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Resumo Direito Civil - Aula 07 (06.05.2011)

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Civil – Prof. André Roberto 
Data: 06/05/2011 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 
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Assuntos tratados: 
1º Horário. 
 Bem de Família/ Exceções a Impenhorabilidade do Bem de Família Legal/ Artigo 
3º da Lei 8.009/90/ Artigo 4º da Lei 8.009/90/ Fato Jurídico/ Fato Jurídico Lato 
Sensu/ Fato Jurídico Strictu Sensu 
2º Horário. 
 Atos Voluntários/ Atos Voluntários Lícitos/ Atos Voluntários Ilícitos/ 
Excludentes de Ilicitude 
1º Horário 
 
Bem de Família 
 
1. Exceções a Impenhorabilidade do Bem de Família Legal 
Essas exceções estão previstas nos arts. 3º e 4º da Lei 8.009/90. 
A proteção que se confere à moradia da pessoa humana é questão de ordem 
pública, de modo que a interpretação das restrições deve se dar de forma restritiva. 
Por ser matéria de ordem pública tem se admitido a impugnação dessa 
penhora em qualquer fase do processo (embargos do devedor; impugnação ao 
cumprimento de sentença; ou por mera petição). A priori, não haveria preclusão 
temporal para a alegação dessa matéria. 
 
1.1. Artigo 3º da Lei 8.009/90 
Art. 3º, Lei 8.009/90 - A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução 
civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: 
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas 
contribuições previdenciárias; 
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à 
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do 
respectivo contrato; 
III -- pelo credor de pensão alimentícia; 
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em 
função do imóvel familiar; 
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou 
pela entidade familiar; 
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VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal 
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. 
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. (Incluído pela 
Lei nº 8.245, de 1991) 
a. Inciso I -> Somente os créditos de trabalhadores domésticos é que são 
privilegiados, permitindo a penhora do bem de família legal. Não se estende esse 
benefício, por analogia, a todo e qualquer trabalhador. 
b. Inciso II -> A impenhorabilidade não pode inviabilizar o crédito. 
c. Inciso III-> Ao tratar da pensão alimentícia, parte significativa da doutrina 
(não é pacífico) entende que trata-se de obrigação decorrente das relações de 
parentesco, bem como aquelas decorrentes de casamento e união estável. A natureza 
protetiva da pensão alimentícia deve prevalecer ao direito de moradia. Até esse ponto, 
não há discordância, a dúvida estaria na pensão decorrente de responsabilidade civil, 
prevista nos arts. 948 e 950 do CC. 
Art. 948, CC - No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: 
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da 
família; 
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a 
duração provável da vida da vítima. 
Art. 950, CC - Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu 
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das 
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão 
correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que 
ele sofreu. 
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada 
e paga de uma só vez. 
Nesses dois artigos acima, há pensão definida a título de responsabilidade 
(reparação de dano). 
Discute-se se a pensão decorrente dessa responsabilidade estaria abarcada 
pelo inciso III. Para parte da doutrina não estaria, pois a lógica dessas pensões é 
diferente. Na pensão alimentícia decorrente de relações de parentesco, devem-se 
observar determinados princípios, tais como o binômio necessidade-possibilidade, 
princípio este que deve sempre resultar numa pensão amparada na razoabilidade. 
Sendo assim, se a pessoa humana que é titular do bem de família, não tem a 
possibilidade de pagar uma pensão maior, a pensão devida será fixada num valor 
“pagável”. O bem de família só será atingido se o titular do bem de família, 
alimentante, tendo a possibilidade de pagar, não o fez. 
Diferentemente ocorrerá nos casos de pensão alimentícia decorrente de 
responsabilidade civil, hipótese em que o parâmetro básico será a extensão do dano 
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sofrido pela vítima. Nestes casos, não se trata de ser possível pagar e voluntariamente 
não se adimplir, mas de não haver condições financeiras para se pagar. Trata-se de 
medida ressarcitória, por isso que o legislador, no art. 950, parágrafo único do CC 
prevê que a indenização pode ser fixada num único valor. É por esse motivo que se 
discute se seria justificável, na mesma lógica dos alimentos decorrentes das relações 
familiares, se opor exceção ao bem de família no caso de alimentos decorrentes da 
responsabilidade civil. 
O STJ diverge, mas a posição que prevalece é aquela que defende que a 
restrição à impenhorabilidade só é cabível para os alimentos decorrentes da relação de 
família. 
d. Inciso IV -> Houve divergência na interpretação deste inciso, sendo, na 
atualidade, questão já pacificada. 
Ele trata de obrigação propter rem, obrigação esta prevista em lei, cuja 
exigibilidade decorre da própria coisa, e que é devida por todo aquele que detém 
sobre ela direito real, inclusive posse. Aqui se incluem os tributos (Ex: IPTU, ITR), 
contribuições condominiais, etc... 
A controvérsia girava em torno da cota condominial, porque havia uma 
interpretação literal do inciso IV, no sentido de que ele somente trataria de espécies 
tributárias, incluindo somente tributos propter rem. Como a cota condominial não tem 
natureza tributária, deveria ser excluída desse rol. 
Contudo, a questão já foi pacificada pela jurisprudência, tendo-se sedimentado 
entendimento pela penhorabilidade do bem mesmo diante de dívida decorrente de 
cota condominial. Isso porque o CC, no art. 1715, ao estabelecer as exceções para o 
bem de família convencional, fez referênciaexpressa a cota condominial. Sendo assim, 
se em relação ao bem de família convencional, no qual há menos exceções, incluem-se 
as cotas condominiais, dever-se-ia incluí-la também o bem de família legal. 
Art. 1.775, CC - O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua 
instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de 
condomínio. 
 
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo 
existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida 
pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a 
critério do juiz. 
e. Inciso V -> A lógica adotada neste inciso, também é aplicada ao inciso VII. 
Como o bem de família legal é impenhorável, mas é alienável, seu titular poderia 
livremente dar este bem em garantia real (hipoteca). Neste caso, se o proprietário 
voluntariamente ofereceu o bem como garantia, não lhe seria permitido, 
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posteriormente, em atenção à segurança jurídica, frustrar o credor hipotecário, com 
base na impenhorabilidade do bem de família. 
O STF se valeu desse raciocínio no inciso VII. 
f. Inciso VII -> Esse inciso trata, especificamente, da fiança em contrato de 
locação, matéria que era polêmica, mas que desde 2005 está pacificada nos tribunais 
estaduais, no STF e no STJ. 
Decidiu-se pela constitucionalidade desse inciso, definindo-se pela 
penhorabilidade dos bens de família nos casos de fiança concedida em contrato de 
locação. Destaque-se que não é qualquer fiança que autoriza essa penhorabilidade. 
Na hipoteca, a garantia é especificada, criando-se, sobre um determinado bem, 
aderência em face de um terceiro. Tanto é assim, que só o credor hipotecário poderá 
se valer dessa garantia. Na fiança em geral, por sua vez, não se especifica um bem em 
garantia; nela a garantia é o patrimônio como um todo, sabendo-se, de antemão, que 
o imóvel residencial próprio (bem de família) não é penhorável. 
Quando a Lei 8.009/90 entrou em vigor, o inciso VII não estava na redação 
original. Diante da possibilidade de argüição de impenhorabilidade do bem de família, 
o credor passou a exigir que o devedor tivesse, pelo menos, dois imóveis. Por essa 
lógica, considerava-se que só o bem imóvel teria o condão de garantir uma execução 
(tratava-se de posição tradicional). E mais, para não dar muito trabalho no momento 
da execução, esses imóveis teriam que estar no mesmo Município. Assim, se já não era 
fácil encontra fiador, com a superveniência desses requisitos passou a ser impossível, 
dificultando demasiadamente outro direito de moradia, qual seja, a locação. 
A Lei 8.245/91, então, adicionou o inciso VII. Assim, essa fiança, tratada no 
inciso VII, é aquela oriunda de contrato de locação regido pela Lei 8.245/91. Assim, os 
proprietários poderiam aceitar fiadores com um único imóvel, pois esse passaria a ser 
penhorável. 
O legislador não restringiu essa previsão às locações residenciais, de modo que 
ela foi estendida para as locações comerciais. 
Questionou-se uma eventual violação ao Princípio da Isonomia na 
interpretação das relações obrigacionais. 
Muitas vezes, o devedor principal (locatário) e o fiador podem ter imóvel 
próprio que sirva como sua residência, conservado como de bem de família. Nesses 
casos, o locatário, que é devedor principal, terá garantida a impenhorabilidade do seu 
bem de família, e o fiador, que é apenas garantidor, não terá essa proteção. 
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Não se pode estender ao afiançado a exceção que cabe ao fiador, e por conta 
disso, há tratamento diferenciado em relação a duas pessoas que ocupam o pólo 
passivo da mesma relação obrigacional. 
Por causa dessa quebra de isonomia, questionou-se a constitucionalidade do 
inciso VII. Essa tese foi reforçada pela EC 26/2000, que acrescentou o direito à moradia 
no art. 6º da CRFB. Com isso, passou-se a defender que o inciso VII não teria sido 
recepcionado por essa emenda, logo, a partir dela, não mais se poderia penhorar o 
bem de família do fiador. Essa posição perdurou até 2005, quando STF derrubou 
decisões monocráticas nesse sentido e reconhece a constitucionalidade desse inciso, 
adotando tese semelhante a do inciso V, no sentido de que se a lei conferiu, 
espontaneamente, ao fiador, a concessão dessa garantia, não pode este, 
posteriormente, se opor à penhora, com fundamento na inconstitucionalidade. Disse o 
STF que, nos casos em que a lei autoriza, pode-se dispor do bem de família. 
Assim, o imóvel residencial do fiador pode ser objeto de penhor quando a 
fiança for fruto do contrato de locação, já o imóvel próprio do locatário não é 
penhorável (por ausência de disposição legal), mas pode ser oferecido como garantia 
real através de hipoteca. 
g. Inciso VI -> Atente-se que este inciso trata da sentença penal que determina 
ressarcimento. A condenação à indenização na esfera civil não é considerada exceção. 
 
1.2. Artigo 4º da Lei 8.009/90 
Art. 4º, Lei 8.009/90 - Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se 
insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência familiar, 
desfazendo-se ou não da moradia antiga. 
§ 1º Neste caso, poderá o juiz, na respectiva ação do credor, transferir a 
impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou anular-lhe a venda, liberando a 
mais valiosa para execução ou concurso, conforme a hipótese. 
§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade 
restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º, 
inciso XXVI, da Constituição, à área limitada como pequena propriedade rural. 
Deve-se provar que o devedor sabia de seu estado de insolvência e que, com 
seu comportamento irá prejudicar o direito de crédito dos credores. A questão é de 
difícil prova, pois tem que se atestar a má fé. 
Pode-se anular a venda com base na fraude contra credores, e se esta não for 
possível na ação reivindicatória pauliana, o juiz poderá afastar a impenhorabilidade do 
bem mais valioso. 
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O §2º, por sua vez, não trabalha com fraude, de modoque deveria ter sido 
tratado em artigo próprio. 
Não é razoável que se proteja toda a propriedade rural, se o proprietário, 
apesar de possuir um enorme latifúndio, reside em casa que ocupa apenas uma parte 
pequena dessa propriedade. Independentemente da intenção fraudatória, se a 
impenhorabilidade recair sobre uma propriedade rural, deve-se reduzi-la a um módulo 
mínimo, que seria de 50 hectares, pela lógica do art. 191 da CRFB, de modo que o 
excesso poderá ser passível de penhora. 
Art. 191, CRFB - Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua 
como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não 
superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, 
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. 
 Dimensões e Divisibilidade do Imóvel Urbano 
Muito se tem questionado sobre o fato de o legislador não ter especificado o 
tipo de imóvel urbano residencial que é objeto de proteção. 
O STJ tem dito que se o imóvel residencial urbano, que serve de moradia à 
entidade familiar ou à pessoa humana, qualificado como bem de família, for passível 
de divisão, sem modificar-lhe o aproveitamento dado como moradia, será possível a 
penhora de parte desse imóvel, o que vai depender da divisibilidade desse bem. 
Ex: O imóvel continha dois pavimentos, servindo o primeiro como loja, que era 
locada, e o segundo como moradia. Verificada essa situação e atestado que o imóvel 
poderia ser repartido, pode-se admitir a penhora da loja, ainda que a matrícula do 
imóvel fosse uma só. Assim, desmembra-se, criando duas matrículas. 
Em sentido contrário, há decisão do STJ que considera impenhorável bem não 
residencial utilizado como estabelecimento de pessoa jurídica de propriedade do 
devedor. Isso porque, em que pese o imóvel ser não residencial perante os credores, 
ele servia como moradia dos devedores, e a indivisibilidade desse bem, fez com que se 
estendesse a impenhorabilidade à parte não residencial. 
Além de se discutir sobre o tamanho do imóvel e sua divisibilidade, também se 
discute os casos de imóveis de elevado valor que sirvam como residência. 
 Mansão de Família 
Nesse caso, discute-se se o juízo poderia autorizar a penhora, reservando o 
restante para a aquisição de bem de menor valor, mais humilde. 
Há quem defenda que sim, pela penhorabilidade, devendo-se afastar o caráter 
suntuoso da propriedade, utilizando-se a ratio legis para preservar a moradia como 
garantia a uma vida digna. 
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O legislador chegou a estabelecer o teto de 1.000 salários mínimos, de modo 
que, superado esse valor, o bem poderia ser levado à hasta pública, sendo reservado 
montante para a compra de outro imóvel. Contudo, o Presidente da República vetou 
essa previsão. 
Atualmente, portanto, não importa o valor econômico do bem de família. A 
penhorabilidade vai depender somente da divisibilidade do bem e de sua destinação 
unitária como moradia ou não. 
 
FATO JURÍDICO 
 
1. Fato Jurídico Lato Sensu 
O fato jurídico lato senso abarca o fato jurídico stricto sensu e os atos 
voluntários. Estes, por sua vez, podem ser lícitos ou ilícitos. 
Todo acontecimento que repercute nas relações jurídicas, sendo relevante 
juridicamente, é designado de forma ampla como fato jurídico. Esse acontecimento 
pode ser por ato voluntário ou não e pode ser lícito ou ilícito. 
O conceito de fato jurídico é tão amplo que abarca inúmeras situações. O 
importante é distinguir suas espécies de acordo com a origem do acontecimento. 
Primeiro se divide o que é voluntário do que é involuntário. Essa 
voluntariedade está relacionada com as partes que integram as relações jurídicas, em 
face das quais as relações jurídicas repercutirão. 
 
1.1. Fato Jurídico Stricto Sensu 
Fato Jurídico, em sentido estrito, será tudo aquilo que for involuntário às 
partes da relação. 
O fato jurídico pode ser ordinário ou extraordinário. Os ordinários são 
previsíveis ou evitáveis e os extraordinários são imprevisíveis ou inevitáveis (não se 
prevê ou se prevê, mas não se consegue evitar). 
A maioridade é um exemplo de fato jurídico ordinário, pois é previsível. Outro 
exemplo é a inflação, pois ainda que ela não possa ser evitada, pode ser prevenida, de 
modo que, num contrato, pode-se colocar cláusula de reajuste para se manter um 
equilíbrio no seu objeto. 
Os fatos ordinários não podem ser alegados como excludente de 
responsabilidade. 
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Já no caso dos fatos extraordinários, tem-se o caso fortuito (imprevisível) e a 
força maior (previsível, mas incapaz de ter seus efeitos evitados, em razão da sua 
enorme dimensão). 
No âmbito da responsabilidade civil subjetiva, exige-se conduta culposa. A 
abrangência do caso fortuito e da força maior é enorme. Nesse sentido, o art. 393, 
parágrafo único do CC. 
Art. 393, CC - O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força 
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos 
efeitos não era possível evitar ou impedir. 
Se no âmbito da responsabilidade subjetiva o devedor só responde se tem 
culpa, todo e qualquer caso fortuito ou força maior (fatos extraordinários) por 
descartarem a subjetividade (culpa), em razão da sua involuntariedade, a excluirão. 
Todavia, a responsabilidade objetiva vem ocupando posição de destaque no 
nosso ordenamento vindo a ser tratada como parâmetro de responsabilidade e não 
mais como exceção. O parâmetro de responsabilidade passou a ser misto. 
Como na responsabilidade objetiva se trabalha com risco, passa-se a admitir 
que um comportamento involuntário, relacionado ao risco, possa ser fator de 
responsabilidade. Nessa medida, a análise mais detida do caso fortuito e da força 
maior passou a ser preponderante. Deve-se perceber em que medida essas figuras 
romperão ou não com nexo causal entre a atividade de risco desenvolvida e o dano 
produzido à vítima. 
Assim, o comportamento voluntário, ordinário ao risco, passa a ser tratado 
como um fortuito interno. Isso significa que há a possibilidade de previsão do 
acontecimento no âmbito da atividade. 
Há acontecimentos, contudo, que são estranhos ao risco (não são inerentes à 
atividade) ou que fogem à intensidade ordinária da atividade, caracterizando-se como 
comportamentos de força maior, que excederiam a previsão do risco. Estes sim 
poderão ser alegados como excludentes de responsabilidade. 
Para se tratar o caso fortuito ou a força maior como excludente de 
responsabilidade tem-se que estar diante de risco que admita exclusão,como, por 
exemplo, o risco administrativo. No risco integral, por exemplo, não cabe exceção, não 
havendo fortuito externo. Alguns autores vêm abrandando a Teoria do Risco Integral, 
defendendo que não existirá fortuito externo, mas poderá haver força maior. 
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A Teoria do Risco Integral é muito restrita, sendo aplicável ao dano nuclear 
(objetivamente admissível) e ao dano ambiental (questão sobre a qual ainda recaem 
controvérsias). Tudo estaria abrangido pelo risco da atividade desenvolvida. 
 
2º Horário 
 
1.2. Atos Voluntários 
Os atos voluntários, como já dito, dividem-se em lícitos e ilícitos. 
Trata-se de acontecimento derivado da conduta de, ao menos, uma das partes 
que integra a relação jurídica. Diferente do que ocorre nos fatos jurídicos em sentido 
estrito, há a participação de, pelo menos, uma das partes. 
 
1.2.1. Atos Voluntários Lícitos 
Os acontecimentos lícitos se subdividem em: ato fato; ato jurídico stricto 
sensu e negócio jurídico. 
O ato fato e o ato jurídico stricto sensu são tratados pelo CC, no art. 185, de 
forma superficial. 
Art. 185, CC - Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no 
que couber, as disposições do Título anterior. 
Já o negócio jurídico foi amplamente regulado nos arts. 104 a 184 do CC, 
demonstrando sua maior relevância. 
Todos os atos lícitos (ato fato; ato jurídico stricto sensu e negócio jurídico) são 
voluntários. A diferença é o papel de maior ou menor importância que a vontade terá 
na produção dos efeitos. 
De todos eles, o que exige uma vontade mais qualificada, porque se baseia 
numa autonomia da vontade (vontade privada), é o negócio jurídico. A vontade aqui 
existe, não só para a prática do ato, como também para regular os seus efeitos. 
Ex: Contrato, testamento, casamento, etc. Exige-se autonomia para se regular, 
ao menos, parte desses efeitos (auto-regulação). 
No plano do negócio jurídico, a vontade é tão importante, que ela precisa ter 
validade, ou seja: ser exteriorizada por forma prescrita ou não defesa em lei; ser 
emanada de agente capaz; envolver objeto lícito e possível, etc. Assim, no que se 
refere ao negócio jurídico adota-se a Teoria da Nulidade. 
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Utilizando-se a “escada ponteana” (Pontes de Miranda), analisa-se se o negócio 
existe; se existir, se é válido; e se for válido, se produz efeito. De modo que se sobe um 
degrau por vez. Essa é a regra geral, que comporta exceções que serão apreciadas 
posteriormente. 
Percorridos os três degraus, terá se analisado a vontade cuidadosamente. 
Há quem diga que o CC/02 não adotou a “escada ponteana”, porque ele cuida 
profundamente da validade, razoavelmente da eficácia, mas não cuida da existência 
como plano autônomo, de modo que a existência não seria relevante para a lei. Assim, 
para a lei, tudo aquilo que não existisse, seria nulo. 
Contudo, esse não é o entendimento da doutrina majoritária, para qual o plano 
da existência é relevante, devendo ser separadamente analisado. 
O ato jurídico stricto sensu também decorre da vontade, todavia, nele, não se 
permite a escolha dos efeitos, que são vinculados pela lei. Os efeitos são regulados 
exclusivamente pelo legislador. 
Ex: Notificação (constitui em mora o devedor; interrompe a prescrição); 
registro de nascimento. 
Assim, ele parte da vontade, mas produz efeitos vinculados pela lei. 
O ato fato, por sua vez, não é tratado autonomamente por alguns 
doutrinadores clássicos. 
Existe uma conduta, mas que produz efeitos como se fosse um fato jurídico em 
sentido estrito. 
Como existe, produz efeitos, mas não se submete à analise da validade. Assim, 
no ato fato se desconsidera o plano da validade. 
Há diversas categorias de ato fato, de modo que algumas serão aqui elencadas: 
a. Atos negociais de pequena repercussão econômica praticados por 
incapazes sem a devida representação. 
São os mais comumente apontados pela doutrina. 
Ex: Criança que paga passagem de ônibus ou que compra figurinhas na banca 
de jornal, etc... 
Trata de ato cotidiano, que não comporta a análise de validade. A própria 
sociedade prefere convalidá-lo, pois não vale a pena submetê-lo à discussão da 
validade, que deve ser superada. 
b. Atos meramente materiais, tais como: ocupação; especificação e aquisição 
de posse natural. 
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Data: 06/05/2011 
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Nesse caso, também se está diante de alguém que não tem capacidade 
negocial, mas que pratica ato meramente material apto a produzir efeitos lícitos, que 
também não devem ser submetidos à análise de validade. 
Ex: A posse adquirida naturalmente, pela apreensão da coisa. 
c. Atos lícitos geradores de responsabilidade civil. 
São as situações acobertadas pelas excludentes de ilicitude. Gera 
responsabilidade civil, apesar de não ser ilícito. 
d. Atos fatos caducificantes. 
São os casos de prescrição e decadência. 
A natureza da prescrição e da decadência, para alguns autores, será de fato 
jurídico estrito senso, por reconhecerem uma conduta e um efeito. A conduta seria a 
omissão daquele que tem um direito ou uma pretensão a exercer. O efeito seria a 
perda da pretensão ou direito decorrente da passagem do tempo. 
Aqueles que consideram tais institutos como ato-fato, exigem a conduta de 
omissão. Se entendermos que nosso ordenamento adotou o Princípio da Actio Nata 
(tanto para a prescrição como para a decadência), somente a partir do momento em 
que se tiver conhecimento da existência do direito ou de sua violação é que se poderá 
exigir da pessoa uma conduta capaz de evitar a prescrição e/ou a decadência. Se não é 
viável para ele o exercício, o prazo não correria. O STJ, então, tem dito que a violação 
ao direito ocorreu, mas permaneceu oculta. 
Ex: No erro médico só permite-se o início da contagem do prazo prescricional a 
partir do momento em que o paciente toma conhecimento do dano. O mesmo se dá 
no direito do consumidor em relação ao vício oculto. 
Dessa forma, não bastaria o mero decurso do tempo, mas sim o decurso do 
tempo de quem podia agir, e não o fez. 
 
1.2.2. Atos Voluntários Ilícitos 
Os acontecimentos ilícitos, por sua vez, se subdividemem: contratuais e 
extracontratuais. 
Entende-se por ilícito contratual o inadimplemento de obrigação negocial. Diz-
se que a aplicação da responsabilidade contratual não se restringe ao contrato em si, 
mas ao inadimplemento de qualquer negócio, seja ele um contrato ou um negócio 
jurídico de outra natureza. 
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Ex: Promessa de recompensa não é contrato, por ser negócio unilateral, mas 
diante do inadimplemento, a responsabilidade se dará no âmbito do ilícito contratual. 
O inadimplemento é estudado dentro de obrigações e tem três figuras 
principais: o inadimplemento absoluto; o inadimplemento relativo ou mora e a 
violação positiva do contrato. 
Já o ilícito extracontratual vem disciplinado nos arts. 186 e 187 do CC. 
Destaque-se que o art. 187 também pode ser aplicado ao direito dos contratos. 
Art. 186, CC - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
O art. 186 do CC traz a figura do ilícito subjetivo ou stricto sensu. 
Art. 187, CC - Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
Já o art. 187 do CC traz a figura do abuso do direito, tratado como ilícito lato 
sensu. 
O CC/16 refletindo o raciocínio do século XIX, inspirado no direito francês, via o 
ilícito baseado na culpa, numa acepção subjetiva. Assim, só há ilícito se houver 
vontade na prática do ato que cause dano. 
O art. 159 do CC/16 equivaleria, atualmente, ao art. 186 do CC/02 e tratava da 
responsabilidade civil aquiliana (independente de vínculo contratual entre as partes). 
Como consequencia da prática de ato ilícito que cause dano surge a obrigação 
de sua reparação, conforme o art. 927 do CC. Trata-se de inobservância do dever geral 
de conduta e não de obrigação contratual. 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado 
a repará-lo. 
O elemento subjetivo caracteriza-se pela culpa lato sensu. Como pressuposto 
da responsabilização, deve haver, portanto, uma conduta voluntária, em que se exige 
dolo, negligência, imprudência ou imperícia. 
A mudança com a edição do novo CC deu-se apenas quanto ao dano moral, 
pelo que se pode observar que não houve uma alteração substancial quanto ao ilícito 
contratual. Destaque-se que não houve nenhuma mudança, nesse aspecto, introduzida 
pelo CC/02, na medida em que o dano moral já havia sido reconhecido pela CRFB/88. 
O ilícito subjetivo, portanto, pressupõe conduta culposa e dano injusto. 
A grande novidade foi trazida pelo art. 187 do CC. 
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Art. 187, CC - Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
Quando o exercício do direito excede a sua finalidade, essa conduta é tida 
como abusiva e consequentemente será ato ilícito. 
O abuso de direito, embora não viesse previsto expressamente no CC/16, já era 
conhecido doutrinaria e jurisprudencialmente. Contudo, no art. 187 do CC/02 o 
legislador denominou o abuso de direito de ato ilícito, retomando discussão antiga, 
que já havia sido superada. 
Na visão clássica, só cometia ato ilícito quem agisse culposamente, causando 
um dano. A ideia do exercício de direito causar dano injusto era uma ideia restrita a 
certas e determinadas situações excepcionais. 
Superada a visão clássica, passou-se a compreender que, não necessariamente, 
o exercício de um direito seria lícito. Surgiu então a figura do abuso de direito a partir 
de atos de emulação. 
O ato de emulação se caracteriza quando o titular de um direito abandona os 
seus próprios interesses e passa a exercer esse direito com a única finalidade de 
prejudicar outrem. Não há a busca de uma vontade própria, mas apenas a intenção de 
prejudicar outrem. Nessa época, o abuso do direito era carregado por uma carga 
subjetiva, de produzir prejuízo alheio. 
Há reflexos dos atos emulativos do CC/02, no art. 1.228, §2º. 
Art. 1.228, § 2º, CC - São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer 
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. 
Esse artigo reflete um caso histórico (francês) de abuso de direito. Eram 
construções que para nada serviam e tinham a intenção de perfurar balões, dirigíveis 
que partiam da propriedade do vizinho. Não se extraia das torres utilidade histórica. 
Assim, relativizou-se o direito de propriedade. 
Durante o século XX, doutrina e jurisprudência passaram a desconsiderar o ato 
emulativo como única hipótese de abuso de direito. O abuso de direito deveria ser 
tratado como uma figura apartada que não exigisse dolo ou culpa, como ocorre no 
ilícito clássico, devendo o abuso de direito ser reprimido, mesmo que não intencional. 
O abuso de direito passou a ser observado como um ato de excesso em relação 
aos fins, a ser apreciado objetivamente pelo critério objetivo finalístico. 
Quando tudo isso já estava consolidado, o CC/02 previu que o abuso de direito 
também seria ilícito. Assim, o abuso de direito, enquanto ilícito clássico exigiria o 
elemento subjetivo. 
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A doutrina, de forma uníssona, então, criou a figura do ilícito lato sensu, 
afastando do abuso do direito o conceito do ilícito clássico. O abuso de direito é ilícito 
por ser incompatível com o sistema e não por decorrer de elemento subjetivo. 
Nesse sentido, o enunciado 37 da I Jornada de Direito Civil: 
Enunciado 37 do CJF - A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de 
culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico. 
Assim, atualmente, nem todo ilícito pressupõe dolo ou culpa, mas tão somente 
o ilícito em sentido estrito. Da mesma forma, a responsabilidade será objetiva ao se 
apreciar o abuso de direito de forma objetiva, por um critério objetivo finalístico. 
Ex: A Lei 8.987/95 que trata da concessão de serviços público prevê a 
possibilidade de interrupção na prestação do serviço utisinguli, pela falta de 
pagamento. O STJ firmou entendimento de que tal previsão estava autorizada. Já 
firmado esse entendimento, o mesmo STJ autorizou o corte de energia elétrica de 
sujeito inadimplente. Havia inadimplemento e havia aviso de corte. Contudo, o sujeito 
tinha pago a conta, mas deixara de pagar, por equívoco, 36 centavos. O STJ disse, 
então, que 36 centavos não justifica a conduta da concessionária. O exercício do 
direito deve se fazer de forma compatível; ou seja, um débito de 36 centavo não 
justifica o corte de energia elétrica. 
Deve-se valer dos meios que se façam necessários para se alcançar a finalidade 
do direito. Excedido os meios, não importa se houve ou não intenção de prejudicar 
terceiro, haverá em abuso de direito, gerando a responsabilidade civil. 
 
1.2.2.1. Excludentes de Ilicitude 
O art. 188 do CC afirma que nem todo ato voluntário que gere dano a outrem 
será ilícito, prevendo as excludentes de ilicitude. 
Art. 188, CC - Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover 
perigo iminente. 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as 
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do 
indispensável para a remoção do perigo. 
Os pressupostos da responsabilidade são: conduta; dano e nexo de 
causalidade. Logo, não é pressuposto indispensável da reparação, a ilicitude da 
conduta. 
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Não comete ato ilícito quem age em: legítima defesa; exercício regular de 
direito ou em estado de necessidade. 
a. Legítima Defesa 
Tudo o que se utiliza para a caracterização da legítima defesa no direito penal 
deve ser utilizado no direito civil. Ela deve ser proporcional, responsabilizando-se pelo 
excesso, que será considerado ilícito. 
Normalmente, a legítima defesa se da com o exercício de força necessária, de 
forma proporcional, para afastar agressão provocada por outrem. Se o dano que se 
causa ao agressor está dentro dos limites da legítima defesa não há que se falar em 
indenização, pois é a culpa própria do agressor que leva a agressão. Se houver excesso 
do agredido, pode-se discutir agressão. 
Quando a legítima defesa for putativa (imaginária), errando-se com 
escusabilidade, a reação ao erro se justifica. 
A legítima defesa putativa, na esfera civil, não gera excludente de 
responsabilidade civil, isso porque, neste seara, a ilicitude da conduta não é 
pressuposto à responsabilidade de indenizar; bastando, tão somente, a existência de 
nexo causal. 
Assim, ela pode até excluir a ilicitude, mas não a responsabilidade civil. 
b. Exercício Regular de Direito 
O exercício regular de direito representa conduta lícita. Contudo, ele pode ser 
fator de responsabilidade civil. 
Ex: Ao se exercer o direito de construir, se afeta a estrutura do prédio vizinho. 
Ex: Exerce-se o direito de exigir a passagem forçada mediante indenização 
cabal. Sem esta, haverá responsabilidade civil. 
Santiago Dantas dizia que o critério para se aferir se o exercício regular de 
direito gera ou não responsabilidade civil estaria: na ordinariedade do dano produzido 
e na reciprocidade que aquela situação se estabeleceria entre as partes. 
Quando o exercício de direito for necessário, mas causar um impacto 
extraordinário pra outrem, de forma não recíproca, não gerando benefício algum para 
este terceiro, caberá indenização. 
c. Estado de Necessidade 
O estado de necessidade é o que mais cai. Deve-se combinar o art. 188, II com 
os arts. 929 e 930 do CC, os quais determinam expressamente a exigência de 
indenização. 
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Art. 929, CC - Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não 
forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. 
Art. 930, CC - No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, 
contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver 
ressarcido ao lesado. 
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o 
dano (art. 188, inciso I). 
Só há direito de regresso contra a pessoa que criou a situação de perigo ou 
contra a vítima beneficiada, logo, se o dano causado se operou em relação a qualquer 
uma delas, não há que se falar em dever de indenizar, pois se opera a compensação. 
Assim, no estado de necessidade só haverá dever de indenizar se o dano for 
causado a um terceiro estranho à situação de perigo. Se for a pessoa que estava em 
perigo ou a pessoa que criou o perigo, elas não terão direito de indenização. Deve-se 
lembrar que o estado de necessidade exige o sacrifício de bem menor para 
salvaguardar bem maior, caso contrário, nem se configurará o estado de necessidade.

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