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Endocardite Infecciosa Mayra Alencar ─ A endocardite infecciosa não é uma doença tão comum, e apresenta alta morbimortalidade, por fenômenos tromboembólicos por exemplo, visto sua característica de diagnóstico tardio, o que resulta de sintomas inespecíficos. Conceito: Quadro infeccioso, associado a bactérias e fungos, o qual afeta o endocárdio, geralmente, acomete as valvas cardíacas. Epidemiologia: Nos países desenvolvidos, o aumento dos quadros de endocardite estão associados ao uso de drogas intravenosas, próteses valvares e uso de marcapasso. No Brasil, a febre reumática é a principal condição associada aos quadros de endocardite. Observações: Há na febre reumática um mecanismo de autoimunidade, em que anticorpos e células T do hospedeiro, dirigidas contra estreptocócicos, reage de forma cruzadas ao tecido cardíaco,o que é justificado por um mecanismo de mimetismo entre o tecido cardíaco e o estreptocócicos, principalmente nas estruturas valvares, podendo acarretar reação inflamatória, destruição tecidual e necrose. Dessa forma, com a formação de lesões nas valvas cardíacas, resultado da febre reumática, associado a um quadro de bacteremia, há a possibilidade de um processo infeccioso na parede do endocardio, que acarretará na endocardite. A febre reumática é uma patologia mais comum em crianças, logo, o índice de endocardite é maior para esse grupo. Fisiopatologia LESÃO + BACTEREMIA Observações:Normalmente, o endotélio cardíaco possui um mecanismo de proteção contra a adesão bacteriana e instalação de trombos. 2 Defeito cardíaco → Turbilhonamento sanguíneo → Lesão endotelial (Lesão)→ Depósito de plaquetas e fibrinas → Formação de trombos → Bacteremia→ Colonização bacteriana → Liberação de toxinas → Aumento da lesão do endocárdio → Colonização bacteriana A colonização bacteriana pode ocorrer em direção a parede ventricular, acometimento valvar, e em direção ao lúmen. Neste caso, há a denominada lesão vegetante, que favorece a formação de trombos visto sua facilidade de se romper, o que acarreta os fenômenos tromboembólicos. Visto que nesses trombos também estão presentes bactérias, há além de trombose, a formação de um quadro infeccioso no local. Os êmbolos circulantes resultantes da lesão vegetante, podem ser responsáveis por quadros isquêmicos ou por obstrução de vasos da microcirculação. Para a ocorrência de bacteremia, são necessários mecanismos de porta de entrada, como: - Mucosas, como cavidade bucal - Via parenteral, como foliculite Classificação Aguda - Sintomas mais rápidos e agressivos - < 6 semanas de evolução Subaguda - > 6 semanas de evolução Valvas nativas - Naturais do hospedeiro 3 Valvas protética - Lesões causadas pela própria cirurgia de substituição - Ausência de mecanismos de proteções naturais Fatores de Risco (P/ ocorrência de lesões e bacteremias) ➢ Uso de próteses valvar - Maiores os riscos de lesões ➢ Pacientes dialíticos - Aumento do risco de infecção por bacteremia ➢ Imunossuprimidos - Menor defesa → Bacteremia ➢ Usuários de drogas intravenosas ➢ Valvopatias reumáticas - Devido à agressão endotelial provocada pelo quadro ➢ Uso de dispositivos cardíacos, como marcapasso - Possibilidade de microtraumatismos ➢ Endocardite prévia Observações: Em pacientes imunossuprimidos, a endocardite é mais prevalente quando resulta de uma infecção fúngica. Observações: Não há ordem de maior incidência quanto ao acometimento das valvas. Agentes Etiológicos Os agentes etiológicos da endocardite são aqueles que apresentam maior resistência à resposta imune do hospedeiro. Streptococcus viridans - Mais comum - Presente na cavidade oral Streptococcus gallolyticus 4 - Característico de neoplasias intestinais - Além da hemocultura, necessita-se de uma colonoscopia Staphylococcus aureus - Presente na pele - Usuários de drogas intravenosas Bactérias do grupo HACEK Bactérias que apresentam característica: - GRAM - - Crescimento lento - Curtas - Flora normal (baço e faringe) Fungos - Pacientes imunossuprimidos Quadro Clínico Sintomas inespecíficos ➢ Febre ➢ Calafrios ➢ Sudorese noturna ➢ Hiporexia ➢ Perda de peso ➢ Fadiga ➢ Indisposição ➢ Náusea Sinais e sintomas que auxiliam na hipótese diagnóstica ➢ Febre de origem indeterminada - Nada encontrado durante a busca por focos de infecção, associado ao quadro de leucocitose e neutrofilia ➢ Sopros cardíacos ➢ Fenômenos embólicos ➢ Fenômenos Imunológicos 5 Além disso, os sinais de infecção bacteriana, como leucocitose e neutrofilia, podem ocasionar o uso de antibióticos via oral, os quais não exercem efeito sobre as bactérias causadoras da endocardite. QUANDO PRESENTES, REAVALIAR OS FATORES DE RISCO Manifestações clínicas Músculo-esqueléticas ➢ Sintomas articulares ➢ Mialgia Cardíacas ➢ Sopros - Muito comum - Causado pela regurgitação valvar - Quando o acometimento é na valva tricúspide, pode não causar sopros. ➢ Abscesso miocárdico ➢ Insuficiência cardíaca - Principal causa de óbito ➢ IAM (dor típica) Manifestações periféricas Geralmente ocasionadas por fenômenos imunológicos ou tromboembólicos. Os fenômenos imunológicos são resultados da formação de imunocomplexos, os quais resultam em processos inflamatórios. Exemplo: Fator reumático positivo ➢ Petéquias ➢ Manchas de splinter 6 - Presença de microêmbolos nos vasos da microcirculação são responsáveis por obstrução e consequente hemorragias ➢ Lesões de janeway - Mancha indolor ➢ Nódulos de Ósler - Nódulos dolorosos - Resultado de processos imunológicos (inflamatórios) - Temporários ➢ Petéquias conjuntivais 7 ➢ Manchas de Roth - Resultados de fenômenos imunológicos na microcirculação ocular ➢ Clubbing - Baqueteamento digital - Também presente em doenças pulmonares e reumáticas Hematológicas ➢ Síndrome anêmica ➢ Hemólise por fragmentação ➢ Leucocitose com neutrofilia ➢ Icterícia Pulmonares 8 ➢ Relacionadas a embolização - Dor torácica pleurítica (Logo, pacientes na posição voluntária em decúbito lateral pode ser indicativo de endocardite) - Hemoptise - Dispneia Encefálica ➢ Relacionadas a embolização - AVE - Hemiplegia - Alteração visual - Alteração sensitiva - Ataxia - Cefaleia → Indicativo de risco de AVC Renal ➢ Relacionadas a embolização - Infarto renal - Glomerulonefrite - Dor em flanco - Hematúria Esplênica/Mesentérica ➢ Relacionadas a embolização - Dor abdominal Observações: A embolização em extremidades é mais comum nas contaminações fúngicas. Diagnóstico Anamnese ➢ Análise dos fatores de risco Exame físico ➢ Avaliação da cavidade oral ➢ Presença de sopros cardíacos ➢ Sinais neurológicos ➢ Presença de hemorragias distais (unhas e conjuntiva) Hemocultura 9 ➢ Análise do agente etiológico ➢ Orienta o tratamento por antibioticoterapia Critérios de Duke ➢ 2 maiores ➢ 1 maior e 3 menores ➢ 5 menores 10 Prognóstico Tratamento O tratamento para endocardite é sempre hospitalar e sempre faz uso de drogas intravenosas. ➢ Hemocultura → Antibiograma - Nos casos de ausência de hemocultura, utilizar os antibióticos de amplo espectro (Terapia empírica) 11 ➢ Associação de antibióticos >>>> monoterapia ➢ Duração do tratamento: - Valvas nativas: 2 a 6 semanas - Valvas protéticas: > 6 semanas Observações: Gentamicina é um bom antibiótico, porém, pode ocasionar severos efeitos adversos ototóxicos (perda da audição) e nefrotóxico(lesão renal), irreversível. Streptococcus ➢ Ceftriaxona ➢ Penicilina G Cristalina - Em caso de alergia ou ausência do ceftriaxona ➢ Ceftriaxone + Gentamicina - Casos de streptococcus resistente - Aumento do efeito terapêutico Staphylococcus ➢ Oxacilina ➢ Vancomicina Enterococcus 12 ➢ Principal bactéria encontrada em hemocultura atípica ➢ Ampicilina + ceftriaxone ➢ Vancomicina Observações: Visto que a vancomicina é um antibiótico muito forte, o seu uso é evitado, a fim de reduzir os níveis de resistência bacteriana. Fungos ➢ Anfotericina B, responsáveis por muitos efeitos colaterais Indicações Cirúrgicas ➢ Insuficiência cardíaca ➢ Hemocultura positiva persistenteapós antibioticoterapia ➢ Prevenção de tromboembolismo (Grandes vegetações, episódios embólicos prévios) Profilaxia Realização da profilaxia, com antibioticoterapia, em pacientes com risco de bacteremia por contaminação intravenosa ou oral. Pacientes com alto risco ➢ Endocardite prévia ➢ Portadores de próteses valvar ➢ Transplante c/ valvopatias ➢ Usuários de drogas 13 Profilaxia não farmacológica ➢ Escovação dentária ➢ Uso de fio dental ➢ Consultas odontológicas trimestrais Profilaxia farmacológica Procedimentos com manipulações gengivais, região periodontal ou perfuração da mucosa oral. ➢ Amoxicilina (1 hora anterior ao procedimento) ➢ Azitromicina ou Claritromicina (1 hora anterior ao procedimento)
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