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Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 119 8 Relatório de impacto ambiental (Rima) O relatório de impacto ambiental (Rima) é um documento de suporte à partici- pação pública que integra o Estudo de Impacto Ambiental, descrevendo-o de forma coerente e sintética, com uma apresentação acessível. O Rima deve ser apresentado de modo objetivo e adequado à sua compreensão, ilustrado com mapas, cartas, quadros, tabelas e demais formatos de comunicação. Neste capítulo serão apresentados aspectos do Rima, dando enfoque às formas de apresentação dos meios físico, biológico e socioeconômico. Ressalta-se que as formas de apresentação mencionadas são baseadas em termos de referência, abrangendo de forma geral os formatos básicos. Relatório de impacto ambiental (Rima)8 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental120 8.1 Formas de apresentação ao meio físico Conforme a Resolução Conama 01/86, em seu artigo 9°, o relatório de impacto ambien- tal refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo, as seguin- tes informações para fins de apresentação para os meios físico, biótico e socioeconômico: I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais; II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, espe- cificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de in- fluência, as matérias-primas, e mão de obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados; III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do projeto; IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação; V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, compa- rando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização; VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em rela- ção aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evita- dos, e o grau de alteração esperado; VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comen- tários de ordem geral). Parágrafo único. O Rima deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessí- vel, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comu- nicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as consequências ambientais de sua implementação. (BRASIL, 1986) Para o meio físico, as seguintes informações e os seguintes formatos deverão compor o Rima: Climatologia – Um dos ramos da Geografia Física que, segundo Pédelaborde (1970, p. 5), estuda “os caracteres da atmosfera em contato com a superfície terrestre e a distribuição espacial desses caracteres” (apud ZAVATTINI, BARROS, 2009). Para isso, relaciona-se com outras áreas da Geografia Física, da Geografia Humana e da Geografia Biológica, uma vez que as caracterís- ticas do complexo atmosférico encontram-se diretamente ligadas à existência e à articulação de Relatório de impacto ambiental (Rima) Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 8 121 todas as outras características da superfície terrestre, determinando as condições físicas sob as quais foram produzidos (ZAVATTINI, BARROS, 2009, p. 256). Esse indicador deverá apresentar, resultante de seus estudos, dados sobre balanço hí- drico edafológico, representados em gráficos e tabelas. Geologia – É a ciência natural que, por meio das ciências exatas e básicas (Matemática, Física e Química) e de todas as suas ferramentas, investiga o meio natural do planeta, interagin- do inclusive com a Biologia em vários aspectos. Geologia e Biologia são as ciências naturais que permitem conhecer o nosso habitat e, por consequência, agir de modo responsável nas atividades humanas de ocupar, utilizar e controlar os materiais e os fenômenos naturais (TOLEDO, 2002). Esse indicador deverá apresentar, resultante de seus estudos, dados sobre unidades geológicas presentes na área de estudo, representadas em gráficos e tabelas, como, por exemplo, o Quadro 1, que está representado hipoteticamente. Quadro 1 – Exemplo de unidade geológica a ser identificada. Período (Idade) Símbolo / formação geológica Litologias Mesozoico (Jksg) Formação Serra Geral (Unidade aquífera Serra Geral) Basaltos toleíticos em derra- mes tabulares superpostos e arenitos intertrapianos. Fonte: Elaborado pelo autor. Geomorfologia – É a ciência que estuda a gênese e a evolução das formas de relevo so- bre a superfície da Terra, as quais são resultantes de processos atuais e pretéritos ocorridos nos litotipos existentes. Esse indicador deverá mostrar dados sobre as formas do relevo presentes na área de estudo representados em gráficos e tabelas, como, por exemplo, o hipotético Quadro 2. Quadro 2 – Exemplos de formas de relevo que podem ser encontradas nos estudos. Convenção Características gerais Relevo colinoso Colinas amplas Colinas médias Relevo de morrotes Morrotes alongados e espigões Fonte: Elaborado pelo autor. Pedologia – Como ramo da Ciência do Solo, trata de estudos relacionados à identifi- cação, à formação, à classificação e ao mapeamento dos solos. As informações geradas por esses estudos pedológicos, além de sua utilização pelos demais ramos da Ciência do Solo, encontram aplicação nas mais diversas áreas da ciência (KER et al., 2012). Esse indicador deverá apresentar, resultante de seus estudos, dados sobre os tipos de solos presentes na área de estudo representadas em gráficos, mapas e tabelas, como, por exemplo, o Quadro 3, que traz uma situação hipotética. Relatório de impacto ambiental (Rima)8 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental122 Quadro 3 – Exemplo de tipos de solo que podem ser encontrados nos estudos. Tipos de solos Sigla Descrição do solo Latossolos vermelhos LV São solos muito profundos, cuja diferenciação de horizontes é modesta, formados por materiais de origem muito diversa. Planossolo háplico SX2 Háplicos distróficos a moderado e proeminente, tex- tura arenosa/média e arenosa/argilosa + organosso- los háplicos distróficos textura argilosa, todos rele- vos de várzea. Fonte: Elaborado pelo autor. Suscetibilidade à erosão – As atividades humanas constituem o principal fator na defla- gração dos processos erosivos. Desde o impacto inicial, causado por desmatamentos e outras formas de desestruturação do meio, há uma ruptura no equilíbrio natural dos meios físico e biótico. As erosões normais, próprias da evolução da paisagem, cedem lugar à erosão acelera- da, resposta incontinente de um meio na busca de novas condições de estabilidade Esse indicador deverá mostrar dados sobre a erosividade presente na área de estudo, repre- sentados cartas (mapas) de erosividade das chuvas, como, por exemplo, a hipotética Figura 1. Figura 1 – Classes de susceptibilidade à erosão, Bacia Hidrográfica do Alto Jamari (RO), geradas pelo modelo multicritério aditivo. Fonte: VALLADARES, et al., 2012, p. 1.380. Adaptado. Recursos hídricos – O gerenciamento no uso dos recursos hídricos inclui o conheci- mento do regime fluviométrico de determinado curso d’água, que é necessário para se fazer um balanço de disponibilidade de água e demandas ao longo do tempo. O escoamento Relatório de impacto ambiental (Rima) Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 8 123 superficial das águas normalmente é medido ao longo dos cursos d’água, obtendo-se valo-res de diversos anos consecutivos, criando uma série histórica. Esse indicador deverá mostrar dados sobre os recursos hídricos superficiais e subterrâ- neos na área de estudo, representados em gráficos e tabelas, como, por exemplo, os hipoté- ticos Quadros 4 e 5. Quadro 4 – Exemplo de recursos hídricos superficiais presentes na área de estudo. Nome do curso d´água Bacia hidrográfica Enquadramento (qualidade de água) Rio Claro Rio Doce 3 Córrego São Lourenço Rio Doce 2 Fonte: Elaborado pelo autor. Quadro 5 – Exemplo de recursos hídricos subterrâneos presentes na área de estudo. Aquífero Profundidade (metros) Guarani 1 000 Serra Geral 450 Fonte: Elaborado pelo autor. Qualidade das águas – Nesse indicador são obtidos dados das principais variáveis sa- nitárias, como: condutividade, turbidez, nitrato, nitrogênio amôniacal, oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de oxigênio (DBO 5,20), fósforo total, coliformes termotoleran- tes e clorofila A. Devem ser descritas as porcentagens de resultados não conformes em re- lação aos padrões de qualidade estabelecidos pela Resolução Conama 357/2005, bem como a comparação com as porcentagens de não conformidade dos últimos 10 anos para metais pesados, toxicidade e número de células de cianobactérias. Tabela 1 – Exemplo hipotético de forma de apresentação do indicador de qualidade das águas. Amostra Condutividade Turbidez Nitrato Nitrogênio amoniacal Etc. 01 73 25 0,92 0,12 ... Fonte: Elaborado pelo autor. Fragilidade natural do meio físico terrestre – O mapa de fragilidade natural deve ser calculado para a área em estudo integrando as cartas (mapas) temáticas anteriores (pedo- lógica, geomorfológica, suscetibilidade a erosão, vulnerabilidade do aquífero e erosividade das chuvas). É utilizado como importante parâmetro de diagnóstico das condições de poten- cial fragilidade natural, segundo um critério qualitativo. Os resultados permitem, ainda, conhecer as limitações agrícolas e ambientais da área de influência do empreendimento. As técnicas conservacionistas que minimizam problemas de erosão e assoreamento passam a ter maior atenção ao planejamento adequado das terras, respeitando as limitações de cada ambiente e, principalmente, as legislações vigentes. Na Figura 2, é possível conhecer um exemplo de mapa de fragilidade natural do terreno. Relatório de impacto ambiental (Rima)8 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental124 Figura 2 – Mapa de fragilidade dos solos. Fonte: FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2012, p. 327. Adaptado. 8.2 Formas de apresentação do meio biótico O meio biótico é caracterizado pelos estudos de fauna e flora e ictiológico. Cada um deles, por possuir características próprias, é apresentado em um relatório de impacto am- biental conforme os detalhamentos apresentados na sequência. Flora – As espécies da flora não estão distribuídas ao acaso, mas sim agrupadas em formações vegetais ou ações por parte da sociedade humana. A vegetação natural de uma paisagem é a forma de agrupamento das espécies vegetais em consonância com o ambiente, incluindo a participação da ação do ser humano na sucessão de seus modos de produção. Uma primeira distinção das fiocenoses (agrupamentos de espécies) pode ser feita com base fisionômica, levando em conta o tipo de estrutura e considerando a flora a partir das formações herbáceas, arbustivas e arbóreas. Entretanto, é mais consistente considerar a ve- getação quando as fiocenoses são vistas, além de sua fisionomia, também sob o aspecto florístico (SOUZA; SAMMARCO, 2014). Apresentação das fitofisionomias – Esse indicador irá representar quais são as for- mações fitofisionomicas da área de estudo, ou seja, quais são as formações ecossistêmicas ocorrentes, sejam elas florestais ou não. Relatório de impacto ambiental (Rima) Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 8 125 As formas de apresentação são por meio de mapas, fotografias e tabelas, contendo in- formações como área, estado de conservação etc. A principal fonte além das referências lo- cais é o Manual Técnico da Vegetação Brasileira (2012)1, editado pelo IBGE, que orienta na definição das formações naturais da área de estudo. No Quadro 6, temos um exemplo hipotético da forma de apresentação das fitofisionomias. Quadro 6 – Forma hipotética de apresentação das fitofisionomias. Amostra Bioma Fitofisionomia Área Estado de conservação 1 Mata Atlântica Floresta estacional semidecidual 250 Estágio secundário 2 Mata Atlântica Floresta ombrófila mista 600 Estágio secundário 3 Cerrado Savana florestada 150 Estágio secundário Fonte: Elaborado pelo autor. Levantamento florístico – Com a finalidade de conhecer quais são as espécies da vegeta- ção natural, é feito o levantamento florístico, que também traz informações sobre a distribui- ção das espécies na paisagem, bem como seus estados de conservação. A forma de apresenta- ção dessa informação é por meio de tabelas e fotos representativas da área de estudo. Quadro 7 – Exemplo de tabela a ser apresentada para o estudo do levantamento florístico. Identificação Nome popular Nome científico Família Ameaça de extinção Bioma Fragmento florestal 1 Açoita-cavalo Luehea grandiflora Tiliaceae Não Mata Atlântica Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 3 – Foto da paisagem de rio com fragmentos de mata ciliar. Fonte: Mykola Gomeniuk/Shutterstock 1 Consulte o manual em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv63011.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2017. Relatório de impacto ambiental (Rima)8 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental126 Indivíduos arbóreos isolados – As árvores isoladas também devem ser estudadas, pois desempenham o importante papel de “trampolins” ecológicos, podendo ser utilizadas para descanso, alimentação e até nidificação de algumas espécies de seres vivos (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). A presença de indivíduos isolados tende a facilitar o fluxo de aves e insetos, essenciais à dispersão e polinização das espécies vegetais nativas regionais. Os in- divíduos isolados, em sua grande parte, apresentam-se como essências florestais potenciais, servindo de matriz para coletas de sementes – uma vez que são de grande porte, reproduti- vamente viáveis, apresentam maior grau de resistência às injurias e possuem facilidade de acesso para coleta. A forma de apresentação desse indicador é a mesma que o levantamento florístico, com tabelas e fotos. Figura 4 – Foto de levantamento de flora. Fonte: Australian Camera/Shutterstock Levantamento faunístico – Nas áreas de estudo devem ser mostrados vertebrados dos grupos aves (avifauna), mamíferos de médio e grande porte (mastofauna), anfíbios e répteis (herpetofauna) e peixes (ictiofauna). Alguns dados secundários sobre a fauna devem ser obtidos em bancos de dados disponíveis, como em literatura especializada. Ictiofauna – Além de serem a maioria em riqueza de espécies, os peixes de pequeno porte de riachos e ribeirões desempenham importantes funções na biota aquática, seja atuan- do em diversos níveis tróficos ou desenvolvendo inúmeras interações biológicas. Assim, o estudo de peixes de riachos representa uma ferramenta importante e informativa no que diz respeito à avaliação de impactos ambientais de grandes empreendimentos. A forma de apresentação das informações para este indicador é por meio de tabelas e fotos. Relatório de impacto ambiental (Rima) Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 8 127 Quadro 8 – Forma de apresentação das informações para a ictiofauna. Ordenamento taxonômico Nome popular Ambiente Registro Characiformes Characidae Aphyocharax dentatusint Pequira Lótico, lentico B Astyanax fasciatus’ Lambari Lótico, lentico C, B Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 5 – Foto de córrego, exemplo de estudo. Fonte: Ivalin/Shutterstock Herpetofauna – Apesar de rica, a herpetofauna é pouco conhecida no Brasil, faltando levantamentos de esforço concentrado e trabalhos sobre a distribuição dessas espécies no ambiente. É neste estudo que seencontram os anfíbios e répteis. A forma de apresentação das informações para este indicador é por meio de tabelas e fotos. Figura 6 – Exemplo de herpetofauna. Fonte: kurt_G/S/Shutterstock. Relatório de impacto ambiental (Rima)8 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental128 Quadro 9 – Exemplo de forma de apresentação de resultados para herpetofauna. Família Espécie Nome popular Ambiente Status Bufonidae Açoita-cavalo Sapo-cururu FO LC Rhinella schneideri Sapo-cururu GE LC Hylidae Dendropsophus elianeae Pererequinha-do-brejo AA LC Dendropsophus minutu Pererequinha-do-brejo GE LC Dendropsophus nanus Pererequinha-do-brejo GE LC Legenda: AA – geralmente associado a ambientes em área aberta e/ou borda de fragmento, áreas de várzea; FO – geralmente associados a ambientes florestais ripários e fragmentos de Floresta Estacional; GE – Pode ser registrado ocasionalmente em área aberta, florestal ou borda; Status: NA = Não avaliado; LC = menos preocupante. Fonte: Elaborado pelo autor. Aves – Classe aves, de acordo com Sick (1997), é uma das mais diversificadas e repre- sentativas em número de espécies dentre os vertebrados terrestres. Por habitarem ambientes variados e apresentarem hábitos característicos que facilitam a sua detecção, as aves são consideradas por muitos autores como excelentes bioindicadoras ambientais, sendo assim ferramenta útil para estudos de ecologia e avaliação ambiental. A forma de apresentação das informações para este indicador é por meio de tabelas e fotos. Quadro 10 – Exemplo de forma de apresentação de estudos sobre aves. Taxonomia Nome popular Forma de registro Odontophorus capueira Uru Bibliográfico Aramides saracura Saracura-do-mato Auditivo Florisuga fusca Beija-flor-preto-de-rabo-branco Visual Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 7 – Exemplos de aves. Fonte: Wilfred Marissen/Shutterstock Fonte: casadaphoto/Shutterstock Relatório de impacto ambiental (Rima) Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 8 129 Mastofauna – Os mamíferos possuem papéis fundamentais na dinâmica do ecossiste- ma, e a extinção local de algumas espécies pode acarretar em certas mudanças na estrutura florestal. Algumas espécies de morcegos, primatas, a anta Tapirus terrestris e o cachorro- -do-mato Cerdocyon thous, por exemplo, são importantes agentes dispersores de sementes, relevantes na regeneração e manutenção da riqueza de espécies arbóreas. A forma de apresentação das informações para esse indicador é por meio de tabelas e fotos. Quadro 11 – Exemplo de forma de apresentação de estudos sobre mastofauna. Taxonomia Nome popular Grau de ameaça IUCN* Brasil SP (estado) Carnivora Canidae Cedocyon thous Cachorro-do-mato Chrysocyon brachyurus Lobo-guará NT VU VU Procyonidae Nasua nasua Quati Procyon cancrivorus Mão-pelada * International Union for Conservation of Nature Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 8 – Exemplo de mastofauna. Fonte: JWKSPhotomancy/Shutterstock Relatório de impacto ambiental (Rima)8 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental130 8.3 Formas de apresentação do meio socioeconômico Os impactos socioeconômicos de um empreendimento podem ser compreendidos como potencializadores de conflitos, geradores de mudanças nas interações sociais dos grupos atingidos e promotores de desorganização da população local, de perda de identidade social e de perda do sentido de pertença. Acarretam transformações diretas no estilo de vida da população, assim como perda de técnicas e matéria-prima da economia artesanal, aumentos dos casos de alcoolismo e prostituição infantil, entre outros. Passa a ser exercida uma pres- são muito forte sobre os recursos naturais, a elevação do custo de vida, os desempregos, o empobrecimento e a migração daquela população quando não se vê o próprio Poder Público dar conta da remoção das famílias, em prol dos grandes empreendimentos. O diagnóstico do meio socioeconômico busca caracterizar a dinâmica socioeconômica da população residente dentro dos limites da área de estudo. Esse diagnóstico deve incluir, entre outros: distribuição espacial das populações humanas presentes nas áreas de impacto direto e indireto do empreendimento; estudos populacionais quantitativos e qualitativos, incluindo as condições de vida da população e as formas de organização social presentes na região (forças e tensões sociais, grupos e movimentos comunitários, lideranças comuni- tárias, forças políticas e sindicais atuantes, associações); expectativas da comunidade com relação ao tipo de atividade pretendida; formas de usos e ocupação do solo em áreas rurais, urbanas e de expansão urbana; infraestrutura de serviços nos municípios envolvidos pelo empreendimento; proximidade com áreas indígenas e outros assentamentos populacionais. Tem como objetivo conhecer e saber qual é o uso que se faz do espaço e dos recursos naturais disponíveis para o seu desenvolvimento. Aspectos históricos, econômicos, sociais e culturais são levantados, descritos e analisados. Com esse diagnóstico, é possível identificar os principais pontos críticos e os conflitos que devem ser solucionados, bem como os aspectos positivos que devem ser potencializados. Histórico e ocupação – A forma de apresentação deste indicador é descritiva, utilizan- do textos tendo como base pesquisa de campo e bibliográfica. Localização e infraestrutura viária – A forma de apresentação deste indicador é a des- crição da localização da área de estudo e sua estrutura viária, fazendo correlação analíti- ca entre as características da estrutura viária e os eventuais benefícios, vetores de pressão. Os dados são apresentados em forma de mapas e descrição analítica. Dinâmica populacional – Tendo como base os estudos do IBGE, são levantadas infor- mações sobre quantidade de pessoas que vivem na região do estudo, bem como sexo, resi- dência em área rural e urbana e as projeções das taxas de crescimento. Essas informações são apresentadas em forma de tabelas, gráficos e descrição analítica, assim como os demais indicadores relacionados a seguir: • densidade demográfica; • índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da área de estudo; Relatório de impacto ambiental (Rima) Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 8 131 • índice de responsabilidade social; • Produto Interno Bruto da área de estudo, descrevendo as dinâmicas econômicas; • sistema de educação presente na área de estudo; • sistema de saúde presente na área de estudo; • infraestrutura básica presente na área de estudo; • infraestrutura de transporte presente na área de estudo; • infraestrutura de equipamentos públicos presente na área de estudo; • uso e ocupação do solo presente na área de estudo; • tendências de uso e ocupação do solo e desenvolvimento econômico presentes na área de estudo; • patrimônio histórico e cultural presente na área de estudo; • patrimônio arqueológico presente na área de estudo; • patrimônio imaterial presente na área de estudo. Um ponto importante nesse tema é que a avaliação dos impactos socioeconômicos é his- toricamente relegada a um segundo plano na estruturação do EIA/Rima, sendo feita de ma- neira imprecisa e incompleta, pois a lógica ainda dominante nessas análises é a positivista. Portanto, deve-se observar e evitar esse erro, a fim de que a análise empreendida com métodos tradicionais atendam à realidade das demandas sociais. Tratando-se da realidade, constata-se que as análises dos impactos socioeconômicos devem refletir os aspectos encontrados nas co- munidades, cumprindo seu papel de mitigar os impactos causados pelos empreendimentos. Assim, para o padrão sustentável buscado na sociedade contemporânea, defende-se a tese de que o alcance da sustentabilidade deve dar importância também aos fatores humanos, isto é, às populações tradicionais resistentes, às populações urbanas e às populações rurais. Ampliando seus conhecimentos A participação popular como instrumento de legitimidade do procedimento de licenciamento ambiental(MIRANDA, 2013) [...] A Constituição Federal vigente conferiu ao meio ambiente o status de direito fundamental. A norma do artigo 225 consagra a proteção e garante a todos o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Registrado-o essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao Poder Público e à sociedade em geral o dever de defendê-lo e preservá-lo. Relatório de impacto ambiental (Rima)8 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental132 De acordo com o artigo 225, §1°, inc. IV, da CF o Poder Público tem o dever de impor, na forma da lei, o estudo de impacto ambiental, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degrada- ção do meio ambiente, não existindo qualquer discricionariedade para a Administração Pública, quanto a exigência ou não o estudo do impacto ambiental, na hipótese de pedido de licenciamento de atividade ou obra potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, sempre que o administrador se encontrar diante de pedido de licença para atividades ou obras com essas características. Os mecanismos de participação direta da população da proteção da qua- lidade ambiental são: Primeiramente a iniciativa popular nos procedimentos legislativos (art. 61, caput e §2°, da CF e arts. 22, inc. IV, e 24, §3°, I, da CE), a realização de referendos sobre leis (art. 14, inc. II, da CF e art. 24, §3°, inc. II, da CE) e a atuação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados dota- dos de poderes normativos. Em segundo lugar, a sociedade pode atuar diretamente na defesa do meio ambiente participando na formulação e na execução de políticas ambien- tais, por intermédio da atuação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de diretrizes e pelo acompanhamento da execução de políticas públicas; por ocasião da dis- cussão de estudos de impacto ambiental em audiências públicas (art. 11, §2°, da Resolução 001/86 do Conama e art. 192, §2°, da CE) e nas hipóteses de realização de plebiscitos (art. 14, inc. I, da CF e art. 24, §3°, 3, da CE). E, finalmente, o terceiro mecanismo de participação popular direta na proteção do meio ambiente é por intermédio do Poder Judiciário, com a utilização de instrumentos processuais que permitem a obtenção da pres- tação jurisdicional na área ambiental (entre todos, o mais famoso deles, a ação civil pública ambiental da Lei 7.347/85). No Brasil, a nível federal, a audiência pública de licenciamento ambiental era prevista na segunda parte do art. 11, §2°, da Resolução 1/86 – Conama: Art. 11 [...] §2° Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental e apresentação do Rima, o estadual competente ou o Ibama ou, quando couber o Município, determinará o prazo para recebimento dos comentários a serem feitos pelos órgãos públicos e demais Relatório de impacto ambiental (Rima) Avaliação de impacto e licenciamento ambiental 8 133 interessados e, sempre que julgar necessário, promoverá a realiza- ção de audiência pública para informação sobre o projeto e seus impactos ambientais e discussão do Rima. Em 1987, a audiência pública mereceu detalhamento pela Resolução 9 – Conama, que disciplinou a finalidade legal, iniciativa, prazos e procedi- mento em matéria ambiental, com destaque para o art. 1°, in verbis: Art. 1° A Audiência Pública referida na Resolução Conama 1/86, tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito [...]. Em 1997 a audiência pública foi confirmada no art. 10, inciso V, da Resolução 237/1997 – Conama, como etapa do procedimento de licencia- mento ambiental, dispondo tal preceito: Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas [...] V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamen- tação pertinente [...]. Assim, o licenciamento ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, que permite ao Poder Público intervir pre- ventivamente no desenvolvimento de obras, planos e atividades que pos- sam pôr em risco o ambiente, exigindo a previsão dos possíveis danos e a criação de condições para minimizá-los, quando inevitáveis. É, portanto, instrumento de controle preventivo, passível de ser acompa- nhado tanto pelo Poder Público quanto pela sociedade. Diante do exposto, infere-se que o licenciamento ambiental se configura como um procedimento de fundamental importância para a efetivação do princípio da supremacia do interesse público de ver preservado o meio ambiente, constituindo-se como mecanismo crucial para a materialização dos princípios do Direito Ambiental e de concretização da norma consti- tucional que prevê como garantia do cidadão o meio ambiente ecologica- mente equilibrado. Relatório de impacto ambiental (Rima)8 Avaliação de impacto e licenciamento ambiental134 Da audiência pública Moreira Neto (1997) conceitua audiência pública como um processo administrativo de participação aberto a indivíduos e a grupos sociais determinados, visando o aperfeiçoamento da legitimidade das decisões da Administração Pública, criado por lei, que lhe preceitua a forma e a efi- cácia vinculatória, pela qual os administrados exercem o direito de expor tendências, preferências e opções que possam conduzir o Poder Público a decisões de maior aceitação consensual. Este instituto tem origem no Direito Anglo-Saxão, sendo denominada public hearings. Gordillo (2003) explica que, tanto no Direito Inglês quanto no Direito Americano, a audiência pública é considerada como parte da garan- tia clássica de audiência prévia, integrante do devido processo legal em sen- tido substancial. Especificamente no Direito Inglês é fundado no princípio da justiça natural, mas precisamente no princípio da ampla defesa; e no Direito Americano é decorrente da garantia do devido processo legal. Portanto, as audiências públicas são canais de participação direta do povo nos planos administrativos e legislativos, em todos os níveis governa- mentais, abertos aos cidadãos individualmente considerados ou organi- zados em associações, pelos quais se exercem os direitos de informação e de manifestação de tendências, de preferências e de opções populares, a respeito de assuntos determinados, com vistas a informar e a orientar os órgãos públicos na tomada de decisões políticas e administrativas, vin- culadas ou não aos seus resultados, nos termos de norma disciplinadora. Para serem efetivados necessitam de uma verdadeira ambiência democrá- tica, preferencialmente deliberativa, posto que esta possibilita a inclusão da discussão sobre a qualidade dos processos decisórios e da construção das preferências dos indivíduos que deles participam, visando em última instância à democratização das políticas públicas. Segundo Moreira Neto (1997) o acolhimento da audiência pública está atrelada ao conceito formal do devido processo da lei, partindo-se da necessária existência de um direito individual que qualquer pessoa tem de ser ouvida em matéria em que esteja em jogo seu interesse, seja con- creto seja abstrato. Ampliando o sentido da afirmação, a audiência pública está ligada ao devido processo legal, não só pelo fato de envolver a existência de um direito individual, mas também de direitos coletivos e difusos, que, em
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