode-se separar as diferentes espécies. Por exemplo, no meio cromogênico Salmonella-Shigella, a E. coli fica rosa, enquanto a Salmonella fica preta e Shigella fica verde. Outras metodologias utilizadas para identificar bactérias são baseadas em identificação de estruturas antigênicas (sorotipos), reações com anticorpos e imunofluorescência, sequenciamento de DNA e detecção de genes de resistência e antimicrobianos. à Todas as enterobactérias reduzem nitrato, fermentam glicose, sendo oxidase negativas e catalase positivas. Laísa Dinelli Schiaveto INFECÇÕES DE ORIGEM ALIMENTAR O Ministério da Saúde classifica doença de origem alimentar como sendo toda e qualquer doença que se manifesta após a ingestão de alimento ou água. Podem ser provocadas por mais de 250 tipos de microrganismos, incluindo parasitas protozoários como Entamoeba histolyca e Giardia lamblia, e bactérias como Salmonella sp, Shigella sp, Yersinia enterocolitica, Campylobacter jejuni, E. coli, Clostridium botulinum e perfringens e Bacillus cereus (cepa diarreica), que são causadores de infecção e/ou toxinfecção. Ainda, Staphylococcus aureus, Clostridium botulinum e Bacillus cereus (cepa emética) são causadores de intoxicações por toxinas pré-formadas no alimento. Em geral, o modo de transmissão pode ser feito por manipuladores de alimentos assintomáticos, que não seguem as recomendações de higiene, incluindo toda a cadeia desde a produção, transporte, venda, acondicionamento e preparo. Entre os maiores responsáveis, destacam-se os alimentos de origem animal (ex.: carnes mal cozidas de frango e suínos, crustáceos e peixes crus, ovos, leite e produtos preparados com os mesmos) e os alimentos preparados para consumo coletivo e vendidos na rua ou pequenos estabelecimentos. Obs.: Para efeito de Vigilância e Prevenção de Doenças Alimentares, considera-se surto quando duas pessoas ou mais apresentam doenças semelhantes após terem ingerido alimento ou água da mesma origem. Os sintomas, o período de incubação, a duração dos sintomas e a característica de ser autolimitada ou não dependem de cada tipo de microrganismo e da característica da defesa imunológica do indivíduo. Os microrganismo patogênicos superam esse mecanismo de defesa e causam inflamação e lesões celulares, originando as gastroenterites e as enterocolites. • A defesa imunológica é menos desenvolvida nos bebês e em idosos, o que os torna mais propensos a contrair infecções alimentares ou a desenvolver as formas mais graves da doença. Portanto, as infecções alimentares são muito mais graves em crianças (principalmente lactentes), idosos, pacientes imunodeprimidos ou portadores de algumas doenças crônicas, podendo levar a morte se não tratadas a tempo. Detalhes da história clínica ajudam a orientar os exames, visto que alguns alimentos estão potencialmente envolvidos com determinados microrganismos. - Frutos do mar e peixe cru = Víbrio parahaemolyticus e Salmonella typhi. - Carne de frango, ovo, leite, manteiga, queijo e pescados = Salmonella sp. - Carne vermelha, ovos e leite crus = Campylobacter. - Enlatados, conservados e produtos cárneos artesanais = Clostridium botulinum. - Caldos e molho de carne, conservar de peixes e ostras = Clostridium perfringens. - Diarreia após ingestão de mel e chá de ervas em bebês = Clostridium botulinum. - Surtos de gastroenterite com provável ingestão direta de toxinas = Staphylococcus aureus, Bacillus cereus e Clostridium perringens. Os exames laboratoriais mais utilizados para o diagnóstico etiológico das infecções originadas pela ingestão de alimentos são as culturas de fezes para isolamento, identificação e quantificação de colônias do patógena e a sorotipagem para algumas bactérias como a E. coli O157:H7 (produtora de toxinas). O custo para uma triagem completa de todas as bactérias causadoras de infecções alimentares em cada paciente é muito alta, o que a torna impraticável. Pesquisar a presença de sangue, muco e leucócitos nas fezes (pesquisa de elementos anormais nas fezes). Laísa Dinelli Schiaveto • Presença de leucócitos = indicativo para bactérias que causam inflamação no intestino grosso = Salmonella, Campylobacter, Shigella e. coli enteroinvasiva (EIEC). • Ausência de leucócitos = direciona a pesquisa para as que causam toxinfecção = Víbrio e. coli enterotoxigênica (ETEC). • Presença de muco, sangue e pus com história de febre e dor = indica amebíase, shigelose ou EIEC. • Presença de sangue sem leucócitos = indica E. coli enterohemorrágica (EHEC) produtora de toxina. Em casos de surtos, realiza-se pesquisa de toxina nas fezes, no soro, em vômitos e análise bromatológica no alimento suspeito. Além disso, quando pertinentes, nos meses de inverno, são triados para rotavírus, sendo que, em casos negativos, estes são direcionados para a pesquisa de outros microrganismos prováveis. O tratamento com antimicrobianos nem sempre é indicado, mas para se decidir sobre o tratamento adequado é necessária identificação do microrganismo patogênico. Por isso, na rotina laboratorial, estabelecem-se estratégias que favoreçam obter a maior positividade possível nas coproculturas realizadas. Toxinfecção É uma síndrome diarreica causada por consumo de alimentos contaminados por bactérias ou suas toxinas. É causada por microrganismos toxigênicos e o quadro clínico (diarreia intensa sem sangue ou leucócitos e febre discreta ou ausente, com desidratação como consequência) aparece mais cedo, de poucas horas a dois dias, sendo provocado por toxinas liberadas quando as bactérias se multiplicam, esporulam ou sofrem lise na luz intestinal. Então, as toxinas atuam no sistema de secreção/absorção da mucosa intestinal,levando a perda expressiva de água e eletrólitos. Infecção por Bactérias Patogênicas Após a ingestão de bactérias patogênicas, estas colonizam o intestino e causam danos ao hospedeiro, manifestando-se como uma diarreia aguda, em geral, acompanhada por sangue e pus. Esta pode alcançar a corrente sanguínea e se disseminar causando uma infecção sistêmica ou atingir diferentes órgãos, acarretando complicações renais, hepáticas, de vias biliares, terminações nervosas ou do SNC, de acordo com o agente envolvido. Assim, é causada pela ingestão de microrganismos patogênicos invasivos, capazes de penetrar e invadir tecidos originando o quadro clínico característico de infecção, com diarreias frequentes, mas não abundantes, contendo sangue e muco, além de exame de leucócitos positivo nas fezes. Ocorrem dores abdominais intensas, febre e desidratação, sendo que os sintomas geralmente aparecem após 12 a 36 horas, durando de 2 a 4 dias. Microbiota Intestinal Quando a microbiota intestinal desequilibra devido a presença de microrganismos patogênicos ou de suas toxinas, ocorrem as enterocolites, que se manifestam como doenças diarreicas agudas, sendo que, em casos de reinfecção, acabam se tornando crônicas. Diarreias Agudas: A maioria das diarreias agudas causadas pela ingestão de alimentos contaminados com bacilos ou coliformes fecais tem um período de incubação de 12 a 36 horas, sendo autolimitada com desaparecimento dos sintomas após alguns dias, podendo ser tratadas com reidratação oral ou endovenosa e cuidados com a nutrição. O uso de antibióticos é recomendado para crianças menores de três meses, pacientes imunodeprimidos e em casos de diarreia por cólera, sendo que, sua indicação é relativa para shigeloses e infecções sistêmicas associadas. Além disso, há contraindicação formal do seu uso em salmonelose nos pacientes Laísa Dinelli Schiaveto imunocompetentes, botulismo infantil e casos de colite pseudomembranosa. Assim, a escolha correta do antibiótico deve ser feita com base no antibiograma. Principais Sintomas associados à Bacilos Fermentadores PATOLOGIAS ASSOCIADAS AO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS O Staphylococcus aureus é um patógeno oportunista anaeróbio facultativo e Gram- positivo. Embora seja um membro normal da microbiota, é uma das bactérias patogênicas mais importantes, uma vez que ela atua como agente causador de várias infecções, desde aquelas superficiais até as mais disseminadas com elevada gravidade. Sua importância clínica cresceu muito devido ao aumento significativo de infecções hospitalares graves, causadas por amostras multirresistentes. Além disso, é a principal bactéria causadora de infecções de feridas cirúrgicas, a qual se manifesta por edema e presença de material purulento. As patologias podem ser dividias em três principais tipos: • Infecções Superficiais = afetam a pele e o tecido celular subcutâneo sendo, geralmente, decorrentes da invasão direta nos tecidos existentes na pele ou mucosas (ex.: abscessos cutâneos e infecções de ferida). • Infecções Profundas ou Sistêmicas = são decorrentes de bacteremias que se originam nos focos das infecções superficiais ou, eventualmente, em uma pneumonia por aspiração (ex.: bacteremia, endocardite, osteomielite, artrite, miosite tropical e pneumonia). • Quadros Tóxicos = síndrome do choque tóxico, síndrome da pele escaldada e intoxicação alimentar. Em geral, as infecções estafilocócicas são superficiais e discretas, contudo, em recém- nascidos, pacientes cirúrgicos e em portadores de doenças debilitantes podem ser graves. O diagnóstico laboratorial é feito através de análises de amostras colhidas de pacientes com suspeitas da doença. A detecção bem-sucedida dos microrganismos numa amostra clínica depende do tipo de infecção e da qualidade do material submetido à análise. Todas essas amostras coletadas são submetidas a exames, que podem ser físicos, bacteriológicos e bioquímicos. Assim, o diagnóstico das doenças causadas por estafilococos é feito através de exame bacterioscópico de esfregaço corados por Gram, isolamento e identificação de microrganismo. Já, o diagnóstico de intoxicação alimentar é feito através de pesquisa de enterotoxina nos alimentos ingeridos e no material oriundo de vômito do paciente. De uma forma geral, o S. aureus pode ser encontrado em grande quantidade no alimento que contém enterotoxina responsável pelas manifestações clínicas. Laísa Dinelli Schiaveto Atualmente, existem sistemas automatizados de microbiologia que são capazes de isolar e identificar a maioria dos estafilococos em espécie. As provas bioquímicas, metabólicas, enzimáticas e os esquemas simplificados para a identificação de rotina de espécies humanas de estafilococos vêm sendo substituídos gradualmente por métodos moleculares, mais rápidos, contudo extremamente dispendiosos. Em várias situações, principalmente, em casos de surtos epidêmicos de infecções hospitalares, pode ser necessário fazer a tipagem de amostras de S. aureus para a identificação de origem e disseminação das infecções. Para rastrear a disseminação das amostras, vários métodos de tipagem foram desenvolvidos: biotipagem, sorotipagem, fagotipagem e a resistotipagem. Anteriormente, o método mais recomendado era a fagotipagem, mas, atualmente, vem se dando preferência a métodos moleculares e a análise de DNA através de eletroforese de campo pulsado. Outras Bactérias de Interesse Clínico: - Cocos Gram-positivos: gênero Streptococcus e família Enterococcaceae. - Cocos Gram-negativos: família Enterococcaceae. - Gram-negativos fermentadores. - Gram-negativos não fermentadores. - Espiroquetídeos. - Corynebacterium diphtheriae. - Clamídia sp. ANTIBIOGRAMA O antibiograma é o exame microbiológico de maior importância, mas por ser dispendioso acaba sendo dispensado quando o tratamento empírico traz benefícios evidentes. Este deve ser realizado principalmente nas infecções urinárias complicadas, hospitalares, associadas a septicemia e que sugerem desenvolvimento de resistência antimicrobiana. O teste avalia o padrão de sensibilidade ou de resistência de uma bactéria frente a diferentes concentrações preestabelecidas de um ou mais antibióticos. Destaca-se que a identificação bacteriana por meio de cultura é pré-requisito para o teste, pois o agente patogênico deve ser primeiramente isolado para possibilitar o seu cultivo na placa própria para antibiograma. Tipos de Antibiograma QUALITATIVO: Determina a sensibilidade por meio dos parâmetros sensível, intermediário ou resistente, indicando, respectivamente, que o agente isolado pode ser tratado com sucesso com a dose recomendada do antibiótico, quando somente alta dosagem é eficaz ou quando doses normais padronizadas não conseguirão inibir. Para essa definição, usa-se medidas do diâmetro do halo formado no local onde um papel de filtro, embebido com o antibiótico, entrou em contato com a colônia de bactérias na placa de ágar. • Sensível = identifica que a infecção devida ao microrganismo estudado pode ser tratada com a dosagem habitual do antimicrobiano testado e recomendado para esse tipo de infecção. • Intermediário = significa que o microrganismo pode ser inibido por concentrações maiores de certas drogas, se doses maiores puderem ser administradas ou se a infecção ocorre em local onde o antimicrobiano é fisiologicamente mais concentrado (ex.: trato urinário). • Resistente = quando o microrganismo isolado apresenta mecanismos específicos de resistência ou não é inibido pela concentração do antimicrobiano obtida no local da infecção. QUANTITATIVO: Determina a concentração inibitória mínima (CIM) capaz de inibir o crescimento bacteriano,sendo também relatado como sensível, intermediário ou resistente. Reflete a potência do antibiótico e é padronizado em mg/l. Assim, esse método possibilita aos médicos o conhecimento da menor concentração precisa de droga, auxiliando-os na escolha da droga e Laísa Dinelli Schiaveto na dose a ser utilizada para o combate da infecção, reduzindo, portanto, o risco de resistência dos antibióticos. CASOS CLÍNICOS CASO 1 M.H., 21 anos de idade, mora no Maranhão há dez anos e, durante uma viagem para a capital do estado de São Paulo, ingeriu uma coxinha em uma lanchonete e começou a sentir fortes dores abdominais acompanhadas de dor de cabeça e vômitos. No dia seguinte, seu estado de saúde se agravou, levando-o a procurar uma unidade de saúde. Foi solicitado uma coprocultura para investigação de provável infecção alimentar, que permitiu o diagnóstico de infecção alimentar por Salmonella sp. Como foi realizado o exame laboratorial que permitiu esse diagnóstico? Como as infecções alimentares devem ser tratadas ou prevenidas? O desenvolvimento de uma enterocolite após a ingestão de uma coxinha em uma lanchonete durante uma viagem reflete uma situação que acontece com muita frequência e pode ser explicada pela falha na defesa natural que toda indivíduo tem contra microrganismos aos quais não está acostumado. Essa situação é conhecida como diarreia do viajante. Os alimentos de sua cidade de origem podem até conter certo número de bactérias infectantes para as quais o organismo desenvolveu anticorpos para combate-los. Estima-se que 50% das pessoas possam desenvolver esse tipo de infecção alimentar quando viajam para qualquer país, mesmo em restaurantes e hotéis de luxo, porém o risco para infecção ou toxinfecção bacteriana é bastante alto quando há ingestão de água de sistema de abastecimento com falhas e alimentos extensamente manipulados e mantidos por várias horas após o preparo sem o controle térmico adequado. A Salmonella sp costuma causar enterocolite por meio de alimentos preparados com ovos e contendo carne de aves, como a coxinha. A doença é autolimitada e os sintomas persistem por 3-7 dias, dependendo do sistema imunológico da pessoa e da quantidade de bactérias ingeridas (a carga mínima infectiva é alta = 105 UFC/ml). A confirmação por exame laboratorial é feita por coprocultura. O tratamento é a hidratação oral, nem sempre necessitando de soro endovenoso e raramente necessita de antibioticoterapia ou internação. CASO 2 Marta, 70 anos, muito ativa e sem nenhum problema grave de saúde, apenas uma diabetes que sempre foi bem controlada. Certo dia, ao regar suas plantas no quintal de casa, levou um escorregão e, sem conseguir se levantar, chamou o SAMU, sendo conduzida ao hospital. Nele, verificou-se que Marta havia fraturado o fêmur. Ela foi imediatamente internada e precisou fazer cirurgia. A cirurgia foi bem-sucedida e o médico tinha a expectativa de dar alta em 48 horas. Passados dois dias, Marta estava ansiosa para voltar para casa, contudo ela começou a apresentar febre alta, tosse seca, dificuldade em respirar e fraqueza. Após uma avaliação clínica, o médico suspendeu a alta de Marta e solicitou uma radiografia de tórax. Após verificar a radiografia e reunir esses dados clínicos com o exame clínico e a ausculta pulmonar, o médico responsável pela paciente informou a ela e a seus familiares que essa estava com pneumonia e que, dessa forma, não iria ter alta naquele dia, pois seria necessário que a paciente fosse medicada e, então, apresentando melhora em resposta ao tratamento, poderia ser liberada em torno de 4 a 5 dias. João, marido de Marta, não compreendeu como sua esposa saudável, que foi internada por conta de uma fratura, adquiriu pneumonia, e então Laísa Dinelli Schiaveto pediu ao médico que explicasse por que isso aconteceu. O que é pneumonia? Como a paciente, que estava saudável ao entrar no hospital, pode ter adquirido a pneumonia? Justifique. Pneumonia é uma infecção pulmonar normalmente provocada pela penetração de uma agente infeccioso ou irritante (bactérias, fungos, vírus e reações alérgicas) no espaço alveolar, no qual ocorre a troca gasosa. O espaço alveolar deve sempre estar livre de impurezas, a fim de evitar que estas impurezas impeçam o contato do ar com sangue. Uma vez que a paciente, que estava saudável, se submeteu a um procedimento cirúrgico, ela adquiriu a pneumonia dentro do hospital, ao que tudo indica no momento da cirurgia, em que a bactéria alcançou a corrente sanguínea e migrou para o pulmão. João compreendeu que sua esposa adquiriu a pneumonia no hospital, mas, quando necessário o médico disse que, em razão da Marta ser idosa, ela precisava ficar mais alguns dias internada por preocupação, João se desesperou. Ele questionou o médico porque a pneumonia em idoso requer maiores cuidados. Sua esposa corre risco de vida? Como Marta tem diabetes, mesmo controlada, há grandes chances de complicações, uma vez que a infecção pode descompensar a outra doença da paciente. O fator determinante para a internação, além do estágio de evolução da pneumonia, são as doenças associadas, como diabetes, insuficiência cardíaca e câncer. Além disso, quanto mais velho, mais doenças crônicas o paciente apresenta e, também, a reserva funcional cardíaca e respiratória é menor. Portanto, o diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais para a resolução do quadro de pacientes mais velhos. Se Marta não for tratada de forma rápida e eficaz, ela corre risco de vida. João queria saber como seria o tratamento de sua esposa, quais seriam os medicamentos e uma estimativa de quando ela seria liberada. Tendo conhecimento de que a pneumonia adquirida por Marta é bacteriana, qual o tratamento indicado a paciente? Nesse caso, há necessidade de solicitação de algum outro exame? O tratamento indicado é o uso de antibiótico de amplo espectro. Quando é feito o diagnóstico clínico, na maioria das vezes, é necessário fazer a diferenciação da bactéria. Essa só não é necessária quando o paciente não responde ao tratamento com o antibiótico de amplo espectro. Após 3 dias, Marta continuava a apresentar febre, fraqueza e dor no peito. Após realizar alguns exames de sangue, verificou-se que a paciente continuava a apresentar um quadro de infecção. O médico, então, chamou João para conversar e explicou que Marta não estava respondendo aos antibióticos. Sendo assim, seria necessário um novo exame para então administrar um antibiótico eficaz e, dessa forma, a paciente começar a responder ao tratamento. Qual exame seria necessário para identificar um antibiótico que não fosse resistente à bactéria? No caso das pneumonias, existe uma grande dificuldade em determinar o agente causador. O diagnóstico realizado é clínico, pois, na maioria das vezes, não importa fazer a diferenciação. A diferenciação só é necessária quando o paciente não responde ao tratamento inicial com antibiótico de amplo espectro. Nesse caso, será necessário realizar o teste de sensibilidade de antibióticos (antibiograma). Assim, deverá ser coletada uma amostra de escarro, que irá seguir para o laboratório de microbiologia. O laboratório irá analisar a amostra e realizar a cultura da bactéria. Na sequência, será aplicado o teste de sensibilidade. CASO 3 Cintia, de 21 anos, casada e que recentemente deu à luz a sua primeira filha, Mariana, a qual Laísa Dinelli Schiaveto tem 7 meses, nasceu com 3,2 kg e é muito saudável. A mãe de primeira viagem ainda está se acostumando à vida de mulher e mãe. Passado o período de licença maternidade, a mãe precisou retornar ao trabalho e, desta forma, mesmo com o coração apertado, teve que deixar a filhana creche. A criança se adaptou bem e, com o passar dos dias, Cintia foi se acalmando ao ver que a filha estava bem cuidada. Após um mês de início na creche, Mariana começou a apresentar febre e falta de apetite. A mãe tentou o uso de analgésico e, como a febre persistia, levou a criança ao pediatra para uma consulta. Cintia relatou ao médico os sintomas de Mariana. O médico examinou o bebê e fez algumas perguntas sobre alimentação, fazes e urina. Após ouvir, o médico solicitou exame de sangue e urina, receitou anti-inflamatório e pediu que ela retornasse assim que os exames ficassem prontos. O médico solicitou ainda que a mãe tentasse identificar os momentos em que a criança apresenta choro e irritabilidade (na hora de comer, urinar ou defecar). Cintia saiu confusa do consultório, sem entender o que sua filha tinha e por que o médico solicitou os exames, mas não concluiu o diagnóstico. Ajude Cintia entender por que o médico pediu exames e não fechou o diagnóstico do bebê. Era possível que o médico fechasse o diagnóstico sem os exames solicitados? Caso negativo, de que forma os exames poderiam auxiliar? Somente com os exames, o médico poderá detectar se existe uma infecção ou não e, também, se há a presença de bactérias. O exame de urina fica pronto em um curto período de tempo e analisa a presença de bactérias, o número de leucócitos e outros sinais que identifiquem uma possível infecção. O hemograma completo é um exame de sangue para avaliar a saúde de maneira geral e identificar possíveis desordens, como anemia, infecções e leucemia. Esse teste identifica diversos componentes do sangue e mostra se estão em níveis normais. Neste caso, se os leucócitos se apresentarem elevados, além do valor de referência, pode indicar a presença de um organismo ou substância estranha que precisa ser combatido e eliminado do corpo para não causar complicações, provavelmente uma infecção. Quais seriam os problemas, se o médico de Mariana receitasse um antibiótico sem verificar os exames solicitados? Os antibióticos são substâncias que causam a morte ou impedem o crescimento de bactérias. A prescrição do antibiótico é individualizada, dependendo da infecção específica que a pessoa está acometida. Sem saber se a criança estava com infecção, e em caso positivo, dependendo do tipo de infecção, um antibiótico qualquer não iria auxiliar em nada o tratamento, não iria curar Mariana, além de causar problemas futuros de resistência à bactéria. Dessa forma, os antibióticos são perigosos quando utilizados de maneira incorreta, pois podem tornar as bactérias mais resistentes no organismo. Portanto, um dos principais riscos ao tomar antibióticos em necessidade é a transformação de bactérias existentes em “superbactérias” ou bactérias resistentes.
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