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Aspectos psicossociais da gestação

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Por Breno C. Vizzoni 
A gestação é processo que passa por idealização na 
sociedade, como se todos os casos fossem dignos 
de regozijo. No entanto, esse estereótipo precisa ser 
evitado, haja vista que os padrões gestacionais nem 
sempre são os mais agradáveis. 
Gravidez não é sinônimo de felicidade para todas 
as mulheres. Não existe padrão de experiência. 
Fatores socioeconômicos, circunstância da 
gravidez (planejada ou não) são questões a serem 
consideradas na avaliação de uma gravidez. 
SAÚDE MENTAL DA MULHER 
Situação hormonal da mulher repercute 
diretamente no funcionamento psíquico. 
Transtorno Disfórico Pré-Menstrual – A doença 
das virgens 
Transtorno específico de mulheres que ocorre no 
período pré-menstrual e seus sintomas são muito 
intensos, sempre relativos a esse ciclo. É diferente 
de TPM. 
É transtorno psiquiátrico, não ginecológico. 
Sintomatologia associada aos contextos da mulher. 
A gestação é período de mudanças interpessoais 
(mulher com o meio) e intrapsíquicas (mulher 
consigo mesma). 
Exige a necessidade de restruturação e reajuste em 
várias dimensões – mudança de identidade! Mulher 
assume novo papel. 
Mulher → mãe. 
GRAVIDEZ E REPERCUSSÕES 
Cuidado no pré-natal e no puerpério é fundamental 
na redução da morbimortalidade materna e 
neonatal. 
Transtornos ociosos e depressivos não tratados 
durante a gestação são fator de risco para diversas 
situações. 
Autorrealização ou desespero? 
O suporte emocional adequado influencia 
diretamente na maneira com a qual essa mulher 
levará sua gestação e vida materna! 
Fatores sociais, familiares, conjugais, culturais, 
financeiros e próprios da personalidade são 
importantes pontos a serem avaliados para 
determinar a intensidade das alterações 
psicológicas da gestante. 
Avaliar desde a primeira consulta: 
→ Medo; 
→ Sintomas ansiosos; 
→ Sintomas depressivos; 
→ Antecedentes pessoais e familiares de 
transtornos mentais; 
→ Fatores de risco: DPP, atritos com 
companheiro, vítimas de abuso, depressão 
fora da gestação. 
Gravidez na adolescência: normal ou 
problemática? 
Depende da sociedade e da cultura da gestante e 
familiares! É importante avaliar esse contexto. 
 
PRIMEIRO TRIMESTRE 
Ambivalência afetiva – quer ou não quer? 
Sentimentos positivos vs. culpa e arrependimento 
Alegria, apreensão, irrealidade ou até rejeição do 
bebê. 
SEGUNDO TRIMESTRE 
Começa a incorporar a gravidez por conta dos 
movimentos fetais, refletindo certa estabilidade 
emocional. 
É o período de maior estabilidade emocional, com 
menor incidência de transtornos depressivos. 
TERCEIRO TRIMESTRE 
Aumento da ansiedade por conta da aproximação 
do fim da gestação e chegada do bebê. 
Mudança de rotina influencia, angústia é gerada. 
Obs.: a ambivalência afetiva pode aparecer em 
qualquer período gestacional. 
 
 
 
Pais também têm desafios psicológicos. 
Pai presente ou ausente influencia diretamente na 
saúde materna da gestante. 
Mudança de identidade: Homem → Pai. 
Hoje, o homem também é inserido no pré-natal! 
Essa presença é importante para que ele 
compreenda as mudanças da mulher e consiga 
auxiliá-la. 
Homem também precisa de suporte emocional. 
NOVAS CONCEPÇÕES FAMILIARES 
Casais homossexuais: mulher acompanhada de 
outra. Não é prudente já determinar se a 
acompanhante em questão é familiar da gestante. 
Pode ser a cônjuge. 
Casais com grande diferença de idade: não é 
prudente determinar se o acompanhante é pai ou 
avô da gestante. Pode ser o pai da criança. 
Sexualidade vai além do ato sexual. 
Pode ou não sofrer alterações. 
Envolve gestante e seu cônjuge. 
Apatia sexual (assexualidade) pode ocorrer por 
parte da mulher, e apreensão no homem, com medo 
de causar mal ao bebê. 
Problemas de autoestima precisam ser levados em 
conta. Ocorre aumento de peso, das mamas, 
cansaço físico, aparecimento de estrias. 
O contrário também pode ocorrer! Algumas 
mulheres se sentem melhor na gestação. 
Vasocongestão pélvica por compressão pode 
aumentar a libido e facilitar o orgasmo. 
O que pode diminuir a atividade sexual? 
→ Conflitos conjugais; 
→ Medo de prejudicar o feto; 
→ Perdas gestacionais de repetição; 
→ Quadros depressivos maternos ou paternos; 
→ Alterações corporais. 
 
Modelo biopsicossocial de bem-estar. 
 
 
 
 
 
Biológicos 
Mudanças corporais, hormonais, epigenéticas, 
neurobiológicas, deficiência de vitaminas e 
predisposição genética a doenças. 
Envolve questões inerentes ao pré-natal também: 
ausência de suplementação vitamínica, por 
exemplo. 
Psicológicos 
Ansiedade, fadiga, exaustão, mudanças de humor, 
problemas de autoestima, estresse, falta de suporte, 
experiências traumáticas. 
Sociais 
Baixa renda, fatores de risco associados. 
20% das mulheres relatam experiência de 
discriminação por parte dos profissionais de saúde 
em atendimento pré-natal ou puerpério. 
É o óbito ocorrido no período entre a 20ª/22ª 
semana* de gestação e o 7º dia de vida. 
Aborto espontâneo, morte fetal, natimorto e morte 
neonatal entram nessa classificação. 
Minimização da sociedade! Invisibiliza e silencia a 
experiência dos pais! Suporte emocional efêmero, 
dura apenas no período próximo ao óbito. 
Luto masculino: ainda mais negligenciado. 
Invalidação dos sentimentos dos pais. Muitos 
passam por dificuldade psicológica para tentativa 
de nova gravidez. 
Medo de que ocorra novamente! 
 
Ou Depressão, é o transtorno mental mais 
frequente no período perinatal. Atinge 10 a 15% 
das mulheres, incidindo sobre os 1º e 2º trimestres, 
sobretudo. 
Diagnóstico 
Grupo de sintomas presentes: 
→ Humor deprimido; 
→ Anedonia; 
→ Perda ou ganho ponderal; 
→ Insônia ou hipersonia; 
→ Agitação ou retardo psicomotor; 
→ Fadiga ou perda de energia; 
→ Sentimentos de inutilidade ou culpa; 
→ Lentidão no pensamento ou dificuldade de 
concentração; 
→ Pensamento suicida ou de morte. 
Perceba que alguns dos sintomas, podem se 
apresentar em dois extremos. 
Sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo 
no funcionamento não atribuíveis aos efeitos 
fisiológicos de substâncias ou alguma outra 
condição médica. 
05 ou mais sintomas por pelo menos duas semanas. 
Violência doméstica, falta de suporte social, 
antecedentes adversos, baixa renda, gravidez 
indesejada, antecedente depressivo são fatores de 
risco. 
Atenção! Depressão é fator de risco para 
prematuridade ou deficiência no crescimento fetal! 
Tristeza ≠ Depressão 
Depressão é subdiagnosticada na gravidez porque 
muitos sintomas dela já são comuns na gravidez. O 
diagnóstico depende do sofrimento da gestante 
refletido em prejuízos reais no trabalho ou relações 
interpessoais, por exemplo. 
 
 
 
 
 
11 a 21% das mulheres em período perinatal. 
Transtorno de Ansiedade Generalizada: 4,4 a 10%. 
Consequências 
→ Aborto espontâneo; 
→ Descolamento prematuro de placenta; 
→ Parto prematuro espontâneo; 
→ Baixo peso ao nascimento; 
→ Partos vaginais instrumentais; 
→ Baixo APGAR; 
→ Problemas de adaptação neonatal. 
USO DE PSICOTRÓPICOS 
Detectado o transtorno: medicar ou não? 
É indispensável avaliar os benefícios e riscos. 
Tratamento ocorrerá se os benefícios forem 
maiores que os riscos e se o medicamento é seguro 
à manutenção da gestação. 
Medicações proscritas: proibidas para gestante. 
Causam aborto ou impedem a gravidez, em caso de 
mulher em preconcepção. 
Terapia e MEV são mais aconselháveis em casos 
leves. É importante conversar com a gestante e com 
o parceiro para que o transtorno seja resolvido com 
ou sem uso de medicamentos. 
Lítio: excelente para transtorno psicótico, terrível 
para a gestação. 
Causa abortamento ou malformações. 
Período que se inicia com a chegada do concepto, 
seguida de reestruturações na vida pessoa, 
conjugal, familiar, profissional, social e doméstica! 
Mãe = construção sociopsicológica 
DISFORIA/BLUES PUERPERAL – 50 a 58% 
Forma mais levede quadro depressivo no puerpério 
– mulher preenche quadro de sintomas 
parcialmente ou de forma leve. 
A grande diferença para depressão é a intensidade 
dos sintomas e a duração deles, isto é, quadro leve 
em menos de duas semanas! 
Tratamento para blues puerperal é orientação e 
apoio, haja vista a transitoriedade e insuficiência 
dos sintomas em causar prejuízo funcional. 
Diferença entre blues e depressão 
Característica Blues DPP 
Incidência 30 a 75% 10 a 15% 
Início 
3 a 5 dias após o 
parto 
3 a 6 meses após o 
parto 
Duração Dias a semanas Meses ou anos 
Estressores Não Sim 
Influência 
sociocultural 
Não Forte 
H. transtorno de 
humor 
Sem associação Forte associação 
H. familiar de 
transtorno de 
humor 
Sem associação Alguma associação 
Choro Sim Sim 
Humor lábil Sim 
Sim, mas é 
uniforme 
Anedonia Não Frequentemente 
Transtorno do 
sono 
Ocasionalmente Quase sempre 
Ideação suicida Não Ocasionalmente 
Desejo de 
machucar o 
bebê 
Raramente Frequentemente 
Culpa, 
inadequação 
Ausentes ou leves 
Frequentes e 
excessivos 
Ideação suicida já é considerado grau grave de 
depressão pós-parto. 
PSICOSE PUERPERAL 
1 a 2 casos a cada mil nascimentos. 
Episódios prévios, familiares com psicose 
puerperal e história familiar de transtorno bipolar e 
são fatores de risco. 
É urgência psiquiátrica! Muito grave, risco pra mãe 
e pro bebê. 
Delírios, alucinações auditivas, alterações de sono 
e humor, irritabilidade, desorganização do 
pensamento, agitação psicomotora, catatonia, 
alterações de humor. 
 
 
 
PSEUDOCIESE 
É a gravidez psicológica! 
Desenvolvimento dos sintomas da gravidez. 
Alterações neuroendócrinas com desregulação da 
dopamina e prolactina. 
Envolve amenorreia, náusea, aumento e 
pigmentação mamária, distensão abdominal e 
dores do parto! 
Trata-se com psicoterapia, mas não há tratamento 
específico. 
PSICOLOGIA PERINATAL 
É específica para essa fase de desenvolvimento da 
mulher. 
É área de atuação e de produção de conhecimento 
referentes às questões da Peri natalidade e da 
parentalidade. 
Referências 
Aula Dra. Bianca Cosme Bongiovani, UNESC – 
Colatina. 
Psiquiatria: Estudos Fundamentais, Meleiro. 
Compêndio de Psiquiatria, Sadock et al.

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