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Hanseníase Introdução A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa crônica causada por uma micobactéria, gerando lesões na pele e nervos periféricos. O Brasil é o 2° país em incidência de hanseníase, sendo que a doença, por sua elevada capacidade de invasão neural, é uma grande causa de incapacitação física, sendo seu tratamento gratuito e vinculado universalmente ao Sistema Único de Saúde. Etiologia O bacilo de Hansen ou Mycobacterium leprae se trata de um bacilo álcool-ácido resistente, que se caracteriza como um bacilo intracelular obrigatório com tropismo para a pele e células do sistema nervoso periférico (em especial as células de Schwann). Esses bacilos são de duplicação muito lenta, demorando entre 12 e 16 dias. Epidemiologia Assume destaque no Brasil por se tratar do 2° país de maior incidência desse agravo, que é de notificação compulsória. Ele ocorre em ambos os sexos, é mais comum na etnia parda e é incomum em crianças. Transmissão: o homem se infecta com o Mycobacterium leprae através das vias respiratórias, sendo o único hospedeiro conhecido. Uma vez infectando uma célula, o bacilo irá se multiplicar e a depender do status imune do paciente, conseguirá eliminar o bacilo sem que cause a doença. No indivíduo com imunodepressão de algum grau, o bacilo irá se multiplicar no meio intracelular. Estratégias de controle: a situação epidemiológica atual da hanseníase no Brasil varia conforme a região em análise, mas ações foram tomadas para coibir o avanço da doença e identificar precocemente os doentes para erradicar a transmissão da doença. Essas incluem a ampliação de serviços diagnósticos e tratamento, vínculo às unidades de saúde e adoção da quimioprofilaxia de contactantes e busca de contactantes. Fatores de risco: incluem a precariedade das condições de vida e aglomeração domiciliar, convívio com casos multibacilares e suscetibilidade genética. Fisiopatologia Essa condição é transmitida pela via respiratória em especial pelos pacientes bacilíferos e não tratados, sendo que a infecção só se configura como doença em 10% dos pacientes (por algum grau de imunodeficiência celular). A depender do grau de imunodepressão celular, o paciente pode se apresentar na forma indeterminada, tuberculóide, dimorfa ou virchowiana (mais grave), que cursam com manifestações clínicas características. Quadro Clínico O caso de hanseníase engloba a presença de ao menos um achado de: lesões hipopigmentada ou avermelhadas com perda de sensibilidade, espessamento de nervos periféricos com perda da sensibilidade ou esfregaço positivo. Dois dos três critérios são clínicos, o que salienta a importância de investigar tal condição. Principais queixas: os pacientes podem relatar máculas hipocrômicas, acastanhadas ou avermelhadas com perda de sensibilidade tátil, térmica ou dolorosa, além de parestesias (formigamentos), choques e câimbras nos braços e pernas (favorecendo lesões acidentais). Também podem se queixar de pápulas, tubérculos e nódulos que se acompanham de queda dos supercílios (madarose), espessamento do pavilhão auricular e da face, bem como anidrose e pele infiltrada eritematosa. Pode haver espessamento neural e diminuição de força. Exame dermatoneurológico: na busca ativa do paciente com hanseníase, é importante realizar um exame dos principais nervos subcutâneos, avaliando a simetria motora da face, sobrancelhas e pálpebras (nervo facial), avaliar o espessamento dos nervos auricular, radial, ulnar, fibular superficial, fibular comum e tibial. Também se deve realizar um exame completo da pele, sob luz natural, avaliando também a presença de calosidades, atrofias musculares e úlceras. Por fim, é importante avaliar a pressão, tato e dor das lesões. Formas Clínicas Do ponto de vista classificatório, a hanseníase é dividida nas formas indeterminada, tuberculóide, dimorfa ou borderline e virchowiana ou lepromatosa. Do ponto de vista operacional se divide em pauci ou multibacilar (>5 lesões), indicando o tempo de tratamento. Destaca-se que o período de incubação da doença é longo, com média de 2-10 anos e relatos que chegam a 20 anos. Forma indeterminada: marcada pela presença de uma única mácula hipo ou acrômica, não pruridogênica, indolor, que não desaparece e apresenta anidrose (não pega poeira pela redução da sudorese no local). Essa Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Hanseníase condição não está associada a déficits neurológicos e constitui um importante diagnóstico diferencial com a pitiríase versicolor e se a busca ativa dos casos não for realizada, pode passar para fases que geram sequelas. Forma tuberculóide: ocorre se o indivíduo apresenta pequena depleção da imunidade celular, sendo capaz de conter os bacilos em uma área. Forma-se então de uma a cinco lesões com bordas elevadas, paucibacilares (o sistema imune consegue conter as lesões para a área circunscrita). A lesão apresenta perda das sensibilidades tátil, dolorosa e térmica, sendo que o paciente responde positivamente ao teste cutâneo de Mitsuda, mas não costuma ser positivo para a baciloscopia. Forma dimorfa: corresponde a lesões intermediárias, que podem se apresentar como lesões vegetantes ou infiltradas, bem delimitadas ou não. Surgem quando há um comprometimento mediano a severo da imunidade celular, podendo haver baciloscopia positiva e/ou teste de mitsuda positivo, podendo se apresentar na forma paucibacilar ou multibacilar (mais de 5 lesões). Forma virchowiana: é a forma que ocorre no indivíduo em severo grau de imunodepressão celular, que desenvolve uma resposta Th2, pautada na produção de anticorpos inefetivos contra o bacilo, que é intracelular. Tem lesões cutâneas pápulo-nodulares, lesão nervosa simétrica, hiperqueratose facial, espessamento neural, madarose e espessamento do pavilhão auricular (fácies leonina). Bacilíferos e com reação de mitsuda negativa. Diagnóstico O diagnóstico da hanseníase é essencialmente clínico, mas o achado de bacilos à baciloscopia podem ajudar a determinar o tratamento. Os mais comuns são a intradermorreação de mitsuda (não gera conclusão diagnóstica, mas se pápula >5 mm após quatro semanas, indica resposta imune próxima da fase tuberculóide) e a baciloscopia por coloração de Ziehl-Nielsen, com amostras da linfa dos cotovelos e orelhas, que se negativa, por si, não exclui a doença. Tratamento O ministério da saúde orienta o tratamento com os mesmos fármacos para pacientes multibacilares e paucibacilares, diferindo entre si pelo tempo de duração. Poliquimioterapia: orientar dose mensal supervisionada de rifampicina (2 cápsulas de 300 mg), dapsona (dose mensal supervisionada de 100 mg e 100 mg diários) e clofazimina (300 mg supervisionado e 50 mg diários). Para paucibacilares, indica-se o tratamento por 6 meses, enquanto para multibacilares, deve durar 12 meses. Reações Hansênicas Reações inflamatórias que acometem o paciente antes, durante ou após o tratamento com a poliquimioterapia, sendo uma urgência que pode ser desencadeada por infecções, estresse, traumas, vacinação ou gestação. Reação do Tipo I: é a reação reversa, ocorre na forma tuberculóide ou na dimorfa. Gera eritema e edema local nas lesões anteriores (e algumas novas) e pode acometer nervos periféricos, pode causar êmese e queda de estado geral. Tratada com corticóide por via oral. Reação do Tipo II: também chamada de eritema nodoso, surge na forma virchowiana e raramente na dimorfa. Pode acometer todo o corpo com lesões eritematosas nodulares e necrotizantes, além de desencadear queda de estado geral, febre, adenomegalias, dor e vermelhidão ocular e perda da acuidade visual. Seu tratamento envolve corticóides e talidomida. Profilaxia A erradicação da doença é pautada na identificação e tratamento principalmente dos bacilíferos. Uma medida fundamental é avaliar os contactantes, tratar aqueles que apresentam lesão e reforçar a BCG somente se paciente maior de 1 ano sem cicatriz ou com 1 cicatriz de BCG. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Hanseníase
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