Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Andressa Marques – medicina UFR PARALISIAS FLÁCIDAS AGUDAS (PFA) →Consiste em uma síndrome cínica caracterizada por fraqueza muscular aguda (de rápida instalação – horas até semanas), associada a alteração do tônus muscular (hipotonia) e dos reflexos profundos (diminuídos ou abolidos); →É do tipo síndrome do neurônio motor inferior, pode acometer musculatura respiratória e faríngea; →Não é um quadro súbito! É agudo, mas não súbito. Se o quadro for súbito é considerado um AVC. TOPOGRAFIA DA “LESÃO” →A abordagem do paciente com suspeita de PAF deve-se iniciar pela busca do diagnóstico topográfico correto, que influenciará no tratamento e prognóstico. →A PAF geralmente decorre de uma disfunção na unidade motora (formada por corno anterior da medula, nervo periférico, junção neuromuscular e músculo). Qualquer uma dessas regiões acometidas pode levar a PAF. →Outro diagnóstico topográfico inclui o acometimento dos tratos corticoespinais laterais da medula em uma fase aguda (fase do “choque medular”). Os sinais de alerta que apontam para essa topografia são: envolvimento exclusivo dos membros inferiores, alteração precoce da função esfincteriana ou presença de nível sensitivo no exame neurológico. ETIOLOGIAS NEUROPATIAS: • Síndrome de Guillain-Barré • Neuropatia do doente crítico MIOPATIAS • DOENÇAS SISTÊMICAS: ➢ Paralisia Hipocalêmica ➢ Porfiria Intermitente Aguda • MIELOPATIA AGUDA: ➢ Mielite Transversa ➢ Síndromes Compressivas • DOENÇAS DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR: ➢ Botulismo ➢ Miastenia Gravis ➢ Crise Miastênica ➢ Intoxicação por organofosforados • OFIDISMO Andressa Marques – medicina UFR SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ →Polineuropatia aguda, monofásica e rapidamente progressiva; evolução de dias (em até 4 semanas) →É a causa mais comum de paralisia flácida aguda; →Incidência anual de 1 a 4 por 100.000 habitantes; →Sempre solicitar anti-HIV para pacientes com SGB FISIOPATOLOGIA →Agressão imunomediada ao sistema nervoso periférico, provavelmente por reação cruzada a infecção prévia; →A agressão pode ser à bainha de mielina e/ou ao axônio. APRESENTAÇÃO CLÍNICA →Cerca de 2/3 dos pacientes relatam infecção respiratória ou do TGI prévia – prestar atenção nisso, investigar durante a admissão do paciente; →Os sintomas de infecção respiratória ou do TGI podem preceder o quadro neurológico em 1 a 4 semanas; →Geralmente a pessoas tem algum tipo de ativação do sistema imune, e depois é gerada autoimunidade contra o sistema nervoso periférico, pode agredir tanto a bainha de mielina ou o axônio, podendo também agredir ambos; →O patógeno precipitante mais comumente identificado é o Campilobacter jejuni; →Citomegalovírus, Epstein-Barr e HIV também são bem associados; →Outros vírus e bactérias não têm associação com a SGB bem estabelecida; →Casos raros podem estar associados a medicamentos, cirurgias, traumas, transplante de medula óssea, linfoma e doenças autoimunes; FORMAS CLÍNICAS (existem várias, a primeira que será apresentada abaixo é a mais comum) 1. POLINEUROPATIA DEMIELINIZANTE INFLAMATÓRIA AGUDA (FORMA CLÁSSICA) →É a forma mais comum →Acomete TODOS os nervos →Fraqueza muscular progressiva e relativamente simétrica, que se inicia nas extremidades inferiores e ascende para membros inferiores, braços, tronco, cabeça e pescoço, associada a diminuição dos reflexos miotáticos e perda sensitiva variável. Podendo acometer a musculatura respiratória, sendo esse o grande risco da síndrome; →A queixa principal (mais inicial) é a alteração da motricidade – paciente chega com queixa de não conseguir deambular, depois não consegue segurar as coisas, depois apresenta dificuldade respiratória; →Padrão de polineuropatia incialmente em botas e luvas; 2. VARIANTE FARINGO-CERVICO-BRAQUIAL →Início dos sintomas nos nervos cranianos bulbares, progredindo para outros nervos cranianos, cervicais, membros superiores e membros inferiores. Forma descendente. Andressa Marques – medicina UFR 3. SÍNDROME DE MILLER-FISHER →Oftalmoparesia/plegia + ataxia cerebelar + a/hiporreflexia são as manifestações iniciais, seguidas de fraqueza muscular descendente. FORMAS AINDA MENOS COMUNS: 4. NEUROPATIA AXONAL MOTORA AGUDA 5. NEUROPATIA AXONAL MOTORA E SENSITIVA AGUDA 6. ENCEFALITE DE BICKERSTAFF 7. PARAPARESIA CARACTERÍSTICAS GERAIS →Fraqueza da musculatura respiratória pode levar à necessidade de suporte ventilatório em até 30% dos casos. Então a insuficiência respiratória é a maior preocupação na SGB →Redução dos reflexos miotáticos é encontrada em 90% dos pacientes na apresentação e em praticamente todos durante a evolução. Quase todos pacientes apresentam hiporreflexia ou arreflexia, isso ajuda muito no diagnóstico. Os pacientes que chegam com hiporreflexia tendem a evoluir com arreflexia com o passar do tempo. →Dor radicular, nas costas e extremidade, é relatada por 70% dos pacientes. →Paresia facial ocorre em metade dos casos (paciente fica com dificuldade de mexer a face, expressar emoções, geralmente bilateral), assim como paresia bulbar (dificuldade de falar e de engolir). →Parestesias nas regiões acometidas são comuns, mas perda sensitiva geralmente é pouco significativa. →Oftalmoparesia e ptose ocorrem em 10%. Ou seja, pouca ptose, isso também ajuda no diagnóstico diferencial. →SIADH/hiponatremia pode ocorrer →Função esfincteriana geralmente é preservada (controle miccional e evacuatório normais também ajudam no diagnóstico); →Disautonomia acomete 70% dos pacientes: taquicardia, retenção urinária, hipo/hipertensão, hipotensão ortostática, bradicardia, íleo, anidrose, podendo ser graves. Idealmente o paciente deve estar com monitor cardíaco. CURSO DA DOENÇA →Costuma atingir seu pico em 2 semanas em 50% dos pacientes e em 4 semanas em 90%. →Progressão por mais de 4 semanas sugere polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica. →Após este pico, os sintomas ficam estáveis por cerca de 2 a 4 semanas, seguindo-se a recuperação espontânea, que é lenta e pode ser incompleta. Esse paciente pode ter sequelas após a resolução do quadro. DIAGNÓSTICO 1. LÍQUOR – é o método de diagnóstico mais fácil e acessível: →Dissociação albuminocitológica: proteínas aumentadas (≥45 mg/dL) com celularidade normal. Andressa Marques – medicina UFR →Presente em 55% dos pacientes na primeira semana do início dos sintomas e em 80% na terceira semana; Ou seja, na primeira semana o líquor pode ser normal, aí o paciente deve ser internado para monitorização e avaliação do decorrer dos dias. →A celularidade (linfócitos) costuma ser < 5 cels/mm3. Alguns pacientes podem apresentar até 50 cels/mm3. Em caso de > 10 cels/mm3, suspeitar de causa infecciosa (HIV, sarcoidose, Lyme). ANÁLISE DO LÍQUOR (NECESSÁRIO AMBAS) A- Alta concentração de proteína B- Presença de menos de 10 cels/mm3 2. ESTUDO ELETROFISIOLÓGICO/ELETRONEUROMIOGRAFIA (pouco disponível) →Na maioria dos casos mostra evidências de desmielinização; →Lesão axonal é MENOS frequente; →Pode ser normal na fase precoce (5 a 7 dias), as anormalidades são mais pronunciadas após 2 semanas; →É um procedimento totalmente examinador-dependente; ESTUDO ELETROFISIOLÓGICO TÍPICO (são necessários 3 dos 4 critérios abaixo) A- Redução da velocidade de condução motora em 2 ou mais nervos B- Bloqueio de condução do potencial na condução neural motora ou dispersão temporal em um ou mais nervos C- Prolongamento da latência motora distal em dois ou mais nervos. D- Prolongamento de latência da Onda F ou ausência dessa onda. 3. ANTICORPOS →Anti GQ1b: 90% de sensibilidade para síndrome de Miller-Fischer, podendo ser encontrado em outras formas como encefalite de Bickerstaff e variante faringo-cervico-braquial. Específico para SGB. 4. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA →Podemostrar hipersinal e/ou captação de contraste em cauda equina, gânglios e raízes espinhais e nervos cranianos como abducente, oculomotor e fácil. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS CRITÉRIOS OBRIGATÓRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DA SGB (são necessários ambos) a- Fraqueza progressiva de mais de um membro ou de músculos cranianos de graus variáveis, desde paresia leve até plegia. b- Hiporreflexia e arreflexia distal com graus variáveis de hiporreflexia proximal. CRITÉRIOS SUGESTIVOS CLÍNICOS DA SGB (presença de ao menos 3) Andressa Marques – medicina UFR a- Progressão dos sintomas ao longo de 4 semanas b- Demonstração de relativa simetria da paresia de membros c- Sinais sensitivos leves a moderados d- Envolvimento de nervos cranianos, especialmente fraqueza bilateral dos músculos faciais e- Dor (pode simular caso de radiculopatia) f- Disfunção autonômica (hipotensão, taquicardia, hipertensão) g- Ausência de febre no início do quadro CRITÉRIOS QUE REDUZEM A POSSIBILIDADE DA SGB (permitida apenas uma, caso exames complementares sejam compatíveis) A- Fraqueza assimétrica B- Disfunção intestinal e de bexiga no início do quadro C- Ausência de resolução de sintomas intestinais ou urinários D- Presença de mais de 50 cels/mm3 na análise do líquor E- Presença de células polimorfonucleares no líquor F- Nível sensitivo bem demarcado CRITÉRIOS QUE EXCLUEM A POSSIBILIDADE DA SGB (nenhum deve estar presente) A- História de exposição a hexacarbono, presente em solventes, tintas, pesticidas ou metais pesados. B- Achados sugestivos de metabolismo anormal da porfirina C- História recente de difteria D- Suspeita clínica de intoxicação por chumbo (ou outros metais pesados) E- Síndrome sensitiva pura (ausência de sinais motores) F- Diagnóstico de botulismo, miastenia gravis, poliomielite, neuropatia tóxica ou paralisia conversiva. TRATAMENTO TER EM MENTE: a deterioração pode ser rápida! Em TODO paciente com paralisia flácida aguda: 1. INTERNAR – pois a evolução para insuficiência respiratória pode ser rápida, mesmo que o paciente esteja relativamente bem, em um quadro inicial, deve ser internado e monitorado, pode precisar ser intubado a qualquer momento!) 2. FAZER AVALIAÇÃO VENTILATÓRIA →Pacientes com dispneia aparente, dessaturação e/ou sinais de esforço respiratório, mesmo que leves, DEVEM ser admitidos em unidade intensiva. →Cuidado ao fornecer oxigenoterapia para pacientes com doença neuromuscular. →Parâmetros que indicam necessidade de IOT preventiva: • Capacidade vital forçada < 20ml/Kg • Pressão inspiratória máxima < 30 cm/H2O • Pressão expiratória máxima <40 cm/H2O Outros fatores que indicam maior risco de falência respiratória: • Disfunção bulbar Andressa Marques – medicina UFR • Fraqueza motora grave (incapacidade de elevar os membros) #DISAUTONOMIA: as formas mais graves costumam acometer pacientes com fraqueza acentuada e insuficiência respiratória. #DOR: cuidado com opioides pelo risco de íleo paralítico. Pode tratar a dor com gabapentina e pregabalina na fase aguda. #PROFILAXIA TVP: Heparina profilática; meias compressivas TRATAMENTO MODIFICADOR DE DOENÇA: →Imunoglobulina humana (IGIV) e plasmaférese aceleram o tempo de recuperação da SGB em até 50%. Possuem eficácia equivalente. →Não deve se fazer a plasmaférese após a administração da imunoglobulina, pois isso iria limpar a imunoglobulina do plasma; →Quanto mais precoce a administração, mais rápida a melhora →Qualquer paciente com algum grau de insuficiência respiratória deve ser tratado →O tratamento é totalmente indicado nas formas mais graves e em pacientes que não consigam deambular #Não há indicação em caso de acometimento leve e o paciente já em melhora. Isso é o que é recomendado na literatura, mas, se algum grau de insuficiência respiratória, professor opta por tratar. #A janela terapêutica é de 4 semanas após o início dos sintomas. #A analgesia pode ser feita com dipirona, paracetamol, AINES... IMUNIZAÇÕES NO PACIENTE COM HISTÓRICO DE SGB: →Não devem ser feitas na fase aguda e devem ser evitadas no primeiro ano após a doença →Após 1 ano, sugere-se evitar vacinações que não tenham forte recomendação →Evitar imunizações que tenham sido realizadas em até 6 semanas antes do início dos sintomas MIELOPATIAS →Mielopatias agudas por compressão, mielopatia transversa aguda, inflamação medular, isquemia medular →Tem disfunção esfincteriana precoce ou de nível sensitivo →Epidemiologicamente devem ser a segunda causa mais de PFA →Choque medular: paralisia flácida arreflexa + anestesia + perda de controle esfincteriano abaixo da lesão. Dura horas a semanas. Andressa Marques – medicina UFR →Choque neurogênico: bradicardia e hipotensão. MIELITE TRANSVERSA (DOENÇA INFLAMATÓRIA AUTOIMUNE) • BLOQUEIA OS IMPULSOS NERVOSOS TANTO ASCENDENTES COMO OS DESCENDENTES • PRIMÁRIA: pós-infecciosa • SECUNDÁRIA: ➢ Doenças inflamatórias do SNC (ADEM, Esclerose Múltipla, Neuromielite óptica) ➢ Doenças reumatológicas (LES, Sjogren) ➢ Paraneoplásica MIELITE INFECCIOSA • Abscessos medulares, esquistossomose, herpes simples e herpes zoster MIELOPATIAS NÃO INFLAMATÓRIAS • VASCULAR • METABÓLICA (DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12) • NEOPLÁSICA COMPRESSÃO MEDULAR: • Traumática, hemorrágica, neoplásica, degenerativa DIAGNÓSTICO: →IMAGEM é fundamental (RNM), TC e RX podem ajudar. →Análise liquórica é necessária em suspeita de doença inflamatória e/ou infecciosa →O diagnóstico diferencial com a SGB é através da clínica. Na mielite, há um nível e abaixo dele tem sintomas, na SGB não acontece isso. TRATAMENTO →MIELITE TRANSVERSA: corticoide venosos →MIELOPATIA COMPRESSIVA: Cirurgia Andressa Marques – medicina UFR DOENÇAS DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR BOTULISMO • Secundário a intoxicação alimentar ou ferimento • Geralmente há neuropatia craniana aguda bilateral com FRAQUEZA DESCENDENTE • Pupilas midriáticas pouco fotorreativas • Constipação intestinal • Os reflexos miotáticos podem estar reduzidos, podendo haver também parestesias, porém não há déficit sensitivo • Tratamento: soro antibotulínico e antibióticos em caso de ferimentos CRISE MIASTÊNICA – complicação da miastenia gravis • Falência respiratória neuromuscular difusa desencadeada por infecção, cirurgia, gravidez ou retirada de imunodepressores., uso de determinados medicamento etc. • Comumente acompanhada de fraqueza bulbar (orofaríngea) • História prévia de MIASTENIA GRAVIS: fraqueza ocular e bulbar, fraqueza muscular proximal flutuante com fadiga, ausência de sinais/sintomas sensitivos, reflexos miotáticos normais. • Se o paciente tem miastenia gravis, ele pode piorar rapidamente! • Muitas vezes a crise é a primeira manifestação que gera o diagnóstico (paciente pode ser portador e não saber). Questionar sobre fraqueza muscular flutuante sem parestesia, ptose (principalmente no final do dia). • Tratamento: tratar o fator desencadeante, evitar drogas com bloqueio neuromuscular (aminoglicosídeos, quinolonas), imunoglobulina humana ou plasmaférese. • Não dar corticoides em doses altas pelo risco da exacerbação dos sintomas. NEUROPATIA E MIOPATIA DO DOENTE CRÍTICO →COMUM EM UTI →Paralisia flácida e falência ventilatória em pacientes submetidos a cuidados intensivos →Associadas a sepse, falência orgânica múltipla, sirs e corticoide (MDC) MDC: tetraparesia flácida de predomínio proximal. CK elevada, geralmente. Ausência de degeneração, tendo somente alteração histológica no músculo. PDC: tetraparesia flácida simétrica dos membros, com hiporreflexia e hipoestesia. Nervos cranianos em geral preservados. Degeneração axonal sem desmielinização. →Trata-se de um diagnóstico por exclusão, logo, devesolicitar ENMG, RM do neuroeixo, sorologias e líquor. →Tratamento: suporte clínico e evitar a piora da doença de base.
Compartilhar