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CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 1 CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES . 1ª avaliação: 08/04/2022. . Trabalho em equipe de 5 ou 6 integrantes. A avaliação da 1ª unidade será feita com base em um trabalho escrito, sobre tema a ser definido, que demandará a entrega de texto dissertativo de até 10 (dez) folhas, envolvendo pesquisa jurisprudencial. . 2ª avaliação: 10/06/2022. . Referências: . Código Civil comentado. – Editora Renovar ou o da Editora Forense. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 2 INTRODUÇÃO A RESPONSABILIDADE CIVIL 1) Conceito: . A ideia nuclear dessa disciplina é a ideia de reparação de danos (ou compensação de danos). . Conceito da professora Maria Helena Diniz: “Aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral e/ou patrimonial causado à terceiros, em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob a sua guarda, ou, ainda, de simples imposição legal”. . Responsabilidade civil contratual: é aquela em que o dever de indenizar decorre do descumprimento de uma obrigação primária que foi ajustada em contrato. – Pressupõe a existência de um liame contratual prévio entre as pessoas envolvidas. . Exemplo: Natália no Uber, há um acidente e você entende que o motorista agiu culposamente = é responsabilidade contratual, pois ao pegar o Uber estamos assinando um contrato de transporte. . Responsabilidade civil extracontratual: inexiste um liame contratual prévio entre as pessoas envolvidas. . Exemplo: dois carros que batem um no outro na Avenida Manoel Dias = é extracontratual, porque as pessoas não se conheciam, não tinham esse liame contratual anterior. 2) Natureza jurídica: . Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona: “a natureza jurídica da responsabilidade civil é de SANÇÃO JURÍDICA (de índole reparatória e ao mesmo tempo de índole pedagógica) ”. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 3 . Reparadora: pegar o patrimônio da pessoa atingida e recompô-lo. – Uma das funções precípuas do Direito é salvaguardar a paz mundial (evitar que as pessoas tenham que recorrer à violência para resolver problemas que surgem constantemente das relações contratuais e extracontratuais). . Pedagógica: na hora que se tem as condenações, se espera que a pessoa tenda a não repetir a conduta danosa. . Responsabilidade civil é uma obrigação secundária (seja de índole contratual ou extracontual): . Obrigação = relação jurídica de crédito e débito. – Alguém quer processar outrem, para ressarcir o prejuízo que sofreu. . Secundária = ela deriva do descumprimento de uma obrigação primária. 3) Esferas da responsabilidade jurídica: . Existe o gênero RESPONSABILIDADE JURÍDICA. – Vamos aprofundar a ESPÉCIE RESPONSABILIDADE CIVIL (uma das espécies dentro do gênero responsabilidade jurídica). CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 4 . Existem também as espécies: responsabilidade penal (consequência jurídica é a pena restritiva de liberdade, de direitos em geral, multa etc.); responsabilidade ético- profissional (algumas profissões são legalmente regulamentadas, como medicina, publicidade, advocacia, enfermagem etc. = existe um Conselho que emite normas, e em caso de descumprimento pode sofrer sanções que a lei prever); responsabilidade administrativa (servidor público que comete algum tipo de conduta que infringe as normas que regem o Direito Público). . Essas esferas são independentes e autônomas. 4) Análise histórica: . VIÉS MUNDIAL: A origem da responsabilidade civil remonta a um período em que antes desta existir, imperava a barbárie (diante de um dano utiliza-se de força física como resposta). Depois a Lei do Talião (olho por olho e dente por dente). . 1º degrau: individualização da resposta jurídica. – Momento em que se tem algum tipo de controle da vingança privada. . 2º degrau: Depois vem uma noção de que o Poder Central não se admite mais isso de “dente por dente/olho por olho”, então tem-se a imposição de uma composição voluntária (teve um problema = senta e resolve). – Uma pessoa ferida não irá contribuir para a sociedade = isso é negativo. . 3º: Composição tarifada em seguida = Poder Central estabelece critérios para que a indenização aconteça. – Exemplo: “Se você perde uma vaca, serão x moedas”. - O grande problema é que não se consegue ter normas que tratem de tudo que possa acontecer nas relações pessoais. . 4º degrau: Lex Aquilia - surge a primeira norma que teria sido pioneira na ideia de generalização = “aquele que provocar danos, terá dever de indenizar”. – Também seria essa lei pioneira na ideia de culpa. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 5 . 5º degrau: Código de Napoleão é um marco histórico para sociedade civil, porque oficializou a ideia de generalização da lei aquilia. – Aquele que provocar o dano, com culpa, deverá indenizar o prejuízo. – Durante 100 anos essa sociedade civil ficou pautada na culpa. . 6º degrau: somente após o século XIX é que surgem teorias objetivistas, como a teoria do risco. – Indenizar independente de culpa, pautado no risco da atividade. . Surgiram algumas subteorias do risco. . 7º degrau: socialização da responsabilidade civil. – Ideia de que em alguma medida a responsabilidade civil deva evoluir para que o pagamento do prejuízo não seja apenas realizado pela pessoa que provocou o dano. – Algumas situações as vítimas ficam sem receber indenização pela falta de patrimônio de quem praticou diretamente o dano. – Exemplo: seguros obrigatórios de responsabilidade civil = numa comunidade as pessoas sempre pagam em pequenos montes certos valores que poderão ser utilizados em situações de indenizações. . VIÉS NO BRASIL: . Brasil Colonial: aplicava-se o ordenamento jurídico português, em especial as ordenações do rei (+ aplicação subsidiária do direito romano). . Código Criminal de 1830 - utilizado para definir dever de indenizar. . Decreto 2681/1912 que tratava do dever de indenizar danos decorrentes das estradas de ferro. – Responsabilidade civil objetiva. . 1916 – Primeiro Código Civil Brasileiro – visceralmente influenciado pelo Código Civil Napoleônico. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 6 . Código de Defesa do Consumidor de 1990 – primeiro diploma normativo a criar um microssistema jurídico em que a responsabilidade civil era, em regra, a responsabilidade civil objetiva (dispensava a culpa enquanto fator de atribuição). . Código Civil de 2002 (atualmente em vigor): no art. 297, pioneiramente trouxe no âmbito cível uma cláusula geral de responsabilidade objetiva em seu parágrafo único. 5) Constitucionalização do Direito Civil e a Responsabilidade Civil: . A constitucionalização do direito civil, também chamada de direito civil constitucional, nada mais é do que a imposição de uma leitura dos institutos de direito civil conforme a Constituição Federal. A norma não deixa de ser de direito privado, mas direito privado interpretado conforme a Constituição. . Art. 421 e 422 do CC. Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que: I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisãoou de resolução; II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. x Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. . Qual a relação disso com a Responsabilidade Civil? Não podemos pensá-la apenas no art. 927 e seguintes do CC. . A responsabilidade civil quando foi pensada, foi consagrada para uma relação VIS A VIS (sujeito A – sujeito B). – E com a constitucionalização do Direito Civil isso se expande, pensando em direitos difusos, interesses coletivos, proteção ao meio ambiente, ao mercado do consumo etc. . Ampliação do escopo de uma visão mais individualista para uma visão de direitos mais coletivos. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 7 . Danos transindividuais. – LER ART. 81, parágrafo único, incisos I e II do CDC. . A constitucionalização do direito civil também serviu para impulsionar um maior número de casos de responsabilidade objetiva. . Art.37°, parágrafo 6º da CF. - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. . Art. 7°, inciso XXVIII da CF. - . Art. 21°, inciso XXIII da CF. . Art. 5°, inciso V e X da CF. 6) Ato ilícito e responsabilidade civil: . Esses temas NÃO SE CONFUDEM. . Hoje existem casos de responsabilidade civil por ato lícito, portanto não dá para atrelar a responsabilidade civil à prática do ato ilícito. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 8 . Exemplo: quando você responde objetivamente pelo desenvolvimento de uma atividade de risco, independente de culpa você paga pelo prejuízo. – Hipótese de responsabilidade civil por ato lícito. . Em um momento do passado no mundo jurídico, tinham autores que defendiam que a prática do ato ilícito era pressuposto da responsabilidade civil. – SABEMOS HOJE NÃO SER VERDADE. . Esse fato não tira a importância do ato ilícito para a responsabilidade civil. - HÁ UMA CONEXÃO CLARA ENTRE O ART. 186/187 com o art. 927 do CC. . Art. 927, em seu caput, tem uma cláusula geral (cláusulas gerais são normas com diretrizes indeterminadas, que não trazem expressamente uma solução jurídica (consequência)). A norma é inteiramente aberta/ampla (vagueza semântica para aplicar a norma com maior elasticidade) de responsabilidade subjetiva, e no parágrafo único de responsabilidade objetiva, que indicam explicitamente relação com o art. 186/187 do CC (que tratam do ato ilícito). Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. . OBS: Uma vez praticado o abuso de direito, a responsabilidade civil é uma das consequências que decorrem disso. Mas, existem outras consequências também. . OBS: É possível apenas dizer que a prática do ato ilícito é pressuposto da responsabilidade civil subjetiva (conduta, nexo causal e culpa). – O MESMO NÃO PODE SER DITO COM RELAÇÃO A RESPONSABILIDADE OBJETIVA. . Responsabilidade civil sem a prática do ato ilícito (art.927, parágrafo único, art.928, 929 e 930 do CC/02). . Conceito de ato ilícito (arts. 186 e 187 do CC/02). CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 9 . Excludentes de ilicitude (art. 188 do CC/02). . Legítima defesa - “impor dano a outrem para evitar que este dê continuidade a ataque ou concretize ameaça atual e iminente de injusta agressão contra aquele que se defende ou contra terceiro”. – Não pode ter havido provocação prévia do agressor e deve haver reação proporcional à agressão. - A legítima defesa engloba a situação em que, embora ninguém possa fazer justiça com as próprias mãos, mas em certos casos isso é permitido, pois se não se tiver reação, o agente sofrerá dano injusto (então, exclui-se o dever de indenizar). . OBS 1: legítima defesa putativa não exclui o dever de indenizar – é a situação em quem o indivíduo imagina estar em legítima defesa, reagindo contra uma agressão inexistente. . Exercício regular de um direito reconhecido (que abarca o estrito cumprimento de dever legal). . Estado de necessidade – conceito: art. 188, II e § único, CC/02 (obs1: nem sempre será excludente de responsabilidade – OBS: exemplos dos náufragos e da tábua que só suporta um deles e do sujeito que arromba porta para salvar um bebê na balaustrada). – AQUI SÓ É CONSIDERADO LEGÍTIMO SE ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO. 7) Abuso de direito: Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. . Conceito positivado no Brasil de abuso de direito. . O entendimento dominante da doutrina e jurisprudência é que se trata de responsabilidade objetiva, portanto dispensa culpa para se caracterizar. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 10 . O professor acredita em uma visão minoritária: a responsabilidade civil pelo abuso do direito está inicialmente posta como subjetiva, mas nada impede que seja também objetiva em alguns casos (quando a hipótese estiver presente em algum microssistema, a exemplo do CDC que prevê, em regra, que a responsabilidade é objetiva). . Uma das consequências jurídicas do abuso de direito é discutir perdas e danos. . OBS: Negativar o nome de uma pessoa que já havia pago a dívida: art. 186, CC. . O DEVER DE INDENIZAR DECORRENTE DE UM ATO ABUSIVO DEMANDA A DEMONSTRAÇÃO DE CULPA OU NÃO DO AGENTE? . Enunciado 37 na 1ª Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal: “A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo- finalístico”. - Leo Vieira discorda desse enunciado (ler texto no portal). . Observações de Leonardo Vieira em Responsabilidade Civil por Abuso de Direito: CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 11 8) Figuras parcelares da boa-fé objetiva: . Uma vez caracterizadas essas figuras, é possível cogitar de responsabilidade civil. A) Venire contra factum proprium: CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 12 . Se eu crio uma legítima expectativa em alguém, e essa pessoa com base nessa legítima expectativa faz investimentos, e depois de forma desarrazoada eu volto sobre meus próprios passos (venire contra factum propium), essa pessoa tiver prejuízo = ela pode me demandar em termos de responsabilidade civil. . LIVRO da autora Judith Martins Costa: a boa-fé no direito privado. - No ano de 2000, pela primeira vez, se ouviu falar de responsabilidade civil em face do venire contra factum proprium. . Exemplo prático desse livro: numa cidade do sul do país, haviam conjuntos de pequenos produtores de tomates, que juntos vendiam a totalidade de suas safras para uma fábrica da região. Ressalta-se que os tomates são totalmente perecíveis. – Durante anos, esse pessoal plantava os tomates, e a fábrica comprava a totalidade dessas safras. É claro que não havia nenhum contrato obrigando a fábrica a comprar apróxima safra, mas isso aconteceu durante anos e anos. – Em um ano x, o pessoal investiu um valor significativo para aumentar a qualidade e quantidade da produção dos tomates, eis que a fábrica disse que não compraria mais deles, uma vez que havia fechado contrato com uma empresa mais distante. – Os produtores então se viram com uma quantidade expressiva de tomates, e com um tempo curto para vender esses produtos que são extremamente perecíveis. – HOUVE UM PROCESSO EM FACE DA FÁBRICA, E GANHARAM UMA INDENIZAÇÃO PARA FAZER FRENTE AOS PREJUÍZOS QUE SOFRERAM = responsabilidade civil por venire contra factum propium. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 13 . Texto “Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium” de Luciano de Camargo Penteado: B) Tu quoque: . Texto “Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium” de Luciano de Camargo Penteado: CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 14 “O enunciado, em termos de tu quoque, equivale a dizer: você não pode cobrar enquanto não pagar o que deve; se o fizer, surpreende-me sua conduta e o direito fornece um meio de tutela. Em outras palavras, a pessoa que viola uma regra jurídica não pode invocar a mesma regra a seu favor, sem violar a boa-fé objetiva, na modalidade denominada tu quoque, que tem outros enunciados conhecidos, como turpitudinem suam allegans non auditur, ou ainda, equity must come with clean hands.” . OBS: Tal brocardo jurídico “designa a situação de abuso que se verifica quando um sujeito viola uma norma jurídica e, posteriormente, tenta tirar proveito da situação em benefício próprio” (Ronnie Preuss Duarte in Flávio Tartuce, “ Direito Civil ”, Vol. 3, 2009, Ed. Método, pág. 125). . Imagine o que segue: o município A contratou o servidor B para exercer cargo técnico sem prévia realização de concurso público. Como o vínculo de trabalho é ilegal, é correto afirmar que não são devidas as verbas remuneratórias ao servidor B? - Devido à aplicação do tu quoque, a Administração não pode se beneficiar de seu comportamento ilícito (contratação sem concurso) para negar pagamento da remuneração do servidor. Não é outro o entendimento do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (https://jeanrox.jusbrasil.com.br/artigos/191264232/caso- pratico-de-aplicacao-do-tu-quoque-no-ambito-laboral). C) Exceptio doli (figura pouco aplicada): . Segundo a linha da doutrina de Flávio Tartuce, exceptio doli é conceituada como sendo a defesa do réu contra ações dolosas, contrárias a boa-fé”. Esclarece o professor que uma de suas aplicações é verificada por meio da exceptio non adimpleticontractus, que, como é de conhecimento, impede que se exija o cumprimento da obrigação pela parte que não conferiu cumprimento ao que pactuou. . “A exceptio non adimpleticontractus ou exceção do contrato não cumprido, disciplinada pelos arts. 476 e 477 do Código Civil, se refere à possibilidade de o devedor perdoar-se da prestação da obrigação contratual, por não ter o outro contratante cumprido com aquilo que lhe competia”. https://jeanrox.jusbrasil.com.br/artigos/191264232/caso-pratico-de-aplicacao-do-tu-quoque-no-ambito-laboral https://jeanrox.jusbrasil.com.br/artigos/191264232/caso-pratico-de-aplicacao-do-tu-quoque-no-ambito-laboral https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10701732/artigo-476-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10701690/artigo-477-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 15 . Site: https://sosafelima.jusbrasil.com.br/artigos/944697987/os-institutos- que-compoem-a-boa-fe-objetiva D) Desequilíbrio da relação jurídica: . Existe despropósito flagrante entre exercício e o direito que legitima a referida atuação. . Desproporcionalidade entre vantagem e sacrifício. . Pressupõe atuar conforme a boa-fé objetiva. E) Supressio e surrectio: . Surrectio: situações em que o decurso do tempo permite inferir o surgimento de uma posição jurídica pela regra da boa-fé. . Exemplo: ocorre distribuição de lucros diversa da prevista no contrato social, por longo tempo, esta deve, portanto, prevalecer de tal forma em respeito a boa-fé objetiva. . Pode ou não vim acompanhada da Supressio. . Outro exemplo: pagamento feito reiteradamente em local diverso ao estipulado no contrato, faz presumir renúncia do credor relativo ao local previsto no contrato. . Supressio: o tempo implica a perda de uma situação jurídica subjetiva em hipóteses não submissas à prescrição, nem a decadência. . Caducidade que tem por causa a inação prolongada em segmento temporal significativo. . Exemplo: uso de área comum por condômino em regime de exclusividade por período de tempo considerável, que implica a supressão da pretensão de reintegração por parte do condomínio como um todo. . O comportamento da parte gera em outra a representação de que o direito não seria mais autuado. F) Inalegalibilidade das nulidades formais: . Especiais circunstâncias que impedem a alegação de nulidade pela parte a quem esta https://sosafelima.jusbrasil.com.br/artigos/944697987/os-institutos-que-compoem-a-boa-fe-objetiva https://sosafelima.jusbrasil.com.br/artigos/944697987/os-institutos-que-compoem-a-boa-fe-objetiva CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 16 aproveitaria, quer por ter dado causa a esta, quer por se tratar de nulidade de forma e não de conteúdo. . Aqui diz respeito não só a nulidade formal por vício de forma pública, mas também a qualquer nulidade que não diga respeito à substância do ato (o que vai ser analisado caso a caso). 9) Estudo de caso: “mulher diz que engravidou na hidromassagem de hotel de luxo”: . Advogados do hotel – como faríamos a defesa: . Não cabe responsabilidade civil, porque em relação a conduta imputada ao hotel pela mulher, entres eles não há qualquer nexo causal, tendo em vista os requisitos da responsabilidade civil. . Inexistência de nexo causal, já que a limpeza do hotel ocorre de forma adequada, seguindo os protocolos de 15 a 45 minutos de limpeza, previamente e no momento do checkout. . Estudos científicos: espermatozoides não sobrevivem em ambiente seco por mais de 2 minutos. . Não se configura conduta omissiva ou comissiva do agente (art. 186, CC), assim como afirma Maria Helena Diniz. . Não há dano à hóspede, mas sim ao hotel, que teve sua honra objetiva ferida pela alegação inverídica e sem qualquer fundamento de comprovação da possibilidade de ocorrência dos fatos narrados. 10) Responsabilidade civil extracontratual x contratual: . A responsabilidade civil é uma obrigação secundária. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 17 . Obrigação secundária porque ela deriva do descumprimento de um dever jurídico ou obrigação PRIMÁRIOS. . Responsabilidade civil contratual = teve origem em um contrato: . EXEMPLO: Se eu estabeleço um contrato de compra e venda de um carro com Munzer. Munzer paga adiantado o valor de carro, me comprometo a entregar o carro depois, mas no dia de entrega, não a faço. – Se Munzer quiser mover uma ação para ter o carro entregue, estaremos falando de uma ação de responsabilidade civil? NÃO, pois está se discutindo o cumprimento de uma obrigação primária. Nós falaríamos em responsabilidade civil se Munzer além de pedir a entrega do carro, alegar que a não entrega na data específica estipulada casou-lhe danos (exemplo: tinha uma corrida de carro já paga para ir, mas não pôdepois não tinha o carro; teve que ficar andando de Uber durante os dias que ficou sem carro etc.). . OBS: o simples ensejo de descumprimento contratual não incorre em dano moral. . Há autores que preferem chamar a responsabilidade contratual de responsabilidade negocial (conceito mais amplo). . Responsabilidade civil extracontratual: . Não há um vínculo jurídico prévio entre as partes. . Princípio neminem laedere: prega que as pessoas devem viver sem provocar danos na esfera alheia. . Há quem diga que essa distinção não seria tal necessária, já que na essência não existiria diferença entre responsabilidade contratual e a extracontratual. – Professor discorda disso, por 2 motivos: (i) juros de mora; (ii) prescrição. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 18 . O STJ recentemente chancelou o entendimento da lavra originária da Ministra Nancy A., no sentido de que a prescrição nos casos da responsabilidade civil extracontratual segue segundo o Código Civil o lapso temporal de 3 anos. – OBS: o prazo de 5 anos é apenas para o CDC. – MAS, O STJ INOVOU AO ESTABELECER QUE NO CASO DE RESPONSABILIDADE CONTRATUAL, O PRAZO SERÁ DE 10 ANOS. . Prazo de prescrição é contado a partir do momento em que a vítima do dano toma conhecimento deste. . Juros de mora – uma das consequências do inadimplemento. – Tem Súmula do SJT dizendo que os juros de mora na responsabilidade civil, terão como ponto de início da sua incidência, no caso da responsabilidade extracontratual, a data da ocorrência do dano; já nos casos de responsabilidade civil contratual, o ponto de início da proposição da ação indenizatória ou da data constituição em mora do devedor. 11) Responsabilidade civil objetiva x subjetiva: . É uma discussão que sempre vem à tona. – Se trata de uma discussão com significativa discussão prática. . O autor da ação indenizatória terá uma maior chance de êxito significativamente maior em caso de se tratar de responsabilidade civil objetiva, pois não precisará provar a culpa do réu (prova da culpa é algo sempre muito complicado, por mais que a culpa hoje seja aferida de uma forma menos complexa). . Exemplo: LGPD – a responsabilidade civil é objetiva ou subjetiva aqui? Grande discussão. . Responsabilidade civil subjetiva: tem como fator e atribuição a culpa. . Responsabilidade civil objetiva: por exclusão, serão hipóteses em que o dever de indenizar ocorrerá independentemente de culpa. No Brasil hoje são 3 hipóteses: CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 19 . Responsabilidade objetiva lastreada no risco. . Responsabilidade objetiva lastrada na equidade. – Art. 928 do CC. – Indenização equitativa, que não prive o incapaz do necessário e tampouco aqueles que dependem deste. Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. . Responsabilidade objetiva decorrente de simples disposição legal. – Quando a lei disser isso. 12) Culpa: . No Brasil temos 2 raízes/linhas da doutrina estrangeiras que servem de fundamento para o conceito de culpa: irmãos Mazeaud x René Savatier. . Ora a doutrina se pauta nos irmãos Mazeaud ora em Savatier. – Mas, é mais comum o dos irmãos MAzeaud (inclusive o professor Léo Vieira). . Para os irmãos Mazeaud, “CULPA É ERRO DE CONDUTA”. – Precisa-se então analisar a aferição abstrata e concreta da culpa para saber o que é um erro de conduta. . Culpa é um erro de conduta a partir do paradigma do bom pai de família, o HOMEM MÉDIO. – Para o professor essa é o melhor conceito. . Mediante uma comparação de conduta: a conduta do agente envolvido no caso em concreto, e abstratamente substitui aquele agente pela figura da pessoa média. Se a pessoa média teria agido diferentemente, é porque o agente atuou com culpa; em caso contrário, não operou com culpa. – CONCEITO OPERACIONAL. . Exemplo: médico fez cirurgia e paciente morreu. – Um dos pressupostos é a culpa, e como saber se ele agiu com culpa? É necessário avaliar se houve erro de conduta CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 20 profissional daquele médico pelo método de comparação em abstrato (substituo a atuação daquele agente por um médico mediano, e vejo se à luz da técnica científica ele teria atuado da mesma forma ou não). . “Culpa consiste em erro de conduta sendo esta a que se espera do homem médio em sociedade dia do princípio do neminem laedere razão pela qual se aplica o critério abstrato de sua apuração, com base em standard de conduta fixado a depender das circunstâncias do caso concreto. ” - Leo Vieira. . OBS: Em contraposição a ideia da análise em abstrato da culpa, tem-se a ideia de aferição em concreto (que aliás, antecede a criação da aferição em abstração). . Aferição em concreto: não utiliza como paradigma a figura do homem médio que já vimos, mas sim o PRÓPRIO PADRÃO DE CONDUTA DO INDIVÍDUO ANALISADO. . Rodolfo Pamplona e Pablo Stolze dizem que nessa aferição em concreto é preciso analisar o elemento anímico da pessoa. – Impõe ao autor da ação maior dificuldade para demonstração de culpa, pois a ideia do homem médio cria paradigmas que criam uma feição menos subjetiva, ao contrário daqui em que se analisa se o indivíduo tem culpa ou não a partir do próprio paradigma dele mesmo. . A aferição da culpa em abstrato foi uma evolução da aferição em concreto, e por isso é a mais utilizada. – Ainda se fala em aferição em concreto no direito civil brasileiro, mas de forma bem limitada. – O CC tem dois artigos em que se é dito que em certos contratos a aferição de culpa deverá ser feita em contrato (exemplo: contrato de comodato = empréstimo da coisa infungível – comodato é um contrato pautado em extrema confiança, então nesse caso pela reminiscência, se estabelece que o dever de indenizar deverá ser pautado na análise de culpa no caso concreto = culpa da pessoa é aferida pelo próprio padrão de conduta dele = muito complicado). . Culpa em abstrato = objetiva / Culpa em concreto = subjetiva. – Professor Leonardo Vieira não gosta dessa terminologia de objetiva e subjetiva. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 21 . Conceito de René Savatier = “A CULPA É A INEXECUÇÃO DE UM DEVER QUE O AGENTE PODIA CONHECER E OBSERVAR”. . A ideia de que reprovabilidade da conduta. – Sabia que deveria ter um parâmetro de conduta que ele conhecia, mas assim não agiu. . O comportamento como um todo pressupõe dois elementos: um objetivo (dever violado) e um outro subjetivo (imputabilidade). . Professor entende que embora seja um conceito respeitável, ele é um conceito menos operacional, e que tem um defeito no tocante ao elemento objetivo do dever violado. – Se você entender que dever violado está interligado a ideia de razoabilidade da conduta (aquela ideia do que é esperado), tudo bem. PORÉM, TEM-SE A IDEIA DE BILATERALIDADE DA NORMA, EM QUE DEVER TEM A VER COM DIREITO (TEM UM DEVER PORQUE TEM UM DIREITO CONTRAPOSTO), E VOCÊ PODE AGIR CULPOSAMENTE SEM FERIR O DIREITO DE NINGUÉM (exemplo: carro acima da velocidade permitida). . Sobre classificação geral da culpa, temos: . A culpa lato sensu (em sentido amplo), que tem como modalidade DOLO (conduta intencional dirigida a um resultado ilícito) e CULPA EM SENTIDO ESTRITO. . A culpa em sentido estrito poderá ser de 3 tipos: negligência, imprudência ou imperícia. – Negligência é aquela conduta que a pessoa média teria, e que o agentedeixa de ter (erro de conduta negativo); imprudência é a conduta impensada/irrefletida do agente (erro de conduta positiva), que não seria adotada pela pessoa média; imperícia é quando você avalia que a pessoa média teria aquela habilidade que o agente evidencia não ter para prática daquele ato (exemplo: médico recém-formado que realiza uma neurocirurgia). . No Direito Penal há uma grande importância na distinção entre dolo e culpa. Em regra, no Direito Civil, para saber se haverá ou não dever de indenizar, isso é irrelevante, pois CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 22 segundo o antigo brocado jurídico a responsabilidade civil até mesmo a culpa levíssima incorre no dever de indenizar. . Com base na aferição da culpa, entretanto, Maria Celina Bodin de Moraes, pioneiramente detectou um erro nesse brocado: onde se lê “levíssima”, deveria se ler “leve”. Porque esse brocardo remete a uma outra classificação da culpa, que pode ser classificada em grave, leve ou levíssima. – Culpa grave = culpa tão intensa, que se aproxima do dolo (culpa que o bom pai de família jamais admitiria); culpa leve = culpa que ainda assim o bom pai de família não incidiria, não é esperada em relação a pessoa média; culpa levíssima = culpa de um grau tão esmaecido, que até mesmo um bom pai de família poderia praticar. – Se conclui com as palavras de Maria Celina que a culpa levíssima não tem força necessária para configurar a responsabilidade de indenizar, de modo que o brocado estaria desatualizado. . Essa classificação do grau da culpa tinha perdido muito espaço na doutrina, justamente nessa lógica de que não seria muito relevante o grau, já que a culpa leve daria ensejo a condenação. Só que com o CC de 2002, veio à tona o artigo 944, cujo parágrafo único inovou essa classificação: . Sabe-se o valor da indenização com base na extensão do dano, conforme a regra geral. - Exemplo: se o juiz entender que a culpa foi levíssima, não tem dever de indenizar; se for culpa leve, o juiz poderá fazer uma redução equitativa. . Exemplo prático na elaboração de uma contestação: “... diante disso, tem-se que o autor nada deve indenizar, tendo em vista todo o exposto. Todavia, em face do princípio da eventualidade, também conhecido como da concentração da defesa, se por absurdo entender que ficou configurado o dever de indenizar, o que se admite apenas CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 23 para argumentar, reconheça Vossa Excelência que a culpa teve grau leve, de modo que se faça uma redução equitativa da condenação”. - ALGUNS EXEMPLOS DA REPERCUSSÃO DO DEFENDIDO PELOS IRMÃOS MAZEAUD UTILIZADO PELA DOUTRINA AO CONCEITUAR CULPA: . Alvino Lino: culpa é um erro de conduta moralmente imputável ao agente. . Leonardo Vieira: culpa é um erro de conduta do indivíduo que não se comporta da maneira normalmente esperada para evitar danos a terceiro, independentemente da materialização desse dano. - EXISTE UMA DISCUSSÃO ENTRE CULPA CIVIL E CULPA PENAL: . Na visão de Leonardo Vieira não existe diferença ontológica entre as duas, a essência é a mesma coisa. – Claro que a maneira que se utilizar o instuto tem repercurssões distintas. . Quando se fala em culpa, obviamente se pensa que a pessoa tem discernimento para avaliar sua própria conduta. Logo, se o indivídio é inimputável, não se discute a culpa dos seus atos (exemplo: menor). - RESPONSABILIDADE OBJETIVA: . É aquela que o fator de atribuição não é a culpa. – Pode ser o risco, a equidade, ou simples disposição legal. . O réu da ação condenado deve perceber que ele está pagando por um erro que ele realmente não teve culpa mas ele deve indenizar. - RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELA TEORIA DO RISCO: . Teoria do risco (parágrafo único do art. 927 do CC): surge no final do século XIX, quando se tem a Rev. Industrial na Europa tinha-se pessoas sequeladas (vítimas de acidentes de CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 24 trabalho etc.) e se entendeu que havia uma dificuldade muito grande dessas pessoas provarem a culpa do empregador para receberem/terem direito a indenização. Então, autores franceses criaram a primeira subteoria do risco, a subteoria do risco profissional (ora, se o patrão empregador submete o seu funcionário a um risco profissional, deve pagar o prejuízo decorrente disso independentemente de culpa). – Daí vem uma segunda: subteoria do risco proveito = se o indivíduo tira proveito daquela situação de risco, ele haverá de pagas pelos prejuízos independentemente de culpa (dificuldade dessa subteoria é provar que o indivíduo tirou proveito daquela relação). – e tem ainda uma terceira subteoria do risco que é a predominante: subteoria do risco criado = se o cidadão criou o risco, ele vai pagar os prejuízos decorrentes independemente de culpa (é o que dispõe o art. 927 do CC em seu parágrafo único). . Observações de Leonardo Vieira em Responsabilidade Civil por Abuso de Direito: . A teoria adotada no brasil é a do risco criado: não importa se a pessoa tirou proveito ou não dá atividade com risco, mas ela vai ter que indenizar independente de culpa por conta do risco criado (vide art 927, parágrafo único). Mas têm outras teorias descendentes essas que são adotadas: . Teoria do risco agravado: dispensa culpa e dispensa nexo causal. Exemplo: CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 25 responsabilidade civil por dano ambiental. . Teoria do risco extraordinário: não precisa provar a culpa é um risco absurdo. Exemplo: a CF estabelece isso para material radioativo. - RESPONSABILIDADE OBJETIVA POR EQUIDADE: . Artigo que não havia no CC anterior. – ART. 928, CC. – Responsabilidade civil do art. 928 é mitigada porque só haverá condenação se aquele pagamento não implicar para o menor uma redução de sua qualidade de vida. . A regra do código anterior era que o incapaz não respondia pelo prejuízo, claro que tínhamos a responsabilidade civil indireta (pais respondendo por filhos menores). - RESPONSABILIDADE OBJETIVA POR DISPOSIÇÃO DE LEI: . Maior exemplo que temos é o CDC. – A regra geral é objetiva. 13) Teoria do seguro: . Socialização do dever de indenizar: CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 26 . O sistema que temos hoje impõe que aquele indivíduo que provocou o dano é o indivíduo que deve responder por ele. De modo que como não há prisão por dívida, aquele que nada tem tende a ficar em prejuízo. . Seria interessante então para sociedade como um todo que houvesse constituição de fundos em que colaborassem todas as pessoas (o estado, indivíduos etc.), que pudesse ser demandado toda vez que tivesse um prejuízo. – É MUITO DIFÍCIL ESTABELCER ESSE FUNDO TÃO SUBSTANCIAL QUE SEJA CAPAZ DE PAGAR TODOS PREJUÍZOS. . Na base disso está a ideia de seguro. . Seguro = todos pagam um valor para se proteger do risco do dano. – Acontecendo o dano = está coberto. . Já chegou a se especular que poderia o seguro se disseminar de tal forma que seria desprezível se falar em responsabilidade civil. Isso, contudo, para o professor é uma utopia (isso porque, muitas vezes a pessoa recebe um valor x do seguro, mas ainda fica com danos não reparados = o que recai na responsabilidade civil; além disso, não seria interessante um seguro universal que cobrisse todo dano, isto é, que a teoria do risco evoluísse tanto assim, pois a responsabilidade civil tem uma importância pedagógica grande para a sociedade = “doer no bolso, que para alguns é o órgão mais sensível do corpo humano”). PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1) Conduta:. Dever de indenizar chegará seja para uma pessoa natural ou para uma pessoa jurídica. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 27 . A pergunta que precisa ser feita é: a pessoa teve uma conduta que justifique a sua condenação? . Definir, avaliar se realmente houve ação ou omissão daquela pessoa, que teve influência direta ou indireta no resultado danoso. . Conduta pode ser omissiva ou comissiva, e ambas podem ser relevantes para questão da responsabilidade civil. . Conduta culposa = conduta humana que causa dano a outrem. . Ação e omissão são aspectos físicos/objetivos da CONDUTA; por outro lado, a vontade é o elemento psicológico/subjetivo da CONDUTA. . Omissão tem relevância/consequência jurídica quando o agente tem o dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir aquele resultado, mas não o faz. – Exemplo: pais respondem pela omissão de deixar de alimentar um filho. . Só pode ser responsabilizado por omissão aquele que tem o dever de agir. . OBS: não há como responsabilizar alguém pela prática de um ato danoso se, no momento em que o pratica, este não tem capacidade de entender o caráter reprovável de sua conduta e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Fala-se em MATURIDADE e SANIDADE MENTAL. . OBS: culpabilidade é o juízo final de reprovação que recai sobre alguém considerado culpado pela prática de um ato ilícito. . A regra é a responsabilidade civil direta = responde pelo fato aquele quem deu causa a este. . A regra geral é que os responsáveis indiretos tenham responsabilidade solidária com os responsáveis diretos. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 28 . Responsabilidade solidária = credor pode cobrar dos dois ou do que achar que tenha maior probabilidade de satisfazer a obrigação. . A regra da responsabilidade solidária não se presume, está disposta na lei. . Rodolfo Pamplona e Pablo S.: em relação ao inciso I “somente aquele dos pais que . OBS: Responsabilidade civil pode ser tanto direta quanto indireta, conquanto em regra é a direta, a indireta é extraordinária . Responsabilidade civil indireta (aqui o responsável está ligado de algum modo com o dever de VIGILÂNCIA, GUARDA ou CUIDADO), se encontra presente nos artigos 928, 932 e 942 do Código Civil: “Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia” “Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932.” “Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem” . Os incisos I e II do art. 932, são exceções da hipótese prevista no art. 942 . Os menores, os filhos, incapazes, respondem civilmente de forma subsidiária, e não solidária, como se encontra de acordo com a hipótese prevista no art. 928 do CC. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 29 . O 928 traz uma responsabilidade civil objetiva subsidiária e mitigada, pois o parágrafo único diz que ele só terá que pagar essa indenização, se não privar o menor de seu padrão de vida. . Já na hipótese do inciso II do art. 932, no caso dos tutores e dos curadores tem-se uma certa diferença em relação ao inciso I. . A diferença se encontra prevista no art. 934 “Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz”. - Dessa forma, conclui-se que, diferentemente dos pais, os responsáveis indiretos (o tutor ou curador) caso tenham pagado a reparação, os mesmos, posteriormente, poderiam entrar com ação de regresso para reaver esse pagamento . De acordo com Pamplona e Stolze, no caso do pródigo, ele está excluído dessa hipótese do inciso II, ou seja, o mesmo responde civilmente por suas condutas, responsabilidade direta. . Filho pródigo = aquele que dilapida seus bens de forma compulsiva, compromete o patrimônio. . Na hipótese do inciso III, o termo comitente faz referência aquele indivíduo que atribui uma tarefa para ser executada em seu pedido para ser executado em seu favor. Ex: um indivíduo paga a outro para que este realize uma entrega em seu nome. . Vale ressaltar que, a responsabilidade civil indireta, só se dá nas hipóteses previstas no inciso III, se o dano ocorrer durante o exercício da função. . Já no caso do inciso IV, a responsabilidade civil indireta está ligada a questão espacial. Então, a doutrina entende que, se por exemplo, dentro de um estabelecimento de ensino com menores, e o menor provoca um dano, o estabelecimento vai responder pelo dano, mas se entende que não haverá direito de regresso contra os pais. O mesmo vale para hotéis, se um dano é causado a doutrina e a jurisprudência entende que o CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 30 dono do hotel só responde pelo hospede se esse prejuízo acontecer enquanto o hóspede estar dentro dá área/raio de influência do hotel. Exemplo: um hóspede bate no outro, quem apanhou vai poder processar quem bateu e o hotel, ambos respondem solidariamente. . A responsabilidade civil indireta é objetiva, ou seja, independe de culpa, como previsto no CC, em seu art. 933: “As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”. . Diferentemente do que se tem atualmente, no Código Civil de 1916, no que concerne a questão da responsabilidade civil indireta, tinha-se duas modalidades de culpa: a culpa in eligendo, que se dá quando ocorre por falta de cautela na escolha de preposto ou pessoa a quem se confia a execução de serviço; e culpa in vigilando que se dá por falta de cuidado, diligência, vigilância, atenção, fiscalização ou atos necessários de segurança de agente, no cumprimento de seu dever" . Conquanto, vale ressaltar que essa ideia só tinha relevância no CC de 16, nas situações que o empregado cometia algum dano. Porém no art. 933 do CC de 2002 houve uma objetivação dá responsabilidade civil indireta do empregador e do comitente. . Tem-se ainda outras hipóteses de responsabilidade civil indireta no CC, do art. 936 ao art. 938: “Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. ” . Há divergênciadoutrinária, mas LÉO VIEIRA entende que na situação em que o menor de idade pula o muro onde habita o hotwalen que está preso, tão somente para fazer CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 31 prova de coragem perante os amigos, em caso do cachorro agredi-lo, ainda que se tratando de um menor, se aplicaria a questão da CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA (exceções previstas no art. 936 do CC). . Exemplo: em casos de fatos de terceiros, como no exemplo em que um terceiro se aproxima do cachorro que está de coleira acompanhado do seu dono, e corta a coleira dele, e supondo que o cachorro agrida alguém = excludente por culpa de terceiro. . OBS: A culpa da vítima e força maior, são causas de excludente de causalidade, de nexo causal. . OBS: Na hipótese do art. 937, há um certo embate entre ideias. A doutrina majoritária entende como sendo uma responsabilidade objetiva, ou seja, a culpa não se faz presente, traz que somente o fato do indivíduo ser proprietário ele é responsável por qualquer dano causado em decorrência do imóvel. Já uma parte da doutrina acredita que se trate de responsabilidade subjetiva, a partir do momento que no artigo consta que a responsabilidade do dono demanda de uma ruína cuja necessidade de reparo era manifesta, e que houve falta de reparo, dessa forma é perceptível uma referência a uma conduta culposa por negligência (O professor segue nessa segunda corrente). . OBS: Na hipótese do art. 938, o responsável em questão seria o habitante, e não o proprietário, ou seja, o locatário pode ser responsabilizado nessa hipótese em questão. Essa hipótese estabelece relação com o direito romano “actio de effusis et dejectis”. Conqaunto, tem-se caso em que não é identificado de que apartamento o objeto caiu ou foi lançado, a questão da responsabilidade anônima. Nessa hipótese de acordo com o Enunciado 557 do CFJ “Nos termos do art. 938 do CC, se a coisa cair ou for lançada de condomínio edilício, não sendo possível identificar de qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso”. Dessa forma, conclui-se que a ação será movida contra o condomínio, esse podendo propor ação de regresso, contra aqueles apartamentos que poderiam ser os possíveis agentes danosos. Não seria lógico, por exemplo, propor uma ação de regresso contra um apartamento que nem visão tem da calçada. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 32 2) Dano: . OBS: O professor não concorda com a ideia de responsabilidade civil admitida sem dano, assim como também a doutrina predominante. . Para Rodolfo Pamplona e Pablo S.: dano é uma lesão a um interesse juridicamente tutelado, patrimonial ou não. . Pode acontecer situações em que haja um dano em um conceito amplamente considerável, mas que não seja suficiente para caracterizar o pressuposto da responsabilidade civil. A) A doutrina ainda aponta os requisitos para o dano RESSARCÍVEL: . Violação de um interesse jurídico patrimonial ou moral; . A efetividade por certeza; - O dano para configurar o pressuposto precisa ser certo, específico, NÃO PODE SER ESPECULATIVO. – OBS: Perceba que essa especulação se um dia vier a se concretizar não incorrerá em prescrição pela teoria do actio nata. - Exemplo: levo uma porrada na cabeça, estudos mostram que isso pode causar danos psiquiátricos 10 anos depois, teoricamente haveria a prescrição em 3 anos, por essa teoria, o prazo prescricional só começa a contar a partir do momento que o dano psiquiátrico se concretiza (eu não poderia pedir indenização em juízo pelo dano cerebral que poderia vim a acontecer, mas quando ocorresse, com base na teoria da actio nata, eu poderia entrar com a ação). . Observação importante: meu vizinho constrói um muro que corre risco de desabar na minha na casa. A pessoa não é obrigada a esperar o muro cair para tomar uma iniciativa. – O Direito Civil prevê tutelas indenizatórias, em que é possível pedir uma liminar de prevenção do problema. . Subsistência: o dano pode ocorrer, e depois naturalmente deixar de existir. Se o dano deixou de existir, isto é, não subsiste mais, ele não é pressuposto da responsabilidade civil. - Exemplo: causo um dano numa parede, mas eu mesmo conserto ali e desfaço o CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 33 dano. Assim, o dono da parede não poderia me processar pela visão da responsabilidade civil. B) Classificação dos danos: . Existem 3 tipos de danos (quanto a essas não há discussão que existem e são admitidas, mas existem outras formas que são objeto de polêmica, isto é, que não há consenso doutrinário): . Dano material: é aquele que tem valor economicamente aferível, e é um dano que atinge o patrimônio, os bens materiais, daquela vítima. . O dano material pode ser de duas subespécies: danos emergentes e lucros cessantes. . O dano emergente é aferido pela teoria da diferença: valor antes do dano – valor depois do dano = dano emergente. – Exemplo: se eu tenho um carro e alguém bate no fundo, o dano emergente é que meu carro tinha um valor antes de bater e outro batido, essa diferença é o dano emergente. . FORMAS DE REPARAR O DANO MATERIAL: (i) Reposição natural: o autor da conduta lesiva consegue reparar o dano; (ii) Reparação em prestação pecuniária: O autor da conduta lesiva paga um valor correspondente ao dano. Inclusive a doutrina entende que danos morais não têm reparação, não há ação indenizatória e sim ação compensatória por danos morais. . Lucros cessantes diz respeito aos valores que a vítima razoavelmente lucraria, mas que deixa de lucrar pela incidência do dano. - Exemplo: se o no exemplo acima do carro, se eu rodava Uber com ele e sem ele não poderei rodar, eu poderei cobrar do autor de delito. - OBS: Perceba que se fala em LUCRO, e não no faturamento, o valor a ser cobrado não é o valor total que a pessoa perde e sim o valor que ele ia lucrar. Logo nessa situação do UBER, não se cobra o faturamento cessante, logo, não é cobrado tudo da diária de um Uber, e sim, o faturamento –MENOS perdas (como gasolina, por exemplo). CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 34 . OBS: Teoria das médias = se eu sou uma empresa de ônibus e alguém bate no meu ônibus e fico 80 dias sem rodar, eu vou procurar outras 3 empresas parecidas com a minha para analisar qual a média delas de valores cobrados pela diária de um ônibus. Mas, perceba que a indenização não vai ser esse valor todo, e sim o valor da diária descontado os gastos que eu teria como gasolina e desgaste dos pneus. - O direito brasileiro não adota a teoria do faturamento cessante, e sim do que eu perdi em LUCROS cessantes. . Dano moral: já houve quem entendesse que o dano moral se caracteriza a partir do sofrimento psíquico da vítima. Esse conceito hoje é MINORITÁRIO, prevaleceu o entendimento de que não é possível associar dano moral a sofrimento psíquico. – O CONCEITO PREDOMINANTE HOJE É: o dano moral se caracteriza quando há uma ofensa a um dos direitos da personalidade (são amplos e estão em contínua evolução - o direito da personalidade está intimamente ligado à pessoa, no qual o artigo 1º do CC traz uma clara ideia do que é isto) da vítima. . QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL: No Direito Civil brasileiro não há determinação de balizas para quantificação do dos danos morais. Portanto, os magistrados, a partir de um senso de razoabilidade, devem nos casos concretos estabelecer um valor determinado em reação ao dano moral. – CONDENAÇÃO PECUNIÁRIA. . Paulo de Tarso Sanseverino: percebendo essa insegurança jurídica na hora da quantificação do dano moral, criou o método bifásico do dano moral. – Sugeriu que sejam observadas duasfases na quantificação do dano moral: (i) quero avaliar uma situação de negativação indevida de nome, como aplico? No Tribunal em que estou discutindo isso, coleciono processos que tenham situações semelhantes, ONDE VOU ENCONTRAR UM VALOR MÉDIO DA QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL, com isso se encerra a primeira fase; (ii) na segunda fase, já tendo em mente o valor médio que encontrei, vou utilizar os critérios jurisprudenciais (como por exemplo, se o autor do ato lesivo é primário ou não; nível de repercussão do fato; grau da culpa do agente; perfil socioeconômico da vítima; perfil econômico do autor do ato lesivo etc.) para manter, CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 35 reduzir ou aumentar um pouco daquele valor médio, a depender das peculiaridades do caso concreto. . Por conta da Súmula 07, o STJ não deveria em tese se intrometer no assunto de quantificação de dano moral durante apreciação de recurso (já que envolve discussão de fatos, e eles só poderiam se envolver em questões jurisprudenciais e/ou de aplicação da lei). – Todavia, por conta de o tema ser tão polêmico, ele resolveu se posicionar em situações de dano moral muito baixo ou muito alto nos recursos levados até esse Tribunal. . OBS: Súmula 385 do STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. - https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas- 2013_35_capSumula385.pdf. - Quem é negativado de maneira errônea, não vai ser indenizado se já tiver outras dividas que justamente negativaram seu nome. . OBS: Súmula 387 do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral. – Fez com que na classificação dos danos tenhamos que tratar dano estético como uma forma de dano. - https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas- 2013_35_capSumula387.pdf . Exemplo: se eu sou locutor e faço uma cirurgia na tireoide e fico com a voz distorcida, tudo isso configura dano estético. MAS NÃO PODERIA TAMBÉM SER DANO MORAL? Leo Vieira entende que há configuração de dano material e dano moral (pois, o conceito de dano estético se confunde com o moral - entendimento minoritário), mas o STJ entende como conceitos autônomos, logo os 3 podem ser configurados numa mesma situação. . OBS: Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. – Consagra o conceito do dano moral destrelado do sofrimento. – A pessoa jurídica tem direito da personalidade (honra objetiva, imagem, nome). https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2013_35_capSumula385.pdf https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2013_35_capSumula385.pdf https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2013_35_capSumula387.pdf https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2013_35_capSumula387.pdf CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 36 . OBS: Súmula 37 do STJ: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. - Houve uma época, que se entendia que só poderia haver dano moral se restasse configurado o dano material. Logo, não há mais dúvida que pode se cogitar o dano moral PURO. . OBS: Depois da Reforma Trabalhista, houve uma mudança para estabelecer uma tarifação de danos morais no DIREITO DO TRABALHO, onde a compensação deve levar em conta o salário do ofendido. O QUE É UM ABSURDO! . OBS: Sobre a Reforma da Previdência - A nova lei estipula alguns critérios objetivos que o juiz deve examinar na fixação do valor da indenização por dano moral, além de possibilitar a indenização dobrada nos casos de reincidência entre as mesmas partes. O artigo 223-G, da CLT, diz que o juiz ao apreciar o pedido de indenização por lesão moral, deverá considerar. . Dano estético: é um dano que se caracteriza quando há um dano à imagem da pessoa. . Imagem amplamente considerável. – Exemplo: imagem-voz. . No entendimento do professor o dano estético não poderia ser dano autônomo, uma vez que hora caracteriza dano moral, ora material. – PORÉM, essa não é posição majoritária. – Para o professor, o direito à imagem é um direito da personalidade. Logo, se o conceito de dano moral é isso, não seria o dano estético ramo autônomo. C) Aspectos processuais: . Antes do CPC de 2015, era comum que o advogado pedisse danos morais e solicitasse que o juiz livremente colocasse qual seria o valor do dano. Mas, com o novo CPC, o advogado já deve colocar qual o valor correto que deve ser fixado. D) Dano in repsa: . Não têm necessidade de comprovação de fato, ele é presumido, não precisa provar que houve o dano, só o fato ter acontecido já enseja a reparação. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 37 . Exemplo: negativação indevida. . Exemplo: mães e pais que perdem o filho. E) Dano em reflexo ou ricochete: . É aquele que atinge pessoa próxima a vítima direta do ato lesivo. . Exemplo: cidadão morreu assassinado. Os filhos e a esposa são pessoas próximas, logo são passíveis de dano em ricochete. – ISSO NÃO QUER DIZER QUE TODA MÃE E FILHO SERÃO, POIS DEVE SE ANALISAR NO CASO CONCRETO SE DE FATO SÃO PESSOAS PRÓXIMAS OU NÃO. – Ao mesmo tempo, em caso de se conseguir provar que existem cidadãos que não eram família, mas tinha uma relação até maior, é capaz de conseguir receber a compensação pelo dano. . Há de ser certo para ser indenizável. . OBS: se a pessoa tem morte instantânea, não é possível pedir dano para ela. – Porém, se ela ficou vegetando por um tempo, o espólio pode pedir dano direto, e os outros danos em ricochete. . Exemplo retirado do livro de Maria Helena Diniz: “demonstrado o ato ilícito decorrente do atendimento defeituoso prestado pelo hospital público à neonata, o dano corresponde à morte do filho recém-nascido e o nexo de causalidade entre ambos, dever ser o Estado condenado à prestar reparação por dano moral aos pais da vítima”. F) Responsabilidade civil por morte: . Art. 948, CC: CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 38 . Luto = publicação de chamada de sétimo dia; despesas com eventos para “celebração” do luto etc. . Despesas com tratamento quando não são morte instantânea etc. . Pensão alimentícia indenizatória com base na expectativa de vida da vítima. – NÃO SE CONFUNDE COM O DIREITO DE FAMÍLIA, LOGO NÃO ENSEJA PRISÃO (PRISÃO É SÓ PARA PENSÃO ALIMENTÍCIA LASTREADA NO DIREITO DE FAMÍLIA). . O tempo de pagamento dá pensão indenizatória é calculada pela expectativa de vida, e esse número muda constantemente segundo o IBGE. Exemplo: morre um pai de família, assassinado, aos 55 anos, assim, a pensão indenizatória dá família vai se dar por 20 anos pois a expectativa é de 75 anos. . A mulher da vítima recebe até não contrair uma relação nupcial nova e com relação a expectativa de vida referencial (o tempo que faltava para a vítima completar a expectativa de vida segundo o IBGE). – Os filhos até a maioridade ou podendo estender até 24 anos se estiver estudando. . Critério jurisprudencial quanto a quantificação é 2/3 do valor da renda do falecido. Isso porque, supõe-se que 1/3 ele gastava com si, e 2/3 gastava com a família. . OBS: se quem morreu foi uma pessoa com idade superior a expectativa de vida, mas que tem filho menor. – A depender das peculiaridades do caso, a jurisprudência analisa um tempo para ficar recebendo. . OBS: e se quem morreu era um menor de idade. A família tem direito a pensão? Se é um menor de uma família humilde, em que sesabe que todos filhos acabam ajudando de alguma forma, a jurisprudência presume que ele sairia de casa aos 24 anos, e que, portanto, é devido uma pensão até essa idade. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 39 . Art. 949 e 950: . No art. 950 a pensão será vitalícia ou até quando durar a impossibilidade/incapacidade da vítima. . A pensão deve ter o valor para que iguale o valor antes do acidente ao depois. Exemplo 1: Eu ganho 30 mil reais, sofro uma lesão e agora só consigo aferir 10, a pensão vai ser de 20. Exemplo 2: Eu ganho 50k, mas sofro um acidente e acabo ficando em estado vegetativo, a pensão vai ser de 50k. . Esse parágrafo único é polêmico, porque se a pensão é vitalícia, como arbitrar um montante para ser pago de vez? Sendo que você não sabe quanto tempo a pessoa vai viver? Se pouco, muito etc. – A vítima pode sair prejudicada disso; além de que é possível levar o réu a ruína, impondo que ele pague de vez o que pagaria parcelado. G) Novos danos: . São tentativas de ampliação do rol de danos autônomos. Pamplona e Leo Vieira entendem que a CF sinaliza que só há 2 danos (moral e material), a exceção dá súmula do stj que cria o 3º tipo (dano estético), eles são contra a criação de múltiplas teorias que pretendem estabelecer novas modalidades de dano autônomo. . EXEMPLOS DE NOVOS DANOS: . TEORIA DO DANO EXISTENCIAL: Teoria italiana segundo a qual o juiz deveria cogitar um dano a existência da pessoa, de quando alguém causa um dano no projeto CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 40 de vida da outra. - Exemplo: indenização dos meninos da base do flamengo que pegou fogo que tiveram seu projeto de vida de ser jogador prejudicados. . DANO POR ABANDONO AFETIVO: Dano sofrido pelo filho que seja afetivamente descuidado por seus pais ao longo da vida. - É preciso provar tudo isso. . DANO POR DIREITO A ESQUECIMENTO: Quando esse direito ao esquecimento é violado. . DANO PELA PERDA DE UMA CHANCE: o professor critica isso alegando que aqui se tem uma relação com o nexo causal, e não com o dano. . DANO DAS FÉRIAS ESTRAGADAS. . DANO ESPIRITUAL. . DANO PELA PERDA DO TEMPO ÚTIL. . Criatividade é infinita, mas na prática só serão impactantes se incidirem entre os danos materiais, morais e estéticos. . Torre de babel das novas adjetivações: . Autores do texto criticam essas inúmeras adjetivações que têm sido criadas para nomear os chamados “novos danos”. . Doutrina e jurisprudência criam dia após dia “novos danos”, o que torna a comunicação extremamente difícil, uma verdadeira torre de babel (não existe uniformidade linguística). . Dignidade da pessoa humana causou uma ampliação dos bens jurídicos merecedores de tutela e, consequentemente, das hipóteses de dano passíveis de ressarcimento. – POR SEREM RECONHECIDOS NOVOS INTERESSES MERECEDORES DE CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 41 TUTELA, COMEÇAM A SURGIR “NOVOS DANOS” (que nem sempre são efetivamente novos). . O próprio STJ já reconheceu autonomia do dano estético. H) Danos nas redes sociais e ata notarial: . Maior aprofundamento feito no tópico posterior de “responsabilidade civil na internet”. . Ata notarial aqui é levar os “prints” até o Tabelião de Notas para se fazer o reconhecimento da veracidade daquele documento. G) Responsabilidade civil sem dano: . Professor não concorda, falando que não deve florescer tal teoria. . Defendida por aqueles que acreditam que a responsabilidade civil poderia sancionar qualquer conduta e não apenas condutas danosas. Ou seja, isso englobaria a própria conduta humana/o agir humano por si só, uma vez que um simples agir em contrário com o Direito poderia ensejar a condenação do agente por responsabilidade civil. . Isso tudo é um absurdo, uma vez que a função da responsabilidade civil é de reagir ao dano injusto, e não de reprimir uma conduta antijurídica. 3) Nexo causal/ nexo de causalidade/ liame etiológico: A) Introdução: . Relação de causa e efeito que deve haver entre a conduta e o dano. . Para que haja responsabilidade civil é fundamental que se consiga demonstrar que aquele dano surgiu da conduta. . Sergio Cavalieri Filho: De todos os pressupostos do dever de indenizar, esse é o que desperta maiores dificuldades para o operador do direito. É a relação de causa e efeito CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 42 entre A CONDUTA e o DANO. Não basta que haja conduta e dano para que se configure a responsabilidade civil. B) Teoria da equivalência das condições: . Baseada no método de Tyrén. . Todo antecedente que uma vez retirado da cadeia determinaria a não produção do dano. Mas perceba que aí seria praticamente tudo. Exemplo: um médico esquece uma compressa dentro do paciente, o produtor da compressa também seria responsabilizado, pois se o produtor não tivesse produzido a toalha o dano não ocorreria. . A ideia seria: “se a compressa jamais tivesse sido produzida, esse dano não teria ocorrido”. – Até os professores do médico estariam na cadeia de responsabilidade civil. . Qual grande problema dessa teoria? Leva a causalidade a um infinito e além. . Essa teoria já foi superada. E, no Brasil, dividem espaços as 2 teoria abaixo na doutrina e jurisprudência. - Ambas procuram diferenciar mero antecedente fático com o que é efetivamente causa. Mas se afastam por estabelecerem critérios diferentes para isso. C) Teoria da causalidade adequada: . Segundo o professor é a teoria que tem mais pontos adequados. – Ele indica estudar esse assunto pelo livro de Fernando Noronha. . Defendida por: Sérgio Cavalieri, Fernando de Noronha, Paulo de Tarso, Leo Vieira e boa parte do STJ. . Critérios para essa teoria: . Será causa aquilo que dentro do normal desenrolar das circunstâncias seja uma causa adequada do resultado danoso. – Deve se fazer uma PROGNOSE RETROSPECTIVA, isto é, o analista da situação deverá se retroagir no tempo, se colocar abstratamente no lugar do agente, e verificar antes do dano acontecer se naquela posição do agente era razoável que o agente entendesse que aquela conduta era causa do dano. - A aplicação CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 43 dessa teoria abstratamente faz com que o operador retroaja no tempo e se coloque no lugar do autor do ato lesivo, para então avaliar se o dano era previsível e aquela conduta daria causa certa. – JÁ AFASTA A IDEIA DA CAUSALIDADE SER LEVADA AO INFINITO. D) Teoria da causalidade direta e imediata/necessária: . A causa para ser configurada deve existir necessariamente m vínculo direto e imediato entre a conduta analisada como possível causa e o dano. Além disso, deve haver uma relação de necessariedade entre a conduta e o dano. . Causa é só o antecedente que têm um vínculo direto, necessário e imediato com o dano. . Essa teoria se apoia no art. 403 do CC: Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. . Defendida por: Carlos Gonçalves, Pamplona, Stolze etc. . PAMPLONA E STOLZE: causa seria apenas o antecedente fático que ligado por um vínculo de necessariedade ao resultado danoso, determina-se ele como uma consequência sua direta e imediata. . CRÍTICA - FERNANDO DE NORONHA: Problema é que um fato um pouco mais distante pode dar causa ao dano, o que acaba restringindo demais o nexo causal. E) Fênomeno das concausas: . Esse fenômeno diz respeito a: “pense em um rio que deságua no mar, o fenômeno daconcausa são os afluentes, que tornam o rio mais volumoso para desaguar no mar. ” . Ou seja, o fenômeno das concausas são as condutas que agregam a uma conduta principal que reforça a concretização do dano. Até por isso, os coautores respondem solidariamente pelo prejuízo. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 44 . É outra causa que, juntando-se à principal, concorre para o resultado. Ela não inicia e nem interrompe o processo causal, apenas reforça. – Isto é, são circunstâncias que concorrem para o agravamento do dano, mas que não possuem a virtude de excluir o nexo causal desencadeado pela conduta principal, nem de, por si só, produzir o dano. . PAMPLONA E STOLZE: “Caracteriza o acontecimento anterior concomitante ou superveniente ao antecedente que deflagrou a cadeia causal, acrescenta-se a este em direção ao evento danoso”. . EXEMPLOS: . Cidadão recebe um tiro que o mataria, mas antes disso um terremoto leva ele ao óbito, por isso, quem deu o tiro não vai responder. Ou então o cidadão morre envenenado antes do tiro que o mataria. . CONCAUSAS PREEXISTENTES: Em regra, ela não exclui o nexo causal, responde o rio principal e o afluente. – Já existiam quando da conduta do agente, sendo antecedentes ao próprio desencadear do nexo causal. A exemplo de condições pessoais de saúde da vítima, predisposições patológicas da vítima (embora agravantes do resultado, em nada diminuem a responsabilidade do agente). . Exemplo: A, que têm a saúde fragilizada, apanha de B e morre. Exemplo 2: O sujeito morre do susto por causa do tiro e não pelo tiro em si. . CAUSAS SUPERVENIENTES: Têm que analisar no caso concreto, PODE ROMPER O NEXO CAUSAL SE ESTA CAUSA POR SI SÓ CAUSAR O DANO. . Exemplo: sujeito ferido por outrem levado para o hospital, mas, faleceu antes de chegar no hospital porque a ambulância quebrou. F) Teoria do crânio frágil: . Teoria dos EUA. . Se o cidadão tem uma circunstância pretérita que o torna mais frágil ao dano, e o agente vai lá, mesmo sem saber dessa circunstância, e causa um dano, o agente CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 45 responderá. - Exemplo: imagine que uma pessoa tem uma má formação na cabeça, e recebe um soco, ele morre, quem deu o soco vai responder por homicídio (nos EUA). O agente responde pelo resultado mais grave mesmo que ele não soubesse. . ANDERSON SCHREIBER: Nesse caso, aqui no BR, só poderia o agente do soco responder por homicídio se ele soubesse dessa condição. G) Teoria da perda de uma chance: . Teoria francesa que repercute no direito brasileiro. Para parte da doutrina, essa teoria seria uma hipótese da erosão dos filtros da responsabilidade, uma parte erodindo o dano (maioria) e outra erodindo o nexo de causalidade. Leo vieira entende que faz parte da erosão dos filtros, mas, incide sobre o pressuposto do nexo causal. . Consiste na situação em que o agente (réu) fizer com que outra perca uma chance concreta de obter ganho ou evitar perda, assim, o judiciário deve aplicar uma condenação ao pagamento de um valor proporcional ao grau da chance perdida. . CRISTIANO CHAVES: Imagine no show do milhão onde todas as alternativas estão erradas. Perceba que se essa teoria não existisse, provavelmente essa mulher não teria êxito em processar a emissora, mas, com a teoria da perda de uma chance, sim. Nesse exemplo Léo Vieira entende que há uma flexibilização do nexo causal (relação de causa e efeito: a emissora não dá a opção correta e a candidata perde a chance, não se sabe se ela iria realmente acertar), mas a maioria dá doutrina entende que seria dano. EXEMPLO 2: Quando o médico não dá um remédio muito bom ao paciente e o paciente tem um dano, ele poderia processar o médico pela perda da chance de ter tido uma recuperação melhor. H) Causas excludentes do nexo causal: . Sem nexo causal não há dever de indenizar. . Em regra, as excludentes de causalidade, são excludentes de responsabilidade, mas há exceções. CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 46 . FATO EXCLUSIVO/CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA: . A ideia é que a vítima determina o dano. EXCLUSIVAMENTE!!! Se a culpa é só CONCORRENTE da vítima, nesse caso, é mero critério para modular o valor da indenização. . FATO EXCLUSIVO DE TERCEIRO: . Mesmo raciocínio do fato exclusivo da vítima. Mas, aqui quem vai responder é o terceiro. . CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR: . É a hipótese clássica de ruptura do nexo causal, ambos são inevitáveis. Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis evitar ou impedir. . OBS - Venosa e Léo Vieira entendem que não há diferença entre caso fortuito e força maior. OBS - parte da doutrina consumerista divide o caso fortuito em: . Fortuito interno: dano inevitável, mas atrelada a atividade do agente. Não afastaria o dever de indenizar para o direito do consumidor. . Fortuito externo: dano inevitável não atrelada a atividade fim do agente. . Força maior se relaciona com os eventos irresistíveis e inevitáveis da natureza. . Caso fortuito se relaciona com os eventos inevitáveis e imprevisíveis da atividade humana. I) Excludentes de responsabilidade: . CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR: CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 47 . É possível no âmbito cível que se firma uma cláusula no contrato que ninguém paga nada. Exclui a responsabilidade. . LEGÍTIMA DEFESA: . Pode até se dizer que ela quebraria o nexo causal, mas ainda que a priori não quebrasse, exclui a responsabilidade. . EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO . Exclui a responsabilidade, mas não a causalidade. Exemplo: colocar um nome de alguém no SPC porque a pessoa não pagou, não quebra o nexo, quem negativou a pessoa fui eu, mas eu estou no exercício regular do meu direito. . ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL . ESTADO DE NECESSIDADE. OBS: Se há a previsão da cláusula penal no contrato, e não faz ressalva sobre a indenização complementar, poderá haver ambos. RESPONSABILIDADE CIVIL E ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO CADERNO DE RESPONSABILIDADE CIVIL – PROF. LEONARDO VIEIRA SANTOS NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 48 1) Introdução: . A análise econômica do direito é uma ferramenta que tem obtido cada vez mais relevância, isso não quer dizer que a análise econômica do direito seja algo absolutamente novo no mundo, na verdade é uma maneira de enxergar o direito que remonta aos EUA e sobretudo, a Faculdade de Yale e a Escola de Chicago, isso lá na década de 60 no século passado. No brasil, entretanto, essa visão começa a surgir no início dos anos 2000, mas ainda de forma tímida, de forma incipiente, até que passa o tempo e chegamos aos dias de hoje em que a influência da analise economia do direito (AED) tem inequívoca repercussão doutrinaria e, inclusive, repercussão na jurisprudência e no direito positivo. . A Lei da liberdade econômica divide opiniões no mundo jurídico, uma parte entende que a lei trouxe mais efeitos positivos do que negativos e vice-versa. Mas, o que é inequívoco é que essa lei tem nítida influência da análise econômica do direito, inclusive no corpo dessa lei é possível ver expressões típicas de AED. Essa lei promoveu mudanças no Código Civil brasileiro (bem como na LINDB) no sentido de restringir, de alguma maneira, a questão da aplicação jurisdicional dos princípios, tentando restringir decisões que se fundem exclusivamente em aspectos principiológicos, sem uma reflexão acerca das consequências
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