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A Linguagem Jur--dica (1)

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1 
 
A LINGUAGEM JURÍDICA 
 
 Questões para reflexão: 
1. Ao produzir um texto (oral ou escrito), em contexto jurídico, quais aspectos da linguagem você 
observaria para obter sucesso na interlocução? 
 
2. Você considera importante que o Direito constitua um uso próprio e específico da linguagem? 
 
3. Você considera a linguagem jurídica acessível? 
 
4. Qual a sua opinião a respeito do uso que os profissionais do Direito fazem da linguagem? 
 
5. Como você avalia o uso que o juiz mencionado na notícia abaixo transcrita faz da linguagem? 
 
Jornal Folha de S. Paulo, 03/02/2009 
Juiz chama "BBBs" de "gostosas" em sentença 
Ao justificar indenização por televisor quebrado, magistrado do RJ citou as participantes do 
programa 
DA SUCURSAL DO RIO 
 Assistir às "gostosas" do "Big Brother Brasil" foi uma das justificativas de um juiz do Rio para 
dar ganho de causa a um homem que ficou meses sem poder ver televisão. O juiz Cláudio Ferreira 
Rodrigues, 39, titular da Vara Cível de Campos dos Goytacazes (278 km do Rio), justificou sua 
sentença dizendo que procura "ser sempre o mais informal possível". 
 Ao determinar o pagamento de indenização de R$ 6.000 por defeito em um aparelho de TV, o 
juiz afirmou na sentença: "Na vida moderna, não há como negar que um aparelho televisor, presente 
na quase totalidade dos lares, é considerado bem essencial. Sem ele, como o autor poderia assistir às 
gostosas do "Big Brother'?". 
 O magistrado disse que procura ser direto para que o autor da ação entenda por que ganhou ou 
perdeu. Para ele, quem reclama na Justiça é quem mais deve ser respeitado, porque "é o cara que paga 
o tributo". "Não adianta ficar falando só o que os advogados sabem sem chegar à cognição do 
juridicionado. Fiz aquela folha de brincadeira para deixar informal." 
 Ele argumenta que a expressão foi usada para fundamentar o autor da ação, um senhor que 
contou ter ficado por seis meses sem assistir ao "BBB", ao "Jornal Nacional" e a jogos de futebol, por 
um defeito da TV. O juiz diz que não se arrepende. 
 "[As garotas que participam do "BBB'] Não são escolhidas pelo padrão de beleza? 90% das 
mulheres que vão para lá são bonitas realmente. Talvez eu tenha pecado pela linguagem. Poderia ter 
falado: "Deixando de observar as meninas com um padrão físico'", ironizou. 
 Na sentença, ele ainda faz piada com dois times cariocas. Assim como o autor da ação, que 
contou ser flamenguista, ele brinca com a situação do Fluminense e do Vasco, que foi rebaixado no 
ano passado. "Se o autor fosse torcedor do Fluminense ou do Vasco, não haveria a necessidade de 
haver TV, já que para sofrer não se precisa de TV", diz, na sentença. 
 "Eu sou flamenguista, mas todo mundo sabe disso. Tem um outro processo em que eu sacaneio 
o meu próprio time. E não provocou nenhuma celeuma. Eu podia ser criticado se eu fosse moroso 
demais. Estou fazendo o que meu antecessor não fez." (MALU TOLEDO) 
Leia a íntegra da sentença 
 "Foi aberta a audiência do processo acima referido na presença do Dr. Cláudio Ferreira 
Rodrigues, Juiz de Direito. Ao pregão responderam as partes assistidas por seus patronos. Proposta a 
conciliação, esta foi recusada. 
 Pela parte ré foi oferecida contestação escrita, acrescida oralmente pelo advogado da Casas 
Bahia para arguir a preliminar de incompetência deste Juizado pela necessidade de prova pericial, cuja 
 2 
vista foi franqueada à parte contrária, que se reportou aos termos do pedido, alegando ser 
impertinente a citada preliminar. 
 Pelo MM. Dr. Juiz foi prolatada a seguinte sentença: Dispensado o relatório da forma do art. 38 
da Lei 9.099/95, passo a decidir. Rejeito a preliminar de incompetência deste Juizado em razão de 
necessidade de prova pericial. Se quisessem, ambos os réus, na forma do art. 35 da Lei 9.099/95, fazer 
juntar à presente relação processual laudo do assistente técnico comprovando a inexistência do defeito 
ou fato exclusivo do consumidor. Não o fizeram, agora somente a si próprias podem se imputar. 
Rejeito também a preliminar de ilegitimidade da ré Casas Bahia. 
 Tão logo foi este fornecedor notificado do defeito, deveria o mesmo ter, na forma do art. 28, § 
1º, da Lei 8078/90, ter solucionado o problema do consumidor. Registre-se que se discute no caso 
concreto a evolução do vício para fato do produto fornecido pelos réus. No mérito, por omissão da 
atividade instrutória dos fornecedores, não foi produzida nenhuma prova em sentido contrário ao 
alegado pelo autor-consumidor. 
 Na vida moderna, não há como negar que um aparelho televisor, presente na quase totalidade 
dos lares, é considerado bem essencial. Sem ele, como o autor poderia assistir as gostosas do Big 
Brother, ou o Jornal Nacional, ou um jogo do Americano x Macaé, ou principalmente jogo do 
Flamengo, do qual o autor se declarou torcedor? 
 Se o autor fosse torcedor do Fluminense ou do Vasco, não haveria a necessidade de haver 
televisor, já que para sofrer não se precisa de televisão. Este Juizado, com endosso do Conselho, tem 
entendido que, excedido prazo razoável para a entrega de produto adquirido no mercado de consumo, 
há lesão de sentimento. 
 Considerando a extensão da lesão, a situação pessoal das partes neste conflito, a pujança 
econômica do réu, o cuidado de se afastar o enriquecimento sem causa e a decisão judicial que em 
nada repercute na esfera jurídica da entidade agressora, justo e lícito parece que os danos morais sejam 
compensados com a quantia de R$ 6.000,00. 
 Posto isto, na forma do art. 269, I, julgo parcialmente procedente o pedido, resolvendo seu 
mérito, para condenar a empresa ré a pagar ao autor, pelos danos morais experimentados, a quantia de 
R$ 6.000,00 (seis mil reais), monetariamente corrigida a partir da publicação deste julgado e com juros 
moratórios a contar da data do evento danoso, tendo em vista a natureza absoluta do ilícito civil. 
Publicada e intimadas as partes em audiência. Registre-se. Após o trânsito em julgado, dê-se baixa e 
arquivem-se os autos. Nada mais havendo, mandou encerrar. Eu, Secretário, o digitei. E eu, , Resp. p/ 
Exp., subscrevo. 
(Sentença extraída do site www.espacovital.com.br) 
 
 Para nos auxiliar nessa reflexão, vejamos o que dizem Adalberto Kaspary e Viviane Rodrigues 
de Melo, em seus artigos de opinião que analisam a linguagem jurídica: 
 
 
LINGUAGEM DO DIREITO
1
 
(Espaço Vital Artigos - 30.06.2003) Adalberto J. Kaspary 
2
 
O Direito é uma profissão de palavras. (D. Mellinkoff) 
 Em toda profissão a palavra pode ser útil, inclusive necessária. No mundo do Direito, ela é 
indispensável. Nossas ferramentas não são mais que palavras, disse o jurista italiano Carnelutti. 
Todos empregam palavras para trabalhar, mas, para o jurista, elas são precisamente a matéria-prima de 
sua atividade. As leis são feitas com palavras, como as casas são feitas com tijolos. O jurista, em 
última análise, não lida com fatos, diretamente, mas com palavras que denotam ou pretendem denotar 
esses fatos. Há, portanto, uma parceria essencial entre o Direito e a Linguagem. 
 
1 (**) Artigo originalmentre inserido no saite www.fesmp.org.br 
2
 (*) Formado em Letras Clássicas (Latim, Português e Grego) e em Direito, ambos pela UFRGS, advogado e professor do Curso 
de Preparação da Língua Portuguesa para Concursos da ESMP (a 5ª edição terá início em 4 de agosto). Autor de diversas obras, 
entre elas, Habeas Verba – Português para Juristas, O verbo na Linguagem Jurídica – Acepções e Regimes. 
 3 
Quando o advogado recebe o cliente e escuta sua consulta, responde com palavras. Se precisa 
elaborar um contrato ou estabelecerum acordo, é com palavras que o faz. O mesmo sucede quando 
atua em defesa de seus clientes, nas diversas instâncias do Judiciário. 
Os juízes e os tribunais, em suas sentenças, acórdãos e arestos, decidem mediante palavras. E a 
coação, ou a força, que se poderão empregar na execução desses atos terão de ajustar-se aos estritos 
termos do que neles se disse. 
O órgão do Ministério Público, em seus pareceres, em suas intervenções na sessão do júri e em 
suas demais formas de atuação, procura, mediante palavras, demonstrar que, no caso sob exame, 
cumpre adotar a solução por ele alvitrada e defendida. 
De tais considerações cabe deduzir que todo jurista deve ser um bom gramático, porquanto a 
arte de falar e escrever com propriedade é noção elementar de gramática. 
Claro que da gramática não se cairá na gramatiquice. A linguagem deve ser viva e dinâmica, 
funcional e palpitante de realidade. As questões técnicas não podem fazer esquecer que a luta pelo 
Direito gira em torno de problemas humanos. A linguagem do jurista deve ser instrumento a serviço 
da eficaz prestação jurisdicional. Ela visa a fins utilitários, antes de mais nada, e não a fins artísticos. 
Ao redigir, ordenam-se idéias e acontecimentos. Quanto melhor conhecermos o necessário 
instrumento para isso – as palavras –, com maior precisão nos expressaremos e comunicaremos. A 
palavra está, aqui, entendida em tudo que lhe diz respeito: seu significado preciso, sua forma correta e 
sua apropriada inserção em estruturas sintáticas simples e complexas. 
O conhecimento das palavras supõe a consciência de seu caráter relativo. É sabido que o 
significado das palavras é convencional e emotivo; vago e ambíguo; que são imprecisos os conceitos; 
que as palavras assumem acepções distintas nas diferentes áreas do conhecimento, e até dentro da 
mesma área, nos diversos segmentos desta. E é bem sabido que palavras como Liberdade, 
Democracia, Nacionalismo, Bem Público se empregam, muitas vezes, de forma contraditória e 
encoberta. 
A missão principal do jurista é contribuir para a realização da justiça. E a este propósito não 
somente não se opõem, antes para ele contribuem, os meios empregados e as formas desses meios. 
Fundo e forma vão tão intimamente ligados como espírito e corpo. O fundo – o sentido de justiça de 
uma decisão, por exemplo – pode vir determinado, ou mais exatamente fixado, pela forma sob a qual 
se apresenta. Na decisão, a realidade da justiça está objetivada nas palavras do magistrado. 
Afirma-se – e é comumente aceito – que a linguagem jurídica é uma linguagem tradicional, ao 
contrário daquela das ciências aplicadas, uma linguagem revolucionária, inovadora, que 
constantemente incorpora novos termos e expressões. 
Ocorre que o nosso Direito basicamente foi escrito em latim, língua precisa e sintética. O 
Direito, pela sua própria origem, tem, assim, uma linguagem tradicional; mas ele tem, ao mesmo 
tempo, uma linguagem revolucionária, em constante evolução, conseqüência da necessidade urgente 
de acudir a novas realidades e a soluções adequadas a estas. O acesso universal à justiça, a 
judicialização de um universo ilimitado de fatos, questões e situações que antes passavam ao largo do 
tratamento judicial, a comunicação instantânea e abrangente são algumas de outras tantas realidades 
que implicam a incorporação, ao Direito, de novos termos, somando-se aos já existentes. 
O desenvolvimento da técnica jurídica fez com que surgissem termos não-usuais para os leigos. 
A linguagem jurídica, no entanto, não é mais hermética, para o leigo, que qualquer outra linguagem 
científica ou técnica. Aí estão, apenas para exemplificar, a Medicina, a Matemática e a Informática 
com seus termos tão peculiares e tão esotéricos quanto os do Direito. 
Ocorre que o desenvolvimento da ciência jurídica se cristalizou em instrumentos e instituições 
cujo uso reiterado e cuja precisão exigiam termos próprios: servidão, novação, sub-rogação, enfiteuse, 
fideicomisso, retrovenda, evicção, distrato, curatela, concussão, litispendência, aquestos (esta a forma 
oficial), etc. são termos sintéticos que traduzem um amplo conteúdo jurídico, de emprego forçado para 
um entendimento rápido e uniforme. 
O que se critica, e com razão, é o rebuscamento gratuito, oco, balofo, expediente muitas vezes 
providencial para disfarçar a pobreza das idéias e a inconsistência dos argumentos. O Direito deve 
sempre ser expresso num idioma bem-feito; conceitualmente preciso, formalmente elegante, discreto e 
funcional. A arte do jurista é declarar cristalinamente o Direito. 
 4 
E o Direito tem dado, lá fora e aqui, mostras de que pode ser declarado numa linguagem 
paradigmática. Stendhal, romancista francês, aconselhava aos escritores o estudo do Código 
Napoleônico, de sua linguagem sóbria e funcional, para aperfeiçoar o estilo. Nosso Código Civil de 
1916, um monumento de linguagem simples, precisa e elegante, há de – ou deveria, ao menos – servir 
sempre de inspiração e modelo aos que lidam com o Direito, em suas mais diversas modalidades de 
atuação. (O atual Código Civil, de 2002, lamentavelmente, deixa, em vários momentos, a desejar em 
matéria de linguagem correta, clara e precisa.). 
Quem lida com o Direito, em suas diferentes concretizações, deve aspirar a expor o conteúdo 
mais exato na expressão mais adequada. E isso implica uma convivência definitiva – harmônica e 
amorosa – com a Linguagem. Direito e Linguagem constituem um par indissociável. Sem a qualidade 
desta, aquele faz má figura. 
 
 Veja qual a decisão da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) com relação ao 
hermetismo da linguagem jurídica: 
Linguagem comum 
AMB lança campanha pela simplificação do “juridiquês” 
por Adriana Aguiar 
(Revista Consultor Jurídico, 10 de agosto de 2005 ) 
 
Com o objetivo de aproximar o judiciário da sociedade, a AMB — Associação dos 
Magistrados Brasileiros - vai lançar a Campanha pela Simplificação da Linguagem Jurídica - o 
chamado “juridiquês”. O ato ocorre no dia do advogado, 11 de agosto, às 11h, na Faculdade de Direito 
da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. 
Para o juiz e presidente da AMB, Rodrigo Collaço, é necessário reunir os estudantes de direito 
e os jornalistas para difundir a simplificação dessa linguagem e promover a aproximação da sociedade 
com o meio jurídico. Como o uso da linguagem tradicional do Direito, que começa a ser aprendida já 
na faculdade, os estudantes serão o alvo inicial da campanha. 
Segundo a AMB, que reúne 15 mil juizes, é clara a noção de quanto mais distante a linguagem 
usada nos atos judiciais, menos compreendida é atuação do Judiciário pelo cidadão. E por isso, a 
campanha quer modificar essa cultura lingüística do Direito, para que a atuação da justiça seja 
compreendida por todos os cidadãos. 
ATIVIDADES 
 
1. Procure traduzir os exemplos de “juridiquês” que abaixo seguem: 
Autarquia ancilar: _____________________________________________________________ 
Cártula chéquica: ______________________________________________________________ 
Com espeque (ou com fincas) no artigo, estribado, com supedâneo no artigo: _____________ 
Digesto obreiro: ________________________________________________________________ 
Ergástulo público: __________________________________________________________ 
Exordial acusatória, peça increpatória, peça acusatória inaugural: ____________________ 
Peça incoativa, petição de intróito, peça-ovo: ________________________________________ 
Remédio heróico: _____________________________________________ 
Indigitado________________________________________ 
Estipêndios funcionais________________________________________ 
Data vênia____________________________________________________________________ 
Sentença transitado em julgado__________________________________________________ 
Alvazir ___________________________________________________________________ 
Testigo___________________________________________________________________ 
Caderno indiciário ________________________________________________________ 
Diploma provisório____________________________________________________ 
Pretório Excelso, Excelso Sodalício, ou Egrégio Pretório Supremo________________________ 
 5 
Espórtula_____________________________________________________________________ 
 
2. Continue a brincadeira: 
Estudante de Direito não tem dor de barriga, tem desfloreio intestinal 
Estudante de Direito não copia, compara compilações 
Estudante de Direito não se distrai, analisa a inter-relação simbiótica dos insetos a sua volta. 
Estudante de Direito não faz sexo, _________________________________________________ 
Estudante de Direito não diz besteira, ________________________________________________ 
Estudante de Direito não mente, _____________________________________________________ 
Estudante de Direito, em momentos de impaciência , não diz ‘não me venha com conversas para boi 
dormir”, diz _____________________________________________________________________ 
_______________________________________________________________________________. 
Tampouco se utiliza de expressões do tipo ‘você já me encheu o saco’, prefere declarar que 
_______________________________________________________________________________

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