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RESISTÊNCIA DOS MATERIAISRESISTÊNCIA DOS MATERIAIS RESISTÊNCIA DOSRESISTÊNCIA DOS MATERIAIS:MATERIAIS: FUNDAMENTOS EFUNDAMENTOS E INTRODUÇÃO AOSINTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE TENSÃOCONCEITOS DE TENSÃO E DEFORMAÇÃOE DEFORMAÇÃO Autor: Me. Cristian Padilha Fontoura Rev isor : Luc iano Gald ino IN IC IAR introdução Introdução Iniciamos este conteúdo destacando que a resistência dos materiais é um ramo das ciências mecânicas que estuda relações entre cargas externas aplicadas a um corpo deformável e a intensidade das forças internas que atuam no interior do corpo. Nesse contexto, temos como intuito trazer uma abordagem dinâmica e introdutória sobre resistência dos materiais, recapitulando conceitos de estática, tais como tipos de esforços (forças, momentos e forças distribuídas) e equilíbrio dos corpos rígidos, incluindo reações de apoio, equações de equilíbrio, diagrama de corpo livre e cargas internas. Além disso, de acordo com a mecânica dos sólidos, serão apresentados os conceitos de tensão, deformação e sua relevância dentro das aplicações de engenharia, tais como a esquematização de curvas de tensão-deformação, fase elástica e fase plástica, lei de Hooke e apresentação no grá�co de tensão e deformação. A resistência dos materiais é um tópico de suma importância para engenheiros e estudantes de engenharia, pois diz respeito à formulação de um projeto, que avalia o comportamento de estabilidade de um certo material. Pode-se dizer que a grande área mecânica, a qual estuda o estado de repouso ou movimento de corpos sujeitos a forças, divide-se em: mecânica dos corpos rígidos (estática e dinâmica); mecânica dos corpos deformáveis (teorias de elasticidade e plasticidade); mecânica dos �uidos. Para que haja um entendimento sobre resistência dos materiais, alguns conceitos de estática são necessários, como: cargas externas de superfícies ativas, sejam elas concentradas ou distribuídas, cargas externas de superfícies reativas (reações vinculares), cargas internas (normal, cisalhamento, momento de torção, momento �etor), diagrama de corpo livre (DCL), método das seções, Conceitos deConceitos de EstáticaEstática equilíbrio de força e momentos, cálculo de reações de vínculo e cálculo de cargas internas. Nesse contexto, forças são caracterizadas por sua intensidade, direção e ponto de aplicação. Portanto, as forças externas podem ser forças de superfície, havendo contato, ou forças de campo, nas quais não há contato (gravidade, forças elétrica e magnética). E as forças de superfícies são as que nos interessam de acordo com contexto de resistência dos materiais, desse modo, elas podem ser as seguintes: Forças ativas: podem ser concentradas ou distribuídas em área ou linha. Forças reativas: acontecem em reações vinculares ou de apoio. As forças internas, por sua vez, podem ser: Força normal (tração-compressão). Cisalhamento. Momento �etor. Momento torsor. O momento de uma força, ou simplesmente momento, é a tendência de rotação de um corpo em torno de um ponto produzida por uma força aplicada ao corpo. O momento de uma força ( M ) é calculada pelo produto da força ( F ) pelo braço do momento ( d ) ou distância perpendicular do ponto O à linha de ação da força, conforme Equações 1.1 e 1.2. Para de�nir a direção e o sentido do momento, usa-se a regra da mão direita, conforme se vê na Figura 1.1: O Figura 1.1 – Regra da mão direita Fonte: Hibbeler (2011, p. 122). As equações a seguir mostram como se dá a relação entre a força e o braço do momento: M = F.d (equação escalar) (Equação 1.1) M = r × F (equação vetorial) (Equação 1.2) M sempre age ao longo de um eixo perpendicular ao plano que contém F e d , passando pelo ponto O . A convenção de sinais, seguindo a regra da mão direita, é de que momentos em sentido anti-horário são positivos e, consequentemente, momentos em sentido horário são negativos . Cargas Externas Um corpo pode ser submetido a forças de superfície ou forças de corpo, em que as forças de superfícies são causadas pelo contato direto de um corpo com a superfície de outro. Se a área de contato for pequena, considerando a área de superfície do corpo, pode-se interpretar a força como uma força concentrada, a qual é aplicada num único ponto. Já as forças de campo ocorrem quando um corpo exerce força sem contato físico direto, tais como a força gravidade (força peso) e a força eletromagnética. Reações de Apoio Quando vigas ou outros elementos estruturais estão apoiados ou suportados, sejam em apoios �xos ou naqueles que ocasionam eventual movimento, ocorrem as chamadas reações de apoio. Esse subcapítulo traz um apanhado dos conceitos de estática que são fundamentais para a resistência dos materiais. As forças de superfícies reativas são as que surgem em apoios ou pontos de contato entre corpos que impedem deslocamentos e rotações em um determinado ponto. Se o apoio impede a translação em uma direção, então O O O uma força naquela direção será desenvolvida. Se o apoio impede a rotação , um momento é aplicado sobre o elemento. Nesse contexto, existem diversos tipos de vínculos, sendo eles: Vínculos de primeira ordem : reação de vínculo equivalente a uma força com linha de ação conhecida. Há uma incógnita apenas. Vínculos de segunda ordem : reação de vínculo equivalente a uma força com linha de ação desconhecida (a qual é representada por duas componentes). Há duas incógnitas. Vínculos de terceira ordem : reação de vínculo equivalente a duas componentes de força e um momento. Há três incógnitas. A Figura 1.2, a seguir, mostra os tipos de vínculos e suas reações, podendo estas apresentarem uma, duas ou até três incógnitas. Figura 1.2 – Tipos de vínculos e forças envolvidas Fonte: Adaptada de Hibbeler (2010). Os vínculos de uso comum são: Roletes : que impedem a translação na direção do contato, perpendicular ou normal à superfície. Pinos : que impedem deslocamento em qualquer direção no plano que contém a força. Engastes : que impedem translação e rotação. Equações de Equilíbrio O equilíbrio de um corpo rígido requer o equilíbrio de forças e o equilíbrio de momentos. Nesse contexto, o equilíbrio de forças evita a translação ou movimento do corpo ao longo de uma dada trajetória. O somatório de forças deve ser nulo em todos os eixos. ∑ F = 0 ∑F = 0 ∑F = 0 ∑F = 0 O equilíbrio de momentos evita a rotação do corpo; além disso, também deve ter um somatório nulo para estar em equilíbrio. ∑ M = 0 ∑M = 0 ∑M = 0 ∑M = 0 Diagrama de Corpo Livre O diagrama de corpo livre (DCL) é uma ilustração grá�ca usada para visualizar as forças aplicadas, momentos e reações resultantes em um corpo, em determinadas condições. O DCL esboça um corpo, ou corpos conectados com todas as forças, momentos e reações que agem no(s) corpo(s). Sua função é fornecer um esboço, para que o engenheiro ou o estudante calcule as reações resultantes, determinando carregamentos de componentes estruturais e forças internas. Sendo assim, o DCL consiste em: uma versão simpli�cada de desenho do corpo, contendo dimensões necessárias para cálculos, tais como comprimentos em uma viga; forças externas, ativas e reativas, representadas como setas retas que apontam suas direções e sentidos; momentos conhecidos e desconhecidos, ativos e reativos, representados como setas curvadas que apontam a direção na qual agem no corpo; um sistema de coordenadas (x,y); forças e momentos conhecidos devem ser marcados com suas intensidades, direções e sentidos. Letras representam intensidade, direção e sentido de forças e momentos desconhecidos (A,B,C etc.). x y z x y z O procedimento de análise se dá da seguinte forma: a) Construção do DCL. b) Resolução das equações de equilíbrio para força e momento, decompondo forças com mais de uma componente. Considerar negativas forças ou reações que tenham sentido oposto ao assumido nas coordenadas do DCL. Exemplo 1 A haste mostrada na Figura 1.3aestá conectada por um pino A, e sua extremidade B tem o movimento limitado pelo apoio liso em B. Calcule os componentes horizontal e vertical da reação no pino A, lembrando-se das convenções de sinais da regra da mão direita e daquelas adotadas no diagrama de corpo livre. Solução Primeiramente, devemos considerar que o diagrama de corpo livre é visto na Figura 1.3b. Com o DCL, devem-se calcular as equações de equilíbrio e, por �m, as reações: Figura 1.3 – Diagrama de corpo livre Fonte: Hibbeler (2011, p. 37). + ∑ = 0MA – (1).60– 90 + (0, 75). = 0NB = 200NNB + → ∑Fx = 0 Cargas Internas As cargas internas atuam no interior de um corpo e o mantêm unido quando submetido a cargas externas. Figura 1.4 – Método das seções Fonte: Hibbeler (2010, p. 4). Para entendermos cada um dos pontos, vejamos o detalhamento da Figura 1.4: (a) Corpo mantido em equilíbrio por quatro forças externas, considerando peso do corpo desprezível. (b) Distribuição de força interna atuando na área exposta da seção ou “corte”. As �echas na seção representam efeitos do material da parte superior do corpo. (c) Força resultante F e momento resultante M no ponto O . – (sen30º) + = 0NB Ax = 100NAx + ↑ ∑ = 0Fy – (cos30º) + – 60 = 0NB Ay = 233, 2051NAy R RO (d) Componentes de F e M no ponto O . A força normal N atua perpendicularmente à seção. Ocorre sempre que forças externas tendem a empurrar ou puxar duas partes do corpo. A força de cisalhamento ou força cortante V atua no plano da seção transversal. É criada quando forças externas fazem com que duas partes de um corpo tendem a deslizar. De�nidos ou recordados os conceitos básicos de estática, as cargas coplanares surgem como um meio de interpretar problemas de estática de maneira resolutiva, conforme o conteúdo a seguir. Cargas Coplanares Se o corpo estiver submetido a um sistema de forças coplanares, então existem na seção apenas componentes de: força normal, força cortante e momento �etor. A Figura 1.5a ilustra um sistema sujeito a forças coplanares, enquanto a Figura 1.5b mostra apenas as componentes existentes na seção: força normal, força de cisalhamento e momento �etor. Figura 1.5a – Sistema de forças coplanares Figura 1.5b – Componentes existentes na seção Fonte: Hibbeler (2010, p. 3). Fonte: Hibbeler (2010, p. 3). Como base nos conceitos de cargas internas e cargas coplanares, o método das seções é de�nido como um procedimento de análise , que se dá conforme apresentado: Traça-se um plano pelo corpo, o qual o divide completamente em duas partes distintas. Para manter o equilíbrio, as forças externas aplicadas em um dos lados do corte necessitam se compensadas por forças internas. Tratando-se uma estrutura, como uma viga ou dispositivo mecânico, a seção será perpendicular ao eixo longitudinal do elemento. R RO Sendo assim, usa-se o método das seções para de�nir a resultante de cargas internas em um determinado ponto sobre a seção de um corpo. Exemplo 2 Determinar as cargas internas resultantes que agem na seção transversal em C da viga apresentada na Figura 1.6: Figura 1.6 – Sistema de forças coplanares. Fonte: Hibbeler (2010, p. 6). Solução Primeiramente, devemos considerar: Reações de apoio: as reações em A podem ser desprezadas, se o segmento CB for considerado. Diagrama de corpo livre do segmento CB. A carga distribuída total 300 N/m deve ser distribuída proporcionalmente para a seção CB, ou seja, w /2,4 m = (300 N/m)/3,6 m, w = 200 N/m. A resultante (área do triângulo, 200 N/m x 2,4 m) da carga distribuída é igual à área sob a curva da carga e age no centroide (1/3).(2,4 m) = 0,8 m de C , visto na Figura 1.7: Figura 1.7 – Forças e momentos resultantes na viga Fonte: Hibbeler (2010, p. 6). A partir do DCL, aplicam-se, então, as equações de equilíbrio: O sinal negativo do momento M indica que ele age em direção oposta àquela vista no DCL. Deve-se lembrar de que, pela convenção da regra da mão direita, o momento tem sinal positivo quando está no sentido anti-horário. praticar Vamos Praticar + → ∑ = 0Fx – = 0Nc = 0Nc + ↑ ∑ = 0Fy = 233, 2051NAy – 240N = 0Vc = 240NVc + ∑ = 0MC – – (240N)(0, 8m) = 0MC =– 192N ⋅mMC C Caro(a) aluno(a), agora que você tem uma noção sobre momento, forças de reação e apoios, faça um exercício muito simples, mas que dá um entendimento muito interessante sobre momento. Tente abrir uma porta aplicando uma força no seu centro. Com um pouco mais de di�culdade, a porta se abrirá. Agora, novamente abra a porta da maneira convencional, aplicando força em seu lado “livre”. A diferença na força requerida para empurrar a porta será muito menor no segundo cenário, e o fenômeno tem relação justamente com a força relacionada ao momento, que depende do braço de alavanca. Agora, abordaremos dois conceitos fundamentais na mecânica dos sólidos: tensão e deformação. No entanto, é importante lembrar que, na resistência dos materiais, algumas hipóteses devem ser levadas em conta, e o corpo analisado é: contínuo (sem descontinuidades estruturais ou defeitos); homogêneo (propriedades idênticas em todos os pontos); isotrópico (propriedades não mudam com a orientação e a cristalinidade). De qualquer forma, as equações de resistência dos materiais descrevem comportamento de materiais reais , uma vez que a heterogeneidade microscópica (grãos, fases, segregações) é muito menor em relação ao volume macroscópico do corpo. A análise de tensões e deformações permite que o pro�ssional possa fazer uma avaliação crítica sobre um projeto e compreenda a performance de materiais em dadas situações. Os valores máximos e mínimos de tensão são usados para dimensionamento e de�nição de critérios de falha. Tensão eTensão e DeformaçãoDeformação Tensão As tensões são expressas com a razão da intensidade, ou seja, uma força aplicada dividida pela área em repouso, que pode ser representada pela seguinte equação, onde T é tensão, F é força e A é área: T = F/A (equação 1.3) As unidades mais comumente usadas, dentro do Sistema Internacional de Unidades, para tensão são em pascal (N/m2), uma vez que força é normalmente dada em newton (N) e a área em unidades métricas, seja em m² ou mm². Desse modo: 1000 Pa = 1 kPa 10 Pa = 1 MPa = 1 MN/m² = 1 N/mm² Nesse contexto, a Tabela 1.1 pode nos guiar, considerando a tensão tanto para unidades no SI quanto do sistema inglês. Sistema Internacional (SI) Sistema Inglês Equivalente do SI Quantidade Unidade Símbolo Fórmula Força newton N kg . m/s² lb 4,448 N Área metro quadrado - m² in.² 645,2 mm² Tensão pascal Pa N/m² lb/in.² (psi) 6,895 kPa Tabela 1.1 - Unidades Fonte: Elaborada pelo autor. 6 Além disso, os pre�xos, que vêm sempre a uma unidade e aumentam sua grandeza, devem ser lembrados. Quilo, cujo símbolo é k e equivale a 10³. Mega, cujo símbolo é M e equivale a 10 . Giga, cujo símbolo é G e equivale a 10 . A tensão pode ser normal , que é de�nida como a intensidade da força agindo, perpendicularmente, a uma seção (área). Matematicamente, é representada pela letra grega σ (sigma), e a tensão normal pode ser de tração ou de compressão. Na Figura 1.8, a tensão σ é proveniente de uma força axial no eixo z , que é representado pelo subscrito, o qual indica a atuação da força na área sombreada. Sendo assim, na tensão de tração , a força normal F “puxa” o elemento de uma área A. Nesse contexto, a Figura 1.9 apresenta duas pessoas puxando uma corda de cada lado. A corda está sob tensão de tração. Nesse caso, uma seção da corda estaria sendo puxada de sua posição inicial. Agora, imagine que haja força o su�ciente para romper a corda – com o aumento da força aplicada, a corda tende a ter a área da seção reduzida até romper-se por completo. 6 9 z Figura 1.8 – Tensão de tração agindo sobre uma área Fonte: Hibbeler (2010, p. 15). Figura 1.9 – Corda sob tração Fonte: Przemyslaw Koch / 123RF. Na tensão e compressão, a forçanormal F “empurra” o elemento de uma área A. A Figura 1.10 ilustra a tensão de compressão, em que uma pessoa pressiona uma mola. A tendência é que uma determinada seção ou um elemento �nito seja “empurrado” no sistema. Figura 1.10 – Mola sob compressão Fonte: stocksnapper / 123RF. Por convenção de sinais, a tensão normal de tração possui um sinal positivo, enquanto que a tensão normal compressiva tem um sinal negativo. Há ainda a tensão de cisalhamento , que é de�nida como a força que age de forma tangente a uma seção ou área. Matematicamente, é de�nida pela letra grega tau (τ). Na Figura 1.11, o eixo z especi�ca a orientação da área, enquanto os eixos x e y correspondem às retas que indicam a direção das tensões de cisalhamento. Figura 1.11 – Tensões de cisalhamento agindo em uma área. Fonte: Adaptada de Hibbeler (2010, p. 15). O estado geral de tensões de um ponto em um sólido consiste em três tensões normais (σ , σ e σ ) e seis tensões de cisalhamento ( τ , τ , τ , τ , τ e τ ). É representado por um elemento cúbico que mostra as três componentes atuantes em cada face do cubo, conforme Figura 1.12: Figura 1.12 – Estado geral de tensões em um elemento Fonte: Adaptada de Hibbeler (2010). Cada tensão ou componente de tensão representa uma força por unidade de área agindo em um pequeno cubo do material. Por equilíbrio, nota-se que tensões de cisalhamento com subscritos inversos são sempre iguais: τ = τ , τ = τ e τ = τ , uma vez que, se fossem diferentes, o bloco tenderia a rotacionar. Sendo assim, três tensões normais e três tensões de cisalhamento são necessárias para descrever um estado geral de tensão. Tensão Normal Média Se uma barra é feita de um material homogêneo e isotrópico e é sujeito a uma série de cargas axiais externas que passam pelo centroide da seção transversal, então uma distribuição uniforme de tensões normais agirá sobre a seção de corte. A tensão normal média pode ser determinada como: σ = N / A (equação 1.4) x y x yx xy zx xz zy yz yx xy zx xz zy yz Em que, N é a carga axial interna na seção. Portanto, o procedimento de análise se dá da seguinte forma: Carga interna: • Selecionar o elemento perpendicular ao eixo longitudinal no ponto em que a tensão normal é determinada. • Usar diagrama de corpo livre, caso necessário. • Usar equação de equilíbrio de força para obter a força axial interna N na seção. Tensão normal média: • Determinar A. • Calcular σ = N / A . Nesse contexto, treliças, pendurais e parafusos são exemplos clássicos de elementos mecânicos ou estruturais compridos e �nos que estão submetidos a cargas axiais. Tensão de Cisalhamento Média A tensão de cisalhamento média pode ser determinada como: (Equação 1.5) Em que V é a força de cisalhamento que age na seção de corte, e V equivale à metade da força normal que atua em um plano. =τm dé V A reflita Re�ita Considere uma folha de papel sendo cortada com auxílio de uma tesoura. Que tipo de tensão o papel está sofrendo? E se estivermos falando de uma prensa industrial sobre uma peça? Portanto, no equilíbrio de um corpo, vamos ter algo como o exemplo ilustrado na Figura 1.13: Figura 1.13 – Equilíbrio das forças de cisalhamento V com a força normal F Fonte: Adaptada de Hibbeler (2010). Sendo assim, a fórmula apresentada é comumente utilizada para encontrar a tensão de cisalhamento média em elementos de �xação como parafusos ou peças usadas para acoplamentos. Deformação A deformação é descrita como a mudança na forma e no tamanho de um corpo submetido a uma carga ou temperatura, podendo ser visível ou imperceptível. Sendo assim, a deformação ocorre de maneira não uniforme no corpo (há mudança na geometria de cada segmento de reta no interior do corpo). Por exemplo, se uma barra for puxada em uma das pontas por uma carga P , haverá um deslocamento μ que é relativo à sua posição inicial. Figura 1.14 – Deformação de uma viga sob carga axial Fonte: Groover (2013, p. 65). Portanto, a deformação de um corpo pode ser medida experimentalmente, podendo ser relacionada com tensões que agem no interior do corpo. Sendo assim, a deformação normal é de�nida como o alongamento ou contração de um segmento de reta por unidade de comprimento. (equação 1.6) Em que: εméd=deformação normal média. Δs' = comprimento da curva após a deformação. Δs= comprimento da reta antes da deformação. praticar Vamos Praticar L = =εm dé Δ −′s Δs Δs δ Δs Uma bola de borracha cheia de ar tem um diâmetro de 6 polegadas. Considerando que a pressão dentro dele é aumentada, até que seu diâmetro chegue a 7 polegadas, determine a deformação normal que ocorre na borracha. Modelo de resposta: ε = 0,167 polegada/polegada ε = π −πδf δi πδi Muitos materiais são sujeitos a forças ou cargas em serviço; uma liga de titânio num componente aeronáutico ou um aço em um componente automotivo são alguns exemplos. Assim, é necessário conhecer e caracterizar o material quanto às suas propriedades mecânicas, para saber o quanto uma deformação resultante pode ser excessiva a �m de evitar falha por fratura, por exemplo. As propriedades mecânicas dos materiais determinam seus comportamentos frente a tensões mecânicas, que incluem o módulo elástico (ou módulo de elasticidade e ainda módulo de Young), ductilidade, tenacidade e dureza, entre outras propriedades que medem resistência. Desse modo, há três tipos de tensões aos quais os materiais podem ser sujeitos: tração, compressão e cisalhamento. Curva Tensão-deformação PropriedadesPropriedades Mecânicas dosMecânicas dos MateriaisMateriais Algumas ferramentas são utilizadas para ilustrar as propriedades dos materiais, e uma delas é a curva tensão-deformação . O ensaio de tração é o teste mais comum para estudar a relação tensão-deformação, especialmente em metais. Nesse teste, uma força puxa o material, alongando-o e reduzindo seu diâmetro. Figura 1.15 – Esquema cronológico de um ensaio de tração em um corpo-de- prova Fonte: Groover (2013, p. 53). Sendo assim, o procedimento do ensaio de tração dá-se na seguinte ordem, conforme visto na Figura 1.15: (1) Corpo-de-prova sem carregamento. (2) Alongamento uniforme e redução da área transversal. (3) Carga máxima. (4) Pescoçamento. (5) Fratura. (6) Junção das partes para medir o comprimento �nal. Portanto, a tensão é de�nida como força dividida pela área original: (Equação 1.7) Em que σ = tensão, F = força aplicada, e Ao = área original do corpo de prova. A deformação de engenharia é de�nida como: (Equação 1.8) σ = F A0 σ = = −lf l0 l0 Δl l0 Na região elástica da curva, a relação entre tensão e deformação é linear e segue a lei de Hooke: σ = E.ε (Equação 1.9) Em que E = módulo de elasticidade ou módulo de Young. Nessa região, o material retorna ao seu comprimento original, quando a tensão é removida, tendo uma deformação não permanente. O módulo de elasticidade E é uma medida da rigidez inerente de um material e é diferente para cada material. Conforme a tensão aumenta, um último ponto na relação linear é �nalmente alcançado: o limite de elasticidade . Até esse ponto, a remoção da carga deixa o material em sua forma original. Um pouco acima do limite de elasticidade, o material começa a escoar/ceder, e esse ponto é chamado de limite de escoamento ou ponto de escoamento . A deformação, a partir desse ponto, é a deformação plástica , que é permanente. Na região plástica da curva, a lei de Hooke não pode ser aplicada, pois, conforme a carga é aumentada, o alongamento ocorre a uma taxa muito mais elevada, fazendo com que o declive da curva mude drasticamente. O alongamento é acompanhado de uma redução uniforme na área transversal, mantendo o volume constante. A Figura 1.16 ilustra a curva tensão-deformação : Figura 1.16 – Curva tensão-deformação para um materialdúctil Fonte: Adaptada de Barcelos (2015). A �gura nos apresenta os pontos-chave: o trecho AO corresponde à faixa linear, que pode ser descrita pela lei de Hooke. Até o ponto A, temos o chamado limite de proporcionalidade. No segmento AB, o comportamento não segue a lei de Hooke, porém o regime ainda é elástico e toda deformação até o ponto B é reversível. B é o limite elástico. Acima de B, entra-se no regime plástico, em que as deformações são irreversíveis e permanentes. Propriedades dos Materiais Os materiais possuem diversas propriedades que de�nem seu comportamento em aplicações, seja frente a um carregamento no regime elástico, no regime plástico ou em esforços cíclicos. A seguir, algumas das propriedades fundamentais serão brevemente discutidas. Coe�iciente de Poisson O coe�ciente de Poisson ( ν , letra grega ni ) é um parâmetro elástico e representa a razão negativa de deformações transversal e longitudinal. Como se vê na Figura 1.17, tomando uma tensão normal arbitrária no eixo z denominada σ , haverá deformações nas laterais (eixos x e y ) e na direção perpendicular à tensão (eixo z). Se a carga é axial (somente eixo z) e o material é isotrópico, então as deformações laterais serão iguais: Figura 1.17 – Esforço axial e deformações envolvidas no coe�ciente de Poisson Fonte: Adaptada de Callister (2008). A equação a seguir mostra como o negativo da razão entre as deformações transversais e longitudinais fornece o coe�ciente de Poisson do material. (Equação 1.11) z ν = − = − εx εz εy εz Deve-se sempre usar o sinal negativo, uma vez que as deformações lateral e longitudinal possuem sinais opostos. Dessa forma, o coe�ciente de Poisson é sempre positivo. Os valores de coe�ciente de Poisson geralmente se encontram entre 0,25 e 0,35 e são adimensionais. Para um material isotrópico, os módulos de elasticidade e cisalhamento são relacionados de acordo com: E = 2.G. (1+ ν) (Equação 1.12) Em que G é o módulo de cisalhamento, que pode ser estimado como 0,4E . Ductilidade Outra propriedade mecânica importante é a ductilidade, que é uma medida do grau de deformação plástica que é sustentada até a fratura. Um metal que experimenta pouca ou nenhuma deformação plástica até a fratura é chamado de frágil, enquanto materiais que suportam considerável deformação plástica são chamados de dúcteis. saibamais Saiba mais O artigo a seguir traz um estudo de diagramas tensão-deformação para concretos com agregados de concreto. ACESSAR http://www.scielo.br/pdf/riem/v10n3/pt_1983-4195-riem-10-03-00547.pdf A ductilidade pode ser expressa quantitativamente como porcentagem de alongamento ou porcentagem de redução de área. Um metal que experimenta pouca ou nenhuma deformação plástica até a fratura é chamado de frágil , enquanto materiais que suportam considerável deformação plástica são chamados de dúcteis . A ductilidade pode ser expressa quantitativamente ou como porcentagem de alongamento ou porcentagem de redução de área . A porcentagem de alongamento (%EL) é a porcentagem de deformação plástica na fratura, ou ainda: (Equação 1.13) Já a porcentagem de redução de área é: (Equação 1.14) É importante entender sobre ductilidade por dois motivos: indica ao projetista o grau que uma estrutura deformará antes da fratura e especi�ca o grau de deformação permissível durante as operações de fabricação. Materiais frágeis costumam ter a deformação de fratura em menos de 5%. Tenacidade A tenacidade é um termo mecânico que pode ser aplicado em vários contextos. Por exemplo, a tenacidade à fratura é uma propriedade do material de resistir à fratura quando há uma trinca (ou outro concentrador de tensão). A tenacidade também é de�nida como a habilidade de um material absorver energia e se deformar plasticamente antes da fratura. Dureza Outra propriedade mecânica importante é a dureza, que mede a resistência de um material à deformação plástica localizada (como uma pequena indentação ou risco). Ensaios de dureza são frequentemente utilizados, por serem simples e baratos, além de não destrutivos e permitirem que outras propriedades possam ser estimadas a partir de dados de dureza, tais como o limite de resistência à tração. %EL = ( )× 100 −lf l0 l0 %RA = ( )× 100 −A0 Af A0 praticar Vamos Praticar Um corpo de prova com comprimento inicial de 300 mm e diâmetro de 12 mm é submetido a uma força de 2,5 kN. Quando a força é elevada para 9 kN, o corpo de prova sofre um alongamento de 22,5 mm. Determine o módulo de elasticidade para o material, considerando que ele se mantém no regime elástico. Modelo de resposta: E = F ⋅ l0 ⋅ ΔlA0 = = = 113, 04 mA0 π d2 4 π (12)2 4 m2 E = (9 x − 2, 5 x ) ⋅ 300103 103 113, 04 ⋅ (322, 5 − 300) E = 6, 5 x ⋅ 300103 113, 04 ⋅ 22, 5 E = 1, 95 x 106 2543, 4 E = 766, 7 N/m2 Um material que é deformado por cargas externas armazena energia internamente. Essa energia é relacionada diretamente com deformações sofridas pelo corpo, sendo chamada de energia de deformação . Um exemplo seria um corpo submetido a uma carga axial ( F ). Dizemos que o corpo está submetido a uma tensão uniaxial σ , ou seja, de um único eixo de seu volume, conforme a Figura 1.18: Figura 1.18 – Elemento de volume do corpo de prova Fonte: Adaptada de Hibbeler (2010). Essa tensão uniaxial desenvolve uma força ΔF nas faces superior e inferior do elemento após ele ter sofrido um deslocamento vertical ε.Δz : Energia deEnergia de DeformaçãoDeformação ΔF = σΔA (equação 1.15) Como a área ΔA = ΔxΔy , a força �ca: ΔF = σ ( ΔxΔy ) (equação 1.16) Por de�nição, trabalho ( W ) é determinado pelo produto entre a força e o deslocamento na direção da força. Quando se é obtido o deslocamento, o trabalho realizado pela força sobre o elemento é igual ao valor médio da força multiplicado pelo deslocamento da sua direção, como mostrado a seguir: (Equação 1.17) Esse “trabalho externo” é equivalente ao “trabalho interno” ou energia de deformação ( ΔU ) armazenada no elemento, considerando que nenhuma energia é perdida sob a forma de calor. Ou seja: (Equação 1.18) Como visto anteriormente, a força: (Equação 1.19) Sabendo que o volume do elemento então é ΔV = ΔxΔyΔz , a energia de deformação, por conseguinte, é: (Equação 1.20) A energia de deformação também pode ser apresentada por unidade de volume do material. Nesse caso, a densidade de energia de deformação é expressa da seguinte forma: (Equação 1.21) O módulo de resiliência é a densidade de energia de deformação, quando a tensão atinge o limite de proporcionalidade. Em termos práticos, ela W = ( )εΔzΔF 2 W = ΔU = ( )εΔzΔF 2 ΔU = ( ) . Δx. Δy.ε. Δzσ 2 ΔU = ( )εΔVσ 2 u = = σεΔU ΔV 1 2 representa a capacidade do material em absorver energia, sem deformações permanentes. A equação que rege o módulo de resiliência é: (Equação 1.22) No grá�co do módulo de resiliência , o resultado da equação 1.22 é equivalente à área triangular sob a região elástica do diagrama tensão- deformação: Figura 1.19 – Módulo de resiliência Fonte: Adaptada de Hibbeler (2010). Módulo de tenacidade : o módulo de tenacidade indica a densidade de energia de deformação do material um pouco antes da ruptura. Figura 1.20 – Módulo de tenacidade Fonte: Adaptada de Hibbeler (2010). Essa propriedade é importante no projeto de elementos estruturais, de modo que materiais com alto módulo de tenacidade sofrerão grande distorção quando sobrecarregados. Já materiais que têm baixo módulo de tenacidade podem sofrer ruptura repentina ao serem sobrecarregados. No grá�co da Figura 1.20, o módulo de resiliência representa a área inteira sob o diagrama tensão-deformação. = =ur 1 2 σlpεlp 1 2 σlp 2 E praticar VamosPraticar A cama elástica é um tecido não elástico �rme e esticado, preso por diversas molas a uma estrutura de aço. Agora, considere uma criança pulando em uma cama elastíca. Baseado nos conceitos vistos no tópico de energia de deformação, o que podemos a�rmar em relação ao salto de uma criança em uma cama elástica? a) O módulo de resiliência é o fator decisivo na escolha dos materiais utilizados nas molas na cama elástica, pois elas devem suportar o peso da criança. b) Energia cinética é transferida do peso da criança às molas, que é armazenada nessas devido à deformação que sofrem. As molas retornam à sua forma original, e a energia armazenada nelas é então devolvida ao sistema, fazendo com que a criança salte. c) As molas da cama elástica possue um módulo de tenacidade muito baixo, uma vez que deformam rapidamente a cada salto que a criança dá. d) O tecido funciona como uma borracha elástica de dinheiro. A borracha elástica de dinheiro deforma com uma tensão aplicada e retorna a seu e estado original, quando a tensão é removida. Dessa forma, o tecido da cama faz com que a criança salte. e) A inércia do sistema faz com que ele mantenha a criança saltando em ciclos. indicações Material Complementar LIVRO Resistência dos Materiais Autor : Russell Hibbeler Editora : Pearson Comentário : recomenda-se uma leitura aprofundada dos assuntos no livro-base sobre resistência dos materiais. Nele, encontram-se descrições menos sucintas dos temas tensão e deformação, correlacionando exemplos teóricos com aplicações reais. FILME Documentário do National Geographic, Obras Incríveis – Eurotúnel Ano : 2004 Comentário : episódio que relata uma das obras de engenharia mais ousadas do século 20: um túnel subaquático que liga a Grã-Bretanha à França. TRA ILER conclusão Conclusão Nesta unidade, abordamos um conteúdo introdutório à resistência dos materiais, destacando conceitos de revisão de estática e criando o link com os temas de tensão e deformação, aqui de�nidos. Além disso, destacamos mais detalhes sobre tensão e deformação, que são tópicos básicos dentro da mecânica e precisam ser levados adiante em tópicos mais avançados, especialmente quando se fala de projeto e análises de tensão. As propriedades mecânicas também dependem da base sobre tensão e deformação e são necessárias para que a construção de dispositivos submetidos a esforços seja feita de maneira admissível para evitar falhas. referências Referências Bibliográ�cas BARCELOS, I. D. Estudo de propriedades estruturais e ópticas de heteroestruturas formadas com materiais bidimensionais . 2015. 146 f. Tese (Doutorado em Física) – UFMG, Belo Horizonte, 2015. CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais : uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GROOVER, M. P. Groover’s Principles of Modern Manufacturing : materials, processes, and systems. Indianápolis: John Wiley & Sons, 2013. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais . São Paulo: Pearson, 2010. HIBBELER, R. C. Estática : mecânica para engenharia. São Paulo: Pearson, 2011.