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Medicina | Larissa Marzagão Ferreira Diabetes melito tipo 2 Introdução A DM é uma doença metabólica caraterizada por uma hiperglicemia resultante de uma secreção deficiente de insulina pelas células beta, resistência à insulina ou ambas. Epidemiologia: a cada 6 segundos uma pessoa morre devido à DM e suas complicações. Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF): 2015 – indivíduos com DM 415 milhões (1 em cada 11 adultos) e a previsão para 2040 seria de 642 milhões (1 a cada 10 adultos). No Brasil, seriam 14,3 milhões de pessoas com DM, sendo uma prevalência de 9,4% (1 em cada 8 adultos). • Esse aumento na prevalência do DM deve- se à maior longevidade das pessoas associada a um crescente consumo de gorduras saturadas, sedentarismo e, consequentemente, obesidade. Grande parte dos pacientes com DM2 são assintomáticos ou oligossintomática, sendo diagnosticados tardiamente quando já são presentes complicações micro e macrovasculares. Isso faz com que morbidade, mortalidade e redução da expectativa de vida sejam duas e três vezes maior nesse grupo. Responsável por 90 a 95% de todos os casos de diabetes, o diabetes tipo 2 (DM2) surge habitualmente após os 40 anos de idade, e a maioria dos pacientes (cerca de 80%) é obesa. Contudo, pode acometer adultos mais jovens, até mesmo crianças e adolescentes. Fatores de risco Obesidade: principalmente a central, havendo uma relação entre maior IMC e maior circunferência abdominal com maior risco de desenvolver DM2. História familiar, raça/etnia (negros e hispânicos), idade (a partir dos 45 anos), diagnóstico prévio de intolerância à glicose, HAS, dislipidemia, história de DMG ou macrossomia fetal, tabagismo e crianças PIG (mecanismos reguladores da tolerância a carboidratos -> maior disponibilidade de nutrientes persistindo por toda a vida -> resistência insulínica). Metabolismo intermediário O metabolismo intermediário é o conjunto de reações e síntese (anabolismo) e degradação (catabolismo) de macromoléculas (proteínas, carboidratos e lipídios). A insulina, sintetizada e secretada pelas células beta das ilhotas pancreáticas, “comanda” o anabolismo, enquanto os hormônios contrarreguladores (principalmente o glugacon) “comandam” o catabolismo. • A fim de manter a homeostase, deve haver um equilíbrio dinâmico entre anabolismo e catabolismo, com pequenas variações em função da disponibilidade de nutrientes (estados pré e pós-prandial). A insulina tem como o principal estímulo para sua síntese e liberação o aumento dos níveis séricos de glicose e o glucagon (sintetizado pelas células alfa das ilhotas pancreáticas) é produzido em resposta à redução dos níveis de séricos de glicose. • A glicose é percebida ao adentrar o citoplasma através dos canais GLUT 1 e 2 que são expressos de forma constitutiva na membrana da célula beta. Ocorre então glicólise e formação de ATP, que promove o fechamento dos canais de potássio ATP- sensíveis, resultando na despolarização celular e consequente influxo de cálcio, principal estímulo a degranulação. o É aqui que os secretagogos (sulfonilureias e glinidas) agem, fechando os canais de potássio ATP-sensíveis. A manutenção dos níveis séricos de glicose é importante por ela ser a grande forte de energia dos neurônios, os quais não são sensíveis à insulina. Eles expressam GLUT1 de forma constitutiva, sendo estritamente dependentes da glicemia. Sem reserva de glicose, o SNC rapidamente entra em colapso na vigência de neuroglicopenia. Não são capazes de realizar betaoxidação (produção de ATP a partir de ácidos graxos). Diante de um déficit extremo de glicose, o fígado produz corpos cetônicos a partir de ácidos graxos, mas isso pode Medicina | Larissa Marzagão Ferreira levar a uma cetoacidose quando há um excesso dessa produção. Durante o estado pós-prandial, a absorção intestinal de nutrientes eleva os níveis séricos de glicose, aminoácidos e lipoproteínas. A glicose então estimula a liberação de insulina que promove dois efeitos básicos: anabolismo e utilização da glicose como principal substrato energético. Nesse estado, predomina o anabolismo, marcado pela síntese de glicogênio hepático e muscular, de triglicerídeos nos adipócitos e de proteínas em todos os tecidos, juntamente á utilização de glicose pela via glioítica como principal substrato energético. Ocorre predomínio da insulina em relação aos hormônios contrarreguladores. A liberação de insulina ocorre em duas fases: • Primeira fase (pico precoce): insulina é liberada a partir de grânulos pré-formados, aumentando seus níveis séricos em torna de 2 a 10 minutos. • Segunda fase (tardia): há aumento da síntese de insulina, que passa a ser secretada de maneira sustentada. No estado pós-prandial (jejum), os níveis séricos de glicose, aminoácidos e lipoproteínas tendem a se reduzir. Há inibição da liberação de insulina visando à manutenção da glicemia, com estimulo à secreção de contrarreguladores, particularmente o glucagon. Há então a ocorrência de dois fenômenos básicos: catabolismo e utilização de ácidos graxos como principal substrato energético. Nesse estado (jejum – interprandial), predomina o catabolismo, marcado por glicogenólise (estoque dura cerca de 24-48h), lipólise e proteólise, com utilização de ácidos graxos e corpos cetônicos (em menor escala) para a produção de energia na maioria das células. Os níveis glicêmicos passam a servir exclusivamente aos neurônios, e são garantidos pela produção hepática de glicose através da gliconeogênese. Tudo isso é devido a um aumento dos hormônios contrarreguladores, com efeito “permissivo” decorrente da queda de insulina. Os substratos para a gliconeogênese provêm do catabolismo de vários tecidos: lactato dos músculos, glicerol do tecido adiposo e aminoácidos da proteólise celular (ex.: glutamina). As incretinas são peptídeos secretados pelo tubo digestivo durante a absorção de nutrientes e têm como função aumentar a secreção pancreática de insulina em resposta à glicose absorvida a partir de uma refeição. • As principais são a GLP-1 e a GIP. Ambas degradadas pela enzima DPP-IV. Muitos diabéticos apresentam uma baixa do “efeito incretínico”, por motivos ainda pouco compreendidos. Novos medicamentos (ex.: sitagliptina, um inibidor daDPP-IV) melhoram o controle glicêmico nesses casos, por aumentar o “efeito incretínico”. Devido à carência de insulina (absoluta ou relativa), o organismo do diabético se comporta como se o paciente estivesse constantemente em estado de jejum, mesmo no período pós-prandial (“fome na abundância”). Desse modo, o catabolismo e a gliconeogênese ficam continuamente estimulados, e a utilização periférica de ácidos graxos (betaoxidação) predomina em relação à glicólise, explicando o surgimento de hiperglicemia crônica (pré e pós- prandial). Fisiopatologia O balanço entre anabolismo e catabolismo ocorre o tempo todo e. na regulação da glicemia, isso se traduz na disputa entre insulina vs hormônios contra regulatórios (glucagon, adrenalina, cortisol e GH/IGF-1). Quando ocorre alterações nesse delicado equilíbrio, pode ocorrer aumento da glicemia. Os mecanismos que culminam na hiperglicemia são múltiplos e são conhecidos como octeto ominoso de DeFronzo: Medicina | Larissa Marzagão Ferreira Temos uma interação entre fatores genéticos e ambientais. Indivíduos geneticamente propensos têm maior chance de desenvolver DM tipo quando expostos a ganho de peso e inatividade física, eventos que acarretam resistência à insulina. A hiperglicemia crônica, juntamente com a hiperlipemia, agrava a resistência insulínica e o déficit secretório (efeitos “glicotóxico” e “lipotóxico”), gerando um ciclo vicioso que evolui com descompensaçãometabólica progressiva. A resistência insulínica é o mau funcionamento de enzimas relacionadas à transdução do sinal da insulina; assim, o receptor de insulina, em vez de fosforilar a tirosina, ativa a serina, diminuindo a translocação do GLUT4 para a membrana celular e, portanto, prejudica a eficácia da captação de glicose pelos tecidos periféricos. • A RI faz com que haja menor inibição da lipólise e da gliconeogênese hepática, ou seja, o fígado não percebe a glicose e, com isso, aumenta a sua produção (a metformina normaliza essa via patogênica). • Esse mecanismo pode ser explicado pela toxicidade dos ácidos graxos livres: os depósitos de gordura centrípeta (abdome e tórax) têm comportamento biológico diferente da gordura mais periférica (quadril e membros). A gordura central é mais lipolítica, e promove maior liberação de ácidos graxos livres na circulação! Estes, por sua vez, são captados e se acumulam em tecidos como o fígado e os músculos. O excesso de ácidos graxos livres dentro da célula seria capaz de alterar o funcionamento de enzimas relacionadas à transdução do sinal da insulina, diminuindo a eficácia do processo. Além disso, os portadores de DM2 tem efeito reduzido das incretinas: • As principais incretinas são os hormônios GLP-1, produzidos pelas células L, no íleo e no cólon, e o GIP, sintetizado pelas células K, no duodeno e na primeira porção do jejuno. Esses hormônios “conversam” com o pâncreas, estimulando a produção de insulina, e têm efeitos sacietógenos no SNC. Nas fases mais avançadas, ocorre algum grau de destruição das células beta, momento em que costuma ser necessário insulinizar o paciente. • A explicação é a seguinte: à medida que a resistência à insulina progride, forçando a célula beta a sintetizar mais insulina, ocorre acúmulo intracelular de uma substância cossintetizada – a amilina. Esta se precipita dentro da célula beta, formando depósitos amiloides patogênicos. A amilina é secretada pelas células beta junto à insulina. Ela “informa” ao intestino que o pâncreas entendeu que existe alimento no TGI e “reforça” que não é necessário mais comida; assim, há redução do esvaziamento gástrico, além de aumento da saciedade, com diminuição da liberação do glucagon. • Em situações de resistência à insulina, o pâncreas secreta mais insulina e, consequentemente, amilina. O excesso de amilina deposita-se sob a forma de depósitos de substância amiloides no pâncreas e no SNC, levando à falência pancreática e aumentando o risco de doença de Alzheimer, respectivamente. Quadro clínico Os pacientes podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos e só procurarem ajuda quando iniciarem as manifestações de LOA. Podem estar presentes sintomas de hiperglicemia: Medicina | Larissa Marzagão Ferreira • Poliúria; • Polidipsia; • Polifagia; • Perda de peso; • Turvação visual; • Complicação aguda (CAD – raro – ou EHH); • Tendência a infecções: candidíase vaginal, balanoposite, infecções cutâneas e/ou dificuldade de cicatrização. Diagnóstico Critérios Normal Pré-DM DM2 Glicemia de jejum <100 100 a 125 >126 Glicemia 2h após TOTG <140 140 a 199 >200 HbA1c <5,7 7,7 a 6,4 >6,5 A confirmação do diagnóstico requer repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame alterado em segunda amostra de sangue, na ausência de sintomas inequívocos de hiperglicemia. Pacientes com critérios para rastreamento de DM com glicemia de jejum entre 100 e 126mg/dL devem realizar TOTG para descartar o diagnóstico de DM estabelecida. Recomendações: 1. No indivíduo assintomático, É RECOMENDADO utilizar como critério de diagnóstico de DM a glicemia plasmática de jejum maior ou igual a 126 mg/dl, a glicemia duas horas após uma sobrecarga de 75 g de glicose igual ou superior a 200 mg/dl ou a HbA1c maior ou igual a 6,5%. É necessário que dois exames estejam alterados. Se somente um exame estiver alterado, este deverá ser repetido para confirmação. 2. Na presença de sintomas inequívocos de hiperglicemia, É RECOMENDADO que o diagnóstico seja realizado por meio de glicemia ao acaso ≥ 200 mg/dl. 3. DEVE SER CONSIDERADO estabelecer o diagnóstico de DM na presença de glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl e HbA1c ≥ 6,5% em uma mesma amostra de sangue. 4. É RECOMENDADO sempre considerar fatores clínicos e interferentes laboratoriais na interpretação dos resultados dos exames solicitados para diagnóstico de DM e pré- diabetes. a. Situações propensas a incongruências na HbA1C: variantes de Hb, hemoglobinopatias, deficiência de G6PD, gestação e período puerperal, anemias agudas, transfusões sanguíneas, uso de drogas antirretrovirais, IRC dialítica, uso de eritropoetina humana recombinante. Rastreamento: 5. É RECOMENDADO o rastreamento para todos os indivíduos com 45 anos ou mais, mesmo sem fatores de risco, e para indivíduos com sobrepeso/obesidade que tenham pelo menos um fator de risco adicional para DM2. 6. A repetição do rastreamento para DM e pré- diabetes DEVE SER CONSIDERADA em intervalos de, no mínimo, três anos. Intervalos mais curtos podem ser adotados quando ocorrer ganho de peso acelerado ou mudança nos fatores de risco. 7. Em adultos com exames normais, porém mais de um fator de risco para DM2, DEVE SER CONSIDERADO repetir o rastreamento Medicina | Larissa Marzagão Ferreira laboratorial em intervalo não superior a 12 meses. 8. É RECOMENDADO fazer rastreamento para diabetes nos pacientes que apresentem comorbidades relacionadas ao diabetes secundário, como endocrinopatias e doenças pancreáticas, ou com condições frequentemente associadas ao DM, como infecção por HIV, doença periodontal e esteatose hepática. 9. É RECOMENDADO que pacientes que irão iniciar medicações com potencial efeito hiperglicemiante, como glicocorticoides ou antipsicóticos, sejam rastreados para diabetes antes e após o início do tratamento. 10. É RECOMENDADO realizar triagem para DM2 em crianças e adolescentes com 10 ou mais anos de idade ou após início da puberdade que apresentem sobrepeso ou obesidade, e com, pelo menos, um fator de risco para detecção de DM2. Diabetes melito gestacional: • DMG no 1TM sugere-se investigar DM preexistente por meio dos exames habituais. Gestantes com diagnóstico de DM no 1TM devem ser consideradas tendo DM preexistente. • O valor de corte da glicemia em jejum na gestação é < 92mg/dL em qualquer fase. • Toda mulher com glicemia de jejum < 92mg/dL inicial deve ser submetida ao TOTG entre 24 e 28 semanas, sendo o diagnóstico de DMG estabelecido quando no mínimo um dos valores a seguir encontrar-se alterado: o Glicemia em jejum ≥ 92 mg/dL; o Glicemia 1 hora após sobrecarga ≥ 180 mg/dL; o Glicemia 2 horas após sobrecarga ≥ 153 mg/dL Prevenção Para pacientes que, nos exames de rastreamento para DM2, tiveram glicemias de jejum entre 100 e 125 mg/dL, glicemias de 2 horas pós-sobrecarga entre 140 e 200 mg/dL ou, ainda, HbA1c entre 5,7 e 6,5%. Esse conjunto de pacientes apresenta pré- diabetes, condição que não caracteriza uma patologia em si, mas uma condição de alto risco para o desenvolvimento de DM2. As medidas não farmacológicas incluem modificações da dieta alimentar e atividade física, constituindo, portanto, mudanças do estilo de vida. • Dieta: dieta alimentar para perda de, em média, 7% do peso inicial ao longo de 6 meses, ao ritmo de 0,5 a 1,0 kg/mês. o O cálculo da dieta prescrita considerou um déficit entre 500 e 1.000 calorias/dia em relação ao total necessário para manter- -se o peso, com retirada preferencial das gorduras saturadas. o Estudos observacionais apontam que alguns alimentos como nozes, iogurte, frutasvermelhas, café ou chá estão associados a um menor risco de desenvolver DM2, enquanto outros como carnes vermelhas e refrigerantes adoçados estão associados a um risco maior. • Atividade física: atividade física aeróbica moderada (tipicamente, caminhar rápido) por 150 minutos/semana, distribuída em pelo menos três sessões. Cada sessão de exercício deve durar mais que 10 minutos e não passar de 75 minutos. Medidas farmacológicas: uso de metformina é recomendado para pacientes muito obesos (IMC > 35 kg/m2 ), com passado de diabetes gestacional, Medicina | Larissa Marzagão Ferreira com mais hiperglicemia (HbA1c > 6%) ou para aqueles nos quais a HbA1c aumenta mesmo com as mudanças do estilo de vida.2,20 • Nesses pacientes, deve-se considerar o monitoramento periódico dos níveis séricos de vitamina B12, especialmente se eles apresentarem anemia ou neuropatia periférica. Tratamento: metas Os parâmetros de avaliação indicados são a HbA1c e as glicemias capilares (ou plasmáticas) determinadas em jejum, nos períodos pré- prandiais, 2h após as refeições e ao deitar. A vida média da hemácia dura de 3 a 4 meses. Aproximadamente 50% da taxa de HbA1c corresponde à glicação ocorrida no mês que precedeu o exame, sendo 25% no mês anterior e os 25% restantes, relativos ao terceiro e quarto meses anteriores. Manter HbA1c <7% em todos os indivíduos saudáveis desde que não incorra em hipoglicemias graves e frequentes. Alvos glicêmicos menos rígidos devem ser considerados em pacientes com: • Menor expectativa de vida; • Comorbidades limitantes, especialmente: neoplasia avançada, doença cardiovascular, doença renal do diabetes avançada; • Risco de hipoglicemia grave ou não percebida; • Função cognitiva comprometida; • Capacidade funcional comprometida; Quanto ao número de glicemias capilares necessárias para um bom controle metabólico, o mínimo seriam quatro medidas ao dia, sempre antes das refeições principais, ao deitar e, idealmente, antes e 2 horas depois das refeições para ajuste da insulina bolus (portanto, um total de seis vezes ao dia), havendo pelo menos uma vez por mês uma medida de madrugada (entre 3 e 4 horas). • Medida de 4 ou 6 pontos. Considerar viabilidade e condição financeira do paciente. Medicina | Larissa Marzagão Ferreira Mulheres com intenção de engravidar e gestantes: • Para engravidar, o HbA1c deve estar o mais próximo possível de valores normais, sem a ocorrência de hipoglicemias. Se HPLC disponível, manter HbA1c 6%. • Se HbA1c > 9&% -> evitar gestação até melhor controle glicêmico. • Mulher com DM pré-gestacional: medir HbA1c na primeira consulta pré-natal. • Pode ser considerado medir a HbA1c mensalmente na mulher com DM pré- gestacional até que valores < 6% sejam atingidos, quando então poderá ser avaliada a cada dois ou três meses. • É recomendado o automonitoramento diário da glicemia capilar, iniciando logo após o diagnóstico do DMG, devendo ser mantido até o parto. o Gestantes em tratamento não farmacológico devem realizar perfil de quatro pontos (em jejum, uma hora após café, uma hora após almoço e uma hora após jantar). o Gestantes em tratamento farmacológico devem realizar perfil de seis pontos (em jejum, uma hora após café, antes do almoço, uma hora após almoço, antes do jantar e uma hora após jantar). • Mulheres com DM pré-gestacional: automonitorização da glicemia capilar antes e uma hora após as três principais refeições, ao deitar-se e, esporadicamente, entre 2h e 4h da manhã. Tratamento não farmacológico Orientação nutricional O controle metabólico é apontado como a pedra angular do manejo do diabetes, pois alcançar um bom controle reduz o risco de complicações microvasculares e pode, também, minimizar as chances de doenças cardiovasculares. De modo semelhante, melhorar os níveis pressóricos e de lipídios pode ser eficaz na redução de eventos cardiovasculares. As escolhas alimentares promovem efeito direto sobre o equilíbrio energético e, por conseguinte, sobre o peso corporal e os níveis pressóricos e de lipídios plasmáticos. No Brasil, o Guia Alimentar para a População Brasileira sugere a mistura ≥Arroz com feijão≥ como a base da alimentação por apresentar excelente combinação de aminoácidos, além do incentivo ao consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias em vez de alimentos ultraprocessados, com vistas ao consumo saudável e ao combate à obesidade. Medicina | Larissa Marzagão Ferreira A dieta no DM2 tem como principal objetivo corrigir de forma paulatina e permanente a obesidade, trazendo o IMC para 20-25kg/m2, uma vez que a perda de 5 a 10% do peso já traz potencial benefício metabólico (se relaciona à melhora da resistência à insulina). Deve-se reduzir a ingesta calórica e manter alimentação balanceada: 15% de proteínas, 25% de gorduras e 60% de carboidratos. Idealmente consumir zero de gordura trans e menos de 200mg de colesterol ao dia. Trocar açúcar por adoçante, evitar bebidas adoçadas, preferir carboidratos complexos e de baixo índice glicêmico. Aumentar a ingestão de fibras (14g de fibras para cada 1.000 kcal da dieta). Para adultos com diabetes, a ingestão diária de álcool deve ser limitada a uma dose ou menos para mulheres e a duas doses ou menos para homens. • Entendem-se por uma dose 150 mL de vinho (uma taça), 360 mL de cerveja (uma lata pequena) ou 45 mL de destilados (uma dose com dosador-padrão), medida equivalente a 15 g, em média, de etanol. • Nesses casos, deve ser ingerido com carboidrato durante o consumo da bebida ou antes. Atividade física Avaliar o risco cardiovascular do indivíduo com diabetes tipo 2 que vai iniciar exercício é fundamental para a segurança e prevenção de eventos adversos. • Risco baixo: homens < 38 anos e mulheres < 46 anos sem estratificadores de risco. • Risco intermediário: homens 38-49 anos e mulheres 46-56 anos sem estratificadores de risco. • Risco alto: • Risco muito alto: Pré-diabéticos: 150 minutos de atividade física aeróbica de moderada intensidade. DM2: exercícios combinados resistidos (pelo menos 1 ciclo de 10 a 15 repetições de 5 ou mais exercícios, duas a três sessões por semana, em dias não consecutivos) e aeróbicos (no mínimo 150 minutos semanais de moderada ou equivalente de alta intensidade, sem permanecer mais do que dois dias consecutivos sem atividade). É recomendando que idosos também pratiquem treinos de equilíbrio e flexibilidade com o objetivo de redução de quedas. Exercícios recomendados: • Resistido: musculação, exercícios com elásticos, exercícios usando o peso corporal como sobrecarga. • Aeróbico: caminhada, corrida, natação, bicicleta. Medicina | Larissa Marzagão Ferreira Restrições: • Neuropatia periférica sensitiva: evitar exercícios com impacto repetido sobre os pés, como caminhada e corrida. Preferir hidroginástica, natação, bicicleta estacionária. • Retinopatia: evitar exercícios de alta pressão, como levantamento de peso, e lutas, esportes com raquete e de alta intensidade. Tratamento farmacológico Notas sobre a metformina: • A dose da metformina deverá ser reduzida em 50% quando a taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) estiver entre 30-45 mL/min/1,73m2 e o tratamento deverá ser interrompido se a TFGe estiver abaixo de 30 mL/min/1,73m2, devido ao risco de acidose lática. • Os níveis de vitamina B12 deverão ser avaliados anualmente após 4 anos de início da metformina em função do risco de deficiência9, e repostos, se necessário. Em pacientes DM2sem tratamento, e com HbA1c entre 6,5% e 7,5%, a terapia inicial poderá ser opcionalmente dupla, incluindo metformina e um inibidor de DPP-4 para atrasar a progressão do diabetes tipo 2. A decisão do uso do segundo agente antidiabético deve ser individualizada, considerando eficácia, risco de hipoglicemia, proteção cardiovascular, proteção renal, efeito sobre o peso, tolerabilidade, custo, potenciais efeitos adversos e preferência do paciente. No caso de opção pelo uso de uma sulfonilureia, as de segunda geração, como a Gliclazida MR e a Glimepirida, têm preferência pelo seu menor potencial para causar hipoglicemia. Em adultos com DM2 sintomáticos (poliúria, polidipsia, perda de peso) e que apresentam HbA1c > 9% ou glicemia de jejum ≥ 250 mg/dl, a terapia à base de insulina é RECOMENDADA para melhorar o controle glicêmico, mesmo que de forma transitória. Proteção renal: • Em adultos não gestantes com diagnóstico recente de DM2, sem doença renal estabelecida, deve-se considerar para proteção renal: inibidor do SGLT2* ou receptor GLP-1. Proteção cardiovascular primária: • Adultos não gestantes com DM2 sem doença cardiovascular clinicamente estabelecida, mas com doença aterosclerótica subclínica detectada por método de imagem: agonistas do receptor GLP-1 (GLP-1 RA - Liraglutida, Semaglutida e Dulaglutida). Medicina | Larissa Marzagão Ferreira • Adultos não gestantes com DM2, sem doença cardiovascular aterosclerótica estabelecida: inibidores do SGLT2. • Adultos com DM2 e doença cardiovascular aterosclerótica estabelecida: inibidor do SGLT2 ou agonistas do receptor GLP-1 associado à metformina*, independentemente dos níveis de HbA1c, OU empagliflozina ou liraglutida. • Adultos com DM2 e DCV estabelecida, com a HbA1c acima da meta apesar da terapia dupla: terapia tripla* OU combinação de metformina, inibidores do SGLT2 e agonistas do receptor GLP-1, desde que não haja contraindicações. Recomendações gerais com base nos objetivos de controle glicêmico:
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