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EDUCS NEUROANATOMIA TOMO III 2 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL Presidente: Roque Maria Bocchese Grazziotin Vice-Presidente: Orlando Antonio Marin UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL Reitor: Prof. Isidoro Zorzi Vice-Reitor: Prof. José Carlos Köche Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Evaldo Antonio Kuiava Coordenador da Educs: Renato Henrichs CONSELHO EDITORIAL DA EDUCS Adir Ubaldo Rech (UCS) Gilberto Henrique Chissini (UCS) Israel Jacob Rabin Baumvol (UCS) Jayme Paviani (UCS) José Carlos Köche (UCS) – presidente José Mauro Madi (UCS) Luiz Carlos Bombassaro (UFRGS) Paulo Fernando Pinto Barcellos (UCS) Neuroanatomia – Tomo III 3 NEUROANATOMIA TOMO III João Guilherme Valentim Neto Asdrubal Falavigna EDUCS 4 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna Ilustrações: Remo Farina Junior Colaborador: Lucas Piccoli Conzatti Revisão: Ivone Justina Polidoro Franco Editoração: Traço Diferencial Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Universidade de Caxias do Sul UCS – BICE – Processamento Técnico F177n Falavigna, Asdrubal, 1965 Neuroanatomia / Asdrubal, João Guilherme Valentim Neto. – Caxias do Sul, RS : Educs, 2012. v. 3 : 111 p.: il.; 21 cm. Os v. 1 e 2 foram publicados pela PUCRS em 1989 e 2003, respectivamente. ISBN 978-85-7061-637-1 1. Neuroanatomia. 2. Sistema nervoso. I. Valentim Neto, João Guilherme. II. Título. CDU: 2. ed.: 611.8 Índice para o catálogo sistemático: Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária Márcia Carvalho Rodrigues – CRB 10/1411 Direitos reservados à: – Editora da Universidade de Caxias do Sul Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 – CEP 95070-560 – Caxias do Sul – RS – Brasil Ou: Caixa Postal 1352 – CEP 95020-972 – Caxias do Sul – RS – Brasil Telefone / Telefax: (54) 3218 2100 – Ramais: 2197 e 2281 – DDR: (54) 3218 2197 Home page: www.ucs.br – E-mail: educs@ucs.br 1. Neuroanatomia 2. Sistema nervoso 611.8 611.8 EDUCS c dos autores Neuroanatomia – Tomo III 5 SUMÁRIO Apresentação / 9 1 DIENCÉFALO – ANATOMIA MACROSCÓPICA / 11 1 Conceito / 11 2 Localização / 11 3 Embriologia / 11 4 Terceiro ventrículo / 12 5 Componentes / 14 5.1 Tálamo / 14 5.2 Metatálamo / 14 5.3 Hipotálamo / 16 5.4 Epitálamo / 19 5.5 Subtálamo / 20 6. II par craniano / 20 2 DIENCÉFALO – ANATOMIA MICROSCÓPICA / 21 1 Introdução / 21 2 Tálamo / 21 3 Metatálamo / 24 4 Hipotálamo / 24 5 Epitálamo / 29 6 Subtálamo / 31 3 TELENCÉFALO / 33 1 Substância branca do cérebro ou centro oval / 33 2 Gânglios da base / 37 3 Córtex cerebral / 39 3.1 Conceito / 39 3.2 Localização / 40 3.3 Embriologia / 40 3.4 Morfologia / 40 3.4.1 Fissuras do telencéfalo ou cisuras / 43 3.4.2 Delimitações lobulares / 44 6 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 3.5 Descrição das faces dos hemisférios cerebrais / 45 3.5.1 Face súpero-lateral ou convexa ou externa / 45 3.5.1.1 Lobo frontal / 45 3.5.1.2 Lobo temporal / 47 3.5.1.3 Lobo parietal / 48 3.5.1.4 Lobo occipital / 49 3.5.1.5 Ínsula (ilha de Reil) /49 3.5.2 Face medial ou plana / 50 3.5.2.1 Lobo frontal / 50 3.5.2.2 Lobo parietal / 52 3.5.2.3 Lobo occipital / 53 3.5.3 Face inferior ou base do cérebro / 55 3.5.3.1 Lobo frontal / 55 3.5.3.2 Lobo temporal / 56 3.5.3.3 Sistema límbico / 58 3.5.3.4 Rinencéfalo / 59 4 Microscopia do córtex cerebral / 60 4.1 Classificação anatômica / 61 4.2 Classificação filogenética / 61 4.3 Classificação estrutural / 61 4.4 Classificação funcional / 64 5 Dominância hemisférica / 70 4 VENTRÍCULOS ENCEFÁLICOS E CIRCULAÇÃO LIQUÓRICA / 73 1 Ventrículos encefálicos / 73 2 Líquor e circulação liquórica / 74 5 MENINGES / 79 1 Conceito / 79 2 Dura-máter (paquimeninge) / 80 2.1 Seios da abóbada craniana / 81 2.2 Seios da base do crânio / 82 3 Aracnoide (leptomeninge) / 83 4 Pia-máter (leptomeninge) / 84 6 VASCULARIZAÇÃO DO CÉREBRO / 85 1 Sistema arterial / 85 2 Retorno venoso / 87 Neuroanatomia – Tomo III 7 7 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO / 91 1 Conceito / 91 2 Características gerais / 91 3 Sistema nervoso simpático ou tóraco-lombar / 93 3.1 Neurônios e fibras pré e pós-ganglionares / 95 4 Sistema nervoso parassimpático / 96 4.1 Porção cranial / 96 4.2 Porção sacral / 96 Neuroanatomia – Tomo III 9 APRESENTAÇÃO – Todos elogiam o sonho, que é o compensar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos. (Diálogo de Bartolomeu com o médico Sidónio Rosa - Venenos de Deus, remédios do Diabo. Mia Couto) O sistema nervoso certamente é uma das áreas que tem despertado interesse crescente nos últimos anos. Conhecer o cérebro é conhecer a nossa essência! O entendimento da estrutura do sistema nervoso é o primeiro passo. Este livro completa a série Neuroanatomia. O Tomo I foi dedicado à embrio-histologia do sistema nervoso central, coluna vertebral e medula espinhal; o Tomo II à estrutura do crânio, tronco cerebral, cerebelo e pares cranianos e, agora, o Tomo III apresenta o diencéfalo, telencéfalo e o sistema nervoso autônomo ou vegetativo. Os Professores Asdrubal Falavigna e João Guilherme Valentim Neto passo à passo completaram esta obra para “descansar dos sonhos”. O escopo deste livro é o de levar ao aluno, de forma agradável, o conhecimento da anatomia do sistema nervoso. Os autores abordam didaticamente a estrutura do encéfalo, utilizando uma linguagem de fácil entendimento e sempre associada com ilustrações para facilitar o aprendizado. O desafio foi o de manter a necessária equidistância da paixão pela morfologia 10 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna das disciplinas básicas e a neurociência aplicada – neurologia e neurocirurgia- buscando o aprendizado prático do cérebro humano e sua aplicação possível. Falavigna e Valentim Neto trabalharam os textos com equilíbrio seguindo a máxima: “aquele que pretende observar bem a terra deve manter a necessária distância.” (O barão nas árvores, de Italo Calvino) Este livro destina-se aos estudantes da área da saúde, residentes de neurologia, neurocirurgia e psiquiatria e a todos interessados em conhecer os meandros do cérebro humano. Boa leitura! Prof. Dr. Jaderson Costa da Costa Neuroanatomia – Tomo III 11 1 Conceito O diencéfalo forma, juntamente com o telencéfalo, o cérebro. Ele tem como função a manutenção do equilíbrio interno da homeostase corporal. É suprassegmentar porque externamente apresenta substância cinzenta e internamen- te substância branca. 2 Localização O diencéfalo apresenta-se em situação ímpar e media- na no cérebro. Está envolto externamente pelos hemisférios cerebrais e, portanto, não tem um indicador anatômico ex- terno. Somente seu segmento caudal pode ser visualizado em vista inferior. Delimita-se lateralmente pela cápsula in- terna e medialmente pelo terceiro ventrículo. Localiza-se acima da tenda do cerebelo, ou seja, no compartimento supratentorial do crânio. 3 Embriologia O diencéfalo origina-se da porção mais caudal da vesícula prosencefálica e juntamente com o telencéfalo forma o cé- rebro. O resquício da luz do tubo neural embrionário em nível da vesícula diencefálica forma o terceiro ventrículo. DIENCÉFALO ANATOMIA MACROSCÓPICA 1 12 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 4 Terceiro ventrículoO diencéfalo é melhor compreendido se estudado se- gundo seu referencial anatômico interno que corresponde à sua cavidade, denominada de terceiro ventrículo. O terceiro ventrículo é uma cavidade preenchida por líquor, sendo visualizada no plano frontal e transversal como uma fenda estreita, ímpar e mediana. Comunica-se com o quarto ventrículo através do aqueduto mesencefálico de Sylvius e com os ventrículos laterais através dos foramens interventriculares de Monro.O terceiro ventrículo divide o diencéfalo em duas metades simétricas que se apresentam unidas por uma estrutura chamada de aderência intertalâmica ou massa intermédia. Existem ainda quatro recessos ou evaginações da luz da cavidade diencefálica, de- nominados de infundibular, supraóptico, pineal e suprapineal. O terceiro ventrículo apresenta uma parede anterior, uma parede lateral, um limite posterior, um teto e um assoalho.Segue a descrição de seus limites. • Paredes laterais: localizam-se ao lado da linha média. São compostas pelo tálamo e pelo hipotálamo, os quais es- tão situados, respectivamente, acima e abaixo do sulco hipotalâmico de Monro, que se estende entre o aqueduto mesencefálico e o forame interventricular. Esse sulco divide o diencéfalo em uma porção superior, formada pelo tálamo, e uma porção inferior, formada pelo hipotálamo. • Limite posterior: é formado pelo epitálamo. Existem dois recessos, o recesso pineal, em nível da glândula pineal, e o recesso suprapineal, superiormente à glândula pineal. • Limite inferior ou assoalho: é composto pelo hipotálamo. Existem dois recessos, o recesso supraóptico, Neuroanatomia – Tomo III 13 acima do quiasmaóptico, e o recesso infundibular, na proje- ção da glândula hipófise, que é o infundíbulo. • Parede anterior: é delimitada pela comissura branca anterior, estrutura telencefálica que realiza comunicação inter-hemisférica, e pela lâmina terminal ou supraóptica, localizada entre o quiasma óptico e a comissura anterior, também de origem embriológica telencefálica. • Teto: é formado pela tela coroide, que se insere late- ralmente nas estrias medulares do tálamo, e pelo plexo coroide. Figura 1 – Corte medial do diencéfalo 14 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 5 Componentes O diencéfalo é constituído por cinco agrupamentos nucleares de mesma origem embriológica, denominados de cinco tálamos: tálamo, metatálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. Esses agrupamentos nucleares não se relacio- nam entre si; todavia, com exceção do subtálamo, todos apre- sentam alguma relação com a luz do terceiro ventrículo. O hipotálamo localiza-se caudalmente ao tálamo, o epitálamo está cranialmente ao tálamo, e o subtálamo situa-se lateral- mente ao hipotálamo. O metatálamo corresponde a dois núcleos denominados corpos geniculados lateral e medial, existindo controvérsias se deve ser classificado como parte do tálamo ou como uma estrutura individualizada. 5.1 Tálamo Os tálamos são dois aglomerados de substância cinzen- ta de forma ovoide e tamanho grande que ocupam as pare- des laterais do terceiro ventrículo acima do sulco hipotalâmico. Na extremidade anterior de cada tálamo, ob- serva-se o tubérculo anterior e, na extremidade posterior, encontra-se o pulvinar. Os tálamos comunicam-se entre si através da aderência intertalâmica ou massa intermédia. A superfície medial de cada tálamo forma a parede lateral do terceiro ventrículo,e a superfície lateral de cada tálamo está em contato com a cápsula interna, fazendo parte do assoalho do ventrículo lateral, e inferiormente relacionando-se com o hipotálamo. O tálamo corresponde à grande estação sensorial do or- ganismo. Toda e qualquer via sensorial tem que realizar sinapse no tálamo, podendo, posteriormente, ser projetada para as suas respectivas áreas telencefálicas. O tálamo é ain- Neuroanatomia – Tomo III 15 da o único lugar em que as vias trigeminais estão juntas com as vias espinais que trazem a sensibilidade tátil e dolorosa contralateral do corpo. 5.2 Metatálamo Os corpos geniculados são saliências localizadas na por- ção póstero-inferior do tálamo, abaixo do pulvinar. O corpo geniculado lateral participa da via óptica, relacionada com a visão, enquanto o corpo geniculado medial participa da via coclear ou acústica, relacionada à audição. Figura 2 – Tálamo e seus componentes anatômicos 16 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 5.3 Hipotálamo O hipotálamo delimita o assoalho e a parede lateral do terceiro ventrículo, abaixo do sulco hipotalâmico. Na por- ção lateral do terceiro ventrículo, ele é dividido pelo trígono (comissura telencefálica) em hipotálamo medial, rico em substância cinzenta, e hipotálamo lateral, rico em fibras mielínicas de direção longitudinal. O hipotálamo apresenta algumas estruturas importan- tes no assoalho da cavidade diencefálica, cuja sintopia, de anterior para posterior, é a seguinte: • Quiasma óptico: é formado pela convergência das fi- bras provenientes da retina nasal dos nervos ópticos. • Infundíbulo: é a formação nervosa que se prende ao túber cinéreo. Contém um prolongamento da cavidade ventricular que é o recesso do infundíbulo. Dilata-se para formar a eminência mediana do túber cinéreo na extremi- dade superior. Na extremidade inferior, continua com o pro- cesso infundibular ou lobo nervoso da hipófise. • Túber cinéreo: é um aglomerado de substância cin- zenta localizado entre o quiasma óptico e os corpos mamilares. A hipófise está conectada a ele através do infundíbulo. Apresenta essa coloração, pois nele se encon- tram núcleos hipotalâmicos que se relacionam com a neurohipófise. • Corpos mamilares: são dois aglomerados de substân- cia cinzenta em forma ovóide, localizados na parte anterior da fossa interpeduncular. Os corpos mamilares fazem parte do sistema límbico, recebendo fibras do hipocampo através do fórnix e se projetando para os núcleos anteriores do tálamo e para a formação reticular. Neuroanatomia – Tomo III 17 O hipotálamo é responsável pelo controle da função visceral (vida vegetativa), representada pela sensibilidade visceral e pela motricidade ou sistema nervoso autônomo (SNA). Mantém o equilíbrio do meio interno do corpo – homeostase – e o metabolismo corporal. De maneira didáti- ca, seguem as principais funções hipotalâmicas e suas des- crições: • controle do SNA: hipotálamo anterior coordena a fun- ção parassimpática e o hipotálamo posterior coordena a fun- ção simpática. • controle da temperatura corporal: o hipotálamo an- terior promove a perda de calor, enquanto o hipotálamo posterior promove a conservação de calor. Figura 3 – Corte medial do diencéfalo visualizando-se os compo- nentes anatômicos do hipotálamo 18 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna • controle das emoções: através das relações com o siste- ma límbico coordena os instintos, a raiva, a fome, a sexualida- de, etc. • controle do sono-vigília: substância reticulada ativadora ascendente do tronco cerebral, quando ativada mantém o indi- víduo em vigília. Segundo alguns autores, coordena ritmos circadianos através da produção de melatonina. • regulação da sede: através dos osmorreceptores no hipotálamo. Na lesão do hipotálamo lateral, não há estímulo para beber. • regulação da diurese: efetuada pela secreção de hormônio antidiurético pela neuro-hipófise. • controle do sistema endócrino: o hipotálamo controla a liberação dos hormônios da hipófise. A hipófise se forma através de duas protrusões: uma invaginação do diencéfalo, que origina a neuro-hipófise, e uma evaginação do estroma da cavidade oral, que forma a adeno-hipófise. Aglândula localiza-se na sela túrcica, sendo formada por uma porção anterior ou adeno-hipófise, com características glandulares, e uma porção posterior ou neuro- hipófise, com características secretórias. O hipotálamo controla a liberação dos hormônios da adeno-hipófise e forma os hormônios da neuro-hipófise. A adeno-hipófise controla as glândulas de secreção interna – tireoide, suprarenal, paratireoide, testículos (espermiogênese) e ovários (maturação de folículos). O con- trole se dá por feedback negativo, sendo que a prolactina é o único hormônio que recebe inibição do hipotálamo. A neuro- hipófise tem atividade secretora, secretando ADH, cuja disfunção causa diabetes insipidus, a ocitocina e o hormônio melanotrol, que aumenta a melanina na pele. Neuroanatomia – Tomo III 19 5.4 Epitálamo O epitálamo é a porção posterior do terceiro ventrículo. Constitui-se de formações endócrinas e não endócrinas. As formações endócrinas são a glândula pineal e o órgão subcomissural. A glândula pineal ou epífise é ímpar e de lo- calização mediana, repousando sobre o teto mesencefálico. Ela fixa-se anteriormente à comissura posterior e à comissura das habênulas. Sua função principal é a secreção de melatonina, estando diretamente relacionada ao sono e sen- do extremamente influenciada pela presença de luz. É for- mada por células glandulares chamadas pineócitos. O órgão subcomissural representa um espessamento do epêndima abaixo da comissura posterior e está relacionado com a regulação do metabolismo de água e de sais minerais. A for- mação não endócrina é representada pela comissura poste- rior. A comissura posterior serve de limite entre o mesencéfalo e o diencéfalo. Figura 4 – Corte medial do diencéfalo visualizando-se os compo- nentes anatômicos do epitálamo 20 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 5.5 Subtálamo O subtálamo está na zona de transição di-mesencefálica. É o único agrupamento diencefálico que não tem relação com a cavidade do terceiro ventrículo. Localiza-se inferior- mente ao tálamo, sendo limitado lateralmente pela cápsula interna e medialmente pelo hipotálamo. Apresenta um nú- cleo de substância cinzenta motor, o núcleo subtalâmico de Luys, que participa do controle do sistema nervoso extrapiramidal da musculatura proximal dos membros su- periores. Sua disfunção causa o balismo. 6 II Par craniano A via óptica é formada pelo II par craniano que é o ner- vo óptico. Esse não possui estrutura histológica de nervo, sendo uma expansão do diencéfalo. As fibras nervosas pro- venientes da retina nasal cruzam a linha média e formam o quiasma óptico, conti- nuando como tratos ópticos, que se dirigem aos corpos geniculados laterais, após contorna- rem os pedúnculos ce- rebrais. As fibras dos corpos geniculados la- terais são projetadas para o córtex visual do telencéfalo, o lobo occipital. Figura 5 – Via óptica Neuroanatomia – Tomo III 21 1 Introdução A anatomia microscópica do diencéfalo será descrita de acordo com suas porções: tálamo, metatálamo, epitálamo, hipotálamo e subtálamo. 2 Tálamo O tálamo é formado essencialmente por substância cin- zenta, mas sobre a sua superfície dorsal acha-se uma lâmina de substância branca chamada de extrato zonal do tálamo. A projeção deste extrato em direção lateral é chamada de lâmina medular externa. Da superfície dorsal, o extrato pe- netra verticalmente, como um septo, no tálamo recebendo o nome de lâmina medular interna, que anteriormente bi- furca-se em forma de Y englobando os núcleos anteriores do tálamo. No interior da lâmina medular interna temos os núcle- os intralaminares do tálamo, sendo esta utilizada como ponto de referência para a divisão dos mesmos. Esses núcleos são divididos em cinco grupos: anterior, posterior, mediano, medial e lateral: • grupo anterior: fazem parte desse grupo os núcleos situados no tubérculo anterior do tálamo e limitados pelas DIENCÉFALO ANATOMIA MICROSCÓPICA 2 22 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna pernas da lâmina medular interna. Recebem fibras dos nú- cleos mamilares pelo fascículo mamilo-talâmico, circuito de Papez, e enviam fibras para o córtex do giro do cíngulo, fa- zendo parte do sistema límbico, relacionado com o compor- tamento emocional; • grupo posterior: compreende o pulvinar, que é um grande núcleo que se liga com o córtex dos lobos parietal e temporal e não recebe fibras extratalâmicas; • grupo lateral: situam-se nesse grupo núcleos localiza- dos lateralmente à lâmina medular interna. São subdividi- dos em um subgrupo dorsal e um ventral. Os núcleos ven- trais são os mais importantes: núcleo ventral anterior, inter- médio, póstero-lateral e póstero-medial; O núcleo ventral anterior pertence ao sistema extrapiramidal (área pré-motora) e recebe fibras do globo pálido. Ele projeta suas fibras em direção ao lobo frontal e núcleo caudado. O núcleo ventral intermédio ou ventral lateral recebe fibras do núcleo denteado (neocerebelo) ou do núcleo rubro e projeta suas fibras para o córtex motor do giro pré-central e giro temporal médio. Ele recebe também algumas fibras do globo pálido. O núcleo ventral póstero-lateral recebe fibras dos lemniscos medial e espinhal, sendo uma verdadeira passa- gem das vias sensitivas dos membros superiores, inferiores e tronco. As suas informações são projetadas para o córtex do giro pós-central que é a área somestésica I. O núcleo ventral póstero-medial ou núcleo arqueado está também relacionado, como o núcleo ventral póstero- lateral,com a recepção das vias sensitivas. Recebe fibras do Neuroanatomia – Tomo III 23 lemnisco trigeminal, relacionadas à sensibilidade da face,e do núcleo solitário, relacionado com a sensibilidade gustativa. Essas informações são projetadas para a área somestésica I no giro pós-central. • grupo medial: composto pelos núcleos situados den- tro da lâmina medular interna, núcleos intralaminares, e pelo núcleo dorso-medial, localizado entre esta e os núcleos do grupo mediano. Os núcleos intralaminares recebem fibras da formação reticular e têm papel de destaque na ativação córtico-cerebral. O núcleo dorso-medial conecta-se princi- palmente com a parte anterior do lobo frontal (área pré- frontal). • grupo mediano: é um núcleo de difícil delimitação no homem; localiza-se na aderência intertalâmica ou próxi- mo à substância cinzenta periventricular. Suas conexões mais conhecidas são com o hipotálamo. Figura 6 – Grupamentos nucleares do tálamo 24 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 3 Metatálamo O metatálamo é uma saliência do segmento posterior do pulvinar do tálamo. Ele apresenta o corpo geniculado la- teral e o corpo geniculado medial, relacionados, respectiva- mente, com a via óptica e auditiva. O corpo geniculado medial faz parte da via auditiva, recebendo fibras originárias do colículo inferior, ou direta- mente do lemnisco lateral, através do braço do colículo in- ferior. A partir do corpo geniculado, as fibras são conduzidas à área auditiva do lobo temporal, que é o giro temporal trans- verso anterior ou Giro Hersshel. O corpo geniculado lateral faz parte da via óptica e re- cebe fibras originárias da retina através do trato óptico. A partir do corpo geniculado lateral, as fibras são enviadas até a área visual do lobo occipital, localizadas nas bordas do sul- co calcarino, através do trato genículo-calcarino. 4 Hipotálamo O hipotálamo é constituído essencialmente de substân- cia cinzenta agrupada em núcleos. Ele apresenta ainda con- juntos de fibras, como as do fórnix, que didaticamente nos ajudam a mapeá-lo. O hipotálamo pode ser classificado de acordocom sua disposição em relação ao cruzamento das colunas do fórnix, em lateral e medial, de acordo com o plano frontal em nível do quiasma óptico, do túber cinério e dos corpos mamilares, e de acordo com sua disposição no hipotálamo, em anterior, mediano, posterior e lateral. Neuroanatomia – Tomo III 25 1 Classificação pelo cruzamento do fórnix As colunas do fórnix atravessam o hipotálamo em dire- ção ao corpo mamilar do mesmo lado, dividindo-o em uma área medial e outra lateral. A área medial situa-se entre o fórnix e o terceiro ventrículo, sendo rica em substância cin- zenta e pobre em fibras, enquanto que a área lateral situa-se lateralmente ao fórnix, sendo rica em fibras mielínicas de direção longitudinal e neurônios dispersos. A quase totalidade dos principais núcleos hipotalâmicos localiza-se no hipotálamo medial, sendo a principal exceção os núcleos tuberais no hipotálamo lateral. Anteriormente ao hipotálamo, entre o quiasma óptico e a comissura anteri- or, localiza-se uma região denominada de área pré-óptica, que não pertencente ao diencéfalo, mas apresenta o núcleo pré-óptico medial e lateral. 2 Classificação no plano coronal O hipotálamo pode ainda ser dividido de acordo com três planos frontais, em hipotálamo supraóptico, tuberal e mamilar: • o hipotálamo supra-óptico compreende o quiasma óptico e toda a região acima dele nas paredes do terceiro ventrículo, a área pré-óptica; • o hipotálamo tuberal compreende o túber cinéreo e toda a região acima dele nas paredes do terceiro ventrículo; • o hipotálamo mamilar compreende os corpos mamilares com seus núcleos e toda a região acima dele nas paredes do terceiro ventrículo. A relação das regiões do hipotálamo com seus núcleos é a seguinte: 26 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 3 Classificação pela disposição dos núcleos no hipotálamo Pode-se classificar os núcleos do hipotálamo de acordo com suas inter-relações em: • grupo anterior: compreende principalmente dois nú- cleos, o núcleo paraventricular e o núcleo supraóptico; • grupo lateral: o núcleo lateral compreende a parte lateral do túber cinéreo, onde se encontram os núcleos tuberais; • grupo mediano: formado principalmente pelos nú- cleos ventro-medial e dorso-medial; • grupo posterior: compreende os núcleos mamilares e o núcleo posterior ou intercalar. Neuroanatomia – Tomo III 27 Conclui-se, portanto, que, em relação aos núcleos do hipotálamo, há correspondência didática entre: • hipotálamo supraóptico = grupo anterior dos núcleos; • hipotálamo tuberal = grupos laterais e medianos de núcleos; • hipotálamo mamilar = grupo posterior dos núcleos. Figura 7 – Grupamentos nucleares do hipotálamo 28 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna O hipotálamo apresenta conexões aferentes e eferentes,que são descritas abaixo. 1 Aferentes: por serem muito complexas, serão descri- tas abaixo as principais conexões aferentes: • feixe prosencefálico medial ou fascículo medial do prosencéfalo: a maioria das fibras que o percorrem são origi- nadas na área septal e no corpo estriado,dirigindo-se ao mesencéfalo. Terminam no hipotálamo lateral, conectando à área septal com o mesencéfalo - circuito do sistema límbico; • fibras hipocampo-hipotalâmicas: conectam o hipocampo aos núcleos mamilares do hipotálamo, através do fórnix. Integram parte do sistema límbico ou circuito de Papez. • fibras amígdalo-hipotalâmicas: as fibras originam-se no corpo amigdaloide e, através da estria terminal ou fita semicircular, chegam ao hipotálamo; • fibras tálamo-hipotalâmicas: as fibras saem desde os núcleos talâmicos mediais e da linha média e dirigem-se ao hipotálamo; • fibras tegmento-hipotalâmicas (pedúnculo mamilar inferior): são fibras que se originam no tegmento da ponte ou do mesencéfalo; • fibras pálido-hipotalâmicas: ligam o globo pálido ao núcleo hipotalâmico ventro-medial. 2 Eferentes: • fascículo mamilo-talâmico: compreende o tracto de Vicqd’azyr. Liga o corpo mamilar aos núcleos anteriores do tálamo, fazendo parte do circuito de Papez; Neuroanatomia – Tomo III 29 • fascículo mamilo-tegmental: liga os núcleos mamilares à formação reticular do mesencéfalo; • fibras periventriculares: compreendem o fascículo dorsal de Schutz. Originam-se no núcleo posterior ou inter- calado e convergem no seu trajeto descendente para formar o fascículo longitudinal dorsal, ou fita longitudinal posteri- or, via através da qual o hipotálamo controla neurônios pré- ganglionares do sistema nervoso autônomo; • tracto hipotalâmico-hipofisiário: é formado por fi- bras oriundas nos núcleos supraópticos, paraventricular e dos núcleos tuberais que terminam na neuro-hipófise. As funções hipotalâmicas, conforme discutido anteriormente,são extremamente importantes e complexas, pois regulam desde o sono, a sede, a fome, a temperatura, a diurese, os metabólitos, até as emoções e o sistema nervoso autônomo. 5 Epitálamo O epitálamo localiza-se posterior e superiormente no diencéfalo, formando o limite posterior do III ventrículo. Ele apresenta estruturas endócrinas e não endócrinas. Como exemplos de estruturas endócrinas temos o corpo pineal e o órgão subcomissural e, como exemplo de não endócrinas, os núcleos da habênula, a comissura das habênulas, as estrias medulares e a comissura posterior. O corpo pineal (piriforme) é uma massa pequena loca- lizada na depressão entre os colículos superiores. Também chamado de glândula pineal ou epífise, ele é altamente irri- gado e é inervado principalmente por fibras simpáticas pós- 30 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna ganglionares oriundas do plexo carotídeo.Sua função princi- pal é a secreção de melatonina, estando diretamente relaci- onada ao sono. O órgão subcomissural é um espessamento do epêndima abaixo da comissura posterior,estando relacionado com o controle hidroeletrolítico. Os núcleos da habênula situam-se na região do trígono das habênulas no epitálamo. Recebem fibras aferentes pela estria medular e se projetam para o núcleo interpeduncular no mesencéfalo. Os núcleos habenulares fazem parte do sis- tema límbico. As estrias medulares contêm fibras provenientes da área septal e que terminam nos núcleos habenulares do mesmo lado, ou do lado oposto, cruzando na comissura das habênulas. A comissura posterior é uma faixa cilíndrica de fibras brancas que cruzam o plano mediano na extremidade dorsal do aqueduto cerebral. Algumas dessas fibras conectam os dois colículos superiores. A comissura posterior serve de li- mite entre o diencéfalo e o mesencéfalo Neuroanatomia – Tomo III 31 6 Subtálamo O subtálamo é uma pequena região do tecido cerebral que se localiza entre o tegmento do mesencéfalo e o tálamo dorsal (início do diencéfalo), sendo a única porção do diencéfalo que não se relaciona com a cavidade do terceiro ventrículo. O hipotálamo se localiza medial e rostral ao subtálamo, que apresenta-se próximo a uma zona de transição com mesencéfalo (zona incerta). Apesar disso, o subtálamo apre- senta estruturas que lhe são próprias como o núcleo subtalâmico de Luys. Os corpos mamilares do hipotálamo são o ponto de li- mite do hipotálamo com o subtálamo. Funcionalmente, o subtálamo é motor e apresenta-se fazendo parte do sistema extrapiramidal. Figura 8 – Corte medial do diencéfalo visualizando-se os compo- nentes anatômicos do epititálamo Neuroanatomia – Tomo III 33 1 Substância branca do cérebroou centro oval Também chamada de centro branco medular do cére- bro é formada por dois tipos de fibras mielínicas: as de pro- jeção e as de associação. • Fibras de projeção: conectam o córtex aos centros subcorticais. Essas fibras agrupam-se para formar o fórnix e a cápsula interna. A. Fórnix ou trígono: emerge na face inferior do esplênio do corpo caloso e dirige-se anteriormente arquean- do-se em direção à comissura anterior. O fórnix é formado por duas metades simétricas e laterais, sendo estas afastadas nas extremidades e unidas na porção intermediária, consti- tuindo o corpo do fórnix. As extremidades que se afastam são, anteriomente, as colunas do fórnix que terminam nos corpos mamilares do hipotálamo e, posteriomente, as per- nas do fórnix, que se finalizam no hipocampo. No ponto de divergência das pernas do fórnix, existem fibras mielínicas transversais que conectam as duas pernas, formando a cha- mada comissura do fórnix ou comissura hipocampal, pois indiretamente conectam os dois hipocampos. Duas lâminas verticais e delicadas de tecido nervoso conectam o fórnix ao corpo caloso, delimitando a parede medial dos ventrículos laterais. Entre as lâminas encontramos uma cavidade deno- minada septo pelúcido. TELENCÉFALO 3 34 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna B. Cápsula interna: A cápsula interna apresenta uma perna anterior, que separa o núcleo lentiforme do caudado, e uma posterior que separa o núcleo lentiforme do tálamo. As duas pernas estão unidas formando o joelho da cápsula interna. A maior parte das fibras que unem os centros corticais aos subcorticais passam pela cápsula interna. •Fibras de associação: são fibras que ligam áreas corticais, podendo ser classificadas como fibras de associação intra- hemisféricas e inter-hemisféricas. Figura 9 – Corte transversal do cérebro visualizando-se suas fibras de projeção Neuroanatomia – Tomo III 35 • Fibras de associação intra-hemisféricas a. Fibras arqueadas do cérebro ou em “U”: ligam os gi- ros vizinhos. b. Fascículo do Cíngulo: liga o lobo frontal, parietal e temporal. Situa-se no giro do cíngulo. c. Fascículo longitudinal superior: percorre a face súpero- lateral, unindo os lobos frontal, parietal e occipital. d. Fascículo longitudinal inferior: une o lobo occipital ao temporal. e. Fascículo unciforme: liga o lobo frontal e temporal cruzando a fissura lateral. Figura 10 – Fibras de associação intra-hemisféricas 36 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna • Fibras de associação inter-hemisféricas ou fibras comissurais a. Comissura do fórnix ou comissura hipocampal: conecta os hipocampos (arquicórtex). b. Comissura anterior: conecta os dois bulbos olfatórios na sua porção rostral e as duas áreas piriformes em sua por- ção caudal. A comissura anterior une-se ao quiasma óptico através da lâmina terminal, sendo esta o limite anterior do terceiro ventrículo. c. Corpo caloso: conecta áreas do neocortex do hemis- fério direito com o esquerdo, sendo a maior das comissuras. No corte sagital do cérebro, o corpo caloso tem convexidade superior e é subdividido em quatro porções: rostro, que ter- mina na comissura anterior como lâmina rostral, joelho, dobra anterior do corpo caloso, tronco, porção central do corpo caloso e esplênio, dilatação posterior devido à maior quantidade de tecido nervoso. d. Comissura das habênulas: interpõe-se entre os trígonos da habênula e se continua anteriormente com as estrias medulares do tálamo. e. Comissura posterior: é uma faixa cilíndrica de fibras brancas que cruzam o plano mediano na extremidade dorsal do aqueduto cerebral, sendo que algumas dessas fibras conectam os dois colículos superiores do mesencéfalo. Neuroanatomia – Tomo III 37 2 Gânglios da base Os núcleos ou gânglios da base cerebrais estão mergu- lhados no centro branco medular do telencéfalo ou centro oval. Descrevem-se abaixo seus componentes, em sentido látero-medial: • claustrum: constitui-se de uma delgada camada de substância cinzenta situada entre o putâmen e o córtex da ínsula, sendo separado respectivamente pela cápsula exter- na e extrema, que são delgadas lâminas de substância bran- ca; • núcleo lenticular: núcleo que apresenta o formato de uma pirâmide. Localiza-se na curvatura do núcleo caudado, estando unido a este em sua parte anterior. O núcleo lentiforme é dividido por duas lâminas brancas verticais (lâ- mina medular medial e lateral) em três porções: uma exter- na ou putâmen e duas internas que são a porção lateral e medial do globo pálido; Figura 11 – Fibras de associação inter-hemisféricas 38 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna • núcleo caudado: maior que o núcleo lentiforme, apresenta o aspecto de uma ferradura, cuja borda convexa ou externa ajuda a formar as paredes do ventrículo lateral e sua borda côncava circunda o núcleo lentiforme e a face ex- terna do tálamo. O núcleo caudado apresenta-se formado por uma porção anterior, a cabeça, uma porção média, o corpo, e uma porção póstero-inferior, a cauda. Na extremi- dade da cauda encontra-se o corpo amigdaloide, que é uma massa de substância cinzenta pequena e esférica. Separando o núcleo lentiforme do núcleo caudado, en- contramos a perna anterior da cápsula interna. O núcleo caudado e o núcleo lenticular (putâmen e globo pálido) cons- tituem o chamado corpo estriado. Do ponto de vista filogenético e funcional, pode-se dividi-los em: • neoestriado (ou estriado): compreende o núcleo caudado e putâmen; • páleo-estriado (ou pálido): constituído pelos dois núcleos internos do núcleo lentiforme (globos pálidos). O páleo-estriado é o único que apresenta ligação direta com os centros motores subjacentes, sendo a principal ori- gem das vias extrapiramidais que comandam o tônus e a coordenação dos movimentos automáticos. O neoestriado ou estriado exerce uma ação inibidora sobre o páleo-estriado controlando, assim, sua ação. No sentido látero-medial de um dos cortes frontais (de Charcot) tem-se a seguinte sintopia: córtex da ínsula, cáp- sula extrema, cláustrum, cápsula externa, putâmen, lâmina medular lateral, porção lateral do globo pálido, lâmina me- dular medial, porção medial do globo pálido, cápsula inter- na, núcleo caudado, tálamo e terceiro ventrículo. Neuroanatomia – Tomo III 39 3 Córtex cerebral 3.1 Conceito O telencéfalo é uma porção do sistema nervoso central que, juntamente com o diencéfalo, forma o cérebro propria- mente dito. Ele é formado por dois hemisférios, direito e esquerdo, separados entre si pela fissura longitudinal do cé- rebro. No assoalho dessa fissura está o corpo caloso, uma comissura de fibras brancas que funciona como principal meio de comunicação inter-hemisférica. Figura 12 – Corte transversal do cérebro visualizando-se os núcleos da base 40 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 3.2 Localização O telencéfalo localiza-se dentro da cavidade craniana, estando apoiado através de sua face inferior anteriormente, nos andares anterior e médio da base do crânio e, posterior- mente, na tenda do cerebelo, uma prega da dura-máter. O cérebro como um todo, portanto, ocupa o compartimento supratentorial, enquanto o cerebelo e o tronco cerebral, o infratentorial ou fossa posterior do crânio. 3.3 Embriologia O telencéfalo tem origem embriológica na vesícula prosencefálica, que compreende uma parte mediana da qual se invaginam duas porções laterais, chamadas de vesículas telencefálicas, que formarão os hemisférios cerebrais. As ca- vidades desses hemisférios constituem os ventrículos late- rais. 3.4 MorfologiaO hemisfério cerebral apresenta três polos, três bordas e três faces. Os polos são, anteriormente o frontal, ântero-la- teralmente o temporal e posteriormente o occipital. As bor- das são a superior, a ínfero-lateral e a ínfero-medial. As faces são a interna que é medial e plana, a externa que é lateral e convexa e a inferior. Neuroanatomia – Tomo III 41 São descritos cinco lobos em cada hemisfério: frontal, parietal, temporal, occipital e, mais profundamente, a ínsula. Em cada um desses lobos encontramos uma série de fissuras e sulcos, que ajudam na delimitação tanto das áreas cere- brais quanto dos próprios lobos. Os giros ou circunvoluções, encontrados entre esses sul- cos, são basicamente dobras de substância branca e cinzen- ta que proporcionam um aumento considerável da superfí- cie cortical sem aumento significativo de volume. Estima- se que cerca de 2/3 da superfície cortical esteja “escondida” entre os sulcos. Figura 13 – Faces e bordas cerebrais 42 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna Figura 14 – Polos e lobos cerebrais Figura 15 – Ínsula visualizada afastando-se os lábios da fissura lateral Neuroanatomia – Tomo III 43 3.4.1 Fissuras do telencéfalo ou cisuras Segue abaixo a descrição das três principais fissuras telencefálicas. Fissura lateral de Sylvius • Origem: Base do cérebro, lateralmente à substância perfurada anterior. • Sentido: Descreve uma curva convexa médio-lateral e dirige-se para a face súpero-lateral do cérebro. No crânio, essa fissura corresponde à asa menor do esfenoide. • Término: Termina dividindo-se em três ramos: 1) an- terior ou horizontal; 2) ascendente e 3) posterior. Os dois primeiros ramos dirigem-se ao lobo frontal, enquanto o pos- terior se dirige-se para o lobo parietal, separando, inferior- mente, o lobo temporal, dos lobos frontal e parietal, superi- ormente. Fissura central de Rolando • Origem: Um ponto posterior à metade do cérebro ini- ciando na sua face medial, 1 a 2 cm abaixo da borda superi- or. É importante ressaltar que a fissura central é o ponto de delimitação das áreas motoras ou eferentes, localizadas an- teriormente, das áreas somatossensoriais ou aferentes, loca- lizadas posteriormente. • Sentido: Percorre obliquamente a face súpero-lateral do cérebro no sentido póstero-anterior e crânio caudal. • Término: 2,5 cm acima do ramo posterior da fissura lateral de Sylvius, do qual é separada por uma pequena pre- ga cortical (giro) denominada opérculo rolândico, ou prega fronto-parietal inferior. 44 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna Fissura Parieto-ocipital • Origem: Borda superior do cérebro, 3 cm anteriormen- te ao polo occipital. • Sentido: Percorre obliquamente no sentido póstero- anterior e crânio-caudal na face medial do cérebro. • Término: Termina unindo-se à fissura calcarina na face medial do cérebro. Na face súpero-lateral traçamos uma linha imaginária que se estende da fissura parieto-occipital até a incisura pré- occipital, com a finalidade de se separar didaticamente o lobo occipital do lobo parietal e temporal. 3.4.2 Delimitações lobulares Tendo em mente as três principais fissuras cerebrais, pode-se delimitar os lobos cerebrais, os quais recebem a de- nominação de acordo com o osso do crânio com o qual esta- belecem contato. Assim temos: lobo frontal, lobo parietal, lobo temporal, lobo occipital e, na profundidade, a ínsula. Os limites dos lobos cerebrais em suas faces mediais são feitos através de uma projeção dos limites descritos nas suas faces súpero-laterais. Neuroanatomia – Tomo III 45 3.5 Descrição das faces dos Hemisférios Cerebrais 3.5.1 Face súpero-lateral ou convexa ou externa 3.5.1.1 Lobo frontal Sulcos: • sulco pré-central ou pré-rolândico: descontínuo, sen- do uma bifurcação do sulco frontal superior e inferior; • sulco frontal inferior: contínuo; • sulco frontal superior: contínuo. Giros: • giro pré-central ou pré-rolândico ou frontal ascen- dente: situa-se entre a fissura central e o sulco pré-central e Figura 16 – Delimitação dos lobos cerebrais 46 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna aí se concentram as células gigantes de Betz, ou seja, o giro pré-central é a principal sede das áreas práxicas ou motoras do cérebro. • giro frontal superior: localiza-se cranialmente ao sul- co frontal superior; • giro frontal médio: localiza-se entre o sulco frontal superior e o inferior; • giro frontal inferior: localiza-se caudalmente ao sul- co frontal inferior. Subdividido pelos ramos anterior e as- cendente da fissura em três porções: a orbicular, a triangular e a opercular: a) orbicular: abaixo do ramo anterior; b) triangular: entre os ramos; c) opercular: entre o ramo ascendente e o sulco pré-cen- tral. O giro frontal inferior do hemisfério dominante é denomi- nado Giro de Broca (centro cortical da palavra falada). Figura 17 – Giros e sulcos do lobo frontal na face súpero-lateral do cérebro Neuroanatomia – Tomo III 47 3.5.1.2 Lobo temporal Sulcos: • sulco temporal superior: contínuo e termina no lobo parietal. Tem sentido paralelo ao ramo posterior da fissura lateral; • sulco temporal inferior: descontínuo. Giros: • giro temporal superior:localiza-se entre o sulco tem- poral superior e o ramo posterior da fissura lateral. Uma par- te deste é o giro temporal transverso anterior, que se localiza no assoalho da fissura lateral e é o centro cortical da audi- ção; • giro temporal médio: localizado entre o sulco tempo- ral superior e inferior; • giro temporal inferior: localizado entre o sulco tem- poral inferior e o sulco occipito-temporal externo. Esse giro ocupa a borda ínfero-lateral do cérebro. Figura 18 – Giros e sulcos do lobo temporal na face súpero-lateral do cérebro 48 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 3.5.1.3 Lobo parietal Sulcos: • sulco pós-central: descontínuo e paralelo à fissura cen- tral; • sulco intraparietal: contínuo e perpendicular ao sul- co pós-central. Giros: • giro pós-central ou pós-rolândico ou parietal ascen- dente: localiza-se entre a fissura central e o sulco pós-cen- tral. É nesse giro que encontramos a mais importante área sensitiva do córtex, denominada área somestésica; • lóbulo parietal superior: situa-se acima do sulco intraparietal; • lóbulo parietal inferior: situa-se caudalmente ao sul- co intraparietal. Nesse lóbulo encontramos dois giros: o supramarginal e o angular: a) giro supramarginal: é uma curvatura em torno da extremidade do ramo posterior da fissura lateral; b) giro angular: é uma dobra de tecido nervoso que cur- va-se em torno da extremidade do sulco temporal superior. Neuroanatomia – Tomo III 49 3.5.1.4 Lobo occipital O lobo occipital não apresenta sulcos e giros constan- tes, logo a sua divisão não é bem-definida. 3.5.1.5 Ínsula (Ilha de Reil) Encontra-se profundamente aos lobos parietal e tem- poral sendo sua visualização possível através do afastamen- to dos lábios da fissura lateral. A ínsula apresenta formato de um cone em que o ápice apresenta-se voltado ínfero-an- teriormente, e é este chamado de límen da ínsula. Sulcos: • sulco circular da ínsula: circunda a ínsula e a separa dos lobos frontal, temporal e parietal adjacentes; • sulco central da ínsula: origina-se no sulco circular da ínsula e dirige-se no sentido ântero-inferior. Divide a ínsula em duas porções: giros longose giros curtos. Figura 19 – Giros e sulcos do lobo parietal na face súpero-lateral do cérebro 50 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 3.5.2 Face medial ou plana 3.5.2.1 Lobo frontal Sulcos: • sulco do corpo caloso: inicia-se abaixo do rostro do corpo caloso e arqueia-se posteriormente, acompanhando a margem superior do corpo caloso e continua-se no lobo tem- poral com o sulco do hipocampo; Giros: • giros curtos da ínsula:estão localizados anteriormen- te ao sulco central da ínsula; • giros longos da ínsula: estão localizados posteriormen- te ao sulco central da ínsula. Figura 20 – Giros e sulcos da ínsula Neuroanatomia – Tomo III 51 • sulco do cíngulo ou sulco caloso marginal: inicia abai- xo do rostro do corpo caloso, apresenta um sentido paralelo ao sulco do corpo caloso e termina no lobo parietal em uma bifurcação, originando os ramos marginal e subparietal, os quais se dirigem ao lobo parietal; • sulco paracentral: este sulco vai da margem superior do cérebro até ao sulco do cíngulo. Giros e áreas • Circulação frontal interna: prolongamento medial do lobo frontal,acima do sulco caloso marginal. • Giro do cíngulo ou circunvolução do cíngulo: locali- za-se entre o sulco do corpo caloso e o sulco do cíngulo, fa- zendo parte do sistema límbico, que é o centro que controla as emoções, estando relacionado com o sistema nervoso au- tônomo ou vegetativo. • Área septal ou corpo paraterminal: região localizada abaixo do rostro do corpo caloso e anteriormente à lâmina terminal e a comissura anterior. Nessa área, encontramos o centro do prazer do cérebro e o centro da olfação. • Lóbulo paracentral ou prega fronto-parietal superi- or: Localiza-se posteriormente ao sulco paracentral, anteri- ormente ao giro frontal interno e superiormente ao sulco do cíngulo. Esse lóbulo situa-se metade no lobo frontal e meta- de no lobo parietal, sendo que a projeção do sulco central na sua face medial ocorre no seu centro. Nas partes anteriores e posteriores do lóbulo paracentral, localizam-se, respectiva- mente, as áreas motoras e sensitivas relacionadas com a genitália externa, a perna e o pé. 52 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna Os giros pré e pós-central são unidos por duas pregas: uma localizada na face súpero-lateral do hemisfério, chama- da de prega fronto-parietal inferior ou opérculo rolândico, e outra localizada na face medial do hemisfério, denominada de prega fronto-parietal superior ou lóbulo paracentral. Figura 21 – Giros e sulcos do lobo frontal na face medial do cére- bro 3.5.2.2 Lobo parietal Sulcos: • sulco do corpo caloso (anteriormente descrito); • sulco do cíngulo: no lobo parietal ocorre sua divisão em seus dois ramos terminais: a) ramo marginal ou ascendente: porção vertical do sul- co caloso marginal, o qual se dirige à margem superior do cérebro sendo o limite posterior do lóbulo paracentral; Neuroanatomia – Tomo III 53 b) ramo subparietal: sulco horizontal que se continua posteriormente em direção à fissura parieto-occipital. Giros • giro do cíngulo e lóbulo paracentral (anteriormente descrito); • Pré-cúneus ou lóbulo quadrilátero: região situada pos- teriormente ao sulco marginal, anteriormente à fissura parieto-occipital e superiormente ao sulco subparietal. Figura 22 – Giros e sulcos do lobo parietal na face medial do cére- bro 3.5.2.3 Lobo occipital É o lobo que mais se aproxima de ser uma unidade es- trutural e funcional, pois todo ele se relaciona direta ou in- diretamente com a integração de impulsos visuais. 54 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna Fissuras: • fissura calcarina: inicia inferiormente ao esplênio do corpo caloso, dirigindo-se posteriormente em direção ao polo occipital. Nas suas bordas está localizado o centro cortical da visão; • fissura parieto-occipital ou perpendicular: separa o lobo occipital do parietal e encontra-se em ângulo agudo com o sulco calcariano. Giros: • cúneus (cunha): giro que se encontra entre o sulco calcariano e o parieto-occipital. • giro occipital-temporal medial ou giro lingual: giro localizado abaixo do sulco calcariano e se continua anterior- mente no lobo temporal com o giro para-hipocampal. Figura 23 – Giros e sulcos do lobo occipital na face medial do cére- bro Neuroanatomia – Tomo III 55 3.5.3 Face inferior ou base do cérebro A base do cérebro é constituída pelos lobos frontal, tem- poral e occipital, que são separados pela primeira porção da fissura lateral de Sylvius. 3.5.3.1 – Lobo frontal Sua porção repousa sobre a fossa anterior do crânio, sen- do visualizados os sulcos e giros abaixo descritos: Sulcos: • sulco olfatório: sulco de direção ântero-posterior que aloja o bulbo olfatório e o trato olfatório. O trato olfatório posteriormente se bifurca formando as estrias olfatórias la- teral e medial, delimitando uma área triangular chamada de trígono olfatório; • Sulcos orbitários em H ou cruciforme: sulcos irregu- lares localizados lateralmente ao sulco olfatório, geralmente apresentam a forma de um H. Giros: • giro reto ou circunvolução olfativa interna: situa-se medialmente ao sulco olfatório e continua-se com o giro fron- tal superior na face súpero-lateral; • giros orbitários: são giros bastante irregulares que ocu- pam o restante da face inferior do lobo frontal. 56 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 3.5.3.2 Lobo temporal A face inferior do lobo temporal repousa sobre o andar médio do crânio e a tenda do cerebelo, sendo observados os seguintes sulcos e giros: Sulcos: • sulco occípito-temporal: localiza-se entre o giro tem- poral inferior e o giro occipito-temporal lateral; Figura 24 – Giros e sulcos do lobo frontal na face inferior do cére- bro Neuroanatomia – Tomo III 57 • sulco colateral: inicia no polo occipital e dirige-se an- teriormente podendo ser contínuo com o sulco rinal, que é o primeiro sulco que aparece na filogênese. Separa o giro para-hipocampal (paliocórtex) do restante do lobo tempo- ral (neocórtex). É importante ressaltar que o hipocampo pertence ao arquicórtex; • Sulco do Hipocampo: inicia-se abaixo do esplênio do corpo caloso e continua-se superiormente com o sulco do corpo caloso. Termina no lobo temporal, separando o giro para-hipocampal do uncus. Giros • giro temporal inferior: situa-se entre o sulco tempo- ral inferior e o sulco occipito-temporal lateral. • giro occipito-temporal lateral: localiza-se na região lateral da face inferior do cérebro, circundando o giro occipito-temporal medial e o giro para-hipocampal. • Giro occipito-temporal medial ou giro lingual: en- contra-se entre o sulco colateral e o calcariano e continua-se anteriormente como giro para-hipocampal, delimitado pelo sulco colateral e sulco do hipocampo. A porção anterior do giro para-hipocampal se curva em torno do sulco do hipocampo, para formar o uncus ou circunvolução uncinade. 58 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 3.5.3.3 Sistema Límbico O sistema límbico compreende um conjunto de estru- turas relacionadas ao comportamento emocional, à regulação do sistema nervoso autônomo e aos processos motivacionais. Segue a descrição de seus componentes principais: • giro do cíngulo: localizado acima do corpo caloso, liga- se ao giro para-hipocampal através do istmo do giro do cíngulo; • giro para-hipocampal: localiza-se na face inferior do lobo temporal, sendo constituinte do paliocórtex;Figura 25 – Giros e sulcos do lobo temporal na face inferior do cérebro Neuroanatomia – Tomo III 59 • hipocampo: situa-se no assoalho do corno inferior dos ventrículos laterais, acima do giro para-hipocampal. Comu- nica-se com os corpos mamilares e com a área septal através do fórnix; • corpo amigdaloide: localiza-se no lobo temporal, pró- ximo ao uncus. A maioria de suas fibras de eferência acopla- se na estria terminal e termina no hipotálamo. Possui fun- ções diretamente relacionadas ao comportamento de defesa ou fuga; • área septal: localiza-se abaixo do rostro do corpo caloso e anteriormente à lâmina terminal. Através do feixe prosencefálico medial, projeta-se para o hipocampo. • núcleos mamilares: situam-se nos corpos mamilares, fazendo parte do hipotálamo. Recebem fibras provenientes do hipocampo através do fórnix e se projetam principalmente para os núcleos anteriores do tálamo, através do fascículo mamilo-talâmico, e para a formação reticular, através do fas- cículo mamilo-tegmentar; • núcleos anteriores do tálamo: recebem fibras proveni- entes dos núcleos mamilares e enviam fibras ao giro do cíngulo; • núcleos habenulares: localizam-se na região do trígono das habênulas. Recebem aferência pela estria medular e en- viam fibras ao núcleo interpeduncular do mesencéfalo. 3.5.3.4 Rinencéfalo Alguns autores citam o rinencéfalo como sendo lobo cerebral, por isso, segue uma breve descrição deste. Ele é uma porção filogeneticamente antiga pertencente ao arquicórtex e compreende todas as porções do SN associa- das com as sensações olfatórias. Os constituintes do lobo do 60 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 2 Microscopia do córtex cerebral No córtex cerebral chegam as fibras aferentes ou encefalópetas, onde as informações tornam-se conscientes e são interpretadas. Após, fibras eferentes ou encefalófugas deixam-no, com a função de comandar os movimentos. As áreas corticais podem ser classificadas por quatro critérios diferentes, são eles: anatômico, filogenético, estrutural e fun- cional. rinencéfalo são: bulbo olfatório, trato olfatório, estrias olfatórias, área septal – constituída pelo giro olfatório medial, pela face medial do hemisfério, área subcalosa e giro paraterminal –, e área piriforme – constituída pelo giro olfatório lateral, giro para-hipocampal, límen da ínsula e pelos úncus. Figura 26 – Sistema límbico Neuroanatomia – Tomo III 61 4.1 Classificação anatômica É a divisão do cérebro em sulcos, giros e lobos. É usada na prática para a localização de lesões corticais. 4.2 Classificação filogenética Divide o córtex em neopalio e arquipalio. • Neopalio: ocupa a maior porção do córtex cerebral, cerca de 90%, sendo responsável pela personalidade consci- ente e voluntária. • Arquipalio: ocupa cerca de 10% do córtex cerebral. Dividido em paleocórtex, úncus e giro para-hipocampal, que é responsável pela personalidade inconsciente e involuntária, e arquicórtex, hipocampo, que faz o controle vegetativo efe- tivo. 4.3 Classificação estrutural O córtex cerebral apresenta-se dividido em isocórtex e alocórtex. • Isocórtex: corresponde ao neopalio ou neocórtex e apresenta-se dividido em seis camadas: molecular, granular externa, piramidal externa, granular interna, piramidal in- terna e fusiforme. Ele pode ser homotípico, quando suas camadas são nitidamente visíveis, ou heterotípico, quando suas camadas não podem ser vistas. O isocórtex heterotípico pode ainda ser classificado em granular, quando ocorre uma invasão das células granulares sobre as outras camadas (córtex sensitivo), ou agranular, quando ocorre uma invasão das cé- lulas de Betz ou piramidais sobre as outras camadas (córtex motor). 62 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna • Alocórtex: corresponde ao arquipalio, sendo formado por apenas uma camada. A descrição das camadas isocorticais, da mais superfici- al a mais profunda, segue abaixo: • camada molecular ou plexiforme: contém poucos neurônios, as chamadas células horizontais de Cajal, que fazem associação intra-hemisférica; • camada granular externa: contém neurônios granula- res, também chamados de células estreladas, e que contêm axônio ascendente; • camada piramidal externa: contém células piramidais, que possuem axônio descendente e que, conforme o tama- nho, podem ser pequenas, médias, grandes ou gigantes. As células piramidais gigantes são também chamadas de célu- las de Betz, e ocorrem apenas na área motora do giro pré- central; • camada granular interna: contém células granulares; • camada piramidal interna ou ganglionar: é composta por células piramidais e pelas células de Martinotti; • camada fusiforme ou multiforme: é composta pelas células fusiformes, descendentes, e pelas células de Martinotti, cujos axônios são ascendentes e controlam os estímulos das células piramidais. Conforme anteriormente citado, as camadas isocorticais podem ser ainda granulares e agranulares: • granulares: áreas corticais predominantemente sen- sitivas ou áreas somestésicas. Como as células granulares são pequenas a espessura do córtex é de 2,5 mm; • agranulares: áreas corticais predominantemente motoras (áreas práxicas). A espessura do córtex nessas áreas Neuroanatomia – Tomo III 63 chega a 4,5 mm, pois as células que predominam são as cé- lulas gigantes de Betz. Fazendo-se uma coloração do córtex cerebral para fi- bras mielínicas, encontramos dois conjuntos de estrias dis- postas paralelamente ao córtex cerebral: a estria de Baullargen externa, que corresponde à camada VI, sendo formada por fibras tálamo-corticais que, antes de terminarem na sua ca- mada respectiva,apresentam um trajeto horizontal no lobo occipital, denominado de estria de Gennari, esta visível a olho nu; e a estria de Baillarger interna, que corresponde à camada V. Figura 27 – Camadas do córtex cerebral 64 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 4.4 Classificação funcional As áreas funcionais do córtex são inicialmente classifi- cadas em dois grandes grupos: as áreas corticais de projeção ou primárias, e as áreas de associação, secundárias e terciárias. A. Áreas de projeção: são áreas que dão origem ou rece- bem fibras relacionadas diretamente com a motricidade ou com a sensibilidade. As áreas de projeção são: área motora primária, área somestésica primária (área s-1), área visual, área auditiva, área olfatória, área vestibular e área gustativa. Área motora primária • Localização: giro pré-central (área 4 de Brodmann). • Descrição: confere motricidade ao hemicorpo contra- lateral. É importante destacar que quanto mais delicado e preciso for o movimento que determinada parte do corpo realiza, maior será sua representação cortical. Do córtex motor primário sai a maior parte das fibras que vão formar o trato córtico-espinhal. Área somestésica primária •Localização: giro pré-central (área 3, 1, 2 de Brodmann). • Descrição: recebe informações provenientes do tálamo relacionadas à dor, temperatura, pressão, ao tato e à propriocepção consciente do hemicorpo contralateral. As- sim como a área motora, quanto maior for a sensibilidade de determinada parte do corpo, maior é sua representação cortical. Podemos ver isso claramente através do homúnculo de Penfield. Neuroanatomia – Tomo III 65 Área visual •Localização: lábios da fissura calcarina do lobo occipital (área 17 de Brodmann). • Descrição: Recebe fibras provenientes do trato gení- culo-calcarino, que se origina no corpo geniculado lateral do metatálamo. É responsávelpela sensibilidade visual. Área auditiva • Localização: giro temporal transverso anterior, tam- bém chamado de giro de Heschl (áreas 41 e 42 de Brodmann) • Descrição: recebe fibras provenientes do corpo geniculado medial do metatálamo. É responsável pela sensi- bilidade auditiva. Área olfatória • Localização: região anterior do úncus e giro para- hipocampal. Figura 28 – Homúnculo de Penfield 66 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna • Descrição: responsável pela sensibilidade olfatória. Área vestibular • Localização: lobo parietal, próximo ao território da área somestésica correspondente à face. • Descrição: relacionada ao equilíbrio. Área gustativa • Localização: porção inferior do giro pós-central (área 43 de Brodmann). • Descrição: responsável pela sensibilidade gustativa. B. Áreas de associação secundárias: são áreas também chamadas de unimodais, pois se relacionam preferencialmen- te com a área primária de mesma função. As áreas de associ- ação secundárias são: área motora suplementar, área pré- motora, área de Broca, área somestésica secundária (área s- 2), área visual secundária e área auditiva secundária. Área motora suplementar • Localização: parte mais alta da área 6 de Brodmann, na face medial do giro frontal superior. • Descrição: comunica-se com o corpo estriado e com a área motora primária. Relaciona-se com o planejamento de sequências motoras complexas. Neuroanatomia – Tomo III 67 Área pré-motora • Localização: lobo frontal, anteriormente à área motora primária. • Descrição: recebe aferências do cerebelo, via tálamo, e de várias regiões do córtex cerebral. Envia informações para o córtex motor primário e contribui com fibras do trato córtico-retículo-espinhal. Participa da programação de mo- vimentos. Área de broca • Localização: região opercular e triangular do giro fron- tal inferior (área 44 e 45 de brodmann). • Descrição: tem a função de programar as atividades motoras relacionadas com a expressão da linguagem, sendo portanto conhecida como área da fala. Área somestésica secundária • Localização: lobo parietal superior, posteriormente à área somestésica primária (área 7 de Brodmann). • Descrição: relaciona-se com a área somestésica pri- mária, estando envolvida na percepção da sensibilidade. Área visual secundária • Localização: estende-se do lobo occipital ao tempo- ral, compreendendo as áreas 18 e 19 de Brodmann. • Descrição: junto com a área visual primária, confere a visão. 68 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna Área auditiva secundária • Localização: lobo temporal, circundando a área audi- tiva primária (área 22 de Brodmann). • Descrição: está diretamente associada ao sentido da audição, agindo em conjunto com a área auditiva primária. C. Áreas de associação terciárias: são áreas supramodais, ou seja, relacionam mais de duas modalidades sensoriais si- multaneamente. Elas integram informações sensoriais ela- boradas por áreas secundárias e estão diretamente relacio- nadas ao comportamento humano. As áreas de associação terciárias são: área pré-frontal, área temporoparietal e áreas límbicas. Área pré-frontal • Localização: região anterior não motora do lobo fron- tal. • Descrição: recebe fibras de todas as regiões de associ- ação do córtex, associando-se inclusive com o sistema límbico. Tem por função: planejamento e execução de de- terminadas decisões, visando a um resultado vantajoso; fun- ciona como polícia límbica, inibindo impulsos inapropriados ao contexto social em que o indivíduo se encontra, motiva- ção e atenção. Área temporopariental ou área de Wernicke • Localização: giro supramarginal (área 40), giro angu- lar (área 39) e estende-se até as margens do sulco temporal superior. Neuroanatomia – Tomo III 69 • Descrição: funciona como um centro de integração entre a audição, visão e o centro somestático. É a área da inteligência, da interpretação, do cálculo e da percepção es- pacial, permitindo ao indivíduo relacionar-se com o meio externo. Áreas Límbicas • Localização: giro do cíngulo, giro para-hipocampal e hipocampo. • Descrição: são áreas relacionadas com o comporta- mento emocional de cada indivíduo, relacionando-se inti- mamente com a memória. Figura 29 – Áreas corticais funcionais vistas na face súpero-lateral do cérebro 70 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 5 Dominância hemisférica Todas as pessoas apresentam um hemisfério dominan- te, sendo que a preponderância no hemisfério esquerdo é em torno de 99% nas pessoas destras e em torno de 50% nas pessoas sinistras. A dominância cerebral se estabelece antes do terceiro ou quarto ano de vida. Isso indica que lesões nos hemisféri- os dominantes podem ser compensadas até essa idade, sen- do assim denominada de plasticidade cerebral, uma criança que com dois anos de idade sofra uma lesão do giro frontal inferior do hemisfério cerebral esquerdo onde se localiza o centro cortical da palavra falada, passará a desenvolver esse centro no hemisfério cerebral direito e a lesão será compen- sada. Sabe-se que o hemisfério dominante apresenta funções diferenciadas do não dominante. Essas diferenças manifes- tam-se apenas nas áreas de associação corticais, sendo que as áreas de projeção possuem funções iguais em ambos os Figura 30 – Áreas corticais funcionais vistas na face medial do cé- rebro Neuroanatomia – Tomo III 71 hemisférios. Do ponto de vista funcional, o hemisfério do- minante está relacionado à linguagem, ao cálculo e ao racio- cínio lógico, sendo comuns os distúrbios de linguagem em indivíduos com lesões nesse hemisfério. O hemisfério não dominante está mais relacionado a habilidades artísticas, como pintura e música, além da percepção de relações espa- ciais e reconhecimento da fisionomia das pessoas. Os he- misférios cerebrais mantêm-se harmonicamente equilibra- dos pelo corpo caloso. Neuroanatomia – Tomo III 73 1 Ventrículos encefálicos Os ventrículos são cavidades revestidas por epêndima e que apresentam como conteúdo um fluido aquoso e incolor que é denominado de líquor ou líquido cérebro-espinhal. Encontramos quatro cavidades dentro da substância encefálica que são:os ventrículos laterais, sendo o esquerdo considerado o primeiro ventrículo e o direito o segundo, o terceiro ventrículo e o quarto ventrículo. •Ventrículos laterais: apresentam-se formados por uma parte central, o corpo, e três expansões que se localizam nos três polos cerebrais, sendo assim denominadas de cornos anterior, posterior e inferior. O ponto de separação do corpo dos cornos occipital e temporal é denominado de Carrefour. Encontramos plexo coroide no assoalho do corpo e no teto do corno inferior do ventrículo lateral. Cada ventrículo late- ral se comunica separadamente com o terceiro ventrículo através do forame interventricular de Monro. Os ventrículos laterais são separados pelo septo pelúcido. •Terceiro ventrículo: é a cavidade do diencéfalo. Apre- senta plexo coroide no seu teto e se comunica inferiormente com o quarto ventrículo através do aqueduto cerebral de Sylvius. VENTRÍCULOS ENCEFÁLICOS E CIRCULAÇÃO LIQUÓRICA 5 74 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna • Quarto ventrículo: é a cavidade do rombencéfalo, sen- do contínuo com o aqueduto cerebral de Sylvius cranialmentee com o canal central do bulbo ou canal ependimáriocaudalmente. O quarto ventrículo apresenta três aberturas através das quais o líquor se exterioriza das cavi- dades, da circulaçãointerna, para o espaço subaracnoideo, circulação externa: duas laterais, os forames de Luchska, e uma abertura mediana, o forame de Magendie. No espaço subaracnoideo o líquor é reabsorvido para o sangue venoso no nível do seio sagital superior pelas chamadas granulações aracnoideas. Segue agora um esquema didático dos limites dos ventrículos encefálicos. Figura 31 – Ventrículos encefálicos e suas comunicações Neuroanatomia – Tomo III 75 Tabela 4 – Limites dos ventrículos encefálicos VENTRÍCULOS LATERAIS 76 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 2 Líquor e circulação liquórica O líquor é um líquido límpido, incolor e sem cheiro. Ele circula em duas cavidades e espaços comunicantes: o siste- ma interno, que é composto pelos ventrículos laterais, forames de Monro, terceiro ventrículo, aqueduto cerebral e quarto ventrículo, e o sistema externo, que consiste no es- paço subaracnoideo com suas cisternas. A comunicação dos dois sistemas se dá pelos dois forames de Luschka, laterais, e pelo forame de Magendie, medial. A principal fonte de formação do líquor são os plexos coroides, sendo que aproximadamente 95% são formados nos ventrículos laterais. O local principal de absorção do líquor para o sangue são as granulações aracnoideas,que es- tão localizadas lateralmente ao seio sagital superior, e dre- nam o líquor para ele. O líquor funciona como um coxim para o encéfalo, di- minuindo os choques sobre o mesmo e diminuindo o seu peso absoluto, que é em média de 1.2 kg, para um peso rela- tivo médio de 100 gramas. A circulação liquórica dá-se da seguinte maneira: o líquor formado nos ventrículos laterais circula através dos forames de Monro para o terceiro ventrículo e, deste, através do aque- duto cerebral, ao quarto ventrículo. Do quarto ventrículo ele segue para o espaço subaracnoideo através das aberturas de Luschka (par) e Magendie (ímpar). Uma vez alcançando o espaço subaracnoideo, grande parte do líquor se dirige à convexidade e outra parte desce para o canal vertebral e de- pois sobe. O líquor na convexidade é absorvido pelas granulações aracnoideas para o seio sagital superior. Neuroanatomia – Tomo III 77 No espaço subaracnoide, o o líquor passa pelas cister- nas aracnoideas, que são espaços onde há maior distância entre a meninge aracnoide e a meninge pia-máter. Encon- tramos seis cisternas de maior importância: • cisterna cerebelo-medular (magna): é a mais impor- tante. Situa-se entre a face inferior do cérebro, a face dorsal do bulbo e o tecto do quarto ventrículo. Caudalmente se continua com o espaço subaracnoideo da medula e comuni- ca-se com o quarto ventrículo pela sua abertura mediana, o forame de Magendie; Tabela 5 – Circulação liquórica encefálica 78 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna • cisterna pontina: localiza-se anteriormente à ponte; • cisterna interpenduncular ou cisterna basal: dispos- ta na fossa interpeduncular, entre os pedúnculos cerebrais; • cisterna quiasmática: situa-se superiormente ao quiasma óptico; • cisterna superior: situada posteriormente ao tecto mesencefálico, entre o cerebelo e o esplênio do corpo caloso; • cisterna da fossa lateral do cérebro ou lago de Sylvius: corresponde ao espaço formado pelo sulco lateral de cada hemisfério. Figura 32 – Cisternas subaracnóideas encefálicas Neuroanatomia – Tomo III 79 MENINGES 5 1 Conceito O Sistema Nervoso Central apresenta uma proteção natural que o envolve e o protege, denominada de meninge. Existem três meninges, que descritas de fora para dentro são: dura-máter, aracnoide e pia-máter. As meninges originam-se do condensamento do mesênquima em torno do tubo neural. Pode-se classificar as meninges de acordo com a formação embriológica em leptomeninge (fina) e paquimeninge (grossa, espessa). A leptomeninge forma a pia-máter e aracnoide e a paquimeninge, a dura-máter. Segue agora a descrição de cada uma das meninges. Figura 33 – Meninges cranianas e sua sintopia 80 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna 2 Dura-máter (Paquimeninge) É a meninge mais superficial, espessa e resistente, devi- do a um acúmulo maior de fibras colágenas, contendo vasos e nervos. A dura-máter envolve o encéfalo e a medula espi- nhal, sendo sua porção encefálica divida em dois folhetos, um interno e outro externo, e sua porção espinhal apresen- tando apenas um folheto. O folheto interno da dura-máter cranial se continua com a dura-máter espinhal enquanto o folheto externo se cola ao osso do crânio proporcionando assim uma fixação impor- tante. Como há aderência do folheto externo no crânio, não existirá aí o espaço epidural, que, portanto, no crânio é vir- tual. A irrigação da dura-máter é feita principalmente pela artéria meníngea média, que é ramo da artéria maxilar in- terna. A dura-máter craniana tem inervação sensitiva que permite o alerta de agressões ao sistema nervoso, pois o encéfalo não apresenta terminações sensoriais. Devido à existência de dois folhetos, há a possibilidade deles se separarem em determinados pontos formando es- truturas importantes. O folheto interno destaca-se do exter- no formando as chamadas pregas de dura-máter e que divi- dem a caixa craniana em compartimentos. As pregas de real importância são em número de quatro. Duas delas apresen- tam disposição vertical, a foice do cérebro e a foice do cerebelo, enquanto as outras duas apresentam disposição horizontal, a tenda do cerebelo e o diafragma da sela. A foice do cérebro é mediana e separa os dois hemisféri- os cerebrais, situando-se na fissura longitudinal. Na borda inferior da foice do cérebro encontra-se o seio sagital inferi- or e o corpo caloso. Neuroanatomia – Tomo III 81 A foice do cerebelo projeta-se medialmente no cerebelo, dividindo-o em dois hemisférios. Na sua porção superior, encontra-se unida à face inferior da tenda do cerebelo. A tenda do cerebelo divide a caixa craniana em compar- timentos supratentorial e infratentorial. No compartimen- to supratentorial encontra-se o telencéfalo e o diencéfalo, e no infratentorial encontra-se o cerebelo e o tronco cerebral. Existe ainda a borda livre da tenda que é anterior, chamada de incisura da tenda, e tem íntima relação com alguns casos de lesão no tronco encefálico. O diafragma da sela fecha a hipófise dentro da sela túrcica, existindo apenas uma abertura para a passagem da haste hipofisiária. Em algumas áreas, há a separação dos dois folhetos da dura-máter, ocorrendo a formação de cavidades como o cavo trigeminal (Meckel) onde se aloja o gânglio trigeminal (Gasser). Existem ainda canais venosos triangulares revestidos por endotélio e situados entre os dois folhetos de dura-máter encefálica, que são chamados de seios. Pode-se dividir os seios em: seios da base do crânio e seios da abóboda craniana. 2.1 Seios da abóbada craniana •seio sagital superior: é mediano e ímpar, localizado na margem de inserção da foice do cérebro. Termina na conflu- ência dos seios em nível da protuberância occipital interna; •seio sagital inferior: situa-se na margem livre da foice do cérebro e termina no seio reto; •seio reto: É ímpar e localiza-se no ângulo de união da foice do cérebro com a tenda do cerebelo. Recebe o sangue 82 João Guilherme Valentim Neto • Asdrubal Falavigna do seio sagital inferior e da veia cerebral magna, direcionando-o para a confluência dos seios. •seio transverso: é par e dispõe-se ao longo da inserção da tenda do cerebelo, desde a confluência dos seios
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