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TBL 8 – HAB. MÉDICAS VII – CONSTIPAÇÃO INTESTINAL CAMILA MATARAZZO EPIDEMIOLOGIA · Incidência em idosos varia de 24-54%, sendo que entre 10-19% faz uso diário de laxativos; · Um dos principais fatores associados a delirium em ambiente hospitalar; · Prevalência ↑ progressivamente após 60 anos. FATORES DE RISCO Gênero feminino, inatividade física, medicamentos concomitantes, baixo poder aquisitivo, ansiedade e depressão. ETIOLOGIA Constipação é um sintoma que pode estar associado a múltiplas doenças e medicamentos ou ser conseqüência da alteração funcional dos cólons e da região anorretal. · Medicamentos: opioides; anti-hipertensivos (BCC, DIU, BB, hidralazina, clonidina, metildopa, etc.); benzodiazepínicos; antidepressivos tricíclicos e ISRS; IBP; ferro; drogas antiepilépticas (carbamazepina, fenitoína, etc.); suplemento de cálcio; · Neurológico: lesão medular, doença de Parkinson, paraplegia, esclerose múltipla, neuropatia autonômica. · Gastroinstestinal: neoplasia de cólon, massa extraintestinal, doença inflamatória do intestino, isquemia mesentérica, estenose cirúrgica, retocele ou enterocele. · Miogênico: dermatomiosite, plomiosite, esclerodermia, amiloidose, pseudo-obstrução intestinal. · Anorretal: fissura anal, estreitamento anal, doença inflamatória intestinal, proctite, prolapso retal. · Dieta ou hábitos de vida: baixa ingesta hídroca, inatividade física/imobilismo, baixa ingesta de fibras. · Endócrino ou metabólico: diabetes, hipotireoidismo, hipercalcemia, hipocalemia, hipo ou hipermagnesemia, porfiria, doença renal crônica, pan-hipopituitarismo. FISIOPATOLOGIA DA CONSTIPAÇÂO CRÔNICA ISIOPÁTICA Disfunção primária dos cólons – 2 mecanismos essenciais: lentificação do trânsito intestinal e desordem da defecação. · Lentificação do trânsito intestinal: pode ser 2ª a desordens miogênicas, metabólicas, neurológicas ou medicamentos. Como pode ser 1ª pelo decréscimo do número de céls intersticiais da Cajal e ↓ da resposta ao estímulo colinérgico que ocorrem com o envelhecimento. · Desordem da defecação/ defecação dissinérgica: é quando ocorre falha no processo de defecação, quando o ocorre é o ↑ coordenado de pressão abdominal, através da contração dos músculos da parede e do diafragma, concomitante com o relaxamento do esfíncter anal. As causas podem ser: ↓ sensibilidade retal; incoordenação durante defecação secundária, ↑ da pressão no esfíncter anorretal, propulsão inadequada do conteúdo fecal. DIAGNÓSTICO A avaliação inicial em idosos deve apresentar: · História clínica detalhada: caracterizar início e duração dos sintomas, forma e consistência das fezes – escala de Bristol – comorbidades, cirurgias prévias, sinais de alarme. Sinais de alarme Hematoquezia, pesquisa de sangue oculto nas fezes positiva, sintomas de obstrução, início agudo da constipação, constipação não responsiva ao tto, perda ponderal > 4,5kg, alteração no calibre das fezes, história familiar de CA colorretal, doença inflamatória intestinal · Exame físico com foco em excluir causas 2ª: inspeção da região perianal e do reto (toque retal – avaliar tônus do esfíncter anal e se presença de fezes na ampola retal) Revisão dos medicamentos em uso e da interação entre eles (comum: constipação por uso de opioides) ESCALA DE BRISTOL Constipação crônica idiopática: Critérios de Roma IV – presença de pelo menos 2 dos seguintes: · Esforço evacuatório; · Uso de manobras digitais; · Sensação de evacuação incompleta; · Fezes endurecidas e irregulares; · Sensação de obstrução anorretal ou bloqueio de 25% dos movimentos intestinais; · Freqüência de evacuações inferior a 3x/semana Sintomas presentes nos últimos 3 meses, com início há pelo menos 6 meses + exclusão de diagnóstico de síndrome do intestino irritável com predomínio de constipação (presença de dor abdominal). EXAMES COMPLEMENTARES Não necessitam de exames adicionais: paciente que preencha os critérios de Roma IV para constipação crônica idiopática. Necessitam de exames complementares na presença de: sinais de alarme, suspeita de causa orgânica, início dos sintomas após 50 anos ou ausência de resposta ao tto. · Nesses casos, solicitar exames laboratoriais de acordo com a suspeita clínica e colonoscopia. TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS Mudança de hábitos de vida: ↑ ingesta hídrica (1-2L/dia); prática de atividade física; ingesta de fibras (20-30g/dia). OBS: deve-se introduzir a ingesta de fibras aos poucos para adaptação gastrointestinal, uma vês que podem causar distensão abdominal e flatulência. Treinamento de toalete: o reflexo da defecação é ↑ após acordar e fazer refeições. Por isso que pode-se praticar uma rotina regular de ir ao banheiro 30 minutos após as refeições e permanecer sentado por pelo menos 5 minutos. LAXATIVOS O seu uso em idosos deve ser individualizado (história clínica, comorbidades, interações medicamentosas, custos, efeitos colaterais). 1ª escolha: formadores de fezes ou laxativos osmóticos. 2ª escolha: irritativos. Medicação Mecanismo Exemplos Efeitos adversos Formador de massa Polissacarídeos naturais ou sintéticos que exercem efeito laxativo pelo ↑ da absorção de água e da massa fecal Psílio; Metilcelulose; Policarbofila cálcica; Dextrina de trigo Bom perfil de segurança e poucos efeitos colaterais, como distensão abdominal e flatulência Osmótico Contém íons ou moléculas não absorvíveis que ↑ a absorção de água e a massa fecal Polietilenoglicol (1ª escolha) Lactulona Sorbitol Dor abdominal, cólicas e flatulência. Os idosos são mais susceptíveis a tais efeitos, que são dose-dependentes. Recomenda-se iniciar tratamento com baixas doses. Irritativo Afetam o transporte de eletrólitos através da mucosa intestinal, estimulando a motilidade Sene Bisacodila Picossulfato de sódio Segurança a longo prazo não estudada MEDICAMENTOS DE 2ª LINHA · Hidróxido de magnésio: não há estudos em idosos e devem ser usados com cautela pelo risco de hipermagnesemia. · Agentes emolientes (óleo mineral e docusato de sódio): substâncias bem toleradas e não agressivas. Administrados com cautela em pacientes com distúrbios de degluticação pelo risco de pneumonia lipóide. · Supositório de glicerina e enemas: eficácia clínica limitada e podem causar danos à mucosa retal. Não é recomendado o uso de enemas com fosfato de sódio (ex: Fleet enema), pois há associação a maior risco de complicações (depleção volêmica, hipotensão, hipo ou hipercalemia, hipocalcemia, acidose metabólica, lesão renal aguda). Maior risco de eventos adversos se dose superior a 1 aplicação em 24h e em casos de pacientes com doença renal crônica. SECRETAGOGOS · Lubisprostona: ácido graxo oral que ativa canais de cloro tipo 2 nas céls epiteliais do intestino, ↑ secreção de água no lúmen intestinal. · Linaclotida e plecanatida: agonistas do receptor C da guanilato ciclase que estimulam a secreção de fluidos no instetino e ↑ transito intestinal. ANTAGONISTAS DE OPIDOIDES Antagonistas dos receptores Mu periféricos podem ser efetivos na constipação induzida por opióides (não há estudos que comprovem seu uso em idosos). OBS: não cruzam a barreira hematoencefálica e, portanto, não possuem efeitos sobre a analgesia induzida por opioides. AGONISTAS DO RECEPTOR 5-HT4 Serotonina é um regulador da motilidade intestinal. Até o momento não há estudos que comprovem sua eficácia e segurança a longo prazo. Ex medicação: Prucaloprida. BIOFEEDBACK É um terapia indolor que consiste no treinamento da musculatura do assoalho pélvico e da parede abdominal. A técnica pode ser executada com o auxílio de eletrodos e tem maior benefício para pacientes com defecação dissinérgica. CIRURGIA Colectomia subtotal é uma opção de exceção para o tto da constipação crônica funcional e lentificação do trânsito intestinal quando não houve resposta a outros tto e o quadro clínico traz grandes repercussões para a qualidade de vida do paciente. MANEJO DA CONSTIPAÇÃO Referência: Geriatria Prática Clínica, Duarte PO, Amaral JRG.2020 Editora Manole
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