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Valvopatias Clínica médica Mayra Alencar Há várias patologias cardíacas em que, se não tratadas, podem evoluir a uma condição valvopática. Anatomia das Valvas Bulhas cardíacas Focos auscultatórios 1 ➢ Mitral - Valva mitral - Normalmente visto acima do ictus ➢ Tricúspide - Valva tricúspide ➢ Aórtico - Valva aórtica ➢ Pulmonar - Valva pulmonar ➢ Aórtico acessório - Útil para analisar se a alteração ocorre na valva pulmonar ou na aorta, visto que por suas proximidades podem confundir. Se o som for também intenso no aórtico acessório, a alteração está na valva aórtica Valvopatias Conceito: São lesões que acometem as valvas cardíacas, causando desaparecimento ou soltura das bordas livres das mesmas, o que prejudica seu funcionamento. ➢ Desaparecimento ou flacidez: Insuficiência valvar - Refluxo ➢ Soldura: Estenose valvar - Dificulta o fluxo sanguíneo Estenose valvar A estenose valvar representa um déficit na abertura valvar, o que é responsável por ocasionar uma sobrecarga de pressão sob a câmara cardíaca anterior à estenose. Quando o aumento na sobrecarga de pressão ocorre no ventrículo, neste é visto uma hipertrofia concêntrica, o que, com o progredir da patologia, leva ao aparecimento de sinais e sintomas da insuficiência cardíaca. Por outro lado, quando o aumento da sobrecarga ocorre nos átrios, este não possui uma boa resposta a sobrecarga de pressão, visto a não capacidade de hipertrofiar de forma concêntrica, assim como os ventrículos. Nos átrios, há uma hipertrofia excêntrica até o seu máximo. 2 Logo, as consequências das estenoses atrioventriculares e semilunares não são as mesmas. Insuficiência valvar Na insuficiência, há um déficit no fechamento das valvas, o que ocasiona uma sobrecarga de volume, responsável por hipertrofia excêntrica, visto o mecanismo de Frank Starling. Valvopatias cardíacas estenosantes Alterações no funcionamento das valvas cardíacas, de etiologia variada, a qual acarreta prejuízo do funcionamento cardíaco devido a dificuldade da passagem do sangue através da valva estenosada. ➢ Estenose mitral ➢ Estenose aórtica ➢ Estenose tricúspide e pulmonar - Raras Logo, são mais comuns as estenoses que acometem as câmaras cardíacas esquerdas do coração. Estenose Mitral Estreitamento da valva mitral apresenta como principal etiologia a febre reumática. Caracterizada por ser uma doença progressiva, de curso lento, com período de latência de 20 - 40 anos entre o surto de febre reumática e sintomas de estenose. De acordo com a área valvar mitral, pode-se classificar em leve, moderada e grave, em que quanto menor a área valvar, maior é a gravidade da situação. Febre reumática: - Infecção por Streptococcus grupo A → Reação imunológica → Produção de anticorpos → Reação cruzada → Enrijecimento dos folhetos. 3 Visto isso, crianças diagnosticadas por febre reumática devem fazer uso de antibioticoterapia profilática por, aproximadamente, 20 anos. Um dos antibióticos mais utilizados é a Benzetacil, com intervalo de uso de 20 em 20 dias, a fim de prevenir a contaminação e, consequentemente, reação cruzada. Essa medida é justificada por a faixa etária infantil ser a mais acometida por infecções na região da garganta. Se o indivíduo, embora adulto, apresentar surto de febre reumática com lesão valvar, o uso de benzetacil será crônico. A fim de compensar e manter o débito cardíaco, o coração aciona mecanismos cronotrópicos positivos, que podem descontrolar a “ordem” sístole → diástole. Para este fenômeno, dá-se o nome de fibrilação atrial, o qual aumenta o gasto energético cardíaco e, consequentemente, aumenta a necessidade por O2. ECG - Fibrilação atrial Durante a fibrilação atrial não há a ejeção completa de sangue para o ventrículo, “sobrando” sangue atrial. Esse sangue “estacionado” no átrio, é capaz de ocasionar um aumento da adesão plaquetária na parede atrial, somado a interação com fibrinas e hemácias, o que forma um trombo. Esse trombo pode permanecer na câmara atrial ou se deslocar, podendo causar fenômenos cardioembólicos. Assim, justifica-se a necessidade de uso dos anticoagulantes, a fim de prevenir a formação de trombos. Somado a isso, o represamento de sangue na câmara atrial pode acarretar congestão, e, consequentemente, congestão pulmonar. A pressão pulmonar aumentada por insuficiência cardíaca esquerda, ventrículo direito 4 necessita de um maior esforço para enviar sangue para os pulmões, o que acarreta quadro de insuficiência cardíaca global. A estenose mitral, quando somada a um quadro de bacteremia, pode levar a um quadro de endocardite e infecção. Com a diminuição do débito cardíaco, há um menor fluxo sanguíneo coronariano, o que pode levar a isquemia e, consequentemente, infarto. Sintomatologia A sintomatologia resume-se, principalmente, aos sinais e sintomas da congestão pulmonar. ➢ Dispneia aos esforços - Exigência por aumento de débito cardíaco ➢ Ortopneia ➢ Fadiga ➢ Tosse (hemoptise) - A insuficiência por estenose mitral tende a ser mais intensa, o que pode levar a hemoptise por rompimento de vasos. ➢ Palpitações (fibrilação atrial) - Sensação de coração batendo na garganta - “Coração saindo pela boca” A disfagia pode estar presente em casos graves, visto que a hipertrofia excêntrica do átrio esquerdo pode levar a compressão esofágica. Assim como, se houver compressão do nervo laríngeo, pode-se ter rouquidão. Quando o quadro de estenose mitral grave resulta em congestão sistêmica, pode-se ter a denominada Síndrome de Baixo Débito. As valvopatias são menos toleráveis durante a gestação. Diagnóstico Clínico ➢ Anamnese - Pesquisar por febre reumática (Na infância, tinha muita dor de garganta?) ➢ Exame físico - Hiperfonese de B1 5 - Estalido de abertura mitral - Sopro diastólico (valva abre pouco → passa pouco sangue na diástole → “xuu tá”) - Crepitações pulmonares - Estase jugular, sinais de congestão sistêmica Exames complementares ➢ Raio X de tórax ➢ Ecocardiograma - Diagnóstico e grau de acometimento ➢ ECG - Sinais de sobrecarga atrial esquerda (onda P) - Plus minus em V2 - Entálico em DII 6 Observações: Raio X ➢ Raio X (tórax) 7 A congestão pulmonar pode ter sido em resultado da estenose mitral. - Hipertrofia excêntrica atrial esquerda 8 - Hipertrofia excêntrica esquerda, com comprometimento esofágico ➢ Ecocardiograma - Valva mais grossa, sinal de calcificação - “Brilha” mais 9 Tratamento Medicamentoso É utilizado medicamentos para aumento de sobrevida. ➢ Betabloqueador - Cronotropismo negativo → Fibrilação ➢ Diuréticos - Uso cuidadoso, visto o risco de síndrome de baixo débito ➢ Anticoagulantes - Prevenção de trombos ➢ Antibióticos - Quando há diagnóstico de febre reumática Cirúrgico ➢ Valvuloplastia mitral por cateter balão - Rompe a calcificação dos folhetos ➢ Troca valvar - Atentar-se ao risco de endocardite Estenose Aórtica Estreitamento da valva aórtica, que provoca um aumento da pós-carga, em que a 10 etiologia pode-se dar por: ➢ Envelhecimento - Degeneração calcificada ➢ Hipertensão arterial ➢ Dislipidemia ➢ Doença congestiva ➢ Febre reumática Para garantir o fechamento valvar, são necessários: ➢ Integridade valvar ➢ Integridade da raiz da aorta Assim, qualquer condição que leve ao comprometimento desses dois mecanismos, são responsáveis pela estenose aórtica. O aumento da pressão no ventrículo direito causado pela estenose aórtica → Hipertrofia concêntrica → Insuficiência diastólica → Perda da capacidade contrátil → Hipertrofia excêntrica → Insuficiência sistólica → Congestão atrial esquerda → Congestão pulmonar No momento em que há hipertrofia concêntrica, há no organismo o desenvolvimento de mecanismos compensatórios, o que torna a condição da estenose aórtica crônica. Se houver descompensação, há o aparecimento de sintomas por: ➢ Isquemia ➢ Débito cardíaco fixo - O que não responde aos esforços ➢ IC congestiva Somado a isso, quando há a hipertrofiadas células miocárdicas, há uma maior exigência por energia, e, consequentemente, maior consumo de O2. Com a redução do débito 11 cardíaco, há a redução da perfusão coronariana, o que pode levar aos quadros de isquemia, angina não obstrutiva. Sintomas (Tríade) ➢ Angina não obstrutiva - Isquemia - Maior aos esforços ➢ Síncope - Redução do débito cardíaco → Redução do fluxo central → Redução do fluxo sanguíneo no SNC → Perda de consciência → Síncope ➢ Dispneia aos esforços - Redução do débito cardíaco → Redução da oxigenação tecidual → Hipoxemia → Dispneia aos esforços. Diagnóstico Clínico ➢ Anamnese - Tríade sintomatológica - Fatores de risco ➢ Exame físico Palpação - Ictus cordis desviado (extensão > 2 polpas digitais), indicativo de cardiomegalia - Pulso parvus e tardus (maior amplitude + maior tempo) - artéria carótida - Pulso anacrônico ( “pulso treme” → desaparece) - Lento Ausculta - Sopro sistólico Ocorre antes de B2 e é mais intenso na base do coração, visto o maior tempo para o fechamento valvar, antes da fase diastólica, há um retorno de uma quantidade de sangue, o que causa o sopro sistólico. - B2 hiperfonética Visto a proximidade entre valva mitral e aórtica, a hiperfonese pode não ser distinguida. Nessa situação, 12 deve-se realizar a ausculta do foco acessório, que se também tiver hiperfonese, relacionar a hiperfonese aórtica. - Fenômeno de Gallavardin (sopro auscultado em foco mitral) O sopro da estenose aórtica pode irradiar-se para o foco mitral, visto a continuidade anatômica entre elas. Assim, pode aparecer 2 sopros. Diferenciar por manobras específicas ou eco. - Desdobramento paradoxal de B2 Visto que o ventrículo direito irá “esvaziar” mais rápido, por não encontrar resistência, há um “atraso” no fechamento da valva aórtica, o que é percebido pela ausculta. (TUM - TRÁ / TUM - TATA) Ao ocorrer inspiração profunda, a ausculta se torna normofonética sem desdobramentos, Inspiração → Aumento a pressão nos pulmões → Aumento a força e tempo necessária para que o ventrículo direito ejete sangue para os pulmões → “atrasa” o direito também → som normofonéticas sem desdobramentos. Exames complementares ➢ Raio X de tórax (Hipertrofia cardíaca) - “macete” da régua 13 ➢ ECG Sinais de sobrecarga ventricular esquerda - QRS com maior amplitude e com maior tempo. - Soma “quadradinhos” de V1 + V5 + V6 = >35 (sobrecarga ventricular esquerda) ➢ Ecocardiograma - Diagnóstico e grau de acometimento 14 Tratamento Farmacológico ➢ Sintomas - Diuréticos ➢ Aumento de sobrevida - IECA - BRA Observações: - Os betabloqueadores são contraindicados nesses casos, visto que esses reduzem o principal mecanismo compensatório do organismo em resposta à estenose aórtica, que é a contratilidade. Logo, seu uso poderia levar a: Síndrome de baixo débito e hipotensão arterial. - Assim como, em casos de estenose aórtica grave, vasodilatadores e diuréticos devem ser utilizados com cuidado, visto o risco de hipotensão arterial. Cirúrgico ➢ Transcatheter aortic valve implantation. 15 Valvopatias cardíacas regurgitantes Também denominada insuficiência valvar, representa alterações no funcionamento das valvas cardíacas, de etiologia variada, levando a prejuízo do funcionamento cardíaco devido a incompetência do mecanismo de fechamento valvar. ➢ Insuficiência mitral ➢ Insuficiência aórtica Insuficiência mitral Falha no mecanismo de fechamento valvar o qual resulta no refluxo de sangue para o átrio esquerdo durante a sístole. Etiologia ➢ Prolapso da valva mitral A febre reumática é a principal causa do prolapso/destruição mitral, visto que um dos 16 efeitos inflamatórios acarretados pela infecção é o acometimento dos tecidos das cúspides e das cordas tendíneas que as tornam “frouxas”. Prolapso mitral = degeneração mixomatosa ➢ Isquemia Isquemia dos músculos papilares → Perda da função contrátil → Insuficiência valvar ➢ Endocardite Quando a colonização bacteriana atinge os folhetos. ➢ Dilatação excêntrica A dilatação excêntrica, por insuficiência cardíaca, por exemplo, pode acarretar a uma insuficiência mitral secundária. Na insuficiência mitral, durante a sístole, há um retorno de sangue do ventrículo para o átrio, o que sobrecarrega o átrio em volume, por receber sangue fisiológico da veia pulmonar e do regurgitamento. Contudo, a insuficiência mitral é considerada uma patologia crônica com aparecimento de sintomas tardio, o que deve-se a mecanismos compensatórios do próprio organismo que fazem, por exemplo, aumento da complacência atrial esquerda e ventricular esquerda. 17 Em razão da hipertrofia excêntrica presente no quadro, há uma perda de capacidade contrátil e, consequente, congestão, ilustrado pela cardiomegalia. Posterior a congestão atrial, e até mesmo ventricular, e cardiomegalia, desenvolve-se o quadro de insuficiência, responsável pelo aparecimento de sintomas de congestão pulmonar, como: dispnéia e ortopnéia. Há também casos de insuficiência mitral aguda, em que a principal causa é o infarto e a endocardite infecciosa. Sintomas Os sintomas da insuficiência mitral, os quais podem ou não aparecer na fase descompensada, são semelhantes aos de insuficiência cardíaca esquerda e/ou global: ➢ Dispnéia ➢ Tosse ➢ Hepatomegalia ➢ Ascite ➢ Estase jugular ➢ Edema de MMII Diagnóstico Clínico ➢ Anamnese ➢ Exame físico - Inspeção e palpação Avaliação de ictus cordis (desviado e aumentado) - Ausculta Hipofonese de B1, visto que os folhetos não se tocam, B1 apresenta-se de menor intensidade. Desdobramento da segunda bulha (fechamento prematuro de valva aórtica). VE “esvazia” primeiro durante a sístole , visto que o sangue vai sair pela valva mitral e pela artéria aorta. Visto isso, a valva aórtica vai “fechar” antes, o que provoca o desdobramento de segunda bulha Se ocorrer inspiração, o desdobramento só piora, visto que o ventrículo direito vai 18 demorar ainda mais para “esvaziar”. TUM- TÁTÁ / TUM TRÁ Sopro holossistólico, sangue passando por uma abertura pequena (XUU), iniciado em B1 B3, a maior complacência do ventrículo esquerdo pode levar ao aparecimento de B3, por turbilhonamento. Exames complementares ➢ ECG Normal, com sobrecarga de câmaras esquerdas e fibrilação atrial. 19 ➢ Raio X de tórax Aumento de câmaras cardíacas. ➢ Ecocardiograma Tratamento ➢ Sintomas iniciais: medicações para sintomas de IC - Vasodilatadores 20 - IECA/BRA - Betabloqueador - Diuréticos ➢ Sintomas de IC grave: cirurgia (troca valvar) Insuficiência aórtica Nesta condição, há um refluxo sanguíneo para o ventrículo esquerdo durante a diástole, visto uma incompetência no fechamento valvar, por cardiopatias que levam a: - Lesão na valva aórtica - Dilatação excessiva na raiz da aorta ascendente A sobrecarga de volume vista nesta condição, acarreta hipertrofia excêntrica, e consequente hipertensão pulmonar. Etiologia: ➢ Congênita - Exemplo: valva bicúspide ➢ Febre reumática ➢ Endocardite infecciosa Sintomas Sintomas relacionados à baixa perfusão e congestão pulmonar. ➢ Dispneia aos esforços ➢ Ortopnéia ➢ Angina não obstrutiva ➢ Dispneia paroxística noturna ➢ Síncope Diagnóstico ➢ Anamnese e exame físico - Pulso de corrigan (“martelo d’agua): aumento da amplitude de pulso, percebido como um pulso forte e rápido - Ictus aumentado e deslocado a esquerda - Sopro diastólico - Sinal de Musset: Pulsação da cabeça, presente principalmente no início da 21 doença. - Sinal de traube: ruídos sistólicos e diastólicos audíveis em artéria femoral - Sinal de Muller: Pulsação da úvula (espasmo) ➢ ECG - Sinais de sobrecarga de ventrículo esquerdo ➢ Raio X de tórax - Cardiomegalia com aumento da silhueta aórtica ➢ Ecocardiograma Obs.: O ecocardiograma na insuficiência valvar não ilustra calcificação, muito brilho, como visto em estenose valvar. Tratamento ➢ Medicamentoso - Diurético e vasodilatadores ➢ Cirúrgico - Troca valvar Observação: O balão intra-aórtico écontra indicado por aumentar a fração regurgitante. 22
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