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Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 HONRA -> Faculdade de apreciação ou o senso que se faz acerca da autoridade moral de uma pessoa, consistente na sua honestidade, no seu bom comportamento, na sua respeitabilidade no seio social, na sua correção moral; enfim, na sua postura calcada nos bons costumes (NUCCI, 2022). CRIMES CONTRA A HONRA (ARTS. 138 A 140, CP) A honra tem sido através dos tempos um direito ou interesse penalmente protegido. Para fins do direito penal brasileiro, a honra é definida e classificada como: HONRA OBJETIVA Julgamento que a sociedade faz do indivíduo. Imagem da pessoa no seio social. HONRA SUBJETIVA Julgamento que a pessoa faz sobre si mesmo, tendo relação direta com dignidade e com decoro. Proteger a honra das pessoas é uma preocupação do Direito Penal brasileiro, razão pela qual tipificou-se os crimes de calúnia, difamação e injúria, nos arts. 138, 139 e 140 do Código Penal. SUJEITOS: Qualquer pessoa pode figurar tanto no polo passivo quanto no polo ativo dos crimes contra a honra. ELEMENTO SUBJETIVO: Deve haver dolo de dano, tanto da honra subjetiva (injúria) quanto da honra objetiva (calúnia e difamação). AÇÃO PENAL: Como regra geral, os crimes contra a honra é de procedibilidade exclusiva de iniciativa privada, salvo nos casos em que o crime for praticado contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro ou contra funcionário público, ou, ainda, quando do crime resulta lesão corporal, hipóteses em que o crime irá ser processado mediante ação penal publica condicionada. Conjunto de qualidades que conferem à pessoa humana respeitabilidade social e estima própria. Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES CONTRA A HONRA: ❖ Crime comum; ❖ Crime de dano; ❖ Formal; ❖ Comissivo; ❖ Instantâneo; ❖ Crime de dano; ❖ Unissubjetivo; ❖ Plurissubsistente; CALÚNIA Caluniar é fazer uma acusação de crime33 falsa, tirando a credibilidade de uma pessoa no seio social34. Pra a configuração da calúnia, é necessário que seja imputado fato certo, com determinação de hora, local e data. Não se configura calúnia apenas mediante xingamento ou ofensa simples. O consentimento do ofendido é inoperante. 33 Imputação de contravenção penal não constitui calúnia. 34 Nucci (2022) define a calúnia como uma difamação qualificada, vez que a honra objetiva da pessoa está sendo atingida. Art. 145, CP: Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, nos casos do art. 140, §2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo Único: Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do §3º do art. 140 deste Código. Art. 138, CP: Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena: Detenção, de seis meses a dois anos, e multa. §1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. EXTENSÃO DO TIPO Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 Para que se configure o crime de calúnia é necessário que estejam presentes: ❖ Imputação de fato determinado qualificado como crime; ❖ Falsidade da imputação; ❖ Animus caluniandi BEM JURÍDICO TUTELADO: Honra objetiva. ANÁLISE SUBJETIVA: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo do crime de calúnia. Inclusive pessoas jurídicas e pessoas inimputáveis também podem ter sua honra objetiva atingida, razão pela qual podem também figurar no polo passivo35. Segundo Bitencourt, os mortos podem ser caluniados. Contudo, os sujeitos passivos serão seus familiares, vez que é sua honra que está sendo ferida. Deve-se lembrar que mortos não possuem honra, nem subjetiva nem objetiva. A calúnia ou a difamação que se pretenda lançar sobre um morte, deslustrando -lhe a memória, ofende a reputação dos vivos sobre a qual virá refletir-se. O que parece afronta à honra do que morreu é agravo à dignidade dos que ficam, dos parentes que sobrevivem e a quem caberá o direito à ação punitiva, no caso o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. - Aníbal Bruno Além disso, o elemento subjetivo do crime é o dolo de dano, não se admitindo a forma culposa. Nesse caso, o dolo consubstancia-se na vontade de ferir a honra objetiva de determinado indivíduo. Nesse caso, é indispensável que o agente tenha conhecimento da falsidade do fato. Além disso destaca-se que, caso o crime seja praticado mediante internet em postagem pública, o crime passará a ter feição permanente. 35 Pessoas jurídicas não podem figurar como sujeitos ativos por faltar-lhe a capacidade penal. CALUNIA (ART. 138, CP) Imputar falsamente fato tido como crime. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA (ART. 339, CP) Imputar falsamente fato tido como crime, gerando instauração de inquérito ou de processo judicial. Art. 138, §2º, CP: É punível a calúnia contra os mortos. Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: A consumação do crime ocorre quando a imputação falsa chega a conhecimento de terceiros, ferindo, assim, a honra objetiva do caluniado. Caso a atribuição se dirija exclusivamente à vítima, comete-se o crime de injúria, afetando a honra subjetiva. Como regra, não se admite a tentativa. Entretanto, isso vai depender da forma como o crime está sendo praticado. Se a pessoa imputou falsamente fato criminoso a alguém, mas isso não chega a terceiros, há uma tentativa. EXCEÇÃO DA VERDADE: Como indicado no caput, o crime de calúnia apenas é configurado quando a imputação e fato criminoso é falsa. Este se trata de um elemento normativo do tipo. A falsidade da imputação pode ocorrer de duas formas: ou o fato não aconteceu ou a pessoa caluniada não foi quem cometeu o fato. De regra, a falsidade é presumida. Nesse sentido, caso seja comprovado que a imputação não seja falsa, não existirá crime, razão pela qual se admite a prova da verdade. Contudo, o Código Penal admite algumas exceções nos incisos o §3º do art. 138: DIFAMAÇÃO Difamar significa desacreditar publicamente uma pessoa, maculando-lhe a reputação. A imputação, nesse caso, mesmo que verdadeira, configura o crime caso ofenda à reputação do sujeito passivo. Para que ocorra a difamação é necessário que o fato seja determinado e que essa determinação seja objetiva. Art. 138, 3º, CP: Admite-se a prova da verdade, salvo: I – Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II – Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III – Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Art. 139, CP: Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação. Pena: Detenção, de três meses a um ano, e multa. Parágrafo Único: A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário publico e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 REPUTAÇÃO -> Estima moral, intelectual ou profissional de que alguém goza no meio em que vive. Assim como diz o parágrafo único do art. 139, o crime de difamação, em regra, não admitirá a exceção da verdade, salvo na hipótese de se tratar de ofensa relacionada ao exercício funcional de funcionário público. Tal exceção se justifica pelo fato de que o crime de injuria contra esse indivíduo em específico, de cerca forma, afeta toda a Administração Pública. BEM JURIDICO TUTELADO: Honra objetiva. CONSUMAÇÃO: A consumação ocorre quando o fato imputado passa a ser de conhecimento de terceiros. INJÚRIA INJURIAR -> Ofender dignidade oudecoro. Manifestação de desprezo e de desrespeito suficientemente idônea para ofender a honra da vítima no seu aspecto interno. A ação típica é variada, podendo dar—se nos formatos verbal, escrito ou real. Admite o meio direto, indireto, oblíquo, simbólico e reflexo. Art. 140, CP: Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena: Detenção, de um a seis meses, ou multa. §1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II – No caso de retorsão imediata, que consistia em outra injúria. §2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes. Pena: Detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. §3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena: reclusão de um a três anos e multa. INJÚRIA SIMPLES INJÚRIA REAL QUALIFICADORA INJÚRIA RACIAL QUALIFICADORA PERDÃO JUDICIAL Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 BEM JURÍDICO TUTELADO: A honra subjetiva, ou seja a visão da pessoa sobre si mesma e sua autoestima. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Em razão do bem jurídico tutelado, a consumação ocorre quando a vítima passa a saber do proferimento da ofensa. A princípio, não se admite tentativa. Contudo, a depender do meio utilizado para injuriar, é possível que ocorra (Bitencourt, 2022). A injúria real, por exemplo, admite a tentativa, quando a violência ou as vias de fato aviltantes não se consumam. A injúria simples por meio da fala não admite a tentativa. SUJEITO PASSIVO: Em regra, qualquer pessoa, mesmo os inimputáveis, podem ser vítimas desse tipo penal. Contudo, Bitencourt destaca que é importante se atentar ao fato de que a vítima deve ter ciência do caráter ofensivo da conduta do agente36. Além disso, ainda se predomina o entendimento de que a pessoa jurídica não possui honra subjetiva e, portanto, não pode ser vítima do crime de injúria. O mesmo caso ocorre com os mortos, que não podem ser injuriados. Ademais, a pessoa vítima da injúria deve ser determinada, embora não seja necessária a sua identificação nominal, sendo suficiente que seja possível a sua identificação com facilidade. Sendo o ofendido funcionário público, e o fato tendo sido praticado na sua presença, e em razão da função, configura- se o crime de desacato (art. 331, CP). EXCEÇÃO DA VERDADE: A exceção da verdade não é admitida no crime de injúria. Isso porque a veracidade ou autenticidade dos juízos depreciativos que maculam a honra subjetiva do ofendido é absolutamente irrelevante para a caracterização da injúria. Não importa o caráter verdadeiro ou falso do que é afirmado explícita ou implicitamente no ato injurioso. Ninguém tem o direito de ofender a dignidade de outrem, por mais precária que esta seja . E no caso não há nenhum interesse de natureza social que se contraponha a esse princípio de ordem pública. A falsidade não 36 “Não há crime quando este não pode sentir-se ofendido por não ser capaz de compreender o agravo” – Aníbal Bruno DIGNIDADE Sentimento da própria honorabilidade ou valor social. DECORO Consciência da própria respeitabilidade pessoal, decência, respeitabilidade que a pessoa merece. Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 é elemento da injúria. Verdadeiro ou falso, o juízo contido na palavra ou gesto ultrajante é ofensa à honra e nem por exceção se admite a prova da verdade. - Aníbal Bruno PERDÃO JUDICIAL: O perdão judicial, nos crimes de injuria, pode ser concedido em duas hipóteses: ❖ Provocação reprovável da vítima – aquele que provoca outra pessoa, injustamente, até tirar- lhe o seu natural equilíbrio, pode ser vítima de uma injúria (NUCCI, 2022). ❖ Retorsão imediata a outra injúria – nessa hipótese, quem proferiu a injúria retorquida deverá ser condenado sem qualquer benefício legal, pois foi sua iniciativa e sua conduta criminosa que se desenvolveu livremente. INJÚRIA REAL: Importante destacar que o que se considera são as vias de fato. Se da ação resultar qualquer tipo de lesão corporal, o dispositivo penal a ser tratado é outro. O que ocorre é que as vias de fato são absorvidas pelo tipo penal. Contudo, na presença de lesão corporal, há de se falar em concurso de crimes., devendo ser cominada também a pena referente à violência cometida. VIOLÊNCIA -> Força física, material, que tenha condições de produzir lesões corporais. VIAS DE FATO -> Atos agressivos, sem animus vulnerandi, dos quais não resultem danos corporais. Violência praticada contra alguém com a intenção de causar-lhe um mal físico, mas sem feri-lo. ALVITANTE -> Humilhante, desprezível. No caso da injúria real, a “retorsão” pode ser considerada uma legítima defesa, caso estejam presentes os requisitos da iminência ou atualidade da injúria que se pretende evitar. Se a injúria já se consumou, há de se falar apenas em retorsão. Segundo Nucci (2022), o próprio conceito de retorsão pode ser entendido como uma modalidade anômala de legítima defesa, independente da espécie de injúria. Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 INJÚRIA RACIAL: A injúria racial, em síntese, é a ofensa direcionada a alguém com fundamento em elementos raciais. Sobre esse tipo penal, é importante se ater ao elemento subjetivo especial, constituído pelo especial fim de discriminar a vítima, com o objetivo de atingir sua honra e a sua dignidade como pessoa humana. A ação penal para esse tipo de crime é pública condicionada. INJÚRIA POR OMISSÃO: Segundo Nucci (2022), é possível que atos omissivos configurem injúria, como no tradicional exemplo da recusa em estender a mão para outra pessoa, o qual pode ser um ato capaz de ofender e constranger o indivíduo. DISPOSIÇÕES COMUNS PARA OS CRIMES CONTRA A HONRA CAUSAS DE AUMENTO DA PENA – FORMAS MAJORADAS Art. 141, CP: As penas cominadas neste Capitulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: I – Contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; II – Contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal; III – Na presenta de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria; IV – Contra pessoa maior de 60 anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria; §1º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro. §2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. A injúria já prevê uma qualificadora para essas hipóteses. Motivo torpe. Em tese, a ofensa dirigida contra funcionário público afetaria toda a Administração. Essas circunstâncias aumentam o potencial de dano da conduta. Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 CAUSAS ESPECIAIS DE EXCLUSÃO DE CRIME Além das causas justificantes de estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever lega e exercício regular de direito, podem existir outras circunstâncias que, excepcionalmente, justifiquem a prática da difamação ou da injúria37. Parte doutrina se refere a essas excludentes como causas de exclusão de pena, mantendo a estrutura criminosa da conduta. Outra parte se refere como causas de exclusão da antijuridicidade, mantendo a tipicidade, mas afastando a contrariedade do direito. Outra, ainda, como causa de exclusão da tipicidade, que complementa a causa anterior. Segundo Bitencourt, o que o art. 142 do CP explicita é que essas circunstânciasse tratam de causas de exclusão de crime, desaparecendo ou a antijuridicidade ou a tipicidade do tipo penal. 37 Essas causas especiais não se aplicam à calúnia. Art. 142, CP: Não constituem injúria ou difamação punível: I – A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II – O conceito desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III – O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Parágrafo Único: Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. Imunidade judiciária. Imunidade funcional, limitada ao objeto do relatório, da informação, da comunicação ou parecer e nos limites do necessário. Érika Cerri dos Santos UFES 2022.1 RETRATAÇÃO A retratação é o ato de desdizer, de retirar o que se disse. Não se confunde com negação ou com negativa de autoria. Pela retratação o agente reconsidera a afirmação anterior e, assim, procura impedir o dano que poderia resultar da sua falsidade. ❖ É admitida apenas na calúnia e na difamação, sendo inadmitida na injúria; ❖ Seus efeitos são apenas eficazes na área criminal, ou seja, não impede que o ofendido busque na área cível a indenização cabível; ❖ Não é exigida qualquer formalidade para a retratação; ❖ É circunstância subjetiva, de caráter pessoal, não se comunicando aos demais participantes na hipótese de concurso de pessoas; ❖ Apenas pode ser realizada ANTES da prolação da sentença. ❖ Apesar de o art. 143 trazer em seu caput o termo querelado, a retratação, segundo a jurisprudência e parte majoritária da doutrina, também pode ser aplicada aos casos de ação penal pública condicionada. PEDIDOS DE EXPLICAÇÕES EM JUÍZO Trata-se de interpelação judicial, uma medida de natureza cautelar, destinada a preparar futura ação penal. Art. 143, CP: O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Parágrafo único: Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-à, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. Art. 144, CP: Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las, ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
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