Buscar

Apostila Ortodontia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
Introdução 
Ortopedia facial: trata do crescimento e desenvolvimento esquelético da face, e por isso é indicada para 
pacientes jovens. O objetivo é direcionar o crescimento de forma a estabelecer uma relação harmônica entre os 
ossos da face e dentes. 
Ortodontia preventiva (decídua ou mista): prevenção de agravos e instalação de más oclusões; pode evitar a 
necessidade de aparelho fixo no futuro, de extração de dentes permanentes, cirurgia ortognática. Exemplo: 
mantenedor de espaço, eliminação de hábitos bucais deletérios (sucção digital e de chupeta), abordagens 
educativas. 
Ortodontia Interceptativa (decídua ou mista): má oclusão incipiente, com possibilidade de se agravar 
comprometendo função e estética facial e bucal no futuro. Exemplo: recuperação de espaço, mordida cruzada e 
aberta. 
Ortodontia Corretiva (permanentes/ fim da dentadura mista): má oclusão 
instalada; aparelhos móveis e fixos. 
Crescimento e desenvolvimento crânio-facial 
Ossificação intramembranosa: ocorre dentro do tecido conjuntivo 
intramembranoso; células mesenquimatosas se diferenciam em osteoblastos, 
que produzem matriz osteóide. Essa matriz sofre calcificação, enclausurando 
os osteoblastos (que se tornam osteócitos). Assim, mais células 
mesenquimatosas se diferenciam, secretam matriz, repetindo esse processo 
conhecido como crescimento aposicional. Ocorre na calota craniana, nas 
suturas cranianas, na maxila, corpo e ramo da mandíbula. 
Ossificação endocondral: ocorre a partir de um “molde” de cartilagem 
hialina. Inicialmente ocorre o crescimento intersticial - diferenciação de 
células mesenquimais em condroblastos, que produzem matriz cartilaginosa. Os condroblastos ficam 
aprisionados na matriz tornando-se condrócitos; estes sofrem apoptose, e as cavidades que antes 
ocupavam é invadida por osteoblastos, que depositam matriz óssea, em substituição à cartilagem. 
Ocorre no côndilo da mandíbula, base do crânio e sincondroses cranianas . 
Remodelação óssea: aposição de um lado (osteoblastos) e reabsorção óssea do outro (osteoclastos). 
Movimentos que ocorrem durante o crescimento: 
1. Deslizamento: “é o movimento gradual da área de crescimento ósseo provocado pela combinação dos processos 
de aposição e reabsorção óssea”. Movimento provocado pela remodelação (reabsorção e aposição), direção para 
onde o osso cresce. Ex: Abóbada e base do crânio 
2 
 
 
2. Deslocamento: “Conforme o osso cresce por deposição óssea em uma determinada direção, ele se desloca no 
sentido contrário, afastando-se das estruturas adjacentes. Movimento de todo o osso como uma unidade. 
 Deslocamento primário: ocorre pelo crescimento do próprio osso, que cresce em uma direção e se desloca em 
sentido contrário se afastando do osso vizinho; ocorre não por compressão de um osso contra outro, mas por 
uma força de expansão dos tecidos moles em crescimento que o recobrem. ex. maxila (cresce para cima e para 
trás, e se desloca para baixo e para frente) e mandíbula (côndilo cresce para cima e para trás deslocando toda a 
mandíbula para baixo e para frente) 
 
(+) aposição óssea; (-) reabsorção óssea; (seta de cima →) sentido de crescimento do osso/ deslizamento; (seta de baixo ←) 
sentido do deslocamento; 
 Deslocamento secundário: ocorre pelo crescimento de estruturas adjacentes. Ex. calota e base craniana se 
expandem com o aumento do volume encefálico; deslocamento da maxila pelo crescimento da fossa craniana 
média e do lobo temporal. 
 
(+) aposição óssea; (-) reabsorção óssea; (setas de cima →←) sentido de crescimento do osso/ deslizamento; (setas de baixo 
←→) sentido do deslocamento; 
 
 
Desenvolvimento da mandíbula: Durante o desenvolvimento da mandíbula, ocorrem modificações mínimas no 
corpo e no mento, e grande remodelação do ramo. No corpo da mandíbula, há aposição óssea no bordo inferior. 
Na superfície posterior do ramo há aposição e na superfície anterior há reabsorção. Pode-se observar que na 
infância o ramo está localizado próximo de onde o 1º molar decíduo se irrompe. A remodelação do ramo cria 
espaço para irrompimento sequencial dos molares permanentes. Assim, se esse crescimento cessar antes, o 
terceiro molar acaba ficando impactado. Também há aposição no processo coronóide, incisura da mandíbula e no 
côndilo, que cresce para cima e para trás deslocando toda a mandíbula para baixo e para frente. Há ainda o 
deslocamento secundário influenciado pelo movimento da base craniana média para frente. 
 
3 
 
 
À esquerda, deslocamento primário da mandíbula, para baixo e para frente; à direita a direção do crescimento ósseo 
(deslizamento), para o alto e para trás, sendo possível observar maior remodelação na região do ramo mandibular. 
 
Desenvolvimento da Maxila: O aumento da profundidade da maxila se dá por 
deslocamento secundário decorrente do crescimento da base do crânio. Ocorre 
ainda aposição nas suturas posterior e superior aumentando o comprimento do 
osso e promovendo o deslocamento primário anterior e inferior. 
Simultaneamente a esse processo, a superfície anterior da maxila sofre 
reabsorção. Há ainda aposição no túber da maxila, promovendo um 
alongamento do arco na porção posterior proporcionando espaço para 
irrompimento dos molares. O palato se desloca juntamente com a maxila e sofre 
ainda aposição na face bucal e reabsorção na face nasal. O alargamento do 
palato e arco alveolar se dá pelo crescimento da sutura mediana palatina. 
 
 
 
 
Desenvolvimento da abóbada craniana: o crescimento se dá em resposta ao crescimento do cérebro (que se 
completa na infância); ocorre reabsorção óssea na superfície interna e aposição na superfície externa da calota 
craniana; além disso, esse processo gera tensão nas suturas que resulta em neoformação óssea nas bordas dos 
ossos articulados. 
 
4 
 
Desenvolvimento do arco dentário: há crescimento transversal do arco na fase de erupção dos decíduos e de 
troca dos decíduos pelos permanentes e após isso há estabilização dimensional. Já o comprimento e o perímetro 
do arco ficam estáveis na dentadura decídua e aumentam no 1º período transitório, diminuindo no 2º período 
transitório. Na dentadura permanente sofrem pequena e constante redução. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sequência irruptiva dos dentes decíduos (brasileiros) 
 
Sequência irruptiva dos dentes permanentes 
 
6 
 
Características dento-faciais do neonato 
 Grande calota craniana e face pouco desenvolvida 
 Retrognatismo mandibular fisiológico 
 Palato aplainado 
 Roletes gengivais com abaulamento 
 Dentes decíduos já formados 
 Vestígios de mineralização dos dentes permanentes 
 Freio labial com baixa inserção 
 Toque somente posterior 
 Interposição lingual 
 Com a erupção dos 1° molares há um ganho de dimensão vertical 
Dentadura decídua 
 Arcada em semi-círculo 
 Implantação vertical (sem inclinação) 
 Espaços primatas: se referem ao espaço entre o incisivo lateral e o canino na maxila e 
entre o canino e 1° molar na mandíbula. 
 Classificação de Baume: diz respeito à presença de espaços interdentários. 
No Arco de Baume tipo I há espaços interincisivos; no Arco de Baume tipo II não há diastemas interincisivos. Na 
maioria dos casos de arco tipo II os dentes sucessores ficam apinhados pela falta de espaço. Se os dentes 
decíduos já forem apinhados, os permanentes necessariamente também serão. 
 
 Classificação da relação de caninos: a relação de oclusão entre caninos é usada para o diagnóstico da relação 
sagital interarcos, seja na dentadura decídua, mista ou permanente. Entretanto, é especialmente relevante na 
dentadura decídua, devido à falta dos 1º molares permanentes, cuja relação é usada com o mesmo propósito nas 
dentaduras mista e permanente. 
Classe I: quando a cúspide do canino superior se encaixa na ameia entre o canino inferior e o 1º molar decíduo 
inferior 
Classe II: quando o canino superior se desloca da ameia entre o canino e 1ºmolar inferiores em sentido mesial 
Classe III: quando o canino superior se desloca da ameia entre o canino e 1º molar inferiores em sentido distal 
 
7 
 
 
 Relação distal dos 2º molares: dependendo da maneira como os 2º molares ocluem, podem gerar um plano 
terminal reto em suas faces distais, ou um degrau que pode ser mesial ou distal. 
Plano reto: faces distais dos dentes superior e inferior estão niveladas e, portanto, situadas no mesmo plano 
vertical. Ocorre na maioria dos casos. 
Degrau mesial: a face distal do molar inferior está mais mesial em relação ao molar superior. 
Degrau distal: a face distal do molar inferior está mais distal em relação ao molar superior. 
 
 
 
A face distal dos segundos molares decíduos influencia, em parte, na oclusão dos primeiros molares permanentes 
já que serve como guia na sua erupção. O plano terminal reto pode evoluir para classe I, ou ainda para topo a 
topo e posteriormente os molares se intercuspidam evoluindo para classe I. Pode ocorrer, com menor frequência, 
evolução para classe II. O degrau mesial evolui com maior frequência para classe I e com menor frequência para 
classe III. O degrau distal evolui para classe II. 
 
Características da oclusão normal na dentadura decídua: 
 Dentes superiores envolvem os inferiores 
 Linhas médias coincidentes 
 Incisivos: trespasse horizontal (overjet) e vertical (overbite) positivos até 2mm 
 Caninos: Classe I - cúspide do superior oclui na améia entre o canino e o molar inferiores 
 Relação distal dos 2° molares: plano terminal reto ou degrau mesial 
Dentadura mista 
Primeiro período transitório (6 a 8 anos) 
 Irrupção dos 1° molares (guiado pela distal dos 2° molares decíduos) 
 Esfoliação dos incisivos decíduos e irrupção dos incisivos permanentes 
 Pode haver diastema interincisivos ou rotação/ apinhamento de até 2mm 
Período intertransitório (8 a 10 anos) 
 Estabilidade clínica 
 1° molar e incisivos permanentes e caninos e molares decíduos. 
 Fase do patinho feio: na arcada superior, a movimentação intraóssea 
dos caninos permanentes desloca as raízes dos incisivos laterais 
superiores permanentes já irrompidos para mesial fazendo com que 
8 
 
suas coroas se desloquem em sentido distal ou vestibular. O deslocamento também 
provoca diastemas entre os incisivos superiores, que somado à desproporção entre 
os dentes decíduos e permanentes presentes na boca constituem a fase do patinho 
feio. É importante ressaltar que essa fase, exclusiva da dentadura mista, não constitui 
anormalidade, sendo autocorrigível. 
 
Segundo período transitório (10 a 12 anos) 
 Esfoliação dos caninos e molares decíduos e irrupção dos caninos, pré-molares e 2° molares permanentes. 
 Espaço livre de Nance/ Lee Way Space/ espaço disponível posterior: espaço que sobra entre o segundo pré-molar 
e o primeiro molar permanente quando ocorre a esfoliação do primeiro e segundo molares decíduos e a irrupção 
dos primeiro e segundo pré-molares. A presença desse espaço deve-se ao fato da distância mésio-distal dos 
molares decíduos ser maior que a distância mésio-distal dos pré-molares. Em média o espaço superior é de 
0,9mm e o inferior é de 1,7mm para cada lado, totalizando 1,8mm e 3,6, respectivamente. 
 Implicações clínicas do espaço livre de Nance: 
 Diminuição do comprimento e perímetro do arco dentário pelo deslocamento mesial dos molares 
permanentes, fechando o espaço livre; 
 Tratamento do apinhamento anterior através da manutenção do espaço livre, usando, por exemplo, um 
arco lingual; 
 Ajuste da chave molar, isto é, da relação anteroposterior do primeiro molar, que na maioria dos casos 
encontra-se topo a topo na dentição mista, devido ao plano terminal reto dos 2º molares decíduos. Nesses 
casos, como já relatado, a relação dos molares evolui para Classe I, embora possa haver variações. 
Características da oclusão normal na dentadura mista 
 Dentes superiores envolvem os inferiores 
 Linhas médias coincidentes 
 Overjet e overbite até 3mm 
 Canino: cúspide-améia 
 1° molares permanentes: topo a topo ou Classe I de Angle (cúspide mesio-vestibular do superior no sulco mésio- 
vestibular do inferior) 
Dentadura permanente 
 1ª chave de oclusão: relação interarcos 
 Cúspide mésiovestibular do 1°molar superior oclui no sulco mésiovestibular do 1°molar inferior 
 Crista marginal distal do 1°molar superior na crista marginal mesial do 2°molar inferior 
 Cúspide mésiopalatina do 1° molar superior oclui na fossa central do 1° molar inferior 
 Cúspides vestibulares dos pré-molares superiores ocluem nas ameias dos inferiores (entre o 1º pré-molar/ 2º pré-
molar/ 1º molar) 
 Cúspide palatina dos pré-molares superiores oclui na fossa dos inferiores 
 Caninos superiores ocluem na améia entre o canino e o 1° pré-molar inferiores 
 Incisivos superiores sobrepõem os inferiores com trespasse de 25%-30%; linhas médias coincidem. 
2ª chave de oclusão: angulações 
9 
 
 Angulação mesial de todos os dentes (angulação positiva) 
3ª chave de oclusão: inclinação vestíbulo-lingual 
 Incisivos: vestibularizados no arco superior (inclinação positiva) e nula no inferior 
 Os outros dentes são lingualizados (inclinação negativa) 
4ª chave de oclusão: ausência de rotação 
5ª chave de oclusão: contatos proximais justos 
6ª chave de oclusão: curva de Spee plana 
Classificação das más oclusões (Angle) 
Não é feita na dentadura decídua, pois é baseada na relação entre os 1º molares permanentes. 
 
 Oclusão normal: relação molar em Classe I (cúspide mésiovestibular do 1° m. superior no sulco mésiovestibular 
do 1° m. inferior) e dentes na linha de oclusão. 
 Má oclusão de Classe I: relação molar em Classe I; má oclusão restrita à má posição dentária; relação 
anteroposterior normal entre maxila e mandíbula. 
 Má oclusão de Classe II: cúspide mésiovestibular do 1° m. superior oclui anteriormente ao sulco mésiovestibular 
do 1° m. inferior; relação distal da mandíbula em relação à maxila. 
Divisão 1: incisivos superiores vestibularizados 
Divisão 2: incisivos superiores centrais verticalizados e apenas os laterais vestibularizados 
 Má oclusão de Classe III: cúspide mésiovestibular do 1° m. superior oclui posteriormente ao sulco 
mésiovestibular do 1° m. inferior; relação anterior da mandíbula em relação à maxila. 
 
 
Classificação das más posições dentárias 
 Classificação de Lischer (Direção): Mesioversão, distoversão, vestíbuloversão, linguoversão, infraversão, 
axiversão, giroversão/torsiversão, transposição/transversão. Obs.: Uso geral independente da posição maxilo-
mandibular 
 Trespasse vertical: mordida profunda, em topo e aberta posterior e anterior (trespasse vertical negativo) 
 Trespasse horizontal: Relação vestíbulo-lingual: Mordida cruzada vestibular ou lingual/bucal 
 Relação transversal: mordida cruzada posterior 
10 
 
Etiologia das más-oclusões 
O estudo da etiologia das más-oclusões permite avaliar a possibilidade de prevenção, o prognóstico do 
tratamento e a estabilidade da correção. Além disso, conhecer o binômio causa-efeito é fundamental para 
eliminação das causas, propiciando um tratamento mais efetivo. As más-oclusões são resultado da interação em 
diferentes graus entre fatores genéticos e ambientais. Por isso, um mesmo fator etiológico/ conjunto de fatores 
pode gerar diferentes más-oclusões, ou afetar um indivíduo, mas não outro. Por fim, fatores primários podem 
gerar fatores secundários que irão gerar uma anomalia. 
Fatores genéticos 
Os fatores genéticos não podem ser prevenidos, apenas atenuados por intervenção. 
1. Tipo facial (braquifacial, mesofacial e dolicofacial): o tipo facial sofre mínima influência ambiental. Hábitos 
bucais como respiração bucal crônica, por exemplo, não alteram o tipo facial determinado geneticamente. O 
contrário, no entanto, é verdadeiro, já que a face com predominância vertical favorece esse hábito. Da mesma 
forma, mecânicasortopédicas, as quais constituem interferências ambientais, não são capazes de alterar o 
padrão de crescimento facial. 
 
2. Padrão esquelético sagital da face (Padrão I, Padrão II e Padrão III): o crescimento facial preserva o padrão 
esquelético, e também não se altera com tratamentos ortopédicos, cujo efeito é apenas temporário e sem 
estabilidade em longo prazo. O uso de mentoneira em casos de prognatismo mandibular, por exemplo, é capaz 
de restringir a velocidade de crescimento da mandíbula; com o fim do tratamento, no entanto, a mandíbula 
retoma seu padrão de crescimento, exceto se o aparelho for usado até o final do crescimento. 
Diferentemente das bases apicais, a região dento-alveolar é mais susceptível à influência ambiental como a ação 
da musculatura e hábitos bucais, sendo possível inclusive a ocorrência de compensações dentárias em más 
oclusões esqueléticas. 
 
3. Discrepâncias dente-osso (Análise de Moyers): a discrepância negativa causa o apinhamento dentário 
genético, que deve ser tratado pela redução da massa dentária, ajustando-a ao perímetro do arco. O 
apinhamento ambiental, por sua vez pode ocorrer, por exemplo, pela atresia maxilar ou perda precoce de dentes 
decíduos, sendo tratado/ prevenido de acordo com a causa. Com relação aos diastemas, a discrepância positiva, 
assim como a agenesia, a microdontia e mesiodentes são fatores genéticos associados. 
 
4. Anomalias dentárias: alterações de forma, tamanho e número. As anomalias dentárias podem ocorrer 
associadas umas às outras, pois podem ser causada por um mesmo defeito genético, como é o caso da 
microdontia e o atraso eruptivo. 
5. Infraoclusão de molares decíduos: causada pela anquilose do dente (desaparecimento do ligamento 
periodontal e fusão do cemento com o osso alveolar); pode estar associada a outros fatores genéticos, como 
agenesia de segundos pré-molares. 
 
6. Anomalias craniofaciais: disostose cleidocraniana e displasia ectodérmica são exemplos de desordens 
causadas por mutação gênica. Essas anomalias podem ser causadas por um único gene, que pode determinar 
uma ou várias características morfofuncionais (genes pleiotrópicos), ou podem ter origem poligênica. 
 
11 
 
Fatores ambientais 
De uma maneira geral, as más oclusões de origem preponderantemente 
ambientais apresentam melhor prognóstico, com maior estabilidade do 
tratamento. 
1. Traumatismo: no dente decíduo pode causar desde efeitos superficiais 
no esmalte até deslocamento do germe do sucessor permanente, 
causando distúrbios eruptivos (retenção). 
 
2. Perda precoce de dentes decíduos: a perda dos incisivos afeta 
principalmente a estética, fala e deglutição. Já a perda dos molares leva à 
extrusão dos dentes antagonistas, angulação dos adjacentes e migração 
dos molares permanentes para mesial ocupando espaço dos caninos e 
pré-molares, causando apinhamento secundário. 
 
3. Perda dos dentes permanentes: a perda do 1º molar permanente gera 
a migração do 2º molar para mesial, giroversão e angulação no seu longo-eixo; os pré-molares se inclinam para 
distal; os incisivos se retroinclinam e se a perda for unilateral a linha média é desviada para o lado da perda. 
 
4. Hábitos bucais deletérios: na oclusão normal há uma relação de 
interdependência e equilíbrio entre os dentes, as bases ósseas 
(proporcionalidade entre mandíbula e maxila) e a musculatura 
intrabucal e extrabucal. Os dentes ocupam uma posição de 
equilíbrio onde forças intra e extrabucais neutralizam-se. O 
rompimento desse equilíbrio por hábitos bucais altera a morfologia 
da região dentoalveolar determinando uma má oclusão. O hábito 
prolongado de sucção de dedo e chupeta, pressionamento lingual 
atípico e respiração bucal são considerados deletérios por 
romperem esse equilíbrio. 
 
O tipo e a gravidade da má-oclusão dependem de fatores 
relacionados com o próprio hábito, denominados Tríade de 
Grabber, sendo eles: duração (período de atividade), frequência 
(número de vezes por dia) e intensidade (grau de atividade dos 
músculos envolvidos). A Tríade de Grabber explica porque crianças 
apesar de apresentarem um hábito, podem não desenvolver uma 
má-oclusão. 
 
4.1. Hábito de sucção digital: a sucção digital ocorre desde a vida 
intrauterina, sendo uma atitude instintiva dos mamíferos, que ajuda na ação de se alimentar já minutos após o 
nascimento. Ajuda também na percepção bucal, maneira pela qual a criança interage com o meio exterior 
(período sensório-motor) e proporciona sentimento de conforto, segurança e satisfação emocional. Portanto, 
nos primeiros anos de vida, os benefícios psicológicos do hábito de sucção superam seu potencial de originar 
más oclusões. A necessidade de sucção se estende até 2 anos de idade, de acordo com a psicologia, mas só é 
considerado deletério do ponto de vista ortodôntico ao final da dentadura decídua (por volta dos 5 anos). As más 
oclusões mais frequentes em crianças com hábito de sucção são a mordida cruzada posterior e a mordida aberta 
anterior, cujos prognósticos são favoráveis. A mordida cruzada posterior (pela atresia da arcada superior) não se 
autocorrige, mas tem bom prognóstico à interceptação; já a mordida aberta anterior pode se autocorrigir ao 
abandono do hábito, pois se restringe à região dentoalveolar, não sendo decorrente de padrão esquelético (o 
qual é definido geneticamente). Em contrapartida, cerca de 15% das crianças com hábitos de sucção apresentam 
oclusão normal, ressaltando a importância não apenas da presença do hábito, mas também da tríade de Grabber 
(frequência, intensidade e duração). A associação de fatores ambientais e genéticos também aumenta o risco de 
12 
 
desenvolvimento de más oclusões, a exemplo de pacientes com padrão de crescimento vertical e hábitos 
deletérios, que têm mais chances de desenvolver a mordida aberta anterior. 
 
4.2. Pressionamento lingual atípico: é a interposição da língua entre as arcadas dentárias na postura normal, ou 
na deglutição e fonação. Relaciona-se principalmente à mordida aberta anterior e é classificado como fator 
primário quando constitui a causa da má oclusão (por hipotonia da língua, amigdalas hipertróficas, distúrbios 
neuromusculares, macroglossia) ou secundário quando representa a consequência (adaptação a uma 
mordida aberta criada pelo hábito de sucção, mantendo e agravando-a). 
 
4.3. Respiração bucal: ocorre como adaptação a obstruções das vias aéreas na cavidade nasal (hipertrofia de 
cornetos devida a rinites alérgicas, presença de pólipos nasais, também devido a fatores alérgicos, desvio de 
septo nasal) e na nasofaringe (hipertrofia das tonsilas faríngeas/ adenoide e das tonsilas palatinas/ 
amígdalas, que pressionam o palato mole contra a parede posterior da nasofaringe, diminuindo a passagem 
de ar proveniente da cavidade nasal; desenvolvimento de pólipos, cistos e tumores na região). A criança 
permanece com os lábios entreabertos, mandíbula deslocada para baixo e para trás, língua repousando mais 
inferior e anteriormente sem contato com a abóbada palatina, favorecendo a atresia da arcada dentária 
superior e a mordida aberta anterior. O padrão facial, característica genética, também predispõe o paciente 
à respiração bucal: em pacientes de face longa, o predomínio das dimensões verticais impede o selamento 
labial passivo, além de expor incisivos superiores em repouso e a gengiva no sorriso (sorriso gengival); a 
largura e profundidade da face reduzidos favorecem a obstrução do trato respiratório (por isso a maior 
prevalência da respiração bucal em dolicofaciais). O contrário também pode ocorrer, com a respiração bucal 
contribuindo para acentuar o vetor vertical na face. 
Mordida aberta anterior 
A mordida aberta anterior caracteriza-se pela ausência de contato incisal dos dentes anteriores em relação 
cêntrica. Como dito anteriormente, as forças intrínsecas dos lábios e da língua em repouso, assim como a relação 
de contato entre dentes contíguos geram a condição de equilíbriopara a posição dos dentes. O rompimento 
desse equilíbrio pode gerar a mordida aberta dentoalveolar, má oclusão que pode ainda ter origem esquelética. 
Etiologia e alterações morfológicas relacionadas 
13 
 
1. Sucção digital: quando ocorre durante a dentadura decídua, até os 5 anos 
de idade, qualquer alteração oclusal advinda do hábito pode ser revertida 
espontaneamente. Já na dentadura mista é considerado hábito deletério e 
requer intervenção, como será explicado posteriormente. O hábito de sucção 
não nutritiva, incluindo sucção digital e 
chupeta provoca alterações morfológicas 
específicas: os dentes anterossuperiores e 
seu processo alveolar sofrem pressão nos 
sentidos vestibular e apical favorecendo o 
aparecimento de diastemas interincisivos, 
enquanto os inferiores são inclinados para lingual e apical. Portanto, o 
trespasse horizontal fica aumentado e o vertical fica negativo. Essa pressão 
causa ainda o bloqueio da erupção dos incisivos e o posicionamento do 
polegar leva ao aprofundamento do palato (palato ogival). A sucção da 
chupeta produz as mesmas alterações morfológicas, porém, a chupeta é macia 
e se deforma, criando uma mordida aberta mais alongada e estreita, enquanto 
o dedo é mais rígido e maior, gerando uma mordida aberta mais ampla e 
arredondada. 
2. Interposição lingual: pode ocorrer como adaptação a uma mordida aberta já 
existente, tornando-se a postura da língua em repouso e ocorrer também 
durante a dicção e deglutição, para selamento anterior adequado. A obstrução 
das vias aéreas também pode levar à alteração postural da língua, como já 
explicado. A interposição lingual inclina para vestibular dos incisivos superiores 
e inferiores, aumentando o comprimento do arco dentário, com consequentes 
espaçamentos entre os incisivos. Assim, agrava o trespasse vertical negativo e 
acentua o trespasse horizontal. A mordida aberta causada por estas condições 
caracteriza-se por um formato mais retangular ou difuso, incluindo não só os 
incisivos, como também dentes posteriores. 
 
3. Interposição labial: da mesma forma que a interposição lingual, o posicionamento do lábio entre os incisivos 
pode decorrer de uma alteração morfológica já estabelecida, sendo executada com o objetivo de permitir o 
selamento labial durante a deglutição, por exemplo. O movimento do lábio inferior contra os dentes 
anteroinferiores provoca uma retroinclinação dos mesmos, acentuado um trespasse horizontal já existente. Esse 
trespasse aumentado pode ainda favorecer a instalação do hábito de sucção do lábio inferior, que torna-se 
hipertônico, enquanto o músculo mentoniano fica hipertrófico. 
14 
 
4. Respiração bucal: relacionada à obstrução da cavidade nasal e nasofaringe, a respiração bucal gera ou acentua 
a incompetência labial e da musculatura peribucal. A boca constantemente aberta gera um desequilíbrio local, 
tanto em nível dentário, como a contínua irrupção dos dentes posteriores, quanto em nível esquelético, como o 
aumento da altura facial ântero-inferior, devido à rotação da mandíbula no sentido horário, principalmente 
naqueles pacientes que já apresentam um padrão vertical de crescimento. A somatória desses fatores acaba por 
agravar o quadro da discrepância vertical anterior. 
5. Padrão de crescimento (origem esquelética): os indivíduos 
braquifaciais, que possuem predominância de crescimento no sentido 
horizontal, raramente desenvolverão mordida aberta anterior. Nos 
mesofaciais, que possuem crescimento equilibrado, a mordida aberta 
pode se desenvolver, mas com boas chances de autocorreção, se não 
houver a presença de hábitos secundários, como os citados acima. Já os 
indivíduos dolicofaciais, ou seja, que apresentam um crescimento facial 
excessivamente vertical, são mais predispostos a esse tipo de má oclusão. 
Dentre as características predisponentes desses pacientes estão a rotação 
mandibular horária, ângulo goníaco aberto, ramo mandibular curto, 
divergência entre os planos palatino e mandibular, superirrupção dos 
dentes póstero-anteriores, aumento na altura facial anterior inferior. A 
mordida aberta anterior pode ser agravada pela deglutição atípica e 
respiração bucal, que costumam ocorrer concomitantemente nesses 
pacientes. 
Tratamento 
Na fase de dentadura decídua a autocorreção da mordida aberta anterior pode ser 
obtida com a remoção de hábitos bucais deletérios. Essa remoção pode ocorrer 
naturalmente, mas o dentista tem o papel de orientar a criança e os pais sobre o 
prejuízo causado pelo hábito e propor formas de lembrar e estimular a criança a 
abandoná-lo. Na fase de dentadura mista, torna-se importante intervir diretamente 
no problema ortodôntico do paciente, pois esses hábitos aumentam a possibilidade 
de agravamento das alterações dentárias que se tenham instalado, dificultando a 
possibilidade de autocorreção. A interceptação da mordida aberta anterior de 
caráter dentoalveolar na dentadura mista possui prognóstico favorável. Entretanto, 
nos casos de envolvimento de componentes esqueléticos, nem sempre as 
compensações dentárias produzidas pelo tratamento ortodôntico trazem resultados 
satisfatórios. 
Na mordida aberta anterior de natureza dentária e dentoalveolar, causada pelos hábitos de sucção e interposição 
lingual pode-se utilizar a grade palatina. Trata-se de um aparelho passivo, que promove a normalização da 
mordida aberta anterior através da musculatura peribucal, produzindo alterações como a verticalização dos 
incisivos superiores e a extrusão dentária e do processo alveolar. Trata-se de um obstáculo, mas deve ser usado 
como um lembrete para que o paciente abandone o hábito. O mau posicionamento da língua pode persistir 
mesmo após a correção da discrepância dentoalveolar, tornando-se necessária uma terapia funcional de 
reeducação muscular, realizada pelo fonoaudiólogo, juntamente com o tratamento ortodôntico, não sendo 
preciso esperar sua finalização. 
15 
 
Para controlar a interposição do lábio inferior e reduzir a hipertonicidade muscular pode ser feito uso da placa 
lábio-ativa. A interrupção da força exercida pelo lábio permite a vestibuloinclinação dos incisivos inferiores até a 
posição de normalidade por ação da musculatura intrabucal, a língua. Já em casos de respiração bucal, faz-se 
necessário o atendimento multidisciplinar com otorrinolaringologista. 
 
Em relação à má-oclusão esquelética, podemos citar tratamentos como aparelho extrabucal de tração alta (para 
restringir o crescimento vertical da face e a erupção dos primeiros molares superiores permanentes, reduzindo o 
aumento da altura inferior da face), bite block (em casos de altura ântero-inferior da face excessiva, para inibir a 
erupção dentária do segmento posterior, gerando rotação para cima e para frente na mandíbula ou uma direção 
de crescimento mais horizontal) extração dentária, intrusão posterior e até cirurgia, para a obtenção de 
resultados melhores e mais estáveis, especialmente nos pacientes que já ultrapassaram a fase de crescimento 
facial intenso. 
Por fim, deve-se ressaltar, ainda, que, a despeito do tipo de intervenção realizada, a recidiva pode ocorrer em 
qualquer caso de mordida aberta anterior, mesmo quando tratada com cirurgia ortognática. Porém, quando 
interceptada adequadamente em uma época precoce, eliminando-se todos os seus fatores etiológicos, a 
estabilidade da correção aumenta significantemente. 
Mordida cruzada 
A mordida cruzada é a relação entre os arcos superior e inferior invertida quando em relação cêntrica. Pode ser 
anterior, posterior ou total. A mordida cruzada anterior é caracterizada pelo trespasse horizontal negativo e pode 
ser classificada em dentária, funcional e esquelética; já a mordida cruzada posterior é a relação interarcos 
invertida no sentido transversal, sendo classificada em unilateral funcional, unilateral verdadeira ou bilateral. 
Pode ser dentoalveolar, que requer aumento do perímetro do arco,ou esquelética, que requer expansão 
ortopédica da maxila. 
Mordida cruzada anterior 
 Dentária: ocorre devido a uma alteração na inclinação de um ou mais dentes, ou seja, dente superior 
posicionado por palatino com vestíbuloversão do dente antagonista, estando a relação maxilo-mandibular 
correta. Apresentam relação molar de Classe I e coincidência da relação cêntrica e máxima intercuspidação. 
 Funcional: é resultante de uma interferência oclusal, que força a mandíbula a mover-se para frente, a fim de 
obter a máxima intercuspidação. Em relação cêntrica, os incisivos apresentam-se em relação de topo a topo, 
com os molares separados, porém, em relação molar de Classe I. Quando a mandíbula desliza de relação 
cêntrica para máxima intercuspidação, os incisivos ficam cruzados e os molares tendem à relação de Classe III 
(falsa Classe III). O perfil pode ser reto ou côncavo. 
16 
 
 Esquelética: também chamada Classe III verdadeira, é decorrente de uma discrepância no crescimento ósseo 
da maxila e da mandibula (hiper/ hipodesenvolvimento das bases ósseas apicais); ocorre protusão mandibular, 
retrusão maxilar ou a combinação de ambas. O perfil será reto ou côncavo na relação cêntrica. Os incisivos 
superiores estão frequentemente inclinados para frente e os incisivos inferiores estão inclinados para trás, 
como mecanismo compensatório. 
Mordida cruzada posterior 
 Unilateral funcional: quando os dentes estão em oclusão, não existe coincidência da linha média, e um ou 
mais elementos posteriores superiores unilaterais se encontram inclinados para palatino. Ao posicionar a 
mandíbula em relação cêntrica, pode-se observar mordida posterior de topo a topo bilateral. 
 Unilateral verdadeira: ocorre devido à deficiência no crescimento ósseo assimétrico em largura da maxila ou 
mandíbula, com coincidência da linha mediana. 
 Bilateral: ocorre devido a uma atresia bilateral da maxila (deficiência do crescimento em largura dos ossos 
basais). 
Diagnóstico 
De uma maneira geral, a diferenciação entre a mordida cruzada anterior dentária, funcional e esquelética pode 
ser feita pela análise cefalométrica. Os valores dos ângulos SNA e SNB indicam o posicionamento da maxila e 
mandíbula, respectivamente, que pode ser normal ou apresentar protrusão/ retração. O ângulo ANB nos mostra 
ainda o relacionamento entre as bases ósseas. A análise dos incisivos também pode ser feita, mostrando a 
vestibularização, lingualização ou posicionamento normal do dente. 
Com relação ao diagnóstico da mordida cruzada posterior, inicialmente é preciso 
observar se há atresia da arcada dentária superior, caracterizada pela dimensão 
transversal reduzida, conferiando à maxila a forma de “V” e o palato profundo. 
Em pacientes Classe II, a forma atrésica da maxila pode ser evidente, mas a 
mordida cruzada posterior pode estar camuflada pelo fato de o arco dentário 
inferior ocluir numa região mais posterior (mais ampla) do arco superior. O 
procedimento clínico de avançar a mandíbula até simular a correção da Classe II, 
isto é, com os molares em Classe I pode revelar a presença da mordida cruzada 
posterior. A Classe III também exige diagnóstico diferencial entre a deficiência 
maxilar real e relativa. Ao ocluir, o paciente Classe III toca o arco inferior numa 
região mais anterior (mais estreita) do arco superior, simulando uma mordida 
cruzada posterior. Obtendo-se o modelo de gesso é possível analisar a oclusão em relação de Classe I para se 
distinguir se a má-oclusão é corrigida ou se persiste, tratando-se verdadeiramente de uma deficiência transversal 
maxilar. 
Tratamento 
É importante que a mordida cruzada seja corrigida ainda durante a fase de crescimento, de forma a evitar 
sequelas, tanto nos tecidos moles como nos tecidos duros. A exceção é a mordida cruzada anterior em pacientes 
Classe III por severo prognatismo mandibular. O prognóstico nesses casos é negativo, com alto índice de recidiva 
após intervenção, devendo-se esperar a maturidade esquelética para correção cirúrgica. 
17 
 
Dentre as consequências de não se intervir precocemente estão mudanças 
compensatórias na articulação temporomandibular, desenvolvimento de 
assimetrias esqueléticas, modificação do crescimento dos tecidos moles, 
compensações dentoalveolares e atrição dos dentes decíduos e permanentes. 
Problemas periodontais como recessão gengival decorrente da vestibularização dos 
incisivos anteriores também podem ocorrer. Na mordida cruzada posterior 
unilateral funcional, por exemplo, há o deslocamento da mandíbula da relação 
cêntrica (RC) para buscar uma oclusão estável entre os arcos dentários em máxima 
intercuspidação habitual (MIH). Essa diferença entre RC e MIH provoca uma 
mudança na relação geométrica côndilo-fossa articular. O côndilo do lado da 
mordida cruzada desvia-se para cima e para dentro, enquanto o côndilo do lado 
normal gira para baixo e para fora da fossa articular. Nesses casos, a atividade 
neuromuscular também está alterada, devido ao padrão funcional atípico que exige 
uma atividade assimétrica dos músculos responsáveis pelos movimento 
mandibulares. Além disso, a persistência deste desvio funcional durante as fases de 
crescimento pode resultar, até a maturidade esquelética, numa assimetria 
estrutural. 
 A mordida cruzada anterior dentária ou funcional pode ser tratada através da Placa de Hawley com molas 
digitais por palatino nos dentes superiores que se encontram lingualizados, permitindo o movimento vestibular 
dos mesmos. Durante o exame clínico da mordida cruzada anterior, deve-se verificar se existe espaço mésiodistal 
suficiente para a realização do movimento vestibular e se a sobremordida não irá interferir durante o 
descruzamento do dente (necessidade de levantamento oclusal durante o 
tratamento). Outra alternativa de tratamento é o aparelho Progênico, composto por 
grampos de sustentação ou grampos auxiliares em "gota"; um plano posterior de 
mordida em acrílico com objetivo de abrir a mordida permitindo o descruzamento 
dos incisivos; Arco de Progenie ou Echler , com extensão na face vestibular dos 
caninos inferiores, que pode ser passivo, apenas para impedir a protrusão da 
mandíbula, ou ativo, com finalidade de lingualizar os incisivos inferiores. As alças 
acompanham a cervical dos caninos superiores, afastando a barreira muscular para 
estimular o crescimento da maxila. Pode haver ainda molas digitais nas faces 
palatinas nos incisivos superiores para sua vestibularização. Após a correção da 
mordida cruzada, o mesmo aparelho passivo deve ser usado como contenção por 
aproximadamente 3 meses para acomodação funcional e equilíbrio muscular. 
Na mordida cruzada anterior esquelética por deficiência maxilar, o tratamento recomendado é a tração reversa 
da maxila através de máscara facial. Trata-se da movimentação ortopédica da maxila no sentido ântero-inferior e 
estímulo à remodelação das suturas maxilares. Devido ao deslocamento da maxila, ocorre ainda a rotação da 
mandíbula no sentido horário e consequente alteração da direção do crescimento mandibular, aumento do terço 
inferior da face e aumento da convexidade do perfil. Desse modo, a tração reversa da maxila é contraindicada 
para pacientes com características de face longa, sendo mais indicado para as pessoas com verdadeiro 
retroposicionamento maxilar e altura facial curta. 
Para a mordida cruzada posterior dentária é preconizado o aparelho quadri-hélice, sendo também indicados o bi-
hélice e o arco em W. O quadri-hélice é fixado com bandas ortodônticas cimentadas nos primeiros molares 
permanentes superiores/ segundos molares decíduos; possui um arco palatino com 4 helicóides, que permitem a 
ampliação dos braços interno e externo. A ativação é feita a cada 4 semanas, de forma que o braço externo do 
aparelho seja ampliado até a metade do primeiro molar, sendo comprimido quando fixado. A força exercida pelo 
18 
 
expansor quadri-hélice,de natureza contínua e dissipante e de magnitude 
suave, considerada ortodôntica é capaz de suscitar inclinação vestibular 
dentoalveolar na região posterior do arco dentário e rotação 
mésiovestibular dos dentes de ancoragem. Quando utilizado nos estágios 
precoces do desenvolvimento oclusal, quando a sutura palatina ainda não 
está totalmente calcificada (dentaduras decídua e mista), pode induzir uma 
resposta ortopédica sutil representada por uma discreta abertura da sutura 
palatina mediana. 
A mordida cruzada posterior esquelética pode ser corrigida com a expansão lenta (quadri-hélice) e rápida da 
maxila (aparelhos Hyrax e Haas). O Hyrax é um aparelho dento-suportado, enquanto o Haas é dento-muco-
suportado; ambos são ancorados através de quatro bandas posicionadas nos segundos molares decíduos/ 
primeiros molares permanentes e nos caninos decíduos/ primeiros pré-molares, podendo ser modificados pela 
extensão da barra de conexão até o canino, ao invés de bandar este dente. Na parte média do aparelho, sobre a 
rafe palatina, há um parafuso expansor onde, no caso do Haas, é incorporado um apoio mucoso de acrílico, com 
alívio nas áreas nobres do palato (gengiva marginal livre, região das rugosidades palatinas e região distal do 
primeiro molar permanente). 
 
A expansão rápida da maxila é dividida em uma fase ativa, e uma fase passiva, de contenção. Na fase ativa o 
aparelho é ativado todos os dias, 1/4 de volta de manhã e 1/4 de volta à tarde, sendo que cada volta completa 
corresponde à expansão de 1 mm. Imediatamente após a ativação do aparelho há sintomatologia dolorosa, 
envolvendo pressão nos dentes de ancoragem, processos alveolares, ossos e suturas próximas; a sintomatologia 
diminui com o rompimento da sutura palatina mediana. Ao final da fase ativa, de 1 a 2 semanas, é possível notar 
a abertura de diastema entre os incisivos centrais superiores; é necessário que haja sobrecorreção, com a cúspide 
palatina do molar superior tocando a cúspide vestibular do molar inferior devido à recidiva dentoalveolar e 
esquelética. Na fase passiva, o aparelho permanece na boca por no mínimo 3 meses, período de reorganização 
sutural da maxila e dissipação de forças residuais acumuladas. 
Perda precoce de dentes decíduos 
A perda precoce de dentes decíduos e até mesmo a perda parcial da estrutura dentária 
gera uma diminuição do espaço disponível no arco dentário, culminando em uma má-
oclusão. Isso ocorre devido à perda do contato proximal, levando à migração de dentes 
adjacentes para o espaço originado. Uma lesão cariosa na face distal do segundo molar 
decíduo, por exemplo, permite ao primeiro molar permanente inclinar-se para mesial, o 
que pode ser prevenido pela restauração do molar decíduo (manutenção do diâmetro 
19 
 
mesio-distal da coroa). Já a perda prematura, além da migração de dentes adjacentes, pode causar a extrusão de 
antagonistas, prejuízo da função (mastigação, deglutição, fala) e, na região anterior, da estética. Há ainda reflexos 
na dentadura permanente, com o desvio da trajetória de erupção do sucessor permanente pela falta de espaço, e 
erupção por vestibular ou lingual no arco dentário, impacção, e consequente má-oclusão. 
Com a finalidade de prevenir a ocorrência de más oclusões relacionadas à perda precoce de dentes decíduos é 
indicado o uso de mantenedores de espaço, garantindo assim o lugar para erupção do permanente no arco. Os 
mantenedores de espaço podem ser fixos ou removíveis e funcionais ou não-funcionais. Os aparelhos removíveis 
facilitam a higienização, no entanto dependem da colaboração do paciente, o que não ocorre nos aparelhos fixos, 
ideais para pacientes pouco colaboradores. Os aparelhos não-funcionais são aqueles 
que apenas preservam o espaço e mantêm os dentes vizinhos adjacentes nas suas 
posições. Já os aparelhos funcionais, além disso, restabelecem a mastigação, dicção, 
fonação e estética, evitam a extrusão do dente antagonista, mantém ou restauram a 
dimensão vertical, além de evitarem interposição lingual, prevenindo assim hábitos 
bucais deletérios. A desvantagem desse tipo de aparelho é o bloqueio da erupção do 
permanente. 
Principais tipos de mantenedores de espaço 
Placa de Hawley: aparelho removível funcional; impede a extrusão dos dentes antagonistas, devolve função e 
estética, mas bloqueia a erupção do permanente. 
 
 
Banda-alça e coroa-alça: aparelho fixo indicado para perda unitária, posterior, unilateral; não devolve a função 
nem previne a extrusão do antagonista, mas permite a erupção do permanente. Em casos de extensa destruição 
coronária no dente de suporte, pode-se adotar uma variação deste aparelho chamado de coroa-alça, no qual a 
alça é soldada em uma coroa de aço cromado. 
 
20 
 
Arco lingual: aparelho fixo indicado para perdas múltiplas, posteriores, bilaterais ou 
unilaterais no arco inferior; necessita da presença de incisivos inferiores, pois seu 
arco tangencia a face lingual destes dentes na altura dos terços cervicais. 
 
 
Botão de Nance: aparelho fixo dento-muco suportado, indicado para perdas 
múltiplas, posteriores e bilaterais no arco superior. 
 
 
Indicações dos mantenedores de espaço 
Na região anterossuperior, instalação de mantenedor de espaço com a finalidade de preservação de espaço 
raramente é necessária após os quatro anos de idade, pois a distância intercaninos costuma ser preservada; 
apenas se ocorrer a perda dentária antes do desenvolvimento suficiente dos incisivos permanentes, pode haver a 
uma pequena perda de espaço. Assim, a instalação de mantenedores na região anterossuperior se faz necessária 
em perdas dentárias até os 4 anos de idade, após, tem finalidade principalmente estética e funcional, sendo 
confeccionados com dentes pré-fabricados em resina acrílica ou dentes naturais do próprio paciente. 
 
 
Os mantenedores de espaço são contraindicados nos casos em que já houve perda de espaço; em geral, a maior 
perda de espaço ocorre dos primeiros dias da extração do dente até 6 meses depois; por isso, o ideal é a 
instalação do aparelho na mesma sessão da exodontia. Cabe ainda a análise da discrepância de modelos para 
avaliar se o espaço será suficiente para a erupção dos sucessores, devendo ser mantido, ou se haverá 
necessidade de recuperação de espaço. 
Nos casos em que o sucessor estiver irrompendo também não é indicado o uso de mantenedores de espaço. Um 
exame radiográfico pode demonstrar a idade dentária do paciente e o estágio de desenvolvimento de Nolla em 
que o sucessor se encontra. Se esse dente estiver no estágio 8, isto é, com pelo menos 2/3 da raíz formada, não 
se faz necessário o uso de mantenedor de espaço. Além do estágio de Nolla, é importante observar também a 
quantidade de osso que recobre o dente sucessor, fator que pode atrasar sua erupção. Já em caso de infecção 
periapical do dente decíduo, pode ocorrer destruição do osso que recobre o sucessor, acelerando sua erupção. 
Mesmo assim, indica-se a instalação de mantenedores de espaço. 
Nos casos de agenesia do sucessor, a manutenção do espaço depende do planejamento do caso: pode-se optar 
pelo fechamento do espaço, ou tratamento protético posterior, sendo no último caso indicado o mantenedor de 
espaço. 
21 
 
Movimentação ortodôntica: aspectos biomecânicos e biológicos 
Durante a função mastigatória, os dentes e as estruturas periodontais são submetidos a forças pesadas 
intermitentes. No entanto, os contatos dentais duram 1 segundo ou menos e o fluido do ligamento periodontal 
evita o deslocamento do dente dentro do alvéolo. Se a pressão contra o dente for mantida, o fluido é 
rapidamente expulso, causando dor e o deslocamento do dente, o que comprime o ligamento periodontal contra 
o osso adjacente. A força prolongada sobre o ligamento periodontal, mesmo de baixa magnitude, produz uma 
resposta fisiológica diferente, traduzida pela remodelação do osso adjacente, permitindo o movimento dental 
ortodôntico. Atémesmo as forças prolongadas do ambiente natural, como a força dos lábios, bochechas ou da 
língua têm capacidade de movimentar os dentes. 
Podemos determinar três estágios do movimento dental: no primeiro estágio, 
ocorre compressão do ligamento periodontal de um lado e tensionamento do 
outro lado. Os vasos sanguíneos também ficam comprimidos no lado de pressão, 
o que diminui o fluxo sanguíneo e os níveis de oxigênio e aumenta os níveis de 
dióxido de carbono. No lado de tensão, os vasos ficam dilatados, mantendo ou 
aumentando a perfusão sanguínea. O segundo estágio ocorre entre 4 à 6 horas 
após aplicação da força, e nele há produção/ liberação de mensageiros químicos 
como as prostaglandinas, que estimulam a atividade de osteoblastos e 
osteoclastos, e o RANKL, este último responsável pela diferenciação de 
osteoclastos. A diferenciação/ ativação de células ocorre no terceiro estágio, em 
média após 48 horas. 
Os osteoclastos formados localmente removem osso adjacente à parte comprimida 
do ligamento periodontal, iniciando pela lâmina dura, em um processo conhecido 
como absorção frontal. O movimento dental começa logo em seguida. Os 
osteoblastos, também oriundos da população local de células, formam osso novo no 
lado de tensão e remodelam as áreas reabsorvidas no lado de pressão. Se a força 
mantida contra o dente for muito pesada, a ponto de ocluir totalmente os vasos 
sanguíneos, em vez de as células da área comprimida do ligamento periodontal 
serem estimuladas a se desenvolver em osteoclastos, ocorre necrose estéril da área 
comprimida. A morte de cementoblastos do ligemento leva à reabsorção radicular e 
consequentemente à mobilidade. Por causa da aparência histológica da região, 
avascular e sem células, esta é chamada de hialinizada. Nessa situação, a 
remodelação óssea deverá ser realizada por células derivadas de áreas adjacentes não danificadas, que chegam à 
área necrótica apenas depois de alguns dias. Além do atraso na estimulação e diferenciação das células, a 
reabsorção começa a partir da face oposta da lâmina dura, de forma que uma espessura considerável de osso 
medular deve ser removida antes que qualquer movimento dental possa ocorrer. Esse processo é chamado de 
reabsorção à distância. 
 
22 
 
 
Não só o movimento dental é mais eficiente quando a necrose do ligamento periodontal é evitada como também 
a dor é diminuída. Todavia, mesmo com as forças leves, as pequenas áreas avasculares podem se desenvolver no 
ligamento e o movimento dental é atrasado até que essas possam ser removidas. A progressão suave do 
movimento dental pode ser um ideal inatingível quando a força contínua é empregada. 
Duração da força 
Tendo em vista os efeitos biológicos, o ideal para que a movimentação ortodôntica ocorra é a força contínua, ou 
seja, mantida em alguma fração apreciável entre uma consulta e outra do paciente e por uma porcentagem de 
tempo considerável (acima de 6h). Quanto maior a duração da força, mais eficaz é o movimento dental, de forma 
que aparelhos fixos, que não são afetados pela ação do paciente produzem mais movimento do que os 
removíveis (a menos que este esteja presente quase o tempo todo). Entretanto, é comum que a magnitude da 
força diminua conforme o dente de movimenta. Se o nível de força cair gradualmente até zero entre as ativações, 
a força deixa de ser contínua e passa a ser interrompida. 
O outro tipo de força é a intermitente, que declina abruptamente até zero de modo intermitente, quando o 
aparelho ortodôntico ou o elástico ligado a um aparelho fixo é removido pelo paciente, e então volta para o nível 
original algum tempo depois. A força interrompida também está presente aqui, pois à medida que o movimento 
ocorre, os níveis de força diminuem, até novo ajuste do aparelho. A força intermitente está presente em todos os 
aparelhos que dependem da instalação pelo paciente, como placas removíveis, aparelhos extrabucais e elásticos. 
As forças geradas durante a função normal (mastigação) também são consideradas intermitentes, mas não são 
mantidas por horas suficientes para gerarem efeitos significativos sobre a posição dos dentes. 
23 
 
 
A força ideal do ponto de vista biológico, capaz de produzir reabsorção frontal e progressão regular do 
movimento dental é contínua e leve. Contudo, apesar dos melhores esforços do clínico, algumas áreas de 
reabsorção à distância são produzidas em cada paciente, e juntamente com elas, a morte de cementoblastos, 
consequente reabsorção dentária e mobilidade. As forças mais pesadas que produzem essa resposta somente são 
fisiologicamente aceitáveis se o nível de força cair rapidamente até zero, de modo que haja um período de reparo 
e regeneração antes da próxima ativação, ou se a força diminuir pelo menos ao ponto de que não ocorram o 
segundo e o terceiro ciclos de reabsorção à distância. Resumindo, as forças contínuas pesadas devem ser 
evitadas; as forças pesadas intermitentes, apesar de menos eficientes podem ser clinicamente aceitáveis. 
A partir do que foi exposto acima, chega-se à conclusão de que ativar um aparelho muito frequentemente 
dificulta o processo de reparo, podendo causar danos aos dentes ou ao osso. Por isso, os aparelhos ortodônticos 
não devem ser ativados com uma frequência maior do que intervalos de 3 semanas. Um ciclo de consultas de 3 a 
5 semanas é o mais típico na prática clínica. 
Tipos de movimento dental 
 
A distribuição da força dentro do ligamento periodontal (força por unidade de área ou pressão) difere com os 
diferentes tipos de movimento dental. Portanto, é preciso entender o movimento para determinar o nível ótimo 
de força. O movimento de inclinação ocorre quando o dente rotaciona ao redor de seu centro de resistência e é 
produzido quando uma força única é aplicada contra a coroa de um dente, utilizando-se uma mola, por exemplo. 
O ligamento periodontal é comprimido próximo do ápice da raiz do mesmo lado da mola e na crista do osso 
alveolar no lado oposto da mola; próximo do centro de resistência a pressão é mínima. Assim, apenas metade da 
área do ligamento recebe carga; diante disso, conclui-se que a força usada para inclinação dental deve ser 
bastante baixa. 
O movimento de todo o dente, isto é, do ápice da raiz e da coroa na mesma direção é chamado de translação e 
ocorre quando duas forças são aplicadas simultaneamente à coroa. Nesse movimento o ligamento recebe carga 
uniformemente do lado de compressão da crista alveolar até o ápice. Pode-se aplicar duas vezes mais força no 
movimento de translação em relação ao de inclinação para produzir a mesma pressão no ligamento e se obter a 
mesma resposta biológica. A rotação do dente ao redor de seu longo eixo é ocasionada por um binário de força, 
isto é, forças de mesma magnitude, direção e sentidos opostos separadas por uma distância. Diferentemente do 
esperado, nesse movimento a força não se distribui por todo o ligamento periodontal. Acaba-se gerando uma 
24 
 
pequena inclinação, o que limita a força à mesma magnitude necessária ao movimento de inclinação. Na 
extrusão, apesar de não haver compressão, apenas tensão, força também é limitada para que o movimento traga 
o osso alveolar junto com o dente e não cause sua extração. A força ideal para a extrusão é, portanto de 
magnitude aproximada daquela para inclinação. Já o movimento de intrusão, por concentrar toda a força em uma 
pequena área no ápice do dente requer força muito leve para evitar necrose. 
 
Magnitude da força X reação tecidual 
 Força de 1º grau: muito leve, incapaz de induzir reação biológica 
 Força de 2º grau: ótima, inferior á pressão interna do capilar 
 Força de 3º grau: isquemia transitória do ligamento periodontal, resultando em reabsorção à distância e 
reabsorção radicular 
 Força de 4º grau: iatrogênica; reabsorção radicular severa, risco de mortificação pulpar e perda dentária 
Implicações clínicas 
 Força deve ser leve e prolongada Uso de aparelho removível por menos de 6h não induz à remodelação 
 Intervalo ideal de ativação do aparelho é de 3 a 5 semanas 
 Sintomatologia dolorosa até o 4º dia após a ativação 
 Durante a movimentação é comum o aumento da mobilidade dentária 
 A ocorrência de reabsorção radicular é inevitável durante o tratamento ortodôntico 
 Movimento de intrusão tem maior risco de reabsorção dentária e requer força leve 
 A interrupção da força cessa a reabsorção dentária 
Época Ideal para Início do Tratamento Ortodôntico 
O tratamento deve ser iniciado o mais próximo possível da variação do 
desenvolvimento normal. Dentre as vantagens do tratamento precoce 
estão a diminuição de casos com necessidade de extração de dentes 
permanentes, diminuição da necessidade de cirurgias ortognáticas, 
diminuição da vulnerabilidade dos incisivos superiores á fratura e trauma 
diminuição do custo biológico, maior estabilidade morfológica. Já as 
desvantagens incluem o prolongamento do período cronológico de 
tratamento e a dificuldade em se prever os rumos do processo de 
crescimento facial. 
25 
 
Casos que devem ser tratados precocemente: 
 Perda precoce 
 Hábitos bucais 
 Mordida aberta anterior 
 Mordida cruzada posterior 
 Mordida cruzada anterior 
 Classe III por deficiência maxilar 
Casos que podem ser tratados já na dentadura mista 
 Apinhamento dentário 
 Classe I com apinhamento 
 Classe II esquelética 
Casos que não devem ser tratados precocemente 
 Classe I com biprotrusão dentária 
 Classe II com severo retrognatismo mandibular 
 Classe III por prognatismo mandibular 
Análise facial 
A análise facial consiste na observação do conjunto da expressão morfológica das bases ósseas e tecidos moles. 
Essa morfologia está relacionada com a oclusão das arcadas dentárias e por isso o reconhecimento de alterações 
faciais ajuda no diagnóstico de más oclusões. A análise facial difere da análise oclusal, já que não requer exames 
intraorais, e da avaliação esquelética, pois não requer exames de imagem. 
Análise facial frontal 
A análise frontal se inicia com a fotografia extrabucal em repouso, na posição natural da cabeça. Primeiramente 
observa-se a simetria bilateral traçando a linha média da face. Um pequeno grau de assimetria bilateral existe em 
todos os indivíduos normais. Entretanto, uma diferença de tamanho mais acentuada de um lado, ou o desvio do 
mento ou nariz podem indicar alterações no crescimento ósseo, como uma hiperplasia no côndilo da ATM, ou 
uma mordida cruzada. 
Outra maneira de avaliar a simetria é dividindo a face em quintos, que devem ser iguais, indicando proporção 
facial: quinto central, envolvendo mento e nariz; quintos mediais envolvendo os olhos e quintos laterais. Ainda 
em relação à proporção, deve-se avaliar os terços verticais, que também devem ser iguais: terço superior, da linha 
do cabelo à glabela; médio, da glabela ao subnasal; inferior, do subnasal ao mento. Por fim, o terço inferior 
também segue uma proporção de 1 para 2 do lábio superior (estômio-subnasal) em relação ao inferior (estômio-
mento). 
26 
 
 
Ainda na perspectiva da análise frontal, os pacientes podem ser classificados em mesofacial, com altura da face 
proporcional à largura bizigomática, braquifacial, com a altura menor que a largura e dolicofacial, com a 
dimensão vertical da face superior à horizontal. 
 
A análise do sorriso também deve ser feita: a exibição excessiva da gengiva superior pode indicar crescimento 
vertical excessivo da maxila e alongamento desproporcional do terço inferior da face. Por outro lado, essa 
exposição pode ser causada por um lábio superior curto, reforçando a necessidade de se analisar a proporção 
labial. O ideal é a exposição de até 2 mm de gengiva no sorriso. Além disso, a linha média facial deve ser 
coincidente com a linha média dos dentes superiores e inferiores; o desvio da linha média pode ser inclusive 
uma consequência da inclinação transversal do plano oclusal. Por fim, observa-se ainda a quantidade de 
corredor bucal exibido no sorriso, ou seja, a distância entre os dentes posteriores maxilares e a parte interna da 
bochecha. O corredor bucal excessivamente largo (espaço negro) pode ser corrigido pela expansão do arco 
dental maxilar. 
 
27 
 
Análise facial lateral 
Um dos objetivos da análise facial de perfil é observar o posicionamento anteroposterior dos maxilares. Como na 
análise frontal, é necessário fotografia do paciente em posição natural fisiológica da cabeça. Então, traçam-se 
duas linhas, uma a partir da glabela até a base do nariz e outra a partir desse ponto até o mento. O ideal é que 
esses segmentos formem uma linha quase reta ou ligeiramente convexa (175°). O perfil mais convexo indica 
proeminência da maxila em relação à mandíbula, tendendo a uma relação esquelética de Classe II. Já a 
concavidade do perfil indica uma mandíbula mais proeminente, tendendo à Classe III esquelética. A observação 
da posição anteroposterior dos lábios e do mento também auxilia nessa análise; traçando-se uma linha vertical 
partindo do subnasal, esta deve tocar o lábio superior deixando lábio inferior e mento ligeiramente aquém. 
 
A análise de perfil também permite detectar a protrusão ou retrusão do incisivo através da postura labial: lábios 
protraídos e evertidos e que em repouso apresentam separação de mais de 3 mm (incompetência labial) indicam 
protrusão dentoalveolar. Geralmente, pacientes nessa condição que precisam fazer um esforço para juntar os 
lábios sobre os dentes requerem tratamento para melhoria da função e 
estética. Já quando os lábios são proeminentes, mas se fecham sobre os 
dentes sem esforço, significa que a postura labial é independente da 
posição dos dentes. Esses pacientes não necessitam de tratamento, 
principalmente levando-se em conta que a protrusão do incisivo pode gerar 
alinhamento dos dentes, do contrário apinhados. Alguns pacientes com 
pequena altura anteroinferior da face apresentam lábios protrusos e 
evertidos porque ocorre uma sobremordida e o lábio superior pressiona o 
lábio inferior, não devido à protrusão dos dentes. A medida do ângulo 
nasolabial (base nasal - lábio superior) também é capaz de indicar a 
protrusão/ retrusão dos incisivos superiores, sendo a medida ideal de 90° a 
110°. Entretanto, também pode ser um indicativo da morfologia do tecido 
mole, como inclinação do nariz. O mesmo ocorre com o ângulo labiomentoniano (subnasal – pogônio mole), que 
pode indicar protrusão dentoalveolar inferior ou a espessura do mento. 
Por fim, avaliam-se novamente as proporções faciais através da observação do ângulo do plano mandibular em 
relação ao plano horizontal verdadeiro. Um ângulo mandibular inclinado, em geral, é acompanhado de dimensões 
faciais verticais anteriores longas e uma tendência à mordida aberta esquelética, ao passo que o ângulo do plano 
mandibular nivelado geralmente está relacionado com uma altura facial anterior curta e má oclusão de mordida 
profunda. O comprimento e contorno mandibular também podem indicar a projeção aumentada e horizontal da 
mandíbula, ou projeção diminuída e vertical. 
28 
 
Referências 
JANSON, Guilherme; GARIB, Daniela Gamba; PINZAN, Arnaldo; HENRIQUES, José Fernando Castanha; FREITAS, 
Marcos Roberto de. Introdução à Ortodontia. Editora Artes Médicas, 1ª edição, 2013. 
PROFFIT, William R.; FIELDS, Henry W; SARVER, David M. Ortodontia Contemporânea. Rio de Janeiro: Mosby, 
2012. 
ZANETTI, Graciela de Almeida. Características da Dentadura Mista em Crianças Brasileiras. 2003, 96 f. Dissertação 
(Mestrado em Odontologia) – Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, Bauru, 2003. 
Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/25/25133/tde-04042005-
163037/publico/GracieladeAlmeidaZanetti.pdf 
MALTAGLIATI, Liliana Ávila; MONTES, Luciana Andrade do Prado; BASTIA, Fernanda Marcondes Machado; 
BOMMARITO Silvana. Avaliaçãoda prevalência das seis chaves de oclusão de Andrews, em jovens brasileiros 
com oclusão normal natural. Revista Dental Press de Ortodondia e Ortopedia Facial, Maringá, v. 11, n. 1, p. 99-
106, 2006. 
Classificação de Lischer. Disponível em: 
https://gustavocosenza.files.wordpress.com/2010/04/classificac3a7c3a3o-de-lischer.pdf. Acesso em: 12 mai. 
2021. 
GARIB, Daniela G.; FILHO, Omar Gabriel da Silva; JANSON,Guilherme . Etiologia das más oclusões: perspectiva 
clínica (Parte I) — fatores genéticos. Rev ista Clínica de Ortodontia Dental Press, v. 9, n. 2, p. 77-97, 2010. 
GARIB, Daniela G.; FILHO, Omar Gabriel da Silva; JANSON,Guilherme . Etiologia das más oclusões: perspectiva 
clínica (Parte II) — fatores ambientais. Revista Clínica de Ortodontia Dental Press, v. 9, n. 3, p. 61-73, 2010. 
FILHO, Omar Gabriel da Silva; HERKRATH, Fernando José; QUEIROZ, Ana Paula Corrêa de; AIELLO, Carlos Alberto. 
Padrão facial na dentadura decídua: estudo epidemiológico. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia 
Facial, Maringá, v. 13, n. 4, p. 45-59, 2008. 
REIS, Sílvia Augusta Braga; ABRÃO, Jorge; FILHO, Leopoldino Capelozza; CLARO, Cristiane Aparecida de Assis. 
Análise Facial Subjetiva. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, Maringá, v. 11, n. 5, p. 159-172, 
2006. 
ALMEIDA, Renato Rodrigues de; ALMEIDA-PEDRIN, Renata Rodrigues de; ALMEIDA, Marcio Rodrigues de. 
Mantenedores de espaço e sua aplicação clínica. Jornal Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. Curitiba, v.8, 
n.44, p.157-166, 2003. 
FERNANDES, Daniela Martens. O uso dos mantenedores de espaço em casos de perda precoce de dentes 
decíduos. Orientador : Dino Lopes de Almeida . Graduação - Odontologia, Porto Velho, 2019. 
MAIA, AVANA DE Alencar; ALMEIDA, Maria Eliana Cruz de; COSTA, Andrea Melo Moutinho da; RAVELI, Dirceu 
Barnabé; DIB Luana Sampaio. Diferentes abordagens no tratamento da mordida aberta anterior. ConScientiae 
Saúde, v.7, n.1, p. 77-82, 2008. 
ALMEIDA, Renato Rodrigues de; SANTOS, Suzi Cristina Barbosa Nakamura; SANTOS, Eduardo César Almada; 
INSABRALDE, Celina Martins Bajo; ALMEIDA, Marcio R. Mordida Aberta Anterior - Considerações e Apresentação 
de um Caso Clínico. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, v.3, n.2, 1998. 
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/25/25133/tde-04042005-163037/publico/GracieladeAlmeidaZanetti.pdf
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/25/25133/tde-04042005-163037/publico/GracieladeAlmeidaZanetti.pdf
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/25/25133/tde-04042005-163037/publico/GracieladeAlmeidaZanetti.pdf
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/25/25133/tde-04042005-163037/publico/GracieladeAlmeidaZanetti.pdf
https://gustavocosenza.files.wordpress.com/2010/04/classificac3a7c3a3o-de-lischer.pdf
29 
 
ALMEIDA, Marcio Rodrigues de; PEREIRA, Alex Luiz Pozzobon; ALMEIDA, Renato Rodrigues de; ALMEIDA-PEDRIN, 
Renata Rodrigues de. Placa Lábio Ativa: versatilidade e simplicidade no tratamento ortodôntico. Revista Clínica 
de Ortodontia Dental Press, Maringá, v. 5, n. 3, p. 48-65, 2006. 
FILHO, Leopoldino Capelozza; FILHO, Omar Gabriel da Silva. Expansão Rápida da Maxila: Considerações Gerais e 
Aplicação Clínica. Parte I. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Maxilar, v. 2, n 3, 1997. 
TERADA, Hélio Hissashi; SUGUINO, Rosely; RAMOS, Adilson Luiz; FURQUIM, Laurindo Z.; MAEDA, Luciane; FILHO, 
Omar Gabriel da Silva. Utilização do Aparelho Progênico para Correção das Mordidas Cruzadas Anteriores. 
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Maxilar, v.2, n.2, 1997. 
TASHIMA, Adriana Yuri; VERRASTRO, Ana Paula; FERREIRA, Sylvia Lavinia Martini; WANDERLEY, Marcia Turolla; 
GUEDES-PINTO, Eduardo. Tratamento Ortodôntico Precode da Mordida Cruzada Anterior e Posterior: Relato de 
Caso Clínico. Jornal Brasileiro de Odontopediatria e Odontologia do Bebê, v.6, n.29, p.24-31, 2003. 
MORENO, Ana Paula Preza; AGUIAR, Ana Paula de; ALESSIO JUNIOR, Luiz Eduardo; CREPALDI, Maria de Lourdes 
Silva; SANTANA, Ana Paula; CREPALDI Adriana Aparecida. Recuperação de espaços em dentadura mista com uso 
de aparelho hyrax, barra transpalatina e aparelho fixo 4x2. Revista FAIPE, v. 8, n. 2, p. 8-20, 2018. 
	Introdução
	Crescimento e desenvolvimento crânio-facial
	Sequência irruptiva dos dentes decíduos (brasileiros)
	Sequência irruptiva dos dentes permanentes
	Características dento-faciais do neonato
	Dentadura decídua
	Dentadura mista
	Dentadura permanente
	Classificação das más oclusões (Angle)
	Classificação das más posições dentárias
	Etiologia das más-oclusões
	Mordida aberta anterior
	Mordida cruzada
	Perda precoce de dentes decíduos
	Movimentação ortodôntica: aspectos biomecânicos e biológicos
	Época Ideal para Início do Tratamento Ortodôntico
	Análise facial
	Referências

Outros materiais