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Mieloma Múltiplo - Atualmente o termo mais correto é Mieloma de Células Plasmáticas - Definição breve: Proliferação maligna clonal de plasmócitos na medula óssea que, na grande maioria das vezes, secretam imunoglobulinas - É considerada uma gamopatia monoclonal maligna → As gamopatias monoclonais são um grupo de doenças caracterizadas pela proliferação de um único clone de plasmócitos que produzem uma proteína monoclonal (M) homogênea - As manifestações clínicas têm relação com o tumor, seus produtos e com a resposta do hospedeiro. - A causa do mieloma múltiplo ainda não é bem estabelecida. → Numerosos vírus e outros agentes infecciosos têm sido relacionados à patogênese do mieloma múltiplo, mas os mecanismos ainda não foram elucidados Epidemiologia - 1% de todas as doenças malignas - 2ª neoplasia hematológica mais frequente - 10-15% das neoplasias hematológicas - Mediana de idade ao diagnóstico: 65 anos - Homens > Mulheres (1,4 : 1) - Negros > Brancos (2-3 : 1) - Exposição: asbesto, pesticidas, petróleo, borracha, radiação. - Maior incidência em grupos familiares - Participação viral (HHV-8, EBV, HIV) ?? → A frequência do mieloma múltiplo na população é fortemente influenciada pela idade, raça e acesso a bom atendimento da saúde → No Brasil, a incidência de mieloma múltiplo é praticamente desconhecida, uma vez que a doença não aparece nas estimativas anuais fornecidas pelo INCA Anatomia das imunoglobulinas Patofisiologia - Alterações genéticas que levam ao acúmulo de plasmócitos malignos → ganho e perda de vários cromossomos → anormalidades estruturais - Mudanças no microambiente da medula óssea que levam ao crescimento tumoral → Crescimento estimulado por IL-6 → A proliferação e a sobrevida das células do mieloma são dependentes do microambiente - Falência do sistema imune para controlar a doença Quadro clínico TRÍADE PRINCIPAL - Dor óssea (50-90%) → Geralmente localizada nas costas e tórax (esqueleto axial) → Provocada pela proliferação de cél do mieloma, que ativam osteoclastos e levam a intensa reabsorção óssea - Fadiga - Anemia (60%) → Ocupação da medula óssea e deslocamento dos precursores eritrócitos da MO → Produção de fatores inibitórios (citocinas) da eritropoese no microambiente → Redução da eritropoetina renal OUTROS ACHADOS SUGESTIVOS - Insuficiência Renal (20-60%) → Hipercalcemia decorrente da reabsorção óssea → Nefropatia obstrutiva crônica por cilindros intratubulares formados pelas cadeias leves monoclonais que precipitam → Amiloidose AL (10-15%) → Nefropatia por ácido úrico → Uso frequente de AINEs para a dor - Susceptibilidade a infecções → Incidência é 15x maior em pacientes com MM do que em indivíduos normais → Resulta do comprometimento da resposta humoral, deficiência de imunoglobulinas normais e neutropenia → Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae mais comuns - Proteinúria - Hiperglobulinemia LESÕES ESQUELÉTICAS → Fraturas patológicas → Lesões osteolíticas → Hipercalcemia EXAME FÍSICO → Palidez cutaneomucosa → Febre → Emagrecimento → Redução da estatura: Pode haver redução da altura do paciente de até vários centímetros devido ao colapso vertebral → Deformidades ósseas → Dor à mobilização → Sinais de doença neurológica: o Radiculopatia: compressão da medula espinhal ocorre em até 10% dos pacientes o Atinge geralmente coluna lombar, torácica e sacro o Pode levar à parestesias ou plegia Investigação diagnóstica LABORATORIAL - Hemograma com plaquetas e hematoscopia → Anemia normocítica e normocrômica → Leucopenia → Plaquetopenia → Rouleaux eritrocitário → Plasmócitos circulantes - VHS - Coagulograma - Bioquímica (glicose, ureia, creatinina, eletrólitos, proteínas totais/frações, DHL, AST, ALT, fosfatase alcalina, ácido úrico) - Dosagem de imunoglobulinas séricas → IgG (55%) → IgA (25%) → Cadeias leves (kappa e lambda) (13%) → IgD (1%) → Biclonal (2%) → Não secretor são raros - Beta-2 microglobulina - Proteinúria de 24h - Eletroforese e imunofixação de proteínas séricas e urinárias → fundamental para detectar a presença de proteína M no soro ou na urina - Dosagem sérica de cadeias leves livres - Aspirado e biópsia de medula óssea (imunofenotipagem, cariótipo e FISH) → O aspirado da MO mostra um aumento dos plasmócitos, que constitui 10% ou mais das células nucleadas EXAMES DE IMAGEM - Radiografia simples → Mostram lesões líticas em saco-bocado → Osteoporose → Fraturas → Locais mais acometidos: vértebras, crânio, arcos costais, pelve e porção proximal do úmero e do fêmur - RNM → Útil na investigação dos pacientes com dor óssea sem alterações na radiografia → Avalia extensão da infiltração da MO → Auxilia na avaliação da resposta ao tto - TC → Identifica lesões líticas do esqueleto antes da radiografia → Não é superior à RNM Diagnóstico CRITÉRIOS MÍNIMOS ✓ MO com > 10% de plasmócitos OU ✓ Plasmocitoma confirmado por biópsia + PELO MENOS 1 DOS SEGUINTES: ✓ proteína M no soro (geralmente > 3 g/dL); ✓ proteína M na urina ✓ lesões ósseas líticas Diagnóstico diferencial - Metástases ósseas de tumores sólidos - Gamopatia monoclonal de significado incerto - Mieloma Múltiplo assintomático - Plasmocitoma solitário - Mieloma Múltiplo não secretor - Leucemia de células plasmacíticas Estadiamento e prognóstico Tratamento - A terapia deve ser instituída quando houver: • anemia significativa • hipercalcemia • insuficiência renal • ocorrência de lesões ósseas líticas • achado de plasmocitomas extramedulares - Opções terapêuticas modificadoras da doença: • Agentes alquilantes • Corticóides (dexa e prednisona) • Antaciclinas • Inibidores de proteossoma • Imunomoduladores (talidomida, lenalinomida, pomalinomida) • Inibidores da histona deacetilase • Anticorpos monoclonais • Inibidores da exportina nuclear - Pacientes elegíveis para transplante de medula óssea (TMO) ✓ Idade mais jovem ✓ Bom desempenho ✓ Pouco ou nenhum problema médico comórbido - Indicações de internação hospitalar → Dor intensa de difícil controle → Fraturas patológicas → Injúria renal aguda → Hipercalcemia → Suspeita de SCM (sínd. de compressão medular) → Início de tratamento Caso clínico Homem, 68 anos, advogado aposentado, chega à enfermaria de CM, encaminhado do pré operatório da uro para investigar anemia, com queixa de dores na coluna e na bacia havia seis meses, de caráter progressivo e, nos últimos dois meses, associado à fadiga, palidez, dispneia aos médios esforços e redução do volume urinário. O filho do paciente relata que seu pai vem ficando mais corcunda nos últimos dois anos. Estava usando nimesulida havia duas semanas, sem melhora significativa. Refere cálculos renais diagnosticados havia seis meses e dificuldade para urinar (jato partido e gotejamento pós-miccional) nesse mesmo período. Ao exame, encontra-se com estado geral comprometido, fáscies de dor ao levantar da cadeira, palidez cutâneo-mucosa (++/3+), edema pré-tibial (+/3+), afebril, sem adenopatias periféricas. Dor à palpação vertebral na transição tóraco-lombar, sem déficites de força grosseiros. Restante do exame, sem alterações significativas.
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