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1 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Saúde da Criança III CIRURGIA PEDIÁTRICA I Introdução: - A criança não é um adulto em miniatura. - Além de atender à criança, o cirurgião pediátrico também deve acolher as angústias dos pais. Hérnia Inguinal: - Direta: mais comum em adultos; adquirida; causada por fraqueza da parede abdominal; tratamento com tela + reforço da parede abdominal. - Indireta: mais comum em crianças; congênita; persistência do conduto peritôniovaginal (passagem de conteúdo intra-abdominal em direção à região inguinal); tratamento com fechamento/ligadura do conduto. - Incidência: 1-5% das crianças. - História familiar positiva em > 10% dos casos. - Mais comum no sexo masculino (5:1). - Mais comum à direita, pois o testículo direito desce de forma mais lenta. - Fatores de Risco: → Prematuridade (10-30% dos casos). → Aumento da pressão abdominal. - Diagnóstico, em média, aos 3,3 anos de idade. - Apresentação Clínica: → Assintomática. → Dor ou desconforto inguinal. → Choro e irritabilidade. → Abaulamento da região inguinal. - Diagnóstico: → Essencialmente clínico! → Exame físico. → Ecografia/ultrassonografia auxilia no diagnóstico, mas não é obrigatória. - Hérnia Inguinal Encarcerada: → Incidência de 12-17%. → Mais frequente nos primeiros 6 meses de vida. → Prematuros têm maior risco. → Manifesta-se por dor abdominal, massa inguinal irredutível, choro incoercível, vômitos, obstrução intestinal, alteração de coloração da pele. → A hematoquezia representa achado clínico tardio. → Sempre tentar reduzir, exceto em casos de sofrimento intestinal (hérnia inguinal estrangulada), em que o tratamento baseia- se em cirurgia. - Tratamento: → Analgesia EV + coxim abaixo da nádega + tentativa de redução. → Observação clínica por 24-48 horas e, após, cirurgia eletiva (deve-se aguardar para realizar a cirurgia para diminuir a reação inflamatória local e facilitar a correção cirúrgica). → Sinal de sofrimento intestinal ou ausência de redução da hérnia: cirurgia de urgência! - Quando operar? → Em crianças, hérnia inguinal diagnosticada = hérnia inguinal tratada. → Em RNs, deve-se aguardar peso de, no mínimo, 2 kg. 2 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 → Em lactentes e crianças maiores, deve-se operar ao diagnóstico. - Complicações cirúrgicas: → Recidiva (incidência em cirurgia eletiva é < 1%). → Lesão de cordão espermático ou de ducto deferente. → Criptorquidia iatrogênica. → Infecção de ferida operatória. → Hematoma. - Quanto menor a criança, maior o risco de complicações da hérnia inguinal, principalmente de encarceramento da hérnia. - Hérnia inguinal em meninas: → Abaulamento da região inguinal. → Risco de encarceramento de ovários e/ou de tubas uterinas. → Deve-se evitar reduzir. → Deve-se explorar o lado contralateral, pois a hérnia inguinal bilateral é muito frequente em meninas. Hidrocele: - Comunicante: aumenta e diminui; geralmente necessita de correção cirúrgica. - Não Comunicante: ausência de alteração de volume; geralmente realiza-se acompanhamento até 1-2 anos de vida. - A hidrocele comunicante apresenta risco de evoluir para hérnia inguinal indireta, principalmente se houver aumento da pressão intra-abdominal. Hérnia Umbilical: - Defeito no fechamento do anel umbilical. - O saco herniário é revestido por peritônio parietal. - É importante definir o tamanho real do defeito. - Incidência de 25-58% em crianças. - O tratamento geralmente é conservador, pois a hérnia umbilical tende a apresentar resolução espontânea em 3-4 anos, com o crescimento da criança. - Defeitos > 1,5 cm apresentam menor probabilidade de resolução espontânea. - O risco de encarceramento é maior em defeitos menores (0,5-1,5 cm). Criptorquidia: - Testículo que não alcança a posição anatômica no interior da bolsa escrotal. - A descida dos testículos é coordenada pelo gubernáculo. - Incidência de 3% em RNs a termo e de 33- 45% em RNs prematuros < 2,5 kg. - A descida normalmente ocorre até os 6 meses de vida da criança. Assim, deve-se aguardar até a idade de 6-12 meses antes de operar. - Testículos palpáveis: localizados fora da cavidade abdominal. - Testículos não palpáveis: geralmente localizados dentro da cavidade abdominal. 3 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 - Testículo criptorquídico: está seguindo o trajeto normal do canal inguinal, mas não está na bolsa escrotal; pode ser palpável ou não palpável. - Testículo ectópico: não está na bolsa escrotal, mas também não está seguindo o trajeto normal do canal inguinal; geralmente palpável. - Diagnóstico: anamnese + exame físico. - Aproximadamente 18% dos testículos podem ser palpados com a criança anestesiada. - A ecografia da região inguinal e da parede abdominal pode auxiliar a identificar se o testículo apresenta localização intra- abdominal ou no interior do canal inguinal. - Em casos de nenhum testículo palpável, deve-se investigar distúrbio de diferenciação sexual. - Testículo ectópico: → Calor corporal prejudica o desenvolvimento do testículo. → Aumenta o risco de infertilidade. → Aumenta o risco de neoplasia maligna (aumenta em 4-10% o risco de seminoma), principalmente após 30 anos de idade. → Maior risco de torção testicular e de trauma testicular. → Prejuízo psicológico. - Tratamento: → Testículo palpável: orquidopexia entre 6 e 18 meses de vida. → Se a doença é bilateral: operar o lado mais baixo antes e, após 45 dias, operar o lado contralateral. → Nunca operar os dois lados ao mesmo tempo, pois em caso de infecção testicular, há risco de perder os 2 testículos, resultando em infertilidade. → Testículo não palpável: laparoscopia. Fimose: - Incapacidade de reduzir o prepúcio. - Fisiológica: aderências naturais; comum em RNs e lactentes; liberação espontânea. - Patológica: anel fimótico que não expõe a glande; crianças > 3 anos de idade; associa- se a complicações. - Tipos: → A: ausência de qualquer retração do prepúcio. → B: exposição do meato uretral. → C: exposição de metade da glande. → D: exposição incompleta da glande devido à presença de aderências prepuciais proximais. - Tratamento: → Conservador para tipos A e B e cirúrgico para tipos C e D. → Tratamento conservador: pomada de corticoide a partir de 3 anos de idade e higiene adequada. → Tratamento cirúrgico: postectomia. → O tratamento cirúrgico é indicado em casos de persistência da aderência após a puberdade, dificuldade de higiene, balanopostites de repetição, parafimose e ITU de repetição. - Complicações cirúrgicas: → Sangramento. → Infecção. → Falta de pele. → Estenose de meato uretral. 4 Bruno Herberts Sehnem – ATM 2023/2 Hipospadia: - Meato uretral que abre-se na superfície ventral do pênis. - O meato uretral pode estar localizado em qualquer local ao longo do corpo do pênis. - Em aproximadamente 65-70% dos casos, o meato uretral apresenta localização distal. Em aproximadamente 10-15% dos casos, o meato uretral apresenta localização central no pênis. Em aproximadamente 20% dos casos, o meato uretral apresenta localização proximal, escrotal ou perineal. - Incidência de 1 caso a cada 125 nascidos vivos. - Defeito na estimulação por androgênios que impede a formação completa do canal uretral. - História familiar positiva em 12% dos casos. - Abordagem cirúrgica: → Ideal entre 6 e 12 meses de vida. → Objetivo: jato reto e forte. → Cirurgias complexas e divididas em estágios. → Pós-operatório delicado. - Complicações cirúrgicas: → Sangramento. → Infecção. → Fístulas. → Estenose de meato uretral. → Curvatura persistente. - Em casos de hipospadia, deve-se investigar a presença de criptorquidia associada.
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