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AMANDA FARIA Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) VISÃO GERAL O Diabetes Mellitus (DM) é caracterizado por distúrbios no metabolismo de carboidratos devido a defeitos na produção e secreção de insulina, resultando em um quadro de hiperglicemia. Ela pode ser classificada em: 1. DM tipo 1: destruição das células beta pancreáticas, causando absoluta deficiência de insulina. Geralmente diagnosticado na infância; 2. DM tipo 2: aumento na resistência insulínica e defeito progressivo na secreção de insulina; O Diabetes Mellitus também pode ocorrer durante a gestação, sendo então chamado de Diabetes Mellitus Gestacional (DMG). DIABETES MELLITUS GESTACIONAL O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é aquele diagnosticado na gravidez e que não atende aos critérios de diabetes pré-gestacional. Ela ocorre devido às mudanças no organismo materno e desaparece no pós-parto. Diabetes pré-gestacional é a nomenclatura dada quando a gestante já é diabética, tanto diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2. No entanto, ela pode já saber que é diabética ou descobrir essa diabetes durante a gestação. FISIOPATOLOGIA + A fisiopatologia está relacionada com as mudanças do organismo materno envolvendo o metabolismo FATORES DE RISCO + Os fatores de risco para o desenvolvimento da DMG incluem: 1. Parente de 1º grau diabético; 2. DMG em gestação anterior; 3. IMC > 25 DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito na rotina de pré-natal. Durante a anamnese, avalia-se os fatores de risco, diagnóstico prévio de diabetes e controle glicêmico. Solicita-se os exames complementares para rastreio durante o 1º, 2º e 3º trimestres. RASTREIO NO PRIMEIRO TRIMESTRE No 1º trimestre, é preconizado a realização do exame de glicemia de jejum. 1. Normal: <92mg/dL; 2. DMG: entre 92 e 125mg/dL; 3. Diabetes pré-gestacional: ≥126mg/dL. A glicemia ocasional também pode ser feita, sendo diagnóstico de diabetes pré-gestacional quando ela é >200mg/dL. RASTREIO NO SEGUNDO TRIMESTRE No 2º trimestre, quando a placenta já está formada e há a presença de hormônios placentários que atuam como contra-insulínicos, é onde ocorre o desenvolvimento da DMG. Sendo assim, quando a glicemia de jejum é normal durante o 1º trimestre, realiza-se no 2º trimestre o Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) com 75g realizada entre 24 a 28 de semana gestacional. O diagnóstico de DMG no TOTG de 75g é dado por alteração em ao menos um valor, podendo ser: 1. Jejum: ≥ 92mg/dL; 2. 1h: ≥ 180mg/dL; 3. 2h: ≥ 153mg/dL; O diagnóstico de diabetes pré-gestacional no TOTG de 75g entre 24 e 28 semanas é dado por alteração em pelo menos um dos valores: 1. Jejum: ≥ 126mg/dL; 2. 2h: ≥ 200mg/dL; TRATAMENTO DA GESTANTE DIABÉTICA O tratamento deve ser interdisciplinar e inclui dieta orientada por um nutricionista, exercício físico e monitoramento glicêmico diário por meio da glicosimetria capilar. Além dessas medidas, caso com uma ou duas semanas o controle glicêmico não é atingido, é iniciado a conduta medicamentosa com o uso de insulinoterapia como primeira escolha. AMANDA FARIA INSULINOTERAPIA A insulinoterapia é uma forma de controle glicêmico importante, sendo necessária na paciente com DM tipo 2 e DMG e essencial no paciente com DM tipo 1. TIPOS Existem diversos tipos de insulina variando o tempo de ação, insulina de ação lenta, ação rápida e ação ultrarrápida. A administração de insulina em doses e horários diferentes facilita atingir o controle glicêmico adequado. As gestantes com DMG geralmente utilizam NPH e em alguns casos necessitam a usar a insulina regular. DOSES A dose inicial prescrita é 0,5 UI/kg de insulina NPH (insulina humana de ação lenta). A dose diária calculada é fracionada em três aplicações ao dia, sendo metade aplicada antes do café da manhã, um quarto aplicado antes do almoço e um quarto às 22h. Após um intervalo de uma a duas semanas, o controle glicêmico deve ser novamente avaliado, verificando a necessidade de ajuste de dose. Sempre que a glicemia de jejum estiver anormal, deve realizar a aferição às 3h da manhã. Quando os valos pré-prandias estão normais e os pós- prandiais estão alterados, pode mudar a prescrição, prescrevendo: 1. Insulina de ação rápida (insulina regular) ou; 2. Insulina ultrarrápida apenas para o horário da refeição que o controle não está satisfatório. A associação entre NPH e insulina regular ou ultrarrápida é frequentemente utilizada. INSULINOTERAPIA NO PARTO E PUERPÉRIO No parto cesariana, a paciente deve aplicar 1/3 da dose de NPH pela manhã. Também orienta-se manter soro glicosado a 5% em 60 mL/h se a paciente estiver em jejum há mais de 8 horas e o controle glicêmico é feito a cada 3 horas em pacientes com DMG e a cada 1 hora em pacientes com diabetes pré-gestacional. Se houver hipoglicemia, ela é corrigida aumentando a infusão do soro glicosado e a hiperglicemia, diminuindo-se a infusão de soro glicosado e aplicando- se insulina de ação rápida No puerpério, as pacientes com DMG suspendem o uso de insulina e a dieta para diabético, enquanto as pacientes com DM pré-gestacional devem retornar à dosagem utilizada antes da gestação ou aplicar a metade da dose usada no fim da gestação. A amamentação deve ser estimulada, pois traz benefícios para o recém-nascido e para a mãe. COMPLICAÇÕES A DM é um fator predisponente à ocorrência de infecções urinárias ou de bacteriúria assintomática, sendo importante a realização urocultura a cada dois meses. Além disso, pacientes com DM pré-gestacional devem ser avaliadas para saber se há lesões em órgãos-alvo e presença de malformações fetais. Em caso de vasculopatia materna, pode ocorrer casos de insuficiência placentária, necessitando monitorar a vitalidade fetal com Dopplervelocimetria e perfil biofísico fetal. Para todas as pacientes portadoras de diabetes a avaliação da vitalidade fetal pela viabilidade fetal e ultrassonografia obstétrica mensal deve ser feita para mensurar o crescimento fetal, avaliando possíveis macrossomias ou crescimento intrauterino restrito (CIUR). PARTO O parto de uma paciente com controle glicêmico adequado e peso fetal não superior a 4.000g, a gestação pode ser acompanhada até 39 a 40 semanas. Se o controle glicêmico for insatisfatório, a gestação pode ser interrompida entre 37 e 40 semanas. Caso o peso fetal esteja maior que 4.000g, a indicação é interrupção da gravidez independente da IG, devido ao aumento do risco de óbito fetal. A indicação de antecipação do parto pode ocorrer por piora materna em pacientes com diabetes pré- gestacional. AMANDA FARIA A AVALIAÇÃO PÓS-PARTO Após o parto, em que houve perda da placenta e consequentemente não há ação dos hormônios contra- insulínicos, espera-se que o metabolismo retorne para as condições antes do parto. Contudo, paciente que tiveram DMG durante a gravidez apresentam grandes chances de desenvolver DM tipo 2, sendo necessário um acompanhamento com reavaliação em 6 semanas após o parto, utilizando o critério da população não gestante. O diagnóstico do TOTG de 75g com alteração em pelo menos um dos valores: 1. Jejum: ≥ 126mg/dL; 2. 2h: ≥ 200mg/dL. Em caso de impossibilidade de realização do TOTG, a glicemia de jejum pode ser empregada, porém estima- se que 34% dos casos não serão diagnosticados por esse método. REFERÊNCIAS: Tratado de Obstetricia - FEBRASGO