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TBL 9 – HAB. MÉDICAS VII – INCONTINÊNCIA URINÁRIA NO IDOSO CAMILA MATARAZZO EPIDEMILOGIA · Sintomas do TUI (trato urinário inferior): causa de morbidade e ↓ qualidade de vida em idosos de ambos os sexos; · Incontinência urinária (urina fora da micção normal): queixa + comum – afeta cerca de 15-35% dos idosos na comunidade e 22-90% dos idosos institucionalizados; · Com o aumento da idade, ocorre: - ↑ prevalência de hiperatividade detrusora (contração involuntária da musculatura da bexiga); - ↑ volume urinário residual pós-miccional; - ↑ produção de urina noturna + distúrbios do sono = favorecendo noctúria (ambos os sexos); ETIOLOGIA Pode ser decorrente de: - distúrbios do TUI (↓ na contratilidade detrusora, da capacidade vesical funcional, da habilidade em postergar a micção e do fluxo urinário) OU - distúrbios transitórios (delírios, medicamentos, infecção urinária, atrofia vaginal, produção excessiva de urina, déficit de mobilidade ou obstipação crônica); · Incontinência por urgência: geralmente decorre de hiperatividade detrusora. - principal causa de IU em ambos os sexos (cerca de 60%); - clínica: perda urinária precedida de desejo imperioso para urinar. · Incontinência urinária de esforço (IUE): perdas urinárias relacionadas com ↑ pressão intra-abdominal não precedidas de desejo miccional - representa 30% das causas de IU em mulheres; - decorrente de deficiência esfincteriana – durante manobras de esforço (tosse, espirro, etc.) a pressão intravesical supera a pressão esfincteriana. · Incontinência mista: incontinência de urgência + incontinência de esforço. · Incontinência paradoxal: hiperdistensão vesical, geralmente 2ª ao mau esvaziamento (obstrução ou hipocontratilidade detrusora) permanecendo a bexiga cheia e perdendo urina por transbordamento. - importante causa de IU em homens idosos; - clínica: perdas por gotejamento + bexigoma (globo vesical palpável). · Incontinência total: lesão esfincteriana decorrente de cirurgias para tratamento de HPB e CA de próstata (principal) - clínica: perdas urinárias contínuas SEM bexigoma FATORES DE RISCO Dificuldade de locomoção, déficit cognitivo e necessidade de ajuda para cuidados. DIAGNÓSTICO · Anamnese: história clínica + comorbidades (HAS, DM, se usa DIU) + hábito intestinal + mobilidade + status mental + antecedentes de patologias neurológicas (AVC) + cirurgias prévias no TUI. · Exame físico: sinais de ICC + patologias neurológicas + restrição de mobilidade (artrite / artrose) + inspeção genitália (mulheres: vaginite atrófica / prolapsos vaginais) + palpação pélvica (presença de massas tumorais, fecaloma, bexigoma) + toque retal (homens: avaliação do volume prostático – obstrução infravesical). OBS: pode-se realizar teste de esforço para comprovação de perdas por esforço. · Diário miccional: anotação durante 3-7 dias do volume urinado + horário de cada micção + presença de perdas urinárias + fatores desencadeantes das perdas. - permite caracterizar as queixas do paciente em relação ao tipo de incontinência e calcular o volume urinário por dia. EXAMES LABORATORIAIS Podem identificar causas transitórias. Solicitar: urina tipo I, urocultura, glicemia e função renal. · Exames de imagem: afastar presença de malformações ou cálculos. Iniciar com US das vias urinárias e, havendo necessidade, solicitar TC ou RM. · Fluxometria livre (homens): afastar ou sugerir obstrução infravesical. - exame não invasivo; - importante a realização em homens que apresentam incontinência por urgência (pode ser secundária obstrução); - presença de fluxo normal exclui incontinência paradoxal; - presença de fluxo > 15mL - 85% de chance de não haver obstrução infravesical. · Estudo urodinâmico: caracterização da queixa do paciente em casos + complexos. - registro gráfico da pressão intravesical e abdominal enquanto a bexiga é preenchida com soro fisiológico. Após o enchimento, paciente é orientado a urinar e faz-se o registro gráfico do fluxo urinário. - pode-se analisar as 2 fases do ciclo miccional (armazenamento e esvaziamento). TRATAMENTO O tto deve ser adaptado para cada indivíduo, principalmente, no caso dos idosos em que há heterogeneidade quando as comorbidades existentes. MEDIDAS GERAIS · Medida inicial: descartar a presença de condições que possam causar incontinência transitória. · Atenção aos cuidados: correção de distúrbios metabólicos que levem a alterações cognitivas; tratar infecções urinárias sintomáticas; realizar reposição hormonal tópica em casos de atrofia vaginal; orientar ingesta hírdrica buscando corrigir excessos; correção de medicamentos (ex: DIU); fazer controle glicêmico; tratar constipação (melhora IU devido ↓ na compressão da bexiga). · O idoso deve sempre ser tratado de forma holística, e não se ater apenas aos sintomas miccionais. · Em casos de ↓ freqüência miccional ou déficit cognitivo realizar miccções de horário. INCONTINÊNCIA PARADOXAL Abordar a causa de eventual obstrução (pp homens) · HPB ao se fazer a desobstrução prostática ocorre a drenagem adequada de urina e a cessação das perdas. · Hipocontratilidade da bexiga (ex: diabéticos) realizar drenagem intermitente de bexiga por meio de autocateterismo de 3-4x/ dia (esvaziamento adequado + ↓ episódios de ITU). INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO/ INCONTINÊNCIA MISTA · Tratamento conservador: medidas comportamentais + fisioterapia (reabilitação assoalho pélvico – melhora sustentação da bexiga) apresentam bons resultados, porém demandam + tempo e uma boa aderência da paciente. · Tratamento cirúrgico: uso de slings de uretra média permite ↑ sustentação e ↓ perdas urinárias. INCONTINÊNCIA DE URGÊNCIA · Tratamento conservador: medidas comportamentais + fisioterapia. Exemplos de medidas comportamentais (necessário ter função cognitiva preservada): - adequação de ingesta hídrica (cerca de 1,5L/dia) –50% dos pacientes apresentam melhora;↓ - micções de horário: paciente orientado a urinar em intervalos fixos de tempo, evitando atingir um volume de urina a ponto de desencadear urgência; - controle da urgência: paciente deve se concentrar na contração do assoalho pélvico, inibindo a urgência e logo após ir ao banheiro e urinar. · Tratamento medicamentoso: anticolinérgicos – oxibutinina (Retemic, Incontinol), tolterodina (Detrusitol), solifenacina (Vesicare) e darifenacina (Fenazic) · Oxibutinina: 2,5 a 5mg, 2-3x/dia (adultos) / 0,2mg/kg/dose, 2x/dia (crianças). - Efeitos colaterais: constipação intestinal, tonturas, alterações cognitivas, boca seca; - cápsulas de liberação lente tendem a ter ↓ efeitos colaterais resultando e maior aderência ao tto. · Tolterodina: 1 a 2mg, 2x/dia. - potente anti-muscarínico ↑ afinidade pelos receptores vesicais; - ↓ risco de interferência cognitiva por excesso de concentração medicamentosa. · Solifenacina: 5 a 10mg/dia em dose única. - medicação de 1ª escolha; - tem ↓ taxa de efeitos colaterais. · Mirabegrona (Myrbetric): beta-3 agonista. Reduz sintomas de freqüência e de urgência devido ao relaxamento da musculatura detrusora, e não a inibição de sua contração. - poucos efeitos colaterais; - atenção pacientes hipertensos devido risco de descompensação. INCONTINÊNCIA URINÁRIA PÓS-PROSTATECTOMIA Ocorre devido: · Lesão no nervo - 10% dos casos; - incontinência devido instabilidade detrusora; - tto: uso de anticolinérgicos. · Lesão direta do esfíncter - 90% dos casos; - incontinência devido ↓ da resistência uretral; - tto: procedimentos que ↑ resistência uretral Fisioterapia assoalho pélvico (↓ eficácia); Casos leves: injeção de colágeno ↑ resistência uretral; Casos severos: · Implantação de sling masculino para ↑ da resistência uretral (taxa de sucesso menor que o esfincter artificial); · Implantação de esfíncter artificial – prótese comporta por 3 partes conectadas entre si e preenchidas por soro; - O cuff envolve a uretra a nível bulbar. Ele é conectado a uma bomba implantada na parte superior do escroto e a um reservatório implantado no espaço pré-vesical. Todo o sistema é preenchido por soro para que a pressão do reservatório seja transmitida ao cuffe mantenha a uretra ocluída. Ao sentir desejo miccional, o paciente ativa a bomba que transfere o líquido do cuff para o reservatório, permitindo a micção. - Apresenta eficácia de 90%; - Principais complicações: infecção e falência mecânica (até 15% dos casos) Referência: Geriatria Prática Clínica, Duarte PO, Amaral JRG.2020 Editora Manole
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