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SYLVIA PADIAL LEGISLAÇÃO E CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS TEORIA 226 QUESTÕES DE PROVAS DE CONCURSOS GABARITADAS ? Teoria e Seleção das Questões: ? Prof.ª Sylvia Padial ? Organização e Diagramação: ? Mariane dos Reis 1ª Edição MAR − 2013 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É vedada a reprodução total ou parcial deste material, por qualquer meio ou pro- cesso. A violação de direitos autorais é punível como crime, com pena de prisão e multa (art. 184 e parágrafos do Código Penal), conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei nº 9.610, de 19/02/98 – Lei dos Direitos Autorais). www.apostilasvirtual.com.br contato@apostilasvirtual.com.br apostilasvirtual@hotmail.com SUMÁRIO 1. CONCEITOS DE EDUCAÇÃO; PEDAGOGIA; ABORDAGENS PEDAGÓGICAS: psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas.................................................................................................................. 05 1.1 − Conceitos de Educação ...........................................................................................................................05 1.2 − Pedagogia ...............................................................................................................................................06 Questões de Provas de Concursos (1.1 e 1.2) ..................................................................................................... 27 1.3 − Abordagens Pedagógicas: psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas .............................09 Questões de Provas de Concursos ....................................................................................................................... 28 2. FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: o papel da escola na atualidade; a dimensão político-pedagógica e o compromisso político do educador.............................................................................................................................. 33 2.1 − O Papel da Escola na Atualidade .............................................................................................................35 Questões de Provas de Concursos (1.1 e 1.2) ..................................................................................................... 54 2.2 − A Dimensão Político-pedagógica e o Compromisso Político do Educador ................................................45 Questões de Provas de Concursos ....................................................................................................................... 54 3. A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PROFESSOR: objeto de estudo da Didática; Concei- tos de: Ensino e Aprendizagem ............................................................................................................... 57 Questões de Provas de Concursos .................................................................................................................................. 65 4. O PLANEJAMENTO DE ENSINO E SEUS COMPONENTES ............................................................ 67 Questões de Provas de Concursos .................................................................................................................................. 71 5. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL .............................................. 73 Questões de Provas de Concursos .................................................................................................................................. 79 6. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO ........ 85 Questões de Provas de Concursos .................................................................................................................................. 93 7. PROVA BRASIL E PROVINHA BRASIL............................................................................................ 98 Questões de Provas de Concursos ................................................................................................................................ 103 8. A CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988: da Educação, da Cultura e do desporto ............................................................................................................................................ 103 Questões de Provas de Concursos ................................................................................................................................ 106 9. A LDB DE 1996; PRINCÍPIOS, ORGANIZAÇÃO DO ENSINO BRASILEIRO; NÍVEIS ESCOLARES: EDUCAÇÃO BÁSICA: EDUCAÇÃO INFANTIL, FUNDAMENTAL E MÉDIO E EDUCAÇÃO SUPERIOR. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL........................................................................................................................... 108 Questões de Provas de Concursos ................................................................................................................................ 121 10. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .......................................................................... 128 Questões de Provas de Concursos ................................................................................................................................ 157 GABARITOS ..................................................................................................................................... 159 Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 5 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br LEGISLAÇÃO E CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS 1 CONCEITOS DE EDUCAÇÃO; PEDAGOGIA; ABORDAGENS PEDAGÓGICAS: psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas. 1.1 − Conceitos de Educação EDUCAÇÃO: Definições e Funções Aprender, conhecer, produzir conhecimento é algo pertinente à natureza humana. A aprendizagem ocorre a partir de vivências diver- sas, ocasionais ou sistemáticas. Tais vivências, sejam elas ocasionais ou sistemáticas, fazem parte do processo e- ducacional, que apesar de ser eminentemente social é, ao mesmo tempo, individual. Brandão coloca-se, de uma maneira muito clara, a respeito da EDUCAÇÃO: Ninguém escapa da Educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, pa- ra ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com Educação. Com uma ou com várias: Educação, Edu- cações (1981, p. 11). EDUCAÇÃO: É um processo ao mesmo tempo social e in- dividual A Educação, do ponto de vista social, é a interfe- rência que a sociedade, com o objetivo de se manter e reproduzir, exerce no desenvolvimento dos indivíduos e dos grupos por meio de um conjunto de estruturas, influ- ências, processos, ações. Por exemplo, estamos hoje muito preocupados com a Educação digital porque vivemos numa sociedade informatizada. Independentemente das divergentes opi- niões a respeito, se os membros dessa sociedade não se adaptarem a ela, correrão o risco de ficar à margem da história. Da mesma forma, por ocasião da Revolução Fran- cesa, houve um cuidado com a “Educação para To- dos”, pois foi um momento de mudança na ordem soci- al. Passava-se do Feudalismo para o Capitalismo. Foi preciso que a grande massa, na sua maioria constituída de servos, alcançasse a cidadania para garantir a con- solidação do Capitalismo. Mas, ao mesmo tempo que a Educação tem a fun- ção de manter e reproduzir a sociedade, ela colabora com a sua transformação, pois vai permitindo que os in- divíduos se desenvolvam e ampliem a capacidade de pensar e, individualmente ou em grupo, reflitam melhor sobre a realidadeque os cerca e realizem modificações nessa mesma realidade. Do ponto de vista individual, a Educação é o de- senvolvimento da pessoa no que diz respeito às suas ca- racterísticas de ser humano, ao seu potencial e à sua participação na sociedade. Isto só é possível no seio de uma sociedade humana. A Educação só existe porque existe sociedade. Há uma história que ilustra muito bem isso: na década de 1920, duas meninas foram encontradas no meio de lo- bos. Não se sabe por que estas crianças viviam com es- tes animais. Não falavam, grunhiam. Andavam de qua- tro, tinham desenvolvido muito os dentes caninos, pois comiam carne crua. Portanto, a Educação, como pro- cesso individual, não ocorreu. A Educação pode se processar tanto de forma sistemática quanto assistemática A Educação não acontece só na escola, de forma sistemática, com a vivência de situações planejadas, acompanhadas, avaliadas, mas também de forma assis- temática, em vários lugares e situações, como em um clube recreativo, na família, através da leitura de jornais, revistas, em um bate papo com amigos, no cinema, no teatro, em um desfile de modas etc. A troca com o ou- tro sempre implica na descoberta de novos pontos de vista, outras experiências, maneiras de pensar diferentes, que vão enriquecendo os indivíduos e efetivando o pro- cesso educativo na sociedade. O CONCEITO DE EDUCAÇÃO EM KANT NA OBRA “SOBRE A PEDAGOGIA” Para Immanuel Kant (1724-1804), a única criatura a ser educada neste mundo é o ser humano, pois diz ele que os animas não precisa de coisas a mais do que ali- mento e cuidado. Em sua obra o filósofo faz a distinção entre disciplina e instrução. Para Kant, a disciplina impe- de o homem de cair em certa selvageria ou, melhor di- zendo, numa animalidade. Mas segundo o filósofo a dis- ciplina é negativa, pois faz o ser humano a mudar for- çadamente, sem o uso de sua razão, ou melhor, dizen- do, uma mudança sem liberdade do indivíduo. Já a ins- trução é a parte positiva da educação, pois faz com que o educando perceba as leis morais que o cercam, e faz com que se torne interiorizadas, podendo, assim, tornar-se um ser de caráter ou, melhor dizendo, um ser moral. Mas para chegar ao ponto final da educação é necessário unir a disciplina, que seria a primeira parte da educação, com a instrução. No pensamento de Kant, a pedagogia ou a educação está dividida em duas par- tes: a física e a prática. A educação física é entendida como a aquela parte que o homem tem em comum com os animais, isto é, são os cuidados que indivíduo tem com sua vida, enquanto ser constituído de matéria corporal. A educação prática ou moral é aquela que diz respeito à construção do homem, tendo a sua finalida- de voltada para o caráter e para que o homem possa viver como um ser livre, mantendo suas relações de uma Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 6 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br forma justa com os demais. Essa será a abordagem prin- cipal do trabalho a ser realizado tendo em vista sempre a educação como base principal do pensamento kan- tiano. 1.2 − Pedagogia CONCEITOS E DEFINIÇÕES Pedagogia é uma ciência ou disciplina do ensino que começou a se desenvolver no século XIX. A pedagogia estuda diversos temas relacionados à educação, tanto no aspecto teórico quanto no prático. Pedagogia é a ciência que tem por objeto de estudo a educação. A pedagogia tem como objetivo principal a melho- ria no processo de aprendizagem dos indivíduos, através da reflexão, sistematização e produção de conheci- mentos. Como ciência social, a pedagogia esta conec- tada com os aspectos da sociedade e também com as normas educacionais do país. Temas abordados pela pedagogia: - Aprendizado de conhecimentos; - Métodos e sistemas pedagógicos; - Dificuldades de aprendizado; - Didáticas e práticas pedagógicas; - Conteúdos educacionais; - O aluno no processo educativo; - O papel do professor no processo educacional. O pedagogo é o profissional formado para atuar na área pedagógica. Porém, todos aqueles que atuam nos processos educativos (professores, pais, monitores, orien- tadores, psicólogos, etc) também devem conhecer os princípios básicos de pedagogia. ORIGEM A palavra Pedagogia tem origem na Grécia antiga, paidós (criança) e agogé (condução). No decurso da his- tória do Ocidente, a Pedagogia firmou-se como correla- to da educação é a ciência do ensino. Entretanto, a prá- tica educativa é um fato social, cuja origem está ligada à da própria humanidade. A compreensão do fenôme- no educativo e sua intervenção intencional fez surgir um saber específico que modernamente associa-se ao ter- mo pedagogia. Assim, a indissociabilidade entre a práti- ca educativa e a sua teorização elevou o saber peda- gógico ao nível científico. Com este caráter, o pedago- go passa a ser, de fato e de direito, investido de uma função reflexiva, investigativa e, portanto, científica do processo educativo. Autoridade que não pode ser de- legada a outro profissional, pois o seu campo de estudos possui uma identidade e uma problemática própria. A história levou séculos para conferir o status de cientifici- dade à atividade dos pedagogos apesar de a proble- mática pedagógica estar presente em todas as etapas históricas a partir da Antiguidade. O termo pedagogo, como é patente, surgiu na Grécia Clássica, da palavra παιδαγωγός cujo significado etimológico é preceptor, mestre, guia, aquele que conduz; era o escravo que conduzia os meninos até o paedagogium . No entanto, o termo pedagogia, designante de um fazer escravo na Hé- lade, somente generalizou-se na acepção de elaboração consciente do processo educativo a partir do século XVIII, na Europa Ocidental. OBJETO DE ESTUDO E SUJEITO Atualmente, denomina-se pedagogo o profissional cuja formação é a Pedagogia, que no Brasil é uma gradu- ação e que, por parte do MEC - Ministério da Educação e Cultura, é um curso que cuida dos assuntos relaciona- dos à Educação por excelência, portanto se trata de uma Licenciatura, cuja grade horário-curricular atual esti- pulada pelo MEC confere ao pedagogo, de uma só vez, as habilitações em educação infantil, ensino fundamen- tal, educação de jovens e adultos, coordenação educa- cional, gestão escolar, orientação pedagógica, pedago- gia social e supervisão educacional, sendo que o pedagogo também pode, em falta de professores, lecionar as disci- plinas que fazem parte do Ensino Fundamental e Médio, além se dedicar à área técnica e científica da Educa- ção, como por exemplo, prestar assessoria educacional. Devido a sua abrangência, a Pedagogia engloba diversas disciplinas, que podem ser reunidas em três grupos básicos: disciplinas filosóficas, disciplinas científicas e disciplinas técnico-pedagógicas. O objeto de estudo do pedagogo e da pedagogia é a EDUCAÇÃO, o Processo Ensino e Aprendizagem, a ação cultural do educador em intervir e/ou de transmitir tecnicamente "o conhecimento", de forma sedutora, significativa e em comunhão com a realidade social, o perfil e a história de vida do educando, o conhecimento e a informação e a dimensão cognitiva do educando ao perceber, aprender, apreender e se apropriar de forma crítico-reflexiva do conhecimento e das informações transmitidas pela percepção pessoal de observador ou de sujeito da intervenção formativo-educativa da qual foi sujeito, a sua acomodação junto aos conhecimentos anteriormente existentes e sua capacidade de aplicá-los à realidade social vivido-compartilhada enquanto ser social e cidadão. Logo, o sujeito da Pedagogia é o ser humano enquanto educando. O pedagogo não possui quanto ao seu objeto de estudo um conteúdo intrinse-camente próprio, mas um domínio próprio (a educação), e um enfoque próprio (o educacional), que lhe assegu- rara seu caráter científico. Como todo cientista da área sócio-humana, o pedagogo se apóia na reflexão e na prática para conhecer o seu objeto de estudo e produzir algo novo na sistemática mesma da Pedagogia. Tem ele como intuito primordial o refletir acerca dos fins últi- mos do fenômeno educativo e fazer a análise objetiva das condições existenciais e funcionais desse mesmo fe- nômeno. Apesar de o campo educativo ser lato em sua abrangência, estritamente são as práticas escolares que constituem seu enfoque principal no seu olhar epistêmi- co, embora a ação não escolar venha ganhando, con- temporaneamente, espaço significativo na ação e atu- ação do pedagogo. O objeto de estudo do pedagogo compreende os processos formativos que atuam por meio da comunicação e intercâmbio da experiência humana acumulada. Estuda a educação como prática humana e social naquilo que modifica os indivíduos e os grupos em seus estados físicos, mentais, espirituais e cul- turais. Portanto, o pedagogo estuda o processo de transmissão do conteúdo da mediação cultural (ensino) Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 7 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br que se torna o patrimônio da humanidade e a realização nos sujeitos da humanização plena e o processo pelo qual a apropriação desse conteúdo ocorre (aprendiza- gem). No plano das ideias, o grego Platão (427-347 a.C.) foi de fato o primeiro pedagogo, não só por ter conce- bido um sistema educacional para o seu tempo mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão éti- ca e política. Para ele, o objeto da educação era a formação do homem moral, vivendo em um Estado jus- to. A IMPORTÂNCIA DA PEDAGOGIA PARA A EDUCAÇÃO Existem muitas abordagens possíveis para propiciar o ato educativo. Na intenção de transmitir informações e transformá-las em conhecimento, um professor pode op- tar por diversas maneiras de comunicação com seus alunos. A pedagogia é a normatização das ações e dos instrumentos didáticos que devem ser utilizados para qual- quer nível de educação. A definição do conceito de pedagogia passa pelo entendimento de dois outros componentes do ato educativo. O primeiro é a ideia de educação, que é uma situação temporal e espacial determinada em que ocorre a rela- ção ensino-aprendizagem, seja ela formal ou informal. Em outras palavras, trata-se da transmissão de informações pa- ra que sejam armazenadas e transformadas em conhe- cimento. Didática é a adequação entre os meios e os fins esco- lhidos para o ato educativo. Trata-se da razão instrumental que norteia esse processo, e tem uma importância enor- me para a eficiência da transmissão de conhecimento. Com base nisso, a didática está intrinsecamente ligada à pedagogia, já que depende substancialmente das normas e métodos para aplicar esse saber especial. CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS A reorganização pedagógica e administrativa da escola, respaldada por uma concepção progressista, exige, simultaneamente, sistematizar e organizar a diretriz pedagógica, que seja compatível e coerente com o momento histórico e com as concepções dos componentes estruturantes e determinantes do processo educacional e didático. A concepção de educação, portanto, não pode estar dissociada da FUNÇÃO DA ESCOLA determinada socialmente, ou seja, assegurar, COM COMPETÊNCIA: a) A difusão, acesso, manipulação e produção de conteúdos concretos (científicos, sociais, naturais e esté- ticos), indissociáveis e ressonantes na realidade social do aluno e construídos historicamente. Assim, constitui-se como instrumentos de apropriação do saber, ajudando na minimização da seletividade social e democratiza- ção do acesso e do saber, como parte integrante do todo social. Assim, “a educação por ela ofertada, deve ser uma atividade mediadora no seio da prática social global, através da intervenção do professor”. (LIBÂNEO, p. 17) b) A compreensão ampla (numa perspectiva de nacionalidade e universalidade) de cultura, saberes, relações sociais, mecanismos de dominação e discriminação, de mundo, de sociedade, de escola, de professor e educador, de aluno, etc., como condição básica para transformação social e exercício pleno da cidadania. c) A necessidade de superação progressiva da for- ma de organização do sistema sócio-econômico vigen- te, respaldada pela concretização e expressão da cons- ciência política de professores, alunos, pais, direção, etc., decodificada na convergência de interesses por uma educação de qualidade, onde as metas sejam: 1. formação do indivíduo comprometido com a qualidade de vida e construção de uma sociedade jus- ta e igualitária; 2. habilitação e qualificação de professores para a- tendimento de classes especiais, pré-escolar, alfabetização e das séries iniciais do 1.º grau, com uma sólida formação resultante da articulação entre o técnico, o político, o cultural, o científico e o humano. Estabelecidas as funções da escola, ao menos sis- tematicamente, e INCORPORADAS COMO PRÁTICA SO- CIAL, obrigatoriamente elas fazem emergir uma maneira de reverter a concepção de homem e como esta con- cepção se integra na PRÁTICA EDUCATIVA. Então, é im- prescindível entender o HOMEM numa perspectiva dialética, em que não se pode reduzi-lo a um mero instrumento cego de quaisquer forças superiores (terrenas ou extraterre- nas), mas, ao contrário, é o CRIADOR da História, não ape- nas no sentido estreito de que o homem cria porque age, mas, sobretudo, no sentido de que age conscien- temente, no sentido de que faz conscientemente a esco- lha entre várias possibilidades. O homem se transforma e se cria ao modificar as suas condições de existência. Ele pode “transformar a natureza e a sociedade, através da mediação do trabalho, assim, transforma sua própria na- tureza, num processo de AUTOTRANSFORMAÇÃO que nun- ca tem fim”.(FRANCO, p. 2-3) Compreendê-lo, portanto, significa PARTIR DAS CON- DIÇÕES REAIS DE SUA EXISTÊNCIA, SEUS LIMITES, SUAS HA- BILIDADES, SUAS ATITUDES, SUA CULTURA, SUA FORMA DE LER O MUNDO E A SI PRÓPRIO, SUAS POSSIBILIDADES, SUA CONDUTA, etc., enfim, tudo o que determina sua vida. Eis, então o ser CONCRETO. Entendido a essência da natureza do homem, cabe então à Escola, a partir desta visão concreta e contex- tualizada, delinear a sua escolarização, buscando e re- clamando uma CONCEPÇÃO DE PROFESSOR que esteja impreterivelmente comprometido com: o processo de dire- cionar e dirigir o ensino e a aprendizagem e com o alu- no (HOMEM) como ser concreto, que determina e é de- terminado pelo social, político, econômico e individual. Em suma, o professor que a sociedade e a escola ne- cessitam emergencialmente, é aquele que considera o conhecimento - saber, conteúdo - a ensinar como ativi- dade social, histórica e constitutiva do homem - aluno -, e a si mesmo como partes inseparáveis de um contexto historicamente estruturado. Nesta perspectiva fica evidenciado que a construção e caracterização da concepção pedagógica da escola re- side não mais na descontextualização de um dos seus componentes ou estruturantes, isto é, na priorização de um deles em detrimento de outros. Não se aceita mais a concepção de conteúdos que apregoam ser a totali- dade de conhecimentos que o professor transmite ao aluno, o objeto da aprendizagem, mas a ele se “incor- Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 8 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br pora a totalidade das condições e local da escola, as relações humanas, etc. Além disso, o conteúdo da edu- cação está submetido ao processoem que ela - edu- cação - ocorre, é algo dinâmico, histórico (sem contor- nos definidos), variável (não se repete) e só se realiza parcialmente em cada ato educativo, pois cada ALUNO ABSORVE DIFERENTEMENTE A MATÉRIA DE ENSINO DISTRI- BUÍDA À CLASSE COMUM - construção do seu - do aluno - conhecimento. A forma e conteúdo têm relação de interdependência e se condicionam um ao outro; são apenas aspectos - distintos, mas unidos -, de uma mes- ma realidade - ato educacional. A forma é a FUNÇÃO DE SEUS FINS SOCIAIS. Assim, o conteúdo determina a forma de educação na qual é ministrada; esta, por sua vez, determina a possibilidade da variação do conteúdo, aumentando-o, em processos sem fim. Por isso, método educacional tem que ser defi- nido como dependência de seu conteúdo - o significa- do - social, ou seja, o elemento humano ao qual vai ser aplicado, de quem o deve executar, dos recursos eco- nômicos existentes, das condições concretas nas quais será levado à prática. (VIEIRA PINTO, p.41-6) Todas estas questões relegam, portanto, as concepções clássicas de Método de Ensino. Historicamente, ele sempre foi generalizado através de políticas educacionais de governo. O método que se quer hoje depende basicamente do professor em sala de aula, isto porque, como afirma WACHOWICZ (1991, P.12): a) Enquanto meio de apropriação do conhecimento, o método é uma questão filosófica; b) Deve considerar a educação escolar na sua re- lação com as classes sociais; c) O método consiste em elevar-se o pensamento do abstrato para o concreto, e é a maneira que tem o pensamento para apropriar-se do concreto, de o produ- zir como concreto espiritual; d) Os nexos internos da realidade precisam ser expli- citados para o pensamento, os nós de onde partem to- das as tramas existenciais e históricas. Em síntese, não mais aceitamos o conceito de mé- todo que, supostamente, tende a ensinar tudo a todos, mas sim, o de que é a transmissão/assimilação - no sen- tido sócio-histórico e interacionista - do saber sistematiza- do que deve nortear a concepção dos métodos e proces- sos da aprendizagem. O método é a condição onde o aluno supera a não apropriação (saber difuso, desarticulado apresentado no início do processo), para a apropriação - superação (saber contextualizado, organizado, etc.), articulado com seu desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social. Este percurso exige a construção consciente, por parte do professor, de condições e alternativas pedagógicas, onde ele e o aluno possam, pela relação dialógica, vi- sualizar três fases importantes: a. Problematização: momento em que o aluno exte- rioriza sua percepção e leitura do saber e sua relação com o contexto onde ele ocorre; b. Intervenção: momento em que o professor propi- cia condições - mediação - onde o aluno contata, aces- sa, apreende, manipula, compara, relaciona, descobre, for- mula, etc., o saber escolar; c. Superação: momento em que o professor possibili- ta alternativas para que o aluno expresse ou manifeste o SEU conhecimento (momento em que formula: sínteses, reorganizações, críticas, recriações, avaliações, etc., da relação saber versus realidades - ápice da transforma- ção de si próprio e do social). Nesta dinâmica, fica evidenciado que o saber histo- ricamente construído (na escola: o conteúdo, matéria de ensino, etc.), para se constituir componente ou estruturante sig- nificativo do processo ensino-aprendizagem, ser dinâmico; apresentar-se tendo como parte o professor, o aluno, com todas as suas condições pessoais e sociais; não ter contornos definitivos; a ser, principalmente a ferramenta ou instrumento que possibilite leituras, releituras e transformação da realidade social e do momento histórico em que é abordado. É, a partir destes entendimentos, que se poderá en- tender melhor outro componente importante do proces- so didático-pedagógico, a interdisciplinaridade. Ela, a nosso ver, ocorre e se configura a partir do momento e das condições em que o saber escolar é objeto de a- propriação. Isto é, entendendo-se que todo saber tem significado e implicações sociais. Não existe por si. De- pende da própria história do homem, pois é a partir de suas necessidades e de sua evolução que ele se estrutu- ra (circunstâncias históricas de produção), se transforma e é usado como instrumento de transformação social, cul- tural, econômica, etc. Perceber essência do saber sem suas implicações e dimensões é retirá-lo e isolá-lo da rea- lidade do aluno, do professor e do processo ensino- aprendizagem, tornando-o estéril e inútil. O trabalho coletivo, a partir de relações humanas equilibradas, isenta de preconceitos, elegantes, éticas, responsáveis, não egocêntricas, etc., será possível mais rapidamente ao professor apropriar-se dos outros elementos que se somam ao saber escolar e de sua função social, embutidos no campo de sua atuação. Isto posto, fica fácil, então, entender que a interdisciplinaridade objetiva: a. “a vivência da realidade global que se inscreve nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo”(FREIRE, 1991); b. a eliminação da fragmentação do saber escolar; c. a relação do aluno e do professor com o mundo; d. a realização da unidade do saber nas particularidades de cada um. Defendendo-se estes pressupostos, acreditando-se neles, estamos dando início a concretização de uma filo- sofia que norteará as ações pedagógicas e administrativas do INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Ela vai exigir, de todo o seu estafe, o rompimento com velhos padrões e ações; em especial, permitir a revisão do histórico de formação e práticas docente e discente. Isto não é fácil. Há toda uma trajetória a ser feita. Pensar que isto é pos- sível em curto espaço de tempo, é entender que a con- cepção de aprendizagem do estímulo resposta é a úni- ca verdadeira. Cada indivíduo tem seu tempo e ritmo próprios para se superar. “Na medida em que se executar uma nova prática pedagógica - não reprodutivista -, que os professores se descobrirem como equipe no desenvolvimento e execução Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 9 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br do projeto pedagógico, onde poder-se-ão identificar-se através da interdisciplinaridade, então o papel do pro- fessor como educador colocará em jogo a estrutura do sistema, enfraquecendo-o e possibilitando a reversão e superação do atual ‘status quo’. (MELLO, 1993) 1.3 − Abordagens Pedagógicas: psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas. TEORIA CONSTRUTIVISTA O Construtivismo não é um método de ensino, é uma teoria do conhecimento que pode auxiliar na ação pedagógica escolar. O Construtivismo se refere ao pro- cesso de aprendizagem que coloca o sujeito da apren- dizagem como alguém que conhece e que o conheci- mento é algo que se constrói pela ação do sujeito. Surgiu em meados dos anos 80, a partir de estudos sobre a psicogênese da língua escrita. Enfatiza o conhe- cimento que a criança já tem antes de ingressar na es- cola e está focado na língua escrita. Existem distorções na aplicação do conceito; uma delas é a de que não se deve corrigir os erros dos alunos. É confundida com um método e pode ser aplicada com outras técnicas. Os defensores desta teoria são contra a elaboração de um material único para ser aplicado a todas as cri- anças, como as cartilhas, e rejeitam a prioridade do pro- cesso fônico. Utiliza-se de textos e atividades lúdicas que estejam próximas do universo da criança (aluno). CONSTRUTIVISMO Concepção teórica que parte do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduoe o meio. A ideia é que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob a influência do meio. Ao contrário, responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada. O Construtivismo parte da crença de que o saber não é algo que está concluído, terminado, e sim um processo em incessante construção e criação. Assim, o conhecimento é um edifício erguido por meio da ação, da elaboração e da geração de um aprendizado que é produto da conexão do ser com o contexto material e social em que vive, com os símbolos produzidos pelo in- divíduo e o universo das interações vivenciadas na soci- edade. Esta construção é realizada através da ação e não por dons concedidos anteriormente ao sujeito, presentes na constituição dos genes ou no ambiente em que ele cresceu. Assim, este método pressupõe que é a partir da atitude que se instituem a mente e a consciência, assim como os nossos pensamentos. O método construtivista fundamenta-se na escrita, pois acredita que o aluno tem condições de se alfabeti- zar sem a ajuda de cartilhas e mecanismos que o indu- zem a decorar, repetir mecanicamente, declamar, transmitir e aprender o que já está acabado. Parte-se da ideia de que a criança, antes mesmo de ser alfabetiza- da no ambiente escolar, já descobriu como funciona o processo de aprendizado do alfabeto, como, por e- xemplo, ler do lado esquerdo para o direito. A corrente em questão pressupõe, assim, que se o aprendiz estiver mergulhado em um meio que lhe pro- porcione e lhe motive a aquisição da alfabetização, ele poderá realizar este intento por si mesmo. Conclui-se daí que o estudante pode construir seu conhecimento, atu- ando, executando, gestando, edificando este saber a partir do ambiente social em que vive e da relação com os professores. Defende-se que o construtivismo educacional é fruto da união das correntes pedagógicas mais recentes, uma versão estendida destes métodos. Eles comparti- lham entre si o descontentamento com uma esfera e- ducacional que insiste em preservar o viés ideológico que permeia as escolas tradicionais, as quais continuam recorrendo aos instrumentos do aprendizado mecaniza- do, que obriga os alunos a decorarem e repetirem co- mo autômatos o conhecimento que lhes é transmitido. A educação, neste método, é tecida em conjunto por alunos e professores, frente aos exercícios da leitura e da escrita, exaustivamente praticadas nas aulas. As- sim, mestres e aprendizes atuam juntos na construção do conhecimento, assessorados pela incidência da pro- blemática social mais atual e pelo arsenal de saberes já edificados, patrimônio intransferível do ser humano. A metodologia construtivista conduz, assim, a uma nova visão de mundo, seja ele o Cosmos ou o universo das interações sociais. Piaget, um dos teóricos mais signi- ficativos deste método, acreditava no potencial da cri- ança, no que ela traz em si enquanto herança de sua própria ação e de seu comportamento, o poder nela interiorizado de absorver asinformações obtidas do mun- do exterior e acomodá-las, isto é, alterar sua forma, para que assim ela possa entender a realidade na qual está inserida. Basicamente, o saber é sempre produzido pelo ato de construção, o qual deve sempre ser estimulado no aluno. Na área da pedagogia, a inspiração para o constru- tivismo vem principalmente de Jean Piaget. JEAN PIAGET Sua teoria, chamada Epistemologia Genética ou Te- oria Psicogenética, é a mais conhecida concepção construtivista da formação da inteligência. Ele explicou detalhadamente como, desde o nascimento, o indiví- duo constrói o conhecimento. A ideia mais importante da teoria desse psicólogo suíço é que a aprendizagem não é um processo passivo. Não nascemos sabendo as coisas e não aprendemos nos impregnando do mundo. Construímos ativamente nossos conhecimentos em nossas interações com pesso- as e objetos, de acordo com nossas possibilidades e inte- resses. Apesar de todas as suas ramificações, essa é a ideia central do construtivismo. Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 10 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br As teorias de Piaget vieram reforçar uma corrente antiga de pensamento pedagógico, que teve em Mon- taigne (1533-1592) um dos seus primeiros inspiradores. Por volta de 1580, ele já escrevia: "Não cessam de nos gritar aos ouvidos, como se por meio de um funil, o que nos querem ensinar, e o nosso trabalho consiste em repetir." (Montaigne. Ensaios. Rio de Janeiro : Ediouro. p. 144.) No meio educacional, ser construtivista passou a sig- nificar ser contra o ensino baseado apenas em aulas expositivas, repetição e "decoreba". Já que a aprendi- zagem não é um processo passivo, é preciso buscar meios de despertar o interesse dos alunos e dar a eles um papel mais ativo. Em uma verdadeira escola de inspiração construti- vista, há muitos brinquedos, jogos matemáticos, projetos de pesquisa, ensino baseado no método das situações- problema e em temas escolhidos pelos alunos, valoriza- ção do raciocínio e não apenas da correção das res- postas, respeito às ideias e aos possíveis erros cometidos pelas crianças, valorização do diálogo e da coopera- ção entre os alunos. Na maioria dos casos, a definição dos métodos es- colares como construtivistas pode não corresponder a nenhuma ou a poucas alterações efetivas nas práticas e métodos de ensino. Isso porque essa é mais uma palavra que acabou sendo muito usada pelos educadores e vi- rou uma espécie de moda. Escolas que não mudaram nada e até mesmo livros didáticos e softwares educa- cionais completamente tradicionais passaram a deno- minar-se construtivistas, o que provocou o desgaste de um conceito que ainda não alterou o cotidiano das es- colas como poderia (e deveria). EMÍLIA FERREIRO A psicóloga argentina, que vive no México, foi aluna de Piaget e usou sua teoria para pesquisar especifica- mente como a criança constrói seu aprendizado da es- crita e da leitura. No Brasil, é o nome mais ligado ao en- sino construtivista. CONSTRUTIVISMO DE JEAN PIAGET E EMILIA FERREIRO Segundo Ferrari (2008), as descobertas de Piaget so- bre os processos de aquisição de conhecimento e sobre os mecanismos de aprendizagem da criança, aliada aos estudos e pesquisas de Emilia Ferreiro, que estudou e trabalhou com Jean Piaget, possibilitaram a descoberta de que as crianças possuem um papel ativo na constru- ção de seu conhecimento, surgindo assim a palavra construtivismo. Para Moreira (2009), na teoria do pesquisador Pia- get, o desenvolvimento cognitivo se da por assimilação e acomodação. Quando o organismo assimila, ele in- corpora a realidade a seus esquemas de ação, impon- do-se ao meio, e no processo de assimilação o organis- mo (a mente) não se modifica. Por exemplo, quando se mede uma distância, usa-se o esquema – conhecimento - “medir” para assimilar, ou compreender, uma situação. Porém, o conhecimento que se tem da realidade, o es- quema “medir”, não é modificado, a pessoa continua com a mesma visão do esquema “medir”. Quando a pessoa não consegue assimilar determinada situação, o organismo (a mente) desiste ou se modifica. Se modifi- car, ocorre a acomodação, levando a construção de novos esquemas de assimilação e resultando no desen- volvimento cognitivo. Conforme Moreira (2009), na teoria de Piaget, só há aprendizagem quando o esquema de assimilação sofre acomodação. Portanto, para modificar os esquemas de assimilação é necessário propor atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e reequilibrações sucessi- vas, promovendo a descoberta e a construçãodo co- nhecimento. Para Ferrari (2008), a pesquisadora Emilia Ferreiro, apoiada nos pressupostos das descobertas de Piaget, enfoca que apenas a capacidade de diferenciar ou re- conhecer sons e sinais ou a leitura de palavras simples não é capaz modificar o esquema de assimilação das crianças e assim, ocorrer a aprendizagem, é necessário que a criança compreenda o sentido do que é feito, que ela experimente e construa seu conhecimento. Pinheiro (2002, p. 40) destaca três características im- portantes do construtivismo: • O conhecimento é construído através de ex- periências • Aprender é uma interpretação pessoal do mundo • Aprender é um processo ativo no qual o signi- ficado é desenvolvido com base em experi- ências Nesse sentido, o papel do professor é criar situações compatíveis com o nível de desenvolvimento da pessoa, provocar o desequilíbrio no organismo (mente) para que o indivíduo, buscando o reequilíbrio e tendo a oportuni- dade de agir e interagir (trabalho práticos), se reestrutu- re e aprenda. Estando atento que, para um ensino efici- ente, a argumentação do professor deve se relacionar com os esquemas de assimilação do aluno. O professor não pode ignorar os esquemas do aluno e simplesmente adotar os seus os esquemas de assimilação, e quando houver situações que gere grande desequilíbrio, o pro- fessor dever adotar passos intermediários para adequá- la as estruturas do aluno (MOREIRA, 2009). Para Piaget, a pessoa, a todo o momento interage com a realidade, operando ativamente objetos e pes- soas. O conhecimento é construído por informações ad- vindas da interação com o ambiente, na medida em que o conhecimento não é concebido apenas como sendo descoberto espontaneamente, nem transmitido de forma mecânica pelo meio exterior, mas como resul- tado de uma interação na qual o sujeito é sempre um elemento ativo na busca ativa de compreender o mun- do que o cerca (MOREIRA, 2009). Entende-se, então, de acordo com essa teoria, que o desenvolvimento cognitivo é resultado de situações e experiências desconhecidas advinda da interação com o meio, onde o sujeito procura compreender e resolver as interrogações. Com isso, o aluno exerce um papel a- tivo e constrói seu conhecimento, sob orientação do professor, buscando informações, propondo soluções, confrontando-as com as de seus colegas, defendendo- as e discutindo. Essa teoria permite utilizar todo o poten- Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 11 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br cial de interação da internet para criar um ambiente que gere conhecimento teórico e prático através da construção gradual do conhecimento por meio de par- ticipação ativa. Oferece oportunidade para reflexão. A construção do conhecimento pelos alunos é fruto de sua ação, o que faz com que eles se tornem cada vez mais autônomos intelectualmente. QUADRO DE RESUMO Teoria Construtivista Métodos - Por meio de experiências, pesquisas e mé-todos de solução de problemas. Aprendizagem - Obtida pelo desequilíbrio do organismo, que na busca do equilíbrio reestruture as es- truturas cognitivas e aprenda - Resultado de uma interação, na qual o su- jeito procura ativamente compreender o mundo que o cerca, e que busca resolver os problemas. Papel do professor - Mediador - Criador de conflitos - Orientador Papel do aluno Ativo Contribuições para o DI – Cursos virtuais - Permite utilizar todo o potencial de intera- ção da internet para criar um ambientes in- terativo e que gere conhecimento teórico e prático através da construção gradual do conhecimento por meio de participação a- tiva. - Oferece oportunidade para reflexão. - A função do professor deve ser a de criar situações favorecedoras de aprendizagem, a construção do conhecimento pelos alunos é fruto de sua ação, o que faz com que eles se tornem cada vez mais autônomos intelec- tualmente. - O professor passa a ser o mediador, deixa de ser aquele que detém os conhecimentos. Conclusão O desenvolvimento cognitivo é resultado de situações e experiências desconhecidas ad- vinda da interação com o meio, onde a pes- soa individualmente procura compreender e resolver as interrogações. Nesse sentido, o professor deve conhecer as estruturas cogni- tivas do aluno e criar atividades desafiadoras e adequadas que provoque desequilíbrios, para que o aluno procurando o reequilíbrio e tendo a oportunidade de agir se reestruture e aprenda. Portanto, é um teoria essencial em projetos EaD, já que o aluno exercer um papel ativo e constrói seu conhecimento sob orientação do professor, buscando informa- ções, propondo soluções, confronta-as com as de seus colegas, defende-as e as discu- tindo. Possibilitando criar estratégias para desenvolver um aluno com autonomia, críti- co e pesquisador. A PEDAGOGIA CONSTRUTIVISTA DE LEV VYGOTSKY (1896- 1934) Lev Vygotsky nasceu, na Bielo-Rússia, em 1896. De- pois de receber aulas particulares de Solomon Ashpiz, frequentou e trabalhou no Instituto de Psicologia de Moscovo, entre 1923 e 1934, onde teve oportunidade de desenvolver as suas teorias sobre o desenvolvimento cognitivo e a relação entre o pensamento e a lingua- gem. Viria a morrer, aos 38 anos, de tuberculose. Deixou uma obra vasta, composta por seis volumes (1), escritos ao longo de uma carreira curta de apenas dez anos. Desconhecido no Ocidente, a sua obra foi desco- berta na década de 60 do século passado, graças às primeiras traduções dos seus livros. O impacto de Vygotsky nos meios educacionais ocidentais foi tremendo e talvez só seja comparável à influência e popularidade de Jean Piaget. Juntamente com Jean Piaget, Lawrence Kohlberg e Paulo Freire, Lev Vygostky faz parte de uma galeria de grurus educacionais com enorme aceitação nas escolas de educação e a sua obra influenciou grandemente as políticas e orientações educativas, na Europa Ocidental, nas últimas três décadas do século passado. Curiosamente, o pensamento pedagógico de Lev Vygotsky nunca conheceu tanta influência e populari- dade na União Soviética, onde, apesar da sua ortodoxia marxista, fora encarado, durante os regimes de Staline, Krutchov e Brejnev, como um comunista da ala direita, contaminado por um certo idealismo burguês. Prova- velmente, a morte prematura de Lev Vygotsky tê-lo-á poupado às purgas estalinistas que conduziram à morte, por perseguição política, de mais de 20 milhões de pes- soas, de entre as quais muitos milhares intelectuais tão fiéis ao marxismo e ao comunismo como Vygotsky fora. Embora, a teoria social da aprendizagem de Vygotsky não introduza nada de radicalmente diferente em rela- ção à teoria construtivista de Jean Piaget, a sua popula- ridade nos meios educacionais de esquerda só é com- parável à influência de Paulo Freire. Na verdade, tanto Vygotsky como Piaget partilham a visão construtivista, assente na ideia de que a única aprendizagem significa- tiva é a que ocorre através da interacção entre o sujei- to, o objecto e outros sujeitos (colegas ou professores). As outras formas de aprendizagem, como sejam a imita- ção, a observação, a demonstração, a exemplificação e a prática dirigida são colocadas em lugar secundário tanto por Piaget como por Vygotsky. O que verdadei- ramente distingue Vygotsky de Piaget é a descrença do primeiro em relação a uma hierarquia de estádios do desenvolvimento cognitivo tão estanque e determinista como a que Piaget desenvolveu. Vygotsky, à semelhan- ça do que mais tarde faria Jerome Bruner, dá, igualmen- te, maior relevo aos contextos culturais e ao papel da linguagem no processo de construção de conhecimen- to e de desenvolvimento cognitivo. De resto,há muitas semelhanças. Até mesmo a teoria da zona de desenvolvimento próximo, central na teoria da aprendizagem do peda- gogo soviético, não é muito diferente das propostas de Piaget ou de Kohlberg sobre as tarefas moderadamente discrepantes, ou seja, sobre o potencial educativo e de- senvolvimentista das tarefas de ensino que não sejam Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 12 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br nem muito difíceis nem muito fáceis para o aluno. Como é sabido, Piaget defende que as tarefas devem provo- car um desequilíbrio cognitivo moderado que permita ao aluno passar por um processo de assimilação e de acomodação que potencie o desenvolvimento dos es- quemas mentais, em direcção a uma nova equilibração e por aí adiante. A teoria da zona de desenvolvimento próximo tem, de facto, grandes semelhanças com a te- oria da equilibração de Jean Piaget. A aprendizagem mais significativa é que se baseia no processo de cons- trução do conhecimento por parte dos alunos. Esse pro- cesso de construção é tanto melhor conduzido quanto melhor o professor for capaz de criar ambientes de a- prendizagem que potenciem a interacção entre alunos em estádios cognitivos ligeiramente diferentes ou em fa- ses de transição de estádio. Vygotsky defende que a criança aprende melhor quando é confrontada com tarefas que impliquem um desafio cognitivo não muito discrepante, ou seja, que se situem naquilo a que o psicólogo soviético chama de zona de desenvolvimento próximo. Esta teoria tem impli- cações importantes no processo de instrução: o profes- sor deve proporcionar aos alunos a oportunidade de aumentarem as suas competências e conhecimento, partindo daquilo que eles já sabem, levando-os a inte- ragir com outros alunos em processos de aprendizagem cooperativa. Provavelmente, a maior originalidade da teoria de Vygotsky reside na ênfase que ele dá ao papel dos con- textos culturais e da linguagem no processo de aprendi- zagem. Jerome Bruner desenvolveu esta ideia e introdu- ziu-a na proposta de currículo em espiral, o qual, no fun- do, é uma aplicação da teoria da zona de desenvolvi- mento próximo. Vygotsky enfatiza a ligação entre as pessoas e o contexto cultural em que vivem e são educadas. De acordo com ele, as pessoas usam instrumentos que vão buscar à cultura onde estão imersas e entre esses instru- mentos tem lugar de destaque a linguagem, a qual é usada como mediação entre o sujeito e o ambiente so- cial. A internalização dessas competências e instrumen- tos conduz à aquisição de competências de pensamen- to mais desenvolvidas, constituindo o cerne do processo de desenvolvimento cognitivo. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE JEAN PIAGET Formado em Biologia, Piaget especializou-se nos es- tudos do conhecimento humano, concluindo que, as- sim como os organismos vivos podem adaptar-se gene- ticamente a um novo meio, existe também uma rela- ção evolutiva entre o sujeito e o seu meio, ou seja, a criança reconstrói suas ações e ideias quando se rela- ciona com novas experiências ambientais. Para ele, a criança constrói sua realidade como um ser humano singular, situação em que o cognitivo está em supre- macia em relação ao social e o afetivo. Na perspectiva construtivista de Piaget, o começo do conhecimento é a ação do sujeito sobre o objeto, ou seja, o conhecimento humano se constrói na intera- ção homem-meio, sujeito-objeto. Conhecer consiste em operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreen- dê-lo, é algo que se dá a partir da ação do sujeito so- bre o objeto de conhecimento. As formas de conhecer são construídas nas trocas com os objetos, tendo uma melhor organização em momentos sucessivos de adap- tação ao objeto. A adaptação ocorre através da or- ganização, sendo que o organismo discrimina entre es- tímulos e sensações, selecionando aqueles que irá or- ganizar em alguma forma de estrutura. A adaptação possui dois mecanismos opostos, mas complementares, que garantem o processo de desenvolvimento: a assimi- lação e a acomodação. Segundo Piaget, o conheci- mento é a equilibração/reequilibração entre assimila- ção e acomodação, ou seja, entre os indivíduos e os objetos do mundo. A assimilação é a incorporação dos dados da rea- lidade nos esquemas disponíveis no sujeito, é o processo pelo qual as ideias, pessoas, costumes são incorporadas à atividade do sujeito. A criança aprende a língua e as- simila tudo o que ouve, transformando isso em conhe- cimento seu. A acomodação é a modificação dos es- quemas para assimilar os elementos novos, ou seja, a criança que ouve e começa a balbuciar em resposta à conversa ao seu redor gradualmente acomoda os sons que emite àqueles que ouve, passando a falar de for- ma compreensível. Segundo FARIA (1998), os esquemas são uma ne- cessidade interna do indivíduo. Os esquemas afetivos levam à construção do caráter, são modos de sentir que se adquire juntamente às ações exercidas pelo su- jeito sobre pessoas ou objetos. Os esquemas cognitivos conduzem à formação da inteligência, tendo a neces- sidade de serem repetidos (a criança pega várias vezes o mesmo objeto). Outra propriedade do esquema é a ampliação do campo de aplicação, também chama- da de assimilação generalizadora (a criança não pega apenas um objeto, pega outros que estão por perto). Através da discriminação progressiva dos objetos, da capacidade chamada de assimilação recognitiva ou reconhecedora, a criança identifica os objetos que po- de ou não pegar, que podem ou não dar algum prazer a ela. FARIA (op.cit.) salienta que os fatores responsáveis pelo desenvolvimento, segundo Piaget, são: matura- ção; experiência física e lógico-matemática; transmis- são ou experiência social; equilibração; motivação; in- teresses e valores; valores e sentimentos. A aprendiza- gem é sempre provocada por situações externas ao su- jeito, supondo a atuação do sujeito sobre o meio, me- diante experiências. A aprendizagem será a aquisição que ocorre em função da experiência e que terá cará- ter imediato. Ela poderá ser: experiência física - com- porta ações diferentes em função dos objetos e consis- te no desenvolvimento de ações sobre esses objetos para descobrir as propriedades que são abstraídas de- les próprios, é o produto das ações do sujeito sobre o objeto; e experiência lógico-matemática – o sujeito age sobre os objetos de modo a descobrir propriedades e relações que são abstraídas de suas próprias ações, ou seja, resulta da coordenação das ações que o sujeito exerce sobre os objetos e da tomada de consciência dessa coordenação. Essas duas experiências estão in- ter-relacionadas, uma é condição para o surgimento da outra. Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 13 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br Para que ocorra uma adaptação ao seu ambiente, o indivíduo deverá equilibrar uma descoberta, uma ação com outras ações. A base do processo de equilibração está na assimilação e na acomodação, isto é, promove a reversibilidade do pensamento, é um processo ativo de auto-regulação. Piaget afirma que, para a criança adquirir pensamento e linguagem, deve passar por vá- rias fases de desenvolvimento psicológico, partindo do individual para o social. Segundo ele, o falante passa por pensamento autístico, fala egocêntrica para atingir o pensamento lógico, sendo o egocentrismo o elo de ligação das operações lógicas da criança. No processo de egocentrismo, a criança vê o mundo a partir da perspectiva pessoal, assimilando tudo para si e ao seu próprio ponto de vista, estando o pensamento e a lin- guagem centrados na criança. Para Piaget, o desenvolvimentomental dá-se es- pontaneamente a partir de suas potencialidades e da sua interação com o meio. O processo de desenvolvi- mento mental é lento, ocorrendo por meio de gradua- ções sucessivas através de estágios: período da inteli- gência sensório-motora; período da inteligência pré- operatória; período da inteligência operatória-concreta; e período da inteligência operatório-formal. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE HENRY WALLON A criança, para Wallon, é essencialmente emocio- nal e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio- cognitivo. O autor estudou a criança contextualizada, como uma realidade viva e total no conjunto de seus comportamentos, suas condições de existência. Segundo GALVÃO (2000), Wallon argumenta que as trocas relacionais da criança com os outros são funda- mentais para o desenvolvimento da pessoa. As crianças nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no qual ficarão envolvidas em um "sincretismo subjetivo", por pelo menos três anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e o ambiente humano, sua compreensão das coisas dependerá dos outros, que darão às suas ações e movimentos formato e expressão. Antes do surgimento da linguagem falada, as cri- anças comunicam-se e constituem-se como sujeitos com significado, através da ação e interpretação do meio entre humanos, construindo suas próprias emo- ções, que é seu primeiro sistema de comunicação ex- pressiva. Estes processos comunicativos-expressivos a- contecem em trocas sociais como a imitação. Imitan- do, a criança desdobra, lentamente, a nova capaci- dade que está a construir (pela participação do outro ela se diferenciará dos outros) formando sua subjetivi- dade. Pela imitação, a criança expressa seus desejos de participar e se diferenciar dos outros constituindo-se em sujeito próprio. Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém, ele não é adepto da ideia de que a criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou um adulto não são capazes de se desenvolver sem con- flitos. A criança se desenvolve com seus conflitos inter- nos e, para ele, cada estágio estabelece uma forma específica de interação com o outro, é um desenvolvi- mento conflituoso. No início do desenvolvimento existe uma preponde- rância do biológico e após o social adquire maior força. Assim como Vygotsky, Wallon acredita que o social é imprescindível. A cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A par- te cognitiva social é muito flexível, não existindo lineari- dade no desenvolvimento, sendo este descontínuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, co- mo um movimento que tende ao crescimento. De acordo com GALVÃO (op.cit.), no primeiro ano de vida, a criança interage com o meio regida pela a- fetividade, isto é, o estágio impulsivo-emocional, defini- do pela simbiose afetiva da criança em seu meio social. A criança começa a negociar, com seu mundo sócio- afetivo, os significados próprios, via expressões tônicas. As emoções intermediam sua relação com o mundo. Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investigação, exploração e conhecimento do mundo social e físico. No estágio sensório-motor, permanece a subordinação a um sin- cretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não está presente). Neste estágio predominam as relações cog- nitivas da criança com o meio. Wallon identifica o sin- cretismo como sendo a principal característica do pen- samento infantil. Os fenômenos típicos do pensamento sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e eli- são. Na gênese da representação, que emerge da imi- tação motora-gestual ou motricidade emocional, as ações da criança não mais precisarão ter origem na ação do outro, ela vai “desprender-se” do outro, po- dendo voltar-se para a imitação de cenas e aconteci- mentos, tornando-se habilitada à representação da realidade. Este salto qualitativo da passagem do ato imitativo concreto e a representação é chamado de simulacro. No simulacro, que é a imitação em ato, for- ma-se uma ponte entre formas concretas de significar e representar e níveis semióticos de representação. Essa é a forma pela qual a criança se desloca da inteligência prática ou das situações para a inteligência verbal ou representativa. Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação inteligente, a qual constrói os significados dife- renciados que a criança dá para a própria ação. Nessa fase, a criança está voltada novamente para si própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz com que as ideias atinjam o sentimento de propriedade das coi- sas. A tarefa central é o processo de formação da per- sonalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio ca- tegorial trazendo avanços na inteligência. No estágio da adolescência, a criança volta-se a questões pesso- ais, morais, predominando a afetividade. Ainda con- forme GALVÃO, é nesse estágio que se intensifica a rea- lização das diferenciações necessárias à redução do sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretis- mo e o estabelecimento da função categorial depen- dem do meio cultural no qual está inserida a criança. Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 14 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE LEV S. VYGOTSKY Para Vygotsky, a criança nasce inserida num meio social, que é a família, e é nela que estabelece as pri- meiras relações com a linguagem na interação com os outros. Nas interações cotidianas, a mediação (neces- sária intervenção de outro entre duas coisas para que uma relação se estabeleça) com o adulto acontece espontaneamente no processo de utilização da lingua- gem, no contexto das situações imediatas. Essa teoria apóia-se na concepção de um sujeito in- terativo que elabora seus conhecimentos sobre os obje- tos, em um processo mediado pelo outro. O conheci- mento tem gênese nas relações sociais, sendo produzi- do na intersubjetividade e marcado por condições cul- turais, sociais e históricas. Segundo Vygotsky, o homem se produz na e pela linguagem, isto é, é na interação com outros sujeitos que formas de pensar são construídas por meio da a- propriação do saber da comunidade em que está inse- rido o sujeito. A relação entre homem e mundo é uma relação mediada, na qual, entre o homem e o mundo existem elementos que auxiliam a atividade humana. Estes elementos de mediação são os signos e os instru- mentos. O trabalho humano, que une a natureza ao homem e cria, então, a cultura e a história do homem, desenvolve a atividade coletiva, as relações sociais e a utilização de instrumentos. Os instrumentos são utilizados pelo trabalhador, ampliando as possibilidades de trans- formar a natureza, sendo assim, um objeto social. Os signos também auxiliam nas ações concretas e nos processos psicológicos, assim como os instrumentos. A capacidade humana para a linguagem faz com que as crianças providenciem instrumentos que auxiliem na solução de tarefas difíceis, planejem uma solução para um problema e controlem seu comportamento. Signos e palavras são para as crianças um meio de contato social com outras pessoas. Para Vygotsky, signos são meios que auxiliam/facilitam uma função psicológica superior (atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc.), sendo capazes de transformar o funcionamento mental. Desta maneira, as formas de mediação permitem ao sujeito realizar operações cada vez mais complexas sobre os objetos.Segundo Vygotsky, ocorrem duas mudanças quali- tativas no uso dos signos: o processo de internalização e a utilização de sistemas simbólicos. A internalização é relacionada ao recurso da repetição onde a criança apropria-se da fala do outro, tornando-a sua. Os siste- mas simbólicos organizam os signos em estruturas, estas são complexas e articuladas. Essas duas mudanças são essenciais e evidenciam o quanto são importantes as relações sociais entre os sujeitos na construção de pro- cessos psicológicos e no desenvolvimento dos processos mentais superiores. Os signos internalizados são compar- tilhados pelo grupo social, permitindo o aprimoramento da interação social e a comunicação entre os sujeitos. As funções psicológicas superiores aparecem, no de- senvolvimento da criança, duas vezes: primeiro, no nível social (entre pessoas, no nível interpsicológico) e, de- pois, no nível individual (no interior da criança, no nível intrapsicológico). Sendo assim, o desenvolvimento ca- minha do nível social para o individual. Como visto, exige-se a utilização de instrumentos para transformar a natureza e, da mesma forma, exige- se o planejamento, a ação coletiva, a comunicação social. Pensamento e linguagem associam-se devido à necessidade de intercâmbio durante a realização do trabalho. Porém, antes dessa associação, a criança tem a capacidade de resolver problemas práticos (inteli- gência prática), de fazer uso de determinados instru- mentos para alcançar determinados objetivos. Vygotsky chama isto de fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no desenvolvi- mento da linguagem. Por volta dos 2 anos de idade, a fala da criança torna-se intelectual, generalizante, com função simbóli- ca, e o pensamento torna-se verbal, sempre mediado por significados fornecidos pela linguagem. Esse impulso é dado pela inserção da criança no meio cultural, ou seja, na interação com adultos mais capazes da cultura que já dispõe da linguagem estruturada. Vygotsky des- taca a importância da cultura; para ele, o grupo cultu- ral fornece ao indivíduo um ambiente estruturado onde os elementos são carregados de significado cultural. Os significados das palavras fornecem a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo, ou seja, como diz VYGOTSKY (1987), é no significado da palavra que a fala e o pensamento se unem em pensamento verbal. Para ele, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela fala social, passando pela fala egocêntrica, atingindo a fala interior que é pensamento reflexivo. A fala egocêntrica emerge quando a criança trans- fere formas sociais e cooperativas de comportamento para a esfera das funções psíquicas interiores e pesso- ais. No início do desenvolvimento, a fala do outro dirige a ação e a atenção da criança. Esta vai usando a fala de forma a afetar a ação do outro. Durante esse pro- cesso, ao mesmo tempo que a criança passa a enten- der a fala do outro e a usar essa fala para regulação do outro, ela começa a falar para si mesma. A fala para si mesma assume a função auto-reguladora e, assim, a criança torna-se capaz de atuar sobre suas próprias ações por meio da fala. Para Vygotsky, o surgimento da fala egocêntrica indica a trajetória da criança: o pen- samento vai dos processos socializados para os proces- sos internos. A fala interior, ou discurso interior, é a forma de lin- guagem interna, que é dirigida ao sujeito e não a um interlocutor externo. Esta fala interior, se desenvolve mediante um lento acúmulo de mudanças estruturais, fazendo com que as estruturas de fala que a criança já domina, tornem-se estruturas básicas de seu próprio pensamento. A fala interior não tem a finalidade de comunicação com outros, portanto, constitui-se como uma espécie de “dialeto pessoal”, sendo fragmentada, abreviada. A relação entre pensamento e palavra acontece em forma de processo, constituindo-se em um movi- mento contínuo de vaivém do pensamento para a pa- lavra e vice-versa. Esse processo passa por transforma- ções que, em si mesmas, podem ser consideradas um desenvolvimento no sentido funcional. VYGOTSKY (op.cit.) diz que o pensamento nasce através das pala- Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial 15 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br vras. É apenas pela relação da criança com a fala do outro em situações de interlocução, que a criança se apropria das palavras, que, no início, são sempre pala- vras do outro. Por isso, é fundamental que as práticas pedagógicas trabalhem no sentido de esclarecer a im- portância da fala no processo de interação com o ou- tro. Segundo VYGOTSKY (1989), a aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento do sa- ber, do conhecimento. Todo e qualquer processo de aprendizagem é ensino-aprendizagem, incluindo aque- le que aprende, aquele que ensina e a relação entre eles. Ele explica esta conexão entre desenvolvimento e aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal (distância entre os níveis de desenvolvimento potencial e nível de desenvolvimento real), um “espaço dinâmico” entre os problemas que uma criança pode resolver sozinha (nível de desenvolvimento real) e os que deverá resolver com a ajuda de outro sujeito mais ca- paz no momento, para em seguida, chegar a dominá- los por si mesma (nível de desenvolvimento potencial). O INTERACIONISMO E A MEDIAÇÃO DAS NOVAS TECNOLO- GIAS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ESCOLAR A integração de novas tecnologias nas escolas preci- sa dar ênfase na importância do contexto sócio-histórico- cultural em que os alunos vivem e a aspectos afetivos que suas linguagens representam. O uso de computado- res como um meio de interação social, onde o conflito cognitivo, os riscos e desafios e o apoio recíproco entre pares está presente, é um meio de desenvolver cultu- ralmente a linguagem e propiciar que a criança cons- trua seu próprio conhecimento. Segundo RICHTER (2000), as crianças precisam correr riscos e desafios para serem bem sucedidas em seu processo de ensino-aprendizagem, produzindo e interpretando a linguagem que está além das certezas que já tem sobre a língua. Vygotsky valoriza o trabalho coletivo, cooperativo, ao contrário de Piaget, que considera a criança como construtora de seu conhecimento de forma individual. O ambiente computacional proporciona mudanças qualitativas na zona de desenvolvimento proximal do aluno, os quais não acontecem com muita freqüência em salas de aula “tradicionais”. A colaboração entre cri- anças pressupõe um trabalho de parceria conjunta pa- ra produzir algo que não poderiam produzir individual- mente. A zona de desenvolvimento proximal, comentada anteriormente, possibilita a interação entre sujeitos, per- meada pela linguagem humana e pela linguagem da máquina, força o desempenho intelectual porque faz os sujeitos reconhecerem e coordenarem os conflitos gera- dos por uma situação problema, construindo um co- nhecimento novo a partir de seu nível de competência que se desenvolve sob a influência de um determinado contexto sócio-histórico-cultural. Wallon também acre- dita que o processo de construção do conhecimento passa por conflitos, momentos de crises e rupturas. A colaboração em um ambiente computacional torna-se visível e constante, vinda do ambiente livre e aberto ao diálogo, da troca de ideias, onde a fala tem papel fundamental na aplicação dos conteúdos. A in- teração entre o parceiro sentado ao lado, entre o computador, os conhecimentos, os professores que se- guem o percurso da construção do conhecimento, e até mesmo os outros colegas que, apesar de estarem envolvidos com sua procura, pesquisa, navegação, prestam atenção ao que acontece em sua volta, gera umagrande equipe que busca a produção do conhe- cimento constantemente. Através disso tudo a criança ganhará mais confiança para produzir algo, criar mais livremente, sem medo dos erros que possa cometer, aumentando sua auto-confiança, sua auto-estima, na aceitação de críticas, discussões de um trabalho feito pelos seus próprios pares. As novas tecnologias não substituem o professor, mas modificam algumas de suas funções. O professor transforma-se agora no estimulador da curiosidade do aluno por querer conhecer, por pesquisar, por buscar as informações. Ele coordena o processo de apresenta- ção dos resultados pelos alunos, questionando os dados apresentados, contextualizando os resultados, adaptan- do-os para a realidade dos alunos. O professor pode es- tar mais próximo dos alunos, receber mensagens via e- mail com dúvidas, passar informações complementares para os alunos, adaptar a aula para o ritmo de cada um. Assim sendo, o processo de ensino-aprendizagem ganha um dinamismo, inovação e poder de comuni- cação até agora pouco utilizados. As crianças também podem utilizar o E-mail para trocar informações, dúvidas com seus colegas e profes- sores, tornando o aprendizado mais cooperativo. O uso do correio eletrônico proporciona uma rica estratégia para aumentar as habilidades de comunicação, forne- cendo ao aluno oportunidades de acesso a culturas di- versas, aperfeiçoando o aprendizado em várias àreas do conhecimento. O uso da Internet, ou seja, o hiperespaço, é carac- terizado como uma forma de comunicação que propi- cia a formação de um contexto coletivizado, resultado da interação entre participantes. Conectar-se é sinôni- mo de interagir e compartilhar no coletivo. A navega- ção em sites transforma-se num jogo discursivo em que significados, comportamentos e conhecimentos são cri- ticados, negociados e redefinidos. Este jogo comunica- tivo tende a reverter o “monopólio” da fala do professor em sala de aula. Desta forma, a implantação de novas tecnologias na escola deve ser mediada por atitudes pedagógicas que permitam formar o cidadão que ocupará seu lugar neste novo espaço. As tecnologias, dentro de um proje- to pedagógico inovador, facilitam e estimulam o pro- cesso de ensino-aprendizagem. Neste sentido, a hiper- mídia introduz a interatividade no aprendizado, propici- ando o diálogo ativo com o mundo do conhecimento, Legislação e Concepções Pedagógicas Teoria e Questões por Tópicos Profª. Sylvia Padial apresentando informações através de um contínuo ca- nal de escolhas individuais. Ela nos permite navegar e determinar os caminhos a seguir de acordo com nossos interesses e nosso próprio ritmo. Enfim, é descoberta, é pesquisa, é conhecimento, é participação, sensibilizan- do assim, para novos assuntos, novas informações, dimi- nuindo a rotina e nos ligando com o mundo, trocando experiências entre si, conhecendo-se, comunicando-se, enfim, educando-se. 16 www.apostilasvirtual.com.br www.apostilasvirtual.com.br RICHTER (op.cit.), ao referir-se ao interacionismo, ob- serva a necessidade de se dar ênfase à interação con- versacional entre as crianças, para terem, com isso, aces- so a input significativo e compreensivo (agir sobre uma mensagem para verificar o que entendeu sobre deter- minado assunto), com vistas à chegarem à negociação de sentidos (expressar e esclarecer intenções, pensa- mentos, opiniões). Através dessa negociação de senti- dos, a criança poderá produzir uma nova mensagem sobre o que realmente entendeu (output). Portanto, é no ensino fundamental que deve co- meçar o processo de conscientização de professores e alunos no sentido de buscar e usar a informação, na di- reção do enriquecimento intelectual, na auto-instrução. Isso significa que não podemos admitir, nos tempos de hoje, um professor que seja um mero repassador de in- formações. O que se exige, é que ele seja um criador de ambientes de aprendizagem, parceiro e colabora- dor no processo de construção do conhecimento, que se atualize continuamente. APRENDENDO UM POUCO MAIS Em um curso de especialização na modalidade a distância, a melhor abordagem pedagógica é a cons- trutivista. De acordo com essa abordagem, o aluno é construtor de seu próprio conhecimento. Construtivismo em EAD significa proporcionar ao es- tudante, profissional, criança ou adulto, um ambiente totalmente favorável aos objetivos a que se propõe, a- presentando uma razoabilidade concreta do método. O professor mantém uma postura de mediador, pre- sente virtualmente, interagindo com seus alunos, exer- cendo o papel de facilitador da construção do conhe- cimento do outro (WAISMANN, 2002), respeitando seus in- teresses, necessidades, estilo e ritmo de aprendizagem. No construtivismo, o sujeito da aprendizagem é aque- le que elabora seu próprio conhecimento. Ele aprende pensando, compreendendo ativamente, agindo sobre seu objeto de conhecimento. É verdade, como bem ressaltou Paulo Freire, que ninguém nos ensina a fazer essas coisas – mas também não aprendemos a fazê-las sozinhos, aprendemos a fa- zê-las interagindo uns com os outros. Os pais podem in- centivar as crianças e ajudá-las a aprender, apoiando-as. Mas quem aprende é a criança – e o faz. ABORDAGENS TRADICIONAL E CONSTRUTIVISTA DA APRENDIZAGEM ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA Enfoque no professor Enfoque no aluno Enfoque no conteúdo Enfoque na construção indi-vidual de significados A mente do aluno funciona como uma “tabula rasa” A aprendizagem é uma construção do aluno sobre conhecimentos prévios O aluno é receptor passivo de conhecimento Ênfase no controle do aluno sobre sua aprendizagem Memorização de conheci- mento Habilidades e conhecimen- to são desenvolvidos no con- texto onde serão utilizados RESUMO − CONSTRUTIVISMO Quem de- senvolveu a ideia O biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980). O que diz Segundo Piaget, o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nasci- mento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocí- nio é atingida. Assim, a criança constrói o conhecimento a partir de suas descober- tas, quando em contato com o mundo e com os objetos. Por isso, não adianta ensi- nar a um aluno algo que ele ainda não tem condições intelectuais de absorver. Ou seja, o trabalho de educar não deve se limitar a transmitir conteúdos, mas a fa- vorecer a atividade mental do aluno. Por isso, importante é não apenas assimilar con- ceitos, mas também gerar questionamentos, ampliar as ideias. Onde está o foco No aluno e em suas operações mentais. Qual é o pa- pel do pro- fessor Observar o aluno, investigar quais são os seus conhecimentos prévios, seus interes- ses e, a partir dessa bagagem, procurar apresentar diversos elementos para que o aluno construa seu conhecimento. O pro- fessor cria situações para que o aluno chegue ao conhecimento. Como se a- prende Experimentando, vivenciando. Como se in- troduz um novo concei- to Para falar em multiplicação, por exemplo, o professor pode apresentar uma seqüên- cia de somas, até que o aluno chegue ao conceito da multiplicação. Nada de de- corar tabuada. Ou, para apresentar for- mas geométricas, o professor dará aos a- lunos vários materiais, eles farão desenhos e observarão figuras até perceberem o círculo, o quadrado, o triângulo, etc. Quais são os reflexos na sala de aula Há menos interferência do professor, que respeita as fases do aluno e procura cor- responder aos seus interesses. As salas têm mais objetos para manusear, mais material, como blocos lógicos, figuras, etc. As corre- ções não acontecem de modo imediato, pois os erros são considerados parte do processo de aprendizagem.
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