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Síndrome nefrótica
UNISALESIANO
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A síndrome nefrótica deve ser entendida como o conjunto de sinais, sintomas e achados laboratoriais que se desenvolvem quando, por alguma razão, ocorre aumento patologicamente exagerado da permeabilidade dos glomérulos às proteínas, levando à proteinúria maciça. Na verdade, define-se a proteinúria na "faixa nefrótica" como aquela superior a 3,5 g/1,73 m2/24h, (a) hipoalbuminemia; (b) edema; (c) hiperlipidemia; e (d) lipidúria. As alterações do sedimento urinário do tipo hematúria microscópica, dismórfica e cilindros hemáticos podem ser detectadas em algumas glomerulopatias nefróticas. A função renal costuma estar relativamente preservada no momento da apresentação e geralmente não há oligúria. A hipertensão arterial é um achado variável, dependendo do tipo de glomerulopatia, não fazendo também parte da síndrome. Síndrome nefróticaSíndrome nefrótica Tradicionalmente, a quantificação da proteinúria é feita pela coleta de urina durante 24h, sendo este o "padrão-ouro"... Caracterizam a seletividade dos néfrons: (1) as fendas de filtração; e (2) a carga negativa da membrana basal. As fendas de filtração são responsáveis pela "barreira de tamanho", que impede a filtração das macromoléculas, enquanto a carga negativa da membrana basal é responsável pela assim denominada "barreira de carga", que dificulta a filtração de qualquer partícula com carga negativa, independentemente do tamanho. A perda de proteínas em grande quantidade na urina geralmente provoca a queda de seus níveis plasmáticos. A albumina é a principal proteína do plasma, sendo a grande responsável pela pressão oncótica (ou coloidosmótica), que ajuda a manter o líquido no compartimento intravascular. Apesar da queda dos níveis de albumina estimular a síntese hepática desta proteína, esta não é suficiente para evitar que se desenvolva uma hipoalbuminemia acentuada, característica marcante da síndrome nefrótica. As trocas de líquido entre os capilares e o interstício funcionam de acordo com o equilíbrio de duas forças opostas: (1) a pressão hidrostática; e (2) a pressão oncótica (coloidosmótica) – esta última determinada pela concentração de macromoléculas (proteínas) na luz do vaso. O edema se formará sempre que houver um aumento importante da pressão hidrostática (que "empurra" o líquido para fora do capilar) em relação à pressão oncótica (que "puxa" o líquido para dentro do capilar). pela teoria do underfilling, a queda da pressão oncótica faz o líquido sair do intravascular para o interstício, determinando uma "tendência à hipovolemia" e, consequentemente, ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. O resultado final é uma retenção hidrossalina secundária, na tentativa de compensar a hipovolemia. O líquido retido acaba servindo para manter e agravar o edema. Por esta teoria, o edema da síndrome nefrótica seria "osmótico", e não "pressórico" como o da síndrome nefrítica. Evidências recentes sugerem que na proteinúria não seletiva são perdidas macromoléculas com ação enzimática que ativam canais de sódio na membrana luminal de células ao longo do néfron, aumentando a reabsorção tubular de sódio e água e criando hipervolemia. Assim, o paciente faz edema por congestão volêmica, sendo esta aprovável base fisiopatológica dooverfilling. Os níveis plasmáticos de renina tendem a estar suprimidos ou normais nos pacientes com overfilling, e aumentados nos pacientes com underfilling. Na maioria das vezes, o paciente com síndrome nefrótica desenvolve hipercolesterolemia, com aumento da lipoproteína LDL, a mais aterogênica de todas. A hipertrigliceridemia é encontrada em menor escala, predominando nos pacientes com falência renal crônica. O mecanismo da hipercolesterolemia é o aumento da síntese hepática de lipoproteínas, estimulada pela queda da pressão oncótica induzida pela hipoalbuminemia. Ou seja, o mesmo estímulo que faz o fígado produzir mais albumina também o leva a sintetizar mais lipoproteína, especialmente a LDL. A hipertrigliceridemia é causada muito mais pela redução do catabolismo do VLDL (perda urinária da enzima lipoproteínalipase, que degrada o VLDL). Por razões desconhecidas, pacientes com certas formas de síndrome nefrótica não desenvolvem hiperlipidemia, como em muitos casos de lúpus eritematoso e amiloidose. Formas mais associadas à TVR (Trombose Venosa Renal). ● Glomerulopatia membranosa (principal). ● Glomerulonefrite membranoproliferativa. ● Amiloidose. Muitos autores têm sugerido que para os pacientes com maior risco de trombose, como os portadores de glomerulopatia membranosa, a anticoagulação profilática seja iniciada caso os níveis de albumina estejam muito reduzidos (ex.: < 2,0 mg/dl) e o risco de hemorragia induzida pela anticoagulação seja considerado baixo. O anticoagulante oral cumarínico warfarin tem eficácia superior a da heparina, já que esta última precisa da antitrombina III (cujos níveis encontram-se reduzidos na síndrome nefrótica) para exercer seu efeito. Contudo, na vigência de trombose, o warfarin não deve ser iniciado sem anticoagulação prévia com outro medicamento, pois nos primeiros dias de uso ele apresenta um efeito "pró-trombótico paradoxal". Logo, a heparina deve preceder o warfarin nesses doentes, e sua dose deve ser maior do que a convencional, sendo ajustada de modo a manter o PTTa entre 2 e 2,5 (lembre-se: os níveis de antitrombina III, seu cofator, são patologicamente reduzidos na síndrome nefrótica). O cumarínico é iniciado somente quando a anticoagulação plena tiver sido atingida ("PTTa na faixa"), sendo mantido pelo tempo em que o paciente permanecer "nefrótico". Os pacientes com síndrome nefrótica estão mais sujeitos a infecções por germes encapsulados, principalmente pela deficiência de imunoglobulina do tipo IgG e componentes da via alternativa do complemento, perdidos pelos glomérulos. O Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é a bactéria mais envolvida. Uma infecção bastante comum em pacientes nefróticos é a peritonite bacteriana espontânea, que acomete os pacientes com ascite. O pneumococo é o agente mais comum, responsável por metade dos casos, seguido pela Escherichia coli. A síndrome nefrótica pode ser simplesmente a expressão clínica de uma doença renal primária (idiopática) ou então ser secundária a fatores ou patologias extrarrenais, como infecções, medicamentos, neoplasias, doenças multissistêmicas e distúrbios hereditários. As duas principais causas de síndrome nefrótica secundária a doenças sistêmicas são o diabetes mellitus (glomeruloesclerose diabética) e a amiloidose (glomerulopatia amiloide). Tipo histológico/Incidência em adultos* Glomeruloesclerose focal e segmentar 25-35% (> 50% em negros) Glomerulopatia membranosa 25-30% Doença por Lesão Mínima (DLM) 10-15% Glomerulonefrite membranoproliferativa 5-15% Glomerulonefrite proliferativa mesangial 5-10% A Doença por Lesão Mínima (DLM) é responsável por 85% de todos os casos de síndrome nefrótica em crianças e 10-15% em adultos. Identificou-se uma anormalidade frequentemente presente: a fusão (e apagamento) dos processos podocitários, alterando a estrutura normal das fendas de filtração. A nefropatia por lesão mínima resulta, em última análise, da perda da carga negativa da barreira glomerular (perda da "barreira de carga"), originando um tipo seletivo de proteinúria. A reincidência da síndrome em transplantes renais sugere a presença de um fator circulante que "neutraliza" a carga negativa glomerular. Parece que a DLM é uma doença de linfócitos T (sensíveis a corticoide), os quais secretam uma citocina (ainda desconhecida) que age sobre os podócitos, inibindo a síntese dos poliânions (sulfato de heparan) responsáveis pela "barreira de carga". A perda de interação entre o podócito e as proteínas da matriz extracelular provocaria a fusão podocitária. A doença por lesão mínima pode ocorrer em qualquer idade, mas predomina em crianças entre um a oito anos. A faixa etária predominante difere entre os principais compêndios: ● Tratados de Nefrologia: 1,5 a 2,5 anos; ● Harrison: