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CST em Gestão de Turismo Fundamentos do Turismo Aula nº 02 Lazer e Turismo Definições de Turismo e outros conceitos importantes Profª. Me. Cláudia De Stefani CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 2 Introdução Após estudarmos a importância e evolução histórica do turismo no Brasil e no mundo, é hora de entendermos um pouco de que forma o turismo está relacionado com o lazer e definirmos conceitualmente essa atividade, além de outros termos fundamentais para a compreensão da cadeia turística como um todo. Aproveite e complemente seus estudos com a leitura das referências indicadas ao final do texto. Tenham uma ótima aula! Problematização Após o estudo do conteúdo desta aula, esperamos que você seja capaz de estabelecer as relações da atividade turística com o lazer, identificar os motivos pelos quais foi possível a conquista do lazer ao longo da história recente da humanidade, a forma que nosso tempo está dividido e compreender as formas de lazer e como elas impactam na vida dos indivíduos. Além disso, para que você comece a entender conceitualmente, vamos estudar algumas definições importantes dentro do turismo. Contextualização Compreendendo o lazer e suas relações com o Turismo O fenômeno das viagens não é novo na história da humanidade; desde que se formaram as primeiras sociedades, o homem sempre viajou, pelos mais diversos motivos: econômicos, políticos, sociais, culturais e esportivos. CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 3 A palavra lazer é originada do latim licere e, de acordo com Dias Neto (1999), quer dizer ser permitido, ser lícito. O termo surgiu durante a civilização greco-romana e dizia respeito aos momentos em que os indivíduos não eram obrigados a trabalhar e que se encerravam os compromissos diários ligados à subsistência. As pesquisas acerca do tema refletem que o significado da palavra lazer não consegue abranger sua totalidade e complexidade, justamente porque existem várias definições e pontos de vista. O conceito que o Dicionário Houaiss nos traz corrobora com o sentido da palavra para a civilização greco- romana: “tempo que sobra do horário de trabalho e/ou do cumprimento de obrigações, aproveitável para o exercício de atividades prazerosas” e, por extensão de sentido: “cessação de uma atividade; descanso, repouso” (HOUAISS e VILLAR, 2007). Além disso, o dicionário apresenta que lazer é sinônimo de folga e passatempo. A evolução dos conceitos de lazer ao longo da história está relacionado ao tipo de sociedade predominante na época. De acordo com Melo e Alves Jr (2012), na Grécia Antiga, valorizava-se o cultivo de valores elevados como a verdade, a bondade e a beleza e o trabalho era considerado um empecilho ao alcance desses objetivos, pois reduziam as oportunidades de dedicação à sua busca. Então, a elite se dedicava ao crescimento espiritual e o trabalho pesado era feito pelos escravos; assim, tendo o tempo livre como princípio de vida, era possível se desenvolver pessoal e socialmente. Atualmente, “podemos perceber o contrário: uma supervalorização do trabalho; mesmo nas elites, muitos se orgulham ao afirmar que quase não tem tempo livre ou momentos de lazer” (MELO e ALVES JR, 2012, p. 3). Com anexação da Grécia a Roma, podemos perceber uma grande modificação no estilo de vida, pois os romanos, por serem um povo guerreiro, não tinham uma visão negativa do trabalho. Começamos, então, a observar um inicio das iniciativas relacionadas à diversão popular, não mais restritas somente à elite, mas ainda segregadas entre as classes. Melo e Alves Jr (2012, p. 4) nos contam que aos menos favorecidos financeiramente eram CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 4 “oferecidas práticas fortuitas de distração, organizadas e/ou reguladas em grande parte pelo próprio Estado. Inaugurava-se o que chamamos de política do “pão e circo”, com o inuito de controlar as massas”. Na Idade Média, ocorreram mudanças nos significados de aproveitamento de tempo de não trabalho. Popularmente, continua a ser um tempo de descanso e festa, mesmo com o controle da igreja católica ao que se pode ser vivenciado, com base em um conceito rígido de pecado. Para a nobreza, esse tempo passa a ser destinado à exibição social e exposição do luxo. A partir do surgimento das ideias reformistas com a fundação das primeiras religiões protestantes, aparecem também os preceitos de que o trabalho é condição fundamental para a humanidade, pois segundo Melo e Alves Jr (2012, p. 5), “as novas formas de expressar a fé introduzem a mentalidade de que o acúmulo de riquezas é filosoficamente aceitável. O não trabalho... passa a ser considerado inimigo do trabalho”. E surge a ideia de que “o trabalho enobrece o homem, o ócio não”. A Idade Moderna, mais especificamente a partir do século XVIII, é marcada pelo engrandecimento do fluxo do comércio, pela ascensão de um novo grupo social devido à implantação do modelo de produção industrial, da organização do trabalho nas fábricas em longas jornadas de trabalho (dado o início do capitalismo) e da rotina rígida em que os indivíduos eram submetidos. Com isso, notamos que houve também um processo de atificializacao do tempo de não trabalho e foi nessa época que temos indícios do que chamamos hoje de lazer. A partir de reivindicações constantes dos trabalhadores, os proprietários das fábricas foram obrigados a cumprir o que podemos definir como conquistas históricas da classe dominada: gozo de férias, aposentadoria, e dias de folga remunerados. Posteriormente, outro objetivo alcançado pelos trabalhadores foi a redução da jornada de trabalho, que, até então, era de 12 a 14 horas diárias. CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 5 O Estado se viu obrigado a controlar as diversões populares (tabernas, feiras e jogos), além disso, o poder judiciário, a polícia e a influência religiosa foram articulados para controlar o tempo em que os trabalhadores não estavam exercendo suas obrigações laborais. A maioria das atividades era considerada pecaminosa, por isso, práticas de orações em grupo eram sugeridas em substituição àquela. Começam a ganhar força as escolas de religião dominicais e a recreação produtiva, como o esporte. Outro fato interessante é que a elite começa a perceber que podia lucrar com estabelecimentos e eventos voltados ao tempo de não trabalho (MELO e ALVES JR, 2012). Observamos que Wittizorecki e Damico (2012) concordam com Melo e Alves Jr (2012) quando afirmam que “numa perspectiva histórica e social, a ideia de lazer, na Modernidade, constitui-se a partir das reivindicações dos trabalhadores assalariados no contexto europeu”. E completam que, no Brasil, o conceito mesclava-se com o de recreação: Para ser socialmente permitido, lícito, ele deveria ser regulado, orientado, monitorado, fundamentalmente, por meio da prática de atividades oferecidas por instituições ou pelo Poder Público, ou seja, práticas recreativas. Nesse entendimento simplista, recrear significava ocupar e regular determinado tempo vago dos sujeitos (WITTIZORECKI e DAMICO, 2012, p. 18). Podemos admitir ser compreensivo o fato do tema lazer ter gerado discussões, principalmente no decorrer dos séculos XIX e XX no campo acadêmico, de formação profissional, social e econômico. Marcellino (1987) caracteriza o lazer como sendo dimensão de produção de cultura e que deve Para entender melhor a evolução do lazer no Brasil, acesse a Biblioteca VirtualPearson, a partir do seu Único, e procure pelo livro Introdução ao Lazer de Victor Melo e Edmundo Alves Junior. Leia da página 14 à 18. CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 6 combinar questões de atitude e tempo. Essa caracterização é completada por Gomes (2003, p. 7) como o lazer sendo constituído “a partir de quatro elementos inter-relacionados: a partir das ações, do tempo, do espaço/lugar e dos conteúdos culturais vivenciados”. Não podemos falar em lazer e ócio sem deixar de citar um dos maiores estudiosos da sociologia do lazer. Jofre Dumazedier (1979, p. 91-92), diz que o lazer é um tempo orientado para a realização da pessoa com o fim último. Este tempo é outorgado ao indivíduo pela sociedade quando este se desempenhou, segundo as normas sociais do momento, de suas obrigações profissionais, familiais, sócio-espirituais e sócio-políticas. É um tempo que a redução da duração do trabalho e a das obrigações familiais, a regressão das obrigações sócio-espirituais e a liberação das obrigações sócio-políticas tornam disponível; o indivíduo se libera a seu gosto da fadiga descansando, do tédio divertindo-se, da especialização funcional, desenvolvendo de maneira interessada as capacidades de seu corpo ou de seu espírito. Trigo (1998), corroborando com as ideias apresentadas de Wittizorecki e Damico (2012) e Melo e Alves Jr (2012), afirma que dentro das sociedades mais desenvolvidas ressurgiu um formato em que a estabilização de alguns países após a Segunda Guerra Mundial promoveu o começo da garantia do tempo liberado, para que parcela da população pudesse se dedicar a atividades de sua escolha. Esse tempo livre tornou possível um novo valor social, em que compete ao indivíduo o direito e a decisão de realizar, ou não, atividades que tenham função de auto-satisfação exclusivamente. ...a produção do lazer é o resultado de dois movimentos simultâneos: a) o progresso científico-técnico apoiado pelos movimentos sociais libera uma parcela do tempo de trabalho profissional e doméstico; b) a regressão do controle social pelas instituiçoes básicas da sociedade (familiais, sócio-espirituais e sócio-políticas permite ocupar o tempo liberado principalmente com atividades de lazer (DUMAZEDIER 1974, p. 55). Percebemos que, a partir do final da década de 1960, as discussões relacionadas ao lazer aumentam e ganham espaço nas pesquisas de universidades no campo das Ciências Sociais, Psicologia, Comunicação Social e, principalmente da Educação Física e do Turismo. CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 7 Na sociedade contemporânea em que vivemos, é bastante difícil não associar a concepção de lazer da indústria do entretenimento que, como já comentado, deu seus primeiros passos no século XVIII e tomou impulso no decorrer do século XX, a partir do aperfeiçoamento dos meios de comunicação (MELO e ALVES JR, 2012). O avanço tecnológico também permitiu que o crescimento do hábito de viajar e do turismo fosse tido como atividade durante o tempo de não trabalho. Vocês concordam que nem todo tempo livre é destinado ao lazer? Pois é... Temos nossos afazeres pessoais, compromissos sociais e familiares, além do tempo que nosso organismo precisa para recarregar a bateria e realizar suas necessidades biológicas, como dormir, que acabam consumindo nosso tempo livre. Sendo assim, Castelli (2001), afirma que o tempo livre pode ser comprometido com lazer ou ainda fazendo absolutamente nada, chamado de tempo morto. Observe na figura abaixo como Castelli (2001) divide o tempo: Aproveite e faça uma reflexão acerca da divisão do seu tempo total. Como você aproveita seu tempo? Não podemos esquecer de que uma boa qualidade de vida está associada ao equilíbrio da área afetiva, da saúde, das finanças, do trabalho, das amizadas, das relações familiares e do nosso lado espiritual. Tempo total CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 8 Como já comentado, o lazer voltou-se, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, como uma nessecidade de auto-realização. As necessidades humanas foram elencadas por Abraham Maslow em cinco etapas, representadas pela pirâmide abaixo (apud MAXIMIANO, 2000). Maslow, por meio de sua teoria, afirmou que as necessidades básicas são as primeiras que se manifestam e que os indivíduos buscam satisfazê-las antes de irem aos próximos níveis. Ou seja, para que o indivíduo pratique o lazer como auto-realização, é mandatório que as outras necessidades tenham sido preenchidas, de acordo com Maximiano (2000). O turismo pode ser considerado uma necessidade social, quando a pessoa entende que deve viajar para obter determinado status e assim ser estimada pelo grupo. De outra forma, se a pessoa busca no turismo a auto-realização como uma atividade que lhe satisfaça e que lhe traga prazer ou autodesenvolvimento por intermédio do conhecimento de novas culturas, o turismo virá por último na escala de necessidades do homem (BARRETTO, 2006, p. 62). O consumo do tempo livre para o turismo, diferentemente dos produtos tangíveis, exige, além de vontade e condições financeiras, que o indivíduo tenha tempo para viajar, independetemente da motivação. No início do século XX, o uso do tempo livre com atividades turísticas era praticamente nulo, ao CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 9 passo que na década de 1980, esse tempo representava de 360 a 900 horas por ano. Sendo assim e baseado nesse dado, arriscamos afirmar que esse tempo irá aumentar nas próximas décadas. Outra razão para essa expectativa é a tendência na diminuição do tempo de trabalho por questões de tensões psicológicas, aumento da renda da população e expectativa de vida, avanço tecnológico dos meios de transportes e melhoria das condições de saúde. Trigo (1998) faz uma relação do turismo com o conceito de lazer ao afirmar que o turismo está inserido em um universo de divertimentos maior que o universo do lazer completando que toda atividade turística é lazer, mas, como já estudamos, nem todo lazer é turismo. Tanto o lazer quanto o turismo geram divisas e impostos por meio de mão-de-obra qualificada para sua operacionalização e se caracterizam pela exigência do trabalho de uns para o lazer e entretenimento de outros na produção de serviços em diversos setores como: artes e cultura, alimentos, bebidas, transportes, esportes, hospedagem e estabelecimentos de entretenimento de forma geral. Podemos verificar uma crescente na profissionalização dos setores correlatos, principalmente após a década de 1970, em que o crescimento dos investimentos tem sido bastante visíveis, em função da conjuntura internacional e do grau de exigência cada vez maior dos consumidores. Uma das principais relações do lazer com o turismo pode ser observada por meio do deslocamento de pessoas para visitar complexos específicos de entretenimento como, por exemplo, a Disney e a Universal Studios, além da hospedagem em estabelecimentos voltados ao lazer, como é o caso dos cruzeiros marítimos e dos resorts. Embora seja evidente esse crescimento, observamos também que o turismo como forma de lazer não faz parte da realidade de grande parte da população por questões financeiras. Por isso, existem algumas tentativas de se instituir um turismo social no Brasil, que visa proporcionar viagens e passeios de curta, média ou longa duração a um custo mais acessível. Um dos principais idealizadores do turismo social no Brasil é o SESC (Serviço Social do Comércio). CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 10Definições de Turismo e Outros Conceitos Importantes Os vários conceitos já estabelecidos para a atividade turística estão relacionados aos diversos pontos de vista de autores ou organizações, dada a complexidade das relações dos elementos que a compõem. Primeiramente, precisamos definir as três linhas de pensamento que norteiam as discussões sobre as características do turismo: fenômeno, ciência e indústria. Ou seja, a atividade turística é tratada por alguns autores como fenômeno, por outros como ciência e alguns ainda dizem que é uma indústria “sem chaminés”. O Ministério do Turismo conceitua Turismo Social como sendo “a forma de conduzir e praticar a atividade turística promovendo a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão” (BRASIL, 2013). Você pode entender mais sobre esse tipo de turismo acessando o link: http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/estr uturacao_segmentos/social.html. O Instituto Brasileiro de Administração Municipal do Rio de Janeiro publicou, em 2006, a pedido do Ministério do Turismo, um compêndio de artigos e estudos sobre turismo social. Acesse o arquivo em: http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/d ownloads_publicacoes/Dixlogos_do_Turismo_uma_viagem_de_inclusxo.pdf CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 11 Os autores que tratam o turismo como fenômeno, afirmam que a dimensão do turismo vai além da economia, política e cultura de uma sociedade, pois está ligada à experiência de cada indivíduo ao se deslocar para outro local que não o de sua residência. Sobre o turismo ser tratado como ciência, Panosso Neto nos traz um ponto de vista bastante interessante acerca do tema: O turismo não nasceu de um documento escrito, de uma teoria, mas sim de uma prática humana, de homens e mulheres que agiram em seus locais físicos, de sujeitos que experienciaram algo diferente do que estavam acostumados a experienciar e que estavam longe de seus locais habituais de residência [...] toda elucubração teórica visa apenas compreender esse fenômeno, mas não construí-lo; visa explicar e interpretar, mas não criar (PANOSSO NETO, 2005, p. 31). Já que a teoria científica trabalha com hipóteses e experimentações, há uma discordância entre os autores sobre a cientificidade do turismo, pois embora não haja produção científica suficiente que aborde a atividade, muitos defendem que o turismo deve ser estudado pelas diversas disciplinas científicas inerentes à atividade, conforme tratado na aula anterior. Já Wahab (1977, p. 5) defende que “qualquer produto, seja tangível ou intangível, mas que sirva para satisfazer certas necessidades humanas, deve ser considerado como um produto industrial”. Entendedo que as empresas esperam resultados econômicos favoráveis, Oliveira (2002) defende que o turismo é uma das mais importantes forças econômicas do mundo, pois além de gerar consumo e renda, os resultados da atividade são expressivos e justificam que seja incluída na programação da política econômica dos países. Para concluir a idéia de indústria do turismo, tanto a área estatal como a empresarial têm como objetivo principal o lucro. O Estado espera da atividade turística o superávit no balanço de pagamentos na conta específica, em razão do ingresso de divisas, e as empresas que atuam no setor igualmente dimensionam a prestação de seus serviços em razão da lucratividade dos investimentos necessários. (BENI, 1998, p. 27) Interessante refletirmos sobre o posicionamento de alguns autores que não concordam com a ideia do turismo ser classificado como indústria. Um deles é Sergio Molina (2005), que nega a legitimidade da tentativa de CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 12 industrializar o turismo, mas reconhece que o modelo dominante na sociedade, de maneira geral, é o industrial. Ele argumenta ainda que um dos motivos pelo qual o fenômeno é chamado de indústria turística repousa no fato de que os recursos naturais são combinados com outros insumos e oferecidos como produto a uma demanda. Andrade e Moretto Neto (2001) afirmam que a atividade turística não pode ser comparada à indústria devido às especificidades e peculiaridades inerentes ao setor terciário da economia, como a intangibilidade da prestação de serviços, que são distintas e exigem a aplicação de métodos e técnicas para o seu planejamento. Contrários ainda à ideia da atividade turística ser chamada de indústria são Lickorish e Jenkins (2000). Os autores são categóricos ao afirmar que o turismo “não possui a função de produção formal denotada pelo termo, e também não produz resultados que possam ser fisicamente medidos”. Além disso, deve-se esclarecer que não existe a tal indústria de viagens, embora existam fábricas que façam aviões, barcos, automóveis, ônibus e processos industriais para construir estradas, aeroportos e terminais de transportes (BOULLÓN, 2002, p.34). Quanto ao o conceito específico de turismo, percebemos que foram criadas definições para atender situações específicas de estudo com abordagens holísticas, técnicas e econômicas. Segundo a Organização Mundial do Turismo – OMT (2001, p. 37), em 1942, os professores Walter Hunziker e Kurt Krapf definiram a atividade turística como sendo “a soma de fenômenos e de relações que surgem das viagens e das estâncias dos não residentes, desde que não estejam ligados a uma residência permanente nem a uma atividade remunerada”. Embora seja uma antecipação do conceito de turismo de massa, essa definição caracteriza- se como ampla e pouco esclarecedora, principalmente pela palavra fenômeno. Posteriormente, Burkart e Medlik (1981, apud OMT, 2001, p. 37) introduziram uma abordagem de viagem de férias e lazer em contraposição à residência e ao trabalho e afirmaram que o turismo abrange “os deslocamentos curtos e temporais das pessoas para destinos fora do lugar de residência e de CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 13 trabalho e as atividades empreendidas durante a estada nesses destinos”. Essa definição exclui motivações de viagens como negócios, religião e saúde, além de apresentar uma característica superficial sobre o deslocamento. De acordo com a OMT (1994, p. 35), o turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócio ou outras. (OMT, 1994, p. 35) Importante destacar que a OMT (1995) entende por entorno habitual as áreas que circundam a residência dos indivíduos mais todos os lugares que visita freqüentemente. Esse conceito formaliza os aspectos do turismo e concretiza algumas das características mais relevantes. Mesmo assim, Jafar Jafari (apud IGNARRA, 1998, p. 24 e BENI, 1998, p. 38) complementa e, com uma definição holística da atividade turística, afirma que esta é o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físico, econômico e sócio-cultural da área receptora. Devido ao fato da atividade turística visar resultados que permitam o desenvolvimento de diversos setores, Oliveira (2002, p. 36) conceitua o turismo como sendo o conjunto de resultados de caráter econômico, financeiro, político, social e cultural produzidos numa localidade, decorrentes do relacionamento entre os visitantes com os locais visitados durante a presença temporáriade pessoas que se deslocam de seu local habitual de residência para outros, de forma espontânea e sem fins lucrativos. Sob a ótica da economia, Herman von Schullard (1910, apud BENI, 1998, p. 36) reconhece que o turismo é “a soma das operações, principalmente de natureza econômica, que estão diretamente relacionadas com a entrada, permanência e deslocamento de estrangeiros para dentro e fora de um país, cidade ou região”. Beatriz Lage e Paulo Milone (2001) defendem que o turismo, ainda sob esse enfoque, será assim definido mesmo que o indivíduo exerça um trabalho remunerado fora do local de residência. “Tal explicação refere-se ao CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 14 fato de a atividade estar gerando a produção de recursos econômicos que poderiam ter aplicações alternativas e que são distribuídos para o consumo de toda a sociedade” (LAGE e MILONE, 2001, p. 45). De todos os conceitos expostos, guardadas as particularidades de cada um, destacam-se a importância de alguns elementos comuns (OMT, 2001): a) existe um movimento dos turistas para fora do seu local de residência; b) a estada no destino deve ser temporária; c) o turismo compreende tanto a viagem quanto as atividades realizadas no destino; d) a atividade turística inclui os produtos e serviços criados para satisfazer a necessidade da demanda. As divergências sobre o conceito de visitante também são consideráveis e os principais pontos de conflitos são relativos à permanência mínima e máxima de indivíduos fora do local de residência. Dessa forma, os visitantes são classificados em turistas e excursionistas. O primeiro termo diz respeito àquelas pessoas que ficam pelo menos vinte e quatro horas no destino. No segundo grupo estão compreendidos os indivíduos que participam de excursões de um dia, sem que haja pernoite no local visitado (OLIVEIRA, 2002). CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 15 Existem algumas formas básicas de se praticar o turismo: Quanto ao destino do deslocamento: o Turismo Interno / Turismo receptivo / Turismo emissivo Quanto à organização da viagem: o Turismo Individual / Turismo Organizado Quanto aos locais visitados: o Turismo Itinerante / Turismo de Estada Quanto às características sociais: o Turismo de Elite / de Massa / Turismo popular / Turismo Social Quanto ao âmbito geográfico: o Turismo de litoral / de campo / de montanha Quanto à faixa etária: o Turismo de Melhor Idade Quanto ao meio de transporte: o Rodoviário / Ferroviário / Aeroviário / Aquaviário Quanto ao motivo da viagem: o Turismo de saúde / Negócios / Religioso / Cultural / Esportivo É importante que vocês saibam o que envolve cada tipo de turismo. Por isso, leia atentamente o documento a seguir: http://www.ivanpinho.com.br/downloads/fundamentos_turismo/17417_Fundame ntos_do_Turismo_Aula_09_Vol_1.pdf CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 16 Síntese Ao terminar essa aula, você pode entender as relações do lazer com a atividade turística e, ao longo da história quais foram os contextos sócio-político- econômicos que nortearam o comportamento dos indivíduos no que diz respeito à divisão do seu tempo. Cooper (2001) apresenta um esquema em que podemos facilmente diferenciar lazer de recreação e a forma que o lazer encontra o turismo. Além disso, apresentamos que os conceitos de turismo, e os outros inerentes a este tema abordados por diversos autores, expressam alguns elementos em comum, por exemplo: o primeiro elemento se refere ao deslocamento. Turismo é o ato de se deslocar de um lugar para outro, sem deslocamento não existe turismo; o segundo se refere ao deslocar-se para fora de CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 17 sua cidade domiciliar; o terceiro é o tempo de duração da viagem, pois essa atividade se caracteriza por uma permanência temporária no local de destino; o quarto diz respeito turista, o sujeito do ato de viajar; e o quinto são as empresas intermediárias responsáveis por organizar as viagens e atender ao cliente-turista. Paremos um pouco agora para analisar detalhadamente as diferenças e características dos turistas e excursionistas que a Organização Mundial do Turismo (OMT, 1994) nos traz. . CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 18 1) Um dos campos que mais tem crescido na atualidade é o do entretenimento, que envolve, geralmente, atividades programadas e pagas, como teatro, cinema, música, literatura, games, Internet, TV a cabo, entre outras. Dessa forma, o entretenimento agrupa uma vasta gama de atividades de lazer convertidas em produtos comercializáveis. A respeito do assunto abordado na afirmação anterior, julgue os itens subseqüentes. I – O entretenimento é uma área que pode agregar valor aos produtos e aos serviços turísticos. II – Alguns autores, críticos do modelo capitalista, consideram o entretenimento uma forma de alienação da sociedade. III – A oferta de entretenimento, importante atividade geradora de emprego e renda, tem sua origem em diferentes campos, tais como notícias, arte, educação e turismo. Assinale a opção correta: a) Apenas o item III está certo. b) Apenas os itens I e II estão certos c) Apenas os itens II e III estão certos. d) Todos os itens estão certos. CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 19 2) O Turismo, sob a perspectiva econômica, é capaz de mobilizar diversos setores produtivos, envolvendo a prestação de serviços por uma vasta gama de organizações, empresas e categorias profissionais. Considerando essas informações, qual dos setores abaixo NÃO se relaciona diretamente com o turismo e NÃO se encontra no primeiro nível de sua cadeia produtiva? a) Eventos b) Gastronomia c) Saúde d) Transportes CST em Gestão de Turismo | Fundamentos do Turismo | Aula n° 02 20 Referências ANDRADE, Rui Otávio; MORETTO NETO, Luís. A gestão privada do turismo. In: TRIGO, Luiz (org.). Turismo: como aprender, como ensinar. São Paulo: Senac, 2001. BARRETTO, Margarita. Manual de Iniciação ao Estudo do Turismo. Campinas: Papirus, 2006 BENI, Mário. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Senac, 1998. BOULLÓN, Roberto. Planejamento do espaço turístico. Bauru: Edusc, 2002. BRASIL. Ministério do Turismo. Marcos Conceituais. 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