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Síndromes hipertensivas na gestação
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Natalia Quintino Dias Síndromes hipertensivas na gestação As síndromes hipertensivas representam importante causa de morte materna, correspondendo a 14% — em primeiro lugar está a hemorragia obstétrica, com 27%. De acordo com o Ministério da Saúde, as síndromes hipertensivas na gestação compreendem: Hipertensão Arterial Crônica (HAC) Presença de hipertensão reportada pela gestante ou identificada antes de 20 semanas de gestação. Hipertensão gestacional — sem proteinúria Refere-se à identificação de hipertensão arterial em gestante previamente normotensa, porém, sem proteinúria ou manifestação de outros sinais/sintomas relacionados à pré-eclâmpsia. A pressão volta ao normal no puerpério. Pré-eclâmpsia/eclampsia Manifestação de hipertensão arterial identificada após a 20ª semana de gestação, associada à proteinúria significativa. Pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão crônica Aparecimento ou piora da proteinúria após a 20ª semana ou pacientes previamente hipertensas necessitam de aumento de doses ou associação com outros anti-hipertensivos. Pré-eclâmpsia A pré-eclâmpsia é uma doença multifatorial e multissistêmica, específica da gestação, classicamente diagnosticada pela presença de hipertensão arterial associada à proteinúria, que se manifesta em gestante previamente normotensa, após a 20ª semana de gestação. A incidência de pré-eclâmpsia em gestantes é de 1,2 a 4,2% e corresponde a 10 a 15% das mortes maternas diretas — 99% dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda. Compreende pacientes normotensas antes da gestação e desenvolvimento de hipertensão e proteinúria após a 20ª semana de gestação, com desaparecimento até 12 semanas após o parto. Também se considera pré-eclâmpsia quando, na ausência de proteinúria, ocorre disfunção de órgão-alvo materno. A associação de hipertensão arterial com sinais de função placentária alterada, como restrição de crescimento fetal e/ou alterações no Doppler, também deve chamar atenção para o diagnóstico de pré-eclâmpsia, mesmo na ausência de proteinúria. • Hipertensão: Pressão Arterial (PA) maior ou igual a 140x90 mmHg — duas medidas — com paciente sentada e com manguito apropriado. • Proteinúria: maior que 300 mg/dL na urina de 24 horas ou relação proteína-creatinina urinária maior que 0,3 — unidades devem estar em mg/dL — ou 1+ de proteína em amostra isolada. • Eclâmpsia: quando pacientes com pré-eclâmpsia evoluem com crise convulsiva tônico-clônica generalizada ou coma. Portanto, é uma complicação grave da pré-eclâmpsia. Ocorre em 0,1 a 2,7% das gestações com pré-eclâmpsia sem tratamento adequado. Etiopatogenia É uma manifestação de doença endotelial materna, mediada pela placenta, com complicações sistêmicas, incluindo hipertensão e alterações placentárias. Existem várias teorias, mas a mais aceita atualmente é a invasão trofoblástica insuficiente. Para provocar aumento no fluxo sanguíneo uterino na gestação — aumento em dez vezes —, as arteríolas espiraladas — artérias do um terço superficial do miométrio e do endométrio — sofrem ação do trofoblasto, no chamado processo de remodelação vascular. A segunda onda de migração trofoblástica — a partir de 14 semanas de gestação — é responsável por esse fenômeno. Quando isso não ocorre, pode dar origem a pré-eclâmpsia e outros distúrbios por insuficiência placentária. Essa sequência de alterações pode ser dividida em dois estágios: pré- clínico e clínico. Estágio pré-clínico: ausência da segunda onda trofoblástica; remodelação vascular parcial ou ausente; placentação defeituosa — disfunção placentária — associada a ativação global do sistema inflamatório e liberação de fatores angiogênicos; estresse oxidativo. Estágio clínico: alteração na remodelação vascular; isquemia placentária, causando estresse oxidativo, liberação de detritos placentários na circulação materna, ativação de imunidade inata, citocinas pró-inflamatórias na circulação materna, que leva ao aumento de fatores antiangiogênicos — Natalia Quintino Dias aumento de sFlt-1 e endoglina —, queda de fatores angiogênicos — queda de PIGF e VEGFs —, aumento de tromboxano A2 — vasoconstrictor —; lesão endotelial; hipertensão e lesão nos órgãos alvo. Assim, um aumento entre a razão sFlt-1/PlGF, mensurado no sangue periférico de gestantes, pode predizer a pré-eclâmpsia. Em casos de pré-eclâmpsia mais crescimento intrauterino restrito, temos ainda lesões obstrutivas de aterose aguda, com estreitamento desses vasos espiralados que não sofreram a remodelação vascular, causando infarto de áreas placentárias. Predisposição genética: O receptor KIR AA materno dificulta a implantação. Fatores de risco Nuliparidade; Idade materna avançada (superior ou igual a 35 anos); Gestação múltipla; HAC (hiperplasia adrenal congênita); Trombofilia; História familiar de pré-eclâmpsia em parentes de 1º grau; Diabetes; Lúpus eritematoso sistêmico; Síndrome do anticorpo antifosfolipídico; IMC maior ou igual a 30Kg/m² na gestação inicial; Doença renal crônica; Fertilização in vitro; Apneia obstrutiva do sono; História pessoal prévia de pré-eclâmpsia; Síndrome metabólica. Diagnóstico • Mulheres sem hipertensão prévia, PAS maior ou igual a 140 mmHg ou PAD maior ou igual a 90 mmHg, confirmado em duas aferições — maior ou igual a quatro horas de intervalo entre as aferições —, 20 semanas de gestação ou mais e proteinúria; • Mulheres sem hipertensão prévia, PAS maior ou igual a 160 mmHg ou PAD maior ou igual a 110 mmHg, confirmado em duas aferições — 15 minutos de intervalo entre as aferições —, 20 semanas de gestação ou mais e proteinúria; • Mulheres sem hipertensão prévia, hipertensão recente — PAS maior ou igual a 140 mmHg ou PAD maior ou igual a 90 mmHg — confirmada em duas aferições — maior ou igual a quatro horas de intervalo entre as aferições —, 20 semanas de gestação ou mais, com ou sem proteinúria início recente e um ou mais dos sintomas abaixo: o Trombocitopenia menor que 100.000 x 109/L; o Insuficiência renal: creatinina sérica aumentada maior que 1,1 mg/dL ou aumento da creatinina sérica em duas vezes sem outras doenças renais; o Piora na função hepática: aumento nas transaminases hepáticas séricas em duas vezes ou mais o valor da normalidade; o Edema pulmonar; o Persistência severa de dor epigástrica ou no quadrante superior direito, sem outras causas diagnósticas; o Início recente de cefaleia não responsiva a acetaminofeno sem outras causas diagnósticas ou distúrbios visuais. Proteinúria: • Urina de 24 horas com proteinúria maior ou igual a 300 mg; • Relação proteinúria-creatinúria maior ou igual a 0,3 mg/dL; • Fita urinária de proteinúria — dipstick — com leitura maior ou igual a +2. Usado somente quando outros métodos quantitativos não disponíveis. Se houver hipertensão, proteinúria e menos de 20 semanas de gestação, deve-se avaliar púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome hemolítico-urêmica, gestação molar, doença renal ou doença autoimune. Sinais de gravidade de pré-eclâmpsia Natalia Quintino Dias Natalia Quintino Dias Medicação nos casos de prevenção de pré- eclâmpsia -> Ácido acetilsalicílico em baixa dose de 75 a 150 mg/d — ácido acetilsalicílico, 100 mg/d — iniciado de preferência entre 12 a 16 semanas de idade gestacional. Manter até o parto (segundo a FEBRASGO, suspender com 34-36 sem de gestação. -> Suplementação de cálcio: o Tratado de Obstetrícia FEBRASGO orienta, nesses casos, o início da suplementação de cálcio na primeira consulta pré-natal na dose de 1,5 a 2 g/d, fracionada em 3 doses. Já o ACOG recomenda seu uso como prevenção de pré-eclâmpsia apenas nas gestantes com baixa ingesta de cálcio. Natalia Quintino Dias