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DIREITO CIVIL II TEORIA GERAL DO CONTRATO AULA 1 Professor Eduardo Galante BRASÍLIA 2015 1 APRESENTAÇÃO Sou o Professor EDUARDO GALANTE; Mestre em Direito Internacional; Mestrando em Processo Legislativo Pós-graduado em Direito Administrativo, Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Civil E Pós-graduando em Direito Tributário; Sou graduado em Secretariado e em Direito; Possuo 5 anos de experiência na Docência de Ensino Superior em cursos de graduação e pós-graduação; Orientador de Trabalho de Conclusão de Curso; Ex-militar do Exército (15 anos) e Policial Civil há 10 anos. 2 CONTATOS Blog: http://professoreduardogalante.blogspot.com.br Twitter: @profedugalante Email: professoreduardogalante@gmail.com What App: 3 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Leitura obrigatória: Artigos 421 a 480 do Código Civil; Doutrina: livros de qualidade. Sebastião Neto por exemplo. Jurisprudência: - Súmulas STF: - Súmulas STJ: - Informativos STF: - Informativos STJ: 4 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 5 INTRODUÇÃO Os negócios jurídicos, quanto à manifestação da vontade, dividem-se em: a) unilaterais: quando a vontade emana de um só sujeito ou então mais de um, mas sempre direcionada ao mesmo fim. Exemplos: promessa de recompensa, título ao portador etc. Esses negócios unilaterais subdividem-se em receptícios, quando os seus efeitos só se produzirem após o conhecimento da declaração pelo destinatário, e não-receptícios, se sua efetivação independer do endereço a certo destinatário, como por exemplo, aceitação e renúncia da herança. b) bilaterais ou plurilaterais: quando a declaração de vontade emanar de duas ou mais pessoas, porém direcionadas em sentido contrário. Podem ser: a) simples, quando concede benefício a apenas uma das partes e encargo à outra, como por exemplo, a doação; b) sinalagmáticos, quando atribui vantagens e ônus para ambos os sujeitos, como, por exemplo, a compra e venda. Vê-se, portanto, que os contratos integram os chamados negócios jurídicos bilaterais, ou plurilaterais, formando-se pelo acordo de vontades. TEORIA GERAL DO CONTRATO 6 CONCEITO O Código Civil não conceitua contrato relegando à doutrina a missão, mas, em contrapartida, conceitua os contratos em espécie, o que, para alguns civilistas, é um contrassenso. A palavra contrato costuma apresentar duas acepções. Com efeito, em sentido amplo, o contrato compreende todo negócio jurídico bilateral, isto é, que se forma pelo concurso de vontades, abrangendo, por exemplo, o casamento. TEORIA GERAL DO CONTRATO 7 Em sentido estrito, que é seu verdadeiro sentido, a expressão, contrato abrange apenas o negócio jurídico bilateral ou plurilateral que tem por escopo a criação de uma obrigação de conteúdo patrimonial. De acordo com Antunes Varela, “contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinada a estabelecer uma relação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial”. TEORIA GERAL DO CONTRATO 8 DISTINÇÃO ENTRE PACTO E CONTRATO O pacto é a cláusula que se apõe a certos contratos para lhe emprestar feitio especial. Exemplos: pacto de retrovenda, pacto comissório, pacto adjecto de hipoteca, etc. O pacto é, pois, a expressão utilizada para designar os contratos acessórios. Na essência, portanto, não há distinção entre contrato e pacto, porque em ambos encontram-se presentes o acordo de vontades para a criação de uma obrigação de conteúdo patrimonial. No Direito Romano, porém, o pacto era a convenção desprovida de sanção, isto é, não criava uma obrigação juridicamente exigível, ao passo que o contrato era a convenção com força cogente, isto é, passível de punição. Vê-se assim que a expressão convenção, no Direito Romano, era o gênero, da qual o pacto e o contrato eram espécies. TEORIA GERAL DO CONTRATO 9 ELEMENTOS DO CONTRATO O contrato contém dois elementos, o estrutural e o funcional. O elemento estrutural ou alteridade consiste no consentimento recíproco, isto é, na fusão de duas ou mais vontades contrapostas. Por consequência, o contrato exige a presença de, no mínimo, duas pessoas. O elemento funcional, como esclarece Maria Helena Diniz, “consiste na composição de interesses contrapostos, mas harmonizáveis, entre as partes, constituindo, modificando e solvendo direitos e obrigações na área econômica”. Assim, o contrato exerce importante função econômico-social, daí a razão da sua tutela jurídica. Os diversos tipos de contratos são os meios de que podem lançar mão os contratantes para atingir seus fins econômicos. TEORIA GERAL DO CONTRATO 10 O CONTRATO CONSIGO MESMO Vimos que o contrato pressupõe a intervenção de duas ou mais pessoas. Em regra, portanto, não é cabível o autocontrato ou contrato consigo mesmo. Num caso, porém, se pode admitir o autocontrato: se o contratante intervém por si mesmo, em seu nome, e como representante de outrem. Há uma só pessoa que manifesta a vontade sob dois ângulos diferentes. Tal ocorre no chamado mandato em causa própria ou in rem suam em que a venda é feita a si próprio por esse mandatário em causa própria. Sobre o assunto, dispõe o art. 117 do Código Civil que, “salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta do outrem, celebrar consigo mesmo”. O prazo para a ação anulatória é de dois anos, contados da constituição do negócio (art.179 do CC). TEORIA GERAL DO CONTRATO 11 O CONTRATO CONSIGO MESMO A lei veda o tutor ou curador de comprarem, ainda que em hasta pública, os bens confiados à sua guarda e administração (art. 497,I). Assim, na representação legal, em regra, a lei não permite a autocontratação. Saliente-se, porém, que não há proibição de os pais comprarem os bens dos filhos; nada obsta essa venda, mediante ordem judicial, desde que haja uma vantagem ou benefício ao menor. TEORIA GERAL DO CONTRATO 12 REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO De acordo com o art. 104 do CC, a validade dos negócios jurídicos, entre os quais inclui-se o contrato, requer: - agente capaz; - objeto lícito, possível, determinado ou determinável - forma prescrita ou não defesa em lei. Assim, o contrato, para ser válido, deve preencher os requisitos subjetivos, objetivos e formais. TEORIA GERAL DO CONTRATO 13 REQUISITOS SUBJETIVOS Os requisitos subjetivos são: a) existência de duas ou mais pessoas. Os sujeitos dos contratos chamam-se partes. b) consentimento livre das partes, isento de vícios e com pleno conhecimento do negócio. O negócio será invalidado se houver erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo, simulação e fraude. É preciso ainda que o consentimento seja emitido com o propósito real de realizar o contrato, pois a vontade emitida por gracejo é destituída de valor jurídico. TEORIA GERAL DO CONTRATO 14 c) capacidade genérica das partes contratantes. Os absolutamente incapazes, como os menores de 16 anos, devem ser representados nos contratos pelo representante legal, sob pena de nulidade absoluta, ao passo que os relativamente incapazes, como os maiores de 16 anos e menores de 18 anos, podem celebrar pessoalmente a maioria dos contratos, desde que assistidos pelo representante legal (pais, tutore curador), sendo certo que a falta dessa assistência não tornará o negócio nulo, mas apenas anulável. TEORIA GERAL DO CONTRATO 15 d) legitimação das partes contratantes. A legitimação é a posição que a pessoa se encontra em relação a certas pessoas ou interesses, propiciando-lhe a prática do negócio jurídico. A falta de legitimação é a incapacidade ad hoc, isto é, específica para certos negócios. É, pois, o impedimento para a realização de determinados negócios. Assim, por exemplo, o tutor não pode adquirir bens do tutelado, ainda que haja autorização judicial (art. 1.749, inciso I); o administrador não pode comprar o bem que administra (art.497, I); o ascendente não pode vender para o descendente, sem que haja o consentimento dos demais descendentes (art. 496), etc. TEORIA GERAL DO CONTRATO 16 No tocante ao estrangeiro, nada impede que pratique os atos da vida civil, podendo, inclusive, celebrar o contrato de compra e venda de imóveis em nosso País. Essa liberdade de o estrangeiro adquirir bens no Brasil não é absoluta, pois sofre restrições em relação aos imóveis rurais, previstas no art. 190, da CF e na Lei nº 5.709/71, regulamentado pelo Decreto nº 74.965/74. Com efeito, o art. 12 da Lei nº 5.709/71 preceitua que a soma das áreas rurais pertencentes a estrangeiro não poderá ultrapassar ¼ da superfície dos Municípios onde se situem, salvo se tiver filho brasileiro ou for casado com pessoa brasileira sob o regime de comunhão universal de bens. TEORIA GERAL DO CONTRATO 17 REQUISITOS OBJETIVOS Os requisitos objetivos são os referentes ao objeto do contrato, que deve ser lícito, possível, determinado ou determinável e suscetível de apreciação econômica. Objeto lícito é o que está de acordo com a lei, moral e bons costumes. Assim, não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva (Pacta corvinae - art. 426). Igualmente, é nulo, em razão da imoralidade, o contrato pelo qual alguém assume a obrigação de posar para fotos pornográficas. Cumpre observar que o contrato nulo, na hipótese de descumprimento, não enseja qualquer indenização. TEORIA GERAL DO CONTRATO 18 O objeto ainda deve ser possível sob o prisma físico e jurídico. A impossibilidade física pode ser absoluta e relativa. A impossibilidade física é absoluta, quando, no momento da realização do contrato, o objeto é irrealizável por qualquer pessoa. Por exemplo, uma viagem para Júpiter. Nesse caso, não há falar-se em indenização, porque quem se obriga a realizar o impossível a nada se obrigou. Trata-se de um negócio nulo. A impossibilidade física é relativa quando o objeto é passível de realização por determinadas pessoas. Exemplo: reformar um apartamento em 10 (dez) dias. Nesse caso, se houver inadimplemento será cabível a indenização por perdas e danos. Trata-se, portanto, de um negócio válido. TEORIA GERAL DO CONTRATO 19 No tocante à possibilidade jurídica, aplica-se o que dissemos sobre o objeto lícito. Por outro lado, o objeto ainda deve ser determinado ou determinável. Diz-se determinado quando encontra-se perfeitamente individualizado ao tempo da celebração do contrato; e determinável, quando este fornece os elementos necessários à sua identificação, como, por exemplo, a compra dos peixes que caírem na rede do pescador. Outro exemplo de objeto determinável é obrigação de dar coisa incerta em que o contrato especifica a espécie e a quantidade do bem a ser entregue. TEORIA GERAL DO CONTRATO 20 Anote-se, porém, que se o objeto for absolutamente indeterminado, o contrato será nulo. Finalmente, o objeto do contrato deve versar sobre interesse economicamente apreciável, passível de ser transformado em dinheiro, caso contrário, deixa de interessar ao Direito, por falta de ação judicial para protegê-lo. Assim, é destituído de validade jurídica a compra e venda de um grão de arroz, porque o valor é tão irrisório que há falta de interesse para a propositura de uma ação judicial. TEORIA GERAL DO CONTRATO 21 REQUISITOS FORMAIS Os requisitos formais são os atinentes à forma do contrato, isto é, à maneira de sua exteriorização no mundo jurídico. Vigora, como regra, o princípio da liberdade das formas, de modo que os contratos são não-solenes ou não-formais, celebrando-se pelo livre consentimento das partes. Com efeito, dispõe o art. 107 do CC que “a validade da declaração de vontade não dependerá da forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. Assim, se a lei não fizer menção a uma forma especial, entende-se que esta é livre, podendo o contrato celebrar-se verbalmente e até por gestos e símbolos. O comodato, por exemplo, pode ser verbal, igualmente, a locação. TEORIA GERAL DO CONTRATO 22 REQUISITOS FORMAIS Excepcionalmente, porém, a lei exige uma forma especial. Fala-se, então, em contratos solenes ou formais. Alguns destes contratos solenes podem celebrar-se por escrito particular, como a fiança, a doação de bens móveis, o seguro, o penhor etc, mas outros a lei exige escritura pública, como os que envolvem a alienação de bens imóveis, como venda, doação, permuta etc. A inobservância da forma acarreta a nulidade absoluta do contrato. TEORIA GERAL DO CONTRATO 23 Ainda no tocante à forma, o consentimento, pode ser expresso ou tácito. É expresso quando esboçado por escrito, verbalmente ou simbolicamente. A declaração simbólica é a realizada por gestos ou mímicas (por exemplo, levantar o braço) ou sinais. O consentimento tácito, por sua vez, é o emanado de certos atos positivos reveladores da intenção de contratar. TEORIA GERAL DO CONTRATO 24 Tal ocorre, por exemplo, quando o locador recebe o aluguel, após o término do contrato. Esse ato implica em renovação do contrato de locação. Em regra, os contratos admitem o consentimento tácito, salvo quando a lei exige que seja expresso. Na sublocação, por exemplo, a lei requer a autorização por escrito do locador, sendo, pois, vedado o consentimento tácito. TEORIA GERAL DO CONTRATO 25 Cumpre, porém, observar que o silêncio não constitui consentimento tácito. Em matéria jurídica, quem cala não consente. Imagine, por exemplo, que uma certa editora envie a uma pessoa os exemplares de uma revista, fazendo consignar que a não- devolução implicará em aceitação. Nesse caso, o silêncio, isto é, a não-devolução em nada vinculará a pessoa que recebeu as ditas revistas. TEORIA GERAL DO CONTRATO 26 Por outro lado, o instrumento é a forma escrita do contrato. Este, quando exige a forma escrita, é chamado de contrato literal. O nascimento do contrato, ainda quando este for solene, se dá com o acordo de vontades, salvo nos contratos reais, que exigem ainda a entrega da coisa. O instrumento não é, portanto, requisito de existência do contrato, mas de validade, quando se tratar de negócio solene. Quanto aos contratos não-solenes, o instrumento é útil como meio de prova. Com efeito, enquanto a forma é a solenidade necessária à validade do negócio, a prova é o meio empregado para demonstrar legalmente a existência do negócio jurídico TEORIA GERAL DO CONTRATO 27 Nos negócios solenes, o instrumento será o seu único meio de prova; exerce, pois, duplo papel: meio de prova e requisito de validade do contrato. Assim, a nulidade do instrumento invalida o contrato, quando este for solene. Em contrapartida, nos contratosnão-solenes, o instrumento é um simples meio de prova, de modo que a sua nulidade não contamina o negócio jurídico. Este poderá ser comprovado por outros meios. De fato, os contratos não-solenes ou não-formais podem ser celebrados até sem instrumento. O instrumento deve ser assinado pelas partes. TEORIA GERAL DO CONTRATO 28 A assinatura pode ser: a) autógrafa: quando feita de próprio punho. b)hológrafa ou a rogo: quando feita por um terceiro a pedido do contratante, que não sabe ou não pode assinar o seu nome. Orlando Gomes entende que se o contratante for analfabeto, a assinatura a rogo deve ser aposta em instrumento público. Acrescente-se ainda que em alguns contratos, como o de trabalho, a assinatura a rogo é substituída por impressão digital. Os efeitos dos contratos celebrados por instrumento particular, bem como a cessão não se operam, a respeito de terceiros, antes de registrado no Registro Público (art. 221). Finalmente, os contratos solenes são chamados de ad solemnitatem, ao passo que os não-solenes, quando celebrados por escrito, denominam-se ad probationem tantum. EXERCÍCIOS 29 1) Qual a distinção entre negócios jurídicos unilaterais e bilaterais? 2) O que é contrato? 3) Qual a distinção entre contrato e pacto? 4) Qual é o elemento estrutural do contrato? 5) Em que consiste o elemento funcional do contrato? 6) Disserte sobre o contrato consigo mesmo. Há diferença entre procuração em causa própria e procuração para contrato consigo mesmo? 7) Quais os requisitos de validade do contrato? 8) Os incapazes podem celebrar contratos? 9) O menor pode alienar bens imóveis? 10) O que é legitimação? EXERCÍCIOS 30 11) O estrangeiro pode adquirir imóveis urbanos e rurais no Brasil? Justifique. 12) A impossibilidade física é causa de nulidade absoluta ou relativa do contrato? 13) Em regra, os contratos são formais ou informais? 14) O que é consentimento expresso? 15) O que é consentimento tácito? 16) O silêncio é uma forma de consentimento tácito? 17) Qual a distinção entre forma e prova? 18) A nulidade do instrumento anula o contrato? 19) O que é assinatura autógrafa? 20) O que é assinatura hológrafa? 21) Qual a distinção entre contrato ad solemnitatem e ad probationem tantum? EXERCÍCIOS 31 9) Quem tem dívidas pode instituir bem de família legal ou voluntária? 10) O que diz a súmula 205 do STJ? 11) Imóvel rural pode ser bem de família? Há limite? 12) Por que o bem de família voluntário é elitista? 13) O executado pode nomear à penhora o bem de família legal? 14) Quem administra o bem de família? 15) Vaga de garagem pode ser penhorada? 16) O oficial de Registro de imóveis quando lhe é apresentada a escritura pública de bem de família para registro deve tomar quais providências? GABARITO 32 GABARITO 33 GABARITO 34 GABARITO 35 36
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