Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Anemias hipoproliferativas Anemia não é uma doença, mas pode servir para identificar outras doenças de base que possam estar causando esse achado. Até os 5 anos de idade, praticamente todos os ossos fazem o processo de hematopoiese em sua medula óssea, mas a partir dessa idade, a medula começa a ser infiltrada por tecido gorduroso (medula óssea amarela). Continuamos com o processo de hematopoiese apenas na medula óssea vermelha: - Vértebras - Ossos da pelve - Ossos do crânio - Esterno - Costelas - Ossos longos Sequência de desenvolvimento das células: A célula-tronco dá origem a duas linhagens diferentes: a linhagem linfóide (linfócitos, que vão ser amadurecidos no timo ou na medula óssea), e a linhagem mielóide. A linhagem mielóide se subdivide: granulócitos (neutrófilos, basófilos, eosinófilos). Outra linhagem de células mielóides produzem os monócitos, que ao atingirem os tecidos passam a ser chamados de macrófagos. Outra subdivisão da linhagem mielóide dá origem às hemácias e às plaquetas. Hematopoiese: Eritropoiese: Para dar início ao processo da hematopoiese, são necessários 3 elementos: - Eritopoietina (estímulo) - Ferro (hemoglobina) - Ácido Fólico/ Vitamina B12 (síntese de DNA) A eritropoietina serve como estímulo para a produção de hemácias e é produzido nos rins. O Ferro é um dos componentes principais para a síntese de hemoglobina - o oxigênio para ser transportado precisa estar ligado especificamente ao ferro da hemoglobina. O ácido fólico e a vitamina B12 são fundamentais para a síntese de DNA, e vamos precisar de muita proliferação celular até chegar ao nível de desenvolvimento da hemácia madura. O proeritroblasto na medula vai se desenvolvendo até chegar em sua fase final, o reticulócito. A medula libera os reticulócito, não a hemácia madura. Uma das formas de avaliar o grau de funcionamento da medula é medir os reticulócitos. A hemácia é uma célula anucleada para poder transportar uma maior quantidade de oxigênio: então durante o seu desenvolvimento, o proeritroblasto vai tendo seu núcleo diminuído de tamanho até chegar na forma de reticulócito, na qual o núcleo já foi expulso e não está mais presente. O reticulócito cai na circulação e entre 1-2 dias se transforma em uma hemácia. A meia vida da hemácia é de cerca de 120 dias. Após esse período, quando ela atinge o baço, como ela já está desgastada e perde sua elasticidade, não consegue sair pelos vasos intra-esplênicos e sofre o processo de hemocaterese (destruição fisiológica das hemácias). Chamamos de hemólise o processo no qual a hemácia é destruída antes de atingir sua senescência e o seu prazo médio de 120 dias. Hemoglobina= junção do segmento heme com as cadeias de globinas. Heme: ferro + protoporfirina Globinas: 2 cadeias alfa + 2 cadeias beta Heme: ferro + protoporfirina Globinas: 2 cadeias alfa + 2 cadeias beta Anemia ferropriva Heme: ferro + protoporfirina Globinas: 2 cadeias alfa + 2 cadeias beta Anemia Sideroblástica Heme: ferro + protoporfirina Globinas: 2 cadeias alfa + 2 cadeias beta Heme: ferro + protoporfirina Globinas: 2 cadeias alfa + 2 cadeias beta Alfa-talassemia Beta-talassemia Em todas essas condições temos um componente em comum: o erro na formação da hemoglobina. E a hemácia não passa de um “saco” repleto de hemoglobinas. Se eu não tenho hemoglobina, eu não preencho as hemácias, que ficam pequenas e despigmentadas (a hemoglobina que confere cor à hemácia) - ou seja, essas anemias são caracterizadas por serem: Anemias microcíticas (baixo VCM) e hipocrômicas (baixo HCM) = Ferropriva, doença crônica, sideroblástica e talassemia Obs: em doenças crônicas o ferro não é disponibilizado para as hemácias Camila Guimarães Martins Medicina - Universidade de Pernambuco ✗ ✗ ✗ = ' . ; O hemograma: RDW: hemácias de morfologias e tamanhos muito diferentes aumentam o RDW e o índice de anisocitose Como investigar uma anemia incialmente? Primeiro marcador: contagem de reticulócitos. A mais importante divisão entre as anemias é entre as com a medula funcionante e as com a medula insuficiente. Se a medula consegue responder a anemia é HIPERPROLIFERATIVA, ou seja, a contagem de reticulócitos vai estar acima de 2% (reticulocitose > 2%) - a medula está tentando compensar a anemia. Se a medula não consegue responder, a anemia é HIPOPROLIFERATIVA, ou seja, a contagem de reticulócitos vai estar normal ou abaixo do valor de referência. Assim, conseguimos dividir em dois grandes grupos e suas possíveis causas: HIPERPROLIFERATIVA: (Medula funcionante) - Anemia hemolítica - Sangramento agudo (nesse caso a medula se prolifera loucamente para tentar compensar) - Hemoglobinas defeituosas HIPOPROLIFERATIVA: (ausência de precursores) - Anemias carenciais (Fe, folato, B12) - Anemia de doença crônica) - Anemia Sideroblástica Segundo marcador: morfologia da hemácia Tamanho: VCM/ Cor: HCM VCM Microcítica Normocítica Macrocítica HCM Hipocrômica Normocrômica Hipercrômica Anemias hipoproliferativas 1- Ferropriva 2- Doença crônica 3- Megaloblástica 4- Sideroblástica 1. ANEMIA FERROPRIVA Ciclo do Ferro: Uma vez ingerido, o ferro é absorvido principalmente pelo intestino delgado, na sua porção proximal (duodeno e jejuno). Após ser ingerido, o ferro precisa ser transportado para a medula óssea vermelha, onde está ocorrendo a eritropoiese. Quem transporta o ferro pela circulação é a Transferrina, sintetizada pelo fígado. A medula óssea vai usar esse ferro para formar os precursores eritroblastos, mas se há uma ingestão adequada, uma porção vai remanescer inutilizada. O organismo, de maneira adaptativa, sabendo que poderiam haver momentos em que a ingesta de ferro não seria adequada, estoca esse ferro remanescente na forma de Ferritina. Apesar de parte ser armazenada em Ferritina, a maior parte ainda permanece nas hemácias. Mas e após a vida de 120 dias das hemácias, com a hemocaterese? O que ocorre com o ferro? Quando a hemácia é destruída pelo macrófago esplêncnico, seus componentes são reaproveitados! - Globina - Protoporfirina - Heme - Ferro Obs: a protoporfirina vai sendo metabolizada e vira bilirrubina no final, por isso é muito comum a icterícia em pacientes com anemia hemolítica. O Ferro vai ser novamente levado pela transferrina até a medula óssea para que seja utilizada novamente no processo de eritropoiese. -> “o Ferro, depois que entra, não sai mais”. Obs: na hemocromatose, o intestino absorve mais ferro do que o normal. Como o ferro não sai, só entra, o nosso estoque é regulado pela absorção intestinal. Já na hemocromatose há esse desequilíbrio. A principal causa de anemia ferropriva é o sangramento crônico! O paciente que todos os dias vai perdendo um pouco de sangue, mesmo que não perceba. Repercussão laboratorial: Quando começa a perda crônica de ferro, o primeiro índice a se alterar não vai ser o ferro!! Lembrar que temos um estoque, a ferritina! Ela (1) - queda na Ferritina < 30 (N 30-100ng/mL) (2) - aumento da Transferrina/ TIBC >360 (N: 250-360) (3) - queda no ferro sérico <30 (N: 60-150) (4) - queda na sat. Transferrina <10% (N: 20-40%) (5) - anemia inicial: normo/normo (6) - anemia típica: micro/hipo (7) - aumento do RDW (anisocitose) (N:10-14%) (8) - aumento das plaquetas (trombocitose) O estoque vai sendo consumido e acabando. Assim, o fígado, tenta compensar essa queda aumentando a síntese de transferrina, para que chegue mais Ferro até a MO. Entretanto, o exame laboratorial para a medida da transferrina é um exame mais difícil e mais caro, então não vemos muito na prática - quando queremos ver a transferrina, geralmente pedimos o TIBC, que é a capacidade total de ligação ao ferro. Assim, a segunda alteração gerada vai ser o aumento da transferrina/ do TIBC - quanto mais transferrina eu tiver, maior é a minha capacidade de ligar ao ferro. Porém, os estoques acabaram e não tem mais ferro para se ligar às transferrinas. Nessa hora o ferro cai, tipicamente à valores abaixo de 30 (N= 60-150). Se eu tenhopouco ferro, eu tenho pouco ferro se ligando à transferrina (menos ferro saturando a transferrina). Então, quando o ferro cai, a saturação da transferrina cai também, tipicamente <10%. Até agora, o paciente não tinha anemia, devido aos fatores compensatórios. Agora sim, com o ferro baixo, se desenvolve a anemia. Na hora em que começa a faltar ferro, a medula começa a produzir menos hemácias para ainda haver uma distribuição de ferro relativamente normal -> ou seja, no início do quadro a anemia, mesmo sendo ferropriva, não vai ser hipocrômica e microcítica!!!! -> no início vai ser uma anemia normo/normo, para depois se transformar em sua forma clássica hipo/micro. Nessa confusão, vamos poder ver células normais misturadas à células minúsculas, praticamente sem ferro nenhum, e com vários formatos diferentes - anisocitose! Detalhe importantíssimo: quando temos uma anemia, a eritropoetina e outros diversos fatores tentam estimular a linhagem mielóide a se desenvolver. Porém, como não está ocorrendo a formação de hemácias e a linhagem mielóide também dá origem às plaquetas, começa e se desenvolver uma formação plaquetária em excesso! Cinética do ferro Hemograma Repercussão clínica: Como é uma anemia por deficiência de ferro, vamos ter achados compatíveis tanto com a anemia tanto com a carência nutricional. Síndrome anêmica: Se eu não tenho hemoglobina nas hemácias que chegam aos tecidos, vamos notar uma palidez. Se o músculo não recebe oxigênio, vai se desenvolver uma astenia. Pode ter manifestações mais sistêmicas, como cefaléia, por hipofluxo cerebral, ou angina, por falta de oxigênio no miocárdio. Isso não é da anemia ferropriva, é de qualquer síndrome anêmica em uma manifestação clínica mais importante. Carência nutricional: Qualquer carência nutricional pode vir acompanhada da glossite (língua edemaciada, hiperemiada e com perda das papilas) e da queilite angular (pequenas feridas no ângulo da boca). Manifestações específicas da carência de ferro: - Perversão do apetite: o paciente começa a ter vontade de comer coisas estranhas (os mais comuns são gelo e terra). - Coiloníquia (unha em colher) - vai ter um ângulo mais côncavo ao invés de convexo; - Disfagia - podem formar uma membrana na luz no esôfago que pode levar a uma obstrução que gera disfagia. - Síndrome de Plummer-Vinson: combinação desses achados em um paciente com anemia ferropriva. Síndrome Anêmica: - Palidez; - Astenia; - Cefaléia; - Angina. Carência nutricional: - Glossite; - Queilite angular Carência de ferro: = S. De Plummer-Vinson - Perversão do apetite; - Coiloníqua; - Disfagia Tratamento O primeiro passo para qualquer anemia é a INVESTIGAÇÃO DA CAUSA! REPOR FERRO: (sulfato ferroso: 20% é elementar) - mas não adianta repor o ferro sem identificar a causa da anemia. Crianças: Prematuridade - não tiveram tempo de construir a reserva de Fe Ancilostomíase - suga o sangue pela mucosa intestinal Desmame precoce - o leite materno tem mais Fe do que o da vaca Adultos: Gravidez Má-absorção (doença celíaca) Perda crônica pelo TGI - a mais importante! Pode ser desde uma doença ulcerosa péptica até uma neoplasia colônica - por isso todo paciente a partir de 50 anos com anemia ferropriva deve realizar colonoscopia e endoscopia. Hipermenorreia - toda gestante tem indicação de repor ferro Temos o comprimido de sulfato ferroso, mas na teoria quando falamos da quantidade necessária para reposição falamos do ferro elementar, então temos que fazer a conversão. Dose Resposta Normalização Duração 120-200mg/dia de ferro elementar. (60mg, 3-4x/dia) Crianças: 3-5mg/kg/dia de Fe elementar O processo da eritropoiese demora, então avaliamos a resposta pela contagem de reticulócitos! O pico é entre 7-10 dias. Pedir reticulócitos após 1 semana do início do tratamento. Em média 2 meses, variando com o grau da anemia Além de corrigir a anemia, temos que repor o estoque! Então podemos manter a reposição por 6 meses após a correção da anemia. t Obs: o ideal seria ir medindo a ferritina e parar a reposição quando os níveis estiverem acima de 50, mas recentemente a sociedade de pediatria indicou que o tratamento pode ser suspenso quando a ferritina estiver maior que 15 (cuidado: ver se a questão é de pediatria ou de clínica!) 2. ANEMIA POR DOENÇA CRÔNICA Qualquer doença que seja de caráter inflamatório e crônico: - Infecções - principalmente as insidiosas, como a tuberculose; - Inflamações- artrite, lúpus… - Neoplasias - também eliminam citocinas inflamatórias É obrigatório o componente inflamatório da doença!!! Fisiopatogenia: O aspecto inflamatório dessas doenças leva à liberação de mediadores como citocinas e interleucina, que afetam diretamente o fígado. O fígado, ao ser atingido por esses mediadores libera a HEPCIDINA, que tem duas ações principais: 1) impede que a ferritina seja mobilizado do estoque para ser mobilizada; 2) promove uma diminuição da transferrina, impedindo que o ferro chegue em quantidades adequadas na medula óssea. Ou seja: o paciente vai ter o ferro adequado, mas esse ferro não vai conseguir ser utilizado para a eritropoiese. No início o ferro vai estar normal, mas como o estoque não vai conseguir ser mobilizado, o ferro sérico também vai cair. Ou seja: o ferro sérico baixo não diferencia uma anemia ferropriva de uma anemia por doença crônica. Se o ferro está caindo, a saturação da transferrina também vai cair. O diferencial está nos próximos dois parâmetros: O TIBC vai estar baixo!!! O TIBC equivale à medida da transferrina, que não está sendo produzida. Se o ferro sérico não consegue se mobilizar e o estoque de ferro não consegue ser utilizado, a ferritina vai estar aumentada! - Ferro sérico baixo - Sat. Transferrina: baixa ou normal - TIBC: baixo - Ferritina: aumentada - VCM e HCM: normo/normo Depois: micro/hipo Inicialmente, em uma anemia por doença crônica, a anemia vai ser normo/normo, e vai se manter assim por algum tempo, pois já que o paciente não tem uma carência de ferro, a ingesta vai conseguir suprir por um tempo e manter os níveis de hemoglobina normais. Mas já na anemia crônica de longa data, ela pode se tornar micro/hipo. Tratamento: Não adianta dar ferro para esse paciente, a única coisa a ser feita é tratar a doença de base. 3. ANEMIA MEGALOBLÁSTICA Megaloblástica é diferente de macrocítica!!! Macrocítica significa que o tamanho/ volume das hemácias está aumentado (VCM>100). Isso ocorre, por exemplo, quando há uma grande liberação de reticulócitos, que são células muito maiores do que as hemácias. Por definição a megaloblastose é algum precursor do eritrócito que sofreu algum distúrbio na sua divisão nuclear. Durante o processo de maturação, o núcleo precisa primeiro se expandir, para depois ocorrer a divisão entre duas células. Toda a célula vai aumentando de tamanho esperando o núcleo crescer para a célula se dividir, ocorre inclusive o aumento do citoplasma. O citoplasma já está aumentado, esperando o núcleo se expandir para se dividir, mas o núcleo não consegue aumentar e a célula se divide com apenas um fragmento de núcleo e um citoplasma muito exuberante, desproporcional ao tamanho do núcleo. Essa é a patogenia da megaloblastose. É óbvio que, ao analisarmos o hemograma, as células vão estar aumentadas de tamanho - o VCM vai estar aumentado, geralmente acima de 110 (enquanto nas outras anemias macrocíticas vai estar 102/103. Ou seja: toda megaloblastose é macrocítica, mas nem toda macrocítica é megaloblastose. Lembrar que existem outras causas que também elevam o VCM. Causas: Deficiência de vitamina B12 Deficiência de ácido fólico São os compostos essenciais para a síntese de DNA! Deficiência de ácido fólico1) Nossa ingestão é a de ácido fólico em sua forma inativa. O folato tem como suas maiores fontes as folhas e vegetais. O folato ingerido é em sua forma inativa e precisa ser convertido em ácido fólico ativo, que atua diretamente no núcleo da célula na síntese de DNA. O ácido fólico é responsávelpela síntese de DNA em TODAS as células do nosso organismo, mas as que mais sofrem são, obviamente as que tem a maior taxa de turnover celular, uma menor vida - ou seja, as hemácias sofrem intensamente com isso! As células do epitélio intestinal também se renovam constantemente, então também podemos ter manifestações gastrointestinais. Deficiência de vitamina B122) A vitamina B12 também participa da síntese de DNA, mas não de maneira tão direta agindo no núcleo como o ácido fólico. A B12 age como um COFATOR para a transformação do ácido fólico inativo para o ácido fólico ativo. Ácido fólico (Inativo) Ácido fólico (Ativo) Vit B12 I Consequências: Baixa síntese de DNA Anemia (possível pancitopenia): MACROCÍTICA - Todas as células podem sofrer, mesmo a série leucocitária e a plaquetária tendo um turnover maior (o achado clássico inicial é apenas a anemia) Neutrófilos hipersegmentados!!! - o núcleo não cresce corretamente e as células recebem apenas fragmentos de núcleos. Um neutrófilo com 5 ou mais segmentos é considerado hipersegmentado. Neutrófilo hipersegmentado É um achado PATOGNOMÔNICO da anemia Megaloblástica Destruição intramedular - Eritropoiese ineficaz - a medula óssea, gerando os precursores do reticulócitos, percebe esses precursores errôneos e começa a promover uma destruição intramedular! Não é uma hemólise, pois a hemólise é uma destruição das hemácias em si - mas também pode ser chamado de hemólise intramedular. Ou seja: a medula faz a destruição do precursor, mas o paciente vai ter laboratório semelhante ao de anemia hemolítica devido à liberação do conteúdo dos precursores: - aumento do LDH - aumento da bilirrubina indireta Metabolismo do ácido fólico: O ácido fólico ingerido na alimentação (folhas), vai ser absorvido no delgado proximal, de modo semelhante ao ferro (duodeno e jejuno, íleo não!). Lembrar que ele vai ser absorvido em sua forma inativa e necessita do B12 para se transformar em sua forma ativa. Porém, quando a B12 está no processo de conversão, ela pega um aminoácido, a homocisteína e a converte em metionina. Ou seja: o processo de conversão de ácido fólico depende da B12 e consome homocisteína (vai ter uma repercussão laboratorial - importante entender o conceito) Causas de deficiência de ácido fólico: Má nutrição Aumento da necessidade Baixa absorção Baixa regeneração Sempre lembrar de alcoolismo. O álcool por efeito direto já pode provocar uma macrocitose, mas atuando sobre o ácido fólico ele acentua ainda mais a chance de megaloblastose. O paciente alcoolista geralmente já é um pouco mais consumido, e obtém a maior parte das suas calorias do ácool, podendo ter também várias deficiências nutricionais. Gestantes e hemólise crônica. Na hemólise crônica temos um turnover aumentado, e dentre os fatores necessários para a construção das hemácias, o que temos menos estoque no nosso corpo é o ácido fólico. Toda hemólise crônica temos que prescrever folato!! Doença celíaca, fenitoína, drogas que atrapalhem a absorção Metotrexate - todo paciente que recebe metotrexate deve fazer reposição de folato Ingesta Delgado proximal Ácido fólico (Inativo) Ácido fólico (Ativo) Vit B12 Homocisteína Metionina Metabolismo da vitamina B12 (cobalamina): Para que haja uma absorção adequada da Vit B12 3 etapas principais devem ocorrer: Estômago - células parietais gástricas A acidez estomacal desprende a vitamina B12 do alimento ingerido e a liga ao Ligante R, produzido junto à saliva. Essa ligação é importante para que a vitamina consiga passar pelas células estomacais. Ao mesmo tempo, as células parietais gástricas produzem o fator intrínseco (FI). Duodeno (enzimas-pâncreas) Vamos ter a separação da vitamina b12 do ligante R - essa ligação é apenas momentânea para que ela possa passar pelo estômago. Agora a vitamina B12 vai ser ligada ao fator intrínseco. Íleo Distal Absorve a vitamina B12 acoplada ao fator intrínseco. Se não há fator intrínseco, também não há a absorção! ESTÔMAGO (célula parietal) - Acidez: libera B12 - Liga ao ligante R (saliva) - Produz fator intrínseco DUODENO (enzimas-pâncreas) - Separa B12/ Ligante R - Liga B12/ Fator intrínseco ÍLEO DISTAL - Absorve B12 + Fator intrínseco Causas de deficiência: - Vegetariano estrito: a vitamina B12 é de origem predominantemente animal. - Anemia Perniciosa: é a grande causa de deficiência de Vit B12. Na anemia perniciosa (doença autoimune) o organismo ataca tanto as células parietais quanto o fator intrínseco. - Gastrectomia (tumor gástrico, cirurgia bariátrica) - também vão precisar de reposição de B12 pela diminuição da quantidade de células parietais; - Pancreatite crônica: o pâncreas exócrino produz enzimas que auxiliam no metabolismo da vitamina B12; - Doença ileal: * a metformina atrapalha a absorção distal da vitamina B12 * doença ileal (Crohn, tuberculose ileal….) Quadro Clínico: Vamos ter novamente os sintomas relacionados à síndrome anêmica e à carência nutricional. Carência nutricional: glossite + queilite + diarreia! - no caso específico da B12 vamos ter a diarreia, devido ao alto turnover das células epiteliais intestinais descrito anteriormente. Como saber se é carência de folato ou de B12 quando a anemia é Megaloblástica? Uma das duas deficiências vai causar também um quadro neurológico! O quadro neurológico pode inclusive preceder a alteração hematológica. A deficiência de B12 pode causar uma síndrome neurológica! Ác. Metilmalônico Succnil-Coa B12 Na ausência de B12 não há a transformação em Succinil- Coa, então os níveis séricos de ácido metilmalônico aumentam muito. O ácido metilmalônico causa uma grande toxicidade neuronal!!! - pode causar síndrome demencial, neuropatias, pode fazer as alterações mais diversas; - a alteração mais clássica é a: DEGENERAÇÃO COMBINADA DA MEDULA: Degenera tanto o cordão posterior quanto o feixe piramidal lateral. Cordão posterior: propriocepção, sensibilidade vibratória Sempre pensar em deficiência de B12 em pacientes com síndrome piramidal. 4. ANEMIA SIDEROBLÁSTICA Laboratório: 1) Anemia macrocítica (VCM > 100-110) 2) Neutrófilos altamente segmentados 3) Pode ocorrer uma pancitopenia leve 4) Aumento de LDH e bilirrubina indireta (hemólise intramedular) Aumento da homocisteína: Megaloblástica por carência de folato ou de B12; Aumento do ácido Metilmalônico: Megaloblástica por baixa B12. Tratamento: 1. Se deficiência de B12: - Lembrar que a principal causa de deficiência de vitamina B12 é a anemia perniciosa, na qual não há a produção de Fator Intrínseco - então não há grandes benefícios na reposição oral, principalmente como método inicial. Ou seja: reposição de B12 por via parenteral (IM) 2. Se deficiência de ácido fólico 1-5mg/dia VO; Cuidados… Lembrar que quando eu começar a administrar o tratamento, mais células normais vão começar a ser formadas -> lembrar que o turnover é muito aumentado e que o eletrólito em maior concentração dentro das células é o potássio. Primeiro cuidado: HIPOCALEMIA! Outra questão importante, principalmente relacionada à carência de B12 -> se eu não investigar a causa e der folato, principalmente em forma ativa (ácido folínico), eu melhoro o quadro hematológico do paciente e mascaro a deficiência de B12 - mascara a deficiência de B12 e o paciente vai caminhando para o quadro neurológico, que pode ser irreversível. NÃO SE TRATA DEFICIÊNCIA DE B12 COM ÁCIDO FOLÍNICO, MESMO QUE TRATE A ANEMIA!! Causa: deficiência de protoporfirina (heme = ferro + PROTOPORFIRINA) Vamos ter células precursoras cheias de ferro, mas que não conseguem formar o heme da hemoglobina devido à falta de protoporfirina. Heme: ferro + protoporfirina Globinas: 2 cadeias alfa + 2 cadeias beta Anemia Sideroblástica Carência de protoporfirina: Hereditária Adquirida Problemagenético na cadeia de formação da protoporfirina Álcool, deficiência de B6, intoxicação por chumbo Laboratório: Se não temos hemoglobina: anemia microcítica e hipocrômica - muito mais exuberante na forma hereditária - Aumento do ferro sérico (vai estar cheio de ferro, que não está sendo acoplado à protoporfirina, então não vai estar sendo usado). - Aumento da ferritina; - Aumento da saturação de transferrina. Consequências: Há um aumento sérico de ferro, que vai se acumulando: - hepatomegalia, cirrose; - acúmulo de ferro na pele, que fica com aspecto mais bronzeado; - pode se acumular no pâncreas, imitando um quadro de DM; - pode se acumular até no coração. Hemocromatose: doença por acúmulo de ferro € , ✗ = ' . ; Além do hemograma, podemos pedir exames como hematoscopia de sangue periférico ou mielograma para verificar o acúmulo de ferro na linhagem eritrocitária Mielograma: Esse pontilhado de coloração roxa ao redor do eritroblasto multinucleado é o acúmulo de Ferro. Chamamos esses pontinhos que circundam de sideroblastos em anel. SIDEROBLASTOS EM ANEL Hematoscopia: Podemos visualizar na periferia de algumas células pontos escurecidos que representam o acúmulo de ferro, geralmente na periferia. A impressão que dá é a de que os eritrócitos estão fagocitando o ferro. CORPÚSCULOS DE PAPPENHEIMER Tratamento: Não há muito o que se fazer, dado que a maioria das vezes é causado por motivos hereditários. A única terapia que às vezes é feita é a administração de vitamina B6, que pode funcionar em alguns casos
Compartilhar