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Aula 7: Peˆndulo Simples 1 Resumo Neste experimento, vamos encontrar a equac¸ao˜ que rege o movimento de um peˆndulo simples (per´ıodo versus comprimento do peˆndulo) a partir da ana´lise de gra´ficos e da ana´lise dimensional. O ajuste linear sera´ feito usando-se o me´todo dos mı´nimos quadrados. A acelerac¸a˜o da gravidade local sera´ usada como um indicador de qualidade dos dados experimentais. 2 Introduc¸a˜o Um peˆndulo simples pode ser implementado experimentalmente prendendo-se uma massa m a um fio de comprimento l. Sendo um sistema que oscila harmonicamente, um para´metro que o caracteriza bem e´ o tempo gasto para executar uma oscilac¸a˜o completa (per´ıodo, T ). E´ poss´ıvel deduzir a expressa˜o que relaciona T , m e l, a partir da aplicac¸a˜o das leis de Newton. Num caso particular, onde sa˜o consideradas apenas pequenas os- cilac¸o˜es, pode-se mostrar que: T = 2pi √ l g (1) onde g e´ a acelerac¸a˜o da gravidade local. A realizac¸a˜o do experimento com peˆndulo simples permite explorar va´rios aspectos experimentais, tais como a elaborac¸a˜o e ana´lise de gra´ficos, medic¸o˜es (me´dias, desvios, incertezas) e ana´lise dimensional. Tambe´m alguns aspectos na implementac¸a˜o do peˆndulo para garantir uma melhor aproximac¸a˜o como peˆndulo simples e o cuidado de realizar medic¸o˜es com aˆngulos pequenos. 1 3 Desenvolvimento do Experimento 3.1 Objetivos Nosso objetivo sera´ encontrar a equac¸a˜o 1 a partir da medic¸a˜o de T e l. 3.2 Peˆndulo simples ideal Um primeiro cuidado importante para a boa realizac¸a˜o do experimento e´ tentar tornar o peˆndulo simples o mais ideal poss´ıvel! Devemos lembrar que o peˆndulo e´ considerado simples quando toda sua massa esta´ localizada a uma distaˆncia l do centro da oscilac¸a˜o. Isso implica em dizer que o fio deve ser ideal (sem massa e inextens´ıvel) e a massa puntual. Obviamente isso na˜o e´ poss´ıvel, mas temos que, como bons experimentadores, tentar nos aproximar dessa situac¸a˜o ideal!! A condic¸a˜o de fio inextens´ıvel na˜o e´ um grande problema!! Podemos verificar tal condic¸a˜o suspendendo uma massa pelo fio e observando se as dimenso˜es do fio, em especial o comprimento, sofrem alguma alterac¸a˜o. Geralmente encontramos problemas quando o fio usado e´ produzido por fios tranc¸ados. Isso pode produzir uma rotac¸a˜o na massa, e consequente alterac¸a˜o nas dimenso˜es do fio. Mesmo assim, o fio se estabiliza apa´s um pouco de trac¸a˜o e torc¸a˜o, o que nos permitira´ trata´-lo como um fio inextens´ıvel! A segunda condic¸a˜o (fio sem massa) pode parecer imposs´ıvel de ser satisfeita! Mas observemos que um peˆndulo simples ideal deve ter toda sua massa concentrada na ponta do fio. A massa total e´ dada por m = mfio +mcorpo onde mfio e´ a massa distribu´ıda ao longo do fio e mcorpo e´ a massa do corpo suspenso. Assim, sempre que pudermos considerar mfio << mcorpo, estaremos pro´ximos da condic¸a˜o ideal! Por exemplo, se usarmos um fio com massa da ordem de 1,0 a 2,0 gra- mas e um corpo da ordem de 100,0 gramas, estaremos satisfazendo razoavelmente bem a condic¸a˜o de fio ideal. Resolvido o problema com o fio, ainda temos que pensar nas dimenso˜es do corpo suspenso. O ideal seria que toda a massa estivesse concentrada num ponto!! Como isso na˜o e´ poss´ıvel, temos que buscar uma condic¸a˜o mı´nima de idealizac¸a˜o. De maneira ana´loga ao problema do fio, sempre que as dimenso˜es da massa (ex: lcorpo) for muito menor do que o comprimento do fio (ex: lfio), podemos satisfazer razoavelmente a condic¸a˜o de massa ideal. Assim, enquanto mantivermos aceita´vel a condic¸a˜o lcorpo << lfio poderemos simular experimentalmente um bom peˆndulo simples. Perceba que, apesar da equac¸a˜o 1 2 na˜o depender da massa, a implementac¸a˜o do peˆndulo simples requer o uso de uma massa grande, visando aproximar o experimento da condic¸a˜o ideal. Devemos, tambe´m, observar que a validade da equac¸a˜o 1 esta´ restrita ao caso ideal (va´cuo, fio e massa ideais, pequenas oscilac¸o˜es). 3.3 Medic¸o˜es: T x l Sendo o per´ıodo (T ) uma grandeza f´ısica que caracteriza um importante aspecto do peˆndulo simples (tempo de uma oscilac¸a˜o completa) e sabendo que esta depende do com- primento do fio (l), devemos medir que valores T assume, quando variamos l. Os pontos (l, T ) podem ser organizados em uma tabela. A medic¸a˜o do comprimento do fio (l) requer apenas um pouco de cuidado. Precisamos identificar como o fio esta´ preso ao suporte que o sustenta para localizar a origem do mesmo. O final do fio geralmente e´ definido no centro de massa do corpo suspenso. Como tal comprimento praticamente na˜o e´ afetado por erros estat´ısticos, podemos med´ı- lo 2 ou 3 vezes apenas para maior seguranc¸a, e considerar a incerteza do instrumento de medic¸a˜o (geralmente uma trena: σ = 0, 5mm). Obviamente temos que evitar erros sistema´ticos (geralmente causados por paralaxe ou displiceˆncia do experimentador!!!). Uma dica importante para reduzir eventuais efeitos de extensa˜o do fio e´ comec¸ar a medir l pelos comprimentos maiores. A medic¸a˜o do per´ıodo e´ um pouco mais delicada. Em princ´ıpio bastaria acionar o cronoˆmetro no in´ıcio do movimento e desliga´-lo ao final de um per´ıodo. Mas, o processo de acionar/desligar um cronoˆmetro envolve um tempo de retardo do operador (tr), geral- mente estimado em 0, 1s. Em princ´ıpio o tempo gasta para aciona´-lo e´ pro´ximo ao tempo gasto para desliga´-lo, de forma que eles se compensam!! Se isso e´ verdade, na˜o havera´ problemas da medic¸a˜o do per´ıodo. No entanto, se na˜o for, estaremos acrescentando um erro sistema´tico desconhecido a`s medic¸o˜es. Minimizar este problema e´ fa´cil. Vamos supor que o per´ıodo verdadeiro de oscilac¸a˜o seja Tv e o erro sistema´tico devido ao tempo de retardo, tr. Se fizermos a medic¸a˜o de uma oscilac¸a˜o obteremos: Texp = Tv + tr Vamos supor um caso cr´ıtico tal que Tv = 0, 5s e tr = 0, 1s. Nesse caso estaremos cometendo um erro percentual de 20%!! Mais ainda, devemos perceber que medir um tempo de 0, 5s na˜o e´ tarefa trivial para um ser humano!!! Assim, precisamos aprimorar nosso protocolo de medic¸a˜o. 3 Vamos medir, enta˜o, o tempo de n oscilac¸o˜es completa (Tn). Como iremos acionar e desligar o cronoˆmetro apenas 1 vez, o tempo total medido sera´: tn = nTexp = nTv + tr Se dividirmos tn por n obteremos o tempo de uma oscilac¸a˜o, ou seja o per´ıodo experimental (Texp): Texp = Tv + tr n (2) A expressa˜o 2 nos diz que a diferenc¸a entre o per´ıodo experimental (Texp) e o per´ıodo verdadeiro (Tv) e o tempo de retardo dividido por n, ou seja, ficamos n vezes mais ra´pidos sem nenhum esforc¸o!!! Ale´m disso, devemos observar que a incerteza instrumental deve ser associada e´ medic¸a˜o de tn. Sendo n um nu´mero exato, ao dividirmos tn por n fazemos o cronoˆmetro ficar com uma resoluc¸a˜o n vezes maior!! Em resumo, podemos usar o seguinte protocolo experimental: • medir 5 vezes o tempo de 10 oscilac¸o˜es; • calcular o valor me´dio e incerteza associada com os 5 valores; • dividir o resultado por 10, para obter o per´ıodo. E assim, todo esse procedimento (medic¸a˜o de l e T ) produz 1 ponto na tabela!! Repe- tindo tal procedimento 5 vezes, teremos uma tabela com 5 pares (l, T ) que dara˜o origem a gra´ficos com 5 pontos experimentais. Como exemplo, segue a tabela 1: Tabela 1: Resultados Experimentais: l x T l(m) δl T (s) δT 1,7000 0,0005 2,62 0,05 1,3800 0,0005 2,36 0,05 1,1500 0,0005 2,15 0,05 0,7500 0,0005 1,74 0,05 0,3000 0,0005 1,10 0,05 As medidas de l sa˜o dadas em metros e de T segundos. δl e δl sa˜o as incertezas associadas as medidas l e T , respectivamente. 4 3.4 Ana´lise Gra´fica De posse da tabela com os dados experimentais podemos iniciar a ana´lise gra´fica. O primeiro gra´fico que deve ser feito e´ (T x l) em papel milimetrado, para que possamos ter uma ideia de como e´ a relac¸a˜o entre as varia´veis. Este gra´fico mostra que a relac¸a˜o entre T e l na˜o e´ linear!Para tentar determinar qual e´ a relac¸a˜o, podemos “graficar ”T e l em papel dilog. Agora podemos perceber que existe uma relac¸a˜o linear em papel dilog, que indica que a relac¸a˜o entre T e l e´ do tipo T = Clp, com os paraˆmetros C e p a determinar pela ana´lise do gra´fico, conforme indicado abaixo: C = T (l = 1) = 2, 01 (3) p = log 2,62−log 1,10 log 1,7000−log 0,3000 = 0, 500 Assim, podemos concluir que T = 2, 01 √ l (4) 3.5 Ana´lise dimensional Uma vez que ja´ conhecemos a relac¸a˜o 4, podemos analisar as dimenso˜es das varia´veis. Considerando que T e´ dado em segundos e l em metros, podemos encontrar a unidade da constante C na equac¸a˜o, conforme mostrado a seguir: T = C √ l [T ] = [C] √ [l] s = [C]m 1 2 [C] = s m 1 2 [C] = ( s 2 m )1/2 Da ana´lise dimensional podemos concluir que a constante C tem como unidade √ s2 m . Isso nos permite especular que C tem alguma relac¸a˜o com a raiz quadrada do inverso da acelerac¸a˜o gravitacional local (g). Tal especulac¸a˜o na˜o e´ ta˜o absurda se pensarmos que o movimento do peˆndulo deve-se a aplicac¸a˜o de uma forc¸a, em especial, de uma componente 5 da forc¸a peso da massa suspensa, que depende da acelerac¸a˜o da gravidade local. Por mais que parec¸a lo´gico, ainda e´ uma especulac¸a˜o!!! Se a constante C tem tal relac¸a˜o com g, podemos escrever: C = k√ g onde k e´ uma outra constante. Se substituirmos os valores nume´ricos de C (2,01) e g (9,8), obtemos: C = k√ g 2, 01 = k√ 9,8 ⇒ k = 6, 29 Com um pouco de inspirac¸a˜o podemos associar o valor da constante k com 2pi!! (6,2832. . . ) Assim, podemos concluir (com especulac¸a˜o e inspirac¸a˜o) que a relac¸a˜o entre T e l e´ dada por T = 2pi √ l g que e´ justamente a relac¸a˜o obtida teoricamente para um peˆndulo simples submetido a pequenas oscilac¸o˜es!!! 3.6 Um pouco mais de realidade!! Os valores mostrados na tabela 1 foram escolhidos de forma a permitir que nosso racioc´ınio especulativo e inspirado pudesse nos levar a resposta correta! Nem sempre uma medic¸a˜o feita num laborato´rio de ensino, em um curso para alunos iniciantes, nos leva a resultados ta˜o corretos! Na pra´tica, se usarmos valores experimentais to´picos do nosso contexto, na˜o podemos garantir que as constantes C e p da equac¸a˜o 4 assumira˜o os valores corretos. Para avaliar a qualidade dos dados experimentais obtidos, podemos verificar se eles nos conduzem a um valor coerente da acelerac¸a˜o da gravidade local. Isso significa que a determinac¸a˜o de g pode ser vista como um crite´rio de qualidade dos dados experimentais. A partir da equac¸a˜o 1 podemos escrever: g = 4pi2l T 2 (5) 6 Para cada ponto experimental (T, l), podemos calcular um valor de g. Considerando 5 medidas, podemos calcular g como um valor me´dio e incerteza associada. Outra maneira de determinar g a partir de uma se´rie de medidas e´ pelo me´todo gra´fico. Podemos reescrever a equac¸a˜oo 4 como: T 2 = 1 g 4pi2l (6) Observando a equac¸a˜o 6, podemos entender que se fizermos um gra´fico de (T 2 x 4pi2l), obtermos uma reta cujo coeficiente angular e´ 1 g . Sendo uma reta, podemos observar (e calcular) quanto que os pontos experimentais se ajustam a` reta me´dia. Ale´m disso, podemos verificar se a reta me´dia passa pela origem dos eixos coordenados (coeficiente linear = zero). Assim, teremos informac¸o˜es gra´ficas e via ca´lculo de me´dias que permitiram dar um parecer sobre a qualidade dos dados experimentais. 4 Me´todo dos mı´nimos quadrados A obtenc¸a˜o da reta me´dia, a partir de uma se´rie de pontos experimentais pode ser feita de maneira mais rigorosa do que a ana´lise visual. Em princ´ıpio, um bom ajuste linear e´ aquele que faz com que as diferenc¸as entre o ponto experimental e a reta me´dia (desvio) sejam mı´nimas. Ou seja, se considerarmos m pontos experimentais, podemos impor a condic¸a˜o de que a somato´rio do quadrado dos m desvios seja mı´nima. Essa e´ a base do me´todo dos mı´nimos quadrados, cuja versa˜o simplificada discutiremos a seguir. 4.1 Ajuste linear Vamos supor que o resultado de um experimento possa ser registrado na forma de tabela, conforme o exemplo a seguir (tabela 2): Tabela 2: Resultados Experimentais Genericos x[ux] y[uy] x1 y1 x2 y2 x3 y3 ... ... xm ym 7 Estamos a procura de uma func¸a˜o do tipo y = ax + b que se ajuste bem a tais resultados, ou seja, queremos determinar os melhores paraˆmetros a e b. Mas que crite´rio usar para definir o que e´ melhor?!?! Vamos definir a diferenc¸a entre o ponto experimental e a reta me´dia como um desvio, dado por: di = yi − yg onde yi e´ um valor medido e yg e´ o valor da reta me´dia, para o mesmo xi. Assumindo que yg = axi + b, podemos escrever: di = yi − axi − b A condic¸a˜o de melhor ajuste pode ser imposta pela minimizac¸a˜o da soma dos quadra- dos dos desvios, ou seja: min[ m∑ i=1 d2i ] (7) Para calcular o mı´nimo de uma func¸a˜o, podemos usar o conhecimento de Matema´tica, sobre derivadas. Derivando-se a equac¸a˜o 7 em relac¸a˜o aos paraˆmetros a e b, e igualando a zero, obtemos: ∂ ∂a m∑ i=1 d2i = m∑ i=1 2(yi − axi − b)(−xi) m∑ i=1 (−xiyi + ax2i + bxi) = 0 a m∑ i=1 x2i + b m∑ i=1 xi = m∑ i=1 xiyi (8) Continuando, ∂ ∂b m∑ i=1 d2i = m∑ i=1 2(yi − axi − b)(−1) m∑ i=1 (−yi + axi + b) = 0 mb+ a m∑ i=1 xi = m∑ i=1 yi (9) As equac¸o˜es 8 e 9 formam um sistema de duas equac¸o˜es com duas incognitas (a e b) que pode ser resolvido sem muitas dificuldades. 8 Para avaliar se os paraˆmetros encontrados para a reta me´dia representam bem os pontos experimentais, podemos calcular o coeficiente de correlac¸a˜o, dado por: r2 = (∑m i=1 xiyi − P m i=1 xi P m i=1 yi m )2 (∑m i=1 x 2 i − ( P m i=1 xi)2 m )(∑m i=1 y 2 i − ( P m i=1 yi)2 m ) (10) O coeficiente de correlac¸a˜o (r2) assume valores entre zero e um (0 ≤ r2 ≤ 1) e indica a qualidade do ajuste entre os pontos experimentais e os paraˆmetros ajustados. Quanto maior r2 melhor sera´ o ajuste. Sempre que precisarmos ajustar pontos experimentais a func¸a˜o tipo y = axb e y = aebx, devemos usar o racioc´ınio usado para linear tais curvas (ver cap´ıtulo sobre gra´ficos). Ou seja, no caso de y = axb temos que transformar a tabela (x, y) em (log x, logy) e depois executar os ca´lculos do ajuste quadra´tico. No caso de y = aebx temos que transformar a tabela (x, y) em (x, log y). 9
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