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FGV Teoria Geral do Processo

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Graduação
 2012.1
ROTEIRO DE CURSO
TEORIA GERAL 
DO PROCESSO
AUTORES: JULIANO OLIVEIRA BRANDIS E RODRIGO PEREIRA MARTINS RIBEIRO
REVISÃO: JOSÉ AUGUSTO GARCIA DE SOUSA
Sumário
Teoria Geral do Processo
AULA 1 E 2: APRESENTAÇÃO DO CURSO E NOÇÕES INICIAIS ............................................................................................ 3
AULAS 3 E 4: A JURISDIÇÃO NO ESTADO CONTEMPORÂNEO .......................................................................................... 36
AULAS 5 E 6: A EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL (PROCESSO X TEMPO) ................................................................ 42
AULAS 7, 8 E 9: COMPETÊNCIA .............................................................................................................................. 54
AULA 10, 11, 12, 13, 14 E 15. PROBLEMÁTICA DA AÇÃO: TEORIAS, CARACTERÍSTICAS, 
CONCEITO, CONDIÇÕES, ELEMENTOS E ESPÉCIES. ...................................................................................................... 78
AULA 16, 17 E 18. PROCESSO, RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS .......................................... 87
AULA 19 E 20. PROCEDIMENTOS: VISÃO PANORÂMICA .............................................................................................. 104
AULAS 21, 22 E 23: ATOS E VÍCIOS PROCESSUAIS ..................................................................................................... 122
AULAS 24 E 25: OS PERSONAGENS DO PROCESSO. O JUIZ. O MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 
O ADVOGADO. O DEFENSOR PÚBLICO. O ADVOGADO DO ESTADO. ................................................................................. 129
QUESTÕES DE CONCURSO E GABARITO DAS QUESTÕES DE CONCURSO ........................................................................... 140
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 3
AULA 1 E 2: APRESENTAÇÃO DO CURSO E NOÇÕES INICIAIS
APRESENTAÇÃO GERAL
O principal objetivo do curso é apresentar ao aluno os institutos funda-
mentais da Teoria Geral do Processo mediante a utilização de casos concretos 
julgados em nossos tribunais. No decorrer do curso serão abordadas, gradati-
vamente, as novas tendências do Direito Processual Brasileiro.
MATERIAL DIDÁTICO E METODOLOGIA
O material apresenta aos alunos o roteiro das aulas, casos geradores, in-
dicação bibliográfi ca básica e complementar, jurisprudência e questões de 
concursos sobre os temas estudados em cada aula.
A utilização do presente material didático é obrigatória para que haja um 
aproveitamento satisfatório do curso. Assim, é imprescindível que seja feita a lei-
tura do material antes de cada aula, bem como da bibliografi a básica. Em relação 
aos casos geradores, é importante observar que, sempre que possível, foram esco-
lhidos problemas que comportam duas ou mais soluções. Portanto, nos debates 
feitos em sala de aula, será possível perceber que, na maioria das vezes, o caso 
analisado poderia ter tido outra solução que não a dada por determinada corte.
FORMAS DE AVALIAÇÃO
Os alunos serão avaliados com base em duas provas realizadas em sala de 
aula que abordarão conceitos doutrinários e problemas práticos, sendo facul-
tada a consulta a textos legislativos não comentados ou anotados.
O aluno que não obtiver uma média igual ou superior a 7,0 (sete) nessas 
duas avaliações deverá realizar uma 3ª prova.
ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Além das aulas baseadas nos casos referidos nesse material, o curso contará com:
• Realizações de Seminários: onde a turma será divida em grupos, cada 
um com seu tema, para elaboração de trabalho de pesquisa e posterior 
apresentação na forma de seminário.
• Palestras: dependendo dos interesses dos alunos e realizadas de acordo 
com a conveniência dos convidados e da Escola de Direito.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 4
1 No passado houve quem 
defendesse a utilização da no-
menclatura Direito Judiciário, 
ao invés de Direito processual, 
já que é a função jurisdicional, 
e não o processo, utilizado 
pelo Estado para o exercício 
da Jurisdição, o cerne prin-
cipal desta ciência. É este, 
inclusive, o título da obra do 
grande processualista João 
Mendes de Almeida Júnior: 
Direito Judiciário Brasileiro. 3ª 
Edição. Rio de Janeiro: Freitas 
Bastos, 1940.
2 GRINOVER, Ada Pellegrini; 
DINAMARCO, Cândido R., CIN-
TRA, Antônio Carlos de Araújo. 
Teoria Geral do Processo, 14ª 
edição, 1997, Editora Revista 
dos Tribunais, São Paulo, p. 40.
3 DINAMARCO, Cândido Ran-
gel. Fundamentos do Processo 
Civil Moderno. 3ª edição. São 
Paulo. Editora Malheiros, p. 
727.
4 Simbolicamente, aponta-se 
o ano de 1.868, quando o ju-
rista alemão Oskar von Bülow 
lançou sua obra “Teoria dos 
Pressupostos Processuais e 
das Exceções Dilatórias” (em 
alemão Die Lehre von den 
Processeinreden und die Pro-
cessvorausserzungen) como 
marco de nascimento de uma 
Teoria Geral do Processo.
A — TEXTO DE APRESENTAÇÃO: “UMA BREVE INTRODUÇÃO AO ESTUDO 
DO PROCESSO”
Surge um Novo Direito Processual
O Direito Processual é o ramo do Direito que possui como objeto de estu-
do a função jurisdicional1, exercida pelo Estado. Como se sabe, o Estado De-
mocrático de Direito, no exercício de seu poder soberano, uno e indivisível, 
realiza três funções: legislativa, administrativa e jurisdicional. É justamente 
esta última função que será estudada pela Teoria Geral do Processo.
Desde já, é conveniente destacar que a expressão Direito Processual pode 
se referir à ciência ou norma.
Na primeira dessas acepções, temos o ramo da ciência jurídica que estuda 
e regulamenta o exercício, através do Estado, da função jurisdicional e, no se-
gundo sentido (norma, direito objetivo), o complexo de normas e princípios 
que regem o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado-juiz, da ação pelo 
demandante e da defesa pelo demandado2.
A Ciência Processual contemporânea é resultado de inúmeras transforma-
ções que se procederam, ao longo da história, pela atuação dos aplicadores do 
direito e pela incansável colaboração dos estudiosos do direito.
De fato, até o século XIX, não se falava em uma Teoria Geral do Processo, 
haja vista que a ação era concebida como desdobramento do próprio direito 
material e o instituto jurídico do processo como sinônimo de procedimento. 
Naquela época, como se pode perceber, o Direito Processual consistia em 
uma simples parte, mero apêndice, do Direito Privado, sem que fosse atribu-
ída autonomia científi ca àquela matéria3.
No decorrer do século XIX, este quadro começa a se alterar e, gradati-
vamente, são desenvolvidos conceitos e estruturas próprias que resultam na 
autonomia do processo4.
Dessa maneira, a Teoria Geral do Processo ganha conotação científi ca e é 
fortalecida por primorosos estudos sobre o processo, ação e jurisdição que, 
por fi m, conduzem a autonomia deste ramo do Direito.
Na virada do século XIX para o XX, ocorreu uma profunda construção dog-
mática do Processo na Europa Ocidental, onde se destacaram os estudos de Giu-
seppe Chiovenda e Francesco Carnelutti. Contudo, em meados do século XX, 
quando a ciência processual já estava estruturada e contava com seus próprios 
institutos, o Processo passa por um período de crise. De fato, a comunidade 
jurídica começa a perceber que o sistema processual não pode ser destituído de 
conotações éticas e de objetivos a serem cumpridos nos planos social e político.
Em 1950, durante o ato inaugural do Congresso Internacional de Direito 
Processual Civil de Florença, o consagrado professor italiano Piero Calaman-
drei realiza profundas críticas a essa visão demasiadamente abstrata e dog-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 5
5 Com efeito, as idéias do fes-
tejado jurista reproduzidas no 
texto denominado “Processo e 
Justiça” (Processo e Giustizia), 
já demonstravam profunda 
preocupação com o objetivo 
maior do processo que é che-
gar a uma decisão justa. CA-
LAMANDREI, Piero (tradução 
de Luiz Abezia e Sandra Drina 
Fernandes Barbery). Processo 
e Justiça. In: Direito ProcessualCivil Vol. III, São Paulo: Book-
seller, 1999.
6 Existe outro livro: “Acesso à 
Justiça”, traduzido para o por-
tuguês pela hoje Ministra Ellen 
Gracie Northfl eet, que pode 
ser considerada uma versão 
“mais condensada” escrita 
pelo posteriormente pelo pro-
fessor Cappelletti em compa-
nhia do professor Bryant Gar-
th, com base em dois volumes 
da obra anteriormente citada: 
CAPPELLETTI, Mauro e GAR-
TH, Bryant. Acesso à Justiça. 
Porto Alegre: Sérgio Antônio 
Fabris Editor. 1988. Tradução 
Ellen Gracie Northfl eet. Títu-
lo original: Acess to Justice: 
The Worldwide Movement to 
Make Rights Eff ective.
7 A) Assistência judiciária para 
os pobres, (B) representação 
dos interesses difusos e (C) 
um novo enfoque de acesso 
à justiça amplo, efetivo, jus-
to e adequado. CAPPELLET-
TI, Mauro e GARTH, Bryant. 
Acesso à Justiça. Porto Alegre: 
Sérgio Antônio Fabris Editor. 
1988.
mática da Ciência Processual, visão esta que não atentava para as verdadeiras 
fi nalidades da atividade jurisdicional:
“O pecado mais grave da ciência processual destes últimos cinqüenta anos 
tem sido, no meu entender, precisamente este: haver separado o processo de sua 
fi nalidade social; haver estudado o processo como um território fechado, como 
um mundo por si mesmo, haver pensado que se podia criar em torno do mesmo 
uma espécie de soberbo isolamento separando-o cada vez de maneira mais pro-
funda de todos os vínculos com o direito substancial, de todos os contatos com 
os problemas de substância, da justiça, em soma.”5
Não obstante, somente alguns anos depois, na década de setenta do século 
passado, é que se pode identifi car o verdadeiro turning point de nossa Ciência. 
Naquela década, o notável jurista peninsular Professor Mauro Cappelletti, basea-
do em profundo trabalho de pesquisa do Instituto de Pesquisas de Florença, e de 
diversas Escolas ao redor do mundo, escreveu a magistral obra de quatro volumes 
denominada Acess to Justice6, em que apresentava relatórios e conclusões de di-
versos anos de pesquisa, além de numerosas sugestões para melhorar o problema 
do acesso à justiça. Esta obra jurídica é considerada o marco de nascimento da 
atual fase instrumentalista ou teleológica da Ciência Processual. No trabalho de 
Cappelletti, estão retratados os diversos obstáculos encontrados em vários países 
do mundo para que se tenha uma justiça efetiva. São também sugeridas possíveis 
soluções para o problema: Cappelletti se referiu a três momentos a serem supera-
dos, aos quais chamou de “ondas renovatórias” do acesso à justiça7.
Estavam, assim, lançadas as premissas de uma nova concepção do processo.
Na atual fase de evolução do Direito Processual, busca-se um efetivo e am-
plo acesso à justiça. O Judiciário idealizado por Cappelletti deve ser acessível 
a todos e a todas as espécies de demandas, individuais e coletivas, contem-
plando o titular de um direito com tudo e exatamente aquilo que o ordena-
mento jurídico lhe assegura. A atividade jurisdicional deve, ainda, produzir 
resultados individuais e socialmente justos.
Assim, o Direito Processual de nossos dias é caracterizado por uma menor 
preocupação com as formalidades processuais e maior com a justiça da de-
cisão e os reflexos desta na sociedade. Deseja-se, assim, formar um processo 
apto a atingir os resultados políticos e sociais que legitimam sua existência.
Pós-Positivismo e Teoria Geral do Processo
É comum nos dias de hoje em nossa comunidade jurídica a afi rmativa 
de que nosso Direito se encontra na fase “pós-positivista”. O signifi cado da 
expressão “pós-positivismo” é de difícil — se não impossível — defi nição.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 6
8 CALSAMIGLIA, Albert. Post-
positivismo. In: Doxa: Cuader-
nos de Filosofía del Derecho. 
Espanha: Doxa 21-I, 1998, p. 
209-220.
9 MARINONI, Luis Guilherme. 
Teoria Geral do Processo. São 
Paulo, Revista dos Tribunais, 
2006.
Em verdade, ela busca representar o atual momento em que, sem fugir 
do princípio da legalidade, se deseja superar alguns excessos do positivismo 
radical que imperou em nossos tribunais no século XX.
Segundo o jusfi lósofo espanhol ALBERT CALSAMIGLIA8, os adeptos 
do pós-positivismo não defendem um anti-positivismo (ou direito alterna-
tivo). O que ocorre é um deslocamento do enfoque das questões abordadas 
e, em alguns casos, o distanciamento de certas teses sustentadas pela maior 
parte da doutrina positivista.
De forma sintética, segundo o referido autor, são dois os pontos em que o 
pós-positivismo busca dar este novo enfoque:
(a) Os limites do direito. No pós-positivismo, as normas jurídicas não 
possuem somente elementos descritivos para tratar de fatos passa-
dos, mas também elementos prescritivos, com o objetivo de ofere-
cer elementos adequados para resolver problemas práticos. Existe 
uma preocupação relacionada aos elementos de completude do or-
denamento para solucionar hard cases. Uma das tendências mais 
importantes da teoria jurídica contemporânea é sua insistência nos 
problemas relativos à indeterminação do direito, pois as tradicio-
nais fontes normativas não podem resolver todas as questões. Ade-
mais, o pós-positivista coloca o julgamento (a aplicação do direito), 
e não a legislação, como feito pelos positivistas, no centro da análise 
da ciência jurídica.
(b) A relação entre direito e moral. Para o positivista, a moral só tem 
importância na medida em que ela é reconhecida pelo ordenamen-
to jurídico (o direito não perde sua coercitividade por ser injusto). 
Na realidade, ao contrário do que comumente se afi rma, a moral 
possui curial importância para o direito, ora na interpretação de 
conceitos jurídicos indeterminados, de princípios jurídicos, ora em 
outros momentos que o magistrado se encontra diante de lacunas 
do ordenamento.
Assim, conclui CALSAMIGLIA, as ferramentas oferecidas pelo legislador 
são insufi cientes para construir uma forma de julgamento aplicável a todo e 
qualquer caso.
Dentro dessa perspectiva, é natural que seja ultrapassada a antiga concepção 
que a atividade jurisdicional seria uma atividade meramente declaratória de 
direitos. Contudo, até hoje, a maioria dos “cursos de direito processual” ado-
tados no Brasil ainda partem daquela velha premissa, consagrada na lição de 
Montesquieu, de que o Juiz seria a mera boca que pronuncia as palavras da lei.
Recentemente, Luiz Guilherme Marinoni, Professor Titular de Direito 
Processual Civil da Universidade Federal do Paraná, publicou sua obra de 
Teoria Geral do Processo9 em que busca superar a clássica visão apontada no 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 7
parágrafo anterior. Baseado nas lições de ilustres autores alienígenas — tais 
como Hans Kelsen, Owen Fiss e Mauro Cappelleti —, Marinoni defende a 
possibilidade da construção de novos direitos através da prestação da tutela 
jurisdicional.
Como se sabe, o surgimento de normas jurídicas relacionadas à imple-
mentação de direitos sociais, no decorrer do século XX, acarretou a gradual 
transformação do Welfare State em um imenso Estado administrativo, sobre-
carregado de funções a desempenhar, bem diferente de seu antecessor, o Es-
tado Liberal. A implementação desses direitos sociais exige ações por parte do 
Estado. Nesse passo, importantíssimas implicações são impostas aos juízes. 
O Judiciário de nossos dias não realiza mais apenas a tutela de direitos civis 
e penais relativos ao cidadão, mas, também, o controle dos poderes políticos 
do Estado. À guisa de exemplo, vale apontar as recentes discussões sobre a 
sindicabilidade ou não do ato administrativo pelo Estado-juiz e sobre a pos-
sibilidade ou não do controle jurisdicional sobre as omissões administrativas.
Ademais, com o reconhecimento da existência de uma terceira geração de 
direitos humanos — os interesses coletivos — restou evidente o caráter de 
discricionariedade existente na atividade jurisdicional, bem como a necessi-
dade de repensar toda a Teoria Geral do Processo.
Tutela Jurisdicional de Interesse disponíveis e indisponíveis.Interesse de Grupo.
Inexiste critério objetivo no direito positivo brasileiro para determinar se 
estamos diante de interesses disponíveis ou indisponíveis.
Nossa doutrina também não chegou a um consenso sobre quais direitos 
são ou não indisponíveis e quais os parâmetros para tal classifi cação. Há ca-
sos, como por exemplo, no direito de família e nos direitos da personalidade, 
em que é difícil apontar se determinado interesse é ou não disponível.
De qualquer modo, há hipóteses em que não encontramos dúvidas de que 
estamos diante de tutela de determinado interesse que não se está na esfera de 
disponibilidade das partes que litigam em juízo.
É o caso, por exemplo, da tutela do meio-ambiente realizada por intermé-
dio de uma ação civil pública. Nessa hipótese, os legitimados pelo art. 5º da 
Lei nº 7.347/84 atuam em nome de toda a sociedade e, por essa razão, não 
podem “abrir mão” de um interesse que não lhes pertence.
A ação civil pública é hoje o principal instrumento de tutela de direitos 
coletivos em nosso País e possui previsão constitucional no artigo 129, in-
ciso III e § 1º, da Constituição Federal, sendo regulamentada pelas Leis nº 
7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública), e nº 8.078, de 11 
de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor). Sua criação e de-
senvolvimento são atribuídos à constatação da insufi ciência dos mecanismos 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 8
processuais existentes para proteger direitos que transcendem o indivíduo, 
seja em razão da difi culdade de identifi car sua titularidade, de dividir seu 
objeto ou, ainda, de tutelá-los de maneira individual.
De fato, é na tutela do interesse de grupo que fi ca mais evidente a ne-
cessidade de repensar a Teoria Geral do Processo para que seus institutos se 
adaptem à chamada Jurisdição Coletiva.
A necessidade de adequar o processo às exigências de uma sociedade mas-
sifi cada, ditada pelos avanços tecnológicos e culturais e, bem assim, por suas 
implicações em diversos setores, tais como o meio ambiente, as relações tra-
balhistas e de consumo, as políticas públicas e os direitos das minorias, trouxe 
à tona o debate acerca da reformulação dos institutos e princípios tradicio-
nais do direito processual, de conotação meramente individualista.
Como se verá ao longo do curso, institutos tradicionais da Teoria Geral do 
Processo, tais como legitimidade e coisa julgada, tiveram que ser adaptados 
para que esse ramo do Direito pudesse tratar, também, de interesses de gru-
po. De igual modo, os princípios constitucionais do processo adquirem uma 
nova dimensão na tutela de direitos indisponíveis.
Breve Conclusão
Conforme ressaltado, são dois os principais motivos que levam à necessi-
dade de reformulação da Teoria Geral do Processo:
(a) superação da clássica concepção da Jurisdição como atividade me-
ramente declaratória de direitos;
(b) necessidade de adaptar seus tradicionais institutos à tutela coletiva 
de direitos.
Acrescente-se a isso o atual estágio de insatisfação do jurisdicionado com a 
prestação da tutela jurisdicional. Assim, é necessário buscar novos meios para 
que se atinja um efetivo e amplo acesso à justiça.
Com efeito, nosso sistema jurídico deve ser acessível a todos e a todas es-
pécies de demandas, individuais e coletivas, contemplando o titular de uma 
posição jurídica de vantagem, em tempo razoável, com exatamente aquilo 
que o ordenamento lhe assegura.
Nesse passo, a atividade jurisdicional deve, ainda, produzir resultados in-
dividuais e socialmente justos.
É dentro dessa perspectiva que deve ser compreendido o curso que agora 
se inicia.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 9
B — DIREITO PROCESSUAL CIVIL: NOÇÕES INICIAIS
CASO
O legislador, quando da elaboração da norma, pode deixar de prever de-
terminadas situações que no caso concreto terão que ser dirimidas pelo apli-
cador da lei. Para isto, o Código Civil prevê na Lei de Introdução (art. 4º da 
LICC) que em casos de omissão na norma o juiz deverá decidir conforme os 
costumes, a analogia e os princípios gerais do direito.
Com base nesta afi rmativa, refl ita sobre o caso logo abaixo declinado.
Maria propõe ação buscando a exclusão de seu ex-cônjuge da partilha de 
divórcio (sendo o regime da comunhão universal), em razão do fato de o 
mesmo ter matado o pai da autora e esta não querer que o ex-cônjuge desfru-
te de forma indireta da herança que recebeu. Maria fundamenta seu pedido 
no argumento de que, por ter sido o ex-cônjuge o autor do homicídio de seu 
pai e por ser parente do de cujus por afi nidade, estaria excluído do direito 
sucessório. Dispõe o Código Civil:
“Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro 
pelo vínculo da afi nidade”.
“Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I — que 
houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tenta-
tiva deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, 
ascendente ou descendente”.
Diante do caso e dos dispositivos supracitados, refl ita sobre a pertinência 
da interpretação da norma nos termos invocados por Maria.
NOTA AO ALUNO
1 — EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Fixamos nossa volta ao passado no período que se inicia com o descobri-
mento do Brasil. Nesse período, ganhava grande relevo a fi gura do municí-
pio, concebido como núcleo administrativo implantado em território bra-
sileiro. Nele, o exercício da jurisdição era desempenhado através dos juízes 
ordinários ou da terra, cuja nomeação se dava por escolha de “homens bons”, 
numa eleição desvinculada dos interesses da Coroa, que, buscando sua repre-
sentação, nomeava os chamados “juízes de fora”.
Quando da criação das capitanias hereditárias, impunha-se aos donatários 
a incumbência de reger as questões judiciais provenientes de suas terras, po-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 10
10 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. 
Breve noticia sobre la conciliación en 
el proceso civil brasileño. In: Temas de 
direito processual: quinta série. São 
Paulo: Saraiva, 1994, p. 95. Interessante 
transcrevermos aqui os Arts. 161 e 162 
da Constituição do Império, que esta-
beleciam, respectivamente, a tentativa 
prévia de conciliação como pressuposto 
de constituição válida do processo e a 
atribuição de competência ao juiz de 
paz para tentar promovê-la. “Art. 161. 
Sem se fazer constar, que se tem inten-
tado o meio da reconciliação, não se co-
meçará Processo algum. Art. 162. Para 
este fi m haverá juizes de Paz, os quaes 
serão electivos pelo mesmo tempo, e 
maneira, por que se elegem os Verea-
dores das Camaras. Suas attribuições, e 
Districtos serão regulados por Lei”.
der este limitado tanto pelas leis advindas do Reino como pelas então deno-
minadas cartas forais. A autoridade jurisdicional máxima fazia-se presente na 
fi gura do ouvidor-geral.
Durante o período colonial, o Brasil era regido pelas leis processuais por-
tuguesas, como não poderia deixar de ser, visto que Brasil e Portugal for-
mavam um Estado único. Vigoravam, nesta época, as Ordenações Filipinas, 
que dispunham de forma quase completa sobre a administração pública. O 
processo civil foi regulado em seu livro III, composto por 128 capítulos, 
abrangendo os procedimentos de cognição, execução, bem como os recursos.
As Ordenações Filipinas, que permaneceram em vigor mesmo após a in-
dependência brasileira, foram de grande importância para o direito brasilei-
ro. Com uma estrutura bastante moderna, eram compostas por cinco livros, 
dentre os quais o terceiro tratava da parte processual civil.
Apesar da vigência das Ordenações Filipinas, o Brasil também era regido, 
nesta época, pelas cartas dos donatários, dos governadores e ouvidores e, ain-
da, pelo poder dos senhores de engenho, que faziam sua própria justiça ou 
infl uenciavam a justiça ofi cial, ora pelo prestígio que ostentavam, ora pelo 
parentesco com os magistrados.
Com a proclamação da independência em 07 de setembro de 1822, tor-
nou-se necessária uma reestruturaçãoda ordem jurídica interna, o que foi 
alcançado através da Carta Constitucional de 1824, com a introdução em 
nosso ordenamento de inovações e princípios fundamentais, principalmente 
no campo criminal, em que a necessidade de mudanças se fazia mais eviden-
te, tais como a abolição da tortura e de todas as penas cruéis.
Por outro lado, verifi cou-se a consagração da divisão dos poderes e o esta-
belecimento da harmonia destes com o Poder Moderador, buscando garantir 
os direitos ditados pela Carta Magna, assim como a composição e indepen-
dência do Poder Judiciário. Estipulou-se ainda a necessidade e a obrigatorie-
dade de um juízo conciliatório prévio10.
Todavia, apesar da nova ordem constitucional que surgiu nesse momento, 
as Ordenações Filipinas e demais normas jurídicas de origem portuguesa não 
perderam vigência, pois o Decreto de 20 de outubro de 1823, adotando-as 
como lei brasileira, determinou que só seriam revogadas as disposições con-
trárias à soberania nacional e ao regime brasileiro.
Assim, atendendo às exigências da Carta Constitucional, no campo pro-
cessual penal, tivemos a promulgação do Código de Processo Criminal em 
1832, que, rompendo com a tradição portuguesa, inspirou-se nos modelos 
inglês (acusatório) e francês (inquisitório), fornecendo ao legislador brasileiro 
elementos para a elaboração de um sistema processual penal misto.
Além disso, o novo Código também trazia, em um título único composto por 
vinte e sete artigos, a “disposição provisória acerca da administração da justiça 
civil”, simplifi cando o processo civil ainda regulado pelas Ordenações Filipinas.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 11
Em 1850, logo após a edição do Código Comercial, entraram em vigor os 
Regulamentos nº 737 (considerado o primeiro diploma processual brasileiro) 
e 738, que disciplinavam, respectivamente, o processo das causas comerciais 
e o funcionamento dos tribunais e juízes do comércio.
O direito processual civil, contudo, permaneceu regulado pelas disposi-
ções das Ordenações e suas posteriores modifi cações, levando o governo a 
promover, em 1876, uma Consolidação das Leis do Processo Civil, com for-
ça de lei, que fi cou conhecida como Consolidação Ribas, em virtude de sua 
elaboração a cargo do Conselheiro Antônio Joaquim Ribas.
Proclamada a República, o Regulamento 737 foi estendido às causas cí-
veis, mantendo-se a aplicação das Ordenações e suas modifi cações aos casos 
de jurisdição voluntária e de processos especiais.
Após o advento da Constituição de 1891, no entanto, conferiu-se aos Esta-
dos a possibilidade de legislar sobre matéria processual, aumentando o espectro 
de competência antes pertencente somente à União Federal, após o que várias 
leis foram promulgadas, regulamentando as mais diversas questões processuais.
Em 1º de janeiro de 1916, foi editado o Código Civil Brasileiro, tratando 
não só das questões de direito material, mas também de algumas processuais. 
No Rio de Janeiro, então Distrito Federal, veio à luz o Código Judiciário de 
1919, promulgado pela Lei nº 1.580 de 20 de janeiro, seguido pelo Código 
de Processo Civil do Distrito Federal, de 31 de dezembro de 1924, e devida-
mente promulgado pelo Decreto nº 16.751.
Finalmente, a Carta de 1934 consagrou a unifi cação processual, atribuin-
do novamente a competência para legislar em matéria processual exclusiva-
mente à União, o que foi mantido pela Constituição de 1937, em seu artigo 
16, inciso XVI, possibilitando assim a edição do Código Brasileiro de Proces-
so Civil, através do Decreto nº 1.608, de 18 de setembro de 1939.
A unifi cação processual se justifi cava pela necessidade de uma normatização 
uniforme ante o grande número de leis existentes em cada Estado, as quais há 
muito se mostravam obsoletas e incapazes de satisfazer o objetivo primordial 
do processo civil, qual seja, o de tutelar efetivamente os direitos subjetivos.
Não obstante, o artigo 1º do Código deixou à apreciação de lei especial 
a regulamentação de algumas matérias específi cas, tais como as desapropria-
ções, as ações trabalhistas e os litígios entre empregados e empregadores.
O Código de 1939 teve o mérito de se inspirar nas mais modernas dou-
trinas européias da época, introduzindo importantes inovações em nosso or-
denamento processual, como o princípio da oralidade e a combinação do 
princípio dispositivo e do princípio do juiz ativo, permitindo uma maior 
agilidade nos procedimentos.
Chegamos, assim, ao atual Código de Processo Civil, introduzido em nosso 
ordenamento jurídico pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e baseado 
no anteprojeto de autoria de Alfredo Buzaid.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 12
11 Países como o Brasil, em que as cau-
sas entre particulares e as causas entre 
esses e o Estado estão submetidas aos 
mesmos órgãos jurisdicionais, sendo 
regidas pelas mesmas normas proces-
suais, são chamados países de jurisdi-
ção una. E países em que as causas do 
Estado não estão submetidas a órgãos 
do Poder Judiciário, mas a órgãos de 
julgamento estruturados dentro da 
própria Administração Pública, como 
a França e a Itália, numa concepção 
distinta da separação de poderes, são 
chamados países de dualidade de 
jurisdição. Importante destacar que, 
em países de dualidade de jurisdição, 
o contencioso administrativo, ainda 
que formalmente vinculado de algum 
modo à AP, tem evoluído no sentido 
de adquirir independência em relação 
a ela e de oferecer aos adversários um 
processo revestido das garantias funda-
mentais universalmente reconhecidas, 
como vem ocorrendo na Itália e na 
França.
O CPC de 1973 permanece em vigor até hoje. Contudo, sofreu inúmeras 
alterações, sobretudo a partir do início da década de noventa do século XX. 
Teve início aí a chamada Reforma Processual, processo fragmentado em de-
zenas de pequenas leis que se destinam a fazer mudanças pontuais e ajustes 
“cirúrgicos”.
2 — CONCEITO
Tradicionalmente, e para fi ns meramente didáticos, a doutrina classifi ca o 
Direito, tal como o concebemos, em dois grandes ramos: público e privado.
Classicamente, se conceitua o direito processual como o ramo do direito 
público interno que disciplina os princípios e as regras relativos ao exercício 
da função jurisdicional do Estado.
No entanto, tal conceituação, embora ainda prevaleça na doutrina proces-
sual, não se revela absoluta, pois a função jurisdicional, embora siga sendo 
predominantemente exercida por magistrados e tribunais do Estado11, tam-
bém pode ser exercida por órgãos e sujeitos não estatais, por meio dos meios 
alternativos de solução de confl itos, dentre os quais se destacam a arbitragem 
e a justiça interna das associações.
Logo, a idéia de que o Direito Processual é um ramo do direito público 
interno, nos dias atuais, foi relativizada, pois o fenômeno de privatização do 
processo é crescente, tendente a atende o clamor por maior autonomia dos 
particulares na formação e no desenvolvimento da relação processual.
Enquanto no ramo privado subsistiria uma relação de coordenação entre 
os sujeitos integrantes da relação jurídica — como no direito civil, no direito 
comercial e no direito do trabalho —, no público prevaleceria a supremacia 
estatal face aos demais sujeitos.
Nessa linha de raciocínio, o direito processual — assim como o constitu-
cional, o administrativo, o penal e o tributário — constituiria ramo do direi-
to público, visto que suas normas, ditadas pelo Estado, são de ordem pública 
e de observação cogente pelos particulares, marcando uma relação de poder e 
sujeição dos interesses dos litigantes ao interesse público.
Essa dicotomia entre público e privado é apenas utilizada para sistema-
tização do estudo, pois, modernamente, entende-se que está superada a de-
nominada summa divisio, tendo em vista que ambos os ramos tendem a se 
fundir em prol da função social perseguida pelo Direito. Assim sendo, fala-
se hoje em constitucionalização do direito.
Dessa forma, abandonada a visão dicotômica, podemos defi nir o direitoprocessual como o ramo da ciência jurídica que trata do conjunto de regras e 
princípios que regulamentam o exercício da função jurisdicional do Estado.
Vale ainda dizer que o direito processual quanto às normas de incidência 
classifi ca-se como Direito Internacional ou Direito Interno; o Direito Inter-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 13
no, por sua vez, subdivide-se em espécies de acordo com o direito material 
ora veiculado, estando de um lado o Direito Processual Penal (que compre-
ende regras processuais que veicularão matérias sobre o Direito Penal Militar 
e o Direito Penal Eleitoral) e de outro, o Direito Processual Civil, sendo que 
este último subdivide-se em comum e especial. São consideradas especiali-
dades do Direito Processual Civil o Direito Processual Trabalhista, Direito 
Processual Eleitoral, Direito Processual Administrativo e, por fi m, o Direito 
Processual Previdenciário, cada qual com regras próprias hábeis a viabilizar 
melhor a realização do direito material em questão.
Quadro esquemático:
Direito Processual
Internacional
Interno
Direito Processual 
Civil
Comum
Especial
Direito Processual 
Trabalhista
Direito Processual Eleitoral
Direito Processual 
Penal
Comum
Especial
Direito Processual Militar
Direito Processual Eleitoral
3 — A JURISDIÇÃO
A jurisdição constitui a forma estatal, por excelência, de composição de 
litígios, embora não seja a única. A sociedade desde os tempos longínquos 
convive com divergências que geram os confl itos, as lides. Para solucionar 
esta resistência à negociação, o Estado, que veda a autotutela, manifesta-se 
por meio da jurisdição, cuja regência se operará por meio dos ritos estabele-
cidos pelo legislador.
Importante destacar que a partir do séc. XIV, a jurisdição tornou-se a for-
ma predominante de resolução de confl itos monopolizada pelo Estado, por 
intermédio do Poder Judiciário.
Palavra que vem do latim jurisdictio (que etimologicamente signifi ca “di-
zer o direito”), a jurisdição tem como fi m último a pacifi cação social e con-
siste em um poder e de— ver do Estado, pois, se por um lado corresponde a 
uma manifestação do poder soberano do Estado, impondo suas decisões de 
forma imperativa, por outro corresponde a um dever que o Estado assume de 
dirimir qualquer confl ito que lhe venha a ser apresentado.
Assim, à medida que o Estado, vedando a justiça privada, retira do indi-
víduo a possibilidade de buscar por suas próprias forças a resolução dos con-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 14
fl itos, assume, em contrapartida, o poder-dever de solucioná-los com justiça, 
uma vez que a perpetuação de pretensões insatisfeitas e controvérsias penden-
tes de resolução constituiriam fontes de intensa perturbação da paz social.
Por conseguinte, a função jurisdicional é concebida, segundo Chiovenda, 
como a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade objetiva 
e concreta da lei, mediante a substituição de uma atividade privada por uma 
atividade pública; ou, consoante Carnelutti, como a função estatal de justa 
composição da lide, entendida esta última como o confl ito de interesses qua-
lifi cado pela pretensão de uma parte e resistência de outra.
Pode ser defi nida ainda de acordo com a posição adotada pela doutrina 
brasileira, que procura relacionar os conceitos supracitados, como sendo a 
função de atuar a vontade objetiva da lei, com a fi nalidade de obter a justa 
composição da lide.
Assim, o processo civil traduz-se numa técnica de solução imperativa de 
confl itos, o monopólio estatal em dirimir controvérsias por meio do exercício 
da jurisdição, capitaneada pelo Estado-Juiz, que é quem decide, seguida dos 
auxiliares da Justiça, em que todos exercem o poder estatal. O direito proces-
sual civil, por sua vez, cuidará de estabelecer as regras destinadas a reger como 
se operará este exercício da jurisdição na solução dos confl itos sociais.
Para distinguir as formas de solução de confl itos, a doutrina tradicional-
mente as classifi ca em autodefesa, autocomposição e heterocomposição. Esta 
última poderia ser feita pelo Estado (jurisdição) ou por um particular, em 
certos casos específi cos permitidos pela lei (arbitragem).
A autodefesa (ou autotutela) seria a forma mais primitiva de resolução 
de confl itos. Utilizava-se da força física contra o adversário para vencer sua 
resistência e satisfazer uma pretensão. Remonta ao Código de Hamurabi, que 
consagrou a Lei de Talião — “olho por olho, dente por dente” — que im-
punha o revide na mesma medida que a injustiça praticada, sendo utilizada, 
principalmente, no combate aos criminosos.
Por não garantir a justiça, mas somente a vitória do mais ousado sobre o 
mais tímido, tal prática foi vedada pelos Estados modernos. Nesse sentido, 
um passo muito importante foi a garantia do due process of law, cuja origem 
remonta à Magna Carta (1215), pois esta impedia que qualquer pessoa fosse 
privada de seus bens ou de sua liberdade sem que fosse observado o devido 
processo legal, fi cando proibida, portanto, a autotutela.
Além dessa garantia, hoje prevista em nosso ordenamento jurídico no ar-
tigo 5º, inciso LIV, da Constituição Federal, temos também a regra do artigo 
345 do Código Penal, que caracteriza a autotutela como ilícito penal, ao tipi-
fi car o crime de exercício arbitrário das próprias razões.
Todavia, o Estado permite a autodefesa em situações excepcionais, tais 
como: na legítima defesa no âmbito penal (art. 25, CP); no desforço posses-
sório conferido ao possuidor turbado (art. 1.210, §1º, CC/02); no direito de 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 15
12 A Lei nº 11.232 de 2005 modifi cou a 
redação do caput do Art. 269, limitan-
do-se a dizer que nos casos elencados 
“haverá resolução do mérito”, pois nem 
sempre o processo se extingue através 
de decisão impositiva. As sentenças 
que resolvem o mérito do processo, 
apreciando o objeto do pedido posto 
em juízo, são denominadas defi nitivas. 
Já as sentenças terminativas são aque-
las em que não há resolução do mérito, 
pois não chegam a apreciar o chamado 
objeto da demanda.
retenção do locatário (art. 578, CC/02) e do depositário (art. 644, CC/02); 
bem como no direito de greve, garantido constitucionalmente (art. 9º, CF) 
no âmbito do direito do trabalho.
A autocomposição está presente de forma residual no direito moderno. 
Representa forma primitiva, porém mais evoluída de composição de litígios 
que a autodefesa. Trata-se de solução parcial (por ato dos sujeitos em confl i-
to) na qual as partes chegam a um acordo quanto à existência ou inexistência 
de um direito, seja pela renúncia, pela transação (concessões recíprocas) ou 
mediante o reconhecimento da pretensão alheia, pondo fi m ao confl ito de 
interesses existente.
Tal método não desapareceu dos ordenamentos jurídicos modernos, sen-
do consentido e até mesmo estimulado em muitas situações (desde que se 
trate de direitos disponíveis ou de refl exos patrimoniais de direitos indispo-
níveis, v.g.: direito a alimentos), embora subsistam críticas quanto à aparente 
espontaneidade do sacrifício próprio, bem como quanto à desvantagem para 
a parte mais fraca, resultante de disparidades econômicas ou de uma interpre-
tação errônea ou incompleta do direito.
Em nosso ordenamento, a autocomposição pode ocorrer extra ou endo-
processualmente, isto é, antes da instauração do processo ou durante a sua 
pendência, sendo que, na segunda hipótese, os incisos II, III e V do artigo 
269 do CPC12 prevêem a extinção do processo com a resolução do mérito.
O juízo arbitral é uma modalidade de heterocomposição (julgamento do 
litígio por terceiro escolhido consensualmente pelas partes) também voltada 
à fi xação de existência ou inexistência de um direito. Diferencia-se da 
conciliação porquanto esta, além de consistir em meio alternativo de auto-
composição induzida, permite apenas que um terceiro imparcial conduza as 
partes a um acordo, nada mais podendo fazer se isso se mostrar inviável.
Já no caso daarbitragem, não havendo possibilidade de acordo entre as 
partes, caberá ao árbitro impor a sua decisão solucionando a controvérsia, 
tendo em vista terem as partes previamente acordado que se submeteriam 
àquilo que por ele viesse a ser decidido (Lei n° 9.307/96).
3.1 — CORRENTES UNITARISTA E DUALISTA DA CIÊNCIA PROCESSUAL
Distinguem-se, na doutrina, duas correntes acerca da sistematização do 
direito processual: a que acredita na unidade de uma teoria geral do processo 
(unitarista) e a que sustenta a separação entre a ciência processual civil e a pe-
nal, por constituírem ramos dissociados, com institutos peculiares (dualista).
No entanto, a posição mais adequada, a nosso ver, é a que entende pela 
existência de uma única teoria geral do processo, tendo em vista que a ciência 
processual seja penal, civil, ou até mesmo trabalhista, obedece a uma estrutu-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 16
13 Conferir artigos 1º e 33 da Lei nº 
11.340/06.
ra básica, comum a todos os ramos, fundada nos institutos jurídicos da ação, 
da jurisdição e do processo.
Longe de pretender afi rmar a unidade legislativa, a teoria geral do processo 
permite uma condensação científi ca de caráter metodológico, elaborando e 
coordenando os mais importantes conceitos, princípios e estruturas do direi-
to processual.
Importante destacar que novos e modernos diplomas, como a Lei Maria 
da Penha — Lei nº 11.340/06, que visa a prevenir e reprimir a violência 
doméstica, adotam a sistemática de juízos híbridos, sugerindo a criação de 
varas especializadas, com competência civil e criminal, de modo a facilitar o 
acesso à justiça e conferir proteção mais efetiva à vítima de tais situações de 
violência13.
Dessa forma, o estudo da teoria geral do processo é fruto da autonomia 
científi ca alcançada pelo direito processual e tem como enfoque o complexo 
de regras e princípios que regem o exercício conjunto da jurisdição, pelo 
Estado-Juiz; da ação, pelo demandante (e da defesa, pelo demandado); bem 
como os ensinamentos acerca do processo, procedimento e pressupostos.
4 — FONTES DO DIREITO PROCESSUAL BRASILEIRO
As fontes de direito em geral podem ser conceituadas como os meios de 
produção, expressão ou interpretação da norma jurídica. Assim, as normas 
de direito processual emanam das fontes que inspiram este ramo do direito e 
podem ser classifi cadas em formais e materiais.
Fontes formais são aquelas que detêm força vinculante e constituem o pró-
prio direito positivo. A fonte formal do direito processual, por excelência, é a lei 
lato sensu. Em sentido estrito, apontamos, inicialmente, a Constituição Federal 
que consagra os chamados princípios constitucionais processuais, tais como o 
devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, a duração razoável do 
processo, a isonomia e a inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos.
Fontes materiais são as que não possuem força vinculante nem caráter 
obrigatório, mas se destinam a revelar e informar o sentido das normas pro-
cessuais. São assim considerados os princípios gerais do direito, o costume, a 
jurisprudência (entendimento dos tribunais) e a doutrina (ensinamentos dos 
autores especializados).
De se registrar que, hoje, a fi gura da súmula vinculante, prevista no artigo 
103-A da Carta de 1988 e regulada pela Lei nº 11.417/06, torna o preceden-
te judicial fonte material do direito nesta hipótese. Trata-se de uma fi gura hí-
brida, com características de norma abstrata, eis que aplicável a todos, porém 
surgida a partir de um caso específi co, e, por isso, também norma concreta 
entre as partes envolvidas naquele litígio.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 17
São, portanto, fontes do Direito Processual brasileiro:
a) Constituição — Estabelece, em matéria de direito processual, im-
portantes diretrizes e garantias fundamentais:
Art. 5º: isonomia / paridade de armas (caput); segurança jurídica e coisa jul-
gada (inciso XXXVI); inviolabilidade da intimidade e sigilo das correspondên-
cias e comunicações, relacionadas à atividade probatória e cognitiva processual 
(incisos X e XII); direito à informação (inciso XXXIII); tutela jurisdicional efe-
tiva — inafastabilidade do Poder Judiciário (inciso XXXV); juiz natural (incisos 
LIII e XXXVII); devido processo legal (inciso LIV); contraditório e ampla defesa 
(inciso LV); ações constitucionais para a tutela de direitos fundamentais (habeas 
corpus — inciso LXVII; mandado de segurança — inciso LXIX; mandado de 
injunção — inciso LXXI; habeas data — inciso LXXII; ação popular — inciso 
LXXIII); assistência jurídica gratuita (inciso LXXIV); razoável duração do pro-
cesso (inciso LXXVIII).
Em outros dispositivos da Constituição: obrigatoriedade de fundamentação 
das decisões judiciais (art. 93, inciso IX); atividade jurisdicional é ininterrupta 
(art. 93, inciso XII); organização e funcionamento de instituições essenciais à 
administração da justiça (Ministério Público — arts. 127 a 130; advocacia — 
arts. 131 a 135).
Competência legislativa processual defi nida na Constituição:
Art. 22, I, CRFB — privativa da União;
Exceção: art. 24, X e XI — concorrente UF, Estados e DF — juizados especiais e 
procedimentos em matéria processual.
Art. 62, §1º, alínea b (introduzido pela EC 32/2001) — proibição de edição 
de medidas provisórias em matéria processual.
b) Tratados internacionais — podem ter força de emenda constitucio-
nal se versarem sobre direitos humanos e forem aprovados, em cada 
casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos 
respectivos membros (art. 5º, §3º). Mesmo assim, nenhum tratado 
poderá alterar qualquer direito ou garantia processual que constitu-
am cláusula pétrea (art. 60, § 4º).
c) Lei complementar — as matérias tratadas por LC não podem ser 
objeto de medida provisória (inserida pela EC 32/2001). Em ma-
téria processual, existem 3 matérias que devem ser tratadas por lei 
complementar: Estatuto da Magistratura (art. 93, caput); organi-
zação e competência da Justiça Eleitoral (art. 121); normas sobre 
direito processual em matéria tributária (art. 146).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 18
14 Art. 543-C, CPC. Art. 285-A, CPC. Art. 
103-A, CF.
15 Equidade: (art. 20, §4º, CPC. Lei 
9.307/96 e art. 127, CPC).
16 Art. 1º do CPC: “A jurisdição civil, con-
tenciosa e voluntária, é exercida pelos 
juízes, em todo o território nacional, 
conforme as disposições que este Códi-
go estabelece.” Art. 1.211: “Este Código 
regerá o processo civil em todo o terri-
tório brasileiro. (...).”
d) Lei ordinária — como regra geral, as normas processuais devem ser 
veiculadas por lei ordinária, ressalvados os casos em que a própria 
Constituição exige lei complementar (vide item anterior). Princi-
pais leis processuais ordinárias vigentes em nosso ordenamento: 
CPC (Lei 5.869/73); Assistência judiciária gratuita (Lei 1.060/50); 
Mandado de segurança (Lei 12.016/2009); Ação Civil Pública (Lei 
7.347/85); CDC (Lei 8.078/90).
e) Fontes complementares — art. 126, CPC (costumes, analogia, os 
princípios gerais de direito, jurisprudência14 e equidade15, art. 4º, 
Lei de Introdução ao Código Civil — Dec. Lei nº 4.657/42).
5 — NORMA PROCESSUAL
O Estado é o responsável pela determinação das normas jurídicas, que 
estabelecem como deve ser a conduta das pessoas em sociedade. Tais normas 
podem: a) defi nir direitos e obrigações; b) defi nir o modo de exercício desses 
direitos.
As primeiras constituem aquilo que convencionamos chamar de normas 
jurídicas primárias ou materiais. Elas fornecem o critério a ser observado no 
julgamento de um confl ito de interesses. Aplicando-as, o juiz determina a 
prevalência da pretensão do demandante ou da resistência do demandado, 
compondo, desse modo, a lide que envolve as partes.
As segundas, de caráter instrumental, compõem as normas jurídicas se-
cundárias ou processuais, provenientes do direito público, conforme já ressal-
tado. Elas determinam a técnica a ser utilizada no exame do confl ito de inte-
resses,disciplinando a participação dos sujeitos do processo (principalmente 
as partes e o juiz) na construção do procedimento necessário à composição 
jurisdicional da lide.
A efi cácia espacial das normas processuais é determinada pelo princípio da 
territorialidade, conforme expressam os arts. 1º e 1.211, 1ª parte, do CPC16. 
O princípio, com fundamento na soberania nacional determina que a lei 
processual pátria é aplicada em todo o território brasileiro (não sendo proibi-
da a aplicação da lei processual brasileira fora dos limites nacionais), fi cando 
excluída a possibilidade de aplicação de normas processuais estrangeiras dire-
tamente pelo juiz nacional.
Devido ao sistema federativo por nós adotado, compete privativamente à 
União legislar sobre matéria processual, conforme determina o art. 22, I, da 
CF. Não ocorre, pois, como nos EUA, em que as leis processuais divergem 
de um Estado para outro. Não obstante, as normas procedimentais estaduais 
brasileiras podem variar de Estado para Estado, uma vez que o art. 24, XI, da 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 19
CF, outorgou competência concorrente à União, aos Estados-membros e ao 
Distrito Federal para legislar sobre “procedimentos em matéria processual”.
Além disso, ao lado das normas processuais (art. 22, I, da CF) e das proce-
dimentais (art. 24, XI, da CF), existem as normas de organização judiciária, 
que também podem ser ditadas concorrentemente pela União, pelos Estados 
e pelo Distrito Federal (CF/88, arts. 92 e segs., merecendo especial destaque 
os arts. 96, I, “a”, e 125, § 1.°).
No tocante à efi cácia temporal das normas, aplica-se o art. 1.211, 2ª parte, 
CPC, segundo o qual a lei processual tem aplicação imediata, alcançando os 
atos a serem realizados e sendo vedada a atribuição de efeito retroativo.
No que tange ao início de sua vigência, no entanto, de acordo com o art. 
1º da Lei de Introdução ao Código Civil, a lei processual começa a vigorar 
quarenta e cinco dias após a sua publicação, salvo disposição em contrário 
(na prática, é comum que se estabeleça a vigência imediata), respeitando-se, 
todavia, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, em con-
formidade com o art 5º, XXXVI, da Magna Carta e art. 6°, LICC.
Por fi m, quanto à forma de interpretação da norma processual, ou seja, 
determinar seu conteúdo e alcance, há diversos métodos de interpretação da 
norma jurídica que também podem ser estendidos à norma processual.
Assim, de maneira resumida, podemos classifi cá-los em: a) literal ou gra-
matical, que, como o próprio nome já diz, leva em consideração o signifi cado 
literal das palavras que formam a norma; b) sistemático, segundo o qual a 
norma é interpretada em conformidade com as demais regras do ordenamen-
to jurídico, que devem compor um sistema lógico e coerente que se estabele-
ce a partir da Constituição; c) histórico, em que a norma é interpretada em 
consonância com os seus antecedentes históricos, resgatando as causas que 
a determinaram; d) teleológico, que objetiva buscar o fi m social da norma, 
a “mens legis”, ou seja, diante de duas interpretações possíveis, o intérprete 
deve optar por aquela que melhor atenda às necessidades da sociedade (art. 
5º, LICC); e e) comparativo, que se baseia na comparação com os ordena-
mentos estrangeiros, buscando no direito comparado subsídios para a inter-
pretação da norma.
Conforme o resultado alcançado, a atividade interpretativa pode ser clas-
sifi cada em: a) declarativa, atribuindo à norma o signifi cado de sua expressão 
literal; b) restritiva, limitando a aplicação da lei a um âmbito mais estrito, 
quando o legislador disse mais do que pretendia; c) extensiva, conferindo-se 
uma interpretação mais ampla que a obtida pelo seu teor literal, hipótese em 
que o legislador expressou menos do que pretendia; d) ab-rogante, quando 
conclui pela inaplicabilidade da norma, em razão de incompatibilidade abso-
luta com outra regra ou princípio geral do ordenamento.
Acerca dos meios de integração, destacamos que, com o advento do Có-
digo Francês de Napoleão, em 1804, institui-se a importante regra de que o 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 20
17 “Art. 126. O juiz não se exime de sen-
tenciar ou despachar alegando lacuna 
ou obscuridade da lei. No julgamento 
da lide caber-lhe-á aplicar as normas 
legais; não as havendo, recorrerá à 
analogia, aos costumes e aos princípios 
gerais do direito”.
18 Texto extraído de trecho de decisão 
proferida no Tribunal de Justiça do Es-
tado do Rio Grande do Sul ((Apelação 
Cível nº. 70005798004, Sétima Câmara 
Cível, Relator Des. Luiz Felipe Brasil 
Santos, julgado em 09/04/2003).
magistrado não mais poderia se eximir de aplicar o direito, sob o fundamento 
de lacuna na lei. Tal norma foi seguida pela maioria dos códigos modernos, 
sendo também positivada em nosso ordenamento.
Dessa forma, o art. 126, CPC17, preceitua a vedação ao non liquet, isto é, 
proíbe que o juiz alegue lacuna legal como fator de impedimento à prolação 
da decisão.
Para tanto, há de se valer dos meios legais de colmatagem de lacunas, 
previstos no art. 4º, LICC, a saber: a analogia (utiliza-se de regra jurídica 
prevista para hipótese semelhante), os costumes (que são fontes da lei) e os 
princípios gerais do Direito (princípios decorrentes do próprio ordenamento 
jurídico).
Ressalte-se, por fi m, que interpretação e integração têm funções comu-
nicantes e complementares, voltadas à revelação do direito. Ambas possuem 
caráter criador e permitem o contato direto entre as regras de direito e a vida 
social.
MATERIAL DE APOIO JURISPRUDÊNCIA
“Concordo com o eminente Relator quando diz que o Código Civil de 1916 
não previu, entre as hipóteses de exclusão elencadas no art. 1.595, a situação ora 
vertida nos autos, uma vez que excluiu da sucessão, exclusivamente, os herdeiros. 
(...) No entanto, se há omissões na identifi cação das pessoas integrantes do su-
porte fático, de tal omissão não se ressentem os princípios, que devem sempre ser 
identifi cados para serem invocados quando se verifi ca uma lacuna na lei. Assim, 
se há omissão de norma legal, deve sempre que prevalecer o princípio consagra-
do pelo legislador que, indiscutivelmente, é o de não permitir a quem atenta 
contra a vida de outrem possa dele receber alguma coisa, seja como sucessor, seja 
como cônjuge ou companheiro do sucessor. Essa é a intenção do legislador e a 
função da Justiça é exatamente fazer incidir a orientação ditada pela lei. Aliás, 
para isso é que somos juízes, para fazer justiça segundo os princípios que regem o 
sistema jurídico. Não somos, como dizia Montesquieu: la bouche de la loi, juízes 
que simplesmente se limitam a repetir e aplicar a norma contida no elenco legal, 
permitindo que se conviva com a injustiça. Somos Juízes de Direito, integramos 
um Tribunal de Justiça. (...) Então, é o sentido que adoto, aceitando a tese sus-
tentada da tribuna de que o meeiro não deixa de ser um legatário ex legis; por-
tanto, aplicando-se também a indignidade no caso da sucessão legítima, pode-se 
construir uma nova hipótese de que ali se incluem também outras pessoas que, 
aproveitando-se diretamente do resultado do seu inexplicável gesto, venham a 
matar os autores da herança”18.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 21
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SINDICATO: CRIAÇÃO. C.F., art. 
8º, I e II: LIBERDADE e UNCIDADE SINDICAL. I. — A C.F., art. 8º, I 
e II, estabelece que é livre a associação profi ssional ou sindical, condicionando 
essa liberdade apenas a duas restrições: primeira, a obrigatoriedade do registro 
no órgão competente; segunda, que haverá apenas uma organização representa-
tiva de categoria profi ssional ou econômica na mesma base territorial, que não 
poderá ser inferior à área de um Município, e que a base territorial será defi nida 
pelos trabalhadores ou empregadores interessados. II. — O acórdão recorrido, 
no caso, analisou a alegada ofensa aos princípios da unicidade e da liberdade sin-
dical a partir etendo em consideração a legislação infraconstitucional, arts. 570 
e 571, CLT, e bem assim a Lei 7.948, de 1986. Assim, para se chegar à questão 
constitucional, seria necessário superar a interpretação das normas infraconstitu-
cionais. III. — Ao Judiciário cabe, no confl ito de interesses, fazer valer a vontade 
concreta da lei, interpretando-a. Se, em tal operação, interpreta razoavelmente 
ou desarrazoadamente a lei, a questão fi ca no campo da legalidade, inocorrendo 
o contencioso constitucional. IV. — Decisão contrária aos interesses da parte 
não confi gura negativa de prestação jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV). V. — 
Alegação de ofensa ao devido processo legal: CF, art. 5º, LV: se ofensa tivesse 
havido, seria ela indireta, refl exa, dado que a ofensa direta seria a normas proces-
suais. E a ofensa a preceito constitucional que autoriza a admissão do recurso ex-
traordinário é a ofensa direta, frontal. VI. — Alegação de ofensa ao inciso IX do 
art. 93 da CF: improcedência, porque o que pretende o recorrente, no ponto, é 
impugnar a decisão que lhe é contrária, certo que o acórdão está sufi cientemente 
fundamentado. VII. — A questão constitucional do art. 5º, XXXVI, não foi pre-
questionada. VIII. — Agravo não provido. (STF, 2ª Turma — AI-AgR 524983 
— AI-AgR — AG.REG.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO — Relator(a) 
Ministro Carlos Velloso, Data: 23.08.2005)
ADMINISTRATIVO. FGTS. CORREÇÃO MONETÁRIA. ÍNDICES 
APLICÁVEIS. CONTAS ENCERRADAS. LACUNA LEGISLATIVA. ART. 
19-A DA MEDIDA PROVISÓRIA N.º 2.075-38/2001. APLICAÇÃO DO 
ART. 126 DO CPC E 5º DA LICC. PAGAMENTO DOS CRÉDITOS RELA-
TIVOS À CORREÇÃO DO FGTS DIRETAMENTE AOS SEUS TITULA-
RES. 1. A obrigatoriedade do depósito das atualizações dos créditos das contas 
vinculadas do FGTS na “respectiva conta do trabalhador”, conforme o disposto 
no art. 29-A, da Medida Provisória n.º 2.075-38/2001, diz respeito tão-somente 
às contas já existentes, não se referindo, portanto, aos casos de contas já encer-
radas. 2. Não existindo, assim, previsão legal disciplinado o procedimento a ser 
adotado nas hipóteses de encerramento das contas, cumpre ao órgão julgador, 
consoante o disposto no art. 126 do Código de Processo Civil, sanar as omissões 
existentes, afi m de prestar a adequada prestação da tutela jurisdicional reclama-
da. 3. A integração das normas jurídicas deve ser feita sempre com a observância 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 22
da fi nalidade social desejada pela lei e do atendimento ao bem comum, nos ter-
mos do art. 5º da LICC. 4. O Tribunal a quo adotou entendimento adequado 
para o caso, ao determinar que o pagamento dos valores devidos fossem feitos 
diretamente aos autores, sem necessidade de depósito nas contas vinculadas ao 
FGTS, garantindo, assim, aos trabalhadores uma maior agilidade e menor bu-
rocratização para o recebimento de suas verbas, sem que, com isso, importasse 
em prejuízo à ora recorrente. 5. Recurso especial improvido. (STJ, Segunda Tur-
ma, RESP 200101912884 — RESP — RECURSO ESPECIAL — 394889 — 
Relator(a) LAURITA VAZ — DATA:08/09/2003).
LEITURAS OBRIGATÓRIAS
GRINOVER, Ada Pellegrini. Modernidade do direito processual brasileiro, 
O Processo em Evolução, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1996, 
p. 3-19.
BUENO, Cássio Scarpinella. O “modelo constitucional do direito processual 
civil”: um paradigma necessário de estudo do direito processual civil e 
algumas de suas aplicações, Revista de Processo, nº 161, jul. 2008, p. 
261-270.
PASSOS, J. J. Calmon de. Instrumentalidade e devido processo legal, Revista 
de Processo, nº 102, abr./jun. 2001, p. 55-67 (também publicado na 
Revista Forense, nº 351, p. 107-116).
LEITURAS COMPLEMENTARES
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do 
direito (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil), Temas de 
Direito Constitucional, tomo IV, Rio de Janeiro, Renovar, 2009, p. 61-
120.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Universalizar a tutela jurisdicional, Fun-
damentos do Processo Civil Moderno, tomo II, 4ª ed. São Paulo, Ma-
lheiros, 2001, p. 838-875. MESQUITA, José Ignácio Botelho de. As 
novas tendências do direito processual: uma contribuição para o seu re-
exame, Revista Forense, nº 361, mai/jun 2002, p. 47-72. MOREIRA, 
José Carlos Barbosa. Notas sobre alguns fatores extrajurídicos no julga-
mento colegiado, Temas de Direito Processual: sexta série, São Paulo, 
Saraiva, 1997, p. 145-172.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Fungibilidade de “meios”: uma outra di-
mensão do princípio da fungibilidade, in Aspectos Polêmicos e Atuais 
dos Recursos Cíveis e de Outras Formas de Impugnação às Decisões Ju-
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 23
diciais, coordenadores Nelson Nery Jr. e Teresa Arruda Alvim Wambier, 
São Paulo, Revista dos Tribunais, 2001, p. 1.090-1.144.
C — SURGE UM NOVO DIREITO PROCESSUAL. SISTEMAS, CONCEITO E 
PRINCÍPIOS.
INTRODUÇÃO
Os dois primeiros encontros do curso serão destinados a apresentar ao 
aluno uma nova concepção do Direito Processual. Conforme exposto no tex-
to de introdução ao curso, a Teoria Geral do Processo encontra hoje novos 
desafi os a ser enfrentados.
O seu objetivo é demonstrar a maior relevância dada aos princípios cons-
titucionais do processo dentro do atual enfoque da Teoria Geral do Processo. 
Assim, como ocorre em outros ramos do Direito, as normas presentes na 
Constituição da Republica atinge, hoje, uma efi cácia nunca antes vista em 
nosso país.
Antes disso, no início da primeira aula, o professor apresentará os obje-
tivos da disciplina, os métodos de trabalho a serem utilizados, a bibliografi a 
fundamental da disciplina e as formas de avaliação a que os alunos serão 
submetidos.
É importante observar que os casos escolhidos para análise (nessa e em 
outras aulas), na maioria das vezes, comportam diferentes soluções. Desse 
modo, ainda que no material haja uma decisão judicial em determinado sen-
tido, esse fato, por si só, não signifi ca que seja a única ou a melhor solução 
para determinado problema. Sempre que possível, serão trazidas decisões ju-
diciais antagônicas para ilustrar determinado assunto.
LEITURA BÁSICA
GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido, CINTRA, An-
tônio Carlos de Araújo. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 1998. Capítulo 4: “Princípios Gerais do Direito 
Processual”.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, vol. I. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2005. Cap. IV: “Princípios Constitucionais do 
Direito Processual”.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 24
LEITURA COMPLEMENTAR
MARINONI, Luis Guilherme. Teoria Geral do Processo. São Paulo, Revista 
dos Tribunais, 2006. Parte I. Capítulo 2: “A influência dos Valores do 
Estado Liberal de Direito e do Positivismo Jurídico sobre os Conceitos 
Clássicos de Jurisdição”.
CALSAMIGLIA, Albert. Postpositivismo. In: Doxa: Cuadernos de Fi-
losofía del Derecho. Espanha: Doxa 21-I, 1998. Texto disponível 
no sítio jurídico: http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveO-
bras/23582844322570740087891/cuaderno21/volI/Doxa21_12.pdf.
NERY JR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. São 
Paulo, Saraiva: 2004.
LINS E SILVA, Evandro. O Salão dos Passos Perdidos. Capítulos 3 e 4. Rio 
de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1997.
EMENTÁRIO DO TEMA
— Novos Desafi os do Poder Judiciário.
— Ativismo Judicial.
— Interesses Disponíveis e Indisponíveis.
— Princípio Dispositivo.
— Princípios Constitucionais do Direito Processual.
NOTA AO ALUNO
O direito processual pátrio foi tradicionalmente norteado pelo princípio 
dispositivo, segundo o qual o juiz, mantendo-se eqüidistante, aguarda a ini-
ciativa das partes no que se refere à afi rmação dos fatos constitutivos de seu 
direito e a respectiva produção de provas. Vale dizer, o juiz decide segundo 
o alegado e provado pelas partes (iudex secundum allegata et probata partium 
iudicare debet).
Contudo, há situações em que o magistrado deve deixar sua posição 
de inércia para, quando necessário,tomar iniciativa na relação processual 
não apenas no que concerne ao regular andamento do feito (como tra-
dicionalmente sempre ocorreu), mas, principalmente, para garantir uma 
decisão justa.
É válido observar que a expressão “ativismo judicial” possui uma dupla 
acepção. Ela tanto pode ser utilizada em um sentido material9 (relativa à 
construção de direitos pelo Poder Judiciário), bem como em um sentido pro-
cessual (e nesse ponto se contrapõe à idéia de princípio dispositivo).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 25
Em relação ao caráter processual do referido “ativismo”, não se pode dei-
xar de registrar que o grau de intensidade dessa intervenção do magistrado no 
processo será maior ou menor dependendo da natureza do interesse deduzido 
em juízo pelas partes. Assim, estando em jogo interesses indisponíveis, a prin-
cípio, caberá ao magistrado exercer poderes ativos no processo com maior 
freqüência do que em litígio, em que são disputados interesses disponíveis. 
Seria, então, correto afi rmar que os princípios constitucionais que regem a 
atividade jurisdicional irão incidir sempre da mesma forma em todo e qual-
quer processo?
Como se sabe, a CRFB/88, ao restabelecer o Estado Democrático de Di-
reito, assegurou uma série de garantias a todos os litigantes judiciais. Con-
tudo, os princípios constitucionais que regem a atividade jurisdicional irão 
aparecer de forma diversa, dependendo da relação jurídica de direito material 
que esteja sendo objeto de determinado litígio.
Revela-se importante, neste primeiro momento, esclarecer a defi nição de 
alguns conceitos básicos para o estudo do direito processual. O primeiro deles 
é o conceito de jurisdição. Jurisdição é o poder de “dizer o direito” concedido 
a um magistrado, regularmente investido de função judicante, decorrente do 
exercício da soberania estatal.
A jurisdição, por sua vez, é delimitada pela competência jurisdicional, 
sendo tal limitação relevante para uma melhor atuação do magistrado. A 
competência pode ser delimitada pela matéria, pelo território, pelo valor da 
causa, pela função desempenhada pelo magistrado, ou ainda pelo rito proces-
sual adotado para a tramitação de uma determinada demanda.
A fi xação de competência permite ao magistrado o desempenho de suas 
funções com maior efi ciência, celeridade e propicia, por meio da especializa-
ção, a melhoria da qualidade da prestação jurisdicional.
Em comarcas situadas em metrópoles, a competência jurisdicional possi-
bilita uma distribuição de serviço que melhor atenda às necessidades locais, 
tendo em vista o grande número de litigantes existentes naquele território.
Cada localidade apresenta peculiaridades que norteiam a especialização 
das varas e a criação / expansão dos órgãos jurisdicionais, que variam de acor-
do com a dinâmica social e as atividades econômicas ali desenvolvidas.
Por isso é comum constatar em comarcas situadas no interior dos Estados, 
a existência de varas únicas, reunindo o magistrado titular daquela comarca 
todas as competências, pois o número de demandas existentes não justifi caria 
a necessidade de distribuição de serviço a outro magistrado, ao contrário do 
que ocorre em cidades grandes ou em rápido desenvolvimento.
Outra importância dos critérios de fi xação de competência está relaciona-
da à garantia constitucional do juiz natural, tendo em vista a necessidade de 
se conferir a imparcialidade nos julgamentos.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 26
Veja que a arbitragem, que é um meio alternativo de solução de confl itos 
exercido por um árbitro não investido na função jurisdicional pelo Estado 
(há quem admita que ele seja um juiz não togado), somente poderá ocorrer 
quando o bem da vida em discussão tiver natureza disponível, e, neste caso 
sim, possibilitar-se-á que os interessados elejam o julgador da causa, pois a 
soberania estatal permitiu excepcionalmente que em tais situações, as partes 
resolvam seus confl itos a partir de suas manifestações de vontade, sem a obri-
gatoriedade de uma intervenção ofi cial do Pode Público.
Outro conceito bastante utilizado no estudo do direito processual diz res-
peito ao processo. Processo pode ser defi nido como o instrumento que rea-
liza uma pretensão. Por pretensão entenda-se o bem da vida almejado pelo 
jurisdicionado. O conjunto de atos praticados para a obtenção de um bem da 
vida em juízo confi gura o que chamamos de processo.
O processo tem início com a distribuição da petição inicial e termina com a 
prolação de uma sentença judicial transitada em julgado, ressalvada a possibi-
lidade de ajuizamento de ação rescisória, o que será visto em ponto específi co.
O processo também se divide em várias fases, que variam de acordo com 
o rito processual correspondente para a tutela daquele direito. Em cada fase, 
o magistrado que é o condutor do processo, abre a oportunidade para que as 
partes pratiquem determinados atos processuais. Assim, por exemplo, na fase 
de recebimento da inicial, caberá ao juiz examinar a existência das condições 
da ação e pressupostos de procedibilidade; estando tudo em ordem, ordenará 
a citação do réu para que este apresente a sua defesa; depois, abre vistas para 
a parte autora se manifestar em réplica e abre a instrução probatória; e assim 
por diante.
Para cada fase ou ato processual há um prazo legalmente estipulado. Na 
falta de prazo expresso em lei, caberá ao juiz da causa fi xá-lo. Os prazos pro-
cessuais têm como principal objetivo evitar o perecimento do direito e garan-
tir a efetividade processual, limitando a prática de atos processuais dentro de 
um lapso temporal para que o processo não fi que tramitando eternamente.
A parte que não pratica o ato processual na fase apropriada ou no prazo 
fi xado fi ca impossibilitá-la de fazê-lo intempestivamente. Este fenômeno se 
denomina preclusão. Existem três espécies de preclusão: lógica, temporal e 
consumativa.
1. Sistemas de Direito Processual:
Existem basicamente dois sistemas no estudo do direito processual: 1) 
sistema da civil law, um sistema de tradição romano-germânica, adotado na 
Europa continental e na América do Sul e 2) sistema da common law, que é 
o sistema do direito inglês e dos países que foram suas antigas colônias — 
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 27
19 THEODORO JÚNIOR, Hum-
berto. Curso de Direito Proces-
sual Civil. Vol. I. Editora Foren-
se, 2010. p. 2.
20 DINAMARCO, Cândido Ran-
gel. A instrumentalidade do 
processo. Malheiros editores. 
2009.
21 “(...) De fato a observância 
da técnica é fundamental 
para que o método estatal de 
solução de controvérsias cum-
pra com êxito sua função. O 
problema está nos exageros. 
Tudo que é levado às últimas 
consequências acaba pro-
duzindo efeitos perversos. A 
técnica processual deixa de 
ser fator de segurança e se 
transforma em fi m, adorando 
a sua própria imagem. Neces-
sário evitar que isso ocorra, 
pois ela está prestes a cair 
no lago” (BEDAQUE, José Roberto 
dos Santos. Efetividade do processo e 
técnica processual. Malheiros Editores, 
2007. p. 82).
EUA, Canadá e Austrália. No quadro a seguir, estão elencadas as principais 
distinções entre ambos sistemas:
CIVIL LAW COMMON LAW
Sistema em que o direito é escrito.
Sistema em que o direito surge dos 
costumes. A força da jurisprudência é 
muito grande, os precedentes judiciais 
possuem um peso bem maior do que 
nos países da civil law.
O Poder Judiciário atua em confor-
midade com a aplicação do direito 
objetivo, ou seja, das normas.
A função preponderante da justiça é a 
pacifi cação dos litigantes.
As decisões do STF no Brasil, mesmo em casos de controle difuso de 
constitucionalidade, tem sido aplicadas pelos juízes e tribunais dos estados, 
o que demonstra que os precedentes vêm ganhando força no Brasil. Ex: Re-
cursos repetitivos no STJ, Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas 
(NCPC) e Súmulas vinculantes: “Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal 
poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terçosdos seus mem-
bros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, 
a partir de sua publicação na imprensa ofi cial, terá efeito vinculante em relação 
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indire-
ta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou 
cancelamento, na forma estabelecida em lei”.
2. Conceito de Direito Processual:
“pode ser defi nido como o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das 
normas reguladoras do exercício da jurisdição civil”19.
1ª Observação: Caráter instrumental do Direito Processual: O direito 
processual é a ferramenta, é o meio pelo qual o Estado exerce a sua função 
jurisdicional20.
2ª Observação: Comentário de José Roberto dos Santos Bedaque: como 
o processo é mero instrumento do direito material, ele não pode se prestar 
ao fi m narcisista de adorar a sua própria imagem. Ele não é fi m, é apenas o 
meio utilizado pelo Estado para efetivar o direito material. A ferramenta deve 
servir somente para facilitar o alcance do objetivo fi nal, ela jamais deve atra-
palhar, senão, seria melhor não usá-la21.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 28
22 Instituições de Processo Ci-
vil. Vol. 1. Malheiros Editores, 
2009.
3 — Princípios Processuais em espécie:
A — Devido Processo Legal (art. 5º, LIV, CF/88): é a tradução de uma 
expressão inglesa “due process of Law”. Essa expressão originou-se há 800 
anos. Segundo Cândido Rangel Dinamarco22 essa garantia possui o signifi ca-
do sistemático de fechar o círculo das garantias constitucionais do processo, 
ou seja, o princípio do devido processo legal ressalta a necessidade da indis-
pensabilidade de todas as garantias processuais.
B — Princípio da Efetividade: O princípio da efetividade está conectado 
com a tutela executiva. O Poder Judiciário não pode se preocupar apenas em 
proferir a sentença, mas em criar meios executivos efi cazes para que a senten-
ça seja cumprida. Também pode ser entendido como princípio da máxima 
coincidência possível. Trata-se dos ensinamentos de Giuseppe Chiovenda no 
sentido de que o processo deve dar a quem tenha razão o exato bem da vida a 
que ele teria direito, se não precisasse se valer do processo jurisdicional.
B.1) Solução de litígios na execução: Ex: “Em observância ao 
princípio da efetividade, não se mostra razoável, em situações em que 
não haja comprometimento da manutenção digna do executado, que 
o credor não possa obter a satisfação de seu crédito, sob o argumento 
de que os rendimentos previstos no art. 649, IV, do CPC gozariam de 
impenhorabilidade absoluta”. (Resp 1059781 / DF, Nancy Andrighi, 
Publicado em 14/10/09).
C — Princípio da Igualdade — art. 5º, caput, CF/1988
O princípio da igualdade é garantido em todos os ramos do Direito, e no 
ramo processual ele é recepcionado sob a denominação de princípio da igual-
dade das partes. O conteúdo desse princípio se relaciona com a necessidade 
do juiz trata com igualdade os iguais e desigualmente os desiguais, na medida 
das desigualdades. Exemplo: art. 125, I, CPC que dispõe que o juiz deve 
assegurar às partes a igualdade de tratamento. O CDC quando determina a 
inversão do ônus da prova está dando um tratamento desigual aos desiguais, 
na medida exata de suas diferenças.
Observação: Privilégios do Estado no Processo Civil Brasileiro: 
Ofensa ao princípio da igualdade?
1. Prazos privilegiados à Fazenda Pública e ao Ministério Público: em quá-
druplo para contestar e em dobro para recorrer (art. 188, CPC).
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 29
23 Curso de Direito Processual Civil. Vol 
1. Editora Jus Podivm, 2008. p. 45.
2. Ciência dos atos judiciais pelo MP mediante vista dos autos (art. 236, 
§2º, CPC) e não mediante publicação na imprensa, como é feito com os 
litigantes comuns.
3. Honorários advocatícios arbitrados em níveis inferiores quando a Fa-
zenda Pública é condenada, conforme art. 20, §4º, CPC. Juízes interpretam 
o termo eqüitativo como módico e fi xam os honorários e percentuais mais 
abaixo que o comum.
4. Duplo grau de jurisdição obrigatório (art. 475, incs. II e III, CPC) — 
remessa necessária para as ações que envolvem a Fazenda Pública.
D — Princípio da duração razoável do processo ou celeridade — art. 
5º, LXXVIII, CRFB
A Convenção Americana de Direitos Humanos no seu artigo 8º, I, prevê 
que “Toda pessoa tem o direito a ser ouvida com as devidas garantias e dentro de 
um prazo razoável (...)”.
Para alguns autores, tendo em vista o fato de que art. 5º, §1º, CF, recep-
ciona direitos fundamentais oriundos de tratados internacionais dos quais o 
Brasil faça parte, o direito a um processo sem dilações indevidas já fazia parte 
do ordenamento pátrio. Para outros, ele poderia ser deduzido do princípio 
do devido processo legal, art. 5º, LIV, que, como já vimos, serve como um 
princípio geral no qual estão consagradas todas as garantias processuais.
Esta discussão perdeu o objeto no momento em que a EC nº 45/04 in-
cluiu o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição Federal, tornando ex-
presso o princípio da celeridade ou duração razoável do processo.
Como saber se um processo teve uma duração razoável ou não? A Corte Eu-
ropéia de Direitos do Homem fi xa três critérios: a) complexidade do assunto; 
b) comportamento dos litigantes e de seus procuradores ou da acusação e da 
defesa no processo; c) atuação do órgão jurisdicional, tanto no que se refere a 
sua estrutura, quanto no que se refere à atuação do juiz e servidores da justiça.
E — Princípio do Contraditório — art. 5º, LV da CF/88
Segundo Fredie Diddier Jr. “O processo é um instrumento de composição de 
confl ito — pacifi cação social — que se realiza sob o manto do contraditório. O 
contraditório é inerente ao processo. Trata-se de princípio que pode ser decomposto 
em duas garantias: participação (audiência; comunicação; ciência) e possibilida-
de de infl uência na decisão”23 (infl uência da doutrina alemã).
Dessa maneira, a doutrina atual entende o contraditório como a relação: 
ciência, participação e possibilidade de infl uência na decisão do juiz. Não bas-
ta ciência e participação, como defi nia a doutrina clássica, mais que isso, é 
fundamental que as partes tenham a possibilidade de infl uenciar no convenci-
mento do juiz. Daí a importância do contraditório ser sempre PRÉVIO a de-
cisão que será proferida, salvo quando houver risco de perecimento de direito.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
FGV DIREITO RIO 30
F — Princípio da ampla defesa — art. 5º, LV da CF/88
É um princípio do processo correlato ao princípio do contraditório, pre-
visto também no artigo 5º, LV, CF/88, ou seja, é por meio do contraditório 
que o juiz possibilita a ampla defesa para as partes, desta maneira, é o contra-
ditório uma espécie de instrumento da ampla defesa.
G — Princípios da imparcialidade do juiz e do juiz natural
De acordo com a Constituição Federal, os agentes estatais têm o dever de 
agir com impessoalidade (art. 37, CF/88), ou seja, sem levar em conta esses 
sentimentos ou interesses e, portanto, com abstração de sua própria pessoa. 
Além do artigo 37, a CF, traz no seu artigo 93, incisos I a III, que garante aos 
magistrados o trinômio: vitaliciedade — inamovibilidade — irredutibilidade 
de subsídios.
Essas três garantias aos magistrados são indispensáveis para a sua indepen-
dência e imparcialidade, e, de certa forma, servem para blindar os juízes de 
pressões externas.
Os artigos 134 e 135 do CPC são aqueles que prevêem as hipóteses de 
impedimento e suspeição do juiz e também possuem como escopo garantir a 
imparcialidade dos juízes.
Quanto ao princípio do juiz natural, esse encontra previsão no art. 5º, 
incisos XXXVII e LIII, e consiste em dizer que o exercício da jurisdição deve 
se dar por juízes investidos e competentes na forma da Constituição e das 
leis. O signifi cado histórico para o princípio do juiz natural se resume em: 
a) julgamento por juiz investido na função jurisdicional; b) preexistência do 
órgão

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